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Direito da União Europeia

Fontes de Direito da União Europeia


A criação da UE deu origem a um novo sistema jurídico, dotado de
um sistema de fontes autónomo.
Interessa, pois, perguntar:
• Quais são as fontes de Direito da União Europeia? Como é que se
manifesta o Direito da União Europeia?
É importante saber quais são as fontes, desde logo, porque o
Direito da União Europeia cria direitos e obrigações na esfera dos
particulares
• Qual é a posição que cada fonte ocupa no sistema jurídico?
É importante saber a hierarquia das fontes porque este é um critério
importante na resolução de conflitos de normas. Quando as normas
têm posições diferentes no sistema jurídico prevalece a norma
superior: lex superior derogat legi inferiori
Fontes de Direito da EU
Elenco

I. Direito Primário
1. Os tratados
2. A Carta Europeia de Direitos Fundamentais
3. Princípio gerais do Direito de natureza constitucional
II. Direito Derivado: actos das instituições
1. Actos típicos (previstos no artigo 288.º TFUE)
i) Regulamentos
ii) Directivas
iii) Decisões
iv) Recomendações e pareceres
2. Outros actos
III. Direito Internacional
Fontes de Direito da UE
Direito primário e direito derivado

A doutrina recorre a uma divisão fundamental, que expressa,


precisamente, a diferente posição das fontes no sistema jurídico:

• Direito Primário
• Direito Derivado
Fontes de Direito da UE
Direito primário e direito derivado

• Direito Primário
O Direito Primário é constituído pelos Tratados (tratados originários,
os diversos tratados de revisão, os tratados de adesão) e pela Carta
Europeia de Direitos Fundamentais
Podemos dizer que o Direito Primário tem uma natureza
constitucional.
Tal como as Constituições nacionais, o Direito Primário ocupa uma
posição cimeira no sistema jurídico.
As matéria reguladas são semelhantes: direitos fundamentais,
organização política.
Mas há um ponto em que as Constituições nacionais e o Direito
primário se distanciam: as Constituições são adoptadas pelo povo;
os Tratados são celebrados pelos Estados-membros da União.
Fontes de Direito da UE
Direito primário e direito derivado

• Direito Derivado
Já sabemos que os Tratados fundadores da UE se limitam, o mais
das vezes, a apontar objectivos e atribuir competências: são
Tratados-quadro.
As competências atribuídas pelos Estados à UE são exercidas
pelas instituições.
Os actos jurídicos das instituições, adoptados no exercício das
competências que lhe são atribuídas, formam esta categoria de
Direito derivado.
Fontes de Direito da UE
Direito derivado

Direito Derivado: actos das instituições


1. Actos típicos (previstos no artigo 288.º TFUE)
i) Regulamentos
ii) Directivas
iii) Decisões
iv) Recomendações e pareceres
2. Outros actos
Fontes de Direito da EU
Direito derivado – Actos típicos

• Os Estados-membros da UE limitaram voluntariamente a sua


soberania e, em determinados domínios, atribuíram poderes de
decisão à UE.
• As instituições da UE, no exercício das competências que foram
atribuídas à União, adoptam actos jurídicos.
• O artigo 288.º TFUE contém um elenco desses actos. Prevê e
define estes actos. Porque estão previstos, tipificados, dizem-se:
“típicos”.
• Atentemos então no enunciado do preceito:
Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos

O artigo 288.º TFUE diz o seguinte:


“Para exercerem as competências da União, as instituições adoptam
regulamentos, directivas, decisões, recomendações e pareceres.

O regulamento tem carácter geral. É obrigatório em todos os seus


elementos e directamente aplicável em todos os Estados-Membros.

A directiva vincula o Estado-Membro destinatário quanto ao resultado a


alcançar, deixando, no entanto, às instâncias nacionais a competência
quanto à forma e aos meios.

A decisão é obrigatória em todos os seus elementos. Quando designa


destinatários, só é obrigatória para estes.

As recomendações e os pareceres não são vinculativos.”


Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos
Comparação entre Regulamentos e Directivas

Os regulamentos são “Leis europeias”


• São gerais: não se sabe, no momento da sua adopção, a quem vão ser
aplicados
• São directamente aplicáveis: para produzirem efeitos não são necessários
actos de recepção ou de transformação por parte dos direitos nacionais.
Se perguntarmos o que é preciso fazer ao nível do Direito português para
que um regulamento da UE produza efeitos, a resposta é: nada!
Não é necessário publicar o regulamento no Diário da República; não é
necessário adoptar uma lei nacional; não é necessário revogar as leis
nacionais contrárias (mesmo que continuem em vigor não se podem
aplicar) …
• O TJUE considera que “em razão da sua natureza e da sua função no
sistema das fontes do direito comunitário, os regulamentos têm efeito
directo e são, como tal, susceptíveis de criar direitos individuais que os
tribunais nacionais devem proteger”.
(Processo 43/71, Politi, Colet. 1039, n.o 9; processo 93/71, Leonesio,
Colet., 287, n.o 5)
Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos
Comparação entre Regulamentos e Directivas

As Directivas são “leis-quadro” europeias


• São uma forma de legislação indirecta
• Dirigem-se aos Estados-membros da UE e estabelecem objectivos
• Normalmente, estabelecem um prazo para os Estados atingirem
esses objectivos
• Ao contrário dos regulamentos, as directivas necessitam de ser
transpostas para o direito nacional
• Nos termos do artigo 112.º, n.º 9, da Constituição portuguesa, a
transposição de directivas para a ordem jurídica interna assume a
forma de lei ou de decreto-lei
• As directivas deixam liberdade aos Estados quanto à forma de
atingir os objectivos que estabelecem. Mas o exacto alcance da
liberdade dos Estados varia em função do regime estabelecido pela
directiva.
Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos

Comparação entre Regulamentos e Directivas


Regulamentos
Quando a U E legisla através de um regulamento cria um regime jurídico uniforme;
não varia de Estado para Estado.
Um exemplo: o Código Aduaneiro é um regulamento da UE: é uma “lei europeia
codificada”
O regime que estabelece é exactamente o mesmo em todos os países da UE
Directivas
Quando a UE legisla através de uma Directiva harmoniza, aproxima, os direitos
nacionais, mas não cria um regime uniforme
Um exemplo: As Directivas do IVA em alguns aspectos deixam alguma liberdade aos
Estados (por exemplo, nas taxas), noutros não deixam liberdade nenhuma (por
exemplo, nas isenções)
Outro exemplo: A Directiva que estabelece um período mínimo de licença de
maternidade vai eliminando as diferenças entre os países, mas não estabelece um
regime uniforme; admite diferenças entre vários países; admite que alguns países
adoptem políticas mais favoráveis à maternidade.
Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos - Publicação

• Regulamentos, Directivas e Decisões são actos vinculativos, produzem


efeitos jurídicos obrigatórios
• Para dar cumprimento ao princípio da publicidade, os actos normativos têm
de ser publicados (os actos normativos têm uma natureza geral: não se
sabe, no momento da sua adopção, a quem vão ser aplicados). Pelo
contrário, os actos individuais notificam-se (se se sabe a quem é que se
dirige, notifica-se o destinatário)
• Os actos normativos da União são publicados no Jornal Oficial da União
Europeia
• E entram em vigor na data por eles fixada ou, na falta desta, no vigésimo
dia seguinte ao da sua publicação (artigo 297.º TFUE)
• Como a União tem 24 línguas oficiais (elenco que inclui o português), os
actos de publicação obrigatória têm de ser publicados em todas as línguas
oficiais (Regulamento 1/58, sobre o regime linguístico da UE)
• A consequência para a falta de publicação numa das línguas oficiais é a
não produção de efeitos no Estado que tem essa língua como língua oficial
Fontes de Direito da UE
Direito derivado - Actos típicos

O artigo 297.º TFUE diz o seguinte:

1. Os actos legislativos adoptados de acordo com o processo legislativo ordinário são assinados
pelo Presidente do Parlamento Europeu e pelo Presidente do Conselho.
Os actos legislativos adoptados de acordo com um processo legislativo especial são assinados pelo
Presidente da instituição que os adoptou.
Os actos legislativos são publicados no Jornal Oficial da União Europeia. Entram em vigor na data por
eles fixada ou, na falta desta, no vigésimo dia seguinte ao da sua publicação.

2. Os actos não legislativos adoptados sob a forma de regulamentos, de directivas e de decisões


que não indiquem destinatário são assinados pelo Presidente da instituição que os adoptou.
Os regulamentos, as directivas dirigidas a todos os Estados-Membros, bem como as decisões que não indiquem
destinatário, são publicados no Jornal Oficial da União Europeia. Entram em vigor na data por eles fixada
ou, na falta desta, no vigésimo dia seguinte ao da sua publicação.
As outras directivas e as decisões que indiquem um destinatário são notificadas aos respectivos
destinatários, produzindo efeitos mediante essa notificação.
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Direito derivado – Outros actos

Por vezes, as instituições da União recorrem a actos que não


correspondem a nenhum dos actos típicos (previstos no artigo 288.º).
As designações variam: programa de acção, comunicação …
Através destes actos, as instituições indicam a forma como pretendem
exercer as suas competências.
Estes actos não produzem efeitos jurídicos em relação a terceiros, mas
vinculam a própria instituição que os emana.
Esta vinculação da instituição autora do acto resulta da necessidade de
observar o princípio da protecção da confiança. Se a instituição comunica
que vai actuar de determinada forma, cria legítimas expectativas, que
devem ser protegidas.

Um exemplo: Vimos atrás que a Comissão tem competência para aplicar o


Direito da Concorrência. Se a Comissão, através de uma Comunicação, um
acto atípico, diz que não vai actuar em relação a determinado tipo de
infracções, a Comissão não pode depois aplicar uma coima a empresas
que cometam uma dessas infracções. Mas os tribunais não ficam
impedidos de apreciar essas infracções, e podem sancioná-las.
O Direito da EU pode ser consultado na eur-lex, nas várias
línguas oficiais

https://eur-lex.europa.eu/homepage.html?locale=pt

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