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Jurisdições internacionais sobre direitos humanos

Internacionalização dos direitos humanos e humanização do direito internacional.

Salvaguarda do direito do mais fraco contra a lei dos mais forte, como um contra poder
em face dos absolutismos (Luigi Ferrajoli).

Ponto de partida na concepção contemporânea de direitos humanos é a introduzida pela


Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de
Viena de 1993. Internazionalização dos direitos humanos é um processo que iniciou-se
a partir do Pós-Guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o
nazismo. Reconstrução dos direitos humanos para reafirmar o valor fundamental da
pessoa humana contra todas as tentativas de abolir a mesma. Negação de direitos
humanos durante as Guerras Mundiais, sobretudo na segunda, reafirmação e
reconstrução dos mesmos no Pós-Guerra. Afastamento de uma concepção positivista,
meramente formalista segundo a qual o ordenamento jurídico seria indiferente a valores
éticos (isso que aconteceu nos regimes totalitários de esquerda e de direita que
aniquilaram o indivíduo, fazendo-o nos moldes da lei e no quadro da legalidade).
Retorno ao pensamento kantiano, ênfase na ideia de moralidade e da dignidade do
indivíduo, ideias pelas quais ele é um fim em si mesmo e jamais um meio.

Emergência do Direito internacional dos direitos humanos, acompanhado por um


Direito constitucional ocidental onde se delineia um sistema normativo internacional de
proteção dos direitos humanos. Primazia do valor da dignidade humana como
norteadora do conceito moderno de direito internacional. A proteção dos direitos
humanos já não é mais domínio reservado dos Estados e consequente revisão da noção
tradicional de soberania absoluta, que passa por um processo de relativização na medida
em que são admitidas intervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos
humanos e uma cristalização da ideia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na
esfera internacional, apesar dos mesmos direitos receberem proteção e tutela nos
ordenamentos internos. O modo pelo qual o Estado trata seus nacionais não é mais um
problema de jurisdição interna, onde o direito internacional não pode intervir. Exceção:
pirataria e tráfego de escravos e tratamento de soldados doentes ou feridos, prisioneiros
de guerra e tratamento mínimo de estrangeiros. Algumas coisas começam a mudar com
o estabelecimento da Liga das nações em 1919, cuja parte XIII criou a OIT, que se
propunha a melhorar as condições de trabalho. O aparecimento dos estados
considerando a sua soberania como um poder ilimitado e absoluto conduziu a uma
consequência extrema: os estados julgavam-se os únicos sujeitos de direito internacional
e recusaram reconhecer esta qualidade às pessoas singulares. Mundo hoje mais
interdependente: soberania tida como relativa, revoluções liberais e socialistas têm
afirmado os direitos das pessoas face aos Estados, atrocidades cometidas contra a
pessoa humana em Estados autoritários.

Primo instrumento internacional relevante em nível internacional é a Declaração de


1948 que vem a inovar ao introduzir a chamada concepção contemporânea de direitos
humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade desses direitos, além do que a
interdependência segundo a qual quando um dos direitos é violado, os demais também o
são já que os mesmos constituem um corpo indivisível e interligado. A partir da
declaração acima citada começa a se desenvolver o Direito internacional dos direitos
humanos, mediante a adoção de inúmeros instrumentos internacionais de proteção:
Pactos das ONU de 1966; convenção contra a tortura, convenção sobre a eliminação da
discriminação racial, convenção contra o apartheid, entre outras. Ao lado do sistema
normativo global, surgem os sistemas regionais de proteção, como por exemplo o
sistema europeu, o americano e o africano. Portanto, hoje o que se tem é uma
coexistência dos instrumentos de proteção regional com o sistema global da ONU.
Nesse sentido, o sistema da ONU e os sistemas regionais não são dicotômicos, mas
complementares. Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal,
compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano
internacional. Nessa ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos
interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Tais sistemas se complementam,
somando-se aos sistemas nacionais de proteção, ao fim de proporcionar a maior
efetividade possível na tutela e promoção dos direitos humanos. Declaração dos Direitos
Humanos de Viena de 1993 faz uma releitura da declaração de 1948, afirmando a
interdependência de valores como direitos humanos, democracia e desenvolvimento.

Várias disposições da Carta da ONU referem-se expressamente aos direitos humanos e a


tutela desses como método para garantir a instauração de relações amistosas e pacíficas
entre as nações. Artigo 68 prevê criação por parte do Conselho econômico e social de
comissões de direitos humanos. Criação da comissão dos direitos do homem =
elaboração da declaração universal dos direitos humanos de 1948 adotada pela
assembleia geral da ONU. Inspiração liberal e filosofia do direito natural e princípios
democráticos. Tutela de direitos civis e políticos sobretudo, inspiração individualista
que inscreve-se na tradição francesa e anglo-saxônica. Ela não possui valor vinculativo
mas na prática reveste uma grande importância já que ela é referência em numerosas
ordens jurídicas nacionais e em tratados internacionais sucessivos.
A comissão dos direitos humanos (agora se chama Conselho= elaborou os dois pactos
de 1966: sobre direitos civis e políticos e sobre direitos sociais, culturais e econômicos.
Têm valor jurídico para os estados que os ratificaram e é aberto à adesão. Artigo 40
Pacto: os Estados partes comprometem-se a apresentar relatórios dirigidos ao secretário-
geral da ONU sobre as medidas que dão efeito aos direitos reconhecidos no pacto: estes
relatórios são examinados pelo comitê dos direitos do homem, do qual o pacto prevê a
instituição no artigo 28. Em virtude dos artigos 41 e seguintes, os estados podem
reconhecer a competência do comitê para receber e examinar comunicações nas quais
um estado parte afirma que um outro Estado-parte não cumpre as suas obrigações ao
abrigo do Pacto. Portanto na esfera global, são adotados tratados internacionais de
proteção dos direitos humanos no ambito da ONU, monitorados por comitês instituídos
pelos próprios tratados, com órgãos políticos ou quase judiciais. Esses tem a
competência para apreciar os relatórios formulados pelos Estados a respeito das
medidas tomadas no âmbito interno para a implementação do tratado; a realização de
investigações in loco e apreciação de comunicações interestatais e petições individuais.
No plano global, houve-se a justicializacao dos direitos humanos na esfera penal tramite
a criação do TPI que julga graves crimes contra ordem internacional cometidos por
indivíduos. Sistemas regionais de proteção de direitos humanos são uma experiência
mais completa e eficaz por possuírem órgãos judiciais que garantem o respeito dos
direitos tutelados nos tratados.

Desafio central dos direitos humanos na ordem internacional é sua justicialização.


Instrumentos de proteção dos direitos humanos em nível universal não possuem muito
sucesso dada a heterogeneidade cultural e política dos Estados. Mas no plano regional,
eles obtiveram maior sucesso isso porque os Estados que os instituíram eram menores
de número e portanto era mais fácil alcançar um consenso além do que muitas regiões
possuem homogeneidade de cultura, língua e tradições. Os sistemas regionais de
proteção em geral são mais eficazes já que acabam por exercer fortes pressões em face
de Estados vizinhos em caso de violações. Há atualmente três sistemas regionais
principais, o europeu, o interamericano e o africano. Há um incipiente sistema
árabe e uma proposta de criação de um sistema regional asiático.

Cada um dos sistemas regionais possui um aparato jurídico próprio. O sistema europeu
conta a com a Convenção europeia de 1950, que estabeleceu originariamente a
Comissão e a Corte europeia de direitos humanos. Pelo Protocolo 11, houve-se a fusão
dos dois órgãos em uma única Corte reformada e permanente. O sistema interamericano
possui como instrumento a Convenção Americana de direitos humanos de 1969 que
prevê a Comissão e a Corte interamericana. O sistema africano apresenta como
principal instrumento a Carta Africana dos direitos humanos e dos povos de 1981, tendo
como instituições a Comissão Africana e a Corte, criada mediante um Protocolo que
entrou em vigor em 2004.

Como acenado, existe um incipiente sistema regional árabe. A Liga dos Estados árabes
criada em 1945 adotou a Carta árabe de direitos humanos que reflete a islâmica lei da
sharia e outras tradições religiosas. Esse instrumento entrou em vigor em 2008, contudo
o mesmo apresenta incompatibilidade com os parâmetros do sistema global. O sistema
de monitoramento prevê relatórios periódicos a serem submetidos pelos Estados ao
Comitê árabe de direitos humanos que supervisiona a implementação da Carta. Não é
prevista uma Corte árabe de direitos humanos e não existe o direito de petição do
indivíduo.

No que se refere à proposta de criação de um sistema regional asiático, destaca-se a


adoção de uma Carta asiática de direitos humanos em 1997 para qual tiveram
influências várias ONGs. A carta prevê medidas concretas para a proteção dos direitos
humanos na região, ressaltando a importância de os Estados asiáticos adotarem
instituições regionais para a proteção e promoção dos direitos humanos.

No que diz respeito à relação entre os sistemas global e regional de proteção de direitos
humanos, pode-se afirmar que os mesmos não se excluem, sendo complementares.
Além disso, enquanto o sistema global deve conter um parâmetro normativo mínimo, os
sistemas regionais deve ir além, tentando adicionar outros direitos, aperfeiçoando
outros. A coexistência de distintos instrumentos jurídicos visa ampliar e fortalecer a
proteção dos direitos humanos.
Para enfocar o processo de justicialização dos direitos humanos nos sistemas regionais,
importa enfatizar que os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos
envolvem quatro dimensões: fixam um consenso internacional sobre a necessidade de
adotar parâmetros mínimos dos direitos humanos; celebram a relação entre a gramática
de direitos e a gramática de deveres ou seja impõem deveres jurídicos aos Estados;
instituem órgãos de proteção, como meios de proteção dos direitos assegurados e,
enfim, estabelecem mecanismos de monitoramento voltados à implementação dos
direitos internacionalmente assegurados.
Justicialização dos direitos humanos no direito internacional: o direito internacional
sempre teve o desafio de adquirir garras e dentes quer dizer poder e capacidade
sancionatórios. Não existe um tribunal internacional de direitos humanos, existe uma
Corte internacional de justiça que julga Estados e faz parte do sistema ONU. Alguns
autores como a Flávia Piovesan defendem a criação de um tribunal internacional de
direitos humanos no âmbito da ONU como medida imperativa para o fortalecimento dos
direitos humanos na ordem contemporânea. Para Piovesan, o sistema global não possui
eficácia no momento em que não tem poder de impor sanções jurídicas aos Estados
infratores, mas somente sanções morais e políticas com o sistema dos comitês. Possível
isso? Perguntar à turma.
No sistema europeu assim como no americano (com menor eficácia) existe a
justicialização do sistema de proteção de direitos humanos. Afirmação de instâncias
jurisdicionais de proteção internacional dos direitos humanos conjugada ao acesso
maior à justiça internacional. Aperfeiçoamento do sistema internacional de proteção se
daria também, se além da sua justicialização, também houvesse a criação no interno de
cada Estado de mecanismos internos capazes de implementar as decisões internacionais
no âmbito interno. Adotar medidas nacionais para implementação dos tratados
internacionais assim como o respeito das decisões proferidas pelos organismos
internacionais confere mais garantia e aplicabilidade imediata e direta no âmbito interno
dos Estados.

Além de inúmeros tratados internacionais que tutelam específicos direitos humanos, tem
que ser ressaltada a presença no panorama internacional de alguns tratados de aplicação
regional, como a Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH), a Convenção
interamericana dos direitos humanos e a Carta africana sobre direitos humanos e povos.
O sistema europeu é aquele onde se observa a maior justicialização dos direitos
humanos tramite a instituição da Corte europeia. Nesse sistema, os Estados aceitam
obrigações juridicamente vinculantes no sentido de assegurar direitos humanos clássicos
a todas as pessoas em sua jurisdição e assegurar a todos os indivíduos, incluindo seus
nacionais, o direito de submeter casos contra os próprios Estados, que poderão ensejar
decisões vinculantes proferidas por uma Corte internacional, na hipótese de violação de
direitos.
A CEDH foi adotada pelo Conselho de Europa, organização regional nascida dia 5 de
maio de 1949, tendo o objetivo de fomentar a colaboração entre os Estados europeus no
campo jurídico e da promoção dos direitos humanos. Assinada em Roma a 4 de
novembro de 1950, e entrada em vigor em 3 de setembro de 1953, a CEDH constitui
hoje em dia um sistema internacional de controle sobre o respeito dos direitos humanos
bastante sucedido na medida em que prevê um mecanismo de tutela de natureza
essencialmente jurisdicional. 47 Estados-partes. A CEDH fundamenta-se sobre o assim
denominado princípio da dupla proteção: as previsões do tratado em pauta integram a
tutela já proporcionada nos ordenamentos internos, os quais permanecem livres em
tutelar direitos adicionais ou fornecer uma proteção mais intensa no que diz respeito aos
direitos contemplados pelo próprio tratado. Cabe observar que as pessoas protegidas são
quaisquer pessoas que estejam sujeitas à jurisdição do Estado-parte em causa,
independentemente de sua nacionalidade. A CEDH é composta por três títulos, onde o
primeiro elenca os direitos e liberdades fundamentais, o segundo regulamenta a
estrutura e o funcionamento da Corte Europeia (cedh) e o terceiro lida com aspectos da
mais variada natureza, como denúncias, reservas da CEDH. O catálogo dos direitos
tutelados pela CEDH diz respeito aos direitos civis e políticos visto existir um
documento separado elaborado no seio do Conselho da Europa que diz respeito aos
direitos sociais e econômicos e culturais : A carta social europeia, que possui outro
mecanismo de supervisão baseado em relatórios periódicos submetidos a um comitê de
expertos. A CEDH é acompanhada por 14 Protocolos adicionais, os quais ou
adicionam outros direitos a serem tutelados, ou ampliam o conteúdo dos direitos já
afirmados na CEDH ou dispõem modificações acerca do mecanismo de tutela, nesse
aspecto convém chamar a atenção ao Protocolo 11. Os protocolos que adicionam mais
direitos apenas vinculam os Estados que os ratificaram. Antes de examinar as
inovações trazidas por esse Protocolo, cabe analisar o sistema de controle instituído
quando da criação da CEDH. Três órgãos eram relevantes: Comissão europeia de
direitos humanos, Corte Europeia de Direitos Humanos (instituída em 1959) e
Comitê de Ministros do Conselho d’Europa. A Comissão, órgão quase jurisdicional
desempenhava funções de filtro decidindo no mérito da admissibilidade dos recursos,
seja estatais seja individuais. Os recursos individuais eram admitidos apenas na hipótese
em que o Estado-parte tivesse declarado de reconhecer a competência da Comissão. No
que diz respeito aos recursos avaliados como admissíveis, a Comissão os examinava no
mérito, fazendo um acertamento de fatos e formulando um relatório contendo um
parecer onde explicava porque acreditava haver ou não violações da CEDH no caso em
pauta. Esse relatório era transmitido ao Comitê dos Ministros, o qual estabelecia em via
definitiva se o Estado tivesse violado ou não as obrigações para eles advindas da
CEDH. A competência da decisão no mérito por parte do Comitê era a ele subtraída se,
até três meses da transmissão a ele do relatório da Comissão, o Estado ou a Comissão
recorriam à Corte europeia. Podia ser interposto recurso judicial à Corte por parte da
Comissão ou de um Estado parte, sob condição que em ambos os casos, o Estado tivesse
declarado anteriormente de reconhecer a jurisdição da Corte em relação a todos os
litígios que podiam se apresentar ou que permitisse a jurisdição da Corte através de uma
declaração ad hoc. O Protocolo 9 trouxe uma importantíssima novidade, ao permitir
ao indivíduo, às ONG ou a grupos de indivíduos poder interpor recurso judicial
junto à Corte. O Protocolo 11, entrado em vigor em 1998, conseguiu trazer inovações
preciosas em relação ao mecanismo de proteção dos direitos contemplados na CEDH,
incidindo de maneira profunda sobre o sistema de controle: todas as funções de filtro
sobre os recursos foram atribuídas à renovada Corte Europeia (que é composta por
um número de juízes igual ao número de Estados partes), dotada de jurisdição
obrigatória para com todos os Estados partes, podendo ser recorrida tanto pelos
Estados quanto pelos indivíduos. A Comissão de direitos Humanos e a Corte europeia
anteriores foram suprimidas e reunidas em uma nova Corte permanente enquanto o
Comitê de Ministros mantém sua função de vigilância sobre a execução dos
acórdãos da Corte. A Corte europeia reúne em si seja a função de filtro no sentido de
admissibilidade dos recursos, seja a função de análise do mérito dos casos a ela
submetidos. Os artigos 34 e 32 do Protocolo 11 respectivamente facultam, o
primeiro, o direito do indivíduo de petição direta à Corte europeia e do jus standi
(enquanto antes o indivíduo podia peticionar à Comissão Europeia) e o segundo prevê
a obrigatoriedade da jurisdição da Corte em relação à interpretação e aplicação da
CEDH. A possibilidade de proposição de uma ação individual perante a Corte faz com
que essa seja um misto de ação e de queixa judicial dirigidas contra um Estado parte da
CEDH, onde o indivíduo deve fundamentar o seu recurso invocando um prejuízo
pessoal causado pelo suposto ato do Estado contra o qual se demanda, enquanto que na
situação em que seja um Estado a citar em juízo outro Estado, o primeiro não precisa
demonstrar que o outro violou um direito individual, sendo suficiente que se comprove
ter havido uma violação da CEDH, por exemplo por meio de emanação de legislação
contrária às disposições da mesma. Antes da entrada em vigor desse Protocolo, apenas a
Comissão ou um Estado podiam recorrer à Corte, sendo que agora a jurisdição da Corte
é prevista por uma cláusula obrigatória com aplicação automática, e os indivíduos,
grupos de indivíduos ou ONGs possuem acesso direto à Corte, por meio de petição
possuindo um locus standi pleno perante a Corte.
A Corte é vítima de seu próprio sucesso já que teoricamente 800.000.000 de pessoas
têm acesso à Corte na Europa e portanto os recursos que ela possui são insuficientes
para enfrentar o volume diário de demandas. Em poucos anos a Corte recebeu muito
mais casos que anteriormente em dezenas de anos de existência.

A cedh possui duas competências: uma consultiva – criada pelo Protocolo n°2, que pode
ser solicitada pelo Comitê dos Ministros sobre questões jurídicas relativas à
interpretação da CEDH o de seus Protocolos e a outra contenciosa – onde a Corte
emana pronúncias juridicamente vinculantes e essas têm natureza declaratória. Os juízes
da Corte europeia são eleitos pela Assembleia parlamentar do Conselho d’Europa, a
maioria dos votos expressos, da uma lista de três candidatos apresentada pelo Estado em
questão e permanecem em função por 6 anos. A Corte é assistida no desempenho das
duas funções por uma chancelaria e nomina o seu próprio Presidente e dois vice-
presidentes e adota o seu próprio Regulamento interno. A Corte funciona em Seções,
em Comitês e em Tribunal Pleno. Geralmente o Comitê analisa a admissibilidade do
recurso, enquanto uma seção analisa o mérito da petição, essa fase geralmente se dá no
âmbito de contraditório. A sentença proferida pela seção é obrigatória quanto ao mérito.
O Tribunal Pleno entra em cena no caso em que a seção lhe devolva a decisão do litígio
em caso de “questão grave quanto à interpretação da CEDH ou dos seus protocolos” ou
em caso de possível contradição da solução do litígio com uma sentença anteriormente
proferida ou se até três meses da pronúncia da Seção, uma das partes recorre ao Pleno.
Nesse último caso, cinco juízes exercem uma função de filtros aceitando a análise da
petição somente se o assunto levanta uma questão grave quanto à interpretação ou
aplicação das normas ou se levanta uma questão grave de caráter geral. Antes de
examinar o mérito, a Corte realizar preliminarmente um juízo de admissibilidade
conforme o artigo 35 da CEDH elenca as condições de admissibilidade dos recursos,
elas são: a) haver sido esgotadas todas as vias de recurso internas, b) respeitar o prazo
de 6 meses a contar da data da decisão interna definitiva, c) não ser anônima a petição
no caso de recurso individual, d) requisito da inexistência de litispendência
internacional, pois a petição proposta não pode ser idêntica a outra anteriormente
examinada pela Corte ( ne bis in idem) ou já submetida a outra instância internacional
de inquérito ou de decisão e não contiver fatos novos; e) não ser incompatível com o
disposto pela CEDH ou nos seus Protocolos ( incompatibilidade rationae temporis,
personae e materiae); não ser manifestamente infundada ou de caráter abusivo.

Requisito do prévio esgotamento: efetividade dos remédios internos, se os mesmos se


demonstrarem inadequados ou inefetivos, o indivíduo pode recorrer à Corte. A
jurisdição da Corte não é exercida apenas para com as pessoas que se encontrem no
Estado em questão (prescindindo dos vínculos de cidadania ou residência permanente)
podendo se estender a situações em que o Estado parte exerça poderes fora do seu
próprio território, sobretudo no caso de exercício de funções diplomáticas e consulares
no exterior. No caso Loizidou decidido em 1989, os órgãos de Estrasburgo tiveram o
ensejo para esclarecer que o conceito de jurisdição cobre aquelas situações em que o
Estado exerce poderes além do seu próprio território, no caso em pauta tratava-se do
controle exercido pelo estado turco sobre a parte setentrional da ilha de Chipre, por
meio de forças militares ai deslocadas depois da ocupação.

Da seção ou do Pleno, investida do caso faz parte o juiz eleito em relação ao Estado
parte chamado na controvérsia, ou caso ele não possa, uma pessoa escolhida que irá
trabalhar como um juiz ad hoc. A sentença no mérito pode ser evitada no caso em que
as partes escolham de resolver o litígio por meio de uma composição amigável, por
meio de conciliação substancialmente. Caso em que as partes não optem pela solução
amigável, a Corte procede, decidindo conforme as alegações das Partes, mas ela possui
poderes autônomos instrutorios e de inquérito. O exame do mérito conclui-se com a
sentença da Corte na qual se afirma se houve ou não violação da CEDH ou de um
Protocolo. Se as partes não requerem um reenvio ao Tribunal Pleno ou se os cincos
juízes do Pleno rejeitam a petição, a sentença torna-se definitiva a menos que possa ser
revisionada quando por exemplo se tenha descoberto um novo fato de importância
decisiva. A CEDH não faz nenhuma referência explicita à possibilidade da Corte de
poder adotar medidas provisórias, mesmo que o regulamento da Corte preveja no artigo
39 a possibilidade de adoção de tais medidas. A Corte quando reconhecida uma
violação das normas pretende que o Estado, cuja responsabilidade foi acertada pela
Corte deva de imediato cessar o ilícito e efetuar a restitutio in integrum em favor do
sujeito lesado. Se não for possível ou apenas parcialmente repristinar a situação anterior
à violação, a Corte demanda que o Estado acorde uma justa reparação.
A Corte pode ainda exigir a obrigação que o Estado-réu tome determinadas medidas que
compreendem modificações legislativas ou reformas administrativas. Vários Estados
partes do sistema europeu tiveram que modificar suas próprias legislações, como por
exemplo a Inglaterra teve que fazer uma alteração da lei sobre o desacato ao tribunal
(caso Sunday times vs UK) já que a Corte afirmou serem certas regras da law of
comtempt restritivas da liberdade de imprensa de forma incompatível com uma
sociedade democrática em violação ao artigo 10 da CEDH ou o caso Dudgeon vs UK
em que a Corte afirmou que a legislação da Irlanda do Norte acerca da proibição de
condutas homossexuais entre adultos era uma interferência indevida no direito ao
respeito à vida privada injustificada e desnecessária em uma sociedade democrática.

Em geral, as decisões da CEDH são respeitadas e acatadas pelos Estados membros com
grandes avanços no respeito dos direitos humanos: os estados têm reformado
procedimentos policiais, instituições penais, processos judiciais, relações de trabalho,
tratamento dado a crianças. Muitas vezes alguns países que não são diretamente
envolvidos nos casos perante a Corte mudam sua própria legislação e prática em
decorrência de casos em que não são parte e isso demostra como uma decisão da Corte
em um caso submetido por uma pessoa pode ter impacto em mais jurisdições nacionais.
Enfim o comitê de ministros vigia a execução das sentenças da Corte, ele deve ser
informado pelo Estado-réu sobre a implementação das medidas estabelecidas pela Corte
e sobre o pagamento da justa reparação. Até que o Estado adote todas as medidas
efetivas para reparar a violação o Comite demandará informações sobre as medidas
adotadas. Só então com a implementação de todas as medidas necessárias pelo Estado é
que o comitê emitira uma resolução concluindo que sua missão foi devidamente
cumprida. Os Estados possuem muito interesse no cumprimento das decisões da Corte
europeia por vários motivos: pressões diplomáticas, interesse em integrar a EU o poder
do constrangimento causado por possíveis violações e fazer com que o Estado seja
considerado um violador. Em caso de não cumprimento da decisão da Corte, a sanção
mais grave é a ameaça de expulsão do Conselho da Europa.

Enfim, entrou em vigor em 2010 o protocolo 14 o qual prevê que apenas um juiz pode
analisar um recurso sozinho quando ele é manifestamente inadmissível ou apenas três
juízes e não mais 7 podem analisar os recursos manifestamente fundados (recursos
repetitivos) ou enfim um recurso individual pode ser rejeitado quando o recorrente não
tenha sofrido um prejuízo significativo. Para concluir minha exposição, ressalto que
dois protocolos (15 e 16) foram abertos para firma e ratificação em 2013: o protocolo 15
que reduz o prazo de 6 meses a 4 desde o momento da pronúncia da sentença definitiva
em âmbito interno para recorrer à Corte e o Protocolo 16 que prevê que as Cortes de
última instância dos Estados partes possam requerer opiniões consultivas (isso antes era
competência do Comitê).

No que diz respeito ao sistema americano, em geral trata-se de um sistema que abrange
altos níveis de exclusão e desigualdade social onde tem algumas democracias em fase
de consolidação. Precária tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito
doméstico. Período da ditatura militar onde os mais básicos direitos e liberdades foram
violados. Consolidação de regime democrático ainda em curso. O sistema americano de
proteção dos direitos humanos é assim constituído: instrumento de maior importância é
a Convenção americana de direitos humanos, também chamada de Pacto de São José de
Costa Rica, assinada em 1969 e entrada em vigor em 1978. Apenas Estados membros da
OEA podem aderir à Convenção. Tem que ser ressaltado que a Organização dos Estados
Americanos (OEA) que utiliza os preceitos da Carta da OEA e a Declaração americana
dos Direitos e Deveres do Homem. O segundo sistema é o sistema da Convenção
Americana dos Direitos Humanos que tem por integrantes uma parte dos Estados
Americanos.
A Convenção americana cria um mecanismo jurídico de caráter consultivo e
contencioso, articulado sobre a dupla intervenção da Comissão antes e da Corte
interamericana dos direitos humanos, depois. A Convenção Americana privilegia
sobretudo direitos civis e políticos, enquanto que os direitos econômicos, sociais e
culturais não são enunciados de forma específica pelo texto sendo que a proteção dos
mesmo se dá através um texto específico, o Protocolo de São Salvador entrado em vigor
em 1999.

Os Estados possuem a obrigação de respeitar e assegurar o livre e pleno exercício desses


direitos e liberdade, tendo portanto obrigações positivas e negativas relativamente à
Convenção americana. Os Estados além de se abster de condutas negativas para tutelar
os direitos, podem também adotar medidas positivas necessárias para assegurar o pleno
exercício dos direitos.
A segunda parte da convenção trata dos meios de proteção ou mecanismos de proteção:
os órgãos como a Comissão e a Corte e enfim a terceira parte contém disposições gerais
e transitórias.
A Comissão possui competência em relação aos estados partes da Convenção
Americana e também todos os estados membros da OEA (que não são todos estados que
fazem parte do sistema da convenção americana) em relação aos direitos consagrados
tanto na Carta da OEA quanto a Declaração americana de 1948.
A comissão é composta por 7 membros que podem ser nacionais de qualquer Estado
membro da OEA, sendo eleitos pela Assembleia Geral por um período de 4 anos, sendo
renovável apenas uma vez. A Comissão desempenha as seguintes funções: recebe as
reclamações individuais, promove assistência aos Estados e consultoria. A Comissão
pode fazer recomendações aos governos, prever adoção de medidas adequadas à
proteção desses direitos, preparar estudos e relatórios que se mostrem necessários e
solicitar aos governos informações relativas às medidas por eles adotados concernentes
à efetiva aplicação da Convenção e submeter um relatório anual à Assembleia Geral da
OEA. A Comissão examina também as comunicações encaminhadas por indivíduo,
grupo de indivíduo ou ONG que contenham violação do Pacto de São José (Artigo 44)
por parte de um Estado membro.
O Estado ao se tornar parte da Convenção americana, aceita automática e
obrigatoriamente a competência da Comissão para examinar essas comunicações.

Recursos individuais: A Comissão, uma vez recebida uma reclamação, deve em


primeiro lugar avaliar a admissibilidade conforme esses requisitos (artigo 46): requisito
do prévio esgotamento dos recursos internos (se bem que Cançado Trindade haja a
respeito uma posição bastante flexível); a petição deve ser proposta até 6 meses a partir
da dada de notificação à vitima presumida da decisão final interna; critério da não
litispendência internacional; d) o pedido deve conter informações completas acerca de
pessoa ou pessoas que o apresentam; e) outros requisitos iguais aos exigidos pela
CEDH. Depois de ter reconhecido a admissibilidade da petição, a Comissão solicita
informações ao Governo do Estado violador, estabelecendo um prazo. Recebidas as
informações ou decorrido o prazo fixado sem que tenham sido enviadas pelo Estado
violador, a Comissão verificará se existem ou subsistem os motivos que levaram a
interposição da petição. A Comissão se acreditar subsistir uma violação, começa um
inquérito e solicita informações adicionais. No caso de um Estado apresentar as
informações solicitadas, a Comissão pode declarar a inadmissibilidade ou
improcedência da petição ou ainda recusar as explicações do Estado e prosseguir com o
procedimento de responsabilização do Estado. Em seguida, a Comissão convida as
partes a instaurar uma fase conciliatória. Nos termos do artigo 48, essa fase é tida como
obrigatória. Caso tenha sido obtida a solução amigável, a Comissão elabora seu
relatório, contendo os fatos e o acordo alcançado sendo o mesmo remetido ao
peticionário e aos Estados-membros da OAE, com cópia ao Secretario- Geral da OEA.
Na hipótese de não se alcançar solução amigável, A Comissão adota um relatório
descrevendo a existência da violação e fazer recomendações ao Estado requerido para
sanar os danos e cessar a violação. Relatório encaminhado ao Estado-parte. Se no prazo
de três meses, o Estado não tiver cumprido o estabelecido pela Comissão, o caso pode
ser submetido à Corte Interamericana dos Direitos Humanos. No sistema
interamericano, apenas os Estados partes ou a comissão podem submeter um caso à
Corte interamericana, não sendo o indivíduo legitimado a isso. Se a Comissão
considerar que o Estado não cumpriu as recomendações do informe submete o caso à
Corte, salvo decisão fundada da maioria absoluta dos membros. Enquanto
anteriormente, a comissão possuía discricionariedade no envio do caso à apreciação da
Corte, com o novo regulamento da Comissão de 2001 o encaminhamento à Corte se dá
de forma direta e automática. De qualquer maneira, a Corte poderá analisar o caso
apenas se o Estado parte reconhecer mediante declaração expressa e específica a
competência da Corte para tratar da questão (competência da Corte não é automática
nesse sentido).

Recursos estatais: No que diz respeito às comunicações interestatais, é previsto que os


Estados devam declarar expressamente ter aceito a competência da Comissão. Cláusula
facultativa. Não basta a ratificação da Convenção americana nesse sentido. Em casos de
urgência e gravidade, a comissão poderá por iniciativa própria ou pedido das partes,
solicitar ao Estado em questão a adoção de medidas cautelares para evitar danos
irreparáveis e pode a comissão também solicitar à Corte adoção de medidas provisórias
em matéria ainda não submetida à apreciação da Corte.

Quanto à Corte interamericana, ela é formada por 7 juízes nacionais de Estados


membros da OEA indicados e eleitos pelos Estados partes da Convenção americana.

Ela apresenta função consultiva quanto contenciosa. A função consultiva,


diferentemente da Corte europeia, é desempenhada em grande quantidade pela Corte a
qual interpreta as disposições da Convenção americana, assim como todos os tratados
adotados pelos Estados americanos referentes a direitos humanos; a função contenciosa
refere-se a interpretação e aplicação da própria Convenção. No plano consultivo,
qualquer membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte relativamente à
interpretação do Pacto de São José ou de qualquer outro tratado relativo à proteção dos
direitos humanos aplicável aos Estados americanos. A pedido de um Estado, a Corte
pode ainda emitir um parecer sobre a compatibilidade de um preceito da legislação
domestica em face dos instrumentos internacionais. A comissão também pode solicitar à
Corte a emissão de um parecer.
No plano contencioso, a Corte é competente para o julgamento de casos limitada aos
Estados-partes da Convenção que reconheçam expressamente tal jurisdição. A
jurisdição da Corte não é obrigatória e isso segundo Cançado Trindade faz com que o
sistema possua algumas falhas. Nos termos do artigo 61 da Convenção americana,
apenas Estados-partes ou a comissão podem interpor recurso junto à Corte não os
indivíduos. Contudo, apesar dos indivíduos ou ONGs não terem acesso direto à Corte,
se a Comissão submeter o caso a esta, as vítimas, os parentes ou representantes podem
submeter de forma autônoma seus argumentos, provas perante a Corte. A Corte tem
jurisdição para examinar casos que envolvam a denúncia de que um Estado-parte violou
direito protegido pela Convenção. Se reconhecer que efetivamente ocorreu a violação, a
Corte determina a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito
violado. A Corte pode ainda condenar o Estado a pagar uma justa compensação à
vítima. Como no caso da corte europeia, os tribunais internacionais de direitos humanos
existentes não constituem uma instância de apelação ou recurso ou cassação de decisões
internas. Apenas atos internos dos Estados podem vir a ser objeto de exame por parte de
órgãos de supervisão internacionais quando se trata de averiguar a conformidade com as
obrigações internacionais dos atos dos Estados em matéria de direitos humanos. A
decisão da Corte, uma vez proferida, tem força jurídica vinculante e obrigatória,
cabendo ao Estado seu imediato cumprimento. É necessário que o Estado reconheça a
jurisdição da Corte sendo a cláusula que a concede facultativa. O Brasil reconheceu a
competência jurisdicional da Corte interamericana por meio de decreto legislativo n. 89,
de 1998.

Importante papel da Corte no entendimento de que as leis de anistia são incompatíveis


com a Convenção americana por afrontarem direitos inderrogáveis reconhecidos pelo
Direito internacional, obstando o acesso à justiça, direito à verdade.

Caso brasileiro famoso: caso Araguaia: desaparecimento de integrantes da guerrilha do


Araguaia durante as operações militares ocorridas na década de 1970. Nesse caso a
Comissão levou o caso à Corte que julgou as disposições da Lei brasileira de anistia de
1979 incompatíveis com a Convenção americana. Leis de anistia como essa que
impedem a investigação de graves violações de direitos humanos assim como a
identificação dos responsáveis são incompatíveis com o direito internacional.

A Corte interamericana não só ordena reparação sob forma de pagamento de


indenização, mas também pode condenar Estados a adotar leis ou emendar ou revogar
legislação domestica incompatível com a Convenção americana. Pode condenar um
Estado a anular ou executar uma decisão proferida por uma Corte doméstica.

Não existe, diferentemente do sistema europeu, um mecanismo de supervisão de


cumprimento das sentenças pelos Estados. É a própria Corte que exercita a supervisão
da execução das sentenças mas a supervisão da fiel execução das sentenças e decisões
da Corte é uma tarefa que recai sobre o conjunto dos Estados membros. A assembleia
geral da OEA possui um mandato genérico no sentido de que a Corte submete a ela em
cada período ordinário de sessões um relatório sobre suas atividades no ano anterior,
especificando se for o caso as hipóteses em que um Estado não tenha dado cumprimento
a suas sentenças.

Monitoramento do cumprimento das sentenças: fracasso dos órgãos políticos em dar


suporte formal à Corte nesse sentido. Não é suficiente o relatório anual que a Corte
envia à Assembleia Geral da OEA. Aprimorar o sistema de supervisão de cumprimento
das decisões é necessário.

Proposta para maior democratização do sistema prevendo o acesso direito do indivíduo


à Corte. Segundo Cançado Trindade: ao reconhecimento de direitos deve corresponder a
capacidade processual de reivindicá-los.

Sistema africano de proteção dos direitos humanos: O mais recente e incipiente, em


processo de consolidação. Carta africana adotada em 1981, entrando em vigor em 1986.
A Carta de Banjul adotada pelos Chefes dos Estados africanos. Estabelecida uma
comissão africana dos direitos humanos e dos povos. Adoção no seio da Organização da
Africana, agora União Africana. A Carta africana, diferentemente da CEDH e do Pacto
de São José, adota uma impostação coletivista, que empresta ênfase aos direitos dos
povos. Direitos civis, políticos e também econômicos, sociais e culturais são tutelados.
Além de direitos, a Carta prevê também deveres: deveres de cada indivíduo para com a
família e a sociedade, Estado, outras coletividades e a comunidade internacional.

Comissão Africana (artigo 30) existe desde 1987 e é um órgão político e quase judicial,
11 membros. Promove direitos humanos e dos povos, elabora estudos e pesquisas,
formula princípios e regras, assegura a proteção dos direitos humanos e dos povos,
recorre ao método de investigação, cria relatorias temáticas específicas, adota
resoluções no campo dos direitos humanos e interpreta disposições da Carta. Seja
Estados quanto indivíduos podem interpor recurso. A comissão aprecia relatórios que os
Estados partes a cada 2 anos devem enviar contendo as medidas legislativas e outras
adotadas para efetivar os direitos e liberdades da Carta. Falta de recursos suficientes
assim como de independência dos Estados por parte da comissão ameaça sua
efetividade. ONGs possuem muita importância no sistema africano.
A Carta de Banjul não estabeleceu originariamente uma Corte africana. Adoção de um
protocolo em Addis Abeba, entrado em vigor em 2004. A assembleia dos Estados da
UA elegeu os juízes da Corte pela primeira vez em 2006, 11 juízes, com sede em
Arusha. Mandato de 6 anos, renovável 1 vez. Competência consultiva e contenciosa.
Consultiva a respeito da interpretação de dispositivos da Carta africana ou de qualquer
outro instrumento de direitos humanos por solicitação dos Estados da UA, da própria
UA de seus órgãos assim como qualquer organização africana reconhecida pela UA.
Competência contenciosa: apreçamento de casos submetidos pela comissão, por um
Estado ou por uma ONG africana. Indivíduo e ONGs podem submeter diretamente
casos à Corte, se houver declaração formulada pelo Estado para esse fim. Conselho de
Ministros competência para supervisionar o cumprimento das determinações da Corte.
Ela envia um relatório anula à Assembleia Geral da União africana apontando os
Estados que não cumpriram suas decisões. Primeiro caso em 2009. Importante é que os
Estados ratifiquem o Protocolo que cria a Corte, assim como cumpram de forma devida
as decisões. O nível de incumprimento das decisões da Corte é altíssimo.

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