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Aulas Teóricas
Professora Doutora Graça Enes
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Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Nota introdutória:
Esta sebenta diz respeito às aulas teóricas do ano letivo 2018/2019
da unidade curricular de Direito da União Europeia, lecionada pela
docente Graça Enes. Tem como base os apontamentos das aulas dos
elementos da CC2 Beatriz Pinto, Inês Henriques e Ricardo Silva, bem
como o livro indicado pela docente “Manual de Direito da União Europeia
– Após Tratado de Lisboa” de Ana Maria Guerra Martins.
Bom estudo!
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Projeção de PETER – a Europa não é central (está toda a Norte) e é minúscula a sua
dimensão, relativamente a outros continentes. Está a encaminhar-se num sentido em que
o poder e a sua dimensão se aproximam. No entanto, continua a ser a mais recrutada.
Países emergentes: Rússia, Brasil.
Integração Europeia
I CRIAÇÃO – 1951/1957
Estados fundadores: França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda, Luxemburgo.
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Principais diferenças:
Tratado CECA: Tratado setorial. Os membros da Alta Autoridade tinham um
estatuto absoluto de independência face aos Estados;
Tratado CEE: Tratado de âmbito geral. Estabelece-se um mercado comum, não
setorial, mas em todas as dimensões, abrangendo todas as mercadorias, com
ligeiras exceções, como a indústria de defesa (produtos de utilização militar, tendo
que ver com a defesa dos Estados). Incluem-se os produtos agrícolas, um setor
com especial sensibilidade em toda a Europa.
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Em 1974, o Conselho Europeu elaborou uma lista do que poderiam ser interesses vitais.
Em algumas matérias, por exemplo no âmbito da cooperação judiciária e policial, assim
como na harmonização das regras da livre circulação de trabalhadores, em que um dos
Estados invoca um interesse vital, a deliberação é suspensa e a questão é remetida para os
chefes de Estado e de Governo, para que discutam a questão e consigam chegar a um
consenso para ela. Se chegarem a um consenso, a questão volta ao CM para deliberação
de acordo com as regras do Tratado.
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“Van Gend& Loos”: Alteração no regime pautal que a Holanda tinha em 1958 -
a Holanda fez uma reclassificação pautal que veio alterar a taxa. A empresa Van
Gend E Loos contesta uma norma nacional holandesa (que pretende afastar,
alegando para isso, uma disposição do Tratado), norma essa que previa um
aumento das taxas aduaneiras para um determinado produto. O caso chega ao TJ
e os governos dos vários países alegam que o Direito Internacional não pode ser
invocado por os Tratados terem como sujeitos os Estados e não os particulares.
Na interpretação que faz, o TJ chega à conclusão que o Tratado da CEE é “mais
do que um acordo meramente gerador de obrigações recíprocas entre os Estados
contraentes”, pois os Estados limitam a favor da Comunidade, que constitui “uma
nova ordem jurídica”, os seus direitos soberanos cujos sujeitos são, para além dos
Estados Membros, os seus nacionais. Logo, o Direito Comunitário não só impõe
obrigações aos particulares, como lhes atribui direitos, sendo eles livres de
invocarem esses direitos nas instâncias judiciais nacionais. Afirma-se, com este
acórdão, e pela primeira vez, o princípio do efeito direto das normas de Direito
Comunitário originário e derivado, criadoras, para os particulares, de direitos
subjetivos tutelados pelos órgãos jurisdicionais nacionais. Para ter efeito direto, a
norma comunitária deve ser prescritiva (clara, precisa), suficiente (não requerer
quaisquer medidas complementares) e não estar sujeita a condições.
O Tribunal de Justiça admite que a Ordem Jurídica Comunitária é uma nova OJ,
diferente do tal Direito Internacional Comum, pois esta OJ não vincula apenas os Estados,
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tendo sido construída para os cidadãos, da qual os cidadãos tomam parte, através da
representação nas organizações civis (sindicatos, entidades patronais). É uma OJ que não
diz respeito meramente aos Estados.
O Parlamento Europeu da época não era eleito por sufrágio direto, cabendo ao parlamento
nacional de cada EM eleger os seus representantes.
O mercado comum não é do interesse dos Estados, mas sim dos cidadãos, pois destina-se
a eles. Visa construir um espaço onde os europeus possuem um conjunto de prerrogativas.
Os particulares podem invocar as normas do tratado desde que preencham
determinadas condições para garantir e exigir dos Estados o respeito pelos direitos e
interesses que essas normas tutelam — princípio do efeito direto. Traduz-se na faculdade
que tem um particular, desde que se possa considerar destinatário da norma em causa, para
se fazer prevalecer dessa norma e exigir judicialmente, se necessário, o reconhecimento e
a efetivação dos direitos consagrados por essa mesma norma. Compreende, por exemplo,
o direito a que não lhe fosse aplicada qualquer disposição que se pudesse traduzir no
agravamento da sua situação fiscal.
Não pode ser qualquer norma, mas sim uma norma que preveja a concessão de um direito
suficientemente individualizado na esfera jurídica do particular. A norma tem de ser
prescritiva, suficiente (o regime que estabelece não necessita de complementação
normativa qualquer, apenas de execução e aplicação individualizada) e incondicional.
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As primeiras eleições para o Parlamento Europeu por sufrágio direto universal tomam
lugar em 1979. A partir daí, os membros do Parlamento Europeu passam a poder dizer
“somos nós os representantes europeus”, tendo um mandato para fazer promover os
objetivos europeus. Vimos um desinteresse progressivo dos europeus pelas eleições
europeias. O PE é determinado por formações políticas, com nuances e fações diversas,
que acarinham o projeto europeu – estão na origem de todo o projeto europeu os
socialistas, assim como o partido liberal; todas as formações políticas que eram mais
céticas sobre o projeto europeu sempre estiveram na margem.
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(presente nos últimos 3 artigos do Ato Único Europeu). É desta base que se vai
fazer avançar a política externa de segurança comum.
Beneficiaram do contexto de neoliberalização que se vivia na época. Havia, formalmente,
liberdade de circulação de trabalhadores para a prestação dos serviços; mas se era
assim no papel, havia muito a ser feito para que efetivamente se garantisse não haver
obstáculos a restringir as tais liberdades de circulação.
Por exemplo, não se reconhecendo as qualificações académicas – os diplomas – está a
impedir-se que a liberdade de circulação se efetive. Vão-se deparar com a não admissão
a concurso – se seriam médicas, advogadas, ou uma outra determinada profissão num
determinado Estado, no outro não se poderiam intitular como tal.
No que concerne às mercadorias: onde parecia que tudo seria mais simples, não o era de
facto. Exige regulamentação. O desmantelamento dos direitos aduaneiros não é suficiente
para garantir a circulação de bens.
Este projeto tomou lugar entre 1987 e 1992, através das mais de 300 diretivas que foram
organizadas para eliminar toda a panóplia de barreiras que pudessem haver.
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Princípio do reconhecimento mútuo – cada Estado pode manter, enquanto não haja
harmonização no mercado interno, regras distintas de composição e produção; no
entanto, entre os Estados tem de haver o reconhecimento mútuo dos produtos
produzidos em cada Estado, mesmo que produzidos e embalados de forma
distinta. Só pode impedir a restrição se houver razões imperativas.
Não pode ser uma restrição dissimulada ao comércio.
A Comissão afirma que só irá harmonizar o que for estritamente necessário, sendo que,
por outro lado, nas matérias não harmonizadas, é reconhecida a autonomia dos Estados
Membros. Assim sendo, irá apenas harmonizar as tais medidas onde se verifiquem as tais
razões imperativas: a título exemplificativo, a defesa do consumidor, a proteção da vida
e da saúde.
Acórdão Cassis de Dijon: A Alemanha proíbe a venda de bebidas brancas de baixo teor
alcoólico, evocando razões de proteção do consumidor. Uma empresa alemã pretendia
importar o licor Cassis de Dijon, mas está impedida de o comercializar. A empresa
contesta a decisão em tribunal, afirmando que estava em causa uma discriminação e uma
restrição quantitativa, proibidas pelos Tratados. A questão foi enviada para o TJ, que se
pronunciou afirmando que “não existe fundamento válido para impedir que bebidas
alcoólicas, legalmente produzidas e comercializadas em outros Estados-membros, sejam
introduzidas em qualquer outro Estado-membro”. É assim estabelecido o princípio do
reconhecimento mútuo, que elimina, em grande parte, a necessidade de harmonização
legislativa.
Fase de refundação do projeto europeu que decorre até hoje, que não está totalmente
completa ou definida, seja quanto à natureza dos objetivos, seja à densidade das
políticas a desenvolver. O projeto da UE tem de ser refundado. Deverá ser num
sentido mais federalista ou deveremos tomar uma via mais pragmática?
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A adesão à NATO foi mais rápida, antecedendo a adesão à UE – esta última implica
uma partilha de valores, assim como um conjunto vasto de condições políticas, jurídicas
e até práticas, respetivas ao funcionamento da UE, que tornam esta uma adesão mais
difícil do que à NATO (que impõe questões de segurança e defesa).
Todos estes efeitos que se previam colocavam reticências a alguns responsáveis no lado
ocidental, tornando o processo demorado.
Tal alargamento só se veio a verificar em 2004 e 2007, com o alargamento a 12 Estados
de Leste. Não pode haver mercado interno sem uma União Económica e Monetária –
projeto da década de 70 que ficara adormecido e renascera em 1990. Concretizou-se num
grande espaço económico sem fronteiras.
Ao mercado interno tem que seguir, logo, uma união económica e monetária. Só faltava
uma moeda única para que exista um espaço económico paralelo às grandes economias
do mundo, como os EUA.
Ao longo da década de 70, viveu-se um grande período de instabilidade
monetária. Foram criados mecanismos que visavam criar alguma estabilidade. A
estabilidade cambial, por exemplo, provoca perturbações no comércio, pois
quando se adquirem mercadorias temos que pagar determinado preço.
Foi criado um mecanismo chamado Sistema Monetário Europeu (SME) — a flutuação
cambial era limitada por limiares máximos e mínimos de subida e descida das moedas;
tal implicava uma intervenção dos bancos centrais quando surgisse algum desequilíbrio
(teriam de injetar moeda ou retirar moeda, o que tem custos, não só para a economia,
como para o banco em si).
Jacques Delors fora encarregado pelos governos dos Estados de preparar um projeto de
união económica e monetária. Em 1990, foi reunida uma conferência diplomática com
vista à revisão dos tratados para introduzir e instituir uma união económica e monetária,
a par do mercado interno.
Plano Werner, 1970 – previa a criação de uma política monetária comum, a
aproximação das políticas económicas dos Estados e a criação da moeda única,
ou, pelo menos, o congelamento das taxas de câmbio entre as moedas europeias.
O plano não vingou.
Apesar disso, em fevereiro de 1971, os “Seis” decidiram avançar com a União
Económica e Monetária em 3 fases. A crise mundial não foi propícia à sua criação.
Apesar do fracasso, em 1977, o Presidente da Comissão propôs a Criação de um
Sistema Monetário Europeu – que entrou em vigor em 1979.
Não pode haver uma união económica e monetária sem uma união política - só desta
forma se poderia assegurar a grande Alemanha no projeto europeu. Os alemães trocaram
o seu marco pela ideia deste projeto, o que permitira à Europa ser uma realidade e
potência política.
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comum, na sua dimensão externa; e uma dimensão interna, que se veio a traduzir no
espaço de cooperação em matéria judicial e policial. O risco tem a ver com a segurança
interna. Tal como circulam as pessoas, podem circular os criminosos, surgindo uma maior
necessidade de segurança.
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A integração europeia, desde as Comunidades, tem uma inspiração que resulta de uma
experiência histórica de alguns EM que é anterior aos próprios tratados comunitários, que
é o BENELUX — união económica e monetária, assim como uma união política. Reúne,
desde 1943, uma união entre si, para, na perspetiva do pós-guerra, poderem desenvolver
políticas comuns e servir de exemplo. Havia uma unidade política monetária, que era
definida em comum, apesar de existirem duas moedas; nos domínios da segurança interna,
da liberdade das pessoas, é no BENELUX que elas são primeiramente evidenciadas e
trabalhadas. Em 1995, é celebrado um acordo de cooperação em matéria policial e judicial
que garante a liberdade de circulação das pessoas. A partir da experiência do
Luxemburgo, cria-se um espaço de circulação que se pretende que seja um espaço de
segurança. Pretendia-se aprofundar medidas que diziam respeito ao reconhecimento e às
questões de foro judicial.
Três pilares:
1. Comunidades europeias
2. PESC (Política Externa de Segurança Comum) – conjunto de questões relativas
à segurança da União Europeia, incluindo a definição a termo de uma política de
defesa.
3. AIJ – desenvolvimento de uma cooperação estreita no domínio da justiça e dos
assuntos internos.
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A Comissão, à época, era constituída por dois comissários indicados pelos Estados
maiores e um indicado por Estados de menor dimensão. Se fosse replicado este molde
com o alargamento ao centro leste europeu, teríamos uma Comissão com mais de 30
membros, tornando-se um parlamento. A comissão era um órgão paritário, em que o
estatuto e o poder de cada comissário era exatamente igual. Desde o primeiro alargamento
começava-se a perceber a imperatividade da reforma das instituições, que foram feitas
para seis países inicialmente.
A necessidade de revisão do sistema institucional vinha sendo reclamada desde o
primeiro alargamento, tendo-se tornado, contudo, mais urgente à medida que
novos membros iam aderindo às comunidades. Com efeito, o sistema institucional
– que tinha sido pensado na década de 50, para 6 Estados Membros – mostrava-
se incapaz de responder aos desafios da União de 15, situação que se foi agravando
com os sucessivos alargamentos (sobretudo resultantes da queda do Muro de
Berlim – pedidos de adesão dos Países da Europa Central e Oriental);
A reforma do sistema institucional da União afigurava-se, portanto, inevitável.
Aliás, o sentimento de insatisfação perante o quadro institucional europeu,
partilhado pela Comissão, Parlamento Europeu e Conselho, chamavam à atenção
pela falta de eficácia e de democracia do mesmo.
Pretendia-se diminuir o número de comissários, aumentar os casos de votação por
maioria e alterar o sistema de ponderação de votos. Antes do próximo alargamento
da União, a Comissão deveria ser composta por um nacional de cada Estado –
compensar os Estados que viessem a perder um comissário, os Estados grandes.
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2004 -2007 (2013) – o grande alargamento aos PECO. A Europa dos 28: França,
Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Reino Unido, Irlanda,
Dinamarca, Grécia, Portugal, Espanha, Áustria, Finlândia, Suécia, Chipre, Malta,
Eslovénia, Eslováquia, República Checa, Polónia, Hungria, Letónia, Lituânia,
Estónia, Roménia, Bulgária, Croácia.
REFUNDAÇÃO II — 2003-2009
Verificavam-se situações casuísticas, como o espaço Schengen, pois alguns Estados não
participaram de início ou não vieram participar, tomando como exemplo o Reino Unido.
Além disso, contam-se situações especiais em relação a alguns Estados, como os novos
Estados de leste, que não tinham condições administrativas, de gestão e segurança, com
possibilidade de ter um espaço aberto, sem controlo de trânsito com outros Estados.
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A Convenção, reunião magna que não era diplomática, mas que, mesmo assim, foi capaz
de criar um documento fundador tão importante como a Carta dos Direitos Fundamentais,
deu o ímpeto necessário para a criação de um projeto europeu mais consolidado.
Muitos entendem, particularmente os alemães, que era necessário fazer avançar o projeto
na sua direção política, principalmente. Avançar na federalização, garantindo uma
estabilidade dos objetivos, para que não fossem diminuídos. Temos que constitucionalizar
a Europa.
A primeira proposta que inicia este debate foi apresentada num debate universitário, por
um alemão, expressando o desejo do avanço europeu. A Europa não poderia aprofundar-
se com um alargamento de modo uniforme, desenvolvendo-se um mais rápido e outros de
modo mais lento.
Era necessária uma Europa com um “hard core” – um núcleo duro - houve, das partes dos
parceiros, uma vontade de negociar. O risco era ficar para trás, caso não o fizessem. Em
2003 houve lugar para o tratado constitucional, que iria ser materialmente, ainda que
sobre a forma de tratado internacional para os Estados, uma Constituição Europeia para
os Estados. Temos de reconhecer que a Europa tinha de se assumir como uma entidade
política e federal. Vamos fazer isto de forma mais aberta possível. Vamos reunir uma
grande convenção participada pelas diversas instâncias europeias e nacionais, com um
debate aberto à sociedade civil permanente, reunindo-se a convenção para formular e
firmar a Constituição.
Depois de aprovado, este documento teria que passar pelos procedimentos de ratificação
dos EM. Vai confrontar-se, mais uma vez, com referendos. Existem duas respostas
negativas que vão “matar” o projeto - a resposta dos holandeses e dos franceses.
Perceba-se que não havia nada que se pudesse fazer para levar a um referendo positivo.
A unificação dos pilares sob a UE, com fim da Comunidade Europeia, assente
em dois Tratados Fundamentais (TUE e TFUE);
A atribuição de valor jurídico vinculativo à CDF;
A manutenção da CEEA.
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consagrado, caem, passando para uma declaração anexa ao tratado. Além do primado,
uma reivindicação antiga dos juristas era a clarificação das fontes do Direito, da própria
OJ da União, pois continua a ser escassa a diferença entre ato legislativo (atos mais
solenes, que correspondem, efetivamente, a leis) e ato regulamentar (se são de carácter
legislativo ou meros atos regulamentares). Este tratado falava de lei-quadro e depois de
regulamento.
Temos uma unificação dos pilares, mas não temos uma uniformização plena do
regime jurídico das várias áreas. Aquilo que estava no terceiro pilar, que já só era a
cooperação policial e a cooperação judiciária penal, transita para o Tratado sobre o
funcionamento da UE - integração do terceiro pilar no primeiro, com ligeiras nuances; a
PESC é unificada num regime unitário, continuando a ser um domínio completamente
regulado pelo Tratado da UE, como um restício daquela autonomização entre pilares,
mantendo características que lhe dão contornos mais intergovernamentais, como a
ausência de uma vinculação ao quadro jurídico comum da PESC e ainda a prevalência da
unanimidade; este domínio foi o menos reformado de todos. Com a política comunitária
de defesa e segurança pretende-se reforçar a capacidade política de segurança, o que se
torna difícil com a variedade de Estados — o Tratado de Lisboa unifica os pilares.
REFUNDAÇÃO III
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e República Checa, nem Croácia – desde 1/1/2013; o título III apenas vincula 22
EM – os 19 do € e Bulgária, Dinamarca e Roménia);
A união bancária;
O Pilar Europeu dos Direitos Sociais - visa reforçar a dimensão de reforço da
resiliência social; pode passar por direitos já consagrados, mas permitindo uma
articulação entre eles que conduza a uma harmonização;
O semestre europeu.
Tudo isto se consegue resolver impondo critérios financeiros rigorosos que vão disciplinar
aqueles Estados mais desobedientes. Contudo, tal não funcionou devidamente. O primeiro
Estado a violar os princípios da política económica comunitária fora a Alemanha.
O avanço da PCSD
o A “Estratégia de Segurança Europeia” de 2003
Alteração do quadro da segurança internacional, com o problema do
terrorismo, com o 11 de setembro. Os Estados do leste europeu são Estados
que têm sérias dificuldades em relação a qualquer projeto ou iniciativa para
uma política de defesa comum, pois eles olham para os EUA como sendo
o seu detentor e causador de distúrbio.
o A PCSD prevista no Tratado de Lisboa
A UE disponibiliza, através dos exércitos dos Estados, meios para garantir
aquele quadro de paz, para irem para o terreno e manter estabilidade numa
dada região, em áreas como África e Bósnia. Primeiro avanço no sentido
de reforço destas capacidades.
o A Cooperação Estruturada Permanente (PESCO)
Prevista no art. 42.º TUE. Pode ser feita individualmente ou a partir de
estruturas comuns. A nossa segurança é tão débil que não temos um
sistema de interseção de satélite comum; é um projeto que anda há anos a
ser desenvolvido, de modo a obter uma independência dos norte-
americanos — projecto Galileo. A diferença reside no poder político-
militar (exemplo dos EUA e da China, que têm um exército próprio, assim
como uma grande influência política).
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Temos uma Alta Autoridade, que toma as decisões por maioria; um Conselho de
Ministros que confere tal legitimidade política e um Tribunal com competência
compulsória. Tal ia permitir, a prazo, construir uma federação.
Os Estados vão sendo esvaziados de competências, integrando-se na sua ordem jurídica
as definições determinadas a nível internacional, de forma a garantir a paz internacional.
As Nações Unidas têm garantido a paz, mas não têm impedido que os Estados se
continuem a manter como o centro do poder internacionalmente.
Na crise da cadeia vazia, esta teoria perde valor, vemos afirmar-se a soberania dos Estados
na sua conceção mais tradicional - o Estado diz que não aceita decisões por maioria
qualificada contra os seus interesses vitais. Ressurgem teorias intergovernamentalistas,
inspiradas no realismo internacional.
Valores:
o Inspiração identitária;
o Respeito pela dignidade humana, liberdade, a igualdade, a democracia;
o Respeito pelos direitos humanos, direitos fundamentais.
Os últimos dois valores enunciados não só são valores da UE, como são universais. A UE
pauta-se por estes valores, não apenas na sua esfera interna, mas também os tem presentes
no âmbito das relações externas, considerando que são válidos internacionalmente. São
valores para toda a humanidade.
Indivisibilidade dos direitos - não há direitos com um estatuto privilegiado, direitos com
um maior estatuto, porquanto outros são de menor estatuto, podendo ser reduzidos.
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Tribunal EFTA – passou a ter um tribunal por causa do Espaço Económico Europeu.
Será que os Estados não estarão já impedidos de rever os tratados no sentido de reduzir
as competências comunitárias à época? Não podiam os Estados vir a eliminar o acervo
comunitário? Há uma progressividade definitiva. Não haveria hipótese de eliminar
competências que tivessem sido atribuídas às comunidades – o acervo estava
definitivamente consolidado. O Tratado de Lisboa veio a dar uma resposta positiva,
normativa vigente – a resposta não é nesse sentido. A referência ao acervo comunitário
desaparece. Não obstante, no seu artigo 48.º regula-se a revisão dos tratados – pode ser
no sentido de conferir competências, aprofundá-las ou até reduzi-las. Logo, o acervo não
é definitivo.
A integração Europeia tem toda uma complexidade que à primeira vista não é visível. O
regime que encontramos molda-se segundo quadros federais – é uma entidade sui generis,
reconhecendo-se o seu carácter específico e ao mesmo tempo inovador no âmbito das
relações internacionais, bem como a incapacidade de se enquadrar nas categorias
dogmáticas tradicionais.
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apelido da mãe. Isto entra em conflito com o Código Civil belga, que estabelece
que o último apelido de uma criança deve ser o último apelido do pai. C. Garcia
Avello, de nacionalidade espanhola, casa com uma cidadã belga e pretende que os
seus descendentes, com dupla nacionalidade, sejam registados na Bélgica de acordo
com a tradição espanhola. A sua pretensão é recusada pelo governo belga, que
alega a defesa da identidade nacional («o princípio da imutabilidade do apelido
constitui um princípio fundamental da ordem social belga»). Contudo, o TJ decide
em sentido oposto, afirmando que não é legítimo que um Estado-membro «recuse
dar seguimento favorável a um pedido de alteração de apelido de crianças
residentes nesse Estado-Membro e que disponham da dupla nacionalidade desse
mesmo Estado e de outro Estado-Membro, quando o referido pedido tenha por
objetivo que as crianças possam usar o apelido de que seriam titulares ao abrigo do
direito e da tradição do segundo Estado-Membro.»
Acórdão Sayn-Wittgenstein (C-208/09): uma cidadã austríaca residente na
Alemanha adquire, na Alemanha, um título nobiliárquico. Por uma decisão do
tribunal constitucional austríaco num processo análogo, é informada de que verá o
seu nome retificado no registo civil austríaco. Em causa está a proibição que a
constituição da Áustria faz à utilização de títulos nobiliárquicos, invocando-se
razões de ordem pública atinentes ao princípio republicano que orienta o regime
político austríaco, tratando-se, pois, de saber se deve o direito comunitário
respeitar a identidade nacional do Estado. Por seu turno, a cidadã alega que vê
posto em causa o seu direito de livre circulação e de livre prestação de serviços. A
decisão do TJ vai no sentido de considerar que o direito da UE «não se opõe a que as
autoridades de um Estado‑Membro possam recusar reconhecer o apelido de um
nacional desse Estado quando este apelido engloba um título nobiliárquico que não
é admitido no primeiro Estado‑Membro por força do seu direito constitucional.».
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o Prevê que, nos domínios que não sejam da sua competência exclusiva, a
União intervém apenas se e na medida em que os objetivos da ação
encarada não possam ser suficientemente alcançados pelos EM, tanto ao
nível central como ao nível regional ou local, devido às dimensões ou
efeitos da ação considerada serem mais bem alcançados ao nível da União.
o A aplicação deste princípio pressupunha uma prévia definição da
repartição de atribuições entre as Comunidades e os EM. Após o
apuramento prévio do caráter exclusivo ou concorrente de determinada
atribuição, os órgãos comunitários competentes antes de atuarem tinham a
obrigação de averiguar se a ação que pretendiam levar a cabo preenchia o
critério de suficiência dos Estados, pelo qual se averiguava se os objetivos
da ação encarada não podem ser suficientemente realizados pelos Estados
e o critério da maior eficácia da Comunidade, de acordo com a qual se
apreciava se os objetivos da ação encarada, devido à sua dimensão ou aos
seus efeitos, não podiam ser melhor alcançados pela Comunidade.
o Preservação da autonomia e liberdade das pessoas, que a intervenção
pública deve fazer subsidiariamente, quando se exige uma intervenção
pública na autonomia das pessoas. As intervenções das autoridades do
Estado devem intervir quando necessário para garantir objetivos
essenciais. Ex: preservação da autonomia familiar.
o As decisões devem ser tomadas ao nível mais próximo dos cidadãos, da
realidade em que incide. Aponta para uma prevalência do Estado, mas
também, dentro do Estado, do que são as esferas de poder mais próximas
— regiões e poder local. Orientando, apesar de salvaguardar a autonomia
dos Estados na sua organização política interna, mas fazendo a referência
à salvaguarda da autonomia regional e local no interior do próprio Estado.
o Âmbito de aplicação — competências não exclusivas (art. 3.º, n. º1 TFUE)
— não é aplicável o princípio da subsidiariedade.
o Diz respeito ao exercício das suas competências. Princípio de exercício de
competências, e não um princípio de divisão do exercício de competências.
Quando tendo ela competência, deve a UE agir, exercer essa competência.
Critérios:
- Positivo
No âmbito do exercício, este princípio apenas tem relevo no âmbito das competências
não exclusivas. São competências partilhadas pela União e os Estados.
Quem deve intervir em cada momento? O princípio da subsidiariedade dá-nos os critérios
que vão presidir.
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Critérios:
Negativo: insuficiência dos Estados para alcançar o objetivo que aquela
atribuição/competência determina. Os Estados, por razões diversas, não serão
capazes de dar resposta normativa necessária para alcançar o objetivo que se
pretende promover ou salvaguardar os interesses necessários.
Positivo: é necessário que se revele uma efetiva mais-valia da intervenção da UE.
A UE não dispõe de meios, o tipo de ação transcende a própria esfera de
intervenção da UE.
Indícios que permitem concluir que a ação não será suficientemente alcançada pelos
Estados, e será alcançada positivamente pela UE — art. 5.º/3:
A natureza dos efeitos que a ação da UE pode ter e a dimensão da ação que é
necessária. Ex: em matéria ambiental, ainda que os problemas possam ser locais,
o alcance dos efeitos desses problemas locais é muitas vezes transfronteiriço. Só
com respostas que ultrapassem essas fronteiras, com uma resposta global da UE,
é que se pode, efetivamente, garantir o alcance dos objetivos.
Quando se fala das questões em torno da UBER, uma das alegações da mesma,
quando encontra resistências à prestação dos seus serviços, foi que há, nessas
medidas estaduais, uma afetação da liberdade de prestação de serviços no mercado
interno. Qualquer medida que seja tomada ao nível do Estado pode afetar a livre
prestação de serviços. Não obstante, os Estados têm regras diferentes, pelo que a
solução passará por uma regulação a nível comum.
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Tratado de Lisboa: introduziu, para além do controlo judicial (art. 263.º), o controlo
político a exercer pelos Parlamentos nacionais, regulado no protocolo anexo ao Tratado,
A melhor forma de fazer o controlo é fazer intervir aquelas instituições que são os
representantes legítimos dos povos europeus e das democracias nacionais, que são os
Parlamentos.
Controlo:
Judicial (art. 19.º, n.º 1 TUE / 263.p (267.º TFUE)
Político - Protocolo - Parlamentos nacionais.
Que características têm estes princípios? Tendo valor jurídico todos eles – todos
encontram uma base no Tratado, substantivamente do ponto de vista do seu
alcance têm uma incidência política e não somente jurídica.
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o Importância e relevo que tem este instituto. Foi criado pelo Tratado de Maastricht.
É um instituto simultaneamente com a criação da UE, agregando as comunidades
pré-existentes.
o O seu regime fundamental foi previsto no TFUE, inserindo-se na não
discriminação (princípio coevo com o início da UE, a não discriminação em
função da nacionalidade e não discriminação do género em matéria de trabalho;
tem toda uma história, um funcionamento que não é inteiramente coincidente com
a cidadania da União) e cidadania da União.
o De acordo com o artigo 9.º, a cidadania da União é concedida a todos os
nacionais dos EM. É uma cidadania derivada, não originária, cujos
pressupostos e requisitos são definidos pelo DUE, embora tivesse havido ao longo
do tempo propostas nesse sentido. É conseguida por toda e qualquer pessoa que
residisse legalmente na UE por um período mínimo – 5 anos. Ao fim de 5 anos,
qualquer pessoa, mesmo proveniente de um Estado terceiro e não tendo
nacionalidade de um EM, adquiria a cidadania da União, fruto dessa residência
permanente e contribuição para a própria comunidade local. É uma cidadania
derivada da nacionalidade dos Estados.
Esta atribuição é uma competência própria dos Estados, definindo-a com inteira
autonomia. É uma competência que integra os princípios fundamentais da identidade
constitucional dos Estados. Há modelos distintos da atribuição da cidadania e da
nacionalidade – ius soli (lugar de nascimento); ius sanguini (ascendência de alguém que
tem essa mesma nacionalidade). É sempre uma competência dos Estados, que influencia
a cidadania da União.
É uma cidadania secundária. Ela de modo algum substitui a cidadania nacional.
Há uma secundarização desta cidadania que lhe dá um lugar inferior do ponto de vista do
estatuto fundamental para as pessoas, sendo que não se impõe nem se sobrepõe à
cidadania nacional. Previu-se um conjunto de direitos associados à titularidade dessa
cidadania. No entanto, eram novos direitos, antes conseguidos pelo menos uma das suas
dimensões, pelas liberdades do mercado comum após o mercado interno, e estavam
contemplados em atos de direito derivado (diretivas). Elevam-se estes direitos já
consagrados ao nível do direito secundário para o estatuto da cidadania da União
previsto no Tratado.
Críticas:
Era uma cidadania de direitos, sem ter como outra face aquilo que normalmente
se intui aos cidadãos dos Estados, o que é uma identidade, lealdade para com o
ente político (no caso nacional é o Estado), que confere e reconhece esse estatuto
de cidadania. Relativamente à cidadania dos Estados, testamos se aquela pessoa
tem uma ligação com o concreto Estado e sociedade, por exemplo. Quando
estrangeiros pretendem obter uma naturalização, são muitas vezes sujeitos a um
conjunto de testes que vão comprovar que aquela pessoa está integrada na
sociedade e partilha de valores e princípios fundamentais da sociedade em
questão, falando a sua língua e conhecendo a sua história. A atribuição da
cidadania da UE é automática, não pressupõe qualquer tipo de conhecimento
sobre ou adesão ao projeto europeu.
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A capacidade eleitoral passiva e ativa para as autarquias locais. Isto não era
algo inteiramente revolucionário. Sujeito a regras definidas pelo direito derivado
da UE. Em alguns Estados, como a França e o Luxemburgo, há alguns
condicionamentos. Tem a ver com a organização político-administrativa francesa
e a dimensão elevada de comunidades migratórias no Luxemburgo. Este direito, a
capacidade eleitoral, quer ativa quer passiva, é apenas para as autarquias locais, e
não para os órgãos de soberania (poder legislativo do Estado). A outra dimensão é
especificamente europeia. É um direito semelhante, a exercer não pelo estado de
nacionalidade, mas pelo estado de residência, nas eleições para o Parlamento
Europeu, pelo que o cidadão da UE pode votar e ser candidato nas eleições para a
UE, dado o Estado em que reside (e não o Estado de nacionalidade). Permite dar
mais substância à legitimidade democrática do Parlamento Europeu pelos
cidadãos da União.
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1. Caso “ROTTMAN”
O senhor era austríaco e solicita a nacionalidade alemã, sendo-lhe a mesma
concedida. Veio-se a detetar que ele não preenchia os requisitos impostos
pela lei alemã, obtendo a cidadania de modo fraudulento. A Alemanha
pretendia retirar-lhe a cidadania que lhe dera. Na Áustria, não se previa a
possibilidade de dupla nacionalidade: quando alguém requer/obtém uma
outra nacionalidade, automaticamente perdia a nacionalidade austríaca, o
que aconteceu. As autoridades alemãs, quando pretendem retirar a
nacionalidade alemã, podem estar a originar uma situação de apatridia. O
senhor alega que, fruto da cidadania da União, ele estava, por força da
eventual perda da cidadania nacional, a perder o estatuto de cidadania da
União. O TJ proclama: as autoridades nacionais e o tribunal a nível interno
devem ponderar essa consequência para aferir da validade e da medida em
que seja possível a retirada da nacionalidade obtida fraudulosamente. Este
efeito pode ser violador de princípios fundamentais ou até
desproporcionado.
2. Caso Holandês
Perda de nacionalidade por não residência ou não permanência no
território holandês por mais de 10 anos. Quando não haja uma conexão
qualquer com o território da Holanda, prevê-se a perda da nacionalidade.
Princípio Democrático - Preâmbulo TUE; Artigo 2.º TUE; Artigo 9.º TUE
(“igualdade dos cidadãos”); Artigo 10.º TUE (“Democracia representativa”);
Artigo 11.º TUE (“Democracia Participativa” – a “Iniciativa de cidadania”;
Artigo 12.º (Parlamentos nacionais); Artigo 14.º TUE (Parlamento Europeu);
Artigo 24.º TFUE; Artigos 39.º e 40.º CDF; Protocolo relativo ao papel dos
parlamentos nacionais na União Europeia
o Artigo 9.º TUE: — igualdade entre os cidadãos, na medida em que todos
são iguais perante a lei e participam de modo igual nas competências da
UE.
o O valor da democracia faz igualmente parte das tradições constitucionais
comuns dos Estados-Membros, tendo sido afirmado pelas Comunidades muito
antes de constar do articulado dos Tratados.
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NOTA:
Livro verde — a Comissão vai analisar uma determinada questão para encontrar
quais os problemas, interesses, objetivos e o que há de relevante e necessita de
intervenção. São colocados à consulta pública, que pode não ser aberta a todas as
pessoas, mas apenas a entidades relevantes da sociedade civil. É elaborado sobre
a forma de perguntas diretas; é perguntado quais as questões consideradas
relevantes e a resposta dada às mesmas.
Livros brancos — conclusões que resultam da análise do livro verde, podem ser
as conclusões regulatórias. São objeto de discussão pública, permitindo a
pronúncia sobre elas. Daqui resultará a proposta da Comissão, com a escolha de
uma das alternativas do livro branco, prevalece uma opção. A proposta será
fundamentada de acordo com a análise que tiver sido feita.
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Não discriminação - Artigo 2.º TUE; Artigo 10.º TFUE (as múltiplas dimensões e
transversalidade); Artigo 18.º TFUE (nacionalidade); Artigo 19.º TFUE; Artigo
21.º CDF; Diretiva 2000/43 (raça, etnia); Diretiva 2000/78 (Religião, idade,
orientação sexual, deficiência no trabalho); Diretiva 2006/54 (género no
trabalho); Diretiva 2004/113 (género no acesso e oferta de bens e serviços)
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Livre circulação e permanência - Artigo 20.º TFUE; Artigo 45.º CDF; Diretiva
2004/38 (caso “Jipa”, caso “Carpenter”; caso “Rendon Marin”; caso “Chavez-
Vilchez”; caso “Coman”)
o Princípio associado à cidadania, mas que aparece autonomizado na
CARTA DOS DFS, sobretudo porque é um princípio que tem uma
dimensão múltipla com alguma autonomia: domínio da livre circulação
associada a uma atividade económica, seja uma atividade laboral subordinada,
seja na prestação de serviços como atividade autónoma; ganhou uma
amplitude que é o direito de circular livremente sem qualquer base e
fundamento económico, sem qualquer justificação associada às outras
liberdades. É transversal, abrange todos os domínios.
o Caso que envolve um nacional contra o Estado búlgaro, que o impede de sair
do seu território quando ele pretende circular para a Bélgica. Razões
invocadas: a Bulgária, antes de aderir à UE, tinha celebrado com a Bélgica um
acordo comprometendo-se a garantir que nacionais seus que tivessem sido
expulsos da Bélgica por razões resultantes da prática de atos criminosos, por
razões de segurança e ordem pública, seriam impedidos, pelas autoridades
búlgaras, de retornar ao território belga onde pudessem continuar atividades
de índole criminosa. A Bulgária adere à UE, mas as suas autoridades impedem
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esquecimento. É uma criação do TJ que acaba por penetrar as ordens jurídicas dos
Estados e até a nível internacional com outro alcance.
Todos os desenvolvimentos conduziram à CARTA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS, que ganhou valor jurídico com o Tratado de Lisboa, em 2009. Tem,
sobretudo a partir das suas disposições finais, uma dimensão estritamente de
sedimentação do direito constituído nesta matéria; vai a par com a preservação do alcance
do artigo 6.º, n.º 2 e n.º 3 (tradição constitucional comum dos Estados), que se mantém
como a base jurídica e é a consagração da jurisprudência na tutela dos bens essenciais.
Independentemente de grande parte destes direitos encontrarem uma tutela na CDF, a sua
tutela originária continua a ser a do art. 6.º. A carta sedimenta aquilo que já era parte do
DUE. A tutela reforçada tinha que resultar da sua articulação sistemática com outras
normas do DUE. Ou a tutela reforçada é conferida em diretivas, que desenvolvem esses
direitos, ou a sua interpretação vai mais além, resultado da sua integração sistemática com
o TFUE. Esta é a lógica da jurisprudência do Tribunal, patente no art. 6.º. Há uns
protocolos anexos ao Tratado e uma declaração que colocam algum condicionamento ao
alcance da Carta: derrogações e isenções em relação às obrigações conferidas pelo DUE,
por parte do Reino Unido. Existe a indicação de que a CDF não implica aqui qualquer
transferência de soberania ou alargamento das competências, havendo uma espécie de
reserva do Reino Unido em relação aos direitos consagrados na Carta. Segue-se a Polónia,
que tenta encontrar alguma derrogação nesta matéria.
Em relação à tutela dos DF conferida pelo DUE, é preciso garanti-los, e não
apenas enunciá-los. É na efetivação que se lhes dá um verdadeiro alcance, papel este dos
tribunais, com particular destaque para o Tribunal de Justiça. Na sua resposta casuística
vamos vendo o alcance concreto que é reconhecido aos DF. Esta tutela está condicionada
ao alcance do Direito da União, às atribuições da EU; não vai para além do quadro do
tratado do art. 6.º e do quadro da Carta, uma vez que esta não implica um aumento de
competências. Vincula as instituições da União e o desempenho das suas competências
no quadro da União.
Como limites, sabemos que não vincula os Estados no quadro das suas
competências próprias e reservadas; estes estão vinculados ao DUE, e são eles próprios
aplicadores executantes do Direito da União.
Verificamos uma incidência transversal da garantia do respeito pelos direitos
fundamentais no quadro do DUE. Temos 2 faces de incidência dos DF:
Face interna — aquilo que é o alcance interno da tutela dos DF; vincula as
instituições, pelo que o desrespeito dos DF é um vício que encarrega a respetiva
nulidade.
Face externa — não tem o mesmo impacto. A tutela dos DF está contemplada
também nas condições que a União deve respeitar no desenvolvimento da sua ação
externa, promovendo os seus interesses e valores nas relações internacionais.
Uma consequência do respeito pelos DF é a cláusula de Direitos Humanos, que,
desde 2009, é uma cláusula obrigatória em todos os acordos celebrados.
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enquanto não tivermos um sistema da tutela dos DF que confira uma tutela semelhante,
de idêntico alcance, não poderemos, na Alemanha, admitir que DF consagrados na
Constituição Alemã, possam ser afetados e restringidos se na UE não existe esse quadro
de garantia - que passa pelos DF terem uma autonomia jurídica. Não podemos deixar,
porque esse é o nosso mandato constitucional, de exercer esse mandato.
Em 1986, com o Solange 2, temos a mesma perspetiva, mas uma conclusão
diversa: as CE dispunham de um sistema de tutela dos DF que não era igual ao da
Alemanha, mas que era de idêntica proteção. Logo, o tribunal alemão prescinde de fazer
um controlo sistemático e casuístico da tutela dos DF a propósito da implementação dos
atos comunitários. Reconhecimento do TCA que já tínhamos alcançado um quadro de
garantia dos DF semelhante ao garantido pelo sistema jurídico alemão.
Princípios fundamentais que o quadro do Tribunal Constitucional Alemão impõe
que sejam garantidos: presunção de inocência, princípio da legalidade, princípio da não
retroatividade, princípio da não admissibilidade da dupla incriminação. É uma nova
salvaguarda que se vem a reconduzir à tutela da designada “identidade constitucional”
dos Estados.
Com Itália, a saga foi semelhante.
Temos, num primeiro momento, uma resistência ao alcance do Costa Enel. Com
a alegação da garantia dos DF da Constituição, os tribunais italianos afirmam que não
poderão pôr em causa a tutela dos DF constitucional para assegurar a aplicação efetiva do
direito comunitário. O Direito Constitucional dos Estados não pode ser de modo algum
afetado pelo Direito Comunitário, reservando aos Estados o poder de fazer esse escrutínio.
Há que reconhecer que o direito comunitário é um sistema jurídico onde são
tutelados os DF’s.
Caso Taricco
O que estava em causa era o uso fraudulento de fundos comunitários, no âmbito
dos fundos estruturais. O senhor Taricco e outras pessoas são acusadas de fraude
financeira dos fundos comunitários. A imposição aos EM de adotarem todas as medidas
necessários para garantir que previnem e combatem devidamente a utilização fraudulenta
dos fundos da UE, é a proteção dos interesses financeiros da UE. A justiça italiana é lenta e
o processo está muito tempo em investigação até que haja acusação. Na defesa, Taricco
alega que já tinha prescrito o procedimento criminal.
O juiz italiano, com o reconhecimento do art. 325.º, resolve colocar ao TJ algumas
questões: se a legislação italiana, em matéria de prescrição, não é incompatível com o
Tratado e o DUE, pois não garante que aquele objetivo e obrigação dos Estados é
assegurado a nível interno. O TJ vem a entender que a legislação italiana tem como
consequência que há sistematicamente uma situação em que os interesses financeiros da
UE não são garantidos, sendo que pode concluir-se que o sistema italiano e as suas regras
são uma violação do Tratado.
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os Estados não têm que provar que determinada intervenção se inclui na sua capacidade
jurídica, a União tem.
No início das comunidades, os limites das atribuições eram mais restritos. Não
havia qualquer objetivo de cooperação na política externa. Não havia objetivos tão
ambiciosos.
A defesa militar não é um domínio que está nas atribuições da União Europeia.
Por outro lado, a política de defesa pode vir a evoluir para uma defesa comum, mas que
terá que passar por uma estrutura organizativa, que passaria a estar integrada na União,
ressuscitando, assim, um projeto de 1952/1953.
No artigo 4.º/2 estabelecem-se as competências próprias do Estado. Quanto à
manutenção da segurança interna do Estado, o próprio tratado o determina como
competência dos Estados. O facto de a União não prever como sua competência era
suficiente. No entanto, os Estados, não fosse a ambição da União, preferiram deixar bem
claro que esta era uma competência sua.
Todas as matérias que não são competência da União são da competência dos
Estados. É uma concessão perigosa – há domínios no panorama internacional que não são
do Estado. Apesar de não serem da União, também não são dos Estados.
No artigo 352.º estão configuradas as cláusulas subsidiárias do Tratado.
Parecer 2/09 – três patentes na Europa, três tutelas de invenções com níveis de
alcance diversos. A criação do Tribunal de patentes atentava contra a autonomia
do ordenamento jurídico: quanto atentamos contra as competências de um dado
órgão, estamos a atentar contra a autonomia que ele tem no âmbito da UE.
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*Ver também Parecer 2/91, Parecer 1/03, Parecer 1/13 e Parecer 2/15.
Deste modo, nestes domínios, só a União pode legislar e adotar atos juridicamente
vinculativos, sendo que os Estados-membros só podem fazê-lo mediante habilitação da União
ou para implementar esses atos – aqui, os Estados têm em geral uma competência executiva
– artigos 2º, nº 1 e 291º, nº1 TFUE.
Depois, temos as competências partilhadas, previstas no artigo 4º, nº1 TFUE, no
Protocolo relativo ao exercício das competências partilhadas e na Declaração 18, que
pressupõem que a União e os Estados-membros podem legislar e adotar atos juridicamente
vinculativos. Os Estados exercem a sua competência na medida em que a União não tenha
exercido a sua ou em que a tenha deixado de exercer – artigo 2º, nº2 TFUE - princípio da
preempção. Este princípio determina então que à medida que a UE exerce competências que
não são à partida exclusivas, ela vai apreendendo essas competências, tornando-as suas e
excluindo a competência dos estados para agir. Portanto, o exercício de uma competência por
parte de um plano (Estado federal ou Estado federado, neste caso União ou Estados-membro)
vai impedindo a intervenção do outro plano. Será conveniente notar que se a UE deixar de
exercer essa competência, ela regressa para as mãos dos estados. Estas competências podem
ser classificadas como:
Competências partilhadas concorrentes, previstas no artigo 4º, nº2 TFUE
(enumeração exemplificativa, não exaustiva) e às quais se aplica o princípio da
preempção já referido. Em alguns destes domínios não fará sentido referir a
preempção pois a UE age dependendo da ação dos estados (ex. coesão económica,
social e territorial). Há, no entanto, áreas em que a ação dos Estados é muito
reduzida, como por exemplo, no domínio da política agrícola comum, a
intensidade da regulação é intensa e os Estados pouco mais têm do que
competências de execução;
Os objetivos prosseguidos pela União na sua ação externa estão referidos no nº2 do
artigo 21º TUE, destacando-se, desde já, a salvaguarda da segurança, independência e
integridade da UE (alínea a)).
Os objetivos e interesses estratégicos da União nas suas relações externas (artigo 22º
TUE) são definidos pelo Conselho Europeu, através de decisões por unanimidade, por
recomendação do Conselho, que terá como base as propostas do Alto Representante, em
matéria de PESC, e da Comissão, nas restantes matérias. Essas decisões dizem respeito à
relação da UE com outros países e regiões e definem a duração da ajuda e os meios a facultar
pela União e pelos Estados-membros. A gestão dessas relações, dependendo do domínio,
poderá ficar a cargo do Alto Representante, da Comissão, do Conselho ou até mesmo dos
próprios Estados.
Prevista no artigo 2º, nº 4 TFUE e nos artigos 23º a 46º TUE está uma das partes mais
significativas da ação externa da União: a PESC. O âmbito da PESC está definido no artigo
24º, nº1 TUE.
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interferência do Tribunal de Justiça, exceto na observância do artigo 40º TUE (artigo 24º, nº1,
parágrafo segundo, TUE e artigo 275º TFUE).
As políticas adotadas pela União no âmbito da PESC não afetam o caráter específico
da política de segurança e defesa de determinados Estados-membros, seja a nível de
neutralidade, seja no quadro da NATO (artigo 42º, nº2, parágrafo segundo, e nº7, parágrafo
segundo, TUE).
O artigo 25º TUE distingue as várias formas de atuação da União a nível da PESC,
excluindo-se, à partida, os atos legislativos (artigo 24º, nº1, parágrafo segundo TUE). A
execução da PESC dá-se quer a nível do Alto Representante, mediante o exposto no artigo
24º, nº1, parágrafo segundo TUE, quer a nível dos Estados, de acordo com o previsto nos
artigos 32º, parágrafo terceiro, 34º e 35º do mesmo Tratado.
A PESC está sujeita a regras e procedimentos específicos (artigo 24º, nº1, parágrafo
segundo TUE), não se lhe aplicando o processo legislativo comum da União — o processo
legislativo ordinário –, pelo que a intervenção da Comissão e do Parlamento Europeu fica
muito aquém da que estes órgãos têm neste processo.
Por isso mesmo, a capacidade decisória dos Estados é muito maior nestes domínios do
que nos restantes. Daí que, muitas vezes, os Estados-membros optem por não aderir às opções
gerais definidas pela União ou por apor-lhes algumas reservas. Para permitir a integração,
ainda que menor, desses Estados, foi criado o mecanismo de cooperação reforçada, previsto
nos artigos 20º TUE e 326º a 334º TFUE (em especial no artigo 329º, nº2 TFUE).
Dentro da PESC temos a PCSD (artigos 42º a 46º TUE), cujos objetivos são a
manutenção da paz, a prevenção de conflitos e o reforço da segurança internacional, incluindo
o combate ao terrorismo (artigos 42º, nº1 e 43º, nº1 TUE). A ação desenvolvida no seu âmbito
assenta nas capacidades civis e militares fornecidas pelos Estados-membros, incluindo as
afetas a forças multinacionais (artigo 42º, nº1 e 3 TUE).
É importante referir, mais uma vez, que o TUE e o TFUE têm o mesmo valor jurídico
(artigo 1º, parágrafo terceiro, TUE). A Ordem Jurídica da União funda-se nestes dois
Tratados, que só juntos constituem o fundamento, o critério e o limite do DUE.
O TUE foi redigido nas línguas enunciadas no seu artigo 55º, nº1. Este preceito é
igualmente aplicável ao TFUE, por força do seu artigo 358º. Nos termos do artigo 55º, nº2
TUE, os Tratados podem ser traduzidos em qualquer outra língua que os Estados-membros
determinem. Para além disso, se uma versão linguística é ambígua, deve ser interpretada em
sentido conforme com as outras versões, pois só assim se preservará a unidade da
interpretação do DUE.
O âmbito de aplicação temporal dos Tratados está previsto nos artigos 53º TUE e 356º
TFUE; o âmbito de aplicação territorial nos artigos 52º TUE e 349º e 355º TFUE.
Os processos de revisão dos tratados estão revistos no artigo 48º TUE, nomeadamente
nos seus números 2 a 5, relativos ao processo de revisão ordinária, e 6 e 7, relativos ao
processo de revisão simplificada.
Por sua vez, o direito secundário ou derivado é aquele que resulta da normal atividade
desenvolvida pela União na prossecução dos seus objetivos. Constituirão direito derivado
todos os atos (legislativos ou não legislativos, gerais ou individuais, internos ou externos,
juridicamente obrigatórios ou não) adotados unilateralmente pelos órgãos da União, no
exercício das competências que os Tratados lhes reconhecem.
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Todos os atos de direito derivado têm de encontrar base jurídica numa norma de direito
primário. Assim se afirma o princípio da hierarquia das fontes, condicionando o direito
originário a validade do direito derivado.
Sobre estes atos há alguns aspetos a destacar. Em primeiro lugar, a sua natureza não
depende da sua qualificação, mas sim do seu conteúdo. Depois, existe um princípio de
presunção de legalidade a favor das normas e atos da União (presume-se que todos os atos
sejam praticados com observância das normas legais a eles referentes). Em terceiro lugar,
segundo o artigo 296º TFUE, verifica-se um dever de fundamentação em relação a todos os
atos jurídicos da União. Os atos legislativos, bem como os regulamentos e as diretivas
dirigidas a todos os Estados-membros, são publicados no Jornal Oficial da União Europeia –
297º TFUE. Por fim, a entrada em vigor do direito derivado depende do tipo de ato em questão
– também artigo 297º.
O artigo 288º TFUE enumera os diferentes tipos de atos de direito derivado da União
Europeia. Analisemo-los:
Regulamentos: têm caráter geral, pelo que se dirigem a todos os sujeitos de Direito
que se encontrem no seu âmbito de aplicação, é obrigatório em todos os seus
elementos, já que não pode ser modificado ou contrariado por atos adotados pelos
Estados-membros, e diretamente aplicável, não precisando, por isso, de ser
recebido pelos ordenamentos jurídicos internos.
É o instrumento normativo da União que mais se assemelha à lei a nível interno.
Assim sendo, se os Estados não transpusessem a diretiva nos prazos nela previstos, os
indivíduos ficariam desprotegidos e em desigualdade de circunstâncias com os
nacionais dos outros Estados-membros. Para impedir esta situação, o TJ
considerou que, verificados certos requisitos, as normas das diretivas podem
produzir efeitos em relação aos indivíduos, mesmo antes da sua transposição. O
efeito direto resulta, portanto, da necessidade de proteger os cidadãos contra a
inércia do Estado.
A Decisão é um ato que vem modificar a esfera jurídica do seu destinatário (aplicando
uma coima, proibindo um ato, impondo uma obrigação, por exemplo), assumindo,
por isso, uma natureza normativa, e não legislativa.
Pode ou não ter efeito direito, em função dos seus destinatários e do seu conteúdo.
Assim, a Decisão que se dirige aos particulares pode ser invocada por eles em
tribunal. Relativamente às Decisões dirigidas aos Estados-membros, esse efeito
direto já não é tão facilmente reconhecível, na medida em que está dependente de
ações complementares por parte dos seus destinatários. Deste modo, é difícil
reconhecer a generalidade do seu efeito direto. Todavia, o Tribunal de Justiça, no
acórdão Frantz Grand, vem reconhecer globalmente o efeito direto deste ato de
direito derivado.
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Recomendações e Pareceres: são classificados pelo artigo 288º TFUE como atos
não vinculativos, o que não significa que estejam completamente desprovidos de
efeitos jurídicos.
Os seus destinatários podem ser os Estados-membros e os particulares.
Têm em comum o facto de poderem ser emitidos por qualquer uma das instituições
europeias.
Para além dos atos de direito derivado já referidos, temos ainda os atos atípicos,
assim chamados por não estarem previstos no artigo 288º. Grande parte destes atos
constituem soft law, já que não são vinculativos e apresentam efeitos jurídicos
inexistentes ou muito limitados, sendo poucas as exceções a esta regra.
Entre eles destacamos:
Para além das fontes já referidas, temos ainda o Direito Internacional como fonte do
Direito da União. Enquanto sujeito de Direito Internacional, a UE atua na comunidade
internacional como autora e como destinatário das normas por ele criadas. A União encontra-
se, por isso, vinculada ao Direito Internacional, quer seja direito consuetudinário geral (as
regras da CVDT, da qual a União faz parte, o Direito da ONU e o ius cogens), que é superior
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Dentro desta última modalidade de Direito Internacional que vincula a União, cumpre-
nos destacar o papel do artigo 216º, nº2 TFUE, que dá à União o poder de celebrar convenções
relativas às matérias sob sua competência exclusiva. Há ainda a referir os acordos mistos, nos
domínios em que a União não possua atribuições exclusivas, que terão que ser concluídos
entre a UE e os Estados-membros e a UE os restantes sujeitos de Direito Internacional, e os
acordos pré-União, que se mantêm em vigor em respeito ao princípio pacta sunt servanda e
ao artigo 351º, parágrafo primeiro, TFUE, mas que não deverão ser incompatíveis com os
princípios e a missão da União – parágrafo segundo do mesmo artigo.
receção por parte dos Estados. A vigência, o alcance da vigência e os efeitos da vigência do
direito comunitário nos Estados-membro são definidos por si mesmo e, em última instância,
pelo TJUE. Todos os princípios são definidos autonomamente pela ordem comunitária e sem
mediação pelos Estados-membro. Contrariamente aos Estados federais, na UE não se recorre
à figura da law of the land, mas, e, não obstante, não sendo a União Europeia uma federação,
o direito é federalizado. A violação do direito por parte dos Estados-membro dá lugar ao
instituto da responsabilidade, mas em termos distintos do Direito Internacional, não sendo
esta uma responsabilidade entre Estados, mas entre o Estado incumpridor e os respetivos
lesados.
Os atos do Estado enquanto pessoa coletiva de direito público; de qualquer entidade pública
ou privada que atue com prerrogativas de direito público; dos tribunais, mesmo que
independentes.
Resta-nos acrescentar que o problema da responsabilidade dá-se quase
sempre no quadro das diretivas, mas tem-se vindo a alargar a toda e qualquer norma do direito
comunitário (nestes termos, tem especial importância o regime da ação por incumprimento
contemplada nos artigos 259.º a 261.º TFUE). Por outro lado, têm sido dados alguns passos,
ainda curtos, no âmbito da responsabilidade civil extracontratual do Estado por
incumprimento imputável ao exercício da função jurisdicional.
- Princípio da confiança mútua: Caso Melloni e caso M.A.S. são relevantes neste contexto.
de o tornar mais democrático, mais eficaz e mais transparente afigura-se de uma enorme
complexidade.
Após o AUE, assistimos a alterações com algum significado, mas que não conseguem,
de todo, dar resposta às exigências de eficiência e transparência, ou por se prenderem em
demasia ao espírito do texto original dos Tratados institutivos, ou porque propostas mais
inovadoras não conseguiram os necessários consensos.
Para se determinar a natureza dos vários órgãos da União, era preciso recorrer-se a
algum critério. O critério escolhido foi o critério funcional (isto é, da função), que vem
colmatar as falhas do modelo tradicional estadual e do modelo de representação de interesses.
Assim, a partir deste critério, passamos a distinguir entre órgãos de direção, de execução e de
controlo.
Conselho Europeu
A sua composição está prevista no artigo 15º, nº2 TUE. É composto pelos Chefes de
Estado e de Governo, pelo Presidente do Conselho Europeu e pelo Presidente da Comissão.
O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança
também participa nos trabalhos do Conselho Europeu.
A sua sede fica em Bruxelas e reúne, segundo o disposto no artigo 15º, nº3 TUE, duas
vezes por semestre.
de controlo judicial limitado (artigos 265º, parágrafo primeiro, 263º, parágrafo primeiro, e
269º TFUE). Assim, participa no processo de revisão dos Tratados, “define as orientações e
prioridades políticas gerais da União”, bem como os interesses e objetivos estratégicos da
União (artigo 22º, nº1 TUE). É também responsável pela execução na PESC, nos termos do
artigo 24º TUE, e exerce ainda competências a nível do Espaço de Liberdade, Segurança e
Justiça (artigos 68º e 222º, nº4 TFUE), da política económica (artigo 121º, nº2 TFUE) e do
emprego (artigo 148º TFUE).
A regra relativa ao modo de deliberação é o consenso, previsto no artigo 15º, nº4 TUE.
Para além desta, temos regras especiais (artigos 7º e 31º TUE) e regras especiais que excluem
o voto do Presidente e do Presidente da Comissão: artigos 235º, nº1 e 236º TFUE, relativos
às situações de maioria qualificada, e 235º, nº3 TFUE, relativo às situações em que se verifica
a regra da maioria simples.
A eleição do seu Presidente e respetivas funções estão previstas no artigo 15º, nºs 5 e
6 TUE. Destaca-se a competência de representação externa na PESC, sem prejuízo das
atribuições do Alto Representante e da competência de representação externa genérica
conferida à Comissão (art. 17º, nº1 TUE).
O Presidente do Conselho Europeu não deve ser visto como um “Presidente da União”,
mas como o presidente de uma instituição ainda de caráter intergovernamental cuja missão é
mitigar os riscos decorrentes desta natureza, já que promove a concertação entre os Estados-
membros, sendo, por isso, o mais elevado símbolo da unidade política.
Parlamento Europeu
O seu mandato é de 5 anos (artigo 14º, nº3 TUE) e é paralelo ao da Comissão. O seu
estatuto (em especial, a parte relativa à sua independência) está prevista na Decisão
2005/684/CE, da Euratom.
Funciona por sessão plenária mensal em Estrasburgo (quatro dias por mês, exceto em
Agosto) e seis sessões de dois dias em Bruxelas. Quotidianamente, funciona em comissão.
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A sua sede é em Estrasburgo (artigo 341º TFUE e Protocolo relativo à localização das
instituições).
Conselho
Comissão Europeia
É composto por 28 membros, nacionais dos Estados-membros (Decisão 2013/272/EU
do Conselho Europeu). A independência dos Comissários está prevista nos artigos 17º, nº3
TUE, 245º e 247º TFUE.
Tem sede em Bruxelas, embora certos serviços tenham sede no Luxemburgo (artigo
341º TFUE). A duração do seu mandato é de cinco anos (artigo 17º, nº3 TUE).
O procedimento de constituição da Comissão é extremamente complexo e está
regulado no artigo 17º, nº7 TUE e na Declaração 11. Assim, após as eleições para o
Parlamento Europeu, o Conselho Europeu (através de maioria qualificada) propõe o
Presidente da Comissão, que será depois eleito pelo PE (maioria absoluta dos membros que o
compõem – artigo 14º, nº1 TUE). Depois, cada Estado-membro apresenta uma lista de
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a) Tribunal de Justiça
É composto por um juiz por cada Estado-membro (artigo 19º, nº 2, parágrafo primeiro,
TUE) e por onze Advogados-Gerais, cuja natureza e missão estão previstas no artigo 252º,
parágrafo segundo, TFUE. Os membros do Tribunal de Justiça são escolhidos à luz dos
critérios previstos nos artigos 19º TUE e 253º TFUE, tendo que, por isso, apresentar
competências e garantias de independência para o cargo que vão desempenhar. Depois, são
nomeados por comum acordo dos governos dos Estados-membros (artigos 19º, nº2, parágrafo
segundo, TUE e 253º, parágrafo primeiro, TFUE), considerando sempre o parecer do comité
previsto no artigo 255º TFUE (v. Decisão 2014/76/UE, do Conselho). O seu mandato é de
seis anos, com substituição parcial dos membros do Tribunal e possibilidade de renovação
(artigos 253º TFUE e 9º Estatuto do Tribunal de Justiça).
Funciona permanente e colegialmente. Por norma, reúne em secções de três e cinco
juízes (artigos 251º TFUE e 16º, parágrafo primeiro, Estatuto TJ), podendo também reunir em
Grande Secção (15 juízes – artigos 251º TFUE e 16º, parágrafo segundo, Estatuto) ou em
tribunal pleno (artigos 251º TFUE e 16º, nºs 3 e 4 Estatuto). As deliberações fazem-se por
maioria dos juízes presentes, embora o tribunal só possa reunir e deliberar validamente com
um número ímpar de juízes. As audiências são públicas e a deliberação é secreta.
O Presidente do TJ é designado pelos juízes por três anos e tem importantes poderes
de organização funcional e processual do Tribunal.
Destacamos as seguintes competências do TJ:
Reenvio prejudicial, apesar do disposto no artigo 256º, nº3 TFUE. Contudo, a
verdade é que os Estatutos, chamados a complementar o artigo, são omissos quanto
à matéria em causa, tendo a competência permanecido no Tribunal de Justiça (v.
artigo 267º TFUE);
Ação por incumprimento dos Estados-membros (artigos 258º TFUE);
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b) Tribunal Geral
É composto por, pelo menos, um juiz por Estado-membro (artigos 19º, nº 2, parágrafo
segundo, TUE e 254º TFUE). Atualmente, tem 45 juízes. Os membros do Tribunal Geral são
escolhidos à luz dos critérios previstos nos artigos 19º TUE e 254º TFUE, tendo que, por isso,
apresentar competências e garantias de independência para o cargo que vão desempenhar.
Depois, são nomeados por comum acordo dos governos dos Estados-membros (artigos 19º,
nº2, parágrafo segundo, TUE e 254º, parágrafo primeiro, TFUE), considerando sempre o
parecer do comité previsto no artigo 255º TFUE (v. Decisão 2014/76/UE, do Conselho). O
seu mandato é de seis anos, com substituição parcial dos membros do Tribunal e possibilidade
de renovação (artigos 253º TFUE e 9º Estatuto do Tribunal de Justiça). Para além disso, os
seus juízes podem ser chamados a desempenhar a função de advogados-gerais (artigo 49º
Estatuto).
Pode reunir em secções de três ou cinco juízes, em Grande Secção de 13 juízes ou em
Tribunal plenário. Para além disso, cada Juiz pode atuar singularmente. Tal como acontece no
Tribunal de Justiça, as deliberações fazem-se por maioria dos juízes presentes, as audiências
são públicas (artigo 31º Estatuto) e a deliberação é secreta (artigo 35º Estatuto).
O Presidente do TG é designado pelos juízes por três anos e tem importantes poderes
de organização funcional e processual do Tribunal.
São competências do TG:
Recursos de anulação e por omissão (artigos 263º e 265º TFUE);
Decidir com fundamento em cláusulas compromissórias, salvo nos casos
reservados ao TJ (artigo 272º TFUE);
Recursos das decisões dos tribunais especializados (por exemplo, o Tribunal da
Função Pública) em matéria de direito (artigo 256º, nº2 TFUE);
Reenvio prejudicial, embora não efetivado nos Estatutos.
Os procedimentos de decisão
O processo legislativo ordinário e os processos legislativos especiais
Estes procedimentos passam pelo triângulo institucional – Comissão, Conselho e
Parlamento Europeu
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São mais simplificados e refletem aquilo que era o modelo internacional de decisão
até ao Ato Único Europeu.
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c) Outros procedimentos
Não legislativos - PESC;
Atos regulamentares e de execução (artigos 290.º e 291.º TFUE): estão sujeitos à
colaboração dos Comités da Comitologia, compostos por representantes dos Estados.
O ato continua a ser uma iniciativa da própria Comissão e um regulamento da mesma,
podendo apenas o Parlamento intervir em situações imprevistas.
Atos internos das instituições;
Iniciativa: pode ser dos Estados-Membros ou, quando se tratam da organização destes
órgãos, eles também poderão intervir - EM, PE, BCE, TJ ou Banco Europeu de
Investimento (artigo 289.º nº4).
Contencioso:
o Regime comum - artigo 258.º a 260.º TFUE. O artigo 258.º do TFUE trata-se
de um acompanhamento aos EM para fiscalizar o tratamento do DUE e as
obrigações decorrentes do mesmo. Temos um procedimento que passa por um
parecer fundamentado, portanto, quando a Comissão entende que um EM não
cumpriu uma obrigação decorrente do DUE, como a implementação de uma
diretiva. O artigo 259.º TFUE vem permitir que outros EM façam esse
acompanhamento e possam acionar um Estado, sendo situações excecionais
(apenas existem 2 casos até hoje).
o Regimes especiais - artigo 114.º/9, 126.º/10 e 348.º TFUE.
o Pré-contencioso: passa por um diálogo com o Estado. Perante uma denúncia
ou uma suspeita oficiosa de incumprimento, nomeadamente em virtude da falta
de comunicação de medidas de implementação de uma diretiva, iniciam-se
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