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o SISTEMA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O

BRASIL

LUIZ FELIPE DE SEIXAS CORREA


.','ecretário-Geral do Alinistério das Relações Exteriores

É com grande satisfação que participo do Workshop sobre a


proteção internacional dos direitos humanos, organizado pelo Superior Tribunal
de Justiça e a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, com o apoio e a
colaboração do Ministério das Relações Exteriores.
O objetivo central deste importante evento é contribuir para o
debate em torno das implicações jurídicas e políÜcas decorrentes das
obrigações internacionais contraídas pelo Estado brasileiro no campo da
proteção aos direitos humanos.
É nossa expectativa que este exercício contribua também para
tornar mais conhecido em nosso país o Sistema Internacional de Proteção aos
Direitos Humanos. que pode e deve constituir parâmetro para o trabalho
cotidiano do Judiciário.
Nas últimas cinco décadas, assistimos a um amplo e profundo
processo de generalização dos mecanismos de defesa e proteção do
indivíduo. Foi possível pouco a pouco construir um sólido códi~o internacional
sobre a matéria, composto de numerosos instrumentos de proteção dos
direitos humanos, adotados no âmbito das Nações Unidas e de organizações
regionais congêneres.
Por força desses instrumentos, os Estados foram levados a
reconhecer que os seres humanos- gozam de direitos essenciais, cuja
titularidade é irrenunciável, e que sua denegação ou violação resulta na
responsabilização internacional deles próprios, os Estados.

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A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil APi

Um novo Direito Internacional, centrado nos Direitos Humanos, condições justas, rei
distinguiu-se progressivamente do Direito Internacional Clássico ao atingir os capazes de assegura
Estados no sensível aspecto do tratamento por eles dado a seus cidadãos e a educação, entre outn
todos os seres humanos sob a sua jurisdição.
Os dois
Jamais anteriormente haviam os Estados aceitado o chamada "Carta Inte
estabelecimento de tantas restrições a sua soberania e a submissão ao vertebral do conjun
escrutínio internacional em matéria de tamanha sensibilidade. humanos. Somam-sE:
O indivíduo, cada vez mais, torna-se sujeito do Direito e declarações adotac
Internacional. importantes dizem fi
tortura e às crianç
O marco contemporâneo da evolução no tratamento da questão significativas.
dos direitos humanos foi a adoção da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em 10 de dezembro de 1948, precedida em alguns meses pela Em 199
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Este instrumento Humanos, que congn
deve ser considerado como a Constituição Universal dos Estados e da e entidades da socied
comunidade internacional em matéria de direitos humanos. da universalidade de
internacional com o ti
A autoridade moral da Declaração surge da caracterização da internacionais é acei1
dignidade e da igualdade de direitos como atributos inalienáveis da como resultado das!
humanidade e vai além dos regimes políticos e dos sistemas jurídicos. Ela não invocam a soberania I
apenas possui uma autoridade reconhecida e efetiva, mas é também fonte de
legitimidade para toda ação legisladora e inquisitiva que efetue a comunidade A complE:
internacional em matéria de direitos humanos. os direitos humanos
características econé
Os dois instrumentos que complementam a Declaração Universal Programa de Ação di
dos Direitos Humanos, assegurando aos direitos nela consagrados a força de internacional reconhe<
obrigação jurídica que os Estados se comprometem a respeitar, são o Pacto parte integrante dos 1
Internacional sobre Direitos Civis e Polfticos, em vigor desde janeiro de 1976, e implementação. Subll
o Pacto Internacional sobre Direitos Econ6micos, Sociais e Culturais, em vigor governo mais favorávE
desde mafÇo de 1976.
O órgão
O primeiro descreve e aprofunda o corpo de direitos individuais Nações Unidas é a Co
sacramentados pela Declaração. Os Estados partes comprometem-se a consistiu em apresenli
respeitar uma ampla gama de direitos garantidos "a todos os indivíduos que se planificador e executo
acham em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição". Ao mesmo social, cultural e em rr
tempo, aos Estados cabe assegurar às pessoas que tenham seus direitos ou informes destinaI
violados o acesso desimpedido à justiça e medidas compensatórias humanos.
adequadas.
À medida
O segundo, por sua vez, criou um mecanismo para o CDH ampliou-se signi
monitoramento de sua implementação e instituiu o Comitê dos Direitos pOderosa caixa de re!
Humanos, composto por 18 peritos, de nacionalidades distintas, que exercem também importante pé
seu mandato a título pessoal. É o único instrumento jurídico internacional e de ocorram violações gra'
abrangência genérica a conferir obrigatoriedade à promoção e proteção dos confidencial, que perm
direitos humanos ditos de "segunda geração" ( direito ao trabalho livre; a delicadas, e outro pú

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eoBrasil A Proteção lntemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil

nos Direitos Humanos, condições justas, remuneradas, eqüitativas, seguras e higiênicas de trabalho,
ai Clássico ao atingir os capazes de assegurar existência decente ao trabalhador e sua família; direito à
ado a seus cidadãos e a educação, entre outros).
Os dois Pactos em vigor e a Declaração Universal compõe a
Estados aceitado o chamada "Carta Internacional dos Direitos Humanos", que constitui a coluna
ania e a submissão ao vertebral do conjunto de normas e mecanismos de proteção aos direitos
filidade. humanos. Somam-se a esses três instrumentos mais de sessenta convenções
e declarações adotadas pelas Nações Unidas sobre direitos humanos. As mais
-se sujeito do Direito
importantes dizem respeito ao racismo, à discriminação contra a mulher, à
tortura e às crianças. O Brasil é parte de todas as convenções mais
) tratamento da questão significativas.
Universal dos Direitos
Em 1993, realizou-se a Conferência de Viena de Direitos
em alguns meses pela
Humanos, que congregou a maior concentração de representantes de Estados
mem. Este instrumento
e entidades da sociedade civil em matéria de direitos humanos. A reafirmação
lrsal dos Estados e da
da universalidade dos direitos humanos e da legitimidade da preocupação
mos.
internacional com o tema foi seu principal mérito. Hoje, a atuação dos órgãos
le da caracterização da internacionais é aceita, em maior ou menor grau, pela maioria dos Estados
ibutos inalienáveis da como resultado das garantias consagradas em Viena, poucos sendo os que
stemas jurídicos. Ela não invocam a soberania para furtar-se à supervisão internacional.
mas é também fonte de
A complexa realidade contemporânea e a difícil tarefa de realizar
lue efetue a comunidade
os direitos humanos em sociedades distintas em suas tradições culturais e
características econômicas e sociais estão refletidos na Declaração e no
1 a Declaração Universal Programa de Ação de Viena. Além disso, pela primeira vez, a comunidade
consagrados a força de internacional reconheceu consensualmente o direito ao desenvolvimento como
a respeitar, são o Pacto parte integrante dos direitos humanos, recomendando cooperação para sua
desde janeiro de 1976, e implementação. Sublinhou ainda que a democracia representa a forma de
iais e Culturais, em vigor governo mais favorável para o respeito aos direitos humanos.
O órgão por excelência dos direitos humanos no âmbito das
)0 de direitos individuais Nações Unidas é a Comissão de Direitos Humanos (CDH). Seu mandato inicial
tes comprometem-se a consistiu em apresentar ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC) - órgão
Idos os indivíduos que se planificador e executor de políticas das Nações Unidas na ordem econômica,
a jurisdição". Ao mesmo social, cultural e em matéria de direitos humanos - propostas, recomendações
Je tenham seus direitos ou informes destinados à futura normativa internacional sobre direitos
ledidas compensatórias humanos.
À medida em que seu mandato inicial se cumpria, a atuação da
n mecanismo para o CDH ampliou-se significativamente. Constitui hoje um foro de debates e uma
o Comitê dos Direitos poderosa caixa de ressonância de idéias, de queixas e de denúncias. Tem
s distintas, que exercem também importante papel no exame de situações individuais de países onde
urídico internacional e de ocorram violações graves aos direitos humanos, através de um procedimento
romoção e proteção dos confidencial, que permite por vezes encaminhamentos favoráveis a situações
eito ao trabalho livre; a delicadas, e outro público, que dá margem a discussões proveitosas e a

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A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil A Pr

pronunciamentos importantes da comunidade internacional sobre fatos que lhe realização de missé
são apresentados. respectivo.

Em situações emergenciais, a CDH reúne-se extraordinariamente, A institt


podendo apresentar recomendações diretamente inclusive à Assembléia-Geral regional de proteção
das Nações Unidas. Recentemente, foi convocada reunião extraordinária para Humanos, presidida
examinar o caso das violações de direitos humanos ocorridas no Timor Leste, Trindade, que exel
e dela resultou uma solicitação ao Secretário-Geral das Nações Unidas para Itamaraty. Trata-se d
que estabeleça uma Comissão Internacional de Investigação com vistas a definição das contro\
coletar sistematicamente informações sobre a violação de direitos humanos matéria de direitos hl
naquele território. O exer<
No que diz respeito ao Sistema Interamericano de Direitos consolidação de apl
Humanos cabe salientar que o continente americano é precursor na adoção corpo normativo do
de instrumentos internacionais destinados à proteção dos direitos e das para o julgamento d
liberdades fundamentais. Fomos a primeira região do mundo a adotar uma partes da Convençãc
declaração sobre a matéria, proclamada durante a IX Conferência A Corte
Interamericana, em 2 de maio de 1948. Interamericana ou p
Na mesma data, a Carta da OEA determinava a elaboração de determina se o Esta
instrumento convencional e a criação de uma Comissão de Direitos Humanos além de estipular a
com a missão de promover a observância e a defesa desses direitos. Este vítimas ou seus hel1
sistema adquiriu maior solidez jurídica com a entrada em vigor da Convençflo primeira sentença CI
Americana sobre Direitos Humanos, em 1978, e com a aprovação dos ação judicial increme
Estatutos da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos em Este é I
1979. nos âmbitos multi/ate
Passaram-se três décadas, portanto, ante::. que as disposições da Seria in:
Declaraçflo Americana dos Dire;tos e Deveres do Homem deixassem de ser ativa participação (
um simples instrumento de intenções para converter-se em um mecanismo instrumentos interna(
operativo com autoridade para cumprir a missão que lhe outorga a Carta da efetiva implementaç~
OEA. Ésse atraso, justificável unicamente pelas circunstâncias políticas
tormentosas que viveu a região naquela época, representou um vazio de No deco
proteção regional em matéria de direitos humanos que, na visão de muitos o representante bra!
analistas, afetou cidadãos da maioria dos países, especialmente os latino­ g~rantias, de mode
americanos. singularizou a impoli
insistência do Brasil.
A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, que conta facultativos) das Naç
entre seus atuais integrantes com o Doutor Hélio Bicudo, monitora a demandar a consider
implementação da Declaração Americana, da Convenção Americana, bem
como dos demais instrumentos do Sistema Interamericano. Reúne-se duas Em seu
vezes ao ano e possui funções extremamente abrangentes, definidas em seu Internacional Públic
Estatuto. Ressaltaria, entre elas, as funções de realização de estudos e primórdios da fase
relatórios, de avaliação das legislações nacionais, de recebimento e exame de humanos, formara-sE
petições, de comunicação com qualquer dos Estados americanos a fim de internacionalistas (Hi
obter informações e formular recomendações, além da possibilidade de Beviláqua - curiosa r

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!ie o 8f7Jsil A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil

:ional sobre fatos que lhe realização de missões in loco, desde que com a anuência do governo
respectivo.

e-se extraordinariamente, A instituição fundamental no aumento do prestígio do sistema


usive à Assembléia-Geral regional de proteção aos direitos humanos é a Corte Interamericana de Direitos
!União extraordinária para Humanos, presidida atualmente pelo Professor Antônio Augusto Cançado
Dcorridas no Timor Leste, Trindade, que exerceu no passado a função de Consultor-Jurídico do
das Nações Unidas para Itamaraty. Trata-se da instância jurisdicional última, no plano regional, para a
vestigação com vistas a definição das controvérsias entre os Estados e entre estes e os particulares em
ção de direitos humanos matéria de direitos humanos.
O exercício da competência consultiva da Corte permitiu a
ramericano de Direitos consolidação de apreciável jurisprudência em matéria de interpretação do
o é precursor na adoção corpo normativo do sistema. Com respeito a sua competência contenciosa,
eção dos direitos e das para o julgamento de casos a ela submetidos, esta é limitada aos Estados ­
do mundo a adotar uma partes da Convenção Americana que a reconheçam expressamente.
nte a IX Conferência A Corte julga os casos que lhe são submetidos pela Comissão
Interamericana ou pelo Estado interessado e pode emitir sentença em que
rminava a elaboração de determina se o Estado é ou não responsável por violações da Convenção,
são de Direitos Humanos além de estipular a obrigação de fazer cessar as violações e indenizar as
~sa desses direitos. Este vítimas ou seus herdeiros legais, Na prática, desde que a Corte emitiu sua
I em vigor da Convenção primeira sentença condenatória, em caso de desaparecimento forçado, sua
i com a aprovação dos ação judicial incrementou-se significativamente.
de Direitos Humanos em Este é essencialmente o Sistema de Direitos Humanos vigente
nos âmbitos multilateral e regional. Como se inscreve o Brasil nesse sistema?
e:;, que as disposições da Seria interessante resgatar inicialmente a memória histórica da
lomem deixassem de ser ativa participação do Brasil nos debates e no processo de redação dos
~r-se em um mecanismo instrumentos internacionais de proteção, além do papel brasileiro na busca da
e lhe outorga a Carta da efetiva implementação desses instrumentos.
circunstâncias políticas
epresentou um vazio de No decorrer dos trabalhos preparatórios da Declaração Universal,
que, na visão de muitos o representante brasileiro, Austragésilo de Athaíde, defendeu a adoção de
especialmente os latino- garantias, de modo a assegurar a eficácia dos direitos consagrados, e
singularizou a importância do direito à educação, incluído no documento por
insistência do Brasil. Já nos dois Pactos de Direitos Humanos (e protocolos
os Humanos, que conta facultativos) das Nações Unidas preocuparam-se as delegações brasileiras em
dio Bicudo, monitora a demandar a consideração cuidadosa das medidas de implementação.
venção Americana, bem
ericano. Reúne-se duas Em seu monumental Repertório da Prátíca Brasileira do Direito
gentes, definidas em seu Internacional Público, o Professor Cançado Trindade lembra que, já nos
'ealização de estudos e primórdios da fase legislativa dos instrumentos internacionais dos direitos
recebimento e exame de humanos, formara-se no Brasil uma corrente de pensamento entre importantes
ios americanos a fim de internacionalistas (Hildebrando Accioly, Haroldo Valladão, Levi Carneiro, Clóvis
ém da possibilidade de Beviláqua - curiosamente quatro ex-consultores jurídicos do Itamaraty), que

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A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Bf7Jsil AA

defendiam a tese de que a noção de soberania, em sua acepção absoluta, ampla consulta foi o
mostrava-se inadequada no plano das relações internacionais, devendo ceder no dia 13 de maio d
terreno à noçi!ío de solidariedade. estabeleceu objetiv
Posteriormente, as vicissitudes do regime autoritário vigente no esferas.
Brasil a partir de 1964 viriam a refletir-se negativamente em algumas posições No can
brasileiras em foros internacionais em matéria de direitos humanos. Em certas Programa era o re
ocasiões, insistimos na posição de que a observância dos direitos humanos Interamerícana de O
constituía responsabilidade principal ou exclusiva do governo de cada país. vários níveis da soe
A partir da redemocratizaçi!ío do país, em 1985, não há como esse reconhecime
negar a notável evolução no tratamento do tema em seus aspectos comemorações - qUI
institucional, jurídico e político. No campo diplomático, consolidamos a da Declaração Univl
posição, das mais avançadas, de que a proteção dos direitos básicos do ser dos Direitos e Deven
humano não se esgota na atuação do Estado, e de que os instrumentos A partic
internacionais de proteção representam uma garantia adicional desses direitos e regional sobre direit(
fortalecem a capacidade processual das vítimas de violação de direitos substantivas e pr
fundamentais. imparcialidade.
Ao longo da década de oitenta, o Brasil participou ativamente dos Nossa a
debates que levaram à consolidação e à ampliação da temática dos direitos ser agrupados do se~
humanos no âmbito das Nações Unidas. Aderimos aos principais tratados
internacionais de proteção aos direitos humanos (os dois pactos internacionais a) Reco.
sobre direitos humanos, a Convenção contra a Tortura, a Convenção s'obre os com a situação dos
Direitos da Criança), à Convenção Americana de Direitos Humanos e à tem a firme convicç~
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. Esses têm a obrigação di
instrumentos somaram-se aos demais de que o Brasil já tomara parte enunciados na Del
anteriormente (caso da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de compromisso de co
Discriminação Racial e da Convenção sobre a Eliminação da Discriminação promoção desses din
contra a Mulher). b) Unive
Marco fundamental na visão brasileira da proteção internacional direitos e liberdade
dos Direitos Humanos é a Constituição de 1988. Uma rápida análise de seus universal e não aceit
termos corrobora a visão segundo a qual os Direitos Humanos constituem a culturais limitariam OI
pedra-de-toque de todo o arcabouço jurídico criado pelo legislador constituinte c) Indivh
em resposta aos anseios da sociedade brasileira. possível dissociar a
As normas constitucionais e as obrigações resultantes do' conjunto direitos econômico~
de instrumentos internacionais assinados pelo Brasil no campo dos Direitos estabelecer uma h
Humanos representaram incentivo à vontade da sociedade brasileira e ao detrimento de outro.
empenho do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso para a Com ba:
adoção de importantes inovações na área política, legislativa e administrativa. de nosso país para
Para orientar essa ação inovadora, o Governo mobilizou desenvolvimento qw:
amplamente a sociedade, por meio de consultas, seminários e debates, no na busca de soluçõe:
sentido de dar cumprimento a uma recomendação da Conferência de Viena e confrontações desnec
elaborar um plano programático de direitos humanos. A conclusão dessa

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· e o Brasil A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil

1 sua acepção absoluta, ampla consulta foi o lançamento pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso,
lacionais, devendo ceder no dia 13 de maio de 1996, do Programa Nacional de Direitos Humanos, que
estabeleceu objetivos precisos para a ação governamental em todas as
1e autoritário vigente no esferas.
11e em algumas posições No campo internacional, uma das metas anunciadas pelo
itos humanos. Em certas Programa era o reconhecimento, pelo Brasil, da competência da Corte
:ia dos direitos humanos Interamericana de Direitos Humanos. Após cuidadoso processo de exame em
overno de cada país. vários níveis da sociedade, e após consulta formal ao Congresso Nacional,
esse reconhecimento foi feito em dezembro de 1998, no âmbito da
em 1985, não há como
comemorações - que quisemos ressaltar com muito brilho - do cinqüentenário
ma em seus aspectos
da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Declaração Americana
nático, consolidamos a
dos Direitos e Deveres do Homem.
s direitos básicos do ser
je que os instrumentos A participação do Governo brasileiro nos foros internacional e
Idicional desses direitos e regional sobre direitos humanos é marcada pela defesa do respeito a normas
de violação de direitos substantivas e processuais que garantam eficácia, objetividade e
imparcialidade.
larticipou ativamente dos Nossa atuação rege-se por um conjunto de princípios que podem
da temática dos direitos ser agrupados do seguinte modo:
aos principais tratados
a) Reconhecimento da legitimidade da preocupação internacional
lois pactos internacionais
~, a Convenção dobre os com a situação dos Direitos Humanos em qualquer parte do mundo: o Brasil
tem a firme convicção de que todos os Estados-membros das Nações Unidas
Direitos Humanos e à
têm a obrigação do respeito e da promoção dos direitos e liberdades
mir a Tortura. Esses
Brasil já tomara parte enunciados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e têm o
compromisso de cooperarem entre si e com a ONU para a proteção e
) de Todas as Formas de
nação da Discriminação promoção desses direitos;
b) Universalidade dos Direitos Humanos: o Brasil acredita que os
direitos e liberdades consagrados na Declaração de 1948 têm validade
la proteção internacional
universal e não aceita a tese de que os particularismos históricos, religiosos e
a rápida análise de seus
; Humanos constituem a culturais limitariam ou relativizariam esses Direitos;
~Io legislador constituinte c) Indivisibílídade e interdependência de todos os direitos: não é
possível dissociar a realização dos direitos civis e políticos, de um lado, dos
s resultantes do· conjunto direitos econômicos, sociais e culturais, de outro; tampouco é possível
no campo dos Direitos estabelecer uma hierarquia ou privilegiar um conjunto de direitos em
detrimento de outro.
,ciedade brasileira e ao
mique Cardoso para a Com base nesses princípios, deve-se notar que a sensibilidade
siativa e administrativa. de nosso país para problemas e dificuldades específicos dos países em
o Governo mobilizou desenvolvimento qualificam-no para operar freqüentemente como moderador,
lminários e debates, no na busca de soluções que conduzam ao progresso dos direitos humanos, sem
confrontações desnecessárias.
Conferência de Viena e
lOS. A conclusão dessa

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A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil AA

Não se pode perder de vista que os organismos constituídos por transparente e explí(
governos são foros de debate político e de decisões de caráter político­ existentes no país. C
administrativo. Estas são basicamente produto direto de negociações e denúncias intemac
mediadas pelos interesses dos Estados. Essa contingência reflete-se interno com amplo~
sobretudo no exame das situações de países, onde se tem registrado padrões de observân
excessiva pofitização. Entendemos que as situações de direitos humanos
devem continuar a ser discutidas e analisadas pelos órgãos multilaterais, Atos de
porém com imparcialidade, independência e não - seletividade. efeitos jurídicos para
decorrência de comi
Pelas mesmas razões que nos levam a aceitar sem ambigüidade direitos humanos. GE
a legitimidade da preocupação internacional com os direitos humanos, o ultrapassaram as fro
Governo brasileiro defende que nenhum país deve considerar-se imune ao que todos os homE
exame dos órgãos do sistema. Por este motivo, temos proposto na Comissão obrigações. Os difi
de Direitos Humanos, a partir de proposta inicial ali apresentada pelo Doutor comunidade intemac
José Gregori, Secretário de Estado dos Direitos Humanos, a elaboração integridade da pessoi
bienal de relatório, cuja legitimidade estaria vinculada a seu caráter multilateral,
sobre a situação dos direitos humanos em todos os países do mundo. É preci:
humanos não depen
No âmbito regional, o Brasil reconhece a relevância do papel em grande medida (
desempenhado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e tem políticas para a vigé
defendido o estabelecimento de critérios precisos para a abertura de novos brasileiro está plenar
casos, a fim de evitar a sobrecarga e a banalização do mecanismo da CIDH. A por meio de sua polít
tramitação de petições manifestamente infundadas pode gerar atritos uma ação vigorosa, e
desnecessários entre a Comissão e os Estados, além de desviar os escassos
recursos materiais e humanos da CIDH e dos Estados para queixas que O direito
deveriam ser declaradas inadmissíveis ab initio. todos os direitos hun
cultura dos direitos h
Cremos também fortemente que o Sistema Interamericano de políticas dos Estado:
Proteção de Direitos Humanos, hoje limitado aos países latino-americanos e integrar-se a tal proje
caribenhos, em muito ganharia em eficácia e autoridade se se tornasse até agora não se SI
verdadeiramente hemisférico. A participação plena dos Estados Unidos e do matéria de direitos
Canadá nos instrumentos que o compõem se afigura como objetivo essencial organizações financej
para que ele de fato possa evoluir de forma segura e harmônica.
Um dos
No contexto do aperfeiçoamento de suas relações com o Sistema próximo século ser~
Interamericano, o Brasil ao reconhecer a competência contenciosa da Corte organizações regiona
Interamericana de Direitos Humanos deu, no final de 1998, importante passo. esforços para const
Com essa decisão, pretendeu-se colocar à disposição de todas as pessoas governantes cabe
sob nossa jurisdição a forma mais evoluída de proteção internacional dos consagrando a tese I
direitos humanos, a que é proporcionada judicialmente por meio de decisões reserva individual. C
da Corte. garantia dos direitos
É possível afirmar, portanto, que o Brasil chega ao limiar do governar e qualificarr
século XXI dotado de substantiva estrutura jurídica para executar a tarefa de assim procuramos agi
construção de uma sociedade mais justa e respeitosa dos direitos humanos.
Em nenhum outro momento de sua história, o discurso externo do Brasil foi tão

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'eoBrasil A Proteção Intemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil

anismos constituídos por transparente e explícito no reconhecimento das violações aos direitos humanos
5es de caráter político­ existentes no país. O Governo brasileiro busca sempre antecipar-se às críticas
direto de negociações e denúncias internacionais ao dar visibilidade ao assunto e estimular o debate
~ontingência reflete-se interno com amplos setores da sociedade civil em favor da melhoria dos
nde se tem registrado padrões de observância dos direitos humanos.
es de direitos humanos
os órgãos multilaterais, Atos de violação dos direitos humanos em nosso país geram
itividade. efeitos jurídicos para o Estado brasileiro no plano internacional e regional, em
decorrência de compromissos que assumimos ao aderirmos aos tratados de
lceitar sem ambigüidade direitos humanos. Geram também efeitos políticos. Afinal, os direitos humanos
os direitos humanos, o ultrapassaram as fronteiras do interesse nacional. Resultam da convicção de
considerar-se imune ao que todos os homens e mulheres do planeta são sujeitos de direitos e
's proposto na Comissão obrigações. Os direitos humanos são na atualidade uma prioridade da
'presentada pelo Doutor comunidade internacional, uma vez que é universal o postulado de respeito à
fumanos, a elaboração integridade da pessoa.
~ seu caráter multilateral,
íses do mundo. É preciso porém que fique claro que o respeito aos direitos
humanos não dependa apenas da existência de leis e instituições. Depende,
i a relevância do papel em grande medida da criação de condições econômicas, sociais, culturais e
)ireitos Humanos e tem políticas para a vigência das garantias básicas do ser humano. O Governo
Ira a abertura de novos brasileiro está plenamente consciente dessa necessidade e tem-se esforçado,
) mecanismo da CIDH. A por meio de sua política econômica para que se criem condições que permitam
:Ias pode gerar atritos uma ação vigorosa. eficaz e sustentável do Estado no campo socia1.
I de desviar os escassos
ados para queixas que O direito ao desenvolvimento, como direito síntese e integrador de
todos os direitos humanos, é um conceito apto a estimular a incorporação da
cultura dos direitos humanos em projetos macroeconômicos e nas estratégias
ema Interamericano de políticas dos Estados e da comunidade internacional. Desta forma, poderão
íses latino-americanos e integrar-se a tal projeto as instituições internacionais intergovernamentais que
oridade se se tornasse até agora não se sentem vinculadas diretamente à responsabilidade em
los Estados Unidos e do matéria de direitos humanos, como as de Bretton Woods e as demais
como objetivo essencial organizações financeiras internacionais.
armônica.
Um dos desafios maiores da comunidade internacional para o
relações com o Sistema próximo século será fazer com que o sistema das Nações Unidas e das
'ia contenciosa da Corte organizações regionais melhore seus índices de eficiência e a coordenação de
1998, importante passo. esforços para construir a cultura dos direitos humanos. E aos Estados e
210 de todas as pessoas governantes cabe compreender que o mundo contemporâneo vem
teção internacional dos consagrando a tese de que os direitos humanos são bem mais do que uma
te por meio de decisões reserva individual. Cada vez mais evidencia-se o fato de que a proteção e a
garantia dos direitos humanos representam o fim último do próprio ato de
asil chega ao limiar do governar e qualificam o tipo de sociedade em que se vive. Assim pensamos e
ara executar a tarefa de assim procuramos agir.
a dos direitos humanos.
, externo do Brasil foi tão

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