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de Direito da União Europeia Comissão de Curso do 2º Ano de Direito 2019/2020 72 O princípio da preempção foi formalmente consagrado com o Tratado de Lisboa. Este Tratado, ao classificar as competências da União (no TFUE) em competências exclusivas (artigo 3º), competências partilhadas (artigo 4º), competências de coordenação (artigo 5º) e competências de acompanhamento/desenvolvimento/suplemento (artigo 6º), veio estabelecer que, nos domínios de competência partilhada entre a União e os Estados membros, funciona uma lógica de preempção. De acordo com o artigo 2º/3 do TFUE, quando os Tratados atribuam à União competência partilhada com os Estados membros em determinado domínio, a União e os Estados membros podes legislar e adotar atos juridicamente vinculativos nesse domínio. Os Estados membros exercem a sua competência na medida em que a União não tenha exercido a sua. Os Estados membros voltam a exercer a sua competência na medida em que a União tenha decidido deixar de exercer a sua. A ideia de preempção é uma ideia de precedência ou preclusão, que é válida para os domínios de competência partilhada entre a União e os Estados membros e organiza a possibilidade e os modos de exercício da competência por qualquer uma das instâncias, estabelecendo o princípio de que o exercício da competência pela União impede os Estados membros de exercerem a sua competência. Se quisermos, é um princípio de exclusão entre Estados membros da União Europeia e a União no exercício de competências. O artigo 2º do TFUE determina, primeiramente, o princípio de acordo com o qual, quando os Tratados atribuem competências exclusiva à União, quem pode determinar as nomas sobre as mesmas é a própria União Europeia. Os Estados membros só o podem fazer se forem autorizados pela União ou se a sua atuação for necessária para dar execução a esses atos juridicamente vinculativos («Quando os Tratados atribuam à União competência exclusiva em determinado domínio, só a União pode legislar e adotar atos juridicamente vinculativos; os próprios Estados-Membros só podem fazêlo se habilitados pela União ou a fim de dar execução aos atos da União). Quando estamos perante competência partilhada, quer a União Europeia, quer os Estados membros podem aqui atuar – podem legislar ou adotar atos juridicamente vinculativos. E os Estados apenas atuam na estrita medida em que a União não tenha decidido usar a sua competência. Há um elemento aqui a apontar, patente no artigo 2º/4 do TFUE, que nos diz que a União tem uma competência especial que lhe é conferida pelo Tratado: é a União Europeia que executa a PESC, podendo, gradualmente, determinar uma política comum de defesa («A União dispõe de competência, nos termos do Tratado da União Europeia, para definir e executar uma política externa e de segurança comum, inclusive para definir gradualmente uma política comum de defesa»). Fala- nos o artigo 3º das matérias que dizem respeito à competência exclusiva da União: As matérias que se referem à União aduaneira (é importante mencionar que esta União aduaneira está aqui relacionada com as taxas alfandegárias e não com impostos). As matérias que se referem ao estabelecimento das regras de concorrência necessárias ao funcionamento do mercado interno: estas regras são regras de concorrência ao nível da própria União Europeia, da concorrência que se faz em relação a negócios transfronteiriços. Aqui temos dois patamares: regras internas (que se aplicam às situações internas do mercado dos Estados) e as regras da própria União Europeia (que se referem estritamente ao mercado interno da União). Isto é importante no sentido em que um dos elementos fundamentais da concorrência é determinar o mercado da União. E o mercado determina- se pelo produto e pela parte geográfica. Um rio pode ser um mercado. As regras da concorrência exigem-se que se determine qual o produto que está em causa (sapatos, energia, solas). Podemos ter variadíssimos mercados. O que imaginamos que é apenas um Downloaded by Beatriz Soares (beatrizcs24102004@gmail.com) lOMoARcPSD|20662482 Sebenta de Direito da União Europeia Comissão de Curso do 2º Ano de Direito 2019/2020 73 mercado são vários e as autoridades da concorrência tanto existem a nível interno como a nível da União. As matérias que se referem à política monetária para os Estados membros cuja moeda seja o euro: isto está aqui relacionado com a valorização ou desvalorização da moeda. Em Portugal, o valor do euro não é determinado pelo Banco de Portugal, mas sim pelo Banco Central Europeu. O mesmo sucede com os juros. Quando países como Portugal não estavam nesta União Económica e Monetária, quando passavam por dificuldade e quando era, por isso, necessário fortalecer a sua balança comercial, desvalorizava-se a moeda. Hoje em dia, isto não é possível para os Estados membros porque a política monetária é competência exclusiva da União. As matérias como a de conservação dos recursos biológicos do mar, no âmbito da política comum das pescas. As matérias que se referem à política comercial comum: é cada vez mais relevante, tendo em atenção a formação de blocos comerciais que entram em conflito. É uma competência que será mais relevante quando o Reino Unido sair da União Europeia, uma vez que a União terá de adotar uma política comercial comum com o este Estado). Por fim, e como refere o número 2 deste artigo, as matérias que se referem à vinculação internacional, ou seja, à celebração de acordos internacionais. Para alem das competências partilhadas e das exclusivas, vamos falar das competências de desenvolvimento, que estão previstas no artigo 6º do TFUE. Estas são competências que, no fundo, complementam as intervenções dos Estados membros e que se enquadram na proteção da saúde humana, na indústria, na cultura, no turismo, na educação, proteção civil e corporação administrativa. As competências partilhadas são as que se referem: Ao mercado interno (com exclusão das regras de concorrência do mercado interno), à política social, à coesão económica social e territorial, à agricultura e à pesca (excluindo a conservação de recursos do mar que, como vimos, é matéria de competência exclusiva da União), ao ambiente, à defesa dos consumidores, aos transportes, energia e redes transeuropeias e ao espaço de liberdade, segurança e justiça. Tudo isto vem depois desenvolvido nos Tratados. Há um caso especial que é importante termos em conta: está previsto no artigo 4º/4 do TFUE e diz respeito à cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária em que a União tem uma competência de desenvolver essas ações, sem que, com isso possa impedir os Estados membros de exercerem as suas competências («Nos domínios da cooperação para o desenvolvimento e da ajuda humanitária, a União dispõe de competência para desenvolver ações e uma política comum, sem que o exercício dessa competência possa impedir os Estados-Membros de exercerem a sua»). No plano das políticas, e em especial das políticas económicas, existe aqui uma lógica subjacente de coordenação de políticas entre os Estados (ver, neste sentido o artigo 5º do TFUE). Essa coordenação também se aplica às políticas de trabalho e à necessária coordenação das políticas sociais, devendo, nestes dois últimos casos, a União tomar iniciativas em relação a esta matéria. No plano das políticas, e em especial das políticas económicas, existe aqui uma lógica subjacente de coordenação de políticas entre os Estados (ver, neste sentido o artigo 5º do TFUE). Essa coordenação também se aplica às políticas de trabalho e à necessária coordenação das políticas sociais, devendo, nestes dois últimos casos, a União tomar iniciativas em relação a esta matéria.