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UE Capítulo 5 - A Carta DOS Direitos Fundamentais DA


UNIÃO Europeia
Direito da União Europeia (Universidade Aberta)

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Quadros, F. (2015); “Direito da União Europeia” (3.ª Edição); Coimbra: Edições Almedina, S. A.. 2017-2018

PARTE 1 – UNIÃO EUROPEIA


CAPÍTULO 5 – A CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA
pp. 195-236
A ELABORAÇÃO DA CARTA
A proteção dos direitos fundamentais fazia com que os Estados-membros desejassem possuir depressa o seu próprio
catalogo de direitos fundamentais e integrá-lo no Tratado.
O método da elaboração da Carta escapava à diplomacia clássica e era desconhecido do Direito da União.
A Convenção tinha uma composição quadripartida: era composta por representantes dos Chefes de Estado e de
Governo, do Parlamento Europeu, dos Parlamentos nacionais e por uma representante do Presidente da Comissão
Europeia.
A Convenção foi presidida por Roman Herzog.
A Convenção levou a cabo os seus trabalhos desde dezembro de 1999 até outubro de 2000.
As cláusulas finais dispunham que a Carta tinha como destinatários as instituições e os órgãos da União, bem como os
Estados-membros quando aplicassem o Direito da União, e tinham o cuidado de deixar claro que ela não criava novas
atribuições para a União ou para a Comunidade, nem alterava as atribuições que estas já tinham.

A CARATERIZAÇÃO DA CARTA NA SUA FASE INICIAL


Não houve acordo na Convenção para que à Carta fosse dado caráter obrigatório.
Assumiu a forma de uma Proclamação solene do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão.
A Proclamação veio a obter nas fontes de Direito da União, a natureza jurídica de um acordo interinstitucional.
A Carta não se limitava a valer como uma mera declaração política, despida de valor jurídico.
Os Estados-membros comprometeram-se a abordar o estatuto jurídico da Carta no quadro do processo de
aprofundamento da União Europeia.

A EVOLUÇÃO DA CARTA ATÉ AO TRATADO CONSTITUCIONAL


O Tratado Constitucional continha, na Declaração anexa com o n.º 12, Anotações relativas à Carta dos Direitos
Fundamentais.
A intenção dessas Anotações era a de tornar o texto da Carta mais claro e dar a conhecer melhor as fontes que haviam
sido levadas em conta na sua redação.
Foi a pedido expresso do Reino Unido que essas Anotações foram incluídas no Tratado Constitucional.
O objetivo das Anotações era o de valer como “um valioso instrumento de interpretação destinado a clarificar as
disposições da Carta”.
Modificações:
• O acesso a documentos do Parlamento, do Conselho e da Comissão, era alargado pelo seu artigo 42.º a
documentos dos outros órgãos, instituições e organismos da União, “seja qual for o suporte desses
documentos”;
• Não se modificava o regime vigente, segundo o qual a União não tinha atribuições para legislar em matéria de
direitos fundamentais, o que só poderia ser alterado por uma revisão dos Tratados.
• No artigo 52.º esclarecia-se a distinção que a Carta estabelecia entre “direitos” e “princípios”. O n.º 5 do artigo
52.º vinha dispor que “os direitos subjetivos devem ser respeitados, enquanto que os princípios devem ser
observados. Os princípios podem ser aplicados através dos atos legislativos ou de execução”.
Os princípios têm de ser atendidos na interpretação e na aplicação de atos legislativos e de execução praticados pelos
órgãos, instituições e organismos da União e por atos dos Estados-membros quando estes apliquem o Direito da União,
no exercício das respetivas atribuições, bem como na fiscalização da sua legalidade.

A CARTA NO TRATADO DE LISBOA


Uma minoria de Estados, com o Reino Unido à frente, defendeu que a inclusão da Carta no Tratado constituía uma das
grandes mais-valias da revisão dos Tratados que estava em curso e que ela era a única solução compatível com a inclusão
do respeito pelos direitos fundamentais como valor da União, no artigo I-2.º do Tratado Constitucional, que correspondia
ao atual artigo 2.º UE.
A Carta foi novamente proclamada, em 2007, pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho e pela Comissão, com a redação
que lhe havia sido dada pela CIG de 2004, trazendo em anexo as Anotações.

O CONTEÚDO DA CARTA. EM ESPECIAL, OS DIREITOS NELA RECONHECIDOS


I – A importância do conteúdo da Carta
A Carta constitui, no plano internacional, o mais ambicioso e o mais elaborado texto jurídico sobre Direitos da Pessoa.
É o primeiro texto que compila, simultaneamente, direitos civis, políticos, sociais, culturais e económicos.
A Carta demonstra a sua superioridade em relação a outros textos clássicos do Direito Internacional sobre Direitos do
Homem.
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O arrolamento dos direitos pela Carta encontra-se valorizado pelo facto de os direitos fundamentais serem apresentados
como emanação de valores-chave, que se encontram vertidos, cada um deles, numa única palavra, e de forma muito
expressiva, que ultrapassa largamente a já gasta e ultrapassada trilogia da Revolução Francesa, da Liberdade-Igualdade-
Fraternidade.
Os valores da dignidade, das liberdades, da igualdade, da solidariedade, da cidadania e da justiça. Têm de passar a ser
considerados como valores básicos de todo o ordenamento jurídico da União.
A Carta afirma a sua função codificadora e enuncia até as fontes onde foi buscar os direitos por ela reconhecidos.
Os direitos que decorrem das tradições constitucionais e das obrigações internacionais comuns aos Estados-membros, do
Tratado da União Europeia e dos Tratados comunitários, da Convenção Europeia para a proteção dos direitos do Homem e
das liberdades fundamentais, das Cartas Sociais aprovadas pela Comunidade e pelo Conselho da Europa, bem como da
jurisprudência do TJ das Comunidades Europeias e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
A Carta veio integrar no Direito da União todas as fontes de Direito em matéria dos direitos fundamentais.
Nessa função codificadora, a Carta fornece resposta às exigências atuais da proteção dos Direitos das Pessoas, ao
acolher, ao lado dos direitos clássicos, os direitos “novos” e “novíssimos”, isto é, direitos que, no seu rótulo e conteúdo,
são direitos da 2.ª e 3.ª geração.
A Carta não reconhece direitos apenas aos nacionais dos Estados-membros, mas a todas as pessoas sujeitas à sua
jurisdição.

II – Os direitos reconhecidos pela Carta


• Artigo 1.º - menção da dignidade do ser humano como um direito fundamental autónomo e como
absolutamente inviolável;
• Artigo 2.º, n.º 2 – proibição absoluta da pena de morte e da execução;
• Artigo 3.º - consagração do direito à integridade, física e mental, do ser humano, que impõe, no campo da
medicina e da biologia, o respeito pelas exigências enunciados no n.º 2, inclusive a proibição absoluta de práticas
eugénicas e de clonagem reprodutiva dos seres humanos;
• Artigo 5.º, n.º 3 – proibição do tráfico de seres humanos;
• Artigo 6.º - direito de todos à liberdade e à segurança;
• Artigo 7.º - reconhecimento do direito ao respeito pela vida privada e familiar, inclusive no domínio das
comunicações;
• Artigo 8.º - reconhecimento do direito à proteção de dados pessoais;
• Artigo 9.º - menção do direito de contrair casamento e de constituir família;
• Artigo 10.º - previsão do direito à objeção de consciência;
• Artigo 11.º - garantia do respeito pela liberdade e pelo pluralismo dos meios de comunicação social;
• Artigo 12.º - previsão de liberdade de reunião pacifica de associação;
• Artigo 13.º - reconhecimento da liberdade no campo artístico, no da investigação científica e no da liberdade
académica;
• Artigo 14.º - previsão do direito à formação profissional e contínua e o direito dos pais de assegurarem a
formação e o ensino dos seus filhos em plena liberdade;
• Artigo 15.º - reconhecimento do direito de trabalhar e de exercer uma profissão que tenha sido livremente
escolhida ou aceite e a garantia, em matéria de condições de trabalho, do princípio da igualdade entre nacionais
de Estados terceiros e de Estados da União;
• Artigo 16.º - menção da liberdade de empresa;
• Artigo 17.º - exigência, em caso de expropriação por utilidade pública, de justa indemnização e paga em tempo
útil, bem como a proteção da propriedade intelectual;
• Artigo 18.º - previsão do direito de asilo;
• Artigos 20.º, 21.º e 23.º - ampla complementaridade entre a igualdade e a não-discriminação;
• Artigo 24.º - reconhecimento às crianças de um direito ao bem-estar;
• Artigo 25.º - concessão às pessoas idosas do direito a uma existência condigna e independente;
• Artigo 26.º - reconhecimento aos deficientes do seu direito à autonomia, à integração e à participação na vida
social;
• Artigos 28.º e 30.º - concessão aos trabalhadores do direito à negociação coletiva e do direito à greve, bem como
da proteção contra os despedimentos sem justa causa;
• Artigo 31.º - reconhecimento aos trabalhadores de condições de trabalho saudáveis, seguras e dignas;
• Artigo 32.º - previsão de proteção especial para os jovens no trabalho;
• Artigo 33.º - garantia de proteção plena à família, do direito de todos poderem conciliar a vida familiar e a vida
profissional e do reforço da proteção da maternidade e da paternidade;
• Artigo 34.º - garantia do direito de acesso às prestações de segurança social e aos serviços sociais;
• Artigo 35.º - previsão de um elevado nível de proteção da saúde humana;
• Artigo 37.º - reconhecimento da necessidade de se promover um elevado nível de proteção do ambiente;

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• Artigo 38.º - reconhecimento de um elevado nível de defesa dos consumidores;
• Artigo 41.º - previsão do direito a uma boa administração;
• Artigo 42.º - reconhecimento a todo o cidadão da União e a toda a pessoa, singular ou coletiva, residente na
União, do direito de acesso a documentos de todos os órgãos e instituições ou quaisquer organismos da União;
• Artigo 47.º - reconhecimento de um amplo direito de acesso a qualquer tribunal, para se fazer valer de quaisquer
direitos subjetivos reconhecidos pelo Direito da União;
• Artigo 49.º - permissão de aplicação retroativa da lei que preveja uma pena mais leve e a imposição da
proporcionalidade das penas em relação aos crimes,
• Artigo 50.º - extensão da proibição do princípio ne bis in idem, em Direito Penal, a todo o espaço da União.

O VALOR JURÍDICO DA CARTA


A Carta consiste num catalogo de direitos, liberdades e princípios que tem o mesmo valor jurídico do Tratado.
A Carta obriga nos mesmos moldes em que os Tratados UE e TFUE obrigam.

OS DESTINATÁRIOS DA CARTA
Obriga todos os órgãos, as instituições e os organismos da União, no respeito pelo princípio da subsidiariedade.
A Carta só é aplicável à União se for ela a conceder, no caso concreto, o mais alto nível de proteção ao direito em causa.
Decorre no n.º 1 do artigo 51.º e do n.º 2 que a aplicação da Carta aos órgãos, às instituições e aos organismos da União
não deve desrespeitar a delimitação vigente das atribuições entre a União e os Estados-membros, nem deve levar à
criação de novas atribuições para a União.
A Carta também se aplica aos Estados-membros: só quando eles apliquem o Direito da União.
A Carta significou um muito sensível progresso na proteção e na salvaguarda dos direitos fundamentais na União
Europeia.
São destinatários da Carta todas as pessoas que estiverem sob a jurisdição dos Estados-membros.

PROBLEMAS ESPECÍFICOS DA INTERPRETAÇÃO E DA APLICAÇÃO DA CARTA


a) Distinção entre direito e princípios
figura na epigrafe do artigo 52.º e no seu n.º 5.

b) Garantia do conteúdo essencial dos direitos


artigo 52.º, n.º 1.

c) As Anotações relativas à Carta


O 5.º considerando do preambulo bem como o artigo 52.º, n.º 7, da Carta, e o artigo 6.º, n.º 1, par. 3, UE, dispõem que os
direitos, as liberdades e os princípios consagrados na Carta devem ser interpretados pelos órgãos jurisdicionais da União
e dos Estados-membros.
O preambulo das Anotações dispõe o seguinte: “Embora não tenham em si força de lei, constituem um valioso
instrumento de interpretação destinado a clarificar as disposições da Carta”.
A Carta, tanto no seu preambulo, como no artigo 52.º, n.º 7, impõe que na interpretação daqueles direitos se tenham na
devida conta as referidas Anotações. Estas têm a dignidade e o valor jurídico de preceitos dos Tratados. Pretendem
ajudar o intérprete dos respetivos preceitos a melhor compreender os pormenores do respetivo conteúdo. Valo como
interpretação autêntica daqueles preceitos, na medida em que provém dos próprios autores da Carta.

d) O nível mais alto de proteção dos direitos


o artigo 53.º da Carta impõe o grau mais alto de proteção para os direitos que a Carta reconhece.
A Carta cederá o passo à fonte de Direito que confira, no caso concreto, ao direito em causa, o mais alto grau de
proteção.

A CARTA E A CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS DO HOMEM


A Carta é largamente subsidiária da CEDH, não apenas porque a tomou como fonte, como também porque a adotou
dentro do nível mínimo de interpretação da própria Carta e dentro do nível mínimo de proteção dos direitos por esta
reconhecidos.

A ADESÃO DA UNIÃO EUROPEIA À CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS DO HOMEM


I – O estado da questão antes da Carta
Discutida no Relatório Bernhardt, de 1976, e com o Memorando da Comissão, de 1979. Suscitada por duas razões: na
ausência de um catálogo próprio de direitos fundamentais das Comunidades, elas precisavam de ter um texto de direitos
fundamentais que os seus cidadãos pudessem invocar perante as Comunidades mesmo que estas viessem a ter uma lista

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própria, os particulares não tinham pelos Tratados, acesso direito pleno aos Tribunais Comunitários para questionarem,
em sede de recurso de anulação, os atos dos órgãos que ofendessem esses direitos.
O Tratado de Maastricht inclui nos Tratados, pela primeira vez, a vinculação da União e das Comunidades à CEDH, mas o
artigo 6.º, n.º 1, UE, limitava-se a codificar a jurisprudência comunitária.
O obstáculo que se via à adesão era o de que os Tratados não reconheciam às Comunidades e à União atribuições em
matéria dos direitos fundamentais.
Ficou escrito no TFUE, no seu artigo 6.º, n.º 1, após a revisão de Amesterdão, que a União assentava, entre outros
princípios, no da proteção de direitos fundamentais.

II – Os argumentos contra a adesão


Na esteira do Tratado Constitucional, o Tratado de Lisboa incluiu no TUE uma obrigação para a União de aderir à CEDH.
As dificuldades jurídicas com que a adesão se defrontava eram as seguintes: não é possível nem é conveniente sujeitar a
união à dupla jurisdição do TJUE e do TEDH; a aplicação da CEDH como lex scripta vai fazer submeter a União ao Direito
Internacional numa matéria muito sensível o que vai fazer quebrar nessa matéria a autonomia, a uniformidade e a coesão
interna do Direito da União.
O n.º 1 do artigo 6.º afirmava que os direitos fundamentais eram um fundamento jurídico – constitucional da União. O seu
n.º 2 concretizava aquela afirmação por referência. O artigo 46.º, al. d), UE, só remetesse para o artigo 6.º, n.º 2, e, por
conseguinte, não conferisse uma competência geral ao TJ em matéria de direitos fundamentais, os Tribunais da União
estavam habilitados a entender que os n.º 1 e 2 do artigo 6.º, vistos em conjunto, lhes conferiam um título jurídico geral,
que lhes permitia controlar o respeito dos direitos fundamentais da parte da União Europeia, dos seus órgãos e dos
Estados-membros.
Os Tribunais da União seriam, eles, juízes da conformidade de atos comunitários com a CEDH, porque esta faria parte do
bloco de legalidade do Direito da União. Isto, obviamente, quando estivéssemos no âmbito da aplicação do Direito da
União.
Quando os Estados agissem fora do campo de aplicação do Direito da união.
A atuação dos Estados continuaria sujeita diretamente ao sistema de fiscalização próprio da CEDH.

III – A necessidade da adesão


Garantir aos seus cidadãos um mais alto grau de proteção dos seus direitos fundamentais.
Se os particulares só puderem contar com o recurso de anulação para o TJUE, previsto no artigo 263.º TFUE, para
impugnarem os atos dos órgãos que violem a Carta, nesse caso não veem plenamente assegurada essa proteção porque
eles têm capacidade judiciaria ativa limitada em face desse artigo, são recorrentes só semiprivilegiados.
Sem adesão à CEDH, a União nunca se poderá defender quando for dirigida ao TEDH uma queixa contra um Estado com o
fundamento de que este infringiu a CEDH através de um seu ato em que ele aplicou o Direito da União.
A Carta dos Direitos Fundamentais só pode ser aplicada pelos Tribunais em situações de aplicação do Direito da União.
A dupla jurisdição entre o TJUE e o TEDH não será novidade para o sistema jurídico da União Europeia, desde que o
Tratado jurídico de Adesão inclua “cláusulas que preservem as caraterísticas da União e do Direito da União”.
A adesão da União à CEDH não vai obrigar os particulares a esgotar previamente os meios internos do Direito da União
pela razão simples de que não há meios internos a esgotar. Os particulares têm legitimidade restrita para impugnar para
o TJUE atos dos órgãos da União que infrinjam os seus direitos e, por outro lado, não têm legitimidade para, eles
próprios, suscitarem questões prejudiciais perante o TJUE.
O critério de reparação segundo a CEDH, tornando na prática ainda mais restritivo pelo TEDH, consistir numa mera
reparação razoável. Este critério está ultrapassado pelo moderno Direito Internacional.
O Direito da União Europeia, através da jurisprudência do TJ, embora não tenha ainda chegado a uma formulação
definitiva e geral sobre o conceito e o conteúdo da reparação por responsabilidade civil extracontratual de um Estado-
membro ou da União por violação do Direito da União, já enunciou as linhas que devem presidir a essa matéria e que nos
permitem afirmar que o conceito de reparação está para o Direito da União muito mais próximo do conceito moderno de
reparação do Direito Internacional do que do conceito de reparação da CEDH.
O artigo 2.º TUE deve ser interpretado, na parte relativa ao respeito pelos direitos do Homem, como abrangendo
também os direitos contidos na CEDH, quer porque a Carta engloba esta, quer porque a referência do artigo 2.º abrange
também os direitos referidos no artigo 6.º, n.º 3, UE.
Por um lado, interpreta-se a Carta e a CEDH, somadas às tradições constitucionais comuns aos Estados-membros, como
um conjunto entre si complementar, harmonioso e coerente e, por outro lado, em se atualizar, para se aperfeiçoar, a
CEDH.

IV – O procedimento da adesão
Vai requerer o acordo de todos os Estados-membros da União e de todos os membros do Conselho da Europa.
O Acordo de Adesão terá de ser aprovado pelo Conselho por unanimidade, após a aprovação do Parlamento Europeu, e
depois terá de ser ratificado por todos os Estados-membros segundo as respetivas normas constitucionais.
O Tratado de adesão da União à CEDH deverá respeitar o Protocolo n.º 8 e a Declaração n.º 2 anexos ao Tratado de
Lisboa.
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RUMO A UM DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS


A adesão da União Europeia à CEDH não impedirá que a Carta venha a ocupar progressivamente um lugar nuclear num
sólido e ambicioso Direito da União Europeia sobre Direitos Fundamentais. Esse Direito da União dará corpo a uma
verdadeira União de direitos fundamentais.
A CEDH só codifica direitos civis e políticos, enquanto que a Carta abarca também direitos sociais, culturais e económicos;
a CEDH quase só reconhece os direitos clássicos, enquanto que a Carta inclui direitos novos e novíssimos; a CEDH
continua a sujeitar a queixa individual ao requisito da prévia exaustão dos meios internos, o que, em princípio, não é
compatível com o sistema de garantias judiciais da União Europeia.

A CARTA E AS CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS


A relação entre a Carta e as Constituições nacionais encontra-se regulada pelas cláusulas horizontais da primeira.
Cada Estado conserva a liberdade de proteger e garantir, como entender, os direitos fundamentais na sua Ordem
Jurídica interna.
Os Tribunais da União podem integrar os direitos reconhecidos pela Carta na Ordem Jurídica da União e verificar se os
Estados os cumprem.
O facto de os Estados deverem respeitar os direitos referidos na Carta em relação aos cidadãos doutros Estados-
membros não obriga cada um deles a estender a aplicação desses direitos também aos seus respetivos nacionais? A Carta
não quis a discriminação inversa na sua aplicação, discriminação essa que infringe o Direito Internacional e o Direito da
União e, nalguns Estados, também o respetivo Direito Constitucional.

A GARANTIA JUDICIAL DA CARTA


No que toca aos Tribunais nacionais, não poderão então recusar a sua aplicação quando ela for invocada por eles, com a
única limitação de que só o poderão fazer quando apliquem do Direito da União.
Numa manifestação da boa-fé com o respetivo Estado subscreveu a Carta, o Legislador nacional, constituinte e ordinário,
tem o dever de conformar o Direito nacional com a Carta.

CONCLUSÃO: A CARTA COMO NÚCLEO CENTRAL DE UM SISTEMA GLOBAL E COERENTE DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
DO HOMEM EM TODO O CONTINENTE EUROPEU
A Carta está destinada a ser o catálogo dos direitos fundamentais da União Europeia.
Os direitos que ela reconhece devem ser interpretados como fazendo parte do acervo global de direitos consagrados nas
fontes.
A Carta, nas suas chamadas cláusulas horizontais, pretende ser o núcleo central de um sistema jurídico global de
proteção dos direitos fundamentais em toda a Europa.
O Direito da União Europeia sobre Direitos do Homem, permitirá, simultaneamente, aprofundar ainda mais a União de
Direito e robustecer o espaço de liberdade, segurança e justiça.

Lisa Monteiro | 1500721 5

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