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1. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia não vincula os
Estados-membros em todas as situações.
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V. ANA MARIA GUERRA MARTINS, “Manual de Direito da União Europeia”, 2018, p. 206 a 268
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países terceiros em diversas ocasiões, como por exemplo, quando se encontram na
Europa enquanto turistas e onde adquirem temporariamente o direito à livre circulação
enquanto se encontrarem na União Europeia. Os não cidadãos podem adquirir uma
infinidade de direitos por exemplo quando adquirem um vínculo de emprego na União
Europeia que lhes poderá dar direitos ao nível de residência, ao nível de saúde,
educação, sendo este último, o direito à educação ou o direito a estudar em escolas da
União Europeia por parte de não residentes talvez um dos direitos mais visíveis,
nomeadamente através de protocolos com países e Universidades de países terceiros que
permite não só aos estudantes cidadãos da União Europeia estudar em outras
Universidades da UE através do programa ERASMUS ou ERASMUS+, ou de
estudantes de países terceiros poderem estudar na UE através de protocolos com as
Universidades.
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Ver: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32003L0086&from=HU
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Ver: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0801&from=LT
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Aço em 1951, o Tratado que institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica em
1957, o Tratado que institui a Comunidade Económica Europeia em 1957 e o Tratado
da União Europeia em 1992. Destes tratados apenas continuam em vigor o Tratado que
institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica, o Tratado da União Europeia, ao
lado do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia e neste momento a Carta
dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Podemos afirmar perante o art.º 6.º n.º 1 da TUE que a CDFUE tem o mesmo
valor que os Tratados da União Europeia em vigor e não com os constitutivos, uma vez
que grande parte deles já não se encontra em vigor.
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V. ANA MARIA GUERRA MARTINS, “Manual de Direito da União Europeia”, 2018 p. 267 e 268
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jurisprudência do Tribunal de Justiça seriam suficientes. E olhando para os direitos que
a Carta em si encerra percebemos que a mesma não teve o intuito de criar novos
direitos, o objectivo da mesma foi sobretudo o de reforçar a legitimidade da União,
tornando mais fácil aos indivíduos a percepção de quais os seus direitos fundamentais
no contexto da União Europeia. Esta ideia é comprovada pelo preâmbulo da Carta onde
diz "… esta reafirma, no respeito pelas atribuições e competências da União e na
Observância do princípio da subsidiariedade, os direitos que decorrem, nomeadamente,
das tradições constitucionais e das obrigações internacionais comuns aos Estados-
Membros...", pelo art.º 6.º n.º 1 do TUE segundo o qual o disposto na Carta não pode
alargar as competências da União tal como definidas nos Tratados, e o art.º 51.º n.º 2 da
Carta quando afirma que o âmbito de aplicação do direito da União extensivo a
competências que não sejam as da União. No fundo, a CDFUE teve como objectivo
consolidar e estender a política europeia da protecção dos direitos fundamentais
contribuindo para a sua clarificação e coerência e para o incentivo ao seu uso pelos
Tribunais da União nomeadamente quando fiscalizam a aplicação e interpretação do
direito da União.5
Nos termos do art.º 52.º n.º 5 da CDFUE "… as disposições da presente Carta
que contenham princípios podem ser aplicadas através de actos legislativos e executivos
tomados pelas instituições, órgãos e organismos da União e por actos dos Estados-
Membros quando estes apliquem o direito da União, no exercício das respectivas
competências. Só serão invocadas perante o juíz tendo em vista a interpretação desses
actos e a fiscalização da sua legalidade".
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V. SOFIA OLIVEIRA PAIS, “Estudos de Direito da União Europeia”, 2017
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que consagrem direitos podem ser invocadas judicialmente pelos particulares sem
necessidade de as mesmas estarem implementadas em leis.
No entanto a solução adoptada pela Carta não é pacífica. Há quem entenda que a
dicotomia entre direitos e princípios tem a vantagem de evitar a solução da medida que
serve para tudo, uma vez que os tribunais nem sempre seriam capazes de decidir sobre a
violação de certas disposições. Também por outro lado, a Carta nem sempre faz a
distinção de forma clara se a disposição em causa é um direito ou um princípio, criando
uma insegurança jurídica. Sofia Oliveira Pais diz no seu livro "A protecção dos direitos
fundamentais na União Europeia" que "o Comissário Vitorino entendia que quando a
disposição da Carta designasse claramente o titular estaríamos perante um direito, e que
seria um princípio se a disposição estabelecesse que a União devia respeitar ou
reconhecer um valor específico como a saúde, ambiente ou a protecção dos
consumidores", ou seja, que esta diferença no fundo seria consolidada pela prática e
pela jurisprudência do Tribunal de Justiça.6
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V. ANA MARIA GUERRA MARTINS, “Manual de Direito da União Europeia”, 2018