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Direito Comunitário

CAPÍTULO III – Ordenamento Jurídico da União Europeia


Existem três elementos fundamentais nesta nova ordem jurídica: os Tratados
fundadores, os atos normativos emitidos pelas instituições comunitárias/União
Europeia (Leis, Decretos – Lei, Regulamentos) e a jurisprudência do TJUE (decisões que
os Tribunais tomam).
O direito comunitário é assim um ramo do direito recente que tem um objetivo próprio
e que é autónomo dos direitos nacionais e internacionais, em que se baseia mas não se
esgota. Com o Tratado de Lisboa deu-se a alteração da denominação de “Direito
comunitário” para “Direito da União Europeia”.
Ordenamento Jurídico da

1. Fontes de Direito da
União Europeia

União Europeia

2. Processos de Decisão na
União Europeia

3. Princípios estruturantes
da União Europeia

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1. Fontes de Direito da União Europeia

Fontes de Direito da
União Europeia

Direito da União Europeia


Direito da União Europeia
Derivado (Direito
Originário (Direito Primário)
Secundário)

Fontes Internas Fontes Externas

Outras Fontes
Externas: costume;
Atos Típicos Atos Atípicos Convencionais
princípios gerais da
U.E; doutrina

Recomendação e
Regulamento Diretiva Decisão
Parecer

As fontes de direito são modos de formação e revelação de regras jurídicas que regem
determinada comunidade, neste caso a União Europeia.

Nas fontes de direito da UE é preciso, em primeiro lugar, distinguir o “Direito da União Europeia
Originário” ou primário e o “Direito da União Europeia Derivado” ou secundário.

Direito da União Europeia Originário


O “Direito da União Europeia Originário” é a base do Direito e tem na sua origem os Tratados.
De acordo com a Comissão de Direito Internacional, tratado é “qualquer acordo internacional
que celebram dois ou mais Estados ou outras pessoas de direito internacional, o qual está regido
pelo direito internacional”.

Este tipo de fonte é composta por todos os Tratados e protocolos anexos aos Tratados, que
definem os elementos fundamentais da UE, de que destacamos: o tratado de Paris (CECA); os
tratados de Roma (CEE e CEEA); ato único europeu; tratado de Maastricht; tratado de
Amesterdão; tratado de Nice; tratado de Lisboa; tratados de adesão; convenção relativa a certas
instituições comuns às três comunidades; tratado de fusão dos executivos das três
comunidades; tratados que alteraram disposições específicas do sistema financeiro e
orçamental das comunidades; ato relativo à eleição do Parlamento Europeu por sufrágio

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universal direto e secreto; decisões relativas ao financiamento das comunidades e da União
Europeia através de recursos próprios; protocolos anexos aos tratados.

Estes tratados que constituem o direito da União Europeia originário são a lei fundamental da
União Europeia, a que todo o direito da União Europeia derivado está sujeito, ou seja, o “Direito
da União Europeia Originário” é superior hierarquicamente ao “Direito da União Europeia
Derivado”.

Direito da União Europeia Derivado


O “Direito da União Europeia Derivado” (aquele que é feito todos os dias) é composto pelas
normas jurídicas produzidas pelas instituições e outros órgãos da União Europeia no
desempenho das suas competências, bem como pelos atos normativos que obrigam a União
Europeia, que estão sujeitos ao Direito da União Europeia Originário.

O “Direito da União Europeia Derivado” é inferior hierarquicamente ao “Direito da União


Europeia Originário”.

FONTES INTERNAS
As instituições da União Europeia e demais órgãos da União Europeia com poder legislativo
adotam no exercício do poder normativo atos típicos e atos atípicos. É um direito produzido de
forma autónoma por parte das instituições.

Estes atos normativos que emanam do interior do sistema jurídico-institucional da União


Europeia constituem as fontes internas.

Atos Típicos
Por atos típicos entendemos os que são adotados pelas instituições da União Europeia e demais
órgãos da União Europeia com poder legislativo e que estão expressamente tipificados no artigo
288º do TFUE: Regulamento, Diretiva, Decisão, Recomendação e Parecer.

Podem ser vinculativos (regulamento, diretiva e decisão), que para serem válidos necessitam de
ser fundamentados numa disposição do Tratado, e/ou não vinculativos (recomendação e
parecer). Refere o artigo 296º do TFUE que: “Quando os Tratados não determinem o tipo de ato
a adotar, as instituições escolhê-lo-ão caso a caso, no respeito dos processos aplicáveis e do
princípio da proporcionalidade. Os atos jurídicos são fundamentados e fazem referência às
propostas, iniciativas, recomendações, pedidos ou pareceres previstos pelos Tratados”.

Assim, qualquer diploma emitido pelas instituições da UE necessitam obrigatoriamente de


enunciar os seus fundamentos de facto e de direito, bem como referir expressamente as
consultas efetuadas. A fundamentação deve permitir compreender de uma forma clara o
percurso seguido pela instituição da União Europeia de que emana o ato, desde a sua proposta
à sua aprovação. A violação desta regra tem como consequência a nulidade da norma em causa,
que pode ser reclamada junto do TJUE invocando a violação de uma formalidade essencial
(art.263º TFUE)

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Estes atos normativos necessitam também de ser publicados no Jornal Oficial da União
Europeia ou notificados aos seus destinatários.

a) Regulamento
O Regulamento é a “lei” da UE por excelência, sendo equiparável mutatis mutandi (mudando o
que é preciso mudar) às leis nacionais, ou seja, uniformiza uma vez que é igual nos 28 Estados-
membros. Definido no artigo 288º do TFUE, concluímos que o regulamento tem três
características:

 caráter geral;
 é obrigatório em todos os seus elementos;
 diretamente aplicável em todos os Estados-membros.

Estas três características permitem que o regulamento vincule ao conteúdo das suas disposições
qualquer Estado-membro ou pessoa que viva no espaço da União Europeia.

Caráter geral  O que significa que todas as pessoas singulares ou coletivas, incluindo os
Estados, estão vinculados a estas normas. Os regulamentos são equiparáveis às leis nacionais. O
regulamento aplica-se a todo o território da União Europeia, a uma categoria indeterminada de
pessoas, e não tem destinatários determinados.

Obrigatoriedade em todos os seus elementos  Significa que os destinatários do


regulamento, particulares ou o Estado, não podem adaptar o texto do regulamento, o seu
conteúdo, às suas ordens jurídicas nacionais. Assim, as instituições da UE possuem um poder
normativo perfeito.

Aplicabilidade direta do regulamento Significa que depois de aprovado o regulamento,


se este cumprir todos os requisitos legais, depois de publicado no Jornal Oficial da União
Europeia e depois de decorrida a vacatio legis, o regulamento vigora diretamente no território
dos Estados-membros sem necessidade dum qualquer ato de receção por parte dos Estados-
membros.

Encontramos nos Tratados cinco tipos de regulamentos:

 Regulamento do Conselho: onde existem dois tipos de regulamentos: os regulamentos de


base – contêm os elementos essenciais sobre a matéria em questão e são criados para
aplicar as disposições dos Tratados – e os regulamentos de execução ou de aplicação – que
são subordinados aos regulamentos de base e devem desenvolver e regulamentar os
princípios jurídicos previstos nos regulamentos de base.
 Regulamentos do Parlamento e do Conselho: “O processo legislativo ordinário consiste na
adoção de um regulamento, de uma diretiva ou de uma decisão conjuntamente pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob proposta da Comissão.” (artigo 289, nº1 do TFUE)
 Regulamentos do Parlamento Europeu: “O Parlamento Europeu, por meio de
regulamentos adotados por iniciativa própria de acordo com um processo legislativo
especial, estabelecerá o estatuto e as condições gerais de exercício das funções dos seus
membros, após parecer da Comissão e mediante aprovação do Conselho.” (artigo 223º, nº2
do TFUE)

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 Regulamentos da Comissão: “Um ato legislativo pode delegar na Comissão o poder de
adotar atos não legislativos de alcance geral que completem ou alterem certos elementos
não essenciais do ato legislativo.” (art.290º, nº1 do TFUE)
 Regulamentos do BCE: No exercício das suas funções o BCE pode emitir regulamentos.

Como nota final relembramos que regulamento é um instrumento de uniformização, em


contraposição à diretiva, que é um instrumento de harmonização.

b) Diretiva
A diretiva é um instrumento de harmonização, de modo a que os ordenamentos dos Estados-
membros sejam semelhantes.

A diretiva, nos termos do artigo 288º do TFUE “vincula o Estado-membro destinatário quanto
ao resultado a alcançar, deixando no entanto às instâncias nacionais a competência quanto à
forma e aos meios”.

Assim, a diretiva é um ato normativo da União Europeia que:

 só tem como destinatários os Estados membros (que podem ser um, vários ou todos os
Estados-membros)
 impõe aos Estados-membros um resultado a alcançar
 e deixa-lhes uma margem de atuação (maior ou menor), na escolha da forma e dos meios
para a implementação dessa norma.

No caso das diretivas os Estados-membros possuem algum poder de conformação normativa,


podendo através da escolha “dos meios” adaptar o texto da diretiva às realidades nacionais.

Através da escolha “da forma” o Estado escolhe o instrumento técnico-jurídico nacional com o
qual transpõe a diretiva para a ordem jurídica nacional, para esta passar a produzir efeitos
jurídicos.

Os destinatários da diretiva são apenas os que ela própria designa, e esses destinatários podem
apenas ser os Estados (um Estado, alguns Estados ou todos os Estados), não tendo assim um
alcance geral. Esta limitação dos destinatários da diretiva é uma das suas características
fundamentais.

Os particulares devem ter a possibilidade de conhecer todos os seus direitos e de os invocar,


eventualmente, perante os tribunais nacionais.

A leitura do artigo 288º do TFUE parece não permitir que uma diretiva fosse diretamente
aplicável na ordem jurídica dos Estados-membros. Mas, o TJUE já decidiu que findo o prazo para
transposição da diretiva e se esta for clara, suficiente precisa e incondicional, os particulares
podem invocar os direitos contidos nessa diretiva. Através de uma evolução jurisprudencial, o
TJUE chegou à consideração que nesses casos os particulares podem invocar os direitos contidos
nessa diretiva, passando o prazo estabelecido (6 meses).

Regulamentos ≠ Diretivas

Regulamentos e diretivas são atos normativos diferentes. Os regulamentos são gerais,


dirigindo-se aos particulares e aos Estados-membros, as diretivas têm como destinatários
diretos apenas os Estados-membros. Os regulamentos são obrigatórios em todos os seus

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elementos e as diretivas só vinculam o Estado-membro destinatário quanto ao resultado a
alcançar, deixando às instâncias nacionais a competência quanto à forma e aos meios para
alcançar esses fins.

A diretiva, ao contrário do regulamento, é um instrumento de harmonização, que pretende


construir uma certa compatibilidade entre todos os ordenamentos jurídicos, de modo a que os
ordenamentos dos Estados-membros sejam semelhantes. Neste sentido a diretiva é
habitualmente classificada como uma forma de legislação indireta da União Europeia.

c) Decisão
A decisão é o terceiro tipo de ato normativo da União Europeia típico e vinculativo. Como refere
o artigo 288º do TFUE a decisão “obrigatória em todos os seus elementos. Quando designa
destinatários, só é obrigatória para estes.”

A decisão é obrigatória apenas para os destinatários que ela própria designa, que ela própria
individualiza.

Quanto aos efeitos jurídicos são iguais aos do regulamento.

A decisão tem um destinatário concreto, não tendo assim caráter geral.

d) Recomendação e Parecer
A recomendação e o parecer são atos típicos, igualmente previstos no artigo 288º do TFUE, que
apenas refere “As recomendações e os pareceres não são vinculativos”. No essencial
contribuem apenas para orientar as legislações dos Estados-membros, pretendendo
contribuir para a aproximação das legislações nacionais ou para a adaptação de uma
dada regulamentação interna ao regime da União Europeia. Não são obrigatórios.
A recomendação surge por iniciativa da instituição. Exprimem o ponto de vista da
instituição sobre determinada questão, apontando medidas ou soluções que defendem
o interesse da União Europeia. Nos tratados encontramos recomendações:
 do Conselho dirigidas aos Estados-membros;
 da Comissão dirigidas ao Conselho e aos Estados-membros.
O parecer surge normalmente no âmbito do processo de decisão, ou seja, surge a pedido
de alguém. É um ato preparatório e que tem essencialmente uma vertente interna,
revelando a opinião de uma instituição sobre uma determinada matéria. Nos tratados
encontramos pareceres:
 da Comissão envidados aos Estados-membros;
 da Comissão ao Conselho;
 do PE;
 do TJ;
 do Tribunal de Contas;
 do BCE;

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 do Comité Económico e Social;
 do Comité das Regiões;
 do Comité Económico e Financeiro;
 do Comité do Emprego.

Atos Atípicos
Os atos atípicos são os atos que não estão tipificados (elencados) no artigo 288º do TFUE,
encontram-se espalhados ao longo do Tratado.

FONTES EXTERNAS
Ao contrário das fontes internas, as fontes externas não emanam do interior do sistema jurídico-
institucional da União Europeia. São atos normativos que, que no entanto, obrigam a União
Europeia.

Fontes Externas Convencionais


As convenções e os acordos internacionais celebrados pelos Estados-membros da União
Europeia, ou pela própria União Europeia, são as fontes externas mais significativas no
panorama da União Europeia.

Este tipo de atos permitem à União Europeia desenvolver as suas relações económicas, sociais
e políticas com o resto do mundo.

O mecanismo de celebração de convenções e acordos internacionais celebrados pela própria UE


vinculam a União Europeia e estão sujeitos ao Direito da União Europeia Originário. Esta
capacidade deriva do facto de a União Europeia possuir personalidade jurídica.

Classificação das Fontes Externas:

 Acordos celebrados pela própria UE com terceiros Estados (acordos tarifários, acordos
comerciais, acordos de ajuda alimentar, acordos com organizações internacionais, acordos
de associação, acordos de adesão). Estes acordos são vinculativos para as instituições da
União Europeia e para os Estados-membros (art.218º, nº8 do TFUE). Se o desejarem, o
Parlamento Europeu, o Conselho, a Comissão ou qualquer Estado-membro, podem obter
previamente junto do TJUE parecer sobre a compatibilidade de um projeto de acordo com
as disposições dos Tratados (art.218º, nº11 do TFUE)
 Tratados celebrados pelos Estados-membros da UE com terceiros Estados ou
Organizações Internacionais. Como prevê o artigo 351º “As disposições dos Tratados não
prejudicam os direitos e obrigações decorrentes de convenções concluídas antes de 1 de
Janeiro de 1958 ou, em relação aos Estados que aderem à União, anteriormente à data da
respetiva adesão, entre um ou mais Estados-Membros, por um lado, e um ou mais Estados
terceiros, por outro”.
 Tratados celebrados entre si por Estados que são membros da UE. Estes Tratado são
permitidos desde que sejam compatíveis com o Tratado da UE, em caso contrário são
inoponíveis na União Europeia (art.4º, nº3 do TUE).

Todas estas fontes têm de respeitar o Tratado de Lisboa!

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Outras Fontes Externas
Incluem-se o costume, os princípios gerais de direito e a doutrina.

O costume tem uma importância muito reduzida.

A atividade da UE não pode ser alheia aos princípios gerais de direito comuns aos Estados-
membros, que deve respeitar. Aqui incluem-se mais alguns princípios, o da segurança jurídica,
o direito à defesa, igualdade de tratamento, proporcionalidade, confiança legítima, proteção
dos direitos fundamentais.

A doutrina traz um importante contributo para o desenvolvimento da ordem jurídica da UE.

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2. Processos de Decisão na União Europeia

Processos de Decisão na
União Europeia

Processos de Decisão
no Tratado de Lisboa

Processo legislativo Processos legislativos


ordinário especiais

de cooperação
de consulta de aprovação de nomeação de iniciativa
reforçada

Os processos de decisão da União Europeia possuem caraterísticas especiais, de que resulta que
são muito diferentes dos processos nacionais e dos internacionais.

Desde logo a ausência de um sistema tripartido de poderes e a existência de um sistema


quadripartido são caraterísticas deste tipo de processos.

O cumprimento das formalidades exigidas pelos diferentes processos de decisão é obrigatório


para a validade do ato a ser aprovado.

O papel da Comissão, Conselho Europeu, Conselho e Parlamento Europeu foi variando, sendo
que o Parlamento Europeu foi a instituição que ao longo dos vários tratados mais poderes foi
ganhando.

Processos de Decisão no Tratado de Lisboa


Com o Tratado de Lisboa verificou-se uma alteração profunda nos mecanismos de decisão da
União Europeia, com uma redução do número de processos e simplificação do seu
funcionamento.

O artigo 289.º do TFUE só faz referência a dois tipos de processos legislativos: o processo
legislativo ordinário e os processos legislativos especiais.

Processo legislativo ordinário


O artigo 294º do TFUE regula o funcionamento do processo legislativo ordinário, que resulta do
processo de codecisão introduzido pelo Tratado de Maastricht em 1992 e que depois ampliado

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e adaptado para reforçar a sua eficácia pelo Tratado de Amesterdão em 1999. Este processo
legislativo ordinário tem por base o anterior processo de codecisão.

O início deste processo dá-se com a apresentação de uma proposta ao PE e ao Conselho


efetuada pela Comissão.

Em 1ª leitura o PE estabelece a sua posição e tramite-a ao Conselho. O PE aprova a sua posição


e submete-a à apreciação do Conselho. Se o Conselho aprovar a posição do PE, o ato em questão
é adotado, se o Conselho não aprovar a posição do PE, adota a sua posição em 1ª leitura e
tramite-a ao PE.

Se passado o prazo de 3 meses após a transmissão o PE aprovar a posição do Conselho em 1ª


leitura ou não se tiver pronunciado, considera-se que o ato em questão foi adotado com a
formulação correspondente à posição do Conselho.

Se o PE não aprovar a posição do Conselho o ato não é adotado. Se o Conselho aprovar a


proposta do PE o ato é aprovado.

Se o Conselho não aprovar a proposta do PE tem de ser convocado o Comité de Conciliação (28
membros do PE e 28 membros do Conselho), que tem por missão chegar a acordo sobre um
projeto comum, por maioria qualificada o Conselho e por maioria dos membros o PE, em 2ª
leitura.

Se, no prazo de 6 semanas após ter sido convocado, o Comité não aprovar um projeto comum,
considera-se que o ato não foi aprovado.

Se, no mesmo prazo, o Comité aprovar um projeto comum, o PE e o Conselho disporão cada um
de um prazo de 6 semanas a contar dessa aprovação, para adotar o ato em causa de acordo com
o projeto comum – 3ª leitura.

O PE delibera por maioria dos votos expressos e o Conselho por maioria qualificada.

Se o PE ou o Conselho não aprovar o ato, considera-se que não foi adotado.

Processos legislativos especiais


Vêm substituir os anteriores processos de consulta, de cooperação e de parecer favorável, com
o objetivo de simplificarem o processo de decisão da UE e torna-lo mais transparente e eficaz.

Neste processo o Conselho é, na realidade, o único legislador. A função do PE está limitada à


consulta ou à aprovação.

a) Processo de consulta
Neste tipo de processo o Conselho não está juridicamente obrigado a ter em conta o parecer do
PE, ou seja, o Conselho não deve tomar uma decisão sem antes consultar o PE.

b) Processo de aprovação
O PE tem de dar a sua aprovação sobre a proposta legislativa do Conselho sem apresentar mais
alterações e o Conselho não pode ignorar o seu parecer. Se o PE rejeitar a proposta ela não pode
ser aprovada pelo Conselho.

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c) Processo de cooperação reforçada
Este processo de cooperação reforçada nos termos do art. 20º do Tratado da União Europeia
permite que os Estados-Membros que “desejem instituir entre si uma cooperação reforçada no
âmbito das competências não exclusivas da União podem recorrer às instituições desta e exercer
essas competências aplicando as disposições pertinentes dos Tratados, dentro dos limites e
segundo as regras previstas no presente artigo e nos artigos 326º a 334º do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia”, podendo assim instituir entre si uma cooperação mais
estreita.

Assim, face a um pedido dos Estados-membros, a Comissão pode apresentar uma proposta,
após a qual o Conselho concede autorização para proceder à cooperação reforçada, logo após
obter aprovação do Parlamento.

d) Processo de nomeação
No caso da Comissão é o Parlamento Europeu que elege o Presidente das Comissão. Depois o
Conselho, de comum acordo com o Presidente eleito, adota a lista das demais personalidades
que tenciona nomear membros da Comissão. Os membros da Comissão são colegialmente
sujeitos a um voto de aprovação do Parlamento Europeu. Com base nessa aprovação, a
Comissão é nomeada pelo Conselho Europeu, deliberando por maioria qualificada (art.17º, nº7
do TUE).

e) Processo de iniciativa
“O Parlamento Europeu pode, por maioria dos membros que o compõem, solicitar à Comissão
que submeta à sua apreciação todas as propostas adequadas sobre as questões que se lhe
afigure requererem a elaboração de atos da União para efeitos de aplicação dos Tratados. Caso
não apresente uma proposta, a Comissão informa o Parlamento Europeu dos motivos para tal.”
(art.225º do TFUE)

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3. Princípios estruturantes da União Europeia

Princípio do efeito direito do direito da


União Europeia

Princípio do primado do direito da


União Europeia

Princípio da competência por


atribuição

Princípio da autonomia
Princípios estruturantes
da União Europeia
Princípio da proporcionalidade

Princípio da subsidariedade

Outros princípios: Comunidade de


Direito; uniformidade na aplicação; da
interpretação; do respeito pelo acervo
da União Europeia

A atividade no plano jurídico ao longo da existência da UE, veio criar uma ordem jurídica própria,
sujeita a princípios específicos.

Princípio do efeito direto do direito da União Europeia


O princípio do efeito direito do direito da União Europeia foi estabelecido na CEE em resultado
do acórdão Van Gend en Loos do TJCE.

Não existe nos Tratados nenhuma norma que diga que as suas normas se aplicam diretamente
aos particulares. Neste acórdão o TJCE decidiu que os particulares podiam passar a invocar
contra os Estados-membros normas dos Tratados que estabelecessem para os Estados-
membros uma obrigação precisa, incondicional e perfeitamente determinada.

A argumentação utilizada pelo TJCE neste acórdão é referida até hoje como um exemplo de
grande espírito de integração, por exemplo quando refere: “O objetivo do Tratado CEE, que
consiste em instituir um mercado comum cujo funcionamento diz diretamente respeito aos
nacionais da Comunidade, implica que este Tratado seja mais do que um acordo meramente
gerador de obrigações recíprocas entre os Estados contratantes. Esta conceção é confirmada
pelo preâmbulo do Tratado, que, além dos governos, faz referência aos povos e, mais
concretamente, pela criação de órgãos investidos de poderes soberanos cujo exercício afeta quer
os Estados-Membros, quer os seus nacionais. (...)

Daqui deve concluir-se que a Comunidade constitui uma nova ordem jurídica de direito
internacional, a favor da qual os Estados limitaram, ainda que em domínios restritos, os seus
direitos soberanos, e cujos sujeitos são não só os Estados-Membros, mas também os seus
nacionais. Por conseguinte, o direito comunitário, independente da legislação dos Estados-
Membros, tal como impõe obrigações aos particulares, também lhes atribui direitos que entram
na sua esfera jurídica. Tais direitos nascem não só quando é feita uma atribuição expressa pelo

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Tratado, mas também como contrapartida de obrigações impostas pelos Tratados de forma bem
definida, quer aos particulares quer aos Estados-Membros quer às instituições comunitárias.
(....)”. Refere ainda o acórdão que o TJCE reconhece que o artigo 12º “produz efeitos imediatos
e atribui direitos individuais que os órgãos jurisdicionais nacionais devem tutelar”. (Acórdão Van
Gend en Loos v.Administraie der Belastingen, Processo nº26/62, Rec.1963, pp.3)

O princípio do efeito direito do direito da União Europeia significa assim que os particulares
(pessoas singulares ou coletivas) podem invocar em juízo, perante os órgãos jurisdicionais
nacionais, as disposições do direito comunitário, quer no caso de um diferendo contra o Estado
(aplicabilidade direta vertical), quer nas suas relações com outros particulares (aplicabilidade
direta horizontal).

Assim, o direito comunitário, independentemente da legislação dos Estados-membros, aplica-


se diretamente aos cidadãos tanto em obrigações como em direitos.

Princípio do primado do direito da União Europeia


O princípio do primado do direito comunitário foi também estabelecido pelo TJCE num outro
acórdão notável, acórdão Costa v. E.N.E.L., que refere: “Diversamente dos tratados
internacionais ordinários, o Tratado CEE institui uma ordem jurídica própria que é integrada no
sistema jurídico dos Estados-Membros a partir da entrada em vigor do Tratado e que se impõe
aos seus órgãos jurisdicionais nacionais. Efetivamente, ao instituírem uma Comunidade de
duração ilimitada, dotada de instituições próprias, de capacidade jurídica, de capacidade de
representação internacional e, mais especialmente, de poderes reais resultantes de uma
limitação de competências ou de uma transferência de atribuições dos Estados para a
Comunidade, estes limitaram, ainda que em domínios restritos, os seus direitos soberanos e
criaram, assim, um corpo de normas aplicável aos seus nacionais e a si próprios”; e com base
nestas observações, o TJCE concluiu que: “Resulta do conjunto destes elementos que ao direito
emergente do Tratado, emanado de uma fonte autónoma, em virtude da sua natureza originária
específica, não pode ser oposto em juízo um texto interno, qualquer que seja, sem que perca a
sua natureza comunitária e sem que sejam postos em causa os fundamentos jurídicos da própria
Comunidade. A transferência efetuada pelos Estados, da sua ordem jurídica interna em benefício
da ordem jurídica comunitária, dos direitos e obrigações correspondentes às disposições do
Tratado, implica, pois, uma limitação definitiva dos seus direitos soberanos, sobre a qual não
pode prevalecer um ato unilateral ulterior incompatível com o conceito de Comunidade”
(Acórdão Costa v. E.N.E.L., Processo nº 6/64, Rec.1964, pp.1141).

Neste caso, o direito da União Europeia é superior ao direito nacional, ou seja, não importa se
uma lei é mais antiga ou mais recente uma vez que em 1º está o direito da União Europeia
hierarquicamente.

Princípio da competência por atribuição


O Tratado da União Europeia (Tratado de Lisboa) no seu artigo 5º, nº 2 refere de uma forma
mais clara que “Em virtude do princípio da atribuição, a União atua unicamente dentro dos
limites das competências que os Estados-Membros lhe tenham atribuído nos Tratados para
alcançar os objetivos fixados por estes últimos. As competências que não sejam atribuídas à
União nos Tratados pertencem aos Estados-Membros”.

Como as Comunidades não possuíam a “competência das competências” (ZIPPELIUS), e não


podiam assim criar a sua própria competência, ou seja, só poderem legislar com as competências

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que lhe forem atribuídas, previam-se três mecanismos de integração das lacunas dos Tratados,
que podem resultar da incapacidade de previsão dos autores dos Tratados:

 Recurso à unidade de sentido constituída pelos três Tratados. Este princípio permite que
a unidade de sentido imanente às três Comunidades, possa ser invocado para integrar
lacunas existentes, exceto se estiver em causa uma norma específica de um Tratado.
 Princípio das competências implícitas (que resulta do Direito Internacional) que prevê que
quando temos os direitos temos, implicitamente, os meios necessários.
 Recurso ao artigo 308º do Tratado de Nice (poderes subsidiários), atualmente art.352º do
TFUE: “Se uma ação da União for considerada necessária, no quadro das políticas definidas
pelos Tratados, para atingir um dos objetivos estabelecidos pelos Tratados, sem que estes
tenham previsto os poderes de ação necessários para o efeito, o Conselho, deliberando por
unanimidade, sob proposta da Comissão e após aprovação do Parlamento Europeu, adotará
as disposições adequadas.”

Princípio da autonomia
É essencial para um correto funcionamento da ordem jurídica da União Europeia, pois assegura
que o direito da União Europeia não será desvirtuado pelos direitos nacionais e que é possível
uma aplicação uniforme em toda a União Europeia.

A autonomia tem uma dupla vertente, o face às ordens jurídicas nacionais e ao direito
internacional.

Princípio da proporcionalidade
Este princípio reconhecido na CEE desde o seu início foi introduzido expressamente no texto do
Tratado de Maastricht e está hoje consagrado no artigo 5º, nº 4 do Tratado da União Europeia
que refere “Em virtude do princípio da proporcionalidade, o conteúdo e a forma da ação da
União não devem exceder o necessário para alcançar os objetivos dos Tratados.”

O conceito de proporcionalidade assenta na ideia de proibição de excesso e de necessidade, ou


seja, usar os meios necessários para alcançar o fim mas sem excessos.

O TJCE no acórdão Fedesa sintetiza bem este conceito ao defender que “O princípio da
proporcionalidade exige que os atos das instituições comunitárias não ultrapassem os limites do
adequado e necessário à realização dos objetivos legitimamente prosseguidos pela
regulamentação em causa, entendendo-se que, quando exista uma escolha entre várias medidas
adequadas se deve recorre à menos rígida e que os inconvenientes causados não devem ser
desproporcionados relativamente aos objetivos pretendidos”. (Acórdão FEDESA, Processo
nº331/88)

Princípio da subsidiariedade
Foi com o Tratado de Maastricht que o princípio da subsidiariedade passou a ter consagração
expressa no texto desse Tratado.

Este princípio vem exposto no artigo 5º nº 3 do Tratado da União Europeia que refere “Em
virtude do princípio da subsidiariedade, nos domínios que não sejam da sua competência
exclusiva, a União intervém apenas se e na medida em que os objetivos da ação considerada não
possam ser suficientemente alcançados pelos Estados-Membros, tanto ao nível central como ao
nível regional e local, podendo contudo, devido às dimensões ou aos efeitos da ação considerada,
ser mais bem alcançados ao nível da União.”

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Pretende este princípio dar particular importância à divisão de poderes entre diferentes níveis
de governo, garantindo que o poder será exercido pelo nível de poder mais baixo onde os
objetivos possam ser plenamente realizados.

Outros princípios
O Princípio da Comunidade de Direito significa que toda a atuação da UE deve respeitar os
direitos dos cidadãos.

O Princípio da Uniformidade, que pretende assegurar que o direito da UE é aplicado da mesma


forma nos diferentes Estados-membros, pelas diferentes instituições nacionais.

O Princípio da Interpretação Conforme, quer garantir que toda a aplicação do direito no espaço
da UE, mesmo em relação ao direito nacional, é efetuada de acordo com os princípios e os
objetivos do direito da UE.

Destacam-se ainda: princípio da boa-fé; da legalidade; do respeito dos direitos fundamentais;


do respeito dos direitos da defesa; da equidade; do respeito da confiança legítima; da segurança
jurídica; do enriquecimento sem causa.

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