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Direito e Ética em Saúde

Cuidados de Saúde
Transfronteiriços

João V. Cordeiro_joao.cordeiro@ensp.unl.pt
Paula Lobato Faria_pa.lobfaria@ensp.unl.pt
Sara Vera Jardim
Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Hierarquia das leis - Final!

 CONSTITUIÇÃO !
!
 Direito da União Europeia!
 Direito Internacional!

 Leis Reforçadas!

 Leis Comuns (Leis (AR), Decretos-leis


(Governo) e Decretos Legislativos Regionais (ALR))!

 Regulamentos (Governo)(Decreto
Regulamentar, Portaria, Despacho Normativo) !
Organizações Internacionais

As OIs são associações de sujeitos de Direito Internacional, ou seja,


constituídas por Estados. Decorrem do crescimento das relações
internacionais e da cooperação entre Estados.

As OIs são criadas por instrumentos de


Direito Internacional Público (Tratados).

As OIs têm objetivos diversos, tais como:


obtenção ou manutenção de paz,
desenvolvimento económico e social,
cooperação política, etc.
Organizações Internacionais
As OIs dividem-se em:

- Intergovernamentais: relações harmonizadas entre soberanias, os seus actos têm por destinatário
os Estados e não os cidadãos desses Estados. Geralmente não adoptam actos obrigatórios e vinculativos
limitando-se a fazer recomendações. Predomina a cooperação.
Ex: ONU (Organização das Nações Unidas); UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e Cultura)

- Supra-nacionais: existe a transferência de poder soberano para as Organizações. Têm estrutura


própria com correspondência ou não a modelos estaduais. Têm órgãos independentes dos Estados e
vontade própria, distinta da dos Estados que a compõem. Geram obrigações para os Estados e os
cidadãos. Predomina a integração.
Ex: UE (União Europeia)

Direito Internacional Público


Vol. II – Sujeitos e Responsabilidade
Eduardo Correia Baptista, Almedina, 2004
Direito da União Europeia

Atos Jurídicos
(arts. 288.º, 294.º e 296.º TFUE)

Os atos jurídicos da UE podem dividir-se em três tipos:

1. Atos típicos

1.1 Atos juridicamente vinculativos (Regulamento, Diretiva e Decisão),(adoptadas pelo


Conselho, Comissão ou em conjunto pela Comissão e Parlamento Europeu)

1.2 Atos não vinculativos (Recomendação e Parecer),(adoptados pelas Instituições)

2. Atos atípicos (Regulamentos Internos),(adoptados pelo Conselho Europeu, Conselho e


Comissão)

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


http://europa.eu/index_pt.htm
Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

1.1 Atos juridicamente vinculativos (Regulamento, Diretiva e Decisão)

Regulamento (art. 288.º TFUE)

- Carácter geral (os destinatários são todas as pessoas, singulares ou colectivas, empresas, Estados, etc)
- Aplicabilidade direta (para vigorar internamente dispensa qualquer mecanismo de recepção por parte
dos Estados membros)
- Obrigatoriedade em todos os seus elementos (o seu conteúdo não pode ser adaptado, nem o seu
sentido transformado pelos Estados membros)
- Em Portugal a CRP prevê a sua vigência direta (art. 8º/3 e /4).

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

1.1 Atos juridicamente vinculativos (Regulamento, Diretiva e Decisão)

Diretiva (art. 288.º TFUE)

- Impõe aos Estados Membros a realização de certos objectivos, deixando-lhes margem na escolha da forma e
meios de realização.
- Os destinatários imediatos são os Estados e não as pessoas.
- Necessitam de transposição estadual e consequentemente deixam alguma margem (maior ou menor) para
adaptação à realidade jurídica, económica e social do Estado.

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

1.1 Atos juridicamente vinculativos (Regulamento, Diretiva e Decisão)

Diretiva (art. 288.º TFUE)

- É o meio preferencial de harmonização legislativa


- Se visarem criar direitos para os particulares, estes devem conhecê-los e poder invocá-los nos tribunais
nacionais
- A não transposição de uma diretiva é sancionável contenciosamente (art. 258.º TFUE)
- Em Portugal as diretivas devem ser transpostas sob a forma de lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional
(art. 112/8 da CRP)

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

1.1 Atos juridicamente vinculativos (Regulamento, Diretiva e Decisão)

Decisão (art. 288.º TFUE)

- É obrigatória em todos os seus elementos. Quando designa destinatário, só é obrigatória para estes.
- Os destinatários podem ser os Estados membros ou os particulares.
- A sua vigência depende de notificação e fundamentação.
- As Decisões do Conselho ou da Comissão que imponham obrigação pecuniária às pessoas constituem título
executivo (art. 299.ª TFUE)

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

1.2 Atos não vinculativos (Recomendação e Parecer)

Recomendação e Parecer (art. 288.º TFUE)

- Não são vinculativos. Os pareceres do TJ são para respeitar e são “quase vinculativos” (art. 218º/11
TFUE).

- A Recomendação é da iniciativa do órgão que a formula e dirige-se para o exterior mesmo quando não
publicitada. O Parecer costuma ser um ato interno e preparatório de um processo de decisão, mas há
exceções (art. 218º/11 TFUE).

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

2. Atos atípicos (Regulamentos Internos)

Regulamentos Internos (do CE, Conselho e Comissão, art. 235.º, 240.º e 249.º TFUE)

- Denominam-se atípicos por não estarem previstos no art. 288.º TFUE.

- Têm relevo jurídico interno.

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

Duas notas finais:

1. A designação do ato não determina imediatamente o seu valor jurídico.

É necessário interpretar o seu conteúdo. O TJ pode mesmo anular o acto se este revestir uma forma
desadequada ao seu conteúdo. (art. 263.º e 267.º TFUE)

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Direito da União Europeia

Atos Jurídicos

Duas notas finais:

2. A diferença entre aplicabilidade direta e efeito direto.

Aplicabilidade direta – característico do ato não da norma. Apenas os Regulamentos se aplicam


diretamente aos particulares

Efeito direto – característico da norma. Consiste na possibilidade de os particulares a invocarem em


tribunal. Podem ser normas de Tratados, Diretivas, Decisões, etc. A norma tem de ser clara, precisa e
incondicional. (TJ: Acórdão Van Gend en Loos e Acórdão Van Duyn)

Direito da União, Miguel Gorjão-Henriques, Almedina, 2010


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Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Um Direito
Europeu da Saúde?

Na UE a proteção da saúde constitui


uma tarefa primordial dos Estados –
identidade/soberania nacionais (P. da
territorialidade).

A organização dos cuidados de Saúde


(financiamento e prestação) - desde
sempre considerada uma matéria de
competência nacional.
Um Direito
Europeu da Saúde?
Porém:

1. Envolve doentes/utentes
Livre circulação de pessoas

2. Envolve profissionais de saúde


Livre circulação de
trabalhadores

3. Envolve a comercialização de
medicamentos/tecnologia
Livre circulação de bens

4. Envolve prestação de serviços


Livre circulação de serviços
Um Direito
Europeu da Saúde?

Progressivo alargamento da actuação da


UE no domínio da Saúde:

- Alargamento das competências no


âmbito da Saúde Pública (art. 168.º
TFUE, ex-art.152.º TCE).

- Desenvolvimento do Mercado
Interno (art.114.º TFUE, ex-art.
95.ºTCE ). Aproximação de disposições
legislativas, regulamentares e
administrativas no estabelecimento ou
funcionamento do MI ou do respeito
pelas liberdades fundamentais.
União Europeia e Saúde:
Marcos históricos

Os Tratados Constitutivos das


Comunidades Europeias eram
totalmente omissos no que toca à
protecção da saúde.

A saúde era abordada apenas no


contexto da política comercial ou
da protecção do consumidor.

O termo Saúde Pública surge em 1964 (Directiva sobre os estrangeiros);


União Europeia e Saúde:
Marcos históricos

Em 1986 surge o Primeiro


Programa de Combate ao Cancro;

O Tratado de Maastricht (1992)


reconhece a Saúde Pública como
ramo da política Europeia. A CE
assume uma competência expressa
e específica;

O Tratado de Amesterdão (1997) aumenta as competências legislativas e alarga o


âmbito da protecção da saúde da mera prevenção à melhoria da saúde.
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Nice (2001)

Artigo 152.º
A acção da Comunidade (...) incide na melhoria da saúde pública, bem
como na prevenção das doenças e afecções humanas e das causas de perigo
para a saúde humana (...) Abrange a luta contra os grandes flagelos,
fomentando a investigação sobre as respectivas causas, formas de
transmissão e prevenção, bem como a informação e educação sanitária (...).
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Nice (2001)

Instrumentos de actuação:

1. Incentivo e coordenação (compilação de dados, estudos);


2. Definição das linhas gerais da política europeia;
3. Cooperação com países terceiros e organizações internacionais;
4. Competência legislativa (qualidade e segurança dos órgãos, sangue e
derivados e domínio veterinário e fitossanitário).
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Artigo 168.º do TFUE


1. Na definição e execução de todas as políticas e ações da União será assegurado um elevado
nível de proteção da saúde.
A ação da União (...) incidirá na melhoria da saúde pública e na prevenção das doenças e afeções
humanas e na redução das causas de perigo para a saúde física e mental. Esta ação abrangerá (...)
a vigilância das ameaças graves para a saúde com dimensão transfronteiriça (...).
2. A União incentivará a cooperação entre os Estados-Membros (...) a fim de aumentar a
complementaridade dos seus serviços de saúde nas regiões fronteiriças.
3. A União e os Estados-Membros fomentarão a cooperação com os países terceiros e as
organizações internacionais competentes no domínio da saúde pública.
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Artigo 168.º do TFUE


4. (...) adoptando, fim de enfrentar os desafios comuns em matéria de segurança:
a) Medidas que estabeleçam normas elevadas de qualidade e segurança dos órgãos e substâncias de
origem humana, do sangue e dos derivados do sangue;
b) Medidas nos domínios veterinário e fitossanitário que tenham diretamente por objetivo a proteção
da saúde pública;
c) Medidas que estabeleçam normas elevadas de qualidade e de segurança dos medicamentos e dos
dispositivos para uso médico.
5. (...) também podem adotar medidas de incentivo destinadas a proteger e melhorar a saúde humana, e
nomeadamente a lutar contra os grandes flagelos transfronteiriços (...)
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Artigo 168.º do TFUE


(...)
7. A ação da União respeita as responsabilidades dos Estados-Membros no que se refere à
definição das respetivas políticas de saúde, bem como à organização e prestação de
serviços de saúde e de cuidados médicos. As responsabilidades dos Estados-Membros
incluem a gestão dos serviços de saúde e de cuidados médicos, bem como a
repartição dos recursos que lhes são afetados.
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Os três objetivos estratégicos da política de saúde da UE são os seguintes:

1. Promoção da saúde - prevenir doenças e promover estilos de vida


saudáveis ao abordar as questões da nutrição, atividade física, consumo de
álcool, tabaco e drogas, riscos ambientais e lesões. Com o envelhecimento da
população, as necessidades específicas dos idosos em matéria de saúde exigem
igualmente maior atenção;

http://www.europarl.europa.eu/atyourservice/pt/displayFtu.html?ftuId=FTU_5.5.3.html
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Os três objetivos estratégicos da política de saúde da UE são os seguintes:

2. Proteção dos cidadãos contra ameaças à saúde - melhorar a


vigilância e a preparação para casos de epidemias e bioterrorismo e
aumentar a capacidade de resposta a novos desafios na área da saúde,
designadamente as alterações climáticas;

http://www.europarl.europa.eu/atyourservice/pt/displayFtu.html?ftuId=FTU_5.5.3.html
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Tratado de Lisboa (2009)

Os três objetivos estratégicos da política de saúde da UE são os seguintes:

3. Apoio a sistemas de saúde dinâmicos - ajudar os sistemas de


saúde dos Estados-Membros a responder aos desafios colocados pelo
envelhecimento das populações, pelas expectativas mais elevadas dos cidadãos
e pela mobilidade de doentes e profissionais da saúde.

http://www.europarl.europa.eu/atyourservice/pt/displayFtu.html?ftuId=FTU_5.5.3.html
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Enquadramento legal da saúde enquanto


vetor da política social europeia:

- A competência atribuída à UE é meramente complementar


das políticas nacionais;

- É fundamentalmente concentrada na Saúde Pública;


Competência Europeia
em matéria de Saúde

Enquadramento legal da saúde enquanto


vetor da política social europeia

- Baseia-se essencialmente em medidas de incentivo, coordenação e apoio (art. 6.ºa)


TFUE) (não se prevêm de medidas de harmonização de disposições legislativas e
regulamentares);

- Os Estados-membros são os únicos responsáveis pela organização e


prestação de serviços de saúde e de cuidados médicos.
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Enquadramento legal da saúde a coberto


do desenvolvimento do Mercado
Interno:

- Competência legislativa alargada;

- Admissão expressa de propostas de aproximação de disposições em


matéria de saúde (desde que o objetivo principal seja o melhoramento do
mercado interno) (art. 114.º TFUE);
Competência Europeia
em matéria de Saúde

Enquadramento legal da saúde a coberto


do desenvolvimento do Mercado
Interno:

- Enquadramento dos “serviços de saúde”, no contexto das liberdades


fundamentais, em particular das liberdades de circulação de bens, serviços e
pessoas (prestadores e doentes);

- Fundamento bastante para justificar uma interferência nos serviços de


saúde nacionais.
Os Serviços de Saúde no âmbito do
Mercado Interno - política social e legitimidade

1.Deverão os serviços de saúde ser considerados “serviços” para efeito do cumprimento


das normas respeitantes à realização do mercado interno, ou deve a sua especial natureza
(serviço de interesse geral) justificar um tratamento jurídico particular?
Os Serviços de Saúde no âmbito do
Mercado Interno - política social e legitimidade

1.Deverão os serviços de saúde ser considerados “serviços” para efeito do cumprimento


das normas respeitantes à realização do mercado interno, ou deve a sua especial natureza
(serviço de interesse geral) justificar um tratamento jurídico particular?

2.Como se compatibiliza a competência exclusiva dos EM


pela organização dos seus serviços de saúde com as
obrigações que impendem sobre estes serviços, caso sejam
considerados, “serviços comerciais” para efeitos do
mercado interno?
Os Serviços de Saúde no âmbito do
Mercado Interno - política social e legitimidade

1.Deverão os serviços de saúde ser considerados “serviços” para efeito do cumprimento


das normas respeitantes à realização do mercado interno, ou deve a sua especial natureza
(serviço de interesse geral) justificar um tratamento jurídico particular?

2.Como se compatibiliza a competência exclusiva dos EM


pela organização dos seus serviços de saúde com as
obrigações que impedem sobre estes serviços, caso sejam
considerados, “serviços comerciais” para efeitos do
mercado interno?

3. São os doentes verdadeiros “consumidores de

serviços de saúde”?
“There is an increasing of the importance
of the health sector (as employer, and
purchaser of goods and services) on the
economy as a whole”

Tamara Hervey (2002)


The legal basis of European
Community public health policy
Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Cuidados de Saúde Transfronteiriços
em sentido lato

- O fenómeno em que o doente recebe cuidados de saúde num


EM que não aquele em que se encontra inscrito;

- Os casos em que a prestação de cuidados é


assegurada num Estado-Membro que não o Estado
de residência ou estabelecimento do prestador de
serviços.
Cuidados de Saúde Transfronteiriços
em sentido estrito

1.ª vertente (passiva/negativa) – Deslocação do


doente ao EM do prestador para efeitos de
tratamento.
Cuidados de Saúde Transfronteiriços
em sentido estrito

1.ª vertente (passiva/negativa) – Deslocação do


doente ao EM do prestador para efeitos de
tratamento.

2.ª vertente (activa/positiva) – Presença permanente


ou temporária de um prestador de cuidados de saúde
noutro EM.
Cuidados de Saúde Transfronteiriços
em sentido estrito

1.ª vertente (passiva/negativa) – Deslocação do


doente ao EM do prestador para efeitos de
tratamento.

2.ª vertente (activa/positiva) – Presença permanente


ou temporária de um prestador de cuidados de saúde
noutro EM.

3.ª vertente – Doente e prestador de cuidados de


saúde permanecem nos seus países de origem existindo
uma deslocação do próprio serviço (telemedicina, diagnóstico e
prescrição à distância e serviços de laboratório).
(Acesso a) Cuidados de
Saúde Transfronteiriços

Utilização de cuidados de saúde num


EM diferente do EM no qual o
doente está inscrito no sistema de
segurança social.

Mobilidade de Doentes
no Espaço da União Europeia e EEE
Tipos de cuidados de
saúde transfronteiriços
mais frequentes:

- Episódios de saúde ocorridos durante


estada num EM estrangeiro;

- Deslocações planeadas para


tratamento de patologias específicas;

- Acesso a cuidados de saúde nas


regiões transfronteiriças.
Os doentes preferem aceder a
cuidados de saúde o mais próximo
possível do local de residência ou
do trabalho

Dimensão residual da
Mobilidade de Doentes
Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Enquadramento normativo
A. Legislação comunitária relativa à coordenação dos
sistemas de segurança social
- Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho n.º 883/2004
- Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho n.º 987/2009
- Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho n.º 1231/2010

B. Disposições europeias relativas ao


mercado interno
- Artigo 56.º TFUE (ex-art. 49.º TCE)
- Diretiva 2011/24/EU relativa ao exercício dos
direitos dos doentes em matéria de cuidados de
saúde transfronteiriços
Enquadramento normativo

C. Legislação nacional
- Decreto-Lei n.º 177/92, de 13 de agosto
- Lei n.º 52/2014, de 25 de agosto (Portaria n.º191/2014, de 25 de setembro)
Despacho n.º 11042-F/2014, de 29 de agosto

D. Convenções internacionais e/ou


Acordos bilaterais

E. Jurisprudência do Tribunal de Justiça da


União Europeia (TJUE) como factor de
integração indispensável para a consolidação do
quadro legal europeu.
E. Jurisprudência do
Tribunal de Justiça da
União Europeia (TJUE)

“Poucos ramos de direito deverão


tanto à jurisprudência como o
Direito da União Europeia”
Fausto Quadros
Contencioso da União Europeia, (2007)
E. Jurisprudência do
Tribunal de Justiça da
União Europeia (TJUE)

Re-envio prejudicial (art. 267.º TFUE):


TJUE é chamado a interpretar os Tratados
ou validar e interpretar atos das
instituições, órgãos ou organismos da UE
submetidas aos tribunais nacionais.
E. Jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
como factor de integração indispensável para a consolidação do quadro legal
europeu.

Os pressupostos, alcance e efeitos do acesso aos cuidados de saúde transfronteiriços


resultam dos seguintes acórdãos:
E. Jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
como factor de integração indispensável para a consolidação do quadro legal
europeu.

Os pressupostos, alcance e efeitos do acesso aos cuidados de saúde transfronteiriços


resultam dos seguintes acórdãos:

1. Ac. de 28 de Abril de 1998, Proc. C-158/96, Kohll


2. Ac. de 28 de Abril de 1998, Proc. C-120/95, Decker
3. Ac. de 12 de Julho de 2001, Proc. C-157/99, Smits/ Peerbooms

4. Ac. de 13 de Maio de 2003, Proc. C-385/99,


Müller-Fauré/Van Riet
5. Ac. de 12 de Julho de 2001, Proc. C-368/98,
Vanbraekel [2001]
6. Ac. de 16 de Maio de 2006, Proc. C-372/04,
Watts [2006]
Casos “Kohll” e “Decker” - Os sistemas de saúde
no âmbito da livre circulação de serviços

Factos:
Raymond Kohll pretendia levar a filha a um ortodontista na Alemanha e Nicolas Decker
dirigiu-se à Bélgica para adquirir um par de óculos de correcção. Estavam dispostos a pagar os
bens e serviços adquiridos esperando o posterior reembolso pelo seu sistema de saúde, tal
como sucederia (e no limite do montante) se tivessem recorrido a serviços ou
adquirido os bens no seu território nacional.
Tanto as lentes como o tratamento por ortodontista
constavam dos benefícios incluídos no
sistema de saúde luxemburguês. Não havia
sido obtida qualquer autorização prévia (tinha sido
negada – caso Kohll - ou simplesmente não pedida –
caso Decker), pelo que, segundo as autoridades
luxemburguesas, não haveria qualquer direito a
reembolso.
Casos “Kohll” e “Decker” - Os sistemas de saúde
no âmbito da livre circulação de serviços

Regra geral: A prestação de cuidados de saúde, ainda que no contexto de sistemas de


segurança social ou de saúde, está sujeita às regras decorrentes da livre circulação
de bens e serviços. A imposição de uma autorização prévia para aceder a tratamentos num
EM estrangeiro pode constituir uma barreira à livre circulação de serviços. (aplicam-se os
arts. 34.º, 56.º e 57.º TFUE)
Casos “Kohll” e “Decker” - Os sistemas de saúde
no âmbito da livre circulação de serviços

Regra geral: A prestação de cuidados de saúde, ainda que no contexto de sistemas de


segurança social ou de saúde, está sujeita às regras decorrentes da livre circulação
de bens e serviços. A imposição de uma autorização prévia para aceder a tratamentos num
EM estrangeiro pode constituir uma barreira à livre circulação de serviços. (aplicam-se os
arts. 34.º, 56.º e 57.º TFUE)

Derrogações: Risco para o equilíbrio dos sistemas


de segurança social e perigo para a saúde pública –
falta de controlo da qualidade dos serviços prestados
e bens vendidos. (art. 36.º TFUE)

Derrogações recusadas nos casos


concretos.
Casos “Smits” e “Peerbooms” - Tratamento hospitalar
e condições para autorização de deslocação ao estrangeiro

Factos:
Smits Geraets, um cidadão holandês que sofria de Parkinson, deslocou-se à Alemanha para
um tratamento multidisciplinar (não disponível por não ser consensual na Holanda). Peerbooms,
também natural da Holanda, foi transferido para uma clínica na Áustria onde iria receber um
tratamento de neuro-estimulação a fim de recuperar do coma em que se encontrava após um
acidente de viação. Embora disponível na Holanda, o tratamento em questão não podia ser
acedido por Peerbooms, visto que o doente não cumpria os requisitos exigidos pela lei
holandesa para aceder aquele tipo de tratamento (entre os quais, a idade).
Os doentes pagaram directamente os serviços
médicos que lhes foram prestados no estrangeiro
tendo posteriormente solicitado o reembolso dos
custos às respectivas caixas de seguro de
doença (no limite dos custos
comparticipados na Holanda).
Casos “Smits” e “Peerbooms” - Tratamento hospitalar
e condições para autorização de deslocação ao estrangeiro

Regra Geral: Também válida para serviços médicos e cuidados de saúde em contexto
hospitalar. (aplicam-se os arts. 56.º e 57.º TFUE)

Derrogações: Risco para o equilíbrio dos sistemas de segurança social e perigo para a saúde
pública - ameaça a um serviço médico e hospitalar equilibrado e acessível a todos. Em abstracto,
admissíveis desde que a imposição de uma autorização prévia seja baseada em
condições objectivas, não discriminatórias e conhecidas previamente.
Casos “Smits” e “Peerbooms” - Tratamento hospitalar
e condições para autorização de deslocação ao estrangeiro

Regra Geral: Também válida para serviços médicos e cuidados de saúde em contexto
hospitalar. (aplicam-se os arts. 56.º e 57.º TFUE)

Derrogações: Risco para o equilíbrio dos sistemas de segurança social e perigo para a saúde
pública - ameaça a um serviço médico e hospitalar equilibrado e acessível a todos. Em abstracto,
admissíveis desde que a imposição de uma autorização prévia seja baseada em
condições objectivas, não discriminatórias e conhecidas previamente.

Condições para autorização prévia nos casos


concretos:
Holanda - Tratamento habitual no âmbito
profissional e necessidade médica de tratamento.
Casos “Smits” e “Peerbooms” - Tratamento hospitalar
e condições para autorização de deslocação ao estrangeiro

Tribunal:

Tratamento habitual no âmbito profissional deve ser


aferido por referência à validação da “ciência
médica internacional”

A autorização só pode ser recusada “quando o


paciente possa obter tratamento idêntico ou
com o mesmo grau de eficácia, em tempo
oportuno, num estabelecimento que tenha
celebrado um convénio com a caixa de seguro de
doença em que o segurado se encontra inscrito”.
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Factos:
Müller-Fauré, residente na Holanda, recebeu tratamento dentário (seis coroas e uma
prótese) durante as suas férias na Alemanha, fora de um contexto hospitalar e sem
convénio com a Holanda. O tratamento teve custos avultados (apenas uma fração coberta
pela previdência holandesa) e prolongou-se por várias semanas. O reembolso foi negado
com o fundamento de que os segurados só podem abdicar da autorização prévia em
situações excepcionais, que não se verificavam.

van Riet pediu autorização para exame ao pulso em


hospital na Bélgica, local onde poderia ser atendido
mais rapidamente. O pedido foi indeferido por o
exame também se poder realizar na Holanda (teria
de esperar em média 6 meses) mas, entretanto, van
Riet realizou o exame na Bélgica e, em função do
resultado, decidiu também lá ser operado. O
reembolso dos custos foi negado com a
fundamentação de que a situação não era urgente.
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Regra Geral: Reforçada no acórdão (aplicam-se os arts. 56.º e 57.º TFUE)

Derrogações: Risco para o equilíbrio dos sistemas de segurança social e perigo para a saúde
pública - ameaça a um serviço médico e hospitalar equilibrado e acessível a todos. Em abstracto,
admissíveis desde que a imposição de uma autorização prévia seja baseada em
condições objectivas, não discriminatórias e conhecidas previamente.
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Tribunal:

Quanto às listas de espera:

Valoriza a sua importância como defesa da saúde


pública e qualidade do sistema (planeamento e
custos). Contudo, indica que não basta a sua
existência (e ultrapassagem) como
fundamento para a exigência de
autorização prévia. É preciso aferir o caso
concreto do paciente (grau de incapacidade, dor,
custos pessoais e profissionais) e ponderar o tempo
médio de espera.
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Tribunal:

"Contudo, uma recusa de autorização prévia


fundamentada não no receio de desperdício, devido a
uma sobrecapacidade hospitalar, mas exclusivamente
em razões que se prendem com a existência de listas de
espera, no território nacional, para se beneficiar dos
cuidados hospitalares em causa, sem que sejam tidas em
consideração as circunstâncias concretas que
caracterizam a situação médica do paciente, não pode
constituir um entrave validamente justificado à livre
prestação de serviços (...)
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Tribunal:

(...) Com efeito, não resulta dos argumentos apresentados


ao Tribunal de Justiça que, para além de considerações de
natureza puramente económicas, que não podem,
enquanto tais, justificar um entrave ao princípio
fundamental da livre prestação de serviços, esse prazo de
espera seja necessário para garantir a protecção da
saúde pública. Pelo contrário, um prazo de espera
demasiado longo ou anormal é susceptível de restringir o
acesso a um conjunto equilibrado de cuidados
hospitalares de qualidade."
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Tribunal:

Quanto ao convénio:

É aceitável a exigência de autorização


prévia quando não existe convénio (seja ou
não estabelecimento hospitalar) e seja necessário o
tratamento médico. Contudo, a autorização só pode
ser recusada por ausência de convénio, quando um
tratamento idêntico ou com o mesmo grau de
eficácia para o paciente possa ser
oportunamente dispensado num
estabelecimento que tenha celebrado um convénio
com a referida caixa.
Casos “Müller-Fauré” e “Van Riet” – Convénios e
Listas de espera

Tribunal:

No caso de cuidados não hospitalares, se


os cuidados forem dispensados
gratuitamente no seu EM, a exigência
de autorização prévia para cuidados em
instituições sem convénio unicamente
baseada nesse facto (ausência de convénio)
viola os arts. 56.º e 57.º TFUE.
Caso “Watts” e o National Health Service (NHS)

Factos:

Y. Watts, inglesa, procurou autorização via E112


para ser operada a artrose das ancas no
estrangeiro. Foi avaliada e o tempo de espera para
cirurgia em Inglaterra estimado em cerca de 1 ano.
O E112 foi negado por se considerar que poderia
ser operada em Inglaterra num prazo clinicamente
seguro. Após recurso e reavaliação foi colocada em
lista mais urgente (tempo de espera 3-4 meses) mas
novamente negado o E112. Watts deslocou-se a
França, realizou a cirurgia e pediu o reembolso
que lhe foi, posteriormente, negado.
Caso “Watts” e o National Health Service (NHS)

Regra Geral: Reforçada no acórdão, válida para sistemas de saúde nacionais totalmente
financiados por impostos/fundos públicos (NHS) e não apenas para os financiados por fundos de
seguros (aplicam-se os arts. 56.º e 57.º TFUE)

Derrogações: Risco para o equilíbrio dos


sistemas de segurança social e perigo para a
saúde pública - ameaça a um serviço médico e
hospitalar equilibrado e acessível a todos. Em
abstracto, admissíveis desde que a imposição
de uma autorização prévia seja baseada em
condições objectivas, não
discriminatórias e conhecidas
previamente.
Caso “Watts” e o National Health Service (NHS)

Tribunal:

“uma prestação médica não perde a sua qualificação de


prestação de serviços na acepção do artigo 49.° TCE
(56.º TFUE) pelo facto de o paciente, após pagar ao
prestador estrangeiro o tratamento recebido, solicitar
ulteriormente que os respectivos custos sejam suportados
por um serviço nacional de saúde.”
Caso “Watts” e o National Health Service (NHS)

O tribunal inglês cita acórdãos anteriores do TJUE e entende que o prazo de 1 ano, mas
não o de 3 meses violaria os arts. 56 e 57.º TFUE.

TJUE:

As autoridades responsáveis por um sistema


nacional de saúde como o NHS são obrigadas a
prever os mecanismos de cobertura financeira das
despesas dos tratamentos hospitalares
dispensados noutro Estado-Membro a doentes
aos quais o referido serviço não consiga fornecer
o tratamento pretendido num prazo
“clinicamente aceitável”.
Caso “Watts” e o National Health Service (NHS)

Como definir o conceito de prazo


“clinicamente aceitável” ?

- Calculado com base numa avaliação objectiva da


situação médica e necessidades clínicas do
interessado;

- No momento em que o pedido de autorização


é apresentado;

- Considerando o historial do doente, a evolução


provável da doença, o grau de dor e/ou a
natureza da deficiência;

- Sujeito a reavaliação em caso de deterioração


do estado de saúde do doente.
Papel dinamizador fundamental do TJUE

Momento de transição de um contexto legal segmentado e incerto


para um enquadramento legal, mais específico, definido e que
impulsiona o acesso aos cuidados de saúde transfronteiriços.
A. Legislação comunitária relativa à coordenação
dos sistemas de segurança social

Ao abrigo do Reg. n.º 883/2004 distinguem-se duas situações:

a) Cuidados de saúde necessários durante uma


deslocação temporária a um EM que não
aquele onde o doente se encontra inscrito (art.
19º do Reg. n.º 883/2004, art. 25.º do Reg. n.º 987/2009).

b) Cuidados de saúde prestados durante uma


deslocação a um outro EM, constituindo estes
o motivo da viagem (art. 20.º do Reg. n.º
883/2004, art. 26.º do Reg. n.º 987/2009).
Artigo 19.º do Regulamento n.º 883/2004

“(...) uma pessoa segurada e os seus familiares em situação de


estada num Estado-Membro que não seja o Estado-Membro
competente têm direito às prestações em espécie que se tornem
clinicamente necessárias durante a sua estada, em função
da natureza das prestações e da duração prevista da
estada. Essas prestações são concedidas, a cargo da instituição
competente, pela instituição do lugar de estada, de acordo com a
legislação por ela aplicada, como se os interessados estivessem
segurados de acordo com essa legislação.”
A necessidade de acesso aos cuidados tem de surgir durante a
estada.

Incluem-se alguns casos de cuidados regulares e continuados (diálise e


oxigenoterapia) existindo outros casos controversos e dependentes,

em última análise, de decisão da Comissão Europeia (art. 19.º, n.º 2


do Reg. n.º 883/2004) .

Quem define a necessidade clínica deve ser o Estado de Tratamento


em consonância com a legislação aplicável.

Operacionalização: art. 25.º do Reg. n.º


987/2009
Direito titulado pelo Cartão Europeu de Seguro de
Doença* (substituiu o anterior formulário “E111”).

* Aprovado pelas Decisões n.º 189 e n.º 191


de 18 de Junho de 2003 relativas à
substituição dos formulários necessários
para a aplicação dos Regulamentos n.º
1408/71 e n.º 574/72
Artigo 20.º do Regulamento n.º 883/2004

"(...) uma pessoa segurada que viaje para outro Estado-


Membro com o objectivo de receber prestações em espécie
durante a estada deve pedir autorização à instituição
competente.
A pessoa segurada autorizada (...) beneficia das prestações
em espécie concedidas, a cargo da instituição
competente, pela instituição do lugar de estada, de acordo
com as disposições da legislação por ela aplicada, como se
fosse segurada de acordo com essa legislação. A autorização
deve ser concedida sempre que o tratamento em questão
figure entre as prestações previstas pela legislação
do Estado-Membro onde o interessado reside e onde
esse tratamento não possa ser prestado dentro de um prazo
clinicamente seguro, tendo em conta o seu estado de
saúde actual e a evolução provável da doença."
Margem de discricionariedade significativa na concretização
do que seja “prazo clinicamente seguro”.

Aplica-se legislação do Estado de tratamento.

Operacionalização: art. 26.º do Reg. n.º


987/2009
Margem de discricionariedade significativa na concretização
do que seja “prazo clinicamente seguro”.

Aplica-se legislação do Estado de tratamento.

Vinculação ao plano terapêutico do Estado de tratamento –


Jurisprudência Keller (Ac. TJUE de 12 de Abril de 2005, Proc.
C-145/03):

“(...) os médicos do Estado-Membro de estada são manifestamente os


que estão em melhor posição para apreciar o estado de saúde do
interessado e os cuidados imediatos exigidos.
(...) a autorização emitida pela instituição competente implica que,
durante o período de validade dessa autorização, essa instituição confia
na instituição do Estado-Membro no qual autorizou o segurado a
permanecer para efeitos médicos e nos médicos por esta reconhecidos.”

Operacionalização: art. 26.º do Reg. n.º


987/2009
Direito titulado pelo
formulário “E112”, a
emitir pela entidade
nacional competente - em
Portugal, a DGS.
B. Disposições europeias relativas ao
mercado interno

Artigo 56.º TFUE (ex-art. 49.º TCE)

"No âmbito das disposições seguintes, as restrições à livre prestação de


serviços na União serão proibidas em relação aos nacionais dos Estados-
Membros estabelecidos num Estado-Membro que não seja o do destinatário
da prestação.
O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo
legislativo ordinário, podem determinar que as disposições do presente
capítulo são extensivas aos prestadores de serviços nacionais de um Estado
terceiro e estabelecidos na União."

Relação entre “serviços” nos termos e para


os efeitos do artigo 56.º TFUE e os “serviços
de saúde”?
B. Disposições europeias relativas ao
mercado interno
Diretiva 2011/24/EU relativa aos exercício dos direitos dos doentes
em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços
B. Disposições europeias relativas ao
mercado interno
Diretiva 2011/24/EU relativa aos exercício dos direitos dos doentes
em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços

- Falta de segurança jurídica - quadro legal opaco e segmentado;

- Recusa da incorporação dos “serviços de saúde” na “Directiva


Serviços” (Diretiva 2006/123/CE);
B. Disposições europeias relativas ao
mercado interno
Diretiva 2011/24/EU relativa aos exercício dos direitos dos doentes
em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços

- Falta de segurança jurídica - quadro legal opaco e segmentado;

- Recusa da incorporação dos “serviços de saúde” na “Directiva


Serviços” (Diretiva 2006/123/CE);

- Base legal habilitadora: arts. 114.º (aproximação


de disposições com incidência directa no estabelecimento

ou no funcionamento do mercado comum) e 168.º TFUE


(saúde pública);
B. Disposições europeias relativas ao
mercado interno
Diretiva 2011/24/EU relativa aos exercício dos direitos dos doentes
em matéria de cuidados de saúde transfronteiriços

- Contempla as regras que o TJUE retira


diretamente do artigo 49.º (direito de
estabelecimento) e 56.ºTFUE;

- Prazo de transposição: 25 de outubro de


2013.
Diretiva 2011/24/EU

Artigo 1.º
(Objectivo e âmbito de aplicação)
“A presente directiva estabelece regras para facilitar o acesso a
cuidados de saúde transfronteiriços seguros e de elevada
qualidade e promove a cooperação em matéria de cuidados de saúde
entre os Estados- Membros, no pleno respeito das competências nacionais
em matéria de organização e prestação de cuidados de saúde (...)”.
Diretiva 2011/24/EU
Âmbito

- Cuidados de saúde, públicos e privados, independentemente da forma


como sejam organizados, prestados ou financiados.

- Cuidados de saúde de natureza


transfronteiriça (prestados ou prescritos
num EM diferente do EM de afiliação).

- Inclui prescrição, dispensa e


fornecimento de medicamentos e
dispositivos médicos.
Diretiva 2011/24/EU
Âmbito

Estão excluídos:

- Programas de vacinação contra doenças infecciosas;

- Cuidados continuados;

- Transplantes de órgãos.

Não afasta a aplicação


dos Regs. n.º 883/2004 e
n.º 987/2009.
Diretiva 2011/24/EU
Princípios Gerais

Os doentes segurados num EM têm direito de acesso aos cuidados


de saúde prestados noutros EMs - P. da não discriminação por
razões de nacionalidade (art. 4.º).

Os doentes têm o direito de ser


reembolsados pelo seu regime de
segurança social ou sistema de saúde, dos
custos do tratamento médico efetuado,
caso a ele tivessem direito no seu país de
afiliação - P. de reembolso dos
custos (artigo 7.º).
Diretiva 2011/24/EU
Direito ao Reembolso (artigo 7.º)

Abordagem centrada no Estado de Inscrição:

Valor do reembolso deverá ser equivalente ao reembolso devido


caso fosse prestado o mesmo tratamento ou outro
igualmente eficaz no país de inscrição;

- O doente suporta a diferença de custos que


lhe seja desfavorável, salvo decisão em contrário do
Estado de afiliação;
Diretiva 2011/24/EU
Direito ao Reembolso (artigo 7.º)

Abordagem centrada no Estado de Inscrição:

- O valor não poderá exceder os custos reais dos cuidados recebidos;

- Poderá ser decidido o reembolso de custos suplementares (i.e


alojamento, viagens, etc) para pessoas portadoras de deficiência.

- Não se acrescentam tratamentos nem se


confere o direito a recorrer a
tratamentos não previstos pelo
Estado de afiliação (para isso: Regs. n.º
883/2004 e n.º 987/2009 e art. 56.º TFUE).
Diretiva 2011/24/EU
Condições de exercício do direito ao reembolso

Regra Geral: o Estado de afiliação pode impor condições,


critérios de elegibilidade e formalidades legais e administrativas
iguais àquelas a que sujeita o acesso a cuidados de saúde
idênticos ou semelhantes.

Admissibilidade de um sistema baseado na


obtenção de uma autorização prévia (e
respetivas garantias processuais).
Diretiva 2011/24/EU
Podem ser sujeitos a autorização prévia (arts. 8.º e 9.º)

- cuidados hospitalares (pelo menos uma noite internamento);

- cuidados que exijam o recurso a infraestruturas ou equipamentos médicos


altamente especializados e onerosos (planeamento/controlo de custos);

- tratamentos com especial risco para o


doente ou para a população;

- situações que suscitem preocupações de


segurança para o doente.
Diretiva 2011/24/EU
Podem ser sujeitos a autorização prévia (arts. 8.º e 9.º)

De acordo com critérios objectivos, proporcionais, publicados


previamente e facilmente acessíveis;

Prazo razoável para decisão final de acordo com condição clínica do


doente e urgência;

Publicação dos tipos de cuidados sujeitos a


autorização prévia (lista comunicada à Comissão
Europeia)
Regulamento n.º 883/2004 Diretiva 2011/24/EU

Cartão europeu de saúde/ Sujeito Pode ser sujeito a autorização prévia


a autorização prévia Condições do Estado de Inscrição
(consulta de especialidade, etc.)

Pagamento à instituição de Reembolso ao doente


tratamento

Condições e legislação do Estado Pagamento de acordo com o Estado de


de Tratamento Inscrição
Diretiva 2011/24/EU
Direito à Informação - Obrigações do Estado de Tratamento

Prestar informações relativas a opções de


tratamento, qualidade e segurança dos
prestadores, tabelas de preços, situação em
termos de autorização, registo e seguros
profissionais dos prestadores, e regimes de
reclamação e reparação de danos provocados
pela prestação de cuidados de saúde.
Diretiva 2011/24/EU

Direito à Informação - Obrigações do Estado de Afiliação

Prestar informações relativas a termos e


condições aplicáveis ao acesso,
procedimentos aplicáveis, mecanismo de
cálculo do valor reembolsável – tabela de
preços clara e acessível.
Diretiva 2011/24/EU
Direito à Informação - Direitos dos Doentes e PCNs

Acompanhamento clínico posterior, acesso ao processo


clínico à distância, acesso a tratamento não
discriminatório com base na nacionalidade, acessibilidade
via internet a toda a informação relativa às obrigações
dos EM de tratamento e de afiliação (...).

Os EM devem designar “pontos de


contacto nacionais para os cuidados de
saúde transfronteiriços”.
Decreto-Lei n.º 177/92, de 13.08

Âmbito de aplicação
“Assistência médica de grande especialização no estrangeiro que,
por falta de meios técnicos ou humanos, não possa ser prestada
no país (...)”
- Beneficiários do SNS
- Entidade proponente pública (instituições hospitalares do
SNS)

Requisitos
- Relatório do médico assistente, confirmado pelo Director
de Serviço e Director Clínico da unidade hospitalar pública
- Parecer favorável por parte da assessoria técnica da DGS
- Decisão favorável do Director Geral de Saúde
Processo C -255/09 - PORTUGAL

A ação intentada pela CE contra Portugal (09-07-2009).


Decisão em 27-10-2011.

- Em Portugal a possibilidade de obter o reembolso por


acesso a cuidados de saúde transfronteiriços é
limitada;

- Tribunal declara que Portugal violou o princípio da


livre circulação de serviços (violação direta do
TFUE).
Processo C -255/09 - PORTUGAL

Tribunal declara que Portugal violou o princípio da livre circulação de


serviços (violação direta do TFUE):

a) por não admitir o acesso a cuidados de saúde não


hospitalares, que não envolvam grande especialização,
sem a exigência de obtenção de uma autorização
prévia;

b) por não prever legislação que contemple o reembolso


de despesas médicas não hospitalares.

V. Sobre cuidados não hospitalares Processo C-512/2008 (Comissão v França) – admite exigência de
autorização prévia para cuidados de saúde não hospitalares de elevada especialização.
Ante-projeto de transposição (Proposta de Lei n.º 206/XII)

Objeto das seguintes críticas (possíveis desconformidades):

Parecer da Entidade Reguladora da Saúde

Ausência de menção aos princípios gerais que norteiam esta matéria,


como o princípio da universalidade, equidade, solidariedade e
acesso a cuidados de qualidade (resume-se a remeter para a
legislação europeia);

http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=38216
Ante-projeto de transposição (Proposta de Lei n.º 206/XII)

Objeto das seguintes críticas (possíveis desconformidades):

Parecer da Entidade Reguladora da Saúde

Ausência de menção aos princípios gerais que norteiam esta matéria,


como o princípio da universalidade, equidade, solidariedade e
acesso a cuidados de qualidade (resume-se a remeter para a
legislação europeia);

Redação genérica – “pouco acrescenta ao texto


da Diretiva”

http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=38216
Ante-projeto de transposição (Proposta de Lei n.º 206/XII)

Objeto das seguintes críticas (possíveis desconformidades):

Remete para momento posterior a concretização dos aspetos facultativos mas


essenciais:

“Razões imperiosas de interesse geral” para instituir regime de autoriação


prévia: restrição de acesso a determinado tratamento (futura Circular Normativa da
ACSS)(art. 7.º, n.º2);

“Razões imperiosas de interesse geral”:


restrições ao direito de reembolso (proposta da
ACSS e da DGS ao membro de governo responsável)
(art. 8.º, n.º 8).

http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=38216
Ante-projeto de transposição (Proposta de Lei n.º 206/XII)

Objeto das seguintes críticas (possíveis desconformidades):

Sujeição a avaliação por um médico de medicina geral ou familiar do SNS (questões


de equidade/possivelmente apenas para cuidados hospitalares?)

Discriminação inversa – Não se consagra liberdade de escolha de prestador,


só inclui SNS e convencionados.

Sujeição à autorização prévia


eventualmente demasiado restritiva.

http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=38216
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 1.º
Objeto
A presente lei estabelece normas de acesso a cuidados de
saúde transfronteiriços e promove a cooperação em matéria
de cuidados de saúde transfronteiriços, transpondo para a
ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2011/24/UE (...) relativa
ao exercício dos direitos dos doentes em matéria de
cuidados de saúde transfronteiriços e a Diretiva de Execução
n.º 2012 /52/UE (...) que estabelece medidas para facilitar o
reconhecimento de receitas médicas emitidas noutro Estado
membro.
Lei n.º 52/2014, de 25.08

Artigo 2.º
Âmbito
1 - A presente lei não se aplica:
a) Aos cuidados continuados integrados (...);
b) À dádiva ou colheita de órgãos, após a morte,
respetiva alocação e acesso aos mesmos para fins
terapêuticos ou de transplante;
c) Ao Plano Nacional e Regional de Vacinação (...).
2 - O disposto na presente lei não prejudica a
aplicação:
a) Do Regulamento (CE) n.º 883/2004 (...) e do
Regulamento (CE) n.º 987/2009.
Lei n.º 52/2014, de 25.08

Artigo 2.º
Âmbito
(...)
3 - Nenhuma disposição da presente lei obriga a
reembolsar os beneficiários das despesas decorrentes
da prestação de cuidados de saúde efetuada por
prestadores de cuidados de saúde estabelecidos no
território nacional, que não se encontrem
integrados ou contratados com o Serviço
Nacional de Saúde ou com os Serviços Regionais de
Saúde.
Lei n.º 52/2014, de 25.08

Artigo 4.º
Princípios gerais da prestação de cuidados
de saúde transfronteiriços
1 - Os cuidados de saúde transfronteiriços são
prestados de acordo com os princípios da
universalidade, do acesso a cuidados de
saúde de qualidade, da equidade e da
solidariedade (...)
2 - Os cuidados de saúde transfronteiriços são
prestados no respeito pelo direito à privacidade
dos doentes (...)
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 7.º
Medidas de organização da prestação
de cuidados de saúde
1 – (...) podem ser adotadas, em situações excecionais e em
observância pelo princípio da proporcionalidade,
medidas de restrição ao acesso a determinado tratamento
no âmbito da presente lei nos termos dos artigos 52.º e
62.º do TFUE, por razões imperiosas de interesse
geral, quando justificadas pela necessidade de manter um
acesso suficiente, permanente, equilibrado e planeado a
todos os beneficiários a uma gama equilibrada de
tratamentos de elevada qualidade a nível nacional ou a um
serviço médico e hospitalar.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 8.º
Direito ao reembolso
1 – (...) os beneficiários têm direito ao reembolso das
despesas (...) desde que os cuidados em questão sejam tidos
como cuidados de saúde que caberia ao Estado
Português garantir através do SNS ou dos SRS e
o Estado Português seja considerado Estado
membro de afiliação.
2 - As prestações de saúde elegíveis para reembolso (...) são
as previstas na tabela de preços do SNS ou dos
SRS, bem como nos regimes jurídicos das
comparticipações (...) no preço dos medicamentos.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 8.º
Direito ao reembolso
3 - Os cuidados de saúde transfronteiriços devem ser
adequados ao estado de saúde do beneficiário e de
eficácia comprovada cientificamente, reconhecida
pela melhor evidência internacional.
4 - O direito ao reembolso das despesas que não se
encontrem sujeitas a autorização prévia (...) pressupõe a
existência de uma avaliação prévia por um médico
de medicina geral e familiar do SNS ou dos SRS, que
determine a necessidade dos cuidados de saúde.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 8.º
Direito ao reembolso
5 - Os custos dos cuidados de saúde transfronteiriços
são reembolsados apenas até ao limite que teria
sido assumido pelo Estado Português enquanto
responsabilidade financeira do SNS ou dos SRS, caso esses
cuidados tivessem sido prestados no território nacional (...)
sem exceder, contudo, os custos reais dos cuidados de
saúde recebidos.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 8.º
Direito ao reembolso
6 - Não conferem direito ao reembolso os
cuidados de saúde transfronteiriços realizados por
prestadores de saúde que não se encontrem
legalmente reconhecidos no Estado membro de
tratamento ou que não cumpram as respetivas
normas e orientações em matéria de qualidade dos
cuidados de saúde e segurança do doente estabelecidas
pelo mesmo Estado.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 8.º
Direito ao reembolso
8 – (...) podem ser adotadas, em situações excecionais
e em observância pelo princípio da proporcionalidade,
medidas de restrição ao reembolso (...) no âmbito da
presente lei, nos termos do TFUE, por razões
imperiosas de interesse geral, (...) necessidade de
garantir um acesso suficiente permanente, equilibrado e
planeado a todos os beneficiários a uma gama equilibrada
de tratamentos de elevada qualidade a nível nacional ou a
um serviço médico e hospitalar ou pela necessidade de
controlar os custos e evitar, tanto quanto possível, o
desperdício de recursos financeiros, técnicos e humanos no
SNS ou nos SRS.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 9.º
Pedido de reembolso
1 - O pedido de reembolso depende de requerimento a
apresentar, através do portal do utente, à ACSS, I. P., ou ao
serviço competente de cada região autónoma, pelo
beneficiário ou a pedido deste junto das unidades funcionais
dos ACES da área da residência do beneficiário ou nas
unidades competentes de cada região autónoma, no prazo
de 30 dias a contar do pagamento da despesa.
(...)
4 - O reembolso (...) é efetuado (...) no prazo de 90 dias a
contar da apresentação do respetivo pedido (...).
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 10.º
Reembolso
1 - O reembolso (...) é feito de acordo com as tabelas de
preços aplicadas ao SNS ou aos SRS e com o
regime geral das comparticipações (...) no preço dos
medicamentos.
2 - Aos montantes a reembolsar (...) é deduzido o valor
correspondente das taxas moderadoras que
seriam devidas, caso as prestações de saúde fossem
realizadas no âmbito do SNS ou dos SRS.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 11.º
Sistema de autorização prévia
1 - Está sujeito a autorização prévia o reembolso dos
cuidados (...) cirúrgicos que exijam o internamento durante
pelo menos uma noite, assim como o reembolso dos
cuidados de saúde transfronteiriços que exijam recursos a
infraestruturas ou equipamentos médicos altamente
onerosos e de elevada especialização.
2 - Está ainda sujeito a autorização prévia o reembolso dos
cuidados (...) que envolvam tratamentos que apresentem
um risco especial para o doente ou para a população ou (...)
que sejam prestados por um prestador de cuidados de
saúde que (...) possa suscitar preocupações sérias e
específicas quanto à qualidade ou à segurança dos cuidados.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 11.º
Sistema de autorização prévia
3 - Os cuidados de saúde a que se refere o n.º 1 são
definidos por portaria* do membro do Governo
responsável pela área da saúde, a qual é comunicada à
Comissão Europeia (...).
4 - A falta de apresentação do pedido de autorização prévia
(...) ou o indeferimento do pedido de autorização (...)
determina que o reembolso não é devido pelo Estado
Português.

Portaria n.º191/2014, de 25.09


Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 13.º
Avaliação da condição clínica do beneficiário
1 - A informação clínica constante do requerimento do
pedido de autorização prévia fica sujeita a uma avaliação
clínica hospitalar da necessidade de diagnóstico ou de
tratamento e de adequação cirúrgica, a realizar no prazo
de 20 dias úteis (...) tendo em consideração situações
comprovadas de maior urgência clínica.
2 - Da avaliação clínica referida (...) deve constar a
proposta de deferimento ou indeferimento do
pedido de autorização prévia.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 14.º
Processo de autorização prévia
1 - O requerimento (...) e o respetivo relatório da avaliação
clínica são remetidos (...) à ACSS, I. P., ou aos serviços
competentes das regiões autónomas (...).
2 - A ACSS, I. P., ou os serviços competentes das
regiões autónomas emitem resposta (...) no prazo de 15
dias úteis (...) salvo se a condição clínica do doente exigir
resposta num prazo mais curto.
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 14.º
Processo de autorização prévia
3 - O pedido de autorização prévia deve ser
indeferido, nos seguintes casos:
a) Se a avaliação clínica indicar, com grau de certeza
razoável, que o doente é exposto a um risco de
segurança que não possa ser considerado aceitável (...);
b) Se existir um grau de certeza razoável para se
concluir que a população é exposta a um risco de segurança
considerável (...);
Lei n.º 52/2014, de 25.08
Artigo 14.º
Processo de autorização prévia
3 - O pedido de autorização prévia deve ser
indeferido, nos seguintes casos:
(...)
c) Se os cuidados de saúde (...) forem ministrados por um
prestador de cuidados de saúde que suscite
preocupações sérias e específicas quanto ao
respeito pela (...) qualidade dos cuidados de saúde e de
segurança dos doentes;
d) Se os cuidados de saúde (...) puderem ser prestados em
Portugal num prazo útil fundamentado do ponto
de vista clínico, tendo em conta o estado de saúde e a
evolução provável da doença do doente.
http://ec.europa.eu/health/cross_border_care/docs/
2015_operation_report_dir201124eu_en.pdf

Relatório da Comissão Europeia


(25.09.2015) sobre a aplicação da Directiva

560 pedidos de autorização prévia (instituída em 21


EM, sem dados para Alemanha, França, Letónia e Malta)
Em Portugal, apenas 1

39826 reembolsos
Em Portugal 0

109223 pedidos de informação aos PCNs


Em Portugal, apenas 6
Eurobarómetro sobre cuidados de saúde transfronteiriços – Outubro de
2014

http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_425_sum_en.pdf
Sumário
1. Hierarquia das leis e Direito da União Europeia
2. Um Direito Europeu da Saúde?
3. Cuidados de saúde transfronteiriços – definições
4. Cuidados de saúde transfronteiriços – enquadramento normativo
5. Conclusões
Questões pendentes

Regime aplicável ao transporte de doentes para os cuidados


transfronteiriços;

Criação de uma tabela de preços única;

Regras no domínio do medicamento e


necessidade de maior uniformização:

- Como resolver as diferenças ainda existentes ao nível de


medicamentos aprovados?

- Como contrariar decisões de (não) dispensa hospitalar


de medicamentos?
Questões pendentes

Como combater as desigualdades regionais de acesso? Utentes de


países com menor coberturas são prejudicados, bem como os utentes mais
pobres que não têm capacidade de antecipar pagamento.

Gestão de prioridades: como garantir a


continuidade de tratamentos obtidos no
estrangeiro, sobretudo pós-cirúrgicos sem
subverter listas de espera?

Ausência de dados referentes a volume de


cuidados prestados.

Cuidados de saúde oral.


Desafios decorrentes da generalização do acesso
aos cuidados de saúde transfronteiriços -
perspectiva do SNS

Questão político-ideológica da intromissão dos


princípios e regras de mercado no
contexto das políticas sociais;

Teste aos princípios da solidariedade e da


equidade;

Desequilíbrio financeiro do sistema de


saúde;
Desafios decorrentes da generalização do acesso
aos cuidados de saúde transfronteiriços -
perspectiva do SNS

Risco para o planeamento e organização


institucional dos serviços de saúde e
ameaça à qualidade dos serviços prestados;

Surgimento de “turismo de saúde”


financiado pelos sistemas de saúde nacionais;
Desafios decorrentes da generalização do acesso
aos cuidados de saúde transfronteiriços -
perspectiva do SNS

Subversão do sistema de prioridades


concretizado nas listas de espera;

Transformação dos doentes em


consumidores europeus de cuidados
de saúde.
Conclusão

O Direito da União
Europeia é um factor
cada vez mais relevante para
o desenvolvimento e
implementação das
políticas de saúde nacionais.

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