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Introdução ao Direito

CAPÍTULO III

AS FONTES DE DIREITO

A ordem jurídica é uma realidade histórica, cujo conteúdo são normas jurídicas. No
entanto poderia dizer-se que a verdadeira fonte de direito é sempre e só a ordem
social.

Importa saber como nascem essas normas e como se formam e revelam aos
particulares.

Conceito de fonte de direito:

MODOS DE FORMAÇÃO OU REVELAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS.

Cinco aceções/sentidos principais:

A- Sentido filosófico: fundamento da obrigatoriedade da norma jurídica


(entendido como a vontade do Estado, ou a justiça);

B- Sentido sociológico (habitualmente chamado de material): fator que motivou o


aparecimento da norma e condicionou o seu conteúdo concreto.

Ex: Os constantes acidentes foram determinantes para o aparecimento das regras de


trânsito.

C- Sentido político: órgão de onde emanam as normas jurídicas.

Ex: Em Portugal, AR e Governo.

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D- Sentido técnico – jurídico/formal: modos de formação e revelação das normas
jurídicas, tradicionalmente reduzidos a quatro: lei, costume, jurisprudência e doutrina.

Fontes juris essendi = modos de formação, lei, costume;

Fontes juris cognoscendi = modos de revelação, doutrina e a jurisprudência.

E- Sentido material/instrumental: textos ou diplomas que contêm normas


jurídicas.

FONTES DE DIREITO

Lei

Costume

Jurisprudência

Doutrina

Lei – norma jurídica decidida e imposta por uma autoridade com poder para o fazer
na sociedade política. É uma norma jurídica de criação deliberada.

Costume – a norma forma-se espontaneamente no meio social. A base de todo o


costume é uma repetição de práticas sociais – o uso. No entanto, não basta o uso, é
necessário que essas práticas sejam acompanhadas da consciência de obrigatoriedade.

Prática reiterada com convicção de obrigatoriedade. Opinio juris vel necessitatis.

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Jurisprudência – orientação geral seguida pelos Tribunais no julgamento dos
diversos casos concretos da vida social ou conjunto de decisões dos tribunais sobre os
litígios que lhes são submetidos.

Será a jurisprudência fonte de direito em Portugal?

Terão essas decisões dos tribunais, força para além dos processos a que dizem
respeito, tal como sucede nos sistemas anglo-saxónicos?

Em Portugal tal não acontece, o juiz decide apenas com base na Lei e na sua própria
consciência, no entanto, contribui para a formação das normas jurídicas.

Doutrina – é a atividade de estudo teórico ou dogmático do direito. Opinião ou


pareceres dos jurisconsultos sobre a regulamentação das normas jurídicas.

AS FONTES COMUNITÁRIAS

Em Portugal há sempre que contar com as fontes comunitárias.

Como fontes de direito comunitário, que entram na nossa ordem jurídica através:

 REGULAMENTOS
 DIRETIVAS
 DECISÕES
 RECOMENDAÇÕES E PARECERES

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REGULAMENTOS COMUNITÁRIOS, são diretamente aplicáveis a todas as pessoas
singulares ou coletivas no âmbito territorial dos Estados Membros. Vigoram
diretamente na nossa ordem jurídica.

É uma verdadeira “lei comunitária”, à qual devem, diretamente, obediência não só as


autoridades nacionais, mas também os cidadãos de cada país.

DIRETIVAS COMUNITÁRIAS, caracteriza-se, genericamente, pelo facto de definir tais


Estados membros um “resultado a alcançar”, cabendo-lhes escolher e atuar os
instrumentos, nomeadamente normativos, adequados à obtenção daquele.

Ex: Código das Práticas comerciais desleais

DECISOES, é obrigatória em todos os seus elementos para os destinatários que


designar.

Prioridade do Direito da União sobre o Direito Interno:

A prioridade do direito comunitário sobre o direito interno dos Estados-membros,


ainda que de nível constitucional, assenta no princípio:

Os Tratados constitutivos da EU instituíram uma ordem jurídica própria, integrada na


ordem jurídica dos Estados-membros e que se impõe às suas jurisdições, tendo os
Estados-membros, limitado, embora em domínios restritos, os seus direitos soberanos
e criado, assim, um corpo de direito aplicável aos seus súbditos e a eles próprios. JOÃO
MOTA DE CAMPOS

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FONTES INTERNACIONAIS

Artigo 8.º da Constituição da República Portuguesa

“1 - As normas e os princípios de Direito Internacional geral ou comum fazem parte


integrante do Direito português.

2 - As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou


aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto
vincularem internacionalmente o Estado Português.

3 - As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de


que Portugal seja parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se
encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos.

…”

Ex:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM: Refira-se, em primeiro lugar, a


Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, que assume o carácter
vinculante, mas tem para nós o interesse especial de constituir um referencial básico
para a determinação do conteúdo, extensão e limites dos direitos fundamentais
constitucionalmente consagrados.

Na Declaração Universal são proclamados os princípios do direito ao trabalho, da


liberdade de escolha de trabalho, da igualdade de tratamento, da proteção no
desemprego, do salário equitativo e suficiente, da liberdade sindical, do direito ao
repouso e aos lazeres, da limitação da duração do trabalho e do direito a férias (arts.
23º e 24º).

CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS DO HOMEM, concluída em Roma, 1950. Trata-


se já de um instrumento vinculativo para os Estados ratificantes, embora com um
âmbito geográfico restrito.

Declaração Universal dos Direitos do Homem

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Adoptada e proclamada pela Assembleia Geral na sua Resolução 217A (III) de 10 de Dezembro
de 1948.

Publicada no Diário da República, I Série A, n.º 57/78, de 9 de Março de 1978, mediante aviso
do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família


humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a


actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo
em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi
proclamado como a mais alta inspiração do homem;

Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de


direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania
e a opressão;

Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as


nações;

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos
direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de
direitos dos homens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social
e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com


a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das
liberdades fundamentais;

Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta
importância para dar plena satisfação a tal compromisso:

A Assembleia Geral

Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir
por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da

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sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por
desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas
de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e
efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º

Artigo 2.º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente


Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento
ou de qualquer outra situação.

Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território
independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3.º

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4.º

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos,


sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5.º

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou


degradantes.

Artigo 6.º

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade


jurídica.

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Artigo 7.º

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm
direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8.º

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra
os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9.º

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.º

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja
deduzida.

Artigo 11.º

1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as
garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não
constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não
será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso
foi cometido.

Artigo 12.º

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio
ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou
ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13.º

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1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de
um Estado.

2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o
direito de regressar ao seu país.

Artigo 14.º

1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em


outros países.

2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por
crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações
Unidas.

Artigo 15.º

1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar
de nacionalidade.

Artigo 16.º

1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família,
sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da
sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e


do Estado.

Artigo 17.º

1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18.º

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Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado,
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.º

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de
não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20.º

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.º

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país,
quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicos do seu
país.

3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se


através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto
secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22.º

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis,
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os
recursos de cada país.

Artigo 23.º

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e
satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.

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2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à
sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por
todos os outros meios de protecção social.

4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em
sindicatos para a defesa dos seus interesses.

Artigo 24.º

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável
da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.

Artigo 25.º

1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a
saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à
assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança
no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de
meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças,


nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26.º

1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino
técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto
a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.

2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos
do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27.º

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1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de
fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.

2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção
científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28.º

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem
capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente
Declaração.

Artigo 29.º

1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno
desenvolvimento da sua personalidade.

2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às
limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o
respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral,
da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.

3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e
aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.º

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver


para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade
ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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DOUTRINA

Tradicionalmente ao enunciar as fontes de direito, inclui-se a doutrina, mas hoje já não


o é.

Ela foi historicamente fonte de direito:

 Tendo em vista cada opinião tomada por si: era o que se passava com o
jurisconsultos romanos. A sua solução ou resposta pode ter por si só força
vinculativa.

Não sendo fonte de direito, esta figura jurídica é de extrema importância, nos nossos
dias, nos litígios jurídicos procura-se enriquecer as alegações com citação dos
jurisconsultos.

Em suma a doutrina não sendo uma fonte de direito, contribui poderosamente para a
vida jurídica que se conjuga com fatos diretamente normativos e mediante a qual eles
ganham o verdadeiramente significado.

COSTUME

Existem autores (Oliveira Ascensão) que consideram o costume como fonte


privilegiada do direito, porque exprime diretamente a ordem da sociedade, e por isso a
eficácia da regra costumeira.

PRATICA REITERADA COM CONVIÇÃO DE OBRIGATORIEDADE:

USO

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USO: é simplesmente uma prática social reiterada. Logo podemos afirmar que existem
usos que não interessam ao direito, pois não têm valor jurídico, ex: oferta de brindes
na páscoa, não implica uma regra jurídica.

Para sabermos se estamos perante um COSTUME, é necessária a intervenção de um


novo elemento = CONVIÇÃO DE OBRIGATORIEDADE: significa que os indivíduos devem
ter a consciência de que existe a obrigatoriedade naquela prática.

JURISPRUDÊNCIA

O JUIZ PERANTE QUEM FOR COLOCADO NO CASO CONCRETO DECIDE.

A decisão é um fato, mas baseia-se sempre num critério normativo, ou seja, o juiz deve decidir
numa perspetiva generalizadora, só excecionalmente pode remeter às circunstâncias do caso
concreto = sistema anglo americano.

No sistema romanístico, cada juiz encontra-se colocado numa posição de independência, ou


seja:

 Os tribunais superiores não têm de julgar como o fizeram em juízos inferiores;


 Os juízes não têm de julgar como o fizeram já juízes do mesmo nível hierárquico. Assim
se o juiz de direito chamado a decidir um caso verifica que outro juiz decidiu já caso
semelhante, nem por isso está vinculado a manter a orientação seguida.
 Os juízes não têm de julgar consoante eles próprios já fizeram. O facto do Supremo
Tribunal decidir sempre em certo sentido não o inibe de adotar outra orientação.

De acordo com o Estatuto dos Magistrados Judiciais: “Os magistrados judiciais julgam apenas
segundo a Constituição e a lei não estão sujeitos a ordens ou instruções, salvo o dever de

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acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas em via de recurso pelos tribunais
superiores.”.

O juiz está sempre vinculado a julgar segundo o direito objetivo.

Assim sendo a jurisprudência é ou não fonte de direito?

Há quem considere que a jurisprudência não pode ser considerada como fonte de direito, de
revelação da norma jurídica, considerando que a decisão proferida pelo juiz não é elevada a
regra, que deva observar-se noutros casos.

Jurisprudência uniformizada: a necessidade de atingir maior segurança nas decisões e evitar


desperdício de atividade jurisprudencial perante casos semelhantes levou muitos países à
adoção de providências destinadas a provocar a uniformização da jurisprudência.

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A lei

Lei (do verbo latino ligare, que significa "aquilo que liga", ou legere, que significa
"aquilo que se lê")

É uma norma ou conjunto de normas jurídicas criadas através dos processos próprios
do ato normativo e estabelecidas pelas autoridades competentes para o efeito.

Lei – norma jurídica decidida e imposta por uma autoridade com poder para o fazer.

Primeira distinção:

 Lei em sentido material – declaração de uma ou mais normas jurídicas pela


entidade competente (poder legislativo em sentido lato, ou poder normativo).
Abrange qualquer norma jurídica
 Lei em sentido formal – “Lei”, diploma emanado o órgão legislativo por
excelência (AR).

São Leis em sentido material e formal:

a) Constituição,

b) Leis de revisão constitucional, art.161º., al. a) CRP e 166º, nº.1.;

c) Leis orgânicas art.166, nº.2 d);

d) Leis ordinárias da AR, simplesmente designadas por lei, art.166º., nº. 3 CRP).

Não são diretamente fonte de direito as leis meramente formais:

a) Leis de autorização legislativa ao Governo, art.161º.,al.d)CRP;

b) As que conferem à AR, autorizações legislativas, art.161º, c);

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c) As que autorizam o Governo a contrair ou conceder empréstimos, aprovam os
tratados, concedem amnistias.

HIERARQUIA DAS LEIS

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Nota: Há várias categorias de leis. Por isso, entre elas é necessário haver uma
hierarquização.

Da hierarquia das leis resulta:

 As leis de hierarquia inferior não podem contrariar as leis de hierarquia


superior, têm de se conformar com elas;
 As leis de hierarquia superior ou igual podem contrariar leis de hierarquia
inferior ou igual e então diz-se que a lei mais recente revoga a lei mais antiga.

A- Constituição – Topo da hierarquia das leis.

Com base num processo directo ou indirectamente pré-constitucional, de tipo


evolutivo ou revolucionário, surge-nos no topo da hierarquia a Constituição.

Lei fundamental do Estado que fixa os grandes princípios da organização política e da


ordem jurídica em geral, direitos e deveres fundamentais dos cidadãos.

Portugal teve já 6 Constituições:

3 Monárquicas: 1822, 1826 e 1838

3 Republicanas: 1911, 1933, 1976 (7 revisões)

A Constituição da República Portuguesa, de 2 de Abril 1976, sofreu sete revisões


constitucionais (Leis constitucionais: nº.1/82, de 30 de Setembro; 1/89, de 8 de Julho;
1/92, de 25 de Novembro; 1/97, de 20 de Setembro; 1/2001, de 12 de Dezembro;
1/2004, de 24 de Julho e 1/2005 de 12 de Agosto).

 A Constituição da República Portuguesa, aprovada a 2 de Abril de 1976, dotou a


Assembleia da República de poderes de revisão constitucional, exercidos pela

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primeira vez num longo (entre Abril de 1981 e 30 de Setembro de 1982)
processo de revisão do seu articulado inicial, o qual reflectia opções políticas e
ideológicas decorrentes do período revolucionário que se seguiu à ruptura
contra o anterior regime autoritário, consagrando a transição para o
socialismo, assente na nacionalização dos principais meios de produção e
mantendo a participação do Movimento das Forças Armadas no exercício do
poder político, através do Conselho da Revolução.
 A revisão constitucional de 1982 procurou diminuir a carga ideológica da
Constituição, flexibilizar o sistema económico e redefinir as estruturas do
exercício do poder político, sendo extinto o Conselho da Revolução e criado o
Tribunal Constitucional.
 Em 1989 teve lugar a 2ª Revisão Constitucional que deu maior abertura ao
sistema económico, nomeadamente pondo termo ao princípio da
irreversibilidade das nacionalizações directamente efectuadas após o 25 de
Abril de 1974.
 As revisões que se seguiram, em 1992 e 1997, vieram adaptar o texto
constitucional aos princípios dos Tratados da União Europeia, Maastricht e
Amesterdão, consagrando ainda outras alterações referentes, designadamente,
à capacidade eleitoral de cidadãos estrangeiros, à possibilidade de criação de
círculos uninominais, ao direito de iniciativa legislativa aos cidadãos,
reforçando também os poderes legislativos exclusivos da Assembleia da
República.
 Em 2001 a Constituição foi, de novo, revista, a fim de permitir a ratificação, por
Portugal, da Convenção que cria o Tribunal Penal Internacional, alterando as
regras de extradição.
 A 6ª Revisão Constitucional, aprovada em 2004, aprofundou a autonomia
político-administrativa das regiões autónomas dos Açores e da Madeira,
designadamente aumentando os poderes das respectivas Assembleias
Legislativas e eliminando o cargo de “Ministro da República”, criando o de
“Representante da República”.

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 Foram também alteradas e clarificadas normas referentes às relações
internacionais e ao direito internacional, como, por exemplo, a relativa à
vigência na ordem jurídica interna dos tratados e normas da União Europeia.
 Foi ainda aprofundado o princípio da limitação dos mandatos, designadamente
dos titulares de cargos políticos executivos, bem como reforçado o princípio da
não discriminação, nomeadamente em função da orientação sexual.
 Em 2005 foi aprovada a 7ª Revisão Constitucional que através do aditamento
de um novo artigo, permitiu a realização de referendo sobre a aprovação de
tratado que vise a construção e o aprofundamento da União Europeia.

As normas jurídicas, ordinárias, que contrariem a constituição conduzem


a problemas de constitucionalidade (não respeita a CRP) e por isso pode
sofrer de dois tipos de inconstitucionalidade:

 Inconstitucionalidade Material – o texto que contem a norma jurídica está em


contradição com as normas constantes na CRP.

 Inconstitucionalidade orgânica – o órgão criador da norma não é competente e


não está munido de mandato para o efeito – autorizações legislativas, ex: O PR
tem competência para rever a CRP.

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B- Lei

Correspondem ao poder legislativo, em sentido restrito.

 Leis e;
TÊM O MESMO VALOR
 Decretos-Leis

Decretos - legislativos regionais – versam sobre matéria de interesse específico para


as respectivas regiões e não reservados à Assembleia da República ou do Governo, não
podendo dispor contra as leis gerais da República.

1. A assembleia da república emite:

Leis (estabelece normas gerais e abstractas); moções e resoluções (não têm esse
alcance) art.166º.CRP

2. Governo emite:

Decreto-lei (todos aprovados em conselho de ministros)

C- Regulamentos

Abaixo do poder legislativo está o poder regulamentar.

As leis estabelecem as normas, princípios e institutos para a resolução de problemas,


mas por vezes a sua aplicação ou execução necessita de pormenorização com vista à
sua boa execução.

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Ex: criou-se o curso de curso X, mas a secretaria teve de estabelecer normas sobre a
maneira de os alunos se inscreverem, documentos a entregar,…

O poder regulamentar é legislativo, mas só em sentido amplo (quando falamos em


separação de poderes, o poder legislativo é referido apenas no seu sentido restrito, o
poder regulamentar integra-se no poder executivo ou administrativo).

 A AR não tem competência regulamentar.

O governo tem poder regulamentar, assim, os regulamentos do Governo podem


assumir as seguintes formas:

Decretos - regulamentares: são emanados do governo, promulgados pelo PR,


referendados pelo Governo ou ministros interessados.

A hierarquia das leis depende, em princípio, da hierarquia das fontes de onde


emanam, mas o princípio não é absoluto, porque muitas vezes o mesmo órgão produz
normas com valor diferente. (Ex. Governo, que produz decretos-lei e regulamentos), e
noutras porque a matéria é de reserva ou de autonomia legislativa.

Leis ordinárias e leis constitucionais:

 As leis ordinárias que violem a constituição sofrem de um vício de


inconstitucionalidade (orgânica ou formal e material, art. 204º.CRP).

(Nota: Os decretos do Presidente da República a declarar o estado de sítio ou o estado


de emergência, em conformidade com a Constituição, prevalecem, durante o período
da sua vigência, sobre todas as normas cuja vigência fica suspensa durante o mesmo
período).

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Leis Ordinárias:

a) Leis da AR, Decretos-lei do Governo, e Decretos - legislativos regionais;

b) Decretos regulamentares, decretos simples do Governo e Decretos regionais;

c) Portarias e despachos normativos dos membros do Governo;

d) Regulamentos das autarquias locais e institucionais.

PROCESSO LEGISLATIVO

Na feitura das leis - processo legislativo podem distinguir-se 4 fases:

1. Elaboração;
2. Promulgação;
3. Publicação;
4. Entrada em vigor.

1. Elaboração:

Elaborar o texto da lei, mediante a iniciativa legislativa.

Nos termos do art. 167º.,nº. 1 CRP a iniciativa legislativa compete:

 Deputados
 Aos grupos parlamentares
 Governo
 Grupo de cidadãos eleitores.

PROJECTO DE LEI

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A iniciativa legislativa do Governo e das ALR, designa-se PROPOSTA DE LEI.

Depois de ser admitida pelo Presidente da Assembleia, a iniciativa é objeto de um


parecer da Comissão especializada a quem foi distribuída, seguindo-se o seu debate na
generalidade, sempre feito em reunião Plenária, que termina com a votação na
generalidade (sobre as linhas gerais da iniciativa).

Segue-se um debate e votação na especialidade (artigo por artigo), que pode ser feito
em Plenário ou em Comissão.

Há matérias cujo debate e votação na especialidade é obrigatório em Plenário. São,


por exemplo, as que se referem às eleições para os titulares dos órgãos de soberania,
ao referendo, aos partidos políticos, à criação ou modificação territorial das autarquias
locais.

O texto final é submetido a uma votação final global sempre feita em Plenário.

A iniciativa aprovada chama-se Decreto da Assembleia da República.

O Decreto, assinado pelo Presidente da Assembleia da República, é enviado ao


Presidente da República para promulgação.

2. Promulgação

Ato pelo qual o PR atesta solenemente a existência de lei e ordena que ela seja
observada.

A falta de promulgação determina a inexistência jurídica do ato art.137º. (a


promulgação não é só um ato de conformidade de fiscalização da regularidade da sua
elaboração, é também um ato de natureza política).

À promulgação, a que se deve acrescer a referenda (ato de natureza complexa que


consiste na aposição da assinatura do Primeiro-Ministro junto a assinatura do PR),
segue-se a publicação.

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3. Publicação

É o meio de levar a lei ao conhecimento dos seus destinatários, art. 119º.

Para poderem ser aplicadas, para terem eficácia, as leis têm de ser publicadas (o
problema da segurança jurídica).

As normas de valor geral são publicadas no jornal oficial designado de Diário da


República.

(Antes da publicação a lei já existe juridicamente mas ainda não tem valor pratico,
porque não entra logo em vigor, a sua eficácia vai depender da sua publicação).

4. Entrada em vigor

Entre a publicação e a entrega em vigor da lei, há sempre um hiato de tempo - vacatio


legis.

A vacatio legis é o período de tempo que medeia entre a publicação de um diploma


no jornal oficial e a sua entrada em vigor no ordenamento jurídico.

O legislador é, em princípio, livre quanto à fixação do período de tempo de vacatio


legis, existindo, contudo, a limitação legal de os atos legislativos e os outros atos de
conteúdo genérico não poderem, em caso algum, iniciar a sua vigência no próprio dia
da publicação (cfr. artigo 2.º, n.º 1, da Lei n.º 74/98, de 11 de novembro, na sua versão
atual).

Atos com maior complexidade, como por exemplo, um novo código, podem ter uma
vacatio de meses ou até de um ano ou tempo superior; já em situações em que o
legislador considere urgente a entrada em vigor do diploma, o ato pode iniciar a
vigência logo no dia posterior ao da sua publicação.

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Quando o legislador nada refere quanto ao momento da entrada em vigor de um
diploma, existe um prazo supletivo para a vacatio legis, que está previsto no n.º 2 do
artigo 2.º da Lei n.º 74/98 cuja versão atual determina que, “na falta de fixação do dia,
os diplomas referidos no número anterior entram em vigor, em todo o território
nacional e no estrangeiro, no quinto dia após a publicação.”

O prazo conta-se a partir do dia imediato ao da sua disponibilização no sítio da Internet


gerido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A. (cfr.n.º 4 do artigo 2.º da Lei n.º
74/98) e é um prazo de calendário, ou seja, contam-se dias corridos e não dias úteis,
pelo que um diploma pode entrar em vigor a um sábado, domingo ou feriado. Por
exemplo, se uma lei da Assembleia da República for publicada no dia 26 de abril de
2018 entrará em vigor no dia 1 de maio de 2018, dia feriado.

Cessação da vigência das leis: caducidade e revogação

Já vimos a entrada em vigor das leis, vejamos como deixa de vigorar.

As leis, em princípio fazem-se para durar, permanecendo em vigor até que sejam
suprimidas por outra lei.

Mas nem sempre é assim, há leis que têm logo um fim temporal previsto.

Note-se: a antiguidade da lei, o desaparecimento dos motivos que levaram ao seu


surgimento, não afeta a sua vigência. A desatualização da lei não constitui, só por si,
causa de extinção da sua vigência.

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Duas causas de cessação da vigência da lei, art.7º. CC:

 Caducidade (quando se destinava a ter uma duração temporária, aposição de


um prazo certo, Ex: leis de emergência – que vigoram enquanto durar uma
certa situação, guerra, epidemia…);
 Revogação, é o afastamento da lei por outra de valor hierárquico igual ou
superior.

A revogação pode ser: total (abrogação),

Parcial (derrogação).

Três espécies de revogação:

 Expressa: quando a nova Lei declara expressamente que revoga a lei anterior,
ou seja, a Lei(A) diz que revogou ( Expressamente ) a Lei (b) anterior.;
 Tácita: resulta da incompatibilidade entre a Lei nova e a Lei anterior, ou seja,
uma Lei posterior não diz expressamente que revoga a anterior, mas da sua
aplicação resulta uma incompatibilidade de que resulta a sua revogação.
Logo entende-se que tacitamente revoga a Lei anterior.
 Revogação de sistema (quando a intenção do legislador é que um certo
diploma passe a ser o único e completo texto de regulamentação de certa
matéria ex: Ex: Uma Lei nova que regula totalmente o Dtº de família.

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