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DUE- casos práticos - ........

Finanças Públicas I (Universidade de Coimbra)

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Direito da União Europeia


Perguntas Frequentes e Casos Práticos
Ano letivo 2019/2010 – 1º semestre

Inês Alves

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FDUC 2019/2020 Inês Alves

Capítulo 1 – Introdução e História

Objetivos do capítulo:

1. Saber descrever as fases principais na história e desenvolvimento do direito da União


Europeia.
2. Identificar as inovações mais relevantes introduzidas por cada Tratado.
3. Argumentar as principais conquistas e desafios colocados à União Europeia.

Questão:

O Tratado de Lisboa assenta no vetor do alargamento, do aprofundamento ou do acabamento


do direito da União Europeia?

R: O acabamento tem sido a característica mais acentuada e constante da construção


comunitária seja pela concretização da versão inicial do Tratado de Roma (sobretudo pela
consecução, em 1968, da União Aduaneira, através da eliminação de barreiras à circulação), seja
através de alterações graduais, mas necessárias, aos tratados. O aprofundamento trata-se do
desenvolvimento de políticas comuns e da própria natureza do direito da união: de uma
interação económica à introdução de objetivos sociais e políticos. O papel essencial do tribunal
de justiça nas primeiras décadas da construção do direito da união, como seu mais ativo
intérprete e instituição concretizadora e claro, a importância do Tratado de Maastricht. O
alargamento constituiu no alargamento da União de 6 para 23 Membros. Assim, o Tratado de
Lisboa assente neste último vetor, sendo que, segundo Jónatas Machado, este tratado ‘‘assume-
se como uma solução de compromisso’’. Este remete incontornavelmente para o Projeto de
Tratado Constituinte Europeu, tanto na sua génese, como no seu conteúdo. Quanto ao seu
conteúdo, o Tratado de Lisboa funciona compromissos; por um lado, se ele mantém algumas
características do PTCE; por outro, ele introduz algumas alterações no equilíbrio institucional
que aquele projeto propunha. Formalmente, contém dois artigos que introduzem alterações no
TUE e no TCE, passando este último a designar-se TFUE. Esta solução compreende-se na medida
em que a EU sucede às antigas comunidades. No seu conjunto, o TUE e o TFUE abrangem os
tratados que sustem a estrutura institucional e normativa da EU. Algumas das alterações
relativas às instituições da UE foram as seguintes: dupla legitimidade democrática do edifício
constitucional europeu, ou seja, tanto os cidadãos como os estados-membros estão
representados; simplificação do sistema jurídico; o parlamento é reconhecido como legislador
de pleno direito, em estrita igualdade com o Conselho no processo legislativo ordinário; o
Parlamento vê ainda crescerem os seus poderes de controlo político; reestruturação profunda
do Conselho Europeu; o conselho permanece como órgão central no exercício dos poderes
legislativos com o parlamento e a funcionar mediante maioria qualificada; consagração, com
transparência, das funções da Comissão; alteração do sistema jurisdicional; o BCE e o Tribunal
de Contas são elevados à categoria de instituição; é atribuído aos parlamentos nacionais um
papel de fiscalização da ação da união.

Questão:

Porque é que a designação União Europeia prevaleceu sobre a designação mais antiga de
Comunidade (Económica) Europeia?

R: O Tratado de Maastricht tinha dois objetivos: criar a EU e alterar os tratados comunitários. A


criação da EU não substituía ou absorvia as Comunidades Europeias, antes coexistindo com elas
como estrutura externa e paralela, sendo-lhe atribuídos domínios particulares. Com o Tratado

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de Lisboa, dá-se a eliminação da dualidade Comunidade e União Europeia e a criação da


compreensiva ‘’União Europeia’’. Esta designação tem subjacente a identificação de valores
universais que são os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a
liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito. Esta designação permite a criação de
uma união cada vez mais estreita entre os povos da Europa, em que as decisões sejam tomadas
ao nível mais próximo possível dos cidadãos, de acordo com o princípio da subsidiariedade.

Questão:

Em que medida é que o processo de ratificação do Tratado de Lisboa é consistente com a


Declaração de Laeken, segundo a qual a EU deve tornar-se mais próxima dos cidadãos,
ampliando-se o seu escrutínio democrático?

R: A Declaração de Laeken é um dos nomes pela qual é chamada a Declaração Respeitante ao


Futuro da União Europeia. Foi adotada em Laeken, Bélgica, a 15 de dezembro de 2001, um ano
após o Tratado de Nice, e é uma declaração pela qual a União se compromete a ser mais
democrática, mais transparente e mais eficaz. A Declaração levanta 60 perguntas particulares
em volta de quatro temáticas: a demarcação e a determinação das competências, a facilitação
dos tratados, a arquitetura dos tratados e o caminho para a construção de uma Constituição
para a União. No sentido de dar resposta a essas questões, convocou-se uma convenção para
associar as diversas partes participantes no debate do futuro da União. Foi a 10 de Julho de 2003
que foi acordada uma proposta de Constituição Europeia. E a 18 de Junho de 2004 os Chefes de
Estado chegaram a acordo sobre o projeto de Constituição Europeia preparado pela convenção.
Neste sentido, vemos bastantes semelhanças com o conteúdo do Tratado de Lisboa, que prevê
mudanças institucionais, sobretudo em matéria de política externa e na consagração explícita
de novas políticas.

Capítulo 2 – Integração e Cidadania

Objetivos do capítulo:

1. Conhecer a conexão entre nacionalidade dos Estados-membros e a cidadania da União.


2. Definir e explicitar o conteúdo essencial da cidadania da União.
3. Explicitar o procedimento essencial da iniciativa de cidadania.
4. Fazer uma avaliação crítica sobre as virtualidades e desafios resultantes da cidadania da
União.

Caso Prático:

Karkov é cidadão polaco residente em Portugal e quer saber se pode votar, em Portugal, para
as eleições para o Parlamento Europeu. Em caso afirmativo, quer saber se o seu voto será nas
listas que concorrem na Polónia ou se, pelo contrário, votará nas listas concorrentes em
Portugal.

R: A cidadania da União Europeia resulta do artigo 20.º do TFUE: ‘’é instituída a cidadania da
União. É cidadão da união qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um estado-membro.
A cidadania da união acresce à cidadania nacional e não a substitui.’’ Assim, quem é nacional de
um Estado-membro da UE, também é cidadão da União, sem necessidade de qualquer
declaração ou preenchimento para o efeito. Este vínculo político que é a cidadania europeia une
os povos da Europa e decorre do compromisso de construir uma nova forma de solidariedade
cívica e política. O direito de voto encontra-se dentro do leque dos direitos políticos e, no Estado
de residência, é um dos direitos conferidos pela cidadania europeia. O artigo 22.º/2 do TFUE,

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permite que os cidadãos possam votar para o PE no Estado da sua residência, ‘‘qualquer cidadão
da União goza do direito de eleger e de ser eleito nas eleições para o Parlamento Europeu no
Estado-Membro de residência, nas mesmas condições que os nacionais desse Estado’’.
Relativamente à segunda questão, deve votar nas listas do Estado de residência, uma vez que o
PE representa os povos e não os governos. Os deputados europeus, no Parlamento Europeu,
não se agrupam por países, não existe uma disciplina de voto por Estado. Assim, onde quer que
resida, Karkov, pode escolher um representante da sua ideologia, sem necessidade de proceder
a procedimentos internacionais de troca de votos.

Caso Prático:

Jochan, luxemburguês, residente em Espanha, pretende candidatar-se às eleições locais


espanholas de 2017. Contudo, foi impedido de o fazer por não se encontrar filiado em qualquer
partido político, exigência esta que não é aplicável aos nacionais espanhóis. Será que esta recusa
é legítima?

R: A recusa é ilegítima pois, embora as eleições locais sejam regidas pelas leis nacionais, neste
caso pelo direito eleitoral espanhol, não pode a aplicação destas envolver qualquer
discriminação de cidadãos nacionais de outros Estados-membros. Como refere o artigo 22.º, n.º
2 do TCE, as condições aplicáveis aos nacionais de outros Estados-membros residentes num
Estado devem ser as mesmas aplicáveis aos nacionais daquele Estado. Por isso, se Espanha
persistisse na recusa de reconhecimento de capacidade eleitoral a Jochan, estaria em
incumprimento de direito comunitário (originário; do próprio Tratado), podendo ser objeto de
uma ação por incumprimento. Quanto à forma de reação judicial, esta teria de ser dirigida para
os tribunais espanhóis (possibilidade de reenvio prejudicial para o Tribunal de Justiça).

Jochan decide apresentar uma petição ao Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude


Juncker, por considerar que este representa os interesses dos nacionais luxemburgueses na
União Europeia. Considera esta argumentação adequada?

R: É possível a apresentação de uma petição ao Presidente da Comissão Europeia. Nos anos mais
recentes, como decorrência dos princípios da boa administração, o acesso às instituições e
órgãos tem sido reconhecido de forma muito ampla (artigo 24.º parágrafo 3 TUE). Contudo, a
razão apresentada pelo Sr. Jochan não é legítima, uma vez que o Presidente da Comissão e todos
os Comissários devem desempenhar a sua função com imparcialidade relativamente aos
governos nacionais e indivíduos. Mas, como guardiã dos Tratados, a Comissão pode, por ter tido
conhecimento desta situação, iniciar um procedimento por incumprimento do Estado espanhol.

Caso prático:

Anita, uma nacional de Malta, dirige-se ao Provedor de Justiça dando conta que lhe foi proibida
a entrada em França por ela não ter demonstrado que o objetivo da sua visita era o de encontrar
um posto de trabalho. Poderão as autoridades francesas recusar a entrada de Anita no seu
território?

R: Sendo um cidadão da União, Anita não pode ser proibida de entrar em França, mesmo que
não esteja à procura de um emprego. Este direito inclui a entrada e a saída. Neste sentido aponta
o acervo de Schengen e a Diretiva 2004/38/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de
abril de 2004: da liberdade de circulação de trabalhadores à liberdade de circulação de pessoas
(o papel dinâmico e inovador da cidadania da União). Logo Anita teria um direito de entrada e
residência até 3 meses, sem condições, a não ser a comprovação de que é cidadão da UE. O de

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residência por mais de três meses do cidadão da União podia ser exercido desde que Anita:
exerça uma atividade assalariada ou não assalariada (ao que se equiparam os desempregados
involuntários, em formação profissional e com incapacidade temporária de trabalho) ou esteja
inscrito num estabelecimento de ensino público ou privado. E que detenha recursos suficientes
e seguro de doença. O direito de residência permanente é conferido aos cidadãos e família que
tenham residido legalmente por um período de 5anos consecutivos no território do Estado-
membro. O direito de residência permanente apenas se perde por ausência superior a 2anos.

O Provedor de Justiça responde a Anita solicitando que a petição seja escrita noutra língua (para
além do maltês), uma vez que não tem tradutores disponíveis na mesma. Poderá o Provedor
solicitar tanto?

R: O artigo 20.º, 2, d) e 24.º do TFUE reconhecem explicitamente o direito de petição ao


Provedor de Justiça numa das línguas oficiais da União (e receber a resposta na mesma língua).

Será o Provedor de Justiça o órgão mais vocacionado para intervir neste caso?

R: O Provedor de Justiça deve atuar com independência e imparcialidade em casos de


salvaguarda de direitos fundamentais e do Estado de Direito sendo este competente para
receber queixas apresentadas por qualquer cidadão da União ou qualquer pessoa singular ou
coletiva com residência ou sede estatutária num Estado-Membro e respeitantes a casos de má
administração na atuação das instituições, órgãos ou organismos da União, com exceção do
Tribunal de Justiça da União Europeia no exercício das suas funções jurisdicionais (art. 228.º, n.º
1). O Provedor de Justiça instrui essas queixas e apresenta relatório sobre as mesmas.

Caso Prático:

Manuel imigrou no passado dia 20 de junho para a França, país no qual exerce um part time no
Mcdonald’s enquanto aprende francês. No passado dia 15 de Outubro, as autoridades francesas
enviaram a Manuel uma carta na qual se decidiam pelo seu afastamento (retorno) para Portugal,
pelos seguintes motivos: Manuel nunca chegou a comunicar a sua residência, apesar de ter um
prazo de três meses e meio para o efeito; os portugueses são conhecidos pelos muito furtos que
realizam; no início deste mês, Manuel teve de ir ao hospital em Paris e foi infetado com ébola;
Manuel não tem um rendimento a corresponder a dois salários mínimos franceses e Manuel não
se encontra integrado por não saber francês. Considera legítima a decisão das autoridades
francesas?

Manuel é um cidadão europeu, artigo 20.º TFUE, este vínculo político tem como pressuposto
unir os povos da Europa e decorre do compromisso de construir uma nova forma de
solidariedade cívica e política. Subjacente ao conteúdo da cidadania da União, encontra-se o
Direito de livre circulação e permanência, artigo 21º TFUE, sendo este corolário do princípio da
não discriminação em função da nacionalidade. Nos termos deste artigo, todos os cidadãos da
União têm direito a circular e residir livremente no território dos Estados-membros. Quanto ao
direito de residência (num Estado da EU, mas que não o Estado de nacionalidade), sempre que
este for exercido por um período superior a meses, que é o caso de Manuel, exige-se que o
cidadão exerça uma atividade assalariada ou não assalariada ou esteja inscrito num
estabelecimento de ensino público ou privado. E exige-se que o cidadão detenha seguro de
doença e recurso suficientes. Relativamente à situação de Manuel, a decisão das autoridades é
ilegítima fundamentando os argumentos da sua decisão em fatores fortemente
discriminatórios. No entanto, Manuel encontra-se em incumprimento legal relativamente à
comunicação da sua residência.

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Capítulo 3 – Parte Institucional

Objetivos deste Capítulo:

1. O aluno deve reconhecer as principais instituições e órgãos da União Europeia


2. Relativamente a cada instituição, deve o aluno expor articuladamente a sua
composição, forma de designação/eleição, funções e modos de funcionamento.
3. O aluno deve compreender as ligações que intercedem entre as várias instituições/
órgãos, numa lógica de separação e complementaridade de poderes.

(as questões deste capítulo calham em questões de verdadeiros e falsos que se encontram mais
abaixo)

Capítulo 4 – Fontes/Competências

Objetivos deste Capítulo:

1. Compreender a complexidade normativa no âmbito da União Europeia.


2. Definir a composição do direito originário.
3. Conhecer as características dos atos vinculativos da União.
4. Explanar as relações de hierarquia das fontes de direito comunitário.
5. Compreender as diferentes competências atribuídas à União.

Caso prático:

Um grupo de deputados do Parlamento Europeu é a favor de que as sessões plenárias deste


passem a ter lugar em Bruxelas e não em Estrasburgo. No seguimento desta iniciativa, o
Parlamento Europeu decidiu alterar o seu regimento interno, tendo marcado todas as sessões
plenárias para Bruxelas. Um deputado europeu francês decide questioná-lo se esta alteração do
regimento interno do Parlamento Europeu é legítima. Que lhe responderia?

O TUE e o TFUE nada referem sobre a localização do Parlamento Europeu, logo pareceria
legítimo que um mero regimento interno pudesse alterar o local das sessões plenárias, por se
tratar de uma questão de organização interna desta Instituição. Contudo, o artigo 341.º do TFUE
sujeita esta questão a acordo dos Estados e o Protocolo (N.º 6) sobre a localização das reuniões
das Instituições e de certos órgãos da União, refere que o Parlamento Europeu deve ter a sua
sede em Estrasburgo no qual devem ter lugar as 12 sessões plenárias mensais, incluindo a sessão
orçamental. Os Acordos previstos nos Tratados assim como os Protocolos têm uma força similar
aos Tratados, integrando, assim, o bloco de direito comunitário originário. Nunca uma norma
de direito derivado – o regimento interno – poderia contrariar uma norma de direito originário.
Na medida em que a alteração ao regimento interno foi já adotada pelo Parlamento Europeu,
pode ser alvo de um recurso de anulação, de modo a ser declarada nula. A via adequada para
admitir esta alteração de direito originário passa pela modificação dos Tratados, de acordo com
o procedimento de revisão previsto no artigo 48.º TUE. Isto porque esta alteração é vista como
introduzindo uma mudança perene no equilíbrio fundamental do direito comunitário. Como em
causa não está uma política da União incluída na Parte III do TFUE não pode ser utilizado o
processo de revisão simplificado.

Caso Prático:

A União Europeia prepara-se para legislar em matéria de policiamento, nomeadamente criando


uma organização policial europeia que acresça ou substitua os serviços de polícia nacional. Pode
a EU adotar os atos jurídicos nesta matéria?

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R: A EU só pode legislar em matéria de policiamento se for uma competência atribuída à UE.


Para saber, devemos consultar os tratados. Ou seja, só terá competência se estiver atribuída, e
só estará atribuída se estiver prevista nos Tratados, nomeadamente no TUE ou no TFUE. A
maioria das bases jurídicas estão previstas no TFUE, sendo que o TUE se dirige primordialmente
a indicar instituições, o processo de adesão e de retirada e os princípios fundamentais da EU.
Contudo, depois de consultados os tratados, constatamos que não há nenhuma base jurídica
nessa matéria. Logo é uma competência exclusiva dos Estados-Membros e a União Europeia não
pode atuar.

Caso Prático:

Invocando a base jurídica do Artigo 191.º TFUE (prevenção, proteção e melhoria da qualidade
do ambiente), a União Europeia adotou um regulamento que atribui o poder de licenciar
unidades industriais à Comissão Europeia. Certa câmara municipal entende que esta
competência não pode ser exercida pela União, mas sim pelas autoridades nacionais. Terá
razão?

R: Neste caso, coloca-se desde logo uma primeira questão: que é, se está a competência
atribuída à União, no entanto, esta questão é logo resolvida visto que há uma base jurídica,
expressamente no artigo 191.º TFUE. Trata-se de uma competência atribuída à EU, pelo que não
se coloca qualquer problema relativo ao princípio da especialidade. O princípio da especialidade
determina a delimitação de competências da União. A União só pode atuar quando os tratados
expressamente lhe atribuírem esse poder. Quando a União tem competência para agir, importa
saber de que modo deve exercê-la, para este fim auxiliam-nos os princípios da subsidiariedade,
da proporcionalidade e da preempção. O problema agora coloca-se quanto ao exercício dessas
competências, sendo que devemos atentar nos artigos 3, 4 e 6 do TFUE para determinar de que
tipo de competência se trata. A política do ambiente é uma competência concorrente, logo tanto
os Estados como a UE podem atuar. A UE tem competência atribuída em matéria de ambiente,
logo só pode atuar se estiverem demonstrados os pressupostos do princípio da subsidiariedade
(artigo 5.º/3 TUE), a ação nacional é insuficiente para os seus objetivos e os objetivos podem ser
alcançados por uma atuação ao nível comunitário. Isto tem de ser demonstrado pela EU
obrigatoriamente.

E se isto não estiver demonstrado? E se a UE atuar sem fazer essa prova? Em matéria
concorrente, se a UE não mostrar prova do princípio da subsidiariedade o que acontece é que o
ato é inválido, isto é, há uma violação do princípio da subsidiariedade. Este ato é tão grave para
a União como um ato que viole a constituição. Um ato europeu que não prove o princípio da
subsidiariedade viola uma norma e pode ser anulado judicialmente (ex post).

Questões de reflexão (que não me apeteceu resolver):

1. A diferença entre atos legislativos e não legislativos reside não no tipo de atos adotados,
mas nos procedimentos seguidos.
2. As diretivas comunitárias são os instrumentos que respeitam em maior medida os
princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade.
3. Os atos jurídicos unilaterais, como as recomendações, contribuem decisivamente para
a formação de direito da União Europeia, apesar de não serem vinculativos.

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Capítulo 5 – Princípios

Objetivos deste capítulo:

1. Identificar a variedade de princípios existentes no direito da União;


2. Compreender a forma como as competências definidas nos Tratados são exercitadas
pelas relevantes instituições da União;
3. Reconhecer e aplicar o princípio do efeito direto;
4. Reconhecer e aplicar o princípio do primado;
5. Perceber o papel do Tribunal de Justiça na definição dos princípios de direito da União
e as limitações desta abordagem casuística.

Identifique o(s) princípio(s) de repartição de competências em causa:

1. A Comissão pretende iniciar o procedimento legislativo para a harmonização das


condições de celebração de casamento homossexual e de adoção por casais
homossexuais

Sempre que certa competência não constar em qualquer lista, de acordo com o artigo 4º, nº1
do TFUE, é uma competência concorrente e vigora o princípio da subsidiariedade.

2. A Comissão pretende iniciar um procedimento legislativo de acordo com o qual os


transportes regionais e locais ficariam sujeitos a regulamentação da UE.

Os transportes são competência concorrente entre a União e os Estados-membros, artigo 4º,


nº2, al. g), pelo que estamos perante o princípio da subsidiariedade, ou seja, nos domínios em
que não sejam da sua competência exclusiva, a União intervém apenas se e na medida em que
os objetivos da ação considerada não possam ser suficientemente alcançados pelos Estados-
Membros, tanto ao nível central como ao nível regional e local, podendo contudo, devido às
dimensões ou aos efeitos da ação considerada, ser mais bem alcançadas ao nível da união, artigo
5º, nº3 TUE.

1. A Comissão pretende iniciar um procedimento legislativo revogando uma Diretiva


comunitária que proibia a abertura de estabelecimentos comerciais aos domingos.

A União dispõe de competência exclusiva no domínio da política comercial comum, pelo que só
a União pode legislar e adotar atos juridicamente vinculativos; os Estados-membros
comprometem-se a não exercer nesses domínios.

Caso prático:

Um novo regulamento do Parlamento e do Conselho vem estabelecer normas de classificação


de áreas protegidas, impondo a eliminação de todas as outras classificações realizadas com base
nestes fatores. Imagine que Portugal não revoga o Decreto Lei que disciplinava esta matéria, já
vigente antes da entrada em vigor do referido regulamento. Qual das normas se deverá aplicar?

Segundo o princípio da autonomia: o direito da União Europeia é um direito diferente quer do


direito internacional, quer do direito nacional. As duas ordens jurídicas são interdependentes,
mas distintas, mesmo quando os atos de Direito da União são incorporados nos ordenamentos
estaduais: não há uma revogação implícita das normas nacionais, por via da aprovação de um
regulamento comunitário.

A aplicabilidade direta dos regulamentos, consiste na desnecessidade de um ato nacional de


receção para que certo ato comunitário vigore na ordem jurídica interna. O artigo 8º/3 da CRP:

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dispõe que os atos de uma organização internacional de que Portugal seja parte são diretamente
aplicáveis se tal se encontrar estabelecido nos Tratados constitutivos.

O princípio do primado do direito europeu compreende-se, uma vez que não faria qualquer
sentido se os Estados pudessem unilateralmente anular os seus efeitos através de um ato
legislativo contrário (sub dimensão do princípio da efetividade), no caso, o Regulamento
prevalece sobre a norma nacional que lhe é contraditória, devendo aplicar-se aquele e
desaplicar-se a norma nacional, no entanto, a norma continua em vigor, simplesmente não é
aplicada no caso concreto, ou seja, simplesmente tem aplicação preferente, estão ambas as
normas em vigor, mas a comunitária tem aplicação preferente, desaplicando a norma nacional.

Questões de orientação:

1) Considera que o Tratado de Lisboa ampliou vastamente ou apenas concretizou


legislativamente as competências da União Europeia?

A atuação das instituições da União, assim como o direito da UE pode apresentar omissões ou
insuficiências de regulamentação dos Tratados. As instituições só podem atuar sempre que o
direito originário lhes confira competências e poderes para tal – princípio da atribuição de
competências. Porém, como resolver as situações em que determinada competência não está
expressamente consagrada nos Tratados? Esta era uma questão com particular acuidade antes
do Tratado de Lisboa uma vez que várias questões fundamentais das competências não de
encontravam explicitamente resolvidas nos Tratados. Nestes casos, antes de excluir a
possibilidade de ação da União, por ausência de uma base legal para agir, é necessário indagar
se é possível completar o direito originário por via de integração de lacunas ou de interpretação
das disposições comunitárias. O tratado de Lisboa ampliou as competências explicitas das
instituições e órgãos comunitários, enumerando ainda vários princípios a este propósito,
reduzindo, assim, a importância tradicional dos três mecanismos de integração de lacunas:
princípio da unidade de sentido dos tratados; o princípio das competências implícitas e o
mecanismo subsidiário do artigo 252.º TFUE.

2) Comente: “O princípio do efeito direto continua a ser um dos pilares da União, não
obstante a reconfiguração que tem conhecido por força da jurisprudência do Tribunal
de Justiça”.

O conceito de efeito direto é ambíguo e complexo no conjunto das normas comunitárias. Em


sentido amplo ou objetivo, consiste no direito de invocar provisões de direito comunitário
suficientemente precisas, claras e incondicionais perante os tribunais nacionais. Em sentido
restrito ou substantivo, traduz-se no direito atribuído por provisões de direito comunitário
precisas, claras e incondicionais. Saliente-se, neste ponto, que aplicabilidade direta e o efeito
direto são conceitos que não se confundem. Na aplicabilidade direta está em causa a natureza
material de certos atos, que os torna invocáveis nos tribunais nacionais. Assim, terão efeito
direto as disposições que; sejam suficientemente claras, não suscitem dúvidas quanto ao seu
conteúdo; sejam precisas, não necessitem de ato de concretização, sendo suficientemente
densas; sejam incondicionais, não admitam exceções ou desvios. Neste contexto, o TJ já aceitou
o efeito direto de normas dos tratados instituidores, de normas de regulamentos e de decisões,
de alguns acordos internacionais e até de alguns casos excecionais de diretivas. Neste ponto é
crucial determinar contra quem pode ser invocado o efeito direto. Ora, o efeito direto
caracteriza-se pela sue eficácia vertical – privados/entidades públicas – e horizontal –
privados/privados (por exemplo, disposições relativas a liberdades fundamentais).

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3) Se o princípio do primado é uma das condições existenciais da União, porque é que


ainda não encontra receção nos Tratados?

O princípio do primado é aplicado sempre que haja um conflito real entre a concretização de
uma norma comunitária e uma norma nacional, num caso concreto. É este princípio que resolve
a questão. Apontando a norma que prevalecer. Como se compreende, caso as normas nacionais
pudessem prevalecer, tal colocaria em causa a efetividade do direito da união e a sua autoridade
e autonomia. Ainda assim, equívocos devem ser esclarecidos: o primado do direito da união não
é uma questão de validade ou revogação das normas nacionais, o que este princípio significa é,
somente, que, no caso concreto, em caso do conflito, a norma nacional deve ser desaplicada a
favor da norma comunitária. Portanto, as normas nacionais não são inválidas, nem devem ser
revogadas, quando em contradição com o direito da UE. Com efeito, não há ao nível da UE, uma
hierarquia federalista de normas, mas sim um fator de ligação entre as ordens jurídicas internas
e o ordenamento comunitário; e esse fator é, exatamente, o princípio do primado.

Diretivas

Caso prático:

Uma Diretiva de 2015 sobre preços de energia determina que os Estados devem assegurar, para
promover o princípio do desenvolvimento sustentável, que todas as faturas de energia incluam
o pagamento de um percentual adicional de 1%, que reverteria a favor de um fundo comunitário
para as energias alternativas.

A Alemanha transpôs a Diretiva, mas não incluiu aquele percentual, não contribuindo para o
fundo para as energias alternativas.

A agência alemã reguladora da energia aprovou uma lista de preços apresentada pela
companhia A que não inclui aquele percentual adicional. Outro concorrente no mercado
(empresa B), que já incluiu aquele percentual nas suas faturas decide contestar a decisão de
aprovação dos preços apresentados pela companhia A. A agência reguladora alemã responde
invocando que:

• A empresa B não pode pretender o efeito direto da Diretiva contra a empresa A, por se
tratar de uma relação puramente privada.
• Caso viesse a revogar o seu ato tal equivaleria à imposição à empresa A de uma
obrigação diretamente extraída de uma Diretiva, o que lhe é vedado pelo Direito da
União.
• A Diretiva é inválida porque foi aprovada numa altura em que a União não tinha
competências em matéria de energia.

Quid iuris?

Neste caso, a Diretiva foi transposta, mas incorretamente. Logo, tudo se passa como se não
tivesse sido transposta, isto é, a viabilidade do efeito direto das diretivas. Se uma diretiva não
transposta pode gozar, em certas condições, de efeito direto, uma diretiva mal transposta goza
da mesma proteção. Vamos avaliar agora, então, essas condições. A norma é clara, uma vez que
não coloca dúvidas interpretativas; é precisa, uma vez que é uma norma autossuficiente e tem
caráter incondicional, uma vez que não estabelece qualquer condição ou reserva. A norma foi

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invocada contra o Estado, (noção de estado em sentido amplo - a Agência reguladora é uma
autoridade administrativa independente, que exercita poderes de autoridade. Logo, invoca-se a
diretiva para que esta tenha efeito direto vertical, uma vez que a ação ocorre contra o Estado e
não contra a outra companhia (particular). No entanto, os efeitos práticos desta medida são
feitos valer contra um particular (o concorrente, que tem de rever o seu preçário), mas trata-se
apenas de um efeito adverso (e não inverso da Diretiva). Ao invocar a diretiva contra o Estado,
numa relação triangular, atinge-se o mesmo resultado que se obteria se as diretivas produzissem
efeito direto horizontal, a isto chama-se o efeito incidental das diretivas – que foi afirmada
claramente no acórdão medicines control agency de 1996. Relativamente às competências da
União, as instituições só podem atuar sempre que o direito originário lhes confira competências
para tal – princípio da atribuição de competências. Porém temos de resolver as situações em
que determinada competência não está expressamente consagrada nos tratados. Nestes casos,
antes de excluir a possibilidade de ação da União, por ausência de uma base legal para agir, é
necessário indagar se é possível completar o direito originário por via de integração de lacunas
ou de interpretação das disposições comunitárias, isto era uma questão com particular acuidade
antes do Tratado de Lisboa, era o caso da política de energia. No entanto, o Tratado de Lisboa
ampliou as competências explícitas das instituições e órgãos comunitários, enumerando ainda
vários princípios a este propósito, reduzindo, assim, a importância tradicional dos três
mecanismos de integração de lacunas: o princípio da unidade de sentido dos Tratados, o
Princípio das Competências implícitas e o mecanismo subsidiário do artigo 352º TFUE.

Caso prático:

Um cidadão austríaco, X, residente em Viena, este, comprou um pacote turístico all inclusive a
uma empresa turística, para as férias de 2017 na Grécia. Durante essas férias X sofreu um
envenenamento com salmonela, devido à comida servida no Hotel, integrado no pacote de
viagens. Por isso X não pôde gozar as suas férias e ficou deprimido. De volta à Áustria, X iniciou
uma ação contra a agência de turismo reclamando compensações pelas contas do hospital e por
danos não patrimoniais.

A) Supondo que o direito austríaco relevante não inclui qualquer disposição expressa que
preveja (ou que recuse) a compensação de danos não patrimoniais (e que esta tem
vindo a ser recusada pela jurisprudência), mas que foi adotada em 2015 uma Diretiva
(cujo prazo de transposição terminou em 2016, sem que tivesse sido transposta) que
prevê essa compensação por danos não patrimoniais, como deverá o Juiz decidir?

Neste caso temos um particular a quer valer-se de uma diretiva face a outro particular, ou seja,
o que está em causa é o efeito direto horizontal, no entanto este não é possível uma vez que os
destinatários são os Estados-membros, estes é que estão em incumprimento e não os
particulares. Ora a diretiva só produz efeitos em relação aos Estados e não diretamente em
relação aos particulares. No entanto, o Tribunal Nacional, é Estado, para a matéria de efeito
direto. Ou seja, a diretiva não pode ser invocada perante o particular, mas pode ser invocada
perante o juiz, mas o juiz não pode aplicar a diretiva nas relações entre dois particulares, só pode
aplicar direito nacional. Porém, ao aplicar direito nacional, deve ter em conta o fim imposto pela
diretiva, que vincula o Estado-membro. No nosso caso, o tribunal vai aplicar o direito austríaco,
mas vai interpretá-lo de modo a atingir o resultado da diretiva, efeito indireto das diretivas. É o
princípio da interpretação conforme: o juiz nacional, quando aplica o direito nacional é possível
interpretá-lo ampliando o leque dos danos indemnizáveis, ainda que tal implique uma inflexão
jurisprudencial.

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B) B) A sua resposta seria idêntica se o direito austríaco expressamente vedasse o


pagamento de compensações por danos não patrimoniais nestes casos?

A aplicação conforme não permite a interpretação contra legem. Assim, a diretiva não terá este
efeito indireto. No entanto, sempre que está em caso um princípio fundamental de direito da
União e que vale na relação entre privados, então, tem eficácia horizontal. As disposições
nacionais contrárias a estes princípios deverão ser desaplicadas, mesmo que se encontrem em
diretivas não transpostas. Temos aqui presente, também, a eventual responsabilidade civil do
Estado por não transposição da Diretiva.

Caso prático:

Em 15 de Janeiro de 2018, o período de transposição de uma Diretiva (de 2016) que reviu os
termos de concessão da licença de maternidade terminou. De acordo com a mesma, a licença
deveria ser no mínimo de 7 meses (antes era de 5). Itália ainda não transpôs esta Diretiva, mas
adotou em julho de 2017 uma legislação que aumentava o prazo de licença de maternidade de
5 para 6 meses.

A. Considera legítima a aprovação desta legislação?

Antes do fim do prazo para a transposição os Estados-membros não estão obrigados a atingir o
objetivo da medida, mas estão proibidos de tomar medidas que se afastem do objetivo,
tornando impossível o cumprimento da diretiva. Por outras palavras, artigo 4º/3 TUE, Princípio
da cooperação leal, desse princípio o tribunal tirou a cláusula stand still. Esta medida não parece
impedir a adoção desta legislação, uma vez que com ela não se agrava a consecução dos
objetivos da Diretiva, mas sim um ajustamento progressivo aos mesmos, logo é legítima a
aprovação desta legislação.

B. Maria, uma trabalhadora numa empresa italiana, com 70% de capitais públicos deseja
hoje gozar os 7 meses de licença de maternidade. Terá sucesso na sua pretensão?

O acórdão de van duyn admitiu o efeito direto das diretivas não transpostas depois de expirado
o prazo de transposição. Desde que estivessem preenchidos os requisitos gerais do efeito direto.
Primeira condição, temporal, só produz efeito direto depois de terminado o prazo de
transposição; segunda condição, só se preencherem os requisitos gerais do efeito direto, a
norma tem de ser clara, precisa e incondicionada; terceira condição, a diretiva só produz efeito
direto vertical, não permite invocar contra outros particulares, só contra o Estado, em sentido
amplo. Logo, Maria teria sucesso na sua pretensão uma vez que a empresa seria considerada
Estado, em matéria de efeito direto, pois possui 70% de capitais públicos.

C. A sua resposta seria idêntica se a companhia tivesse apenas uma participação estatal de 20%?

Neste caso, sendo a participação estadal da empresa apenas de 20%, esta já seria considerada
privada, pelo que estaríamos perante uma ação posta por um particular contra outro particular
e isto não seria possível, devido à recusa do efeito direto horizontal das Diretivas.

Caso prático:

Uma diretiva europeia em matéria de atividades de prestação de serviços de segurança


especifica diz que “Os Estados-Membros comunicarão imediatamente à Comissão qualquer
projeto de regra técnica que pretendam adotar, quanto aos requisitos que devem revestir os
sistemas de alarme”. Este dever de comunicação visa permitir um controlo comunitário quanto

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à compatibilidade do projeto com a liberdade de trocas comerciais, não podendo o projeto


normativo entrar em vigor sem se alcançar um acordo com a Comissão.

A Bélgica adotou nesta matéria a regra técnica X, não tendo realizado esta prévia comunicação
à Comissão. C é uma empresa de segurança que comercializa alarmes que não obedecem às
especificações da norma X.

B, empresa concorrente, pretende que C seja proibida de exercer a sua atividade pois
comercializa um sistema de alarme que não cumpre as normas belgas. C defende-se afirmando
que a norma X não é aplicável, pois o seu procedimento de formação não respeita a diretiva.
Quid iuris?

A legislação belga, apesar de ter transposto a diretiva, esta não cumpriu um dos seus objetivos:
ter realizado a prévia comunicação à Comissão, sendo explicito na diretiva que não poderia
nenhum projeto normativo entrar em vigor sem se alcançar um acordo com a comissão. Trata-
se de uma incorreta transposição: as medidas adotadas não servem para cumprir o objetivo
prescrito. Nestes casos, o TJ vem defendendo que a norma de direito nacional será, nestes casos,
inaplicável, em virtude de um “vício processual essencial”.

Nos casos de transposição imperfeita, os particulares conservam a proteção que teriam se a


diretiva não fosse transposta, isto é, viabilidade de efeito direto. Se uma norma não transposta
pode gozar, em certas condições, de efeito direto, uma diretiva mal transposta goza da mesma
proteção. Assim, a norma que impõe a obrigatoriedade de notificação tem de preencher
determinados requisitos, tem de ser suficientemente clara, precisa e incondicionada, de tal
modo que a falta de acordo da Comissão ponha em causa a adoção da norma técnica nacional.

À luz da jurisprudência do TJ, a norma X não é aplicável, pelo que a empresa C está a cumprir as
normas jurídicas aplicáveis. A Diretiva não nos oferece qualquer norma que seja diretamente
aplicável ao caso: não existe na diretiva uma norma com especificações técnicas que se aplique
em vez da norma X. Assim, a resolução desta lacuna compete aos Tribunais nacionais.

Caso prático:

Uma Diretiva relativa a medidas destinadas a promover a saúde e segurança dos trabalhadores
no local de trabalho, inclui diversas normas destinadas a proteger as trabalhadoras grávidas.
Artigo 5º - Os Estados membros garantirão que as trabalhadoras grávidas ou puérperas não
prestem serviço durante surtos de Gripe A.

Artigo 6º - Os Estados membros promoverão, através da adoção de disposições adequadas, a


criação de locais isolados e silenciosos, para que as trabalhadoras grávidas possam repousar.

Perante um surto de Gripe A que assola o país, duas enfermeiras grávidas ― Joana, que trabalha
no serviço de urgências de um hospital público, e Catarina, que trabalha no mesmo tipo de
serviço mas de uma unidade de saúde privada ― resolvem fazer uma exposição às
Administrações dos hospitais em causa, de modo a serem dispensadas do trabalho enquanto a
Gripe A se encontra ativa e de forma a ser-lhes disponibilizado um espaço de repouso nos
respetivos locais de trabalho. Nas respostas recebem as seguintes informações:

• A Diretiva ainda não foi transposta para o direito português, apesar de já ter passado o
prazo de transposição, logo, deverão aguardar pela publicação da legislação nacional.
• A diretiva é inválida porque viola o princípio da especialidade e da subsidiariedade, logo
não tem de ser respeitada pelos Estados.

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1. Imagine que trabalha no gabinete jurídico do sindicato dos enfermeiros. Que conselhos
e que explicações daria a Joana e Catarina?

Em relação ao princípio da especialidade: este é aplicável a todas as organizações internacionais,


uma vez que, por serem criadas por um ato voluntário dos Estados, só poderão exercer as
competências que lhes conferiram, assim a UE não é dona da sua própria competência, por um
lado: as competências são-lhe atribuídas/delegadas pelos Estados; por outro lado, sendo as
competências definidas pelos Estados, as instituições e órgãos da EU limitam-se a interpretá-las
e aplica-las. Segundo o princípio da subsidiariedade, este diz que a atuação da união nas
competências concorrentes deve ser subsidiada, ou seja, os estados têm preferência, a união
atua somente se os estados não tiverem conseguido atingir os objetivos, assim têm de ser
cumpridos os dois requisitos cumulativamente do Artigo 5º/nº3: a ação dos estados não pode
ter sido suficiente e a união conseguir alcançar melhor os objetivos, é o caso da atuação em
matéria de saúde pública, que é uma matéria concorrente, artigo 4º, nº2 TFUE. Ainda assim, a
Diretiva teria de ser invalidada pelo Tribunal de Justiça, não podendo os Estados-membros eles
próprios conhecer esta invalidade.

Relativamente ao facto de a diretiva não ter sido transposta, existe a possibilidade de a Diretiva
produzir alguns efeitos ainda que não transposta, podendo haver situações em que não é
necessário esperar pelas medidas de transposição (precisamente para evitar um benefício
injustificado do Estado). Estamos, então, perante a questão do efeito direto das normas da
Diretiva: O artigo 5.º podia beneficiar de efeito direto por ser uma norma clara, precisa e
incondicional, no entanto, o artigo 6.º não poderia beneficiar deste efeito, por a norma ser
imprecisa, já que cumpre ao Estado definir as condições que devem ter os locais isolados e
silenciosos e quando devem ser previstos.

Mesmo relativamente ao artigo 5.º, apenas Joana (que trabalha num Hospital público) e não
Catarina (que trabalha numa unidade de saúde privada) pode fazer valer o efeito direto vertical
da Diretiva.

2. Três meses mais tarde, devido ao contágio pelo vírus da Gripe A, Catarina vem a sofrer
um aborto. Poderá Catarina exigir uma indemnização ao Estado Português?

Apesar de não ter tido a oportunidade de beneficiar do efeito direto da Diretiva, Catarina poderá
ser indemnizada pela lesão ocorrida. O direito comunitário impõe aos Estados-membros a
reparação dos danos causados a particulares pela não transposição de uma diretiva, desde que
estejam reunidas três condições, que no caso parecem estar cumpridas:  que a diretiva tenha
como objetivo atribuir direitos a particulares; que o conteúdo desses direitos possa ser
identificado com base nas disposições da diretiva e que exista um nexo de causalidade entre a
violação da obrigação que incumbe ao Estado e o dano sofrido.

Caso prático:

A Diretiva 2012/29/UE visa garantir um nível mínimo de proteção às vítimas da criminalidade.


Maria, cidadã búlgara vítima de sequestro em Portugal, pretende que os serviços policiais
portugueses competentes lhe permitam fazer a denúncia do crime a que foi sujeita, em língua
búlgara, única língua que conhece, e que lhe seja facultado apoio judiciário. São duas, as normas
mais relevantes da Diretiva:

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• “Art. 5.º, n.º 2. Os Estados-Membros devem assegurar que as vítimas que pretendam
denunciar um crime e que não compreendam nem falem a língua da autoridade
competente tenham a possibilidade de efetuar essa denúncia numa língua que
compreendam, ou de receber a assistência linguística necessária para o fazer.”
• “Art. 13.º: Os Estados-Membros devem assegurar que as vítimas tenham acesso a apoio
judiciário se tiverem o estatuto de parte no processo penal. As condições e regras
processuais que regem o acesso das vítimas a apoio judiciário são determinadas pela
legislação nacional.”

1) Considera, à luz das disposições da Diretiva, que estas garantias devem ser colocadas à
disposição de Maria? Considere, na sua resposta, as hipóteses de a Diretiva ainda não
ter sido transposta, ou já o ter sido, para o ordenamento jurídico português.

A diretiva é um ato típico emanado pela União Europeia, é, portanto, uma fonte formal do
direito da união europeia, previsto no artigo 288.º. É um ato de direito derivado e só será válida
se estiver de acordo com o direito originário. Tem como destinatários os Estados-membros,
impondo objetivos que estes devem cumprir. Mas, a diretiva deixa aos estados liberdade plena
quanto aos modos e ao caminho a percorrer para atingir o objetivo enunciado pela diretiva. Por
isso estas devem ser transpostas.

No caso de a Diretiva não ter sido transposta, mas o prazo de transposição ainda não ter
terminado, aqueles direitos não tinham de ser assegurados a Maria, uma vez que durante este
período os Estados não são obrigados a aplicar a diretiva (stand still - não relevante no caso). No
caso de a Diretiva não ter sido transposta (ou ter sido incorretamente transposta), no prazo nela
indicado, Maria poderia exigir, perante o Estado, que lhe fosse possível fazer a denúncia em
Búlgaro ou que lhe fosse indicado um intérprete/ tradutor para o efeito, dada a natureza certa,
precisa e incondicional da norma do art. 5.º, n.º 2, logo é aplicável o efeito direto vertical da
diretiva.

Já não poderia, todavia, exigir apoio judiciário, por as condições previstas na norma do art. 13.º
não estarem definidas, tratando-se de uma norma indeterminada ou imprecisa. Há, a eventual
eficácia indireta da Diretiva ou responsabilidade civil do Estado por violação do Direito da União.
Ou seja, como o Estado não transpôs a diretiva, o efeito indireto das diretivas é um dos
instrumentos de proteção dos particulares.

No caso de a Diretiva já ter sido transposta, como devido, para o ordenamento jurídico
português, o Estado assegurou, pelos meios internos adequados, a possibilidade de realização
de denúncia em Búlgaro (aqui invocada seria a legislação nacional de transposição e não a
diretiva). Já quanto à concessão de apoio judiciário, tal dependeria das condições estabelecidas
internamente, desde que não fossem discriminatórias relativamente a Maria, cidadã da União
Europeia.

Caso prático:

Em março de 2014, foi adotada uma Diretiva que proíbe a distinção da idade de reforma entre
homens e mulheres. Em 2016, o período de transposição da Diretiva cessou.

a) Em março de 2015, a Bulgária adotou uma legislação interna de acordo com a qual a
idade compulsória de reforma das mulheres aumentou de 60 para 63 anos, de modo a
aproximar-se à idade aplicável aos homens (65 anos). Considera legítima esta
intervenção legislativa?

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Os Estados devem abster-se de tomar quaisquer medidas que possam comprometer


gravemente o resultado prescrito pela diretiva, ou seja, a diretiva, desde o momento que entra
em vigor cria algumas expetativas jurídicas nos particulares, que merecem tutela, é o dever de
stand still. Ou seja, antes do fim do prazo, os Estados não estão obrigados a atingir o objetivo
da diretiva, mas estão proibidos de tomar medidas que se afastem do objetivo, tornando
impossível o cumprimento da diretiva. No entanto, neste caso o dever de stand still não é
violado, uma vez que a medida traduz-se na aproximação do objetivo a cumprir pela diretiva.

b) Em 2017, Ania, com 63 anos e funcionária pública decide continuar a trabalhar até ter
65 anos. Quid iuris?

Ania, com 63 anos quer ver o seu direito de trabalhar até aos 65 (idade da reforma dos homens)
ser cumprido. Neste caso, a diretiva não foi transposta uma vez que tivesse sido transposta Ania
poderia trabalhar até aos 65 anos sem qualquer problema. O acórdão van duyn admite o efeito
direto das diretivas não transpostas depois de expirado o prazo de transposição. Desde que
sejam preenchidos os requisitos ferias do efeito direto: as normas devem ser claras, precisas e
incondicionais. Percebemos então que existem condições para ser invocado o efeito direto das
diretivas: primeira condição é então temporal, só produz efeito direto depois de ter terminado
o prazo de transposição; segunda condição: só se preencherem os requisitos gerais do efeito
direto já mencionados (clara, precisa e incondicionada) e a terceira condição é que a diretiva só
produz efeito direto vertical.

c) Em 2017, Marlene, com 63 anos e empregada numa empresa privada, decide continuar
a trabalhar até ter 65 anos. Quid iuris?

Nesta hipótese só temos um litígio entre particulares, assim a diretiva não terá efeito direto,
uma vez que viola a terceira condição para ser o invocado o efeito direto das diretivas. Não é
permitido o invocar contra particulares, porque não são eles que têm a obrigação de a transpor.
Podemos tentar agora perceber se a diretiva mesmo não produzindo efeitos diretos horizontais,
se pode produz um efeito indireto. OU seja, esta obrigação não implica que sejam atribuídos a
particulares, face a particulares, direitos por uma diretiva não transposta, implica antes que o
juiz nacional, dentro dos métodos de interpretação que lhe são conferidos pelo ordenamento
jurídico nacional, interprete a norma legal no sentido mais próximo do objetivo a que o Estado
está vinculado, trata-se do princípio da interpretação conforme. No entanto, a aplicação
conforme não permite a interpretação contra legem. Assim, a diretiva não terá este efeito
indireto. O Tribunal de Justiça considerou em casos similares, que se se violava o princípio
comunitário da não discriminação em função da idade, que é um princípio fundamental de
direito da União e que vale na relação entre privados, então, tem eficácia horizontal. As
disposições nacionais contrárias a estes princípios deverão ser desaplicadas, mesmo que se
encontrem em diretivas não transpostas.

Caso Prático:

Em 2015 foi aprovada uma Diretiva Comunitária que obriga a avaliação do impacte ambiental
de projetos de equipamentos de saúde públicos e privados que tenham mais de 5.000m2 de
área de construção. A mesma Diretiva prevê que, caso os equipamentos tenham menos de
5.000m2 de área de construção, compete às Autoridades nacionais competentes definir as
condições em que aquela avaliação de impacte ambiental é exigível. Portugal não transpôs a
referida Diretiva, não obstante o prazo para o efeito ter transcorrido em 2017.

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1. Em 2018 a Associação de Proteção Ambiental "Os Verduscos" pretende insurgir-se


contra a decisão de construção de um hospital público sem prévia avaliação de impacte
ambiental. Terá a sua pretensão sucesso? Na sua resposta considere as duas hipóteses:
de o hospital público ter mais de 5.000m2 de área de construção e de ter menos de
5.000m2 de área de construção.

A diretiva trata-se de um ato de direito derivado, típico, que tem como destinatários os Estados-
membros, obrigatória quanto aos objetivos e não dotada de aplicabilidade direta. Ou seja, a
diretiva deixa aos Estados liberdade quanto aos modos e ao caminho a percorrer para atingir o
objetivo enunciado pela diretiva, mas estas devem ser transpostas. Sendo a transposição o
conjunto de medidas que cada Estado adota para atingir o objetivo prescrito pela diretiva. Em
Portugal, no nosso ordenamento jurídico, a CRP impõe forma legal, dispõe o artigo 112º/8 que
as diretivas são transpostas por lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional, ou seja, deve ser
um ato legislativo. O Estado Português violou o direito comunitário, uma vez que já passou o
prazo de transposição da diretiva, logo está sujeito a uma ação de incumprimento e respetivas
sanções.

O acórdão Van Duyn diz que as diretivas não transpostas gozam de efeito direto depois de
expirado o prazo de transposição, desde que estejam preenchidos os requisitos gerais do efeito
direto, assim, as normas devem ser: claras, não colocarem dúvidas interpretativas; precisas, o
comando da diretiva é autossuficiente e incondicionais não estabelece qualquer condição ou
reserva. A diretiva, quando já passou o prazo de transposição e preenche os requisitos, ela só
produz efeito direto vertical, não permite invocar contra outros particulares, só contra o Estado,
(ainda que num sentido amplo), uma vez que este é que é o destinatário das diretivas, este é
que devia ter transposto a diretiva e não o fez. Se o hospital público não tivesse mais de 5.000m2
de área de construção, aqueles requisitos não estariam cumpridos, por a norma não ser precisa
e incondicional, logo os "Verduscos" não poderiam invocar o efeito direto da mesma. No
entanto, neste caso, poderíamos ter uma redução teológica da norma, verificando-se o efeito
indireto das diretivas, implicando ao juiz nacional, dentro dos métodos de interpretação que lhe
são conferidos pelo ordenamento jurídico nacional, interprete a norma legal no sentido mais
próximo do objetivo a que o Estado está vinculado, que é a prevenção do impacto ambiental. Se
o hospital público tivesse mais de 5.000m2 de área de construção, aqueles requisitos cumprir-
se-iam, sendo possível invocar o efeito direto da diretiva não transposta.

2. Imagine que em causa estava o licenciamento, em 2018, da construção de um hospital


privado com mais de 5.000m2 de área de construção. A sua resposta seria idêntica à da
alínea anterior?

Neste caso estaríamos perante uma situação em que um particular quer atuar contra outro
particular, isto seria um efeito direto horizontal, não sendo este aceite em matéria de diretivas.
As diretivas só produzem efeitos diretos verticais, porque têm os Estados como destinatários.
Ou seja, não pode ser invocado este direito contra o hospital privado, no entanto, os
‘’Verduscos’’ podem intentar uma ação contra a entidade pública decisora, neste caso, a
licenciadora, de modo a que este ato de licenciamento seja invalidade e, por fim, obrigar o dono
da obra (privado) à avaliação do impacte ambiental como requisito prévio e necessário para a
emissão da licença, assim, estamos presente o efeito incidental das diretivas, ou seja, ao invocar
a diretiva contra o Estado numa relação triangular, atinge-se o mesmo resultado que se obteria
se as diretivas produzissem efeito direto horizontal, foi afirmado claramente no acórdão
medicines control agency de 1996.

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3. Portugal veio, já em 2018, transpor a referida Diretiva por intermédio de Portaria que
apenas se aplicaria a projetos autorizados ou licenciados a partir de 2018. Analise este
exercício de transposição à luz do Direito da União Europeia.

Como previamente mencionado, em Portugal, no nosso ordenamento jurídico, a constituição


impõe a forma legal logo dispõe o artigo 112º/8 da CRP que as diretivas são transpostas por lei,
decreto-lei, ou decreto legislativo regional, ou seja, deve ser um ato legislativo. Ou seja, a
transposição da diretiva por mera portaria induz na inconstitucionalidade deste exercício do
ponto de vista interno, o que equivale a ausência de transposição. A disposição transitória
aposta à Portaria também é contrária à diretiva, uma vez que dela não retira os devidos efeitos
em termos temporais. Em suma, no caso de transposição imperfeita, os particulares conservam
a proteção que teriam se a diretiva não fosse transposta, ou seja, a viabilidade de efeito direto.

Caso prático – efeito direto vertical das diretivas:

A diretiva X, aprovada em 2014 e publicada em janeiro de 2015, dirigida a todos os Estados-


Membros, estipula que estes devem tomar medidas para assegurar a proteção das espécies
selvagens de canídeos. Entre outras providências, estipula-se a obrigação de criminalizar o abate
desses animais e determina-se que os proprietários de gado lesados pelo comportamento
daquelas espécies terão direito a uma subvenção monetária correspondente ao valor do gado
abatido, calculado mediante uma tabela anexa à diretiva. Em 10 de outubro de 2016, a Sr. Ana
sofreu danos no seu gado por um ataque de lobos e, porque tinha lido a diretiva, reclamou o
pagamento da subvenção junto dos serviços da Direção-geral de agricultura. A DG da agricultura
recusa o pagamento com fundamento de que, não tendo ainda o Estado Português transposto
a diretiva, a mesma não produz qualquer efeito. Quid iuris, se:

1. O prazo concedido aos Estados-Membros para transposição da diretiva terminar a 31


de dezembro de 2017.

A diretiva é um ato típico emanado pela União Europeia previsto no artigo 288.º TFUE. É um ato
de direito derivado e só é válida se estiver de acordo com o direito originário. Tem como
destinatários os Estados-Membros, impondo objetivos que estes devem cumprir, pode ser para
vários Estados-membros, ou só para um – já se diferencia dos regulamentos, uma vez que a
diretiva não se destina a todos os sujeitos. No entanto, a diretiva deixa aos Estados liberdade
quanto aos modos e ao caminho a percorrer para atingir o objetivo enunciado pela diretiva. Por
isso é que estas devem ser transpostas. Dirigem-se aos Estados e são estes, no uso dos seus
poderes legislativos, que devem tomar as medidas que considerem adequadas para atingir o fim
enunciado no ato comunitário. A diretiva é obrigatória quanto aos objetivos a alcançar, fixa os
objetivos, resultados, uma finalidade. Cada estado fica obrigado a tomar medidas para que o
objetivo seja alcançado, sendo que essas medidas chamam-se transposição. Portanto, os
estados têm liberdade quanto à forma de execução da diretiva. As diretas não gozam de
aplicabilidade direta, não são recebidas automaticamente no ordenamento interno, em
Portugal, no nosso ordenamento jurídico, impõe forma legal: dispõe o artigo 112.º/8 CRP que
as diretivas são transpostas por lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional (ou seja, deve ser
um ato legislativo). A diretiva entra em vigor na dará nelas fixada ou no vigésimo dia após a sua
publicação. Mas as diretivas estabelecem sempre duas datas: a data de entrada em vigor e o
prazo de transposição (data limite para que os Estados façam a transposição, adotem medidas
nos direitos internos).

Neste caso, ainda não expirou o prazo da transposição. A diretiva já está em vigor, mas ainda
não há obrigação de ter transposto a diretiva. Assim, o Estado Português não violou o direito

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comunitário. A Sr. Ana não tem qualquer direito à subvenção porquanto Portugal não transpôs
a diretiva nem tinha obrigação de ter transposto.

2. O prazo concedido aos Estados-Membros para transposição da Diretiva terminar a 1 de


agosto de 2016.

Neste caso, o Estado Português violou o direito comunitário, estando sujeito a uma ação de
incumprimento e respetivas sanções. Mas a Sr. Ana não se interessa pelas sanções, pretende é
o valor do gado, nos termos da diretiva. Mas a diretiva só obriga o Estado, não produz efeitos
para os particulares (Artigo 288.º TFUE). Sendo que as medidas tendentes ao objetivo da diretiva
(transposição) não foram tomadas, temos de avaliar se a presente diretiva cumpre os requisitos
do efeito direto.

A norma é clara, uma vez que não oferece dúvidas interpretativas; é precisa, pois não carece de
uma concretização pelo estado para se tirar um direito subjetivo concreto da diretiva e é
incondicional, não estabelece condições.

Assim, a Sr. Ana pode pedir a sua indemnização ao Estado. O acórdão Van Duyn estabelece que
quanto mais abrangente for o conceito de Estado, mais o particular pode invocar o seu direito
contra mais instituições, assim estabelece o sentido de Estado em sentido amplo, ou seja, pode
invocar o direito de indemnização para a DG Agricultura, uma vez que o conceito de Estado para
esses efeitos é o seguinte: ‘‘Todos os organismos ou entidades que estejam sujeitas à autoridade
ou controlo do Estado ou que disponham de poderes exorbitante face aos que resultam das
normas aplicáveis nas relações entre particulares’’. Concluindo, apesar de não ter sido
transposta, a norma da diretiva produz efeito direto, podendo ser utilizada nos tribunais
nacionais.

Caso prático – efeito direto vertical das diretivas:

O Conselho e o Parlamento Europeu adotaram em 2007, por processo legislativo ordinário, uma
diretiva relativa à harmonização de legislações sobre contratos de prestação de serviços de
viagens e férias, tendo em vista a proteção dos consumidores em caso de falência ou insolvência
do prestador de serviços. Entre outras medidas, dispõe que os Estados-Membros devem tomar
medidas para que os organizadores de viagens constituam garantias idóneas para o
repatriamento dos seus clientes e para o reembolso dos valores liquidados quando o serviço não
se realize. A diretiva previa um prazo de transposição de dois anos e determinava que as únicas
garantias idóneas a prestar aos particulares seriam uma apólice de seguro que cobrisse a
eventualidade de insolvência das agências. A, B e C contrataram, em junho de 2015, a agência
de viagens Y para lhes fornecer um conjunto de férias nesse verão. Em julho, a agência (privada)
foi declarada insolvente, antes do início das viagens dos senhores B e C e durante a viagem do
senhor A. A todos eles havia sido exigido, nos termos da legislação nacional, uma antecipação
de pagamento dos serviços, no montante de 10% do valor total. O senhor A foi forçado a
regressar ao seu domicílio a expensas próprias, face à recusa da transportadora aérea em o
transportar sem o pagamento da viagem e os senhores B e C viram as suas férias canceladas,
por recusa dos transportadores e das unidades hoteleiras na prestação dos serviços contratados
com a agência Y.

1. Suponha que o Estado X transpôs corretamente a diretiva através da forma prevista na


sua constituição. Como podem A, B e C reagir?

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Esta diretiva trata-se de um ato legislativo, pois foi adotada por processo legislativo. Mas isso
não significa que que vale mais do que o direito primário, significa antes que dentro do direito
derivado, é hierarquicamente superior aos atos não legislativos e não pode ser contrariada por
estes. Esta diretiva foi assinada pelo Presidente do Conselho e o Presidente do Parlamento
Europeu.

Nesta alínea a diretiva foi transposta, logo, isto significa que há atos de direito nacional que
cumprem o objetivo prescrito pela diretiva. Assim, A, B e C devem propor uma ação, num
tribunal nacional

Nesta alínea a diretiva foi transposta, logo, isto significa que há atos de direito nacional que
cumprem o objetivo prescrito pela diretiva. Assim, A, B e C devem propor uma ação, num
tribunal nacional contra a agência, nos termos do direito nacional, exigindo o seguro. A diretiva
não é diretamente aplicável, os particulares utilizam o direito nacional que transpõe a diretiva.

2. Suponha agora que o Estado-membro X não transpôs a diretiva dentro do prazo, por
considerar que a sua legislação interna já incluía mecanismos aptos para a realização
dos objetivos previstos na diretiva. O direito interno do Estado-membro X previa, com
efeito, que os contratos celebrados entre agências de viagens ou prestadores de
serviços turísticos não poderiam contemplar o pagamento antecipado dos serviços, para
além de uma simples antecipação de um máximo de 10% do seu valor total.

Aqui o Estado-membro defende que não transpõe a diretiva porque a legislação nacional já
assegura a proteção necessária. Temos de analisar, neste caso, dois problemas. Primeiramente,
temos de analisar se pode um Estado-membro não transpor se a legislação nacional já cumpre
o objetivo. Neste caso, não é necessária a adoção de ato de direito nacional (quando a legislação
nacional já cumpre o objetivo). O TJUE interpretou o artigo 288.º TFUE como não impondo
necessário aos Estados uma transposição expressa, Acórdão Comissão c. Alemanha de 1985.
Nestes casos, o Estado-membro deve notificar a comissão explicando porque considera
desnecessária a transposição expressa. A comissão deve analisar com particular rigor esta
situação sempre que a diretiva atribua direitos a particulares (Acórdão Comissão c. Grécia de
1995).

Ora, analisando o caso concreto verificamos que a legislação nacional não cumpre o objetivo da
diretiva uma vez que a diretiva obriga que a legislação nacional preveja a existência de um
seguro. Ora, a legislação nacional só prevê o não pagamento antecipado das viagens. Ou seja, o
Estado deveria ter transposto a direta, como entendesse, uma vez que o artigo 288.º TFUE deixa
liberdade quanto à forma e quanto aos meios.

Tendo em conta que a diretiva não foi transposta, A, B e C podem reagir. A vigência interna de
uma diretiva não está totalmente dependente da transposição. Se tiver normas claras, precisas
e incondicionadas, podem ser invocadas por particulares num tribunal nacional. Isto é, apesar
de não serem diretamente aplicáveis, podem produzir efeito direto. Produzem efeito direto
preenchidos 3 pressupostos: primeiro, passou o prazo de transposição, sendo que só a partir
desse momento é que o Estado já tinha obrigação de ter transposto; segundo, cumprindo dos
requisitos gerais do efeito direto que já referi (norma clara, precisa e incondicional) e terceiro,
só pode ser utilizada em relações verticais, ou seja, só o Estado estava obrigado à diretiva, só
contra ele se podem invocar os direitos que ela prevê.

A, B e C querem invocar a direta contra a agência de viagens (querem que esta lhes atribua um
seguro, como era previsto na diretiva), no entanto, não o podem fazer uma vez que, nas

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diretivas, excecionalmente, só há efeitos diretos verticais. Ainda que as normas sejam claras,
precisas e incondicionais, nunca poderiam invocá-las contra outro particular – Acórdão
Marshall.

Caso prático – efeito indireto das diretivas:

O Banco Marleasing propôs uma ação num tribunal judicial espanhol contra a Sociedade LA
Comercial de Alimentação SA, esta é uma sociedade anónima constituída por 3 pessoas, entre
as quais se encontra a sociedade Turismo de Espanha Lda, que entrou com a totalidade do seu
património para realizar o capital da sociedade Comercial. O Banco, credor importante da
Turismo de Espanha, afirma que a Comercial foi efetivamente constituída apenas pela Turismo
de Espanha, sendo os outros dois fundadores testas-de-ferro. Segundo alega o Banco, a
Comercial foi constituída apenas com o objetivo de subtrair património da Turismo de Espanha
às ações dos seus credores. Assim, o Banco, vem invocar normas do código civil espanhol que
privam de efeito jurídico os contratos sem causa lícita, já que não existem no direito espanhol
normas que estabelecem aquela causa como fundamento da extinção das sociedades. Assim,
pode a declaração de nulidade do contrato de sociedade. A comercial, pelo contrário, vem
invocar o artigo 11.º da Diretiva n.º 68/151/CEE, que contém a enumeração taxativa dos casos
em que pode ser reconhecida a invalidade de uma sociedade, invocando o direito a não ser
extinta a sociedade fora dos casos previstos na diretiva. Nessa lista, não aparece a ‘’a ausência
de causa lícita’’. Apesar de ter já expirado o prazo de transposição, a Diretiva ainda não foi
transposta pelo Reino de Espanha. Quid iuris?

Coloca-se a questão de saber se a Comercial se pode valer de uma norma de uma diretiva não
transposta para impedir a declaração de nulidade do contrato de sociedade. É o caso de efeito
direto das diretivas. A diretiva contém as únicas razões que podem fundamentar a invalidade de
uma sociedade, sendo uma enumeração taxativa. O objetivo da diretiva foi que os Estados, na
sua legislação nacional, consagrassem como causas de invalidade de uma sociedade, apenas
aquelas causas e mais nenhumas. A sua necessidade é promover o mercado interno,
assegurando aos operadores económicos que as sociedades não vão desaparecer por motivos
que desconhecem, e o intuito é gerar segurança.

A comercial quer invocar um direito que lhe é atribuído pela diretiva (o direito que as sociedades
só desapareçam pelos motivos que a diretiva prevê e não quaisquer outros). Contudo, a diretiva
não foi transposta, sendo que as diretivas podem produzir efeito direto, no entanto, a norma
deve ser clara, deve ser precisa e deve ser incondicional. O efeito direto consiste na possibilidade
de os particulares invocarem nos tribunais nacionais os direitos que lhes são conferidos pela
união europeia.

Neste caso estão cumpridos os requisitos, é uma norma que pode produzir o efeito direto, isto
é, pode ser invocada pelos particulares como a Comercial, mas as diretivas, quando cumprem
os requisitos, apenas produzem efeito direto vertical,

A Comercial quer invocar contra o Banco, outro particular, sendo que quando temos um
particular a querer valer-se de uma diretiva face a outro particular, o que está em causa é o
efeito direto horizontal. Este não é possível, porque os destinatários das diretivas são os Estados,
são estes estes que estão em situação de incumprimento. Sendo que só faz sentido defender o
efeito direto das diretivas como forma de não beneficiar os Estados por terem violado o direito
comunitário. Ora, a diretiva só produz efeitos em relação aos Estados, não diretamente em
relação aos cidadãos. Então não pode invocar-se o efeito direto horizontal, a Comercial não pode
invocar essa diretiva.

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O Tribunal Nacional, é Estado, para matéria de efeito direto. Ou seja, a diretiva não pode ser
invocada perante o particular, mas pode ser invocada perante o juiz. Mas o juiz não pode aplicar
a diretiva nas relações entre dois particulares, só pode aplicar direito nacional.

Porém, ao aplicar direito nacional, deve ter em conta o fim imposto pela diretiva, que vincula o
Estado-membro, o órgão jurisdicional nacional é obrigado a interpretar o seu direito à luz do
texto do objeto imposto pela diretiva. Então, no nosso caso, o Tribunal vai aplicar o direito
espanhol, mas interpreta-o, se possível, de modo a atingir o resultado da diretiva. Vai considerar
que as causas de invalidade dos contratos não se aplicam às sociedades, ocorre uma redução
teleológica da norma espanhola.

Ou seja, isto implica que o juiz nacional, dentro dos métodos de interpretação que lhe são
conferidos pelo ordenamento jurídico nacional, interprete a norma legal no sentido mais
próximo do objetivo a que o Estado está vinculado. Assim, o juiz está limitado, no âmbito da
interpretação: às regras de interpretação do seu direito nacional e aos princípios gerais de
direito. Mesmo que a diretiva não produza efeito direto horizontal, pode produzir um efeito
indireto. A isto chama-se o Princípio da Interpretação Conforme, o juiz nacional quando aplica
direito nacional, deve interpretá-lo no sentido mais próximo do direito europeu.

Caso Prático – efeito incidental das diretivas:

Uma diretiva comunitária estabelece as condições necessárias para que seja autorizada, pelas
autoridades nacionais, a comercialização de medicamentos. Entre outros requisitos, estabelece
que apenas deve ser autorizada aos Estados-Membros a comercialização de medicamentos por
empresas cujo diretor seja farmacêutico. A referida diretiva foi adotada em janeiro de 2000 e o
prazo de transposição expirou em junho de 2006, embora Portugal ainda não a tenha
transposto. Ontem a Empresa ‘’Medicamentos muito bons LDA’’ intentou uma ação num
tribunal português visando a revogação da licença conferida pelo INFARMED em setembro à
empresa ‘’Remédios Baratos, SA’’, com fundamento no facto de o diretor desta última empresa
não ser farmacêutico, mas engenheiro eletrónico. A ‘’Remédios Baratos’’ defende-se, arguindo
que a diretiva não foi transposta, pelo que não produz quaisquer efeitos em território nacional.
Quid iuris?

O que aqui está em causa é saber se a Medicamentos Bons pode invocar a norma daquela
diretiva. As diretivas não gozam de aplicabilidade direta: devem ser transpostas. Esta diretiva
não foi transposta. Mas, uma vez que já expirou o prazo de transposição, podemos colocar a
hipótese de produzir efeito direto. Verifiquemos os requisitos de produção de efeito direto:
clareza da norma, não coloca dúvidas interpretativas; precisão da norma, o comando da diretiva
é autossuficiente, decorre dela, sem qualquer regulamentação e carácter incondicional, não
estabelece qualquer condição ou reserva. Sendo assim, pode produzir efeito direto: pode ser
invocada pelos particulares. No entanto, só pode produzir efeito direto vertical, porque sendo
uma diretiva, têm os Estados como destinatários, estando só estes vinculados pelas diretivas. A
‘’Medicamentos Bons’’ não pode invocar este direito contra a ‘’remédios baratos’’ porque esta
não está vinculada à diretiva. No entanto, não é isso que se passa no nosso caso concreto, a
‘’medicamentos bons’’ não propôs a ação contra a outra empresa, mas sim contra o INFRAMED.
Então, pode invocar a diretiva ao INFARMED e quem sofrerá as consequências será o outro
particular, é o efeito incidental das diretivas. Assim, exige ao Estado o seu direito a que não
existam empresas farmacêuticas dirigidas por não farmacêuticos, exercendo assim o efeito
direto vertical das diretivas. Ao fazê-lo numa relação triangular, os efeitos da diretiva acabam
por coincidir com os efeitos horizontais, ou seja, através do efeito incidental das diretivas,

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atinge-se o mesmo resultado que se obteria se as diretivas produzissem efeito direto horizontal,
foi afirmado no acórdão medicines control agency de 1996.

Caso prático:

A Diretiva n.º 2011/21, de 12 de fevereiro de 2011, sobre a prevenção de ruído em zonas


sensíveis, prevê que devam ser evitadas todas as atividades ruidosas desenvolvidas num
perímetro de 500m de estabelecimentos de ensino e unidades de cuidados de saúde. Essa
Diretiva nunca foi transposta para Portugal. Sabendo que a Câmara Municipal se prepara para
autorizar a construção de um parque de diversões junto a um hospital, a Associação Amigos do
Sossego pretende reagir judicialmente contra esta decisão com base nas disposições da diretiva.
A empresa Sobe e Desce, Lda, que ganhou o concurso para construir o parque de diversões,
entende que tal não é possível, por várias razões:

• A diretiva viola o Tratado, pois não existia nenhuma base jurídica que permitisse às
Instituições Europeias legislar sobre ruído;
• Mesmo que houvesse, a diretiva viola o princípio da subsidiariedade;
• 3. Mesmo que não violasse, a diretiva não pode produzir quaisquer efeitos, na medida
em que ainda não foi transposta;
• Mesmo que tivesse sido transposta, a diretiva não pode criar obrigações para
particulares.

Aprecie cada argumento da empresa Sobe e Desce, Lda, à luz do direito da União Europeia.

Relativamente ao primeiro argumento estamos perante o princípio da especialidade e as


competências partilhadas da União, este diz-nos que cada ato comunitário tem que identificar
com rigor qual é a base jurídica, a norma do tratado que lhe dá competência para atuar, em
matéria de ambiente, artigo 4.º/2, al.e) TFUE, estamos perante uma competência partilhada,
havendo assim base jurídica para atuar.

Relativamente ao segundo argumento, nomeadamente ao princípio da subsidiariedade este diz-


nos que a atuação da união nas competências concorrentes deve ser subsidiada, ou seja, os
Estados têm preferência, a união atua somente se os Estados não tiverem conseguido atingir os
objetivos. Assim, em matéria concorrente, quem tem preferência são os Estados-membros e
não a União, a UE atua excecionalmente, quando cumpridos os dois requisitos previsto no artigo
5º, nº3 do TFUE. Em suma, neste caso, não há violação do princípio da subsidiariedade. Em
qualquer caso, a competência para a apreciação da validade dos atos da União compete ao
Tribunal de Justiça (em sede de ação de anulação ou de reenvio prejudicial).

O acórdão de Van Duyn admitiu o efeito direto das diretivas não transpostas depois de expirado
o prazo de transposição, (primeiro requisito), tendo a norma de ser clara, precisa e incondicional
(segundo requisito) e esta só produz efeito direto vertical (terceiro requisito).

Sendo que as diretivas só produzem efeitos diretos verticais, a associação não pode interpor a
ação para o outro particular, proibição do efeito horizontal das diretivas, podendo, no entanto,
invocar a diretiva contra a câmara municipal, que é Estado (em sentido amplo), para matéria de
efeito direto, sendo que quem sofrerá as consequências é o outro particular. Trata-se do efeito
incidental das diretivas, ou seja, ao invocar a diretiva contra o Estado numa relação triangular,
atinge-se o mesmo resultado que se obteria se as diretivas produzissem efeito direto horizontal,
isto foi afirmado claramente no acórdão medicines control agency em 1996.

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Caso Prático sobre diretivas - global:

O artigo 4 de certa diretiva comunitária dispõe que os Estados-membros tomarão as medidas


necessárias para garantir que os resíduos sejam eliminados sem pôr em perigo a saúde humana
nem prejudicar o ambiente, nomeadamente vedando que a destruição de resíduos se faça pelo
seu depósito no mar. O artigo 6 da mesma diretiva determina que os estados-membros
designarão as autoridades competentes encarregadas de planificar, organizar, autorizar e
fiscalizar as operações de eliminação dos resíduos. O prazo de transposição terminava em 2007.
Portugal procedeu á transposição tempestiva dessa diretiva através da ‘’lei dos resíduos’’, que
não estabelece a proibição de se depositarem os resíduos no mar (permitindo-o
expressamente). O Ministério do Ambiente designou como autoridade competente a sociedade
‘’Ar Puro, SA’’. Nos termos do contrato celebrado com o Estado, esta sociedade ficou obrigada
a assegurar que as operações de eliminação dos resíduos não causem danos ao ambiente. Na
qualidade de autoridade competente, a sociedade atribuiu uma licença à sociedade ‘’Ambiente
S.A’’ para eliminar resíduos. Após ter sofrido prejuízo consideráveis causados por derrames para
o mar oriundos da central de incineração de resíduos a cargo da sociedade ‘’Ambiente SA’’,
António, proprietário de um bar junto à praia, propôs uma ação judicial contra a sociedade ‘’Ar
Puro’’, invocando o efeito direto do artigo 4 daquela diretiva para requerer a revogação da
licença atribuída à sociedade ‘’Ambiente SA’’. Na contestação, a sociedade ‘’Ar Puro’’ invoca os
seguintes argumentos:

a) A lei de resíduos não prevê qualquer possibilidade de extinção das licenças,


estabelecendo pelo contrário a sua natureza irrevogável.
b) O artigo 4 daquela diretiva não cria direitos a favor dos particulares, dizendo apenas
respeito a interesses ambientais e não a interesses económicos dos privados.
c) A diretiva não pode ser invocada contra a sociedade ‘’Ar Puro’’, pois esta não cumpre
os critérios definidos pela jurisprudência do TJ para poder ser considerada uma
‘’emanação do Estado’’
d) O tribunal não pode revogar a licença atribuída à sociedade ambiente ao abrigo da lei
de resíduos, pois isso redundaria em atribuir efeito direito horizontal.

Se fosse juiz desse tribunal, como decidiria?

O ato da união europeia de que X se quer valer é uma diretiva: é um ato de direito derivado
típico, que tem como destinatários os Estados-membros, obrigatória quanto aos objetivos e não
dotada de aplicabilidade direta. A diretiva neste caso foi transposta, sendo a transposição a
adoção de medidas de direito interno que tendam ao objetivo prescrito pela diretiva, pela lei
dos resíduos, que adotou medidas necessárias em Portugal para que o objetivo da diretiva fosse
cumprido. Quando há transposição, em princípio, os particulares estão protegidos porque
apesar de a diretiva não ser diretamente aplicável, há legislação nacional de transposição.

Ou seja, X deve pedir a revogação da licença nos termos da Lei dos Resíduos. O problema é que
esta lei não prevê a possibilidade de revogação da licença, apenas permite que se façam
descargas para o mar. É necessário utilizar o Princípio da Interpretação Conforme, o juiz,
utilizando os mecanismos previstos pelo direito nacional, deve interpretar a lei dos resíduos no
sentido mais próximo da diretiva. Ao interpretar o direito nacional, o juiz vai tentar cumprir o
objetivo do ato europeu. O objetivo do ato europeu consiste em que a eliminação dos resíduos
não cause danos ao ambiente nem à saúde das pessoas e que não hajam descargas de resíduos
para o mar. Já o direito nacional, diz que são irrevogáveis as licenças conferidas para a
eliminação de resíduos e são permitidas as descargas de resíduos para o mar.

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Sendo assim, parece não ser possível fazer a interpretação conforme, artigo 9º do CC, pois a
legislação de transposição estabelece de forma notória o contrário da diretiva. A legislação
nacional, no fundo, apesar de pretender transpor a diretiva, não consegue cumprir o seu
objetivo, tratando-se de uma incorreta transposição, as medidas adotadas não conseguem
cumprir ao objetivo prescrito. Nestes casos de transposição imperfeita, os particulares
conservam a proteção que teriam se a diretiva não fosse transposta. Isto é, a viabilidade de
efeito direto. Se uma diretiva não transposta pode gozar, em certas condições, de efeito direto,
uma diretiva mal transposta goza da mesma proteção.

É isto que se pretende neste caso. Vamos verificar os requisitos do efeito direto das diretivas:
quanto ao prazo de transposição, este já passou, terminou em 2007, sendo que as diretivas só
podem produzir efeito direto depois de passado o prazo da transposição, porque só a partir
desse momento é que o Estado estava obrigado a ter transposto. Quanto aos requisitos gerais
do efeito direto, a Ar Puro, diz que a diretiva não atribui direitos a particulares, neste sentido, a
ar puro não tem razão apesar de a diretiva tutelar interesses económicos e ambientais,
reflexamente atribui um direito a particulares, o direito de não existirem descargas no mar.
Ponto é saber se cumpre os requisitos gerais do efeito direto: clareza, sim, é inequívoco o
objetivo da união; precisão, sim, a norma é autossuficiente; incondicional, também, não se
encontra qualquer exceção ou reserva. Estão, então, preenchidos os requisitos gerais do efeito
direto. Relativamente, às relações verticais, só produzem efeito direto vertical, estando a ser
invocada contra a sociedade ‘’Ar Puro’’, que emitiu a licença, sendo uma empresa privada, isto
pode acontecer, uma vez que a noção de Estado é ampla, consistindo em organismos ou
entidades sujeitos à autoridade ou controlo do Estado, organismos ou entidades que disponham
de poderes exorbitantes, organismos ou entidades encarregados de prestar um serviço de
interesse público. A Ar Puro, apesar de não estar sujeito à autoridade do Estado, tem poderes
exorbitantes (emite licenças) e presta um serviço de interesse público, logo pode ser invocada
contra a ar puro esta diretiva. A Ar Puro tem ainda o argumento que sustenta que se invocarmos
este direito contra a Ar Puro, forçando a revogação da licença da ‘’Ambiente SA’’, isso equivale
a aceitar efeito direto horizontal. No entanto, na prática António estaria a invocar a diretiva
contra a Ar Puro, (considerada Estado), produzem-se efeitos contra o privado, é o efeito
incidental admitido pelo TJ. Afastamos os argumentos todos da ‘’Ar Puro’’, a diretiva produz
efeito indireto, ou seja, podemos invocar o direito de X a não ter resíduos no mar e podemos
exigir que seja revogada a licença à ‘’Ambiente SA.’’

Questões de verdadeiros/falsos:

1. O conselho e o Conselho Europeu são órgãos auxiliares da união europeia, que já


constavam na versão inicial do Tratado de Roma. Falso

O Conselho e o Conselho Europeu são instituições da União Europeia, artigo 13º TUE. O Conselho
é uma instituição que contava na versão inicial dos tratados, no entanto, o Conselho Europeu só
constou nos tratados após o Tratado de Lisboa (antes era um órgão externo).

2. Os membros da comissão europeia representam os interesses dos Estados, razão pela


qual o número de comissários europeus sempre correspondeu rigorosamente ao
número de Estados-Membros da União Europeia. Falso

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A comissão representa o interesse da união e atua em nome desta, artigo 17º/1 TUE, «promove
o interesse geral da União e toma as iniciativas adequadas para esse efeito». Existe um
comissário por cada Estado e não são todos da mesma nacionalidade, para que os Estados
aceitem mais facilmente as decisões da Comissão. Se a Comissão vai defender o interesse da
união, vai muitas vezes desagradar aos Estados. Se estes não tivessem nenhum nacional, isso
prejudicaria a aceitação das decisões.

3. O provedor de justiça europeu deve respeitar as instruções do parlamento europeu no


tratamento das queixas apresentadas por cidadãos estrangeiros com fundamento em
má administração na atuação dos órgãos da União ou dos Estados-Membros. Falso

O Provedor de Justiça Europeu, que é eleito pelo Parlamento Europeu, é competente para
receber queixas apresentadas por qualquer cidadão da união ou qualquer pessoa singular ou
coletiva com residência ou sede estatutária num Estado-Membro e respeitantes a casos de má
administração na atuação das instituições, órgãos ou organismos da União, com exceção do
Tribunal de Justiça da União Europeia. O provedor de justiça instrui essas queixas e apresenta
relatório sobre as mesmas, este, no entanto, exercerá as suas funções com total independência.

4. A comissão europeia é composta por representantes dos estados e depende


politicamente do tribunal de justiça e do parlamento europeu, que pode ordenar-lhe o
início de procedimentos legislativos. Falso

A Comissão não é composta por representantes dos Estados (os comissários são independentes
e representam os interesses da União), nem depende politicamente do TJUE (a dependência
política verifica-se apenas face ao PE, embora o mesmo não possa ordenar o início de
procedimentos legislativos, mas apenas convidar a comissão a atuar).

5. O conselho dos responsáveis e procuradores dos estados – coreper – é uma das


formações do Conselho Europeu. Falso

O COREPER é uma das formações do Conselho da União Europeia, uma vez que é este que trata
das preparações dos trabalhos para as formações realizadas pelo Conselho. Ou seja, trata-se de
um órgão auxiliar do Conselho.

6. O Conselho da Europa é composto por representantes ao nível ministerial, reunindo-se


uma vez por ano sob proposta do seu presidente, eleito pelo parlamento europeu pelo
período de 5 anos. Falso

O Conselho da União é composto por representantes dos Estados-Membros a nível ministerial,


reúne-se por convocação do Presidente, sendo esta presidência rotativa. (dá para fazer vários
tipos de correções).

7. O Conselho da Europa, o qual começou por ser um órgão intergovernamental de


cooperação política, representa os interesses da União Europeia e, em regra, decide por
maioria simples. Falso

O Conselho da Europa, em regra, as decisões são tomadas por consenso, algumas exceções a
isto constam nos artigos: artigo 7º, nº2 TUE, artigo 236º TFUE e artigo 235º, nº3 (exceção em
que o Conselho decide por maioria simples).

8. A iniciativa popular, enquanto direito reconhecido aos particulares residentes ou


sediados no território de um Estado-Membro, permite que 5milhões de cidadãos de

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num número reduzido de Estados possam impor ao Conselho a adoção de atos em


matérias das suas atribuições. Falso

Artigo 11º TUE – «um milhão, pelo menos, de cidadãos da União, nacionais de um número
significativo de Estados-membros, pode tomar a iniciativa de convidar a Comissão Europeia a,
no âmbito das suas atribuições, apresentar uma proposta adequada em matéria sobre as quais
esses cidadãos considerem necessário um ato jurídico da União para aplicar nos Tratados».

9. A observância do princípio de subsidiariedade, o qual vale em matéria de competência


exclusiva da UE, pode ser controlada pelo Parlamento Europeu e pelos tribunais
nacionais. Falso

O princípio da subsidiariedade só vale nos domínios que não sejam da sua competência
exclusiva, artigo 5º TFUE, ou seja, este princípio vigora nas matérias concorrentes ou paralelas.
Este princípio consiste em: a união apenas pode atuar quando provar estarem cumpridas duas
condições: a ação dos estados-membros não seja suficiente para atingir os objetivos dos
tratados e estes são melhor alcançados através de uma ação comunitária. Uma novidade do
Tratado de Lisboa relativamente a esta matéria foi o papel dos Parlamentos nacionais previstos
em protocolo anexo. Assim, as iniciativas legislativas comunitárias são enviadas sempre aos
Parlamentos nacionais, acompanhadas de uma ficha que explica as razões pelas quais se
entende que «a ação nacional não é suficiente» e os «objetivos são melhor alcançados ao nível
comunitário». Se em matéria concorrente, a UE não mostrar a prova do princípio da
subsidiariedade, o ato é inválido.

10. Foi o Ac. Marleasing que instituiu o princípio do primado do Direito da União Europeia,
o qual determina que, em situação de conflito entre uma norma de direito originário e
uma norma de direito derivado, esta deve ser considerada inválida pelo juiz. Falso

O princípio do primado é aplicado sempre que haja um conflito real entre a concretização de
uma norma comunitária e uma norma nacional, num caso concreto. Como se compreende, caso
as normas nacionais pudessem prevalecer, tal colocaria em causa a efetividade do direito da
união e a sua autoridade e autonomia. No entanto, a norma de direito nacional continua em
vigor, simplesmente não é aplicada ao caso concreto.

11. A hierarquia entre as normas de direito da União cinge-se à distinção entre direito
originário e direito derivado, pois os atos delegados têm a mesma força dos atos de
delegação, podendo alterá-los. Falso

É o direito originário que autoriza a existência do direito derivado, isto é, não pode haver
nenhum ato jurídico da união que não se fundamente expressamente numa norma de direito
originário. De igual valor aos tratados (direito originário) revestem os princípios gerais de direito
da União Europeia pelo TJUE como fontes de direito primário da UE. Entre as normas de direito
primário não existe qualquer hierarquia. O direito derivado é o direito produzido pelas
instituições e órgãos da União. Até ao Tratado de Lisboa, o direito derivado não possuía
hierarquia, mas agora tem, no topo das fontes temos o direito originário, e como o tratado, o
direito derivado passou a ter distinções entre atos legislativos (vem primeiro) e atos não
legislativos. No direito da união, não é a forma do ato que diz, mas sim o procedimento. Ou seja,
podemos ter regulamentos, diretivas e decisões com valor legislativo e outros com valor não
legislativo. Se foi adotado por processo legislativo, é um ato legislativo; se for adotado por um
processo não legislativo, então não será um ato legislativo. Relativamente à delegação
legislativa, os atos delegados têm valor inferior aos atos de delegação.

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12. O procedimento comum de decisão permite a intervenção das várias instituições


comunitárias de cariz político. Verdade
13. O procedimento de co-decisão (procedimento legislativo ordinário), dada a legitimidade
democrática acrescida que proporciona, é célere e eficaz. Falso

Trata-se de um procedimento demorado, sendo a sua duração média de 19 meses, sendo que
no Tratado de Amesterdão, operou-se uma simplificação do procedimento para que a sua
duração média passasse a ser de 9meses.

14. O procedimento de co-decisão permite ao Conselho e ao Parlamento Europeu introduzir


alterações na proposta da Comissão, sem exigência de unanimidade. Verdade
15. O princípio da subsidiariedade significa que, em matérias de competência concorrente,
a comunidade europeia intervirá apenas quando haja claras vantagens numa atuação a
nível supranacional relativamente a atuações isoladas ao nível nacional. Verdade
16. O princípio da especialidade significa que a comunidade só tem legitimidade para agir
naquelas matérias às quais os estados-membros lhe tenham transferido competências
através dos tratados, expressa ou implicitamente. Verdade
17. O princípio do primado significa que o direito comunitário originário é superior ao
direito comunitário derivado, pelo que deve estar em conformidade com aquele, sendo
inválidas as disposições de direito derivado que contrariem normas de direito originário.
Falso

O princípio do primado é aplicado sempre que haja um conflito real entre a concretização de
uma norma comunitária e uma norma nacional, num caso concreto. Como se compreende, caso
as normas nacionais pudessem prevalecer, tal colocaria em causa a efetividade do direito da
união e a sua autoridade e autonomia. No entanto, a norma de direito nacional continua em
vigor, simplesmente não é aplicada ao caso concreto.

18. A cidadania europeia surgiu com o Tratado de Roma. Falso

A cidadania europeia surgiu com o Tratado de Maastricht, este tratado mão foi uma mera
revisão dos tratados anteriores, mas sim um avanço na integração europeia.

19. Os regulamentos devem ser transpostos no prazo de dois meses após a entrada em
vigor. Falso

O regulamento dispensa qualquer ato das ordens jurídicas nacionais de receção, aliás, é proibida
a sua reprodução. Ou seja, princípio da aplicabilidade direta, os regulamentos, pelo simples facto
de serem adotados, vigoram na ordem jurídica.

20. Os pareceres distinguem-se das recomendações pela sua força vinculativa. Falso

Tanta os pareceres como as recomendações têm a mesma força vinculativa (que não têm),
artigo 288.º TFUE, «as recomendações e os pareces não são vinculativos».

21. Nos termos do processo de revisão ordinário, a iniciativa de revisão dos Tratados pode
caber a um qualquer Estado-Membro, ao Tribunal de Justiça ou ao Conselho Europeu e,
após os trâmites previstos, o novo Tratado entrará em vigor após ratificação pela
maioria qualificada dos Estados, desde que representem 65% da população. Falso

No processo de revisão ordinário, «o Governo de qualquer Estado-Membro, o Parlamento


Europeu ou a Comissão, podem submeter ao Conselho projetos de revisão dos Tratados». Sendo

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que as alterações entram em vigor após a sua ratificação por todos os Estados-Membros, em
conformidade com as respetivas normas constitucionais.

22. Desde que foi instituída pelo Ato Único Europeu, em 1986, a cidadania europeia conferiu
aos cidadãos da União alguns novos direitos, como o direito de eleger diretamente os
eurodeputados da sua nacionalidade o direito à proteção das minorias linguísticas. Falso

A cidadania europeia surgiu com o Tratado de Maastricht. O Ato único europeu, contém,
sobretudo, disposições sobre cooperação em política externa, tendentes ao desenvolvimento
de uma política externa comum; inaugurou, também, para algumas matérias, a regra das
decisões por maioria e não por unanimidade.

23. No âmbito do processo legislativo, o Comité de Conciliação envia aos Tribunais de


Contas dos Estados Membros os projetos de atos legislativos depois de aprovados pela
Comissão e pelo Conselho da União Europeia. Falso

O comité de conciliação é composto por membros do Conselho ou seus representantes e igual


número de membros do PE, tendo por missão chegar a acordo sobre um projeto comum. Este
projeto comum é depois apresentado ao Conselho e ao Parlamento Europeu para ser aprovado
por ambas as instituições.

Questões para desenvolver:

1. As relações entre a Comissão e o Parlamento Europeu

Critérios de exame: descrição, fundamentada no direito originário, da independência política da


Comissão e da possibilidade de controlo mútuo (nomeação, controlo execução das políticas,
censura, ou demissão pelo Parlamento e possibilidade de recurso ao Tribunal de Justiça através
de recurso de anulação instaurado pela Comissão ou pelo Parlamento).

Possível resposta:

A Comissão Europeia é um órgão colegial composto por pessoas independes que garantem
todas as condições de imparcialidade e representam o interesse da comunidade, artigo 17º TUE.
Esta instituição é considerada a guardiã da ordem pública. A Comissão exerce as suas funções
com independência face ao Conselho e aos Estados-Membros, porém, pode apontar-se a sua
dependência política relativamente ao Parlamento Europeu. Numa dimensão genética-
processo de nomeação; a designação do presidente da comissão tem em conta o resultado das
eleições para o PE, artigos 17º/6 e 7.º do TUE. Numa dimensão funcional- coincidência de
mandatos; respostas às questões dirigidas pelo Parlamento; apresentação de um relatório geral
anual ao Parlamento; constituição de comissões de inquérito. Numa dimensão extintiva- o PE
pode aprovar moções de censura à Comissão, conduzindo à sua demissão.

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2. A integração de lacunas no Direito da União Europeia

Critérios de exame: Alusão a três técnicas possíveis de integração: jurisprudencial, doutrinal,


normativa.

Possível resposta:

Os princípios da especialidade e das competências de atribuição, artigo 5º/1 e 2º TUE, podem


condicionar a atuação das instituições da união, assim como o direito da união pode apresentar
omissões ou insuficiências de regulamentação dos tratados. Assim, procurar-se-á integrar as
lacunas do direito comunitário, mediante mecanismos específicos tendo em conta a
especificidade deste ramo do direito. Ou seja, é necessário indagar se é possível completar o
direito originário por via de integração de lacunas ou de interpretação das disposições
comunitárias. O Tratado de Lisboa ampliou as competências explícitas das instituições e órgãos
comunitários, enumerando ainda vários princípios a este propósito, reduzindo, assim, a
importância dos 3mecanismos de integração de lacunas: o princípio da unidade de sentidos dos
Tratados, o princípio das competências implícitas e o mecanismo previsto no artigo 352.º TFUE.

O princípio da unidade de sentido dos tratados: uma vez que todos os tratados da UE vinculam
os mesmos estados e visam o mesmo objetivo final – erigir um bloco regional de integração – é
possível extrair um sentido comum a todos eles. O próprio TJ recorreu já a disposições de um
Tratado para suprir omissões de outro. Este instrumento deve ter em conta uma limitação: a
exigência de identidade substancial das questões a regular, ou seja, a questão omissa deve ser
substancialmente semelhante à disposição de um outro tratado utilizada para a colmatar.

A teoria das competências implícitas, sendo esta, uma organização internacional deverá dispor
de todas as competências de ação que sejam necessárias ou convenientes à prossecução das
suas atribuições. Está aqui em causa uma interpretação teleológica das atribuições
comunitárias. Com efeito, se os Tratados atribuem certos objetivos/fins à união, é
compreensível que esta deva dispor das competências necessárias para os prosseguir, mesmo
quando os Tratados não lhe conferem expressamente tais competências. Foi no âmbito deste
princípio que se extraiu um outro: o princípio do paralelismo de competências. Segundo este, a
competência interna da UE, quando atribuída pelos tratados, pode implicar, no seu exercício, a
sua competência externa na mesma matéria em concreto, como meio de realização dos
objetivos inerentes àquela competência interna. Com o tratado de lisboa este princípio passou
a constar expressamente dos artigos 3º/2 e 216.º TFUE.

O mecanismo subsidiário do artigo 352.º TFUE: o mecanismo previsto neste artigo intervém na
ausência de competências específicas, explicitas ou implícitas. Este instrumento poderá servir
de base jurídica autónoma ou então complementar outra já existente. Deste modo consegue-se
a plena realização dos objetivos confiados à UE. Porém, após uma utilização bastante generosa,
o Tratado de Maastricht veio limitar o uso deste instrumento, impondo alguns requisitos
procedimentais e substanciais para que seja utilizado.

3. Distinguir princípio da atribuição e princípio das competências/podes implícitos

O princípio da atribuição/especialidade é aplicável a todas as organizações internacionais, uma


vez que, por serem criadas por um ato voluntário dos Estados, só poderão, como é lógico,
exercer as competências que aqueles lhes conferiram, artigo 5.º/2 TUE. Assim, a UE não é dona
da sua própria competência: por um lado, as competências são-lhe atribuídas/delegadas pelos
Estados; por outro, sendo as competências definidas pelos Estados, as instituições e órgãos da

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UE limitam-se a interpretá-las e aplicá-las. Decorre deste princípio a circunstância de qualquer


medida de direito derivado dever ser acompanhada da correspondente base legal, mediante a
identificação dos artigos do tratado nos quais se funda. O princípio dos poderes implícitos diz-
nos que, sendo esta, uma organização internacional deverá dispor de todas as competências de
ação que sejam necessárias ou convenientes à prossecução das suas atribuições. Está aqui em
causa uma interpretação teleológica das atribuições comunitárias. Com efeito, se os Tratados
atribuem certos objetivos/fins à união, é compreensível que esta deva dispor das competências
necessárias para os prosseguir, mesmo quando os Tratados não lhe conferem expressamente
tais competências. Foi no âmbito deste princípio que se extraiu um outro: o princípio do
paralelismo de competências. Segundo este, a competência interna da UE, quando atribuída
pelos tratados, pode implicar, no seu exercício, a sua competência externa na mesma matéria
em concreto, como meio de realização dos objetivos inerentes àquela competência interna.
Com o tratado de lisboa este princípio passou a constar expressamente dos artigos 3º/2 e 216.º
TFUE.

4. Distinguir Alargamento e Aprofundamento

O método comunitário (método funcionalista) consiste no método dos pequenos passos:


avanços graduais, havendo um estabelecimento gradual de solidariedade de facto entre os
Estados-membros do mercado comum, que deveria incidir sobre a generalidade as atividades.
Dá-se o chamado «tríptico comunitário» - acabamento, aprofundamento, alargamento.

O acabamento tem sido a característica mais acentuada e constante da construção comunitária


seja pela concretização da versão inicial do Tratado de Roma (sobretudo pela consecução, em
1968, da União Aduaneira, através da eliminação de barreiras à circulação), seja através de
alterações graduais, mas necessárias, aos Tratados.

O aprofundamento trata-se do desenvolvimento de políticas comuns e da própria natureza do


direito da União: de uma integração económica à introdução de objetivos sociais e políticos. O
papel essencial do Tribunal de Justiça nas primeiras décadas da construção do Direito da União,
como seu mais ativo intérprete e instituição concretizadora (a perspetiva do “ativismo
judiciário”). A importância do Tratado de Maastricht (1992-1993): da Comunidade Económica
Europeia à Comunidade Europeia; criação da cidadania da União, União Económica e Monetária,
papel decisório ao Parlamento Europeu…

O alargamento, de 6 (Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos) para 28


Membros, sendo necessário que verifiquem os critérios dos artigos 49º e 50º do TFUE.

5. Evolução do papel do Parlamento Europeu no processo legislativo

O PE é composto por representantes dos cidadãos da UE, (deputados), artigos 14.º e 10º/2 TUE.
Existe um critério de conversão de votos em mandatos (proporcionalidade degressiva), com um
mínimo de 6deputados e um máximo de 96, este critério existe para não prejudicar os Estados
mais pequenos. A composição concreta do PE é determinada pelo Conselho Europeu, nos
termos do 14.º, n.º 2, 2ºparágrafo, sendo os membros do PE eleitos, por sufrágio universal direto
(desde o Ato de 20 de setembro de 1976, rectius, desde 1979), livre e secreto, por um mandato
de cinco anos (artigo 14.º, n.º 3 TUE). Os deputados europeus agrupam-se por ideologias e
afinidades, em grupos políticos europeus, com o Tratado de Lisboa, os grupos políticos europeus
pediram o registo como partidos políticos europeus, sendo o objetivo provocar discussão
política acerca das competências da união, aproximando os cidadãos da união.

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Em termos de organização e funcionamento: existem a presidência e a mesa (artigo 14.º, n.º 4


TUE). Relativamente às sessões parlamentares (artigo 229.ºTFUE), realiza-se uma sessão anual
e podem realizar-se sessões extraordinárias. O poder de auto-organização do PE está presente
no estabelecimento do seu próprio regime (232.º TFUE). Estando as regras sobre deliberações
no artigo 231.ºTFUE, sendo que este delibera por maioria dos votos expressos.

Relativamente às funções/competências: função legislativa (iniciativa, deliberação, consulta;


referência aos processos legislativos); função de controlo (em especial, moções de censura à
Comissão[234.º TFUE], comissões de inquérito [226.º TFUE], receber petições [227.º TFUE],
nomear o Provedor de Justiça [228.º TFUE]), estando a referência às funções do Provedor de
Justiça no artigo 228.º TFUE; função orçamental (314.ºTFUE).

Relativamente à evolução histórica das competências: este surge como órgão essencialmente
consultivo, com a competência para aprovar o orçamento (1975), é instituído, à margem dos
tratados, o procedimento de concertação. Mais tarde, o QUE (1986) consagra o chamado
procedimento de cooperação (e o parecer favorável) e o PE começa a influir no processo
legislativo, em alguns domínios. Seguidamente, o Tratado de Maastricht (1992) consagra o
processo de co-decisão, surgindo o PE, em determinadas matérias, praticamente como co-
legislador com o Conselho. Por fim, o Tratado de Lisboa traz reforço dos poderes do PE, em
especial, passa a ser verdadeiro co-legislador a par do Conselho, exerce funções orçamentais e
importantes funções de controlo (culminando na eleição do Presidente da Comissão).

6. Relações entre o Direito Europeu e o Direito interno dos Estados membros

A UE é uma organização supranacional dotada de características constitucionais. O mesmo


estabelece, organiza e limita o exercício de poderes de autoridade pública, ao nível da UE, com
incidência nos domínios político, legislativo, administrativo e jurisdicional. E fá-lo com efeito
direto e primazia sobre o direito interno dos Estados. Determina o artigo 8.º/4 CRP: «as
disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas
instituições, no exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos
termos definidos pelo direito da união, com respeito pelos princípios fundamentais do estado
de direito democrático». Está aqui em causa a integração, na ordem constitucional portuguesa,
da primazia e efeito direto da UE. Saliente-se que só estarão sujeitas a este regime as disposições
das instituições europeias, quando estas atuem no exercício das respetivas competências. Isto
conduz a que os tribunais tenham a obrigação de desaplicar o direito interno contrário ao direito
da UE e de interpretar o direito interno de acordo com o direito da UE. Mais polémica é a relação
estabelecida entre o direito da UE e o direito constitucional dos estados-membros: há
defensores da tendencial primazia do direito constitucional interno, da primazia do direito da
UE e da tendencial paridade entre ambos.

7. O princípio da efetividade/subsidiariedade e o seu papel na evolução do Direito da


União Europeia

O Princípio da subsidiariedade é um princípio jurídico que pode ser controlado de múltiplas


formas. Ainda assim, é um dos princípios de repartição de competências mais difícil de
concretizar no direito da União. Segundo este princípio, a União intervém se e apenas na medida
em que os objetivos de ação não possam ser suficientemente alcançados pelos Estados-
membros. Conclui-se, portanto, que a competência comunitária depende do preenchimento de
dois requisitos: negativo – insuficiência da ação dos Estados, ao nível local, regional ou estadual;
positivo – a atuação da União deve ser uma mais valia. Este princípio tem direta ligação às
competências (concorrentes) da União: nomeadamente na importância do princípio na gestão

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de esferas de competência e no controlo aos limites da soberania nacional. Existe uma difícil
justiciabilidade deste princípio (referência às dificuldades encontradas pelo Tribunal de Justiça),
dada a sua indeterminação e difícil preenchimento dos elementos de que depende.

Este princípio comporta três dimensões: uma administrativa, uma judicial e uma político-
legislativa. A dimensão administrativa implica uma melhor regulamentação administrativa por
parte das instituições da União, em especial da Comissão (que detém o poder de iniciativa). Com
efeito, terão de ser analisadas as várias alternativas de atuação e elaboradas avaliações de
impacto. A Comissão e o Comité têm de elaborar relatórios sobre a aplicação deste princípio. A
dimensão judicial constitui um requisito de validade dos atos da união. Em regra, cabe à
comissão demonstrar em que medida as competências dos Estados-membros estão limitadas
em determinada atuação concorrente devido aos requisitos do princípio da subsidiariedade. É
de difícil controlo dada a margem de liberdade do legislador para atuar e fundamentar aquela
atuação. Assim, embora justificável perante o TJ, tem vindo a ser de utilização subsidiária no
plano judicial. Na dimensão político-legislativa está aqui em causa o controlo político operado
através do processo legislativo da união e da informação aos Parlamentos Nacionais. Espera-se
que, com este contexto institucional, se consiga uma maior eficácia e ganhos de legitimidade
que se traduzem numa redução de obscuridade e de complexidade do direito da união.

8. Ao contrário do regulamento, a diretiva constitui um mecanismo de legislação indireta

Ambos constituem fontes do direito derivado da União Europeia e atos típicos (288.º/1 TFUE) e
podem ser atos legislativos ou não. Relativamente à caraterização do regulamento: este tem
caráter geral – abrangem-se a generalidade dos destinatários pois impõem-se a todos os que
encontrem ou venham a encontrar a coberto do âmbito normativo do ato, não sendo efetuadas
especificações; é obrigatório em todos os seus elementos – não pode ser alterado em casos
concretos, exceto se o próprio ato assim o permitir e é diretamente aplicável – dispensam de
qualquer receção ou incorporação bastando que se preencham as condições de vigência
previstas no direito comunitário para que aqueles atos produzam efeitos, ou seja, a sua
incorporação é automática. No entanto, é necessária publicação (artigo 297.º, n.º 1, 3parágrafo
e n.º 2, 2parágrafo TFUE) e decurso vacatio legis). (ref.ª ao artigo 8.º, n.º 3 da CRP).

A diretiva é um ato individual, pelo que só obriga os destinatários indicados, vinculando, assim,
os Estados-membros. Deixam aos Estados-membros uma margem de apreciação quanto à forma
e meios de transposição, ou seja, esta define um resultado a alcançar- donde decorre a
obrigação de transposição. A diretiva é, portanto, um importante instrumento de coordenação
e harmonização do direito interno dos Estados-membros, isto devido à definição de obrigações
de resultado.

9. Os comissários europeus surgem como os representantes dos interesses da União e não


dos interesses dos Estados-membros

A Comissão é a instituição que promove o interesse geral da União, (não dos Estados membros
nem dos cidadãos dos Estados membros).

Em relação ao sistema de nomeação do Presidente da Comissão este encontra-se no artigo 17.º,


n.º 7 TUE. É notória a independência da comissão (17.º, n.º 3 TUE) e, por conseguinte, os
comissários: são escolhidos em função da sua competência geral e do seu empenhamento
europeu de entre personalidades que ofereçam todas as garantias de independência (17.º, n.º
3 TUE), não se solicitam nem aceitam instruções de nenhum Governo, instituição, órgão ou
organismo (17.º, n.º 3 TUE) e os Estados membros respeitam a sua independência e não

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procuram influenciá-los no exercício das suas funções (245.º TFUE), abstêm-se de toda e
qualquer ação que seja incompatível com os seus deveres ou com o exercício das suas funções
(17.º, n.º 3 TUE). Este também não podem exercer qualquer outra atividade profissional,
remunerada ou não (245.º TFUE) e assumem, no momento da tomada de posse, o compromisso
solene de respeitar, durante o exercício das suas funções e após a cessação destas, os deveres
decorrentes do cargo (245.º TFUE). Qualquer membro da Comissão que deixe de preencher os
requisitos necessários ao exercício das suas funções ou tenha cometido falta grave pode ser
demitido pelo TJUE a pedido do Conselho ou da Comissão (247.º TFUE).

10. O papel da comissão europeia no processo de produção normativa da União.

A Comissão toma as iniciativas adequadas para promover o interesse geral da União (17.º/1
TUE). Existe um monopólio de iniciativa legislativa da Comissão, salvo disposição em contrário
dos Tratados (17.º/2 TUE), porém, existe a possibilidade de “provocação” da iniciativa por parte
do Parlamento Europeu (225.º TFUE), do Conselho (241.º TFUE) ou através da iniciativa de
cidadania (11.º/4 TUE).

Em regra, o processo legislativo ordinário inicia-se com uma proposta da Comissão (289.º/1 e
294.º/2 TFUE). O papel da Comissão na tramitação do processo legislativo ordinário: em 1.ª
leitura, a Comissão informa o PE da sua posição (294.º/6/in fine); emite parecer sobre as
emendas propostas pelo PE à posição do Conselho em 1.ª leitura(294.º/7/c)); participa nos
trabalhos do Comité de Conciliação e toma todas as medidas necessárias para promover uma
aproximação das posições do PE e do Conselho (294.º/11).

O papel da Comissão no processo tendente à fiscalização, por parte dos parlamentos nacionais,
dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade: A Comissão envia aos Parlamentos
nacionais o programa legislativo anual e qualquer outro elemento de programação legislativa e
envia os seus projetos de ato legislativo diretamente aos Parlamentos nacionais. (Referência à
tramitação subsequente)

Existe a possibilidade de um ato legislativo delegar na Comissão o poder de adotar atos não
legislativos de alcance geral que completem ou alterem certos elementos não essenciais do ato
legislativo (290.º TFUE), nomeadamente os atos de execução (291.º/2 TFUE).

11. O processo de integração europeia deu origem, em Portugal, a alterações


constitucionais importantes

Portugal aderiu à CEE em 1986, juntamente com Espanha. Posteriormente o Ato único Europeu,
um tratado de revisão, veio rever os principais pontos do Tratado de Roma, contendo desde
logo, disposições sobre cooperação em política externa, tendentes ao desenvolvimento de uma
política externa comum. Mais tarde, com o Tratado de Maastricht dá-se um avanço na
integração europeia, alargando a cooperação entre os Estados-membros para além do sistema
das comunidades europeias. O projeto da CEE apontava para a criação de uma união económica
e monetária e de uma moeda única, tratava-se de um projeto a realizar em diversas fases. O
Tratado de Amesterdão, que foi aprovado em 1997, veio alterar o Tratado da UE e os Tratados
das 3 comunidades. Com este tratado pretendeu-se assegurar a manutenção e o
desenvolvimento da União, a sua conformação como espaço de liberdade, de segurança e justiça
e o reforço de alguns princípios estruturantes.

Na CRP: os artigos 8.º/3 (aditado pela LC 1/1982); 7.º/5 (aditado pela LC 1/1989); 7.º/6 e 15.º/5
(aditados pela LC 1/1992); 112.º/8 (aditado pela LC 1/1997), fazer referência.

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A importância da revisão de 2004 foi fulcral, uma vez que veio aditar o n.º 4 do artigo 8.º CRP;
«as disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas
instituições, no exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos
termos definidos pelo direito da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado
de direito democrático», havendo assim, a aceitação explícita do princípio do primado.

12. Importância e peso relativo dos Estados e das Instituições Europeias no processo de
revisão dos Tratados

O processo de revisão comporta duas modalidades: processo de revisão ordinário e processos


de revisão simplificados. Pode dizer-se que estamos em face de um poder constituinte
duplamente derivado: por um lado, pretende alterar-se os Tratados que estruturam a UE; por
outro, essa alteração será efetuada segundo processos regulados pelos Tratados.

O processo ordinário de revisão dos tratados está consagrado nos artigos 48.º/2 a 5 do TUE. Este
processo ocorre por 4 fases, que analisaremos sucintamente:

Apresentação do processo de revisão: têm legitimidade para apresentar um projeto de revisão


os Estados, o PE e a Comissão. Os mesmos podem aumentar ou reduzir as competências
atribuídas à UE pelos Tratados, artigo 48.º/2 TUE. Os projetos são submetidos ao Conselho,
sendo simultaneamente enviados ao Conselho Europeu e notificados aos parlamentos
nacionais.

Decisão sobre a análise das alterações propostas: cabe ao conselho europeu aceitar ou rejeitar
as alterações propostas, após consulta ao PE e à Comissão. A decisão é tomada por maioria
simples, artigo 48.º/3.

Decisão de aprovação das alterações propostas: no caso de decisão favorável à análise das
propostas de alteração, a decisão para a aprovação das alterações propostas pode ser tomada
por uma convenção e/ou por uma Conferência de Representantes dos Governos, artigos 48.º/3
e 4 TUE.

Entrada em vigor das alterações: as alterações dos tratados entram em vigor depois de
ratificados pelos estados membros de acordo com as respetivas normas constitucionais, artigo
48.º/4 TUE. O artigo 48.º/5 TUE dispõe que o Conselho Europeu será chamado a intervir depois
de 2anos a contar da data da assinatura de um Tratado de revisão 4/5 dos Estados o tiverem
ratificado e um ou mais tiverem com dificuldades em obter essa ratificação.

O Tratado de Lisboa prevê dois processos simplificados de revisão dos Tratados. É neste domínio
que surgem as chamadas «cláusulas passerelle» ou «cláusulas pontes».

No primeiro processo simplificado de revisão, previsto no artigo 48º/6 TUE, os Governos dos
Estados Membros, o Parlamento Europeu ou a Comissão podem submeter ao Conselho Europeu
a alteração total ou parcial das normas da Parte III do TFUE, relativo às políticas e ações internas
da UE. O Conselho Europeu, em derrogação do processo ordinário, pode proceder às alterações
por unanimidade. O parlamento europeu e o BCE, no caso de alterações institucionais no
domínio monetário, devem ser consultados previamente. A decisão terá de ser ratificada de
forma unânime por todos os Estados membros. Este conservam o seu direito de veto.

No segundo processo simplificado de revisão, previsto no artigo 48.º/7 TE, prevê uma «cláusula
passerelle» que permite que, por decisão unânime do Conselho Europeu, uma matéria
constante do TFUE ou do Título V do TUE que até aí requeira unanimidade do Conselho passe a

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bastar-se com a maioria qualificada daquela instituição. Permite-se, deste modo, uma alteração
do direito primário pelo consenso dos membros do Conselho Europeu. Excluídas estão apenas
as decisões que possam ter implicações no domínio militar ou da defesa. Além disso, o Conselho
Europeu pode determinar por unanimidade que uma matéria que requeira processo legislativo
especial, por força do TFUE, passe a ser decidida através do processo legislativo ordinário. Estas
iniciativas deverão ser comunicadas aos parlamentos nacionais para que se pronunciem no
prazo de 6meses. Havendo oposição de um parlamento nacional, a medida não pode ser
adotada. Além disso, a aprovação das alterações exige um voto do PE por maioria dos seus
membros.

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