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Lídia Nóbrega
Graduada em Direito pela UFC | Defensora Pública Federal.
Ex-Defensora Regional de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte e Ceará.
E-mail: lidiarnobrega@gmail.com

Daniel Teles
Graduado em Direito pela UFC. | Mestre em Direito pela UFC. | Defensor Público Federal
Professor no Curso de Pós-Graduação de Direito Civil e Processo Civil da UniFanor/Wyden.
E-mail: dtbarbosa@gmail.com

Convenção Americana de Direitos Humanos

NÓBREGA, Lídia; TELES, Daniel. Convenção Americana de


Direitos Humanos. Fortaleza: Ouse Saber, 2020. (Legis. V. 1)

Direitos Humanos. Convenção Americana. Corte IDH. CIDH.

ISBN:– 978-65-990143-0-7 .
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Proposta do Legis

A Coleção Legis tem como objetivo primordial preparar candidatos para os principais concur-
sos públicos do país.

Pela experiência adquirida ao longo dos anos estudando e lecionando para concursos públi-
cos, bem como conversando com centenas e centenas de alunos aprovados, a conclusão a que cheguei
é que, cada dia mais, torna-se indispensável para a aprovação em concursos, principalmente, na prova
objetiva, o conhecimento adequado da legislação.

Estudar a lei em sua literalidade, todavia, é algo árido e, normalmente, pouco estimulante.
Para vencer essa dificuldade, o Ouse Saber idealizou o Legis, a sua melhor maneira de estudar a legis-
lação. No Legis, a estrela é a “letra da lei”, mas um super time de Professores, com larga experiência na
preparação para concursos, destaca os pontos mais importantes da legislação, além de fazer comentários
rápidos e objetivos, apontar jurisprudência relevante sobre os temas e garantir questões para treinamen-
to do conteúdo estudado. Tudo isso em um material de leitura agradável, com espaços para anotações e
organização do estudo da lei em formato de plano dividido por dias.

É realmente tudo que você precisa para aprender a legislação da forma mais rápida e
agradável possível.

Bons estudos e Ouse Saber!

Filippe Augusto
Defensor Público Federal
Mestre e Doutor em Direito
Coordenador do Legis
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Sumário

Plano de Leitura da Lei:

Dia 01........................................................................... Dos Arts. 1º ao 4º


Dia 02........................................................................... Dos Arts. 5º ao 7º
Dia 03........................................................................... Dos Arts. 8º ao 11
Dia 04........................................................................... Dos Arts. 12 ao 15
Dia 05........................................................................... Dos Arts. 17 ao 21
Dia 06........................................................................... Dos Arts. 22 ao 26
Dia 07........................................................................... Dos Arts. 27 ao 32
Dia 08........................................................................... Dos Arts. 33 ao 51
Dia 09........................................................................... Dos Arts. 52 ao 69
Dia 10........................................................................... Dos Arts. 70 ao 82
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DIA 1 da Organização de normas mais amplas sobre


os direitos econômicos, sociais e educacionais e
resolveu que uma Convenção Interamericana so-
Disciplina: Direitos Humanos. bre Direitos Humanos determinasse a estrutura,
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel competência e processo dos órgãos encarrega-
Teles. dos dessa matéria;
Dia 01: Do Art. 1ª ao 4º.
Convieram no seguinte:

Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 Visão Panorâmica da CADH: A Convenção Ame-


ricana de Direitos Humanos é o principal instru-
mento normativo do Sistema Interamericano de
Proteção de Direitos Humanos. A CADH se divide
PREÂMBULO em três partes I) Deveres dos Estados e Direitos
Protegidos (arts. 1º a 32); II) Meios de Proteção
Os Estados Americanos signatários da pre- (arts. 33 a 78); e III) Disposições Gerais e Transitó-
sente Convenção, reafirmando seu propósito de rias (arts. 79 a 82).
consolidar neste Continente, dentro do quadro
das instituições democráticas, um regime de li-
Convenção Americana de Direitos Humanos
berdade pessoal e de justiça social, fundado no
respeito dos direitos humanos essenciais;
Disposições
Reconhecendo que os direitos essenciais Direitos e meios de
gerais e
deveres proteção
da pessoa humana não derivam do fato de ser transitórias
ela nacional de determinado Estado, mas sim
do fato de ter como fundamento os atributos ARTS. 1º A 32 ARTS. 33 A 78 ARTS. 79 A 82
da pessoa humana, razão por que justificam
uma proteção internacional, de natureza con-
vencional, coadjuvante ou complementar da que PARTE I
oferece o direito interno dos Estados americanos; DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS
PROTEGIDOS
Considerando que esses princípios foram
consagrados na Carta da Organização dos Esta- Capítulo I
dos Americanos, na Declaração Americana dos ENUMERAÇÃO DOS DEVERES
Direitos e Deveres do Homem e na Declaração
Universal dos Direitos do Homem, e que foram Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direi-
reafirmados e desenvolvidos em outros instru- tos
mentos internacionais, tanto de âmbito mundial
como regional; 1. Os Estados-partes nesta Convenção
comprometem-se a respeitar os direitos e
Reiterando que, de acordo com a Declara- liberdades nela reconhecidos e a garantir
ção Universal dos Direitos Humanos, só pode ser seu livre e pleno exercício a toda pessoa
realizado o ideal do ser humano livre, isento do que esteja sujeita à sua jurisdição, sem
temor e da miséria, se forem criadas condições discriminação alguma, por motivo de raça,
que permitam a cada pessoa gozar dos seus di- cor, sexo, idioma, religião, opiniões políti-
cas ou de qualquer outra natureza, origem
reitos econômicos, sociais e culturais, bem como
nacional ou social, posição econômica,
dos seus direitos civis e políticos; e nascimento ou qualquer outra condição
social.
Considerando que a Terceira Conferência
Interamericana Extraordinária (Buenos Aires,
1967) aprovou a incorporação à própria Carta

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Comentários: O art. 1º estabelece o compromis- dos neste tratado. [Corte IDH. OC 22/2016, Pare-
so central dos Estados-membros com o cumpri- cer Consultivo de 26-02-2016, solicitado pela Re-
mento da CADH. pública do Panamá]
As comunidades indígenas e tribais são titu-
lares dos direitos protegidos na Convenção e,
Jurisprudência: O termo “jurisdição” é mais portanto, podem acessar o sistema interameri-
amplo que o território de um Estado-membro cano. [Corte IDH. OC 22/2016, Parecer Consultivo
e inclui situações além de seus limites territoriais. de 26-02-2016, solicitado pela República do Pa-
Ou seja, engloba qualquer situação em que um namá]
Estado exerce autoridade ou controle efetivos
sobre um indivíduo ou indivíduos, dentro ou O artigo 8.1.a do Protocolo de São Salvador ou-
fora de seu território . torga titularidade de direitos aos sindicatos, fe-
[Corte IDH. Opinião Consultiva nº 23/2017, Pare- derações e confederações de trabalhadores, per-
cer Consultivo de 15-11-2017, solicitado pela Re- mitindo-lhes aceder ao sistema interamericano
pública da Colômbia] em defesa de seus próprios direitos. [Corte IDH.
OC 22/2016, Parecer Consultivo de 26-02-2016,
O termo “qualquer outra condição social” é solicitado pela República do Panamá]
uma cláusula aberta que deve ser interpretada
da maneira mais favorável para a tutela dos di-
reitos protegidos pelo tratado, segundo o princí- Artigo 2. Dever de adotar disposições de
pio ‘pro homine’. direito interno
[Corte IDH. Opinião Consultiva nº 24/2017, Pare-
cer Consultivo de 24-11-2017, solicitado pela Re- Se o exercício dos direitos e liberdades
pública da Costa Rica] mencionados no artigo 1 ainda não estiver ga-
rantido por disposições legislativas ou de outra
O Sistema Interamericano, diferentemente dos natureza, os Estados Partes comprometem-se
Sistemas Europeu e Africano de Direitos Huma-
nos, considera que as pessoas que se encontram a adotar, de acordo com as suas normas consti-
em situação de pobreza constituem um grupo tucionais e com as disposições desta Convenção,
em situação de vulnerabilidade diferenciado as medidas legislativas ou de outra natureza
dos grupos tradicionalmente identificados; essa que forem necessárias para tornar efetivos
condição é reconhecida como categoria de pro- tais direitos e liberdades.
teção especial e é parte da proibição de discrimi-
nação por “posição econômica” contemplada de Comentários: O artigo 2º é o principal funda-
maneira expressa no art. 1.1 da Convenção Ame- mento normativo que embasa o ‘controle de
ricana. convencionalidade’ dos atos normativos inter-
[Corte IDH. Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil nos às disposições da CADH, ao estabelecer a
Verde vs. Brasil. Sentença de 20-10-2016]. obrigação de adequação dos ordenamentos jurí-
dicos internos dos países signatários às disposi-
2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é ções da Convenção.
todo ser humano.
Além disso, a norma estabelece uma obrigação
positiva aos Estados partes, no sentido de legis-
Comentários: O texto reforça a extensão da pro-
lar e de adotar quaisquer outras providências
teção constante da Convenção, através do cará-
necessárias para dar cumprimento aos direitos
ter amplo da noção de pessoa para qualificar os
assegurados pela Convenção.
beneficiários dos direitos listados no instrumen-
to internacional.
Jurisprudência: A esse respeito, este Tribunal
Não obstante, ao vincular à noção de pessoa à de estabeleceu que o art. 2 (...) da Convenção prevê
“ser humano”, a proteção da CADH NÃO abran- o dever geral de Estados-Partes de adaptar sua
ge as pessoas jurídicas. legislação interna às disposições dessa norma
para garantir os direitos nela consagrados. Esse
dever implica a adoção de medidas em duas
Jurisprudência: O art. 1.2 da CADH somente
direções. Por um lado, a supressão das regras e
consagra direitos de pessoas físicas, as pessoas
práticas de qualquer natureza que impliquem
jurídicas NÃO são titulares dos direitos consagra-
violação às garantias previstas na Convenção.

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Por outro lado, a edição de normas e o desen-


volvimento de práticas conducentes à aplica-
ção efetiva de tais garantias.
[Corte IDH. Caso Amrhein e outros vs. Costa Rica.
Exceções preliminares, mérito, reparações e cus-
tas. Sentença de 25-4-2018.]

O Poder Judiciário, nesse sentido, está inter-


nacionalmente obrigado a exercer um “con-
trole de convencionalidade” ex officio entre
as normas internas e a Convenção Americana,
evidentemente no marco de suas respectivas
competências e das regulamentações proces-
suais correspondentes. Nessa tarefa, o Poder
Judiciário deve levar em conta não somente o
tratado, mas também a interpretação que a ele
conferiu a Corte Interamericana, intérprete últi-
ma da Convenção Americana.

(...)

A Corte IDH concluiu que, devido à interpretação


e à aplicação conferidas à Lei de Anistia, o Brasil
descumpriu sua obrigação de adequar seu Di-
reito interno à Convenção, contida em seu art.
2, em relação aos arts. 8.1, 25 e 1.1 do mesmo tra-
tado. [Corte IDH. Caso Gomes Lund e outros vs.
Brasil. Exceções preliminares, mérito, reparações
e custas. Sentença de 24-11-2010.]

No mesmo sentido: Caso Almonacid Arellano e


outros vs. Chile (sentença de 26-7-2006, parágra-
fo 124).

Aprofundando: Para o STF, o Pacto de San José


da Costa Rica (CADH) por ter sido ratificado em
momento anterior à EC. Nº 45, não possui status
constitucional e sim caráter supralegal. Por essa
razão, somente estarão sujeitas ao “controle de
convencionalidade” as disposições de direito
interno de hierarquia legal, não sendo possível
o controle de normas constitucionais ainda que
contrárias às disposições da CADH.

O órgão jurisdicional competente para exercer


o controle de convencionalidade é o Supremo
Tribunal Federal.
[STF. ADI 5.240, rel. min. Luiz Fux, voto do min.
Teori Zavascki, P, j. 20-8-2015, DJE de 1º-2-2016.]

Observações gerais:

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CAPÍTULO II Comentários: O direito à vida é um direito huma-


DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS no fundamental, pré-requisito para o desfrute de
todos os demais direitos humanos. O direito à
vida pressupõe que nenhuma pessoa seja pri-
Artigo 3. Direito ao reconhecimento da per- vada de sua vida arbitrariamente (obrigação
sonalidade jurídica. negativa) e que os Estados adotem todas as
medidas apropriadas para proteger e preser-
Toda pessoa tem direito ao reconhecimen- var o direito à vida (obrigação positiva). Isso
to de sua personalidade jurídica. inclui adotar as medidas necessárias para criar
um contexto normativo adequado que dissuada
Comentários: A proteção da personalidade jurí- qualquer ameaça ao direito à vida e proteger o
dica constante no artigo 3º estende-se às comu- direito a que não se impeça o acesso às condi-
nidades indígenas e tribais de maneira coletiva e ções que garantam uma vida digna.
autônoma em face de cada pessoa humana que
compõe o grupo. O art. 4.1. da Convenção estabelece a proteção
à vida, desde o momento da concepção. Essa
redação tem trazido debates sobre a compa-
Jurisprudência: A Corte IDH já entendeu que a tibilidade da interrupção da gravidez, em de-
situação de desaparecimento forçado pode terminadas circunstâncias, com as determina-
implicar violação ao direito do indivíduo de ter ções da CADH.
reconhecida sua personalidade jurídica. [Corte
IDH. Caso Osorio Rivera e familiares vs. Peru. Ex-
ceções preliminares, mérito, reparações e custas. Jurisprudência: Quando se enfrenta a ques-
Sentença de 26-11-2013] tão do aborto, há dois aspectos que devem ser
considerados acerca da formulação do direito
O não reconhecimento, pelo direito interno, do à vida na Convenção. Em primeiro lugar, a ex-
direito ao exercício da personalidade jurídica pressão “em geral”. Nas sessões de elaboração
dos povos indígenas e tribais de maneira cole- do texto em São José da Costa Rica restou reco-
tiva viola o art. 3 da Convenção Americana, em nhecido que esta frase deixava aberta a possi-
prejuízo dos Povos Kaliña e Lokono, combinado bilidade de os Estados Partes em futura Con-
com o art. 2. venção incluírem em sua legislação nacional
[Corte IDH. Caso Pueblos Kaliña e Lokono vs. “os casos mais diversos de aborto”. Segundo,
Surinam. Mérito, reparações e custas. Sentença a parte final do dispositivo menciona “as pri-
de 25-11-2015. vações arbitrárias da vida”. Assim, a análise da
compatibilidade entre a autorização legal interna
No mesmo sentido, a Corte considera que o di- para a execução do aborto e a norma do artigo 4.1
reito a que o Estado reconheça sua personali- da CADH, deve considerar as circunstâncias em
dade jurídica é uma das medidas especiais que que se praticou. Ou seja, se foi um ato arbitrário.
se deve proporcionar aos grupos indígenas e Uma autorização legal para a prática do abor-
tribais a fim de garantir que estes possam go- to sem causa substancial justificável poderia
zar de seus territórios segundo suas tradições. ser considerada incompatível com o artigo 4.
Essa é a consequência natural do reconhecimen- [Caso 2141 - Christian White e Gary Potter x Esta-
to do direito a gozar de certos direitos de forma dos Unidos de América - Resolução n.º 23/81 da
comunitária dos membros dos grupos indígenas Comissão Interamericana de Direitos Humanos]
e tribais.
[Corte IDH. Caso Pueblo Saramaka vs. Surinam. A Corte ressalta que o embrião, antes da im-
Exceções preliminares, mérito, reparações e cus- plantação, não está compreendido nos termos
tas. Sentença de 28-11-2007.] do artigo 4.1 da Convenção e recorda o princí-
pio de proteção gradual e incremental da vida
pré-natal. Portanto, a Corte conclui que a Sala
Artigo 4. Direito à vida Constitucional partiu de uma proteção absoluta
do embrião que, ao não ponderar nem ter em
1. Toda pessoa tem o direito de que se res- consideração os outros direitos em conflito,
peite sua vida. Esse direito deve ser pro- implicou uma intervenção arbitrária e exces-
tegido pela lei e, em geral, desde o mo- siva na vida privada e familiar, o que fez des-
mento da concepção. Ninguém pode ser sa interferência desproporcional. [Corte IDH.
privado da vida arbitrariamente. Caso Artavia Murillo E Outros (“Fecundação In Vi-

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tro”) Vs. Costa Rica. Exceções preliminares, méri- do delito, for menor de dezoito anos, ou
to, reparações e custas. Sentença de 28-11-2012.] maior de setenta, nem aplicá-la a mulher
em estado de gravidez.
Em casos nos quais tenham ocorrido execuções
extrajudiciais é fundamental que os Estados Comentários: Os itens 2 a 5 do artigo 4 estabele-
realizem uma investigação efetiva acerca da cem uma série de restrições à aplicação da pena
privação arbitrária do direito à vida reconhe- de morte pelos Estados signatários.
cido no artigo 4º da Convenção, orientada a de- Por ser um documento internacional que visa es-
terminação da verdade e a persecução, captura, tabelecer um consenso mínimo para a proteção
julgamento e, eventual, sanção dos autores des- regional de direitos humanos no âmbito do con-
ses crimes, especialmente quando estão envol- tinente americano, a CADH não estabelece uma
vidos agentes estatais. [Corte IDH. Caso Cruz proibição peremptória a pena de morte.
Sánchez y otros Vs. Perú. Exceções preliminares,
mérito, reparações e custas. Sentença de 17-04- Por outro lado, o instrumento visa assegurar
2015.] uma proteção progressiva à vida, com o bani-
mento gradativo das penas capitais e a veda-
Aprofundando: A Corte IDH tem desenvolvido o ção do retrocesso em matéria de abolição des-
conceito de ‘vida digna’. sa modalidade punitiva.

Nesse sentido tem entendido a Corte que uma Ao exigir prévio transito em julgado da sentença
das obrigações do Estado, enquanto garante, que impõe a pena de morte nas hipóteses legais
com o objetivo de proteger e garantir o direito à anteriores ao delito, a CADH veda de forma ab-
vida, é a de assegurar as condições materiais soluta a prática das execuções sumárias por
mínimas compatíveis com a dignidade da pes- agentes estatais, inclusive nos países que ainda
soa humana e a não produzir condições que difi- não tenham abolido a pena de morte.
cultem ou impeçam o seu desenvolvimento.
O artigo 5.1. estabelece a vedação absoluta da
Assim, o Estado deve adotar medidas positivas, imposição da pena de morte em face de mulhe-
concretas e orientadas a satisfação do direito a res grávidas, adolescentes e pessoas maiores
uma vida digna, em especial quando se trata de setenta anos, bem como no caso de crimes
de pessoas em situação de vulnerabilidade e políticos ou a ele conexos.
risco, cuja atenção deve ser prioritária.
Mnemônica: O crime político da Adolescente
São exemplos de aplicação desse conceito os ca-
grávida nos anos setenta.
sos: Comunidad Indígena Yakye Axa Vs. Paraguay
e Caso Cuscul Pivaral y otros Vs. Guatemala.
Jurisprudência: Uso da força e letalidade poli-
2. Nos países que não houverem abolido a cial. A proibição geral aos agentes do Estado de
pena de morte, esta só poderá ser imposta privar arbitrariamente a vida dos indivíduos seria
pelos delitos mais graves, em cumprimen- inefetiva, se não existissemn procedimentos para
to de sentença final de tribunal compe- verificar a legalidade do uso da força letal exer-
tente e em conformidade com lei que es- cida por agentes estatais. Una vez que se tenha
tabeleça tal pena, promulgada antes de conhecimento de que seus agentes de segurança
haver o delito sido cometido. Tampouco tenham feito uso de armas de fogo com conse-
se estenderá sua aplicação a delitos aos quências letais, o Estado deve iniciar de ofício e
quais não se aplique atualmente.
imediatamente, uma investigação séria, impar-
3. Não se pode restabelecer a pena de cial e efetiva.
morte nos Estados que a hajam abolido.
Em todo caso de uso de força que tenha acarreta-
4. Em nenhum caso pode a pena de morte do em morte ou lesões de uma ou mais pessoas
ser aplicada por delitos políticos, nem por corresponde ao Estado a obrigação de prover
delitos comuns conexos com delitos políti- uma explicação satisfatória e convincente do
cos. sucedido e afastar as alegações sobre sua res-
ponsabilidade, mediante elementos probatórios
5. Não se deve impor a pena de morte a adequados. [Corte IDH. Caso Montero Aranguren
pessoa que, no momento da perpetração y otros (Retén de Catia) Vs. Venezuela. Exceções

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preliminares, mérito, reparações e custas. Sen- Para Fixação:


tença de 05-07-2006.]
Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: DPE-RO Prova:
CESPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público
6. Toda pessoa condenada à morte tem di-
reito a solicitar anistia, indulto ou comu-
Considerando o Pacto de São José da Costa
tação da pena, os quais podem ser con-
Rica, assinale a opção correta.
cedidos em todos os casos. Não se pode
executar a pena de morte enquanto o pe-
a) Mesmo não tendo sido prevista no referido
dido estiver pendente de decisão ante a
pacto, a proteção da integridade psíquica de
autoridade competente.
toda pessoa é dever dos Estados signatários, por
força de orientação da Comissão Interamericana
Comentários: Esse dispositivo 4.6 prescreve e da Corte Interamericana.
certas garantias processuais mínimas para os
presos condenados à pena de morte, a fim de b) Os Estados signatários desse pacto compro-
que se assegurar a maior proteção possível ao metem-se a respeitar os direitos e liberdades
direito à vida, mesmo naqueles países em que nele reconhecidos e a garantir seu livre e pleno
a pena de morte ainda não tenha sido abolida. exercício às pessoas que estejam sujeitas à sua
jurisdição.
Essas proteções incluem o direito de protocolar c) Os Estados-partes são dispensados de adotar
o pedido de anistia, perdão ou comutação de quaisquer medidas legislativas destinadas a ga-
sentença, ser informado de todas as decisões re- rantir o exercício dos direitos e liberdades previs-
ferentes ao seu pleito, fazer representações, pes- tos nesse pacto, que se torna eficaz, no Estado-
soalmente ou por advogado, à autoridade com- -parte, a partir de sua assinatura.
petente, obter uma decisão dentro de um prazo
razoável antes de sua execução e ter a pena efe- d) Por não definir o significado da palavra
tivamente executada enquanto a sua petição es- pessoa, que é o sujeito dos direitos humanos por
tiver pendente de decisão pela autoridade com- ele garantidos, o pacto possibilita que Estados-
petente. partes restrinjam, por meio da jurisprudência ou
da legislação nacional, o significado do termo.
Jurisprudência: O direito constante do art. 4.6 e) O pacto não prevê, expressamente, o direito de
da CADH consiste em uma garantia legal das toda pessoa de ter reconhecida sua personalida-
pessoas que forem condenadas a pena de morte, de jurídica, embora se infira de suas disposições
que deve ser processada e apreciada conforme o dever de os Estados-partes reconhecerem esse
critérios previamente estabelecidos na legisla- direito.
ção, observadas as garantias judiciais do conde-
nado, não se confundindo com a previsão ge-
nérica presente no direito interno das Bahamas Ano: 2012/ Banca: CESPE/ Órgão: DPE-SE
de um “ato de misericórdia” ao total arbítrio da
autoridade competente. De acordo com o que dispõe a Convenção Ame-
[CIDH Relatório No. 48/01, Caso No. 12.067, Mi- ricana de Direitos Humanos,
chael Edwards e outros Vs. Bahamas, 04-04-
2001.] a) o Estado-parte não tem a obrigação de anali-
sar pedido de indulto, anistia ou comutação de
Observações: pena requeridos por condenado à morte.
b) o direito à vida deve ser protegido, como regra,
desde a concepção.
c) a pena de morte pode ser restabelecida nos Es-
tados-parte que a tenham abolido.
d) a pena de morte, nos Estados-partes que a
adotem, pode ser aplicada a delitos políticos e) a
pena de morte pode ser imposta a condenados
por crimes conexos a delitos políticos.

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Ano: 2018/ Banca: FCC/ Órgão: TRT-2ª Região – Anotações gerais:


Técnico Judiciário

De acordo com a Convenção Americana de Direi-


tos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica),
a) a pena pode passar da pessoa do delinquen-
te b) não se pode restabelecer a pena de morte
nos Estados que a hajam abolido c) os menores,
quando puderem ser processados, devem cum-
prir a pena juntamente com os adultos d) as pe-
nas privativas de liberdade devem ter por fina-
lidade essencial segregar o criminoso do meio
social e) a pena de morte pode ser aplicada por
delitos comuns conexos com delitos políticos

Ano: 2018/ Banca: IBFC/ Órgão: CBM-SE / Cade-


te do Corpo de Bombeiros

Assinale a alternativa INCORRETA sobre as dis-


posições da Convenção Americana de Direitos
Humanos (Pacto de San José de Costa Rica).

a) Nos países que não houverem abolido a pena


de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos
mais graves, em cumprimento de sentença final
de tribunal competente e em conformidade com
lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de
haver o delito sido cometido.
b) Em nenhum caso pode a pena de morte ser
aplicada por delitos políticos, exceto por delitos
comuns conexos com delitos políticos.
c) Não se deve impor a pena de morte a pessoa
que, no momento da perpetração do delito, for
menor de dezoito anos, ou maior de setenta,
nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez .
d) Toda pessoa condenada à morte tem direi-
to a solicitar anistia, indulto ou comutação da
pena, os quais podem ser concedidos em todos
os casos. Não se pode executar a pena de morte
enquanto o pedido estiver pendente de decisão
ante a autoridade competente.

Gabarito: 01 – B | 02 - B | 03 - B

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DIA 2 requisito prévio a realização de intervenções ci-


rúrgicas terapias hormonais totais ou parciais ou
hormonais, esterilizações ou modificações cor-
Disciplina: Direitos Humanos. porais, ou provar a identidade de gênero que mo-
tiva esse procedimento, porque mostra-se con-
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
trário ao direito à integridade pessoal contidos
Teles nos artigos 5.1 e 5.2 da Convenção Americana.
Dia 02: Do Art. 5º ao 7º. [Corte IDH. Opinião Consultiva n. 24, de 24 de no-
vembro de 2017]
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3
Aprofundando: Com base no art. 5.1, a Corte
IDH possui diversos casos julgados sobre desa-
Artigo 5. Direito à integridade pessoal parecimentos forçados, estabelecendo TRÊS
elementos concorrentes para sua configuração:

Comentários: Nenhuma disposição do art. 5º a) a privação de liberdade;


poderá ser suspensa, nem mesmo durante si-
tuações de guerra, de perigo público, ou de outra b) a intervenção direta de agentes esta-
emergência que ameace a independência ou se- tais ou de pessoas ou grupos de pessoas
gurança do Estado Parte (ver art. 27.2). que agem com a autorização, apoio ou a
aquiescência do Estado; e
c) a recusa em reconhecer a detenção e
5.1. Toda pessoa tem o direito de que se
revelar o destino ou paradeiro da pessoa
respeite sua integridade física, psíquica e
em questão.
moral.
[Corte IDH. Caso Vereda La Esperanza vs. Colôm-
bia. Sentença de 31-8-2017.]
Jurisprudência: A mera ameaça iminente e
real à integridade física, psíquica e moral pode A Corte IDH admite a utilização de provas indi-
configurar violação ao art. 5.1. [Corte IDH. Caso ciárias para demonstrar a configuração de um
Vélez Restrepo e família vs. Colômbia. Sentença desaparecimento forçado, uma vez que esta
de 03.09.2012] forma de violação é caracterizada pela busca da
supressão de qualquer elemento que permita
Os familiares da vítima direta também podem verificar a prisão, o paradeiro e o destino das ví-
ser considerados vítimas de violações, adotan- timas. [Corte IDH. Caso Vásquez Durand e Outros
do-se os seguintes critérios: vs. Equador. Exceções preliminares, mérito, repa-
rações e custas. Sentença de 15-2-2017.]
a) estreito vínculo familiar;
b) forma pela qual o familiar se engajou
5.2. Ninguém deve ser submetido a tortu-
na busca por justiça;
ras, nem a penas ou tratos cruéis, desu-
c) resposta oferecida pelo Estado; manos ou degradantes. Toda pessoa pri-
d) contexto de impedimento de acesso à vada da liberdade deve ser tratada com o
justiça; respeito devido à dignidade inerente ao ser
humano.
e) a permanente incerteza em que vivem
os familiares em relação ao ocorrido.
Mnemônica: Crueldade Desejar a Degradação.
[Corte IDH. Caso Cruz Sánchez e Outros vs. Peru.
Sentença de 17.04.2015] Comentários: O conteúdo e alcance da norma
é preenchido pela Convenção Interamericana
(...) para Prevenir e Punir a Tortura (CIPPT), que
conceitua tortura como o ato por meio do qual
o procedimento para solicitar uma mudança de são dirigidos intencionalmente a um indivíduo
nome, adequação da imagem e retificação da penalidades ou sofrimentos físicos ou men-
referência a sexo ou gênero, nos registros e do- tais, com o propósito de investigação criminal,
cumentos de identidade, não podem ter como

8
#LEGIS

intimidação, castigo ou aplicação de medida agressões físicas, sexuais e psicológicas, mere-


preventiva ou penalidade. cendo proteção especial.
[Corte IDH. Medidas provisórias a respeito da Re-
Conforme a CIPPT, além de agentes públicos, pública Federativa do Brasil. Assunto do Com-
podem ser responsabilizados os particulares, plexo Penitenciário de Curado. Resolução de
quando instigados por agentes do Estado a co- 15.11.2017]
meterem, induzirem, ordenarem ou forem cúm-
plices da prática de tortura. Nas medidas provisionais impostas pela Corte
IDH acerca do Complexo Penitenciário de Pedri-
nhas, no Maranhão, concluiu-se pela necessida-
Jurisprudência: A Corte IDH considera que o es- de de mudanças estruturais para que os inter-
tupro é uma forma de tortura [Corte IDH. Caso nos deixem de ser separados de acordo com a
Favela Nova Brasília vs. Brasil. Sentença de 16-2- facção criminosa a que pertencem e passem a
2017.] sê-lo a partir dos crimes a si imputados.
[Corte IDH. Medidas Provisórias a respeito da Re-
5.3. A pena não pode passar da pessoa do pública Federativa do Brasil. Assunto do Com-
delinqüente. plexo Penitenciário de Pedrinhas. Resolução de
14.03.2018]
Comentários: Este dispositivo consagra o de-
nominado princípio da intranscendência ou 5.5. Os menores, quando puderem ser
da pessoalidade ou, ainda, personalidade da processados, devem ser separados dos
pena, e preconiza que somente o condenado, adultos e conduzidos a tribunal especia-
e mais ninguém, poderá responder pelo fato lizado, com a maior rapidez possível, para
criminoso praticado. Também está previsto no seu tratamento.
art. 5º, XLV da CF/88.
Jurisprudência: A Corte IDH interpretou este ar-
5.4. Os processados devem ficar separa- tigo como veículo do princípio da especializa-
dos dos condenados, salvo em circuns- ção, dispondo que deve ser estabelecido um sis-
tâncias excepcionais, e ser submetidos a tema de justiça especializado em todas as fases
tratamento adequado à sua condição de processuais e de execução das medidas que se
pessoas não condenadas. apliquem aos menores de idade que, confor-
me a legislação interna, sejam inimputáveis ou
condenados pela prática de crimes, englobando
Comentários: As Regras Mínimas da ONU para o inclusive os marcos normativos, instituições e
Tratamento dos Reclusos (Regras de Mandela), atores estatais especializados em justiça penal
utilizadas pela Comissão e pela Corte IDH, deter- juvenil. [Corte IDH. Mendoza e Outros vs. Argenti-
minam que os funcionários encarregados de na. Sentença de 14.05.2013]
fazer cumprir a lei só poderão fazer uso de força
letal e de armas letais quando estritamente ne-
cessário, em casos de legítima defesa ou para 5.6. As penas privativas da liberdade de-
evitar tentativa de fuga dos detentos. vem ter por finalidade essencial a reforma
e a readaptação social dos condenados.
Aos indivíduos pertencentes a comunidades
indígenas, deverá ser dada preferência a outros
tipos de sanção que não as penas privativas de Comentários: A Comissão IDH entende que a
liberdade, conforme seus sistemas consuetudi- participação dos detentos em atividades direcio-
nários de justiça, caso existam. nadas à reabilitação deve ser voluntária.
[Comissão IDH. Principios y Buenas Prácticas so- [Comissão IDH. Informe sobre los derechos huma-
bre la Protección de las Personas Privadas de Li- nos de las personas privadas de libertad em las
bertad em las Americas, principio VIII] Americas, parágrafos 608 e 609]
Jurisprudência: O Brasil já foi destinatário de
medidas provisionais da Corte IDH a respeito da Artigo 6. Proibição da escravidão e da ser-
ausência de medidas concretas aptas à prote- vidão
ção da população LGBTI no Complexo Peniten-
ciário do Curado, em Recife, reconhecendo que
este grupo social tem mais suscetibilidades a

9
#LEGIS

Comentários: O art. 6º também faz parte do nú- escravidão, (…) poder-se-ia equipará-lo à perda
cleo inderrogável de direitos, pois não pode da própria vontade ou a uma diminuição consi-
ser suspenso em casos de guerra, perigo públi- derável da autonomia pessoal”.
co ou outras ameaças, conforme previsto no art.
27.2. Nesse sentido, o chamado “exercício de atri-
butos da propriedade” deve ser entendido nos
dias atuais como o controle exercido sobre uma
1. Ninguém pode ser submetido a escra-
pessoa que lhe restrinja ou prive significativa-
vidão ou a servidão, e tanto estas como o
mente de sua liberdade individual, com inten-
tráfico de escravos e o tráfico de mulhe-
ção de exploração mediante o uso, a gestão, o
res são proibidos em todas as suas formas.
benefício, a transferência ou o despojamen-
to de uma pessoa. Em geral, esse exercício se
Comentários: A Corte IDH considera que os dois apoiará e será obtido através de meios tais como
elementos fundamentais para definir uma si- a violência, fraude e/ou coação. [Corte IDH. Caso
tuação como escravidão são: Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil.
Sentença de 20-10-2016.]
i) o estado ou condição de um indivíduo; e
ii) o exercício de algum dos atributos do 2. Ninguém deve ser constrangido a execu-
direito de propriedade. tar trabalho forçado ou obrigatório. Nos
países em que se prescreve, para certos de-
Tráfico de mulheres está ligado à exploração litos, pena privativa da liberdade acompa-
sexual, em razão do qual se levam mulheres de nhada de trabalhos forçados, esta disposi-
um país a outro a fim de ali serem sexualmente ção não pode ser interpretada no sentido
exploradas. de que proíbe o cumprimento da dita pena,
imposta por juiz ou tribunal competente. O
A servidão é uma forma análoga à escravidão e trabalho forçado não deve afetar a digni-
consiste na obrigação de realizar trabalho para dade nem a capacidade física e intelectual
outros, imposto por meio de coerção, e a obriga- do recluso.
ção de viver na propriedade de outra pessoa,
sem a possibilidade de alterar essa condição. Comentários: A expressão “trabalho forçado ou
Deve receber a mesma proteção da escravidão. obrigatório” designará todo trabalho ou serviço
exigido de um indivíduo sob ameaça de qual-
Segundo a Corte IDH, a expressão “tráfico de quer penalidade E para o qual ele não se ofere-
escravos e de mulheres” deve ser interpretada ceu de espontânea vontade.
de maneira ampla para referir-se ao “tráfico de
pessoas”. A regra sofre EXCEÇÃO relativamente aos países
nos quais se impõe, para certos tipos de delitos,
pena privativa de liberdade, acompanhada de
Jurisprudência: Trabalhadores da Fazenda trabalhos forçados. Nesses casos, a pena deve
Brasil Verde vs. Brasil foi o primeiro caso con- ser imposta por um juiz ou tribunal compe-
tencioso perante a Corte IDH substancialmente tente e desde que o trabalho forçado em causa
relacionado ao art. 6.1 e 6.2. da CADH. não afete a dignidade, a capacidade física e in-
telectual do recluso.
270.O primeiro elemento (estado ou condição)
se refere tanto à situação de jure como de facto, Na CF/88, a proibição ao trabalho forçado está
isto é, não é essencial a existência de um docu- prevista no art. 5º, XLVII.
mento formal ou de uma norma jurídica para a
caracterização desse fenômeno, como no caso
da escravidão chattel ou tradicional. 3. Não constituem trabalhos forçados ou
obrigatórios para os efeitos deste artigo:
271. Com respeito ao elemento de “proprieda-
de”, este deve ser entendido no fenômeno de a. os trabalhos ou serviços normalmente
escravidão como “posse”, isto é, a demonstra- exigidos de pessoa reclusa em cumpri-
ção de controle de uma pessoa sobre outra. mento de sentença ou resolução formal
Portanto, “no momento de determinar o nível de expedida pela autoridade judiciária com-
controle requerido para considerar um ato como

10
#LEGIS

petente. Tais trabalhos ou serviços devem dições previamente fixadas pelas cons-
ser executados sob a vigilância e controle tituições políticas dos Estados Partes ou
das autoridades públicas, e os indivíduos pelas leis de acordo com elas promulgadas.
que os executarem não devem ser postos à
disposição de particulares, companhias ou
Comentários: Trata-se da previsão dos princí-
pessoas jurídicas de caráter privado;
pios da legalidade e da tipicidade.
b. o serviço militar e, nos países onde se
admite a isenção por motivos de consciên-
cia, o serviço nacional que a lei estabelecer Jurisprudência: 145. O numeral 2 do art. 7 reco-
em lugar daquele; nhece a garantia primária do direito à liberdade
física: a reserva de lei, segundo a qual unica-
c. o serviço imposto em casos de perigo
mente através de uma lei pode-se afetar o di-
ou calamidade que ameace a existência ou
reito à liberdade pessoal.
o bem-estar da comunidade; e
d. o trabalho ou serviço que faça parte das A respeito desse tema, esta Corte tem estabele-
obrigações cívicas normais. cido que a reserva de lei deve forçosamente ser
acompanhada do princípio de tipicidade, que
Art 7. Direito à liberdade pessoal obriga aos Estados estabelecer, tão concreta-
mente seja possível e “de antemão”, as “cau-
Comentários: O art. 7 da CADH apresenta regula- sas” e “condições” da privação da liberdade
mentações de dois tipos: uma geral e outra espe- física. Desse modo, o art. 7.2 da Convenção re-
cífica. A geral se encontra no primeiro parágrafo, mete automaticamente à normativa interna.
que trata da liberdade e segurança. A específica
é composta por uma série de garantias. Por isso, qualquer requisito estabelecido na lei
nacional que não seja cumprido ao privar uma
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à pessoa de sua liberdade, resultará em que tal pri-
segurança pessoais. vação seja ilegal e contrária à Convenção Ameri-
cana.
[Corte IDH. Caso Usón Ramírez vs. Venezuela. Sen-
Comentários: A liberdade é a capacidade de fa- tença de 20-11-2009. Tradução livre.]
zer e não fazer tudo o que seja licitamente per-
mitido. A segurança, por sua vez, seria a ausên-
cia de perturbações que restrinjam ou limitem a Aprofundando: Embora a análise da legalidade
liberdade além do razoável. se dê a partir do direito interno, a Corte IDH já de-
finiu alguns critérios que devem estar presentes
para que as restrições à liberdade pessoal este-
Aprofundando: Tradicionalmente, a Corte IDH ja de acordo com a CADH. Assim, toda detenção
aplica ao direito de liberdade e segurança um deve ser registrada em documento oficial que
enfoque restrito a comportamentos físicos e contenha as seguintes informações: causas da
aos movimentos corporais do indivíduo. prisão; autoridade que realizou a prisão; data e
o horário da prisão; confirmação da comunica-
Nesse sentido, os casos mais recorrentes aprecia- ção à autoridade competente; notificação dos
dos tratam de violações cometidas por agentes representantes e/ou defensores de menores
estatais em contextos de detenção. No entanto, privados de liberdade e das visitas prestadas;
recentemente, ao proferir a Opinião Consultiva anotações sobre as transferências dos presos;
nº 24/2017, sobre identidade de gênero, igual- assinatura do preso no registro da prisão; de-
dade e não discriminação, a Corte deu uma in- fensor ter acesso à documentação.
terpretação extensiva ao direito de liberdade
previsto no art. 7.1 e concluiu que referido direito
significa a possibilidade de autodeterminação 3. Ninguém pode ser submetido a deten-
e livre escolha das circunstâncias que confe- ção ou encarceramento arbitrários.
rem sentido à existência dos seres humanos.
Comentários: O art. 7.3 significa que ninguém
2. Ninguém pode ser privado de sua liber- pode ser submetido ao encarceramento por ra-
dade física, salvo pelas causas e nas con- zões e métodos que, ainda que considerados
legais pelo direito interno, afrontem direitos

11
#LEGIS

fundamentais, sejam desarrazoados ou des- lei interna em face da CADH. No Brasil, o prazo
proporcionais, de modo que a arbitrariedade utilizado é de 24h, previsto no art. 306, §1º do
possui conteúdo jurídico próprio. CPP e no art. 13 da Resolução nº 2013/2015 do
CNJ.
Jurisprudência: Segundo a Corte IDH, para que O dispositivo também assegura o princípio da
uma detenção não seja arbitrária, deve seguir duração razoável do processo, que tem sua cor-
os seguintes parâmetros: finalidade consoante respondência no art. 5º, LXXVIII da CF/88.
a Convenção Americana; idoneidade para al-
cançar o fim almejado; necessidade, ou seja, ser Na parte final do art. 7.5, apresenta-se alter-
indispensável para a obtenção do objetivo visa- nativa à privação de liberdade, possibilitando
do, desde que inexista medida menos gravosa; a aplicação de outras medidas que garantam o
estrita proporcionalidade, de forma tal que a comparecimento do acusado em juízo, a exem-
vulneração da liberdade não seja desmedida pe- plo das medidas cautelares previstas no art. 319
rante vantagens obtidas mediante sua restrição; do CPP.
motivação, a fim de possibilitar a verificação das
demais condições.
[Corte IDH. Caso Argüelles e Outros vs. Argentina. Jurisprudência: A “outra autoridade autoriza-
Sentença de 20.11.2014] da pela lei a exercer funções” deve ser aquela
que satisfaça os requisitos de independência,
imparcialidade, prévia designação por lei e,
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser
sobretudo, poder para fazer cessar imediata-
informada das razões da sua detenção e
mente qualquer tipo de ilegalidade.
notificada, sem demora, da acusação ou
[Corte IDH. [Caso Acosta Calderon vs. Equador.
acusações formuladas contra ela.
Sentença de 24/06/2005]

Jurisprudência: Para cumprimento deste artigo, A mera ciência da autoridade competente (por
não é suficiente apenas informar o dispositivo meio de ofício da autoridade policial, por exem-
legal que embasa a prisão, mas deve o agente plo) acerca da prisão não satisfaz os ditames do
estatal informar ao preso em linguagem simples art. 7.5. É necessário que o detido compareça
e livre de tecnicismos os fatos e as bases jurídi- pessoalmente ao juízo e que a autoridade valore
cas que sustentam a detenção. as explicações apresentadas, a fim de que decida
[Corte IDH. Caso Yvon Neptune vs. Haiti. Sentença pela liberação ou pela manutenção da privação
de 06.05.2008] de liberdade.
[Corte IDH. Caso Espinoza Gonzáles vs. Peru. Sen-
tença de 20.11.2014]
5. Toda pessoa detida ou retida deve ser
conduzida, sem demora, à presença de Quanto ao direito à liberdade pessoal, este Tri-
um juiz ou outra autoridade autorizada bunal, depois de considerar que a prisão pre-
pela lei a exercer funções judiciais e tem ventiva é a medida mais severa que pode ser
direito a ser julgada dentro de um prazo aplicada ao acusado de um crime, motivo pela
razoável ou a ser posta em liberdade, sem qual a sua aplicação deve ter um carácter excep-
prejuízo de que prossiga o processo. Sua li- cional, em razão de ser limitada pelos princípios
berdade pode ser condicionada a garan- da legalidade, presunção de inocência, necessi-
tias que assegurem o seu comparecimento dade e proporcionalidade, concluiu que a Costa
em juízo. Rica violou esse direito a Jorge Martínez Melén-
dez, que sofreu por mais de treze meses uma me-
Comentários: O dispositivo trata da chamada dida cautelar que já havia ultrapassado os prazos
audiência de custódia ou audiência de apre- previstos em lei e que não havia passado por
sentação, que visa à revisão judicial da privação adequada análise sobre a necessidade e razoabi-
de liberdade. Na intepretação do termo “sem lidade do confinamento preventivo.
demora”, a Corte IDH observa primeiramente a [Corte IDH. Caso Amrhein e outros vs. Costa Rica.
legislação interna do país. Na análise de viola- Sentença de 25-4-2018.]
ções a esse artigo, a Corte realiza dois juízos: a)
quanto à observância do prazo fixado na lei inter- 1. A Convenção Americana sobre Direitos do Ho-
na; b) quanto à razoabilidade do prazo fixado na mem, que dispõe, em seu art. 7º, item 5, que
“toda pessoa presa, detida ou retida deve ser

12
#LEGIS

conduzida, sem demora, à presença de um juiz”, [STF. HC 84.716, rel. min. Marco Aurélio, 1º T, j. 19-
posto ostentar o status jurídico supralegal que 10-2004, DJ de 26-11-2004.]
os tratados internacionais sobre direitos huma- Aprofundando: Conforme as Opiniões Consulti-
nos têm no ordenamento jurídico brasileiro, le- vas nº 8/87 e 9/87 emitidas pela Corte IDH, o art.
gitima a denominada “audiência de custódia”, 7.6 é inderrogável, não podendo ser suspenso,
cuja denominação sugere “audiência de apresen- nem mesmo em caso de guerra, de perigo públi-
tação”. 2. O direito convencional de apresentação co, ou de outra emergência que ameace a inde-
do preso ao juiz, consectariamente, deflagra o pendência ou segurança do Estado Parte, porque
procedimento legal de habeas corpus, no qual as garantias asseguradas no dispositivo estão in-
o juiz apreciará a legalidade da prisão, à vista do cluídas na expressão “garantias indispensáveis
preso que lhe é apresentado, procedimento esse para a proteção de tais direitos”, contida no ar-
instituído pelo Código de Processo Penal, nos tigo 27.2. Portanto, a garantia do habeas corpus
seus arts. 647 e seguintes. jamais pode ser suspensa.
[STF. ADI 5.240, rel. min. Luiz Fux, P, j. 20-8-2015,
DJE de 1º-2-2016]
7. Ninguém deve ser detido por dívidas.
Este princípio não limita os mandados de
6. Toda pessoa privada da liberdade tem autoridade judiciária competente expe-
direito a recorrer a um juiz ou tribunal didos em virtude de inadimplemento de
competente, a fim de que este decida, sem obrigação alimentar.
demora, sobre a legalidade de sua pri-
são ou detenção e ordene sua soltura se
Jurisprudência: STF - Súmula Vinculante nº 25:
a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qual-
Estados Partes cujas leis prevêem que
quer que seja a modalidade de depósito.
toda pessoa que se vir ameaçada de ser
privada de sua liberdade tem direito a re-
correr a um juiz ou tribunal competente a Aprofundando: O art. 5º, LXVII da CF/88 prescre-
fim de que este decida sobre a legalidade ve que “não haverá prisão civil por dívida, salvo a
de tal ameaça, tal recurso não pode ser do responsável pelo inadimplemento voluntário
restringido nem abolido. O recurso pode e inescusável de obrigação alimentícia e a do de-
ser interposto pela própria pessoa ou por positário infiel”. No julgamento do RE nº 466.343-
outra pessoa. 1/SP, o STF entendeu que a parte final do dispo-
sitivo era incompatível com a CADH. Contudo,
Comentários: O controle da legalidade da pri- a CADH não teria o condão de revogar artigo da
vação de liberdade deve ser judicial e efetivo CF/88, pois não tem hierarquia constitucional,
(não basta a previsão formal na legislação). Na mas supralegal, tornando sem aplicabilidade
parte final, o dispositivo prevê como garantia a os dispositivos legais que regulamentavam a pri-
utilização do habeas corpus, assegurando capa- são do depositário infiel. Trata-se de um exem-
cidade postulatória a qualquer indivíduo com a plo de controle de convencionalidade realizado
finalidade de assegurar o controle judicial da pri- pelo STF.
são.
Anotações sobre os artigos anteriores:
Jurisprudência: RECURSO – HABEAS CORPUS –
DISPENSA DA CAPACIDADE POSTULATÓRIA. Ver-
sando o processo sobre a ação constitucional de
habeas corpus, tem-se a possibilidade de acom-
panhamento pelo leigo, que pode interpor recur-
so, sem a exigência de a peça mostrar-se subscri-
ta por profissional da advocacia.

(...)

Para efeito de documentação, reproduzo nes-


te voto, não só as ementas citadas, como tam-
bém o art. 7º do Pacto de São José da Costa
Rica, mais precisamente o item 6, (...).

13
#LEGIS

Para Fixação: ocasião, aferirá a legalidade do ato de constrição,


para o fim de mantê-lo ou não.
Ano 2014/Banca: VUNESP/Órgão: PC-SP – Dele-
gado de Polícia e) O devedor de obrigação alimentar e o deposi-
tário infiel poderão ser presos pelas dívidas con-
Considerando o disposto expressamente no traídas e não quitadas.
Pacto Internacional de San José da Costa
Rica (Convenção Americana de Direitos Huma-
nos de 1969), a respeito do direito à vida e do Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: DPESP Prova: FCC -
direito à integridade pessoal, é correto afir- 2013 - DPE-SP - Defensor Público
mar que
Na sentença do Caso Mendoza y otros con Ar-
a) os processados devem ficar separados dos gentina, de 14 de maio de 2013, a Corte Inte-
condenados, salvo em circunstâncias excepcio- ramericana de Direitos Humanos declarou a
nais, e devem ser submetidos a tratamento ade- República da Argentina internacionalmente
quado à sua condição de pessoas não condena- responsável, bem como obrigou a referida na-
das. ção ao cumprimento das devidas reparações
pelas violações dos seguintes direitos previs-
b) toda pessoa tem o direito de que se respeite
tos na Convenção Americana de Direitos Hu-
sua vida, e o direito de ser protegido pela lei, em
manos:
geral, desde o momento do seu nascimento.
c) todos os países estão proibidos de adotar a a) direitos dos estrangeiros bolivianos em situa-
pena de morte e aqueles que já a adotem devem ção irregular, acesso à justiça, direito à dignidade
aboli-la de imediato. e proibição da escravidão;
d) é vedada pelos Estados a adoção da pena de b) liberdade de expressão em matéria de impren-
prisão perpétua, exceto para casos de crimes he- sa, rádio e televisão; direito à propriedade pri-
diondos. vada, devido processo legal e direito à proteção
judicial.
e) a pena de trabalhos forçados será vedada uni-
camente a menores de vinte e um anos e a maio- c) direitos da criança, direito à proteção judicial,
res de setenta anos. direito à vida e direito à integridade pessoal con-
tra a tortura e a pena perpétua privativa de liber-
dade.
Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TJ- d) aplicação da lei penal em prazo razoável, devi-
DFT Prova: CESPE - 2016 - TJ-DFT - Juiz do processo legal, direito à segurança e direito à
integridade pessoal da vítima e dos seus paren-
Acerca da Convenção Americana sobre Direi- tes.
tos Humanos, conhecida como Pacto de São
José da Costa Rica, assinale a opção correta. e) direito à nacionalidade, direitos políticos e iso-
nomia entre os cidadãos natos e naturalizados.
a) O preso não será constrangido a executar tra-
balho forçado ou obrigatório, ainda que o serviço
exigido ocorra em casos de perigo ou de calami- Anotações gerais:
dade que ameacem a existência e o bem-estar da
comunidade.
b) Há previsão, no Pacto de São José da Costa
Rica, de que nenhuma pessoa poderá ser detida
ou presa por dívida de qualquer natureza.
c) A autoridade policial está obrigada a compare-
cer em juízo para justificar os motivos pelos quais
efetuou prisão em flagrante, para que o magistra-
do possa aferir a legalidade do ato constritivo.
d) A audiência de custódia prevê que a pessoa Gabarito: 01 – A | 02 - D | 03 - C
detida seja conduzida à presença do juiz, que, na

14
#LEGIS

DIA 3 ou a violação da garantia da independência do


juiz ou tribunal:

Disciplina: Direitos Humanos. a) um adequado processo de nomeação;


Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel b) inamovibilidade do cargo;
Teles c) garantias contra pressões externas.
Dia 03: Do Art. 8º ao 11º.
[Caso Tribunal Constitucional vs. Peru. Sentença
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 31.01.2001]

Sobre a garantia da imparcialidade, a Corte IDH


combina critérios objetivos e subjetivos, exi-
Artigo 8. Garantias judiciais gindo que o juiz ou tribunal se aproxime dos fatos
da causa sem preconceito (aspecto subjetivo),
Comentários: O dispositivo trata do princípio além de agir externamente (aspecto objetivo)
do devido processo legal e do direito de acesso sem demonstrar de que não está sob influência
à justiça. de ameaças ou influencias indevidas. [Caso Apitz
Barbeta vs. Venezuela. Sentença 05.08.2008]
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, A Corte IDH fixou quatro critérios a serem obser-
com as devidas garantias e dentro de um vados para averiguar a obediência ou a violação
prazo razoável, por um juiz ou tribunal do direito a um julgamento em prazo razoável:
competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na a) complexidade do assunto;
apuração de qualquer acusação penal for-
mulada contra ela, ou para que se determi- b) atividade processual dos interessados;
nem seus direitos ou obrigações de nature- c) conduta das autoridades;
za civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza. d) impacto do tempo sobre a situação ju-
rídica das partes interessas.
Comentários: O direito de ser ouvido não pos-
sui uma acepção exclusivamente física. Embo- [Caso Genie Lacayo vs. Nicarágua. Sentença
ra no âmbito penal a garantia da oralidade seja 29.01.1997; Caso Vale Jaramillo vs. Colômbia.
necessária, em outras áreas (civil, trabalhista, Sentença 27.11.2008]
fiscal etc) o âmbito de proteção da norma traduz
uma garantia de que os envolvidos no processo As garantias previstas no art. 8 aplicam-se aos
possam se manifestar e formular argumentos, procedimentos de impeachments. [Corte IDH.
ainda que apenas escritos, e que sejam conside- Caso Corte Constitucional vs. Peru. Sentença de
rados com seriedade pela autoridade judicial. 31-1-2001]

A expressão “juiz ou tribunal” não se confunde A jurisprudência da Corte IDH tem sido constante
com Poder Judiciário, conforme a jurisprudên- sobre os limites da competência da jurisdição
cia da Corte IDH, que amplia o âmbito protetivo militar para conhecer de fatos que constituam
da norma, assegurando que as garantias pre- violações de direitos humanos, no sentido de
vistas no art. 8º sejam aplicadas em qualquer afirmar que em um Estado Democrático de Di-
procedimento estatal que possa afetar direi- reito a jurisdição penal militar terá um alcance
tos, independentemente se o órgão seja judicial, restrito e excepcional, e se destinará à proteção
legislativo ou administrativo. de interesses jurídicos especiais, vinculados às
funções próprias das forças militares. Por con-
O dispositivo consagra o princípio do juiz natu- seguinte, a Corte apontou que, no foro militar,
ral, o qual é aplicável a qualquer órgão estatal, só se devem julgar militares ativos pela prática
consistente naquele com competência previa- de crimes ou faltas que, por sua própria natu-
mente definida na legislação interna. reza, atentem contra bens jurídicos próprios
Jurisprudência: A Corte IDH fixou três critérios da ordem militar e da esfera castrense.
a serem observados para averiguar a obediência

15
#LEGIS

A jurisdição militar se estabelece para manter a A mera enumeração de normas supostamente


ordem nas Forças Armadas. Por esse motivo, sua aplicáveis aos fatos, sem explicitar a relação de
aplicação se reserva aos militares que tenham aplicação ao caso concreto, não satisfaz os re-
incorrido em crime ou falta no exercício de suas quisitos de motivação adequada
funções e em certas circunstâncias. [Caso López Lone e Outros vs. Honduras. Sentença
[Caso Ortiz Hernández e outros vs. Venezuela. Sen- 05.10.2015].
tença de 22-8-2017]
2. Toda pessoa acusada de delito tem di-
Dada sua manifesta incompatibilidade com a
reito a que se presuma sua inocência en-
Convenção Americana, as disposições da Lei de
quanto não se comprove legalmente sua
Anistia brasileira que impedem a investigação
culpa. Durante o processo, toda pessoa
e sanção de graves violações de direitos hu-
tem direito, em plena igualdade, às seguin-
manos carecem de efeitos jurídicos. Em con-
tes garantias mínimas:
sequência, não podem continuar a representar
um obstáculo para a investigação dos fatos do
presente caso, nem para a identificação e puni- Comentários: O caput consagra o princípio da
ção dos responsáveis, nem podem ter igual ou presunção de inocência, também chamado
similar impacto sobre outros casos de graves vio- de princípio da não culpabilidade. Segunda a
lações de direitos humanos consagrados na Con- CADH, a pessoa processada criminalmente deve-
venção Americana ocorridos no Brasil. rá ser considerada inocente até a comprovação
legal da culpa, o que será definido pela legisla-
(...) ção interna.

A incompatibilidade das leis de anistia com a No Brasil, a comprovação legal da culpa ocorre
Convenção Americana nos casos de graves vio- quando se encerram as instâncias ordinárias
lações de direitos humanos não deriva de uma de julgamento, antes dos recursos especial e
questão formal, como sua origem, mas sim do extraordinário, visto que estes instrumentos re-
aspecto material na medida em que violam di- cursais não discutem fatos ou culpa. Contudo,
reitos consagrados nos arts. 8 e 25, em relação a CF/88 previu norma mais protetiva do que a
com os arts. 1.1. e 2 da Convenção. CADH em relação à presunção de inocência, as-
[Caso Gomes Lund e outros vs. Brasil. Sentença de segurando, no art. 5º, LVII, que “ninguém será
24-11-2010] considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória”.
Aprofundando: Apesar de não previstas na lite- Seu caráter mais amplo e protetivo deve pre-
ralidade, a jurisprudência da Corte IDH reconhe- valecer sobre o teor da CADH, a qual protege a
ce duas garantias implícitas decorrentes do art. presunção de não culpabilidade somente “até a
8.1: a devida diligência e o dever de fundamen- comprovação legal da culpa”, que, a depender
tar as decisões (judiciais ou não). A devida dili- do ordenamento jurídico do Estado-Parte, pode
gência significa o ônus do Estado na condução ocorrer antes do esgotamento dos recursos cabí-
dos procedimentos com seriedade, especial- veis.
mente investigações criminais, desenvolvendo
todos os atos e averiguações úteis para o alcan-
ce de um resultado adequado, evitando omis- Jurisprudência: A Corte IDH considerou violado
sões e demoras injustificadas [Caso Favela Nova o art. 8.2 da CADH, porque órgão estatais expuse-
Brasília vs. Brasil. Sentença 16.02.2017]. ram aos meios de comunicação indivíduos sus-
peitos pela prática de um delito, apresentando-
O dever de fundamentar decorre do art. 8.1, -os como terroristas, sem qualquer comprovação
porque uma decisão adequadamente funda- penal da culpabilidade [Caso Cantoral Benavides
mentada demonstra que as alegações das par- vs. Peru. Sentença 18.08.2000].
tes foram levadas em conta e que o conjunto de
provas foi analisado corretamente, assegurando
a) direito do acusado de ser assistido gra-
que as partes tenham sido ouvidas
tuitamente por tradutor ou intérprete, se
[Caso Apitz Barbera vs. Venezuela. Sentença
não compreender ou não falar o idioma do
05.08.2008].
juízo ou tribunal;

16
#LEGIS

b) comunicação prévia e pormenorizada Comentários: O direito de o acusado defender-


ao acusado da acusação formulada; -se pessoalmente, sem necessidade de um de-
fensor, depende de autorização da legislação
nacional [Opinião Consultiva nº 11/90].
Jurisprudência: A Corte IDH exige que as auto-
ridades informem ao acusado não apenas as
ações ou omissões que lhe são imputadas, mas Jurisprudência: A Corte IDH tem entendido que
também as razões que levam o Estado a for- a defesa técnica é obrigatória em processos de
mular a imputação, os fundamentos probató- expulsão ou de deportação de estrangeiros, es-
rios e a caracterização legal dada aos fatos pecialmente se tiverem detidos [Caso Vélez Loor
[Caso Barreto Leiva vs. Venezuela. Sentença vs. Panamá. Sentença 23.11.2010].
17.11.2009].

Ademais, a comunicação deve ser feita antes e) direito irrenunciável de ser assistido
que o acusado faça sua primeira manifestação, por um defensor proporcionado pelo Es-
oral ou escrita. tado, remunerado ou não, segundo a le-
[Caso Tibi vs. Equador. Sentença 07.09.2004] gislação interna, se o acusado não se de-
fender ele próprio nem nomear defensor
dentro do prazo estabelecido pela lei;
A Corte IDH reconheceu que o direito à comuni-
cação prévia se aplica a procedimentos admi-
nistrativos disciplinares sancionatórios. Comentários: A garantia da defesa técnica cus-
[Caso Maldonado Ordoñez vs. Guatemala. Sen- teada pelo Estado deve se dar em todos os
tença 03.05.2016] âmbitos do direito para as pessoas hipossu-
ficientes (criminal, administrativo, trabalhista
etc), sem olvidar que, no processo penal, em
c) concessão ao acusado do tempo e dos razão dos direitos afetados, deve ser garan-
meios adequados para a preparação de tida inclusive para aquelas pessoas que não
sua defesa; demonstrarem estar em falta de recursos
[Opinião Consultiva nº 11/90 e Caso Ruano Torres
Jurisprudência: A Corte IDH declarou que o e Outros vs. El Salvador. Sentença 05.10.2015].
Estado pode excepcionalmente determinar o
sigilo de certos procedimentos, todavia, para No Brasil, o art. 263 do CPP dispõe que, na fal-
que esta limitação ao direito de defesa seja le- ta de advogado constituído pelo acusado, o juiz
gítima, o Estado deve realizá-la somente em deverá nomear, de ofício, um defensor para re-
decorrência de previsão legal, estabelecer um presentá-lo. A Defensoria Pública é o órgão
fim legítimo para a restrição e demonstrar constitucionalmente incumbido de exercer a
que o meio é idôneo, necessário e proporcio- defesa dos necessitados, judicial ou extraju-
nal. dicialmente e individual ou coletivamente (art.
[Caso J. vs. Peru. Sentença 27.11.2013]. 134, CF).

É direito do defensor, no interesse do


representado, ter acesso amplo aos elementos Jurisprudência: A defesa técnica não deve ser
de prova que, já documentados em procedi- apenas formal, mas constituir uma atividade
mento investigatório realizado por órgão com efetiva. A Corte IDH estabeleceu parâmetros que
competência de polícia judiciária, digam respei- identificam uma atividade insuficiente da defe-
to ao exercício do direito de defesa. sa:
[STF – Súmula Vinculante nº 14] a) não realizar uma atividade probatória
mínima;

d) direito do acusado de defender-se pes- b) inatividade argumentativa em defesa


soalmente ou de ser assistido por um de- dos interesses do acusado;
fensor de sua escolha e de comunicar-se, c) falta de conhecimento jurídico;
livremente e em particular, com seu defen-
sor; d) falta de interposição de recursos em
detrimento dos interesses do acusado;

17
#LEGIS
h) direito de recorrer da sentença para juiz
e) fundamentação indevida dos recursos ou tribunal superior.
interpostos;
f) abandono de defesa. Comentários: O dispositivo consagra o direito ao
duplo grau de jurisdição.
[Caso Vélez Loor vs. Panamá. Sentença
23.11.2010].
Jurisprudência: No julgamento do caso Norín
Catríman e Outros vs. Chile, a Corte IDH estabele-
Aprofundando: Desde 2009, o Regulamento da ceu que os recursos devem ser:
Corte IDH prevê a figura do “DEFENSOR INTE-
RAMERICANO”, dispondo que “em casos de su- a) ordinários;
postas vítimas sem representação legal devida- b) acessíveis;
mente acreditada, o Tribunal poderá designar
um Defensor Interamericano de ofício que as c) eficazes;
represente durante a tramitação do caso”. Esses d) permitir a revisão integral da decisão re-
representantes são indicados pela Associação corrida;
Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEP).
e) estar ao alcance de toda pessoa conde-
nada;
f) direito da defesa de inquirir as teste-
munhas presentes no tribunal e de obter f) respeitar as garantias processuais míni-
o comparecimento, como testemunhas ou mas.
peritos, de outras pessoas que possam lan-
A Corte IDH tratou do direito de recorrer nos
çar luz sobre os fatos;
casos em que os acusados foram julgados, em
primeira instância, pela Suprema Corte de seus
Jurisprudência: No Caso Norín Catriman e Ou- países, em razão de foro por prerrogativa de
tros vs. Chile, a Corte IDH tratou da possibilidade função.
de preservação da identidade das testemu-
nhas, o que o Tribunal denominou “TESTEMU- A Corte Interamericana definiu que, na falta de
NHAS SEM ROSTO”. um Tribunal hierarquicamente superior, deve-se
entender como respeitado o direito de recorrer
Para que seja legítima essa limitação ao direito quando quem resolve a impugnação é o pleno,
de defesa, a Corte decidiu que a reserva de iden- uma sala ou uma câmara “dentro do mesmo
tidade pode ocorrer com o escopo de proteção colegiado superior, mas de distinta composi-
à integridade física ou à vida da testemunha, ção ao que conhece da causa originariamente”
mas o juiz deve conhecer a identidade da tes- [Caso Liakat Ali Alibux vs. Suriname. Sentença
temunha e a defesa técnica deve ter amplas 30.01.2014].
oportunidades de interrogar diretamente a
testemunha, desde que não sejam questões ati-
nentes a sua identidade ou paradeiro. Aprofundando: No caso Mohamed vs. Argentina,
o reclamante foi absolvido criminalmente em pri-
Acrescentou a Corte IDH que eventual sentença meira instância e, após recurso do MP, condena-
condenatória não pode se basear exclusiva- do em segunda instância. Assim como no Brasil,
mente no depoimento da “testemunha sem o sistema argentino não prevê a impugnação do
rosto”. acórdão por meio de recurso ordinário, mas ape-
nas por recurso extraordinários, que impedem
revolver a matéria fática e probatória envolvida.
g) direito de não ser obrigado a depor con-
tra si mesma, nem a declarar-se culpada; Ao analisar o caso, a Corte IDH considerou que
houve violação ao art. 8.2.h, pois não foi asse-
gurado ao acusado o duplo grau de jurisdição.
Comentários: É uma garantia decorrente do
A Corte Interamericana considerou que o duplo
princípio nemo tenetur se detegere, que traduz
grau de jurisdição somente se torna efetivo se
a fórmula: ninguém é obrigado a produzir prova
for garantido a todo condenado, já que que a
contra si mesmo.
sentença condenatória é manifestação do exercí-
cio de poder punitivo do Estado.

18
#LEGIS

Dessa forma, seria contrário à finalidade do di- com qualidade de coisa julgada[Caso Massacre
reito ao duplo grau de jurisdição não garantir o de la Rochela vs. Colômbia. Sentença 11.05.2007].
recurso para alguém condenado em um julga-
mento que reforma decisão absolutória de ins-
tância inferior. Interpretar o direito ao recurso Aplica-se tal entendimento quando a atuação do
contrariamente a isso significa deixar tal conde- tribunal que conheceu do caso agiu de forma a
nado desprovido do direito ao recurso contra a subtrair a o acusado de sua responsabilidade
condenação. penal, bem como o procedimento não foi ins-
truído independentemente ou imparcialmen-
Assim, a Corte Interamericana concluiu que o Sr. te, com o escopo de livrar o responsável pela
Mohamed tinha o direito de recorrer da decisão ação da justiça [Caso Almonacid Arellano e Ou-
condenatória do Tribunal que reformou a deci- tros vs. Chile. Sentença 26.10.2006]. Foi através
são que o absolveu em primeira instância, vez desse entendimento que o Brasil foi condenado
que o direito ao duplo grau se aplica a partir da no caso Herzog e Outros vs. Brasil a reabrir as in-
primeira decisão que condena o acusado. vestigações sobre a responsabilidade pela tortu-
ra e pelo homicídio praticado contra o jornalista
Em resumo, a partir do caso concreto supra- Vladimir Herzog.
citado, extrai-se que, para a Corte Interame- [Caso Herzog e Outros vs. Brasil. Sentença
ricana o direito ao duplo grau, assegurado ao 02.09.2015].
acusado condenado pelo art. 8.2.h, da CADH,
aplica-se a partir da primeira decisão conde- 5.O processo penal deve ser público, salvo
natória, ainda que esta seja uma decisão que no que for necessário para preservar os in-
tenha reformado uma absolvição anterior. teresses da justiça.
Além disso, a Corte destacou que a dupla confor-
midade judicial, expressa mediante o acesso a Comentários: A publicidade do processo pos-
um recurso que assegure a possibilidade de revi- sui dois desdobramentos: a) a realização de
são integral da sentença condenatória dá maior uma fase oral na qual o acusado tenha contato
credibilidade ao ato jurisdicional do Estado e, ao com o juiz, conhecendo sua identidade, e com
mesmo tempo, dá maior segurança e proteção as provas, podendo se manifestar sobre elas; b)
aos direitos do condenado. [Caso Mohamed vs. a possibilidade de o público conhecer os fatos
Argentina, sentença de 23.11.2012] objeto do processo. Contudo, nos procedimen-
tos relativos a menores de idade, em razão das
consequências duradouras e danosas para sua
3. A confissão do acusado só é válida se vida futura, é recomendado a fixação de limites
feita sem coação de nenhuma natureza. ao amplo acesso ao público, a fim de atender ao
interesse superior da criança.
[Opinião Consultiva nº 17/02].
4. O acusado absolvido por sentença pas-
sada em julgado não poderá ser submeti-
do a novo processo pelos mesmos fatos. Aprofundando: No que consiste a prática dos
“JUÍZES SEM ROSTO”? O termo foi utilizado
Comentários: O dispositivo consagra o princípio para justificar a existência de juízes que, a fim de
do ne bis in idem, que se constitui como regra de combater o crime organizado/terrorismo, não ti-
segurança jurídica para aquelas pessoas absolvi- nham seus nomes ou Tribunais revelados para
das pela jurisdição penal. a defesa. A Corte IDH apreciou essa prática no
Caso Castillo Petruzzi e Outros vs. Peru (Senten-
ça 30.05.1999), proibindo o sigilo em relação à
Jurisprudência: A Corte IDH possui diversos jul- identidade dos juízes sem rosto, pois violava a
gados nos quais desenvolve o conceito de “coisa publicidade do processo.
julgada aparente” ou “coisa julgada fraudu-
lenta”, relativizando o princípio do ne bis in idem Artigo 9. Princípio da legalidade e da re-
para os casos em que surgirem novos fatos ou
provas que possam permitir a determinação dos troatividade
responsáveis por graves violações de direitos hu-
manos, possibilitando a reabertura de investi- Ninguém pode ser condenado por ações
gações, inclusive se houver sentença absolutória ou omissões que, no momento em que forem

19
#LEGIS

cometidas, não sejam delituosas, de acordo o que ficar preso além do tempo fixado na sen-
com o direito aplicável. Tampouco se pode im- tença”.
por pena mais grave que a aplicável no momen-
to da perpetração do delito. Se depois da per- Artigo 11. Proteção da honra e da dignida-
petração do delito a lei dispuser a imposição de
de pena mais leve, o delinqüente será por isso
beneficiado. 1. Toda pessoa tem direito ao respeito de
sua honra e ao reconhecimento de sua
Comentários: O dispositivo engloba a legalidade dignidade.
em três sentidos: anterioridade da norma, irre-
troatividade da lei mais grave e retroatividade Comentários: Por honra, deve-se compreender
da lei mais benéfica. o conjunto de atributos morais e a reputação
que tem determinada pessoa frente aos de-
mais membros da sociedade, motivo pelo qual
Jurisprudência: Além da anterioridade da tipifi- é conhecida também como direito à integridade
cação da conduta, o princípio da legalidade en- moral. Possui proteção constitucional no art. 5º,
globa a taxatividade da norma penal, visto que X da CF/88. Por seu turno, dignidade represen-
a ambiguidade na formulação dos tipos penais ta todo atributo não alcançável por quaisquer
fera dúvidas e abre caminhos para o arbítrio atos seus ou de terceiros, sem os quais não
[Caso De La Cruz Flores vs. Peru. Sentença pode a pessoa plenamente se desenvolver en-
18.11.2004]. quanto ser humano sujeito de direitos.
A Corte IDH concluiu que a aplicação de uma
norma processual ou procedimental que en- Jurisprudência: “O art. 11 da Convenção esta-
tre em vigor após o cometimento do crime não belece, de fato, que toda pessoa tem o direito
viola o princípio da legalidade no sentido de de proteção da sua honra e reconhecimento da
anterioridade, a menos que tais normas tenham sua dignidade. O Tribunal indicou que o direito
impacto na tipificação de ações ou omissões que à honra “reconhece que toda pessoa tem direito
no momento da consumação não eram delituo- ao respeito desta, proíbe qualquer ataque ilegal
sas segundo o direito aplicável ou na imposição contra a honra ou a reputação e impõe aos Esta-
de pena mais grave que a existente no momento dos o dever de fornecer a proteção da lei contra
da prática do ato delituoso [Caso Caso Liakat Ali tais ataques. Em termos gerais, este Tribunal in-
Alibux vs. Suriname]. dicou que o direito à honra está relacionado à
O princípio da anterioridade também se aplica estima e ao valor, enquanto a reputação se re-
à seara administrativa, caso a norma tenha ca- fere à opinião de que outros têm de uma pes-
ráter sancionatório. soa”.
[Caso Baena Ricardo e Outros vs. Panamá. Sen- [Caso Lagos del Campo vs. Peru. Sentença de 31-
tença 02.02.2001]. 8-2017].

Artigo 10. Direito a indenização 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências


arbitrárias ou abusivas em sua vida pri-
Toda pessoa tem direito de ser indenizada vada, na de sua família, em seu domicílio
conforme a lei, no caso de haver sido condenada ou em sua correspondência, nem de ofen-
em sentença passada em julgado, por erro judi- sas ilegais à sua honra ou reputação.
ciário.
Comentários: O impedimento de ingerências ar-
Comentários: As reparações decorrentes do erro bitrárias ou abusivas está ligada ao direito à in-
judiciário devem ser completas, incluindo medi- timidade, mantendo resguardado do público a
das de restituição, compensação, reabilitação, esfera pessoal e íntima do ser humano.
satisfação e garantias de não repetição. A CF/88
prevê o direito à indenização por erro judiciário Jurisprudência: “90. Com relação ao direito à
no art. 5º, LXXV, prevendo que o “Estado indeni- identidade, a Corte salientou que pode ser con-
zará o condenado por erro judiciário, assim como ceituado, em geral, como o conjunto de atributos
e características que permitem a individualiza-

20
#LEGIS

ção da pessoa em sociedade e que, nesse senti- nero como cada pessoa sente, que pode ou não
do, compreende vários direitos, segundo o sujei- corresponder ao sexo atribuído no momento
to de direitos de que se trate e as circunstâncias do nascimento.
do caso.
(...)
(...)
Nessa linha, para o Tribunal, o reconhecimento
Embora a Convenção Americana não se refira, da identidade de gênero está necessariamente
de maneira específica, ao direito à identidade ligado à ideia de acor- do com a qual sexo e gê-
com esse nome expressamente, inclui, no entan- nero devem ser percebidos como parte de uma
to, outros direitos que o compõem. construção identitária que resulta da decisão li-
vre e autônoma de cada pessoa, sem sujeição à
(...) sua genitalidade.

O Tribunal ressaltou que o direito à identidade (...)


se encontra estreitamente relacionado à dig-
nidade humana, ao direito à vida privada e ao 98. Assim, esta Corte entende que a identidade
princípio da autonomia da pessoa (arts. 7 e 11 de gênero é um elemento constitutivo e cons-
da Convenção Americana). tituinte da identidade das pessoas, em con-
sequência, seu reconhecimento por parte do
91. Da mesma forma, pode-se entender que este Estado resulta de vital importância para ga-
direito está intimamente ligado à pessoa em sua rantir o pleno gozo dos direitos humanos das
individualidade específica e vida privada, ambos pessoas transgenêras
sustentados em uma experiência histórica e bio-
lógica, bem como na forma como se relaciona (...).
com os outros, através do desenvolvimento de
laços familiares e sociais. Isso também implica [Opinião Consultiva 24/2017, de 24-11-2017]
que as pessoas podem experimentar a necessi-
dade de ser reconhecidas como entes diferencia-
3. Toda pessoa tem direito à proteção da
dos e diferenciáveis dos demais.
lei contra tais ingerências ou tais ofensas.
Para alcançar esse objetivo, é essencial que o
Estado e a sociedade respeitem e garantam a Para Fixação:
individualidade de cada uma delas, bem como
o direito de ser tratado em conformidade com os Ano: 2019 Banca: FUNDEP (Gestão de Concur-
aspectos essenciais de sua personalidade, sem sos) Órgão: DPE-MG Prova: FUNDEP (Gestão de
outras limitações além daquelas que os direitos Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público
de outras pessoas impõem.
Analise as afirmativas a seguir e a relação pro-
É por isso que a consolidação da individualidade posta entre elas.
da pessoa perante o Estado e perante a
sociedade é traduzida pela sua faculdade I. Pessoas de elevada capacidade econômica
legítima de estabelecer a externalização do podem ser defendidas criminalmente pela De-
seu modo de ser, de acordo com suas mais ínti- fensoria Pública. Nessa hipótese, há entendi-
mas convicções. mento de que deve haver o pagamento de ho-
norários à Instituição.
Do mesmo modo, um dos componentes essen-
ciais de qualquer plano de vida e da individuali- UMA VEZ QUE
zação das pessoas é justamente a identidade de
gênero e sexual. II. O Pacto de São José da Costa Rica estipula
a qualquer acusado de crime o direito a ser as-
(...) sistido por um defensor proporcionado pelo
Estado.
94. Neste ponto, deve ser lembrado que a iden-
tidade de gênero foi definida nesta opinião A respeito dessas afirmativas, assinale a alter-
como a experiência interna e individual do gê- nativa correta.

21
#LEGIS

a) As afirmativas I e II são verdadeiras, e a II é uma a) O processo penal deve ser privado, de modo a
justificativa da I. preservar os interesses da justiça e da sociedade
b) As afirmativas I e II são verdadeiras, mas a II b) O direito do acusado de ser assistido gratuita-
não é uma justificativa da I. mente por um tradutor ou intérprete, caso não
compreenda ou não fale a língua do juízo ou tri-
c) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. bunal
d) A afirmativa I é falsa, e a II é verdadeira. c) A comunicação prévia e pormenorizada ao
acusado da acusação formulada deve ser obri-
gatoriamente bilíngue (inglês e língua oficial do
Ano: 2019 Banca: FCC Órgão: DPE-SP Prova: FCC - pais, no qual aconteceu o delito)
2019 - DPE-SP - Defensor Público
d) A concessão ao acusado do tempo e dos meios
necessários à preparação de sua defesa será de
Com relação às garantias penais e processuais
30 (trinta) dias corridos, a contar da publicação
penais no âmbito do Sistema Interamericano
em órgão oficial
de Direitos Humanos, é correto afirmar:
e) Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com
a) O direito de recorrer de sentença criminal a juiz as devidas garantias e dentro do prazo máximo
ou tribunal superior tem como exceção os casos de 7 (sete) dias, por um juiz ou Tribunal compe-
de competência originária da Suprema Corte de tente, independente e imparcial, estabelecido
um Estado, pela impossibilidade prática ineren- anteriormente por lei, na apuração de qualquer
te. acusação penal formulada contra ela, ou na de-
terminação de seus direitos e obrigações de ca-
b) Toda prisão, salvo aquela decorrente de or-
ráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra
dem judicial prévia, enseja o direito da pessoa
natureza
a ela submetida a ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade autori-
zada por lei a exercer funções judiciais.
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: PC-
c) De acordo com o texto da Convenção Ameri- -PA Prova: FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de
cana de Direitos Humanos, toda pessoa acusada Policia Civil - Reaplicação
de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência até o trânsito em julgado da sentença Sobre as garantias penais e processuais pre-
penal condenatória. vistas na Convenção Americana sobre Direitos
d) O direito à proteção judicial previsto na Con- Humanos, é correto afirmar que:
venção Americana de Direitos Humanos engloba
a proteção contra violação de direitos previstos a) a duração razoável do processo, no que con-
na Constituição e na lei, além da própria Conven- cerne à pessoa privada de sua liberdade, não en-
ção. contra referência explícita na Convenção, ao con-
trário da necessária e imediata apresentação da
e) O Estado ocupa a posição de garantidor dos di- pessoa a um juiz, expressamente mencionada.
reitos humanos de todas as pessoas privadas de
liberdade, salvo daquelas em prisão administra- b) a Comissão Interamericana de Direitos Huma-
tiva decorrente de serviço militar. nos (CIDH), analisando o art. 13 do Pacto de São
José da Costa Rica, entendeu que a incriminação
do desacato não é compatível com o texto da
Convenção.
Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: SEAP-
-MG Prova: IBFC - 2018 - SEAP-MG - Agente de c) determina a Convenção que todo processo
Segurança Penitenciário penal deve ser público, sendo vedada qualquer
espécie de sigilo, a fim de que a sociedade possa
Assinale a alternativa correta. Segundo a CON- fiscalizar a correta aplicação das garantias pro-
VENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS cessuais.
(1969), toda pessoa acusada de um delito tem
d) o Pacto de São José da Costa Rica estabelece
direito durante o processo às seguintes garan-
a presunção de inocência enquanto não provada
tias mínimas:
legalmente a culpa da pessoa, repudiando ex-

22
#LEGIS

pressamente a execução da pena após sentença


condenatória em segunda instância.
e) a teoria concepcionista, que, em linhas gerais
estabelece a proteção à vida desde o momento
da concepção, encontra respaldo no art. 4. da
Convenção e determina de forma inquestioná-
vel o momento em que surge a vida intrauterina
e, consequentemente, a interpretação sobre a
abrangência do abortamento criminoso.

Anotações gerais:

Gabarito: 01 – A | 02 – D | 03 – B | 04 – B

23
#LEGIS

DIA 4 de caráter religioso, mas a manter ou modificar


qualquer tipo de crença. O art. 12 veicula, por-
tanto, um dever de proteção à liberdade religiosa
Disciplina: Direitos Humanos. (inclusive a de não ter crença), inclusive através
da obrigação negativa do Estado em interferir ou,
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
de qualquer modo, privilegiar um credo em detri-
Teles. mento de outros.
Dia 04: Do Art. 12ª ao 16º.

Aprofundando: A liberdade religiosa está con-


Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3
sagrada como direito inerente à pessoa humana
em todos os instrumentos internacionais de pro-
teção aos direitos humanos. O art. XVIII da Decla-
Artigo 12. Liberdade de consciência e de ração Universal afirma que toda pessoa tem di-
reito à liberdade de religião. Delimita ainda que
religião
tal direito inclui a liberdade de mudar de religião
ou crença e a liberdade manifestar essa religião
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e
consciência e de religião. Esse direito im- pela observância, isolada ou coletivamente, em
plica a liberdade de conservar sua reli- público ou em particular. A redação do art. XVIII
gião ou suas crenças, ou de mudar de reli- influenciou a redação do art. 12 da Convenção
gião ou de crenças, bem como a liberdade Americana, em que a liberdade religiosa encon-
de professar e divulgar sua religião ou tra-se plenamente amparada.
suas crenças, individual ou coletivamente,
tanto em público como em privado. No plano interno, a liberdade religiosa está am-
parada no art. 5º. incisos VI, VII e VIII, que dis-
2. Ninguém pode ser objeto de medidas põem: “é inviolável a liberdade de consciência e
restritivas que possam limitar sua liber- de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
dade de conservar sua religião ou suas cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
crenças, ou de mudar de religião ou de proteção aos locais de culto e a suas liturgias; é
crenças. assegurada, nos termos da lei, a prestação de as-
sistência religiosa nas entidades civis e militares
3. A liberdade de manifestar a própria reli- de internação coletiva;  ninguém será privado de
gião e as próprias crenças está sujeita uni- direitos por motivo de crença religiosa ou de con-
camente às limitações prescritas pela lei vicção filosófica ou política, salvo se as invocar
e que sejam necessárias para proteger a para eximir-se de obrigação legal a todos impos-
segurança, a ordem, a saúde ou a moral ta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
públicas ou os direitos ou liberdades das fixada em lei;”.
demais pessoas.
Jurisprudência: “É constitucional a lei de pro-
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, teção animal que, a fim de resguardar a liber-
têm direito a que seus filhos ou pupilos re- dade religiosa, permite o sacrifício ritual de
cebam a educação religiosa e moral que animais em cultos de religiões de matriz afri-
esteja acorde com suas próprias convic- cana”
ções. [STF. RE 494.601/RS, julgamento em 28-03-2019]

Comentários: Essa regra exige abstenção estatal


de interferir de qualquer modo na adoção, manu- “Incitação à discriminação religiosa e liberdade
tenção ou mudança de convicções pessoais reli- de expressão. A incitação ao ódio público con-
giosas ou de outra natureza. O Estado não deve tra quaisquer denominações religiosas e seus
utilizar seu poder para proteger a consciência de seguidores não está protegida pela cláusula
certos cidadãos. constitucional que assegura a liberdade de ex-
pressão.
Com base nessa orientação, a Segunda Turma,
A Convenção não apenas estabelece o direito dos por maioria, negou provimento a recurso ordi-
indivíduos a manter ou modificar suas crenças nário em habeas corpus, no qual se postulava a

24
#LEGIS

anulação ou o trancamento de ação penal que e aparelhos usados na difusão de informa-


condenou o recorrente pela prática do crime de ção, nem por quaisquer outros meios des-
racismo em decorrência de incitação à discrimi- tinados a obstar a comunicação e a circula-
nação religiosa, na forma do art. 20, § 2º, da Lei ção de idéias e opiniões.
7.716/1989 (1).
4. A lei pode submeter os espetáculos pú-
A Turma considerou que o exercício da liberdade blicos a censura prévia, com o objetivo
religiosa e de expressão não é absoluto, pois deve exclusivo de regular o acesso a eles, para
respeitar restrições previstas na própria Cons- proteção moral da infância e da adoles-
tituição. Nessa medida, os postulados da igual- cência, sem prejuízo do disposto no inciso
dade e da dignidade pessoal dos seres humanos 2.
constituem limitações externas à liberdade de
expressão, que não pode e não deve ser exercida 5. A lei deve proibir toda propaganda a
com o propósito subalterno de veicular práticas favor da guerra, bem como toda apologia
criminosas tendentes a fomentar e a estimular si- ao ódio nacional, racial ou religioso que
tuações de intolerância e de ódio público. constitua incitação à discriminação, à
hostilidade, ao crime ou à violência.
Outrossim, compete ao Estado exercer o papel
de pacificador da sociedade, para, assim, evi-
tar uma guerra entre religiões, como acontece Comentários: A proteção ao exercício do di-
em outras regiões do mundo. reito à liberdade de pensamento e expressão
[STF. RHC – 146303/RJ, julgamento em 06-03- não admite CENSURA PRÉVIA, estando sujeita
2018] apenas à responsabilização posterior dos res-
ponsáveis pela divulgação que eventualmente
contenha conteúdo ofensivo. As únicas exce-
Artigo 13. Liberdade de pensamento e de ções à essa regra são a classificação etária de
expressão acesso a espetáculos (proteção da infância e
adolescência) e a difusão de propaganda de
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de guerra, ódio nacional, racial ou religioso que
pensamento e de expressão. Esse direito estimule a discriminação, hostilidade, crime
compreende a liberdade de buscar, receber ou violência.
e difundir informações e ideias de toda
natureza, sem consideração de fronteiras, Para que a restrição à liberdade de expressão seja
verbalmente ou por escrito, ou em forma legítima, a CIDH, interpretando o art. 13, inciso 2,
impressa ou artística, ou por qualquer ou- da Convenção Americana, entende que três con-
tro processo de sua escolha. dições básicas devem estar presentes:

2. O exercício do direito previsto no inci- (1) a restrição deve, obrigatoriamente, es-


so precedente não pode estar sujeito a tar taxativamente definida em lei formal e
censura prévia, mas a responsabilidades material de forma clara e prévia;
ulteriores, que devem ser expressamente (2) a limitação deve basear-se nos objetivos
fixadas pela lei e ser necessárias para asse- definidos pela CADH;
gurar:
(3) a restrição deve ser necessária em uma
a) O respeito aos direitos ou à reputação sociedade democrática para que esta reali-
das demais pessoas; ou ze os seus fins.

b) A proteção da segurança nacional, da or- Todas as condições devem ser simultaneamente


dem pública, ou da saúde ou da moral pú- cumpridas e demonstradas para que haja legi-
blicas. timidade da restrição ao discurso, estabelecida
por meio de responsabilidade ulterior e propor-
3. Não se pode restringir o direito de ex- cional. Normas restritivas de caráter vago ou am-
pressão por vias ou meios indiretos, tais bíguo são incompatíveis com a CADH.
como o abuso de controles oficiais ou par-
ticulares de papel de imprensa, de freqü- ATENÇÃO! A redação literal do dispositivo não in-
ências radioelétricas ou de equipamentos clui apologia ao ódio de gênero ou LGBTQ+. Ainda

25
#LEGIS

não há precedentes da Corte ou da Comissão que comunicar a outras os seus pontos de vista, mas
estendam a restrição à liberdade de expressão à implica também o direito de todas a conhecer
apologia ao ódio por questões de gênero e orien- opiniões, relatos e notícias. Para o cidadão
tação sexual, a despeito do instrumento norma- comum tem tanta importância o conhecimen-
tivo interamericano (Convenção Interamericana to da opinião alheia ou da informação de que
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra dispõem os outros como o direito a difundir a
a Mulher) e da opinião consultiva (OC-24/17 de própria.
24 de novembro de 2017) que tratam respectiva-
mente da proteção à mulher em situação de vio- 67. A Corte considera que ambas as dimensões
lência, e da identidade de gênero, direito à igual- possuem igual importância e devem ser garan-
dade e não discriminação das pessoas LGBTQ+. tidas de forma simultânea para dar efetivida-
de total ao direito à liberdade de pensamento
Por outro lado, o STF, no julgamento da ADO 26/ e de expressão nos termos previstos no artigo
DF entendeu que “(...) É assegurado o direito de 13 da Convenção.
pregar e de divulgar, livremente, pela palavra,
pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu 68. A liberdade de expressão, como pedra angu-
pensamento e de externar suas convicções de lar de uma sociedade democrática, é uma condi-
acordo com o que se contiver em seus livros e có- ção essencial para que esta esteja suficientemen-
digos sagrados, bem assim o de ensinar segundo te informada. (...) Este Tribunal considera que a
sua orientação doutrinária e/ou teológica, po- proibição da exibição do filme “A Última Tenta-
dendo buscar e conquistar prosélitos e praticar ção de Cristo” constituiu, portanto, uma censura
os atos de culto e respectiva liturgia, indepen- prévia imposta em violação ao artigo 13 da Con-
dentemente do espaço, público ou privado, de venção. (Caso “A Última Tentação de Cristo” (Ol-
sua atuação individual ou coletiva, desde que medo Bustos e outros) Vs. Chile Sentença de 5 de
tais manifestações não configurem discurso fevereiro de 2001)
de ódio, assim entendidas aquelas exterioriza-
ções que incitem a discriminação, a hostilida-
de ou a violência contra pessoas em razão de Atenção! Situação semelhante ocorreu recen-
sua orientação sexual ou de sua identidade de temente no Brasil, em que um juiz de primeira
gênero. instância determinou em sede de liminar a re-
tirada de exibição do Especial de Natal Porta
dos Fundos 2019. Não obstante, a decisão foi
Jurisprudência: A Corte IDH entendeu, no Caso revista em sede de juízo monocrático do Minis-
emblemático ‘A Última Tentação de Cristo vs Chi- tro Dias Toffoli do STF.
le’, que “O conteúdo do direito à liberdade de
pensamento e de expressão, tem uma dimen-
são individual e uma dimensão social (...) 65. Artigo 14. Direito de retificação ou respos-
Sobre a primeira dimensão, a liberdade de ex- ta
pressão individual não se esgota no reconhe-
cimento teórico do direito a falar ou escrever, 1. Toda pessoa atingida por informações
mas compreende, além disso, inseparavel- inexatas ou ofensivas emitidas em seu
mente, o direito a utilizar qualquer meio apro- prejuízo por meios de difusão legalmente
priado para difundir o pensamento e fazê-lo regulamentados e que se dirijam ao públi-
chegar ao maior número de destinatários. co em geral, tem direito a fazer, pelo mes-
mo órgão de difusão, sua retificação ou
Nesse sentido, a expressão e a difusão do pensa- resposta, nas condições que estabeleça a
mento e da informação são indivisíveis, de modo lei.
que uma restrição das possibilidades de di- 2. Em nenhum caso a retificação ou a res-
vulgação representa, diretamente, e na mesma posta eximirão das outras responsabili-
medida, um limite ao direito de se expressar dades legais em que se houver incorrido.
livremente.
3. Para a efetiva proteção da honra e da re-
66. Com respeito à dimensão social do direito putação, toda publicação ou empresa jor-
consagrado no artigo 13 da Convenção, é mis- nalística, cinematográfica, de rádio ou
ter indicar que a liberdade de expressão é um televisão, deve ter uma pessoa respon-
meio para o intercâmbio de ideias e informa-
ções entre as pessoas; compreende seu direito a

26
#LEGIS

sável que não seja protegida por imuni- É reconhecido o direito de reunião pacífica e
dades nem goze de foro especial. sem armas. O exercício de tal direito só pode es-
tar sujeito às restrições previstas pela lei e que
sejam necessárias, numa sociedade democráti-
Comentários: O direito consagrado no art. 14 é
ca, no interesse da segurança nacional, da segu-
uma consequência da proteção à liberdade de
rança ou da ordem públicas, ou para proteger
expressão, tendo em vista que ao se assegurar
a saúde ou a moral públicas ou os direitos e li-
o exercício amplo da liberdade de expressão,
berdades das demais pessoas.
sem prévio controle de conteúdo como regra,
uma série de violações podem acabar sendo
Comentários: O direito a se manifestar publi-
perpetradas à imagem e honra de pessoas e
camente é um elemento essencial da liberda-
grupos. Assim, na senda da responsabilização
de de expressão. O direito de reunião pacífica
ulterior (mencionada no item 13.2) e sem pre-
é assegurado de forma ampla na CADH, sendo
juízo dela, é assegurado pelo art. 14 da CADH
necessário lei em sentido formal para previsão
os direitos à retificação e/ou resposta aos con-
clara das hipóteses de restrição, que somente se
teúdos veiculados em face da pessoa ou grupo.
justificam quando amparadas objetivamente em
questões de segurança nacional, manutenção da
O artigo 14 veicula 02 categorias de direito:
ordem e segurança pública, proteção da saúde e
da moral coletiva ou no resguardo aos direitos e
1. Direito à retificação: refere-se especifica-
liberdade de terceiros.
mente às informações inverídicas ou menti-
rosas veiculadas contra determinada pessoa
O direito de reunião possui previsão similar no
ou grupo. É o caso das famosas “fake news”. O
art. 5º, inc. XVI da Constituição da República bra-
veículo que difundiu a informação mentirosa
sileira, que já estabelece algumas condicionan-
deve ser obrigado à veicular a sua retificação.
tes ao exercício:
2. Direito à resposta: refere-se às infor-
1. Prévio aviso à autoridade competente (não é
mações ofensivas à honra de determinada
necessário autorização);
pessoa ou grupo que venham a ser difundidas
por meios de comunicação e que demandem
2. Não frustrar outra reunião já anteriormente
um posicionamento da vítima da divulgação
convocada para o mesmo local.
injuriosa.

Jurisprudência: Ainda não há precedentes espe-


Atenção! Na Opinião Consultiva nº. 07/86 a
cíficos da Corte IDH acerca da extensão e legiti-
Corte IDH entendeu que:
midade dos limites impostos pelos países signa-
tários ao exercício do direito de reunião. Algumas
A. Que o artigo 14.1 da Convenção reconhece um
análises tangenciais foram feitas, como no caso
direito de retificação ou resposta internacio-
Escher vs Brasil, contudo a Corte deteve-se mais
nalmente exigível que, em conformidade com o
na violação ao artigo 16, que será analisado a se-
artigo 1.1, os Estados Partes têm a obrigação de
guir.
respeitar e garantir seu livre e pleno exercício
a toda pessoa que esteja sujeita a sua jurisdi- Não obstante, a CIDH já se manifestou sobre o
ção. tema no Capítulo V do Informe anual de 2005,
nos seguintes termos:
B. Que quando o direito consagrado no artigo A Relatoria considera que para que as limita-
14.1 não possa se fazer efetivo no ordenamen- ções respeitem os estandartes de proteção da
to jurídico interno de um Estado Parte, esse Es- libertade de expressão e de de reunião, não
tado tem a obrigação, em virtude do artigo 2 da devem depender do conteúdo do que se vai ex-
Convenção, de adotar, com esteio em seus pro- pressar através da manifestação, devem servir a
cedimentos constitucionais e nas disposições um interesse público e deixar outras vias alterna-
da própria Convenção, as medidas legislativas tivas de comunicação.
ou de outro caráter que forem necessárias.
A Relatoria assinala que a exigência de uma
Artigo 15. Direito de reunião notificação prévia à manifestação não vulnera
nem o direito à liberdade de expressão, nem o
direito à liberdade de reunião. Contudo, a exi-

27
#LEGIS

gência de uma notificação prévia não deve se A liberdade de associação difere da liberdade
transformar na exigência de uma permissão de reunião pela natureza mais duradoura do
préviaa ser outorgada por um agente com fa- vínculo entre as pessoas que compõem o es-
culdades ilimitadamente discricionárias. As li- paço de manifestação. A liberdade de reunião
mitações às manifestações públicas só podem pressupõe uma conjunção passageira e episó-
ter por objeto evitar ameaças sérias e iminen- dica de indivíduos enquanto a liberdade de as-
tes, não bastando um perigo eventual. sociação pressupõe um vínculo mais duradou-
ro com uma finalidade comum de propósito.
A Relatoria considera que os agentes de segu-
rança podem impor limitações razoáveis aos
manifestantes para assegurar que sejam pací- O item 15.3, que expressamente admite a pos-
ficos o para conter os que são violentos, assim sibilidade de restrição do direito à liberdade
como dispersar manifestações que se torna- de manifestação em relação aos integrantes
ram violentas ou obstrutivas. Não obstante, o das forças de segurança pública e nacional dia-
acionamento das forças de segurança não deve loga com a previsão do art. 5º, XVII, que traz a
ser manejado para desincentivar o exercício vedação de associações de caráter paramilitar.
do direito de reunião, mas sim para proteger-
lo, por isso também a desconcentração de uma A liberdade de associação comporta tanto a livre
manifestação deve estar sempre justificada no associação quanto a livre desassociação. Não
dever de proteção das pessoas. A operação de sendo admitida a permanência compulsória em
segurança desvinculada empregada nesses associação.
contextos deve contemplar as medidas de dis-
persão mais seguras e rápidas e menos lesivas
para os manifestantes. Jurisprudência: “A liberdade de associação,
prevista no artigo 16, pressupõe o direito de
reunião e se caracteriza por habilitar as pes-
Artigo 16. Liberdade de associação soas para criar ou participar de entidades ou
organizações com o objetivo de atuar coletiva-
1. Todas as pessoas têm o direito de asso- mente na consecução dos mais diversos fins,
ciar-se livremente com fins ideológicos, sempre e quando estes sejam legítimos.
religiosos, políticos, econômicos, trabalhis-
tas, sociais, culturais, desportivos ou de Diferentemente da liberdade de associação, o di-
qualquer outra natureza. reito de reunião não implica necessariamente
a criação de ou participação em entidade ou
organização, mas pode manifestar-se em uma
2. O exercício de tal direito só pode estar união esporádica ou congregação para perse-
sujeito às restrições previstas pela lei que guir os mais diversos fins, desde que estes sejam
sejam necessárias, numa sociedade de- pacíficos e conformes à Convenção.
mocrática, no interesse da segurança na-
cional, da segurança ou da ordem públi- O artigo 16.1 da Convenção Americana estabe-
cas, ou para proteger a saúde ou a moral lece que aqueles que estão sob a jurisdição dos
públicas ou os direitos e liberdades das Estados Partes têm o direito de associar-se li-
demais pessoas. vremente com outras pessoas, sem interven-
ção das autoridades públicas que limitem ou
3. O disposto neste artigo não impede a maculem o exercício do referido direito.
imposição de restrições legais, e mesmo a
privação do exercício do direito de asso- Trata-se, pois, do direito a agrupar-se com a fi-
ciação, aos membros das forças armadas nalidade de buscar a realização comum de um
e da polícia. fim lícito, sem pressões ou intromissões que pos-
sam alterar ou desvirtuar tal finalidade. Além das
obrigações negativas mencionadas, da liberdade
Comentários: O direito à livre associação pre- de associação também derivam obrigações po-
visto na CADH não possui nenhuma limitação sitivas de prevenir os atentados contra a mes-
finalística, consoante se depreende da leitu- ma, proteger a quem a exerce e investigar as
ra do art. 16.1. Não obstante, são admitidas as violações a essa liberdade.
mesmas hipóteses justificadoras da limitação ao
exercício desse direito previstas no art. 15.1.

28
#LEGIS

Essas obrigações positivas devem ser adotadas Para Fixação: Ano: 2016 Banca: FEPE-
inclusive na esfera de relações entre particulares, SE Órgão: SJC-SC Cargo: Agente de Segurança
se o caso assim o requeira. Socioeducativo

No presente caso, segundo a Comissão e os re- Para a proteção dos direitos humanos, o ins-
presentantes, a alegada violação à liberdade de trumento de maior importância no sistema
associação estaria vinculada ao trabalho de pro- interamericano é a Convenção Americana de
moção e defesa dos direitos humanos no que se Direitos Humanos assinada em 1969, também
refere aos trabalhadores rurais. denominada de Pacto de San José da Costa
Rica. No âmbito dos direitos protegidos na
Em consequência, o Tribunal considera provado Convenção Americana de Direitos Humanos,
que o monitoramento das comunicações tele- é correto afirmar:
fônicas das associações sem que fossem ob-
servados os requisitos da Lei, com fins decla- a) No que se refere ao direito de liberdade pes-
rados que não se sustentam nos fatos nem na soal, a Convenção Americana de Direitos Huma-
conduta posterior das autoridades policiais e nos autoriza a prisão civil por dívida, seja qual for
judiciais, e sua posterior divulgação causaram a natureza do inadimplemento.
temor, conflitos e afetações à imagem e à cre-
dibilidade das entidades. b) Toda pessoa tem direito à liberdade de pen-
samento e de expressão. Esse direito não com-
De tal maneira, alteraram o livre e normal exer- preende a liberdade de buscar, receber e difundir
cício do direito de associação dos membros já informações e ideias de natureza política.
mencionados da COANA e da ADECON, implican- c) Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a
do uma interferência contrária à Convenção penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradan-
Americana. Com base no anterior, o Estado vio- tes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser
lou em prejuízo dos senhores Arlei José Escher, tratada com o respeito devido à dignidade ine-
Dalton Luciano de Vargas, Delfino José Becker, rente ao ser humano.
Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni, o direito à
liberdade de associação reconhecido no artigo d) A lei não deve proibir propaganda a favor da
16 da Convenção Americana, em relação com o guerra, bem como apologia ao ódio nacional, ra-
artigo 1.1 do referido tratado” cial ou religioso, para que não haja a limitação do
[Corte IDH. Caso Escher e Outros vs. Brasil. Méri- direito de liberdade de expressão.
to, reparações e custas. Sentença de 20-11-2009]
e) Toda pessoa tem o direito de que se respeite
“A execução de um líder sindical, num contexto sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei
como o do presente caso, não restringe apenas e, em geral, desde o momento da concepção. Nin-
a liberdade de associação de um indivíduo, mas guém pode ser privado da vida arbitrariamente,
também o direito e a liberdade de um determi- razão pela qual os Estados-Partes não deverão,
nado grupo de associar-se livremente, sem medo em hipótese alguma, admitir a pena de morte,
ou temor. Daí resulta que o direito protegido pelo por violar os direitos previstos na Convenção.
art. 16 tem um alcance e um caráter especial. As
duas dimensões da liberdade de associação são
assim manifestadas”. Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia
[Corte IDH. Caso Huilca Tecse vs. Peru. Mérito, re- De acordo com a referida convenção, toda pes-
parações e custas. Sentença de 3-3-2005.] soa tem direito à liberdade de pensamento e
de expressão, porém está sujeita à responsa-
bilidade ulterior e à censura prévia
Anotações sobre os artigos anteriores:
( )Certo ( )Errado

Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: PC-RN - Dele-


gado de Polícia

29
#LEGIS

De acordo com a Convenção Americana sobre


Direitos Humanos, assinale a opção incorreta:

a) Os processados devem ficar separados dos


condenados, salvo em circunstâncias excepcio-
nais, e submetem-se a tratamento adequado à
sua condição de pessoas não-condenadas.
b) Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzi-
da, sem demora, à presença de um juiz ou de ou-
tra autoridade autorizada pela lei a exercer fun-
ções judiciais e tem direito a ser julgada dentro
de prazo razoável ou a ser posta em liberdade,
sem prejuízo de que prossiga o processo. A sua
liberdade pode ser condicionada a garantias que
asseverem o seu comparecimento em juízo.
c) A liberdade de manifestar a própria religião e
as próprias crenças está sujeita tão-somente às
limitações prescritas pela lei, e que sejam neces-
sárias para proteger a segurança, a ordem, a saú-
de ou a moral públicas ou os direitos ou as liber-
dades das demais pessoas.
d) Toda pessoa atingida por informações inexa-
tas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por
meios de difusão legalmente regulamentados e
que se dirijam ao público em geral tem direito a
fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retifica-
ção ou sua resposta, nas condições estabelecidas
pela lei.
e) Constituem trabalhos forçados os trabalhos ou
os serviços normalmente exigidos de pessoa re-
clusa para cumprimento de sentença.

Anotações:

Gabarito: 01 – C | 02 - ERRADO | 03 - E

30
#LEGIS

DIA 5 da união contínua, pública e duradoura entre


pessoas do mesmo sexo como família.
Reconhecimento que é de ser feito segundo as
Disciplina: Direitos Humanos. mesmas regras e com as mesmas consequên-
cias da união estável heteroafetiva.
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
[STF. ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, P, j. 5-5-
Teles 2011, DJE de 14-10-2011]
Dia 05: Do Art. 17 ao 21.
2. É reconhecido o direito do homem e da
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 mulher de contraírem casamento e de
fundarem uma família, se tiverem a ida-
de e as condições para isso exigidas pelas
leis internas, na medida em que não afe-
Artigo 17. Proteção da família tem estas o princípio da não-discrimina-
ção estabelecido nesta Convenção.
1. A família é o elemento natural e funda-
mental da sociedade e deve ser protegida
pela sociedade e pelo Estado. Comentários: No Brasil, a idade núbil é de 16
anos, mas a lei impõe a autorização de ambos os
pais (art. 1.517 CC/02) até o nubente completar
Jurisprudência: Os arts. 11.2 e 17 da Convenção 18 anos. A Lei nº 13.811/19 vedou o casamento
não protegem um modelo específico de família para menores de 16 anos.
e nenhum dos dispositivos pode ser interpretado
de maneira a excluir um grupo de pessoas dos di-
reitos ali reconhecidos. O Tribunal tem o enten- 3. O casamento não pode ser celebrado
dimento no sentido de que a falta de consenso sem o livre e pleno consentimento dos
interno no país sobre os direitos das minorias se- contraentes.
xuais não pode ser argumento válido para negar
ou restringir seus direitos humanos ou para per- Comentários: Mesmo no caso de a legislação
petuar e reproduzir a discriminação histórica exigir a autorização dos pais, como no caso de
e estrutural que essas minorias têm sofrido. O pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos, no
argumento de que a finalidade do matrimônio é Brasil, é indispensável que os nubentes mani-
a procriação é incompatível com o propósito do festem seu interesse no casamento, consagran-
art. 17 da Convenção, a saber, a proteção da fa- do-se no presente dispositivo o princípio da li-
mília como realidade social. Do mesmo modo, a berdade do matrimônio.
Corte considera que a procriação não é uma ca-
racterística que defina as relações conjugais,
uma vez que afirmar o contrário seria degradante 4. Os Estados Partes devem tomar medi-
para os casais – casados ou não – que, por qual- das apropriadas no sentido de assegurar a
quer motivo, careçam da capacidade generandi igualdade de direitos e a adequada equi-
ou de interesse em procriar. valência de responsabilidades dos cônju-
[Corte IDH. Opinião Consultiva nº 24/2017, de 24- ges quanto ao casamento, durante o casa-
11-2017]. mento e em caso de dissolução do mesmo.
Em caso de dissolução, serão adotadas
A Constituição não interdita a formação de fa- disposições que assegurem a proteção ne-
mília por pessoas do mesmo sexo. cessária aos filhos, com base unicamente
no interesse e conveniência dos mesmos.
(...)
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tan-
Ante a possibilidade de interpretação em sen- to aos filhos nascidos fora do casamento
tido preconceituoso ou discriminatório do art. como aos nascidos dentro do casamento.
1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele
próprio, faz-se necessária a utilização da técnica Artigo 18. Direito ao nome
de “interpretação conforme à Constituição”. Toda pessoa tem direito a um prenome
Isso para excluir do dispositivo em causa qual- e aos nomes de seus pais ou ao de um destes.
quer significado que impeça o reconhecimento A lei deve regular a forma de assegurar a todos

31
#LEGIS

esse direito, mediante nomes fictícios, se for ne- a expedição de mandados específicos para
cessário. a alteração dos demais registros nos órgãos
públicos ou privados pertinentes, os quais
Jurisprudência: A Corte IDH concebe o direito ao deverão preservar o sigilo sobre a origem
nome em duas dimensões: a) o direito de toda dos atos. [STF. Tese definida no RE 670.422,
criança ter um nome devidamente registrado, rel. min. Dias Toffoli, P, j. 15-8-2018, Tema
posto que o desrespeito tornaria a pessoa desco- 761]
nhecida do Estado e da sociedade;
Artigo 19. Direitos da criança
b) o direito de toda criança de preservar sua
identidade [Caso das Irmãs Serrano Cruz vs. El
Toda criança tem direito às medidas de
Salvador. Sentença 1º.03.2005]. Por sua vez, a
falta de correspondência entre a identidade proteção que a sua condição de menor requer
sexual e de gênero que uma pessoa assume e por parte da sua família, da sociedade e do Es-
a que aparece registrada em seus documentos tado.
de identidade implica negar-lhe uma dimensão
constitutiva de sua autonomia pessoal – do Comentários: As medidas de proteção referi-
direito de viver como se queira –, o que, por sua das no dispositivo devem ser as mais amplas e
vez, pode transformar-se em objeto de repúdio variadas possíveis e vão desde a proteção à inte-
e discriminação dos demais – violação do direi- gridade física e psicológica da criança, até a sua
to de viver sem humilhações – e dificultar-lhe as salvaguarda contra todo e qualquer tipo de ex-
oportunidades de trabalho que lhe permitam ter ploração infantil. Na Opinião Consultiva nº17, de
acesso às condições materiais necessárias a uma 28.08.2002, a Corte IDH firmou o entendimento
existência digna. que as crianças não são apenas objetos de pro-
teção, senão verdadeiros sujeitos de direitos,
Assim, para a Corte IDH, os Estados devem res-
de modo que a falta de capacidade jurídica não
peitar e garantir a toda pessoa a possibilidade
lhes retira os atributos de ser humano.
de registrar ou de mudar, retificar ou adequar
seu nome e os demais componentes essenciais
de sua identidade, como a imagem, ou a refe- Jurisprudência: A Corte IDH considera que, para
rência ao sexo ou gênero, sem interferência determinar a compatibilidade dos procedimen-
das autoridades públicas ou de terceiros tos de adoção internacional com a Convenção
[Corte IDH. Opinião Consultiva nº 24/2017, de Americana, deve-se analisar o cumprimento dos
24.11.2017]. seguintes requisitos:
i) O transgênero tem direito fundamental
(i) que se tenha verificado que as crianças
subjetivo à alteração de seu prenome e
podem ser legalmente adotadas (adotabi-
de sua classificação de gênero no regis-
lidade);
tro civil, não se exigindo, para tanto, nada
além da manifestação de vontade do in- (ii) que o melhor interesse das crianças foi
divíduo, o qual poderá exercer tal facul- avaliado como fator determinante e princi-
dade tanto pela via judicial como direta- pal consideração na decisão de adoção (in-
mente pela via administrativa; teresse superior da criança);
ii) Essa alteração deve ser averbada à mar- (iii) que o direito das crianças de serem ou-
gem do assento de nascimento, vedada a vidas foi garantido (direito de ser ouvido);
inclusão do termo “transgênero”; iv) que a adoção internacional só foi auto-
iii) Nas certidões do registro não constará rizada após verificação de que as crianças
nenhuma observação sobre a origem do não puderam receber cuidados adequados
ato, vedada a expedição de certidão de em seu país ou no país de residência habi-
inteiro teor, salvo a requerimento do pró- tual (subsidiariedade); e
prio interessado ou por determinação ju- (v) que foi verificado que nenhuma pessoa
dicial; ou entidade gerou benefícios econômicos
iv) Efetuando-se o procedimento pela via indevidos em qualquer fase do processo de
judicial, caberá ao magistrado determinar adoção (proibição de benefícios econô-
de ofício ou a requerimento do interessado micos indevidos).

32
#LEGIS

[Caso Ramírez Escobar e outros vs. Guate- estatuto mínimo, a fim de evitar que o indivíduo
mala. Sentença de 9-3-2018] reste desamparado sem qualquer resguardo es-
tatal.
Artigo 20. Direito à nacionalidade Jurisprudência: Segundo a Corte IDH, se o Es-
tado não pode ter certeza de que uma criança
1. Toda pessoa tem direito a uma naciona- nascida em seu território pode adquirir a nacio-
lidade. nalidade de outro Estado, por exemplo, a nacio-
nalidade de um pai por ius sanguinis, esse Estado
Comentários: Nacionalidade é o vínculo jurídi- tem a obrigação de lhe conceder nacionalidade
co-político que une permanentemente determi- (ex lege, automaticamente), para evitar status de
nado Estado e os indivíduos que o compõem. apátrida ao nascer, conforme o art. 20.2 da Con-
O dispositivo visa impedir a apatridia no conti- venção Americana.
nente americano.
Essa obrigação também se aplica à hipótese de
que os pais não podem (devido à existência de
Jurisprudência: A Corte IDH tem entendido que obstáculos de fato) registrar os seus filhos no Es-
o direito à nacionalidade tem abrangido dois as- tado da sua nacionalidade.
pectos: [Caso dos Dominicanos e Haitianos expulsos vs.
República Dominicana. Sentença de 28-8-2014.]
a) significa dotar o indivíduo de um míni-
mo de amparo jurídico nas relações inter-
3. A ninguém se deve privar arbitraria-
nacionais, ao estabelecer um vínculo com
mente de sua nacionalidade nem do di-
um Estado;
reito de mudá-la.
b) proteger o indivíduo contra a privação
arbitrária de sua nacionalidade, como Comentários: Alguns autores, como Celso Lafer
forma de excluir a totalidade dos direitos e Valério Mazzuoli, defendem inconvenciona-
de um ser humano lidade do art. 12, §4º, I da CF/88, frente ao art.
20.3 da CADH. Isso porque o dispositivo consti-
[Caso Ivcher Bronstein vs. Peru. Sentença de tucional prevê o cancelamento da naturalização,
08.09.2005]. por sentença judicial, em virtude de “atividade
nociva ao interesse nacional”, dado o caráter
A Corte IDH entende que (a) o status migratório aberto e impreciso da expressão, possibilitan-
de uma pessoa não pode ser uma condição para do a privação arbitrária da nacionalidade do
a concessão de nacionalidade pelo Estado, por- indivíduo.
que o status migratório não pode jamais servir
de justificativa para privar uma pessoa do direito
Artigo 21. Direito à propriedade privada
à nacionalidade ou ao gozo e exercício de seus
direitos; (b) O status migratório de uma pessoa
não é transmitido aos filhos, e (c) O nascimento 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo
da pessoa no território é o único fato que pre- dos seus bens. A lei pode subordinar esse
cisa ser comprovado para a aquisição da nacio- uso e gozo ao interesse social.
nalidade, caso a pessoa não tenha direito a outra
nacionalidade que não a do Estado onde nasceu. Comentários: Os bens referidos no dispositivo,
[Caso das meninas Yean e Bosico vs. República Do- conforme interpretação da Corte IDH, são aque-
minicana. Sentença de 8-9-2005] las coisas materiais apropriáveis, assim como
todo direito que possa formar parte do patrimô-
nio de uma pessoa, incluindo os móveis, imóveis,
2. Toda pessoa tem direito à nacionalida- corpóreos, incorpóreos, e qualquer outro objeto
de do Estado em cujo território houver imaterial suscetível de valor, de modo que es-
nascido, se não tiver direito a outra. tão incluídos no patrimônio de uma pessoa sua
produção científica, artística ou literária. O dis-
positivo também prevê o interesse social como
Comentários: A CADH consagrou a regra do jus
elemento finalístico da propriedade, mas desde
soli para fins de proteção contra a apatria (ou
que a lei interna preveja esse escopo, como no
heimatlose, na expressão alemã). Trata-se de um

33
#LEGIS

caso do Brasil, conforme art. 5º, XXIII da CF/88, os fatos e, em particular, a condição socioeconô-
prevendo que a propriedade atenderá a sua mica e de vulnerabilidade das vítimas, e o fato
função social. de que os danos causados à sua propriedade po-
dem ter efeito e magnitude maior do que eles
teriam para outras pessoas ou grupos em outras
Jurisprudência: Conforme a Corte IDH, tanto a condições.
propriedade privada dos particulares como
a propriedade comunitária dos membros das Nesse sentido, os Estados devem levar em conta
comunidades indígenas têm a proteção conven- que grupos de pessoas que vivem em circuns-
cional do art. 21.1. Nesse sentido, a jurisprudên- tâncias adversas e com menos recursos, como
cia do Tribunal sedimentou os seguintes enten- pessoas que vivem em situação de pobreza, en-
dimentos: frentam um aumento no grau de afetação aos
seus direitos precisamente por causa de sua si-
1) a posse tradicional dos indígenas sobre suas tuação de maior vulnerabilidade.
terras tem efeitos equivalentes aos do título de [Caso Vereda La Esperanza vs. Colômbia. Senten-
pleno domínio concedido pelo Estado; ça de 31.08.2017].
2) a posse tradicional confere aos indígenas o
direito de exigir o reconhecimento oficial de 2. Nenhuma pessoa pode ser privada de
propriedade e seu registro; seus bens, salvo mediante o pagamento
de indenização justa, por motivo de utili-
3) os membros dos povos indígenas que, por dade pública ou de interesse social e nos
causas alheias a sua vontade, tenham saído casos e na forma estabelecidos pela lei.
ou perdido a posse de suas terras tradicionais
mantêm o direito de propriedade sobre elas,
apesar da falta de título legal, salvo quando as Jurisprudência: No Caso Cinco Pensionistas vs.
terras tenham sido legitimamente transferidas a Peru, as vítimas recorreram à Corte IDH em razão
terceiros de boa-fé; de o Estado peruano ter violado o art. 21.2, den-
tre outros, por ter reduzido o montante dos va-
4) o Estado deve delimitar, demarcar e conce- lores pagos a título de aposentadoria, dado que
der título coletivo das terras aos membros das os denominados “cinco pensionistas” teriam se
comunidades indígenas; aposentado pelo regime público de seguridade
social e o Governo teria nivelado suas aposenta-
5) os membros dos povos indígenas que invo- dorias ao regime privado de seguridade, de valor
luntariamente tenham perdido a posse de suas inferior ao que vinham percebendo, com prejuízo
terras, e estas tenham sido trasladadas legiti- de sua subsistência. O Tribunal reconheceu que a
mamente a terceiros de boa-fé, têm o direito de conduta estatal violou o direito de propriedade
recuperá-las ou a obter outras terras de igual dos pensionistas, reconhecendo que se tratava
extensão e qualidade; de direito adquirido, por terem colaborado com
6) o Estado deve garantir a propriedade efetiva fundos de pensão sem o recebimento do mon-
dos povos indígenas e abster-se de realizar atos tante devido [Caso Cinco Pensionistas vs. Peru.
que possam levar a que os agentes do próprio Es- Sentença de 28.02.2003]
tado, ou terceiros que ajam com sua aquiescên-
cia ou sua tolerância, afetem a existência, o valor, 3. Tanto a usura como qualquer outra for-
o uso ou o gozo de seu território; ma de exploração do homem pelo ho-
mem devem ser reprimidas pela lei.
7) o Estado deve garantir o direito dos povos in-
dígenas de controlar efetivamente seu territó-
rio, e dele ser proprietários, sem nenhum tipo de Comentários: Por usura, entende-se a prática
interferência externa de terceiros; e de cobrança de juros acima do limite máximo
previsto em lei. No Brasil, a Lei 1.521/51 dispõe
8) o Estado deve garantir o direito dos povos sobre crimes contra a economia popular. Em seu
indígenas ao controle e uso de seu território e artigo 4ª, a norma prevê o crime de usura pe-
recursos naturais [Caso Povo Indígena Xucuru e cuniária ou real, e descreve a conduta delituo-
seus membros vs. Brasil. Sentença de 5-2-2018.]. sa como sendo o ato de cobrar juros, e outros
Segundo a Corte IDH, deve ser levado em consi- tipos de taxas ou descontos, superiores aos li-
deração que as circunstâncias em que ocorreram mites legais, ou realizar contrato abusando da
situação de necessidade da outra parte para

34
#LEGIS

obter lucro excessivo. A pena prevista é de 6 me- Para fixação:


ses a 2 anos de detenção e multa
Ano: 2016 Banca: VUNESP Órgão: TJM-SP Pro-
va: VUNESP - 2016 - TJM-SP - Juiz de Direito
Anotações sobre os artigos anteriores: Substituto

A Convenção Americana de Direitos Humanos


(Pacto de San Jose da Costa Rica) reproduz a
maior parte das declarações de direitos cons-
tantes do Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos de 1966. Contudo, existem novida-
des importantes, entre as quais se destaca o
direito

a) à propriedade privada cujo uso e gozo podem


estar subordinados ao interesse social.
b) de toda criança adquirir uma nacionalidade.
c) das minorias étnicas, religiosas ou linguísticas
a ter sua própria vida cultural, de professar e pra-
ticar sua religião e usar sua língua.
d) à realização de greve, de acordo com condições
preestabelecidas.
e) das mulheres à licença-maternidade

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-


-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Pe-
rito Oficial Criminal - Área 8]

A Convenção Americana sobre Direitos Huma-


nos, de 22 de novembro de 1969, também co-
nhecida como Pacto de São José da Costa Rica,
foi incorporada ao Direito Brasileiro por meio
do Decreto nº 678/1992. Segundo essa impor-
tante legislação internacional, é correto afir-
mar que

a) as penas privativas da liberdade devem ter por


finalidade essencial a punição, a reforma e a rea-
daptação social dos condenados.
b) toda pessoa tem direito à nacionalidade do
Estado em cujo território estiver domiciliada, se
não tiver direito à outra.
c) toda pessoa detida ou retida deve ser conduzi-
da, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções
judiciais.
d) todo o acusado tem direito de defender-se, de-
vendo, contudo, ser assistido por um defensor de
sua escolha.

35
#LEGIS

e) em casos expressamente previstos em lei é au-


torizada a expulsão coletiva de estrangeiros.

Ano: 2017 Banca: FAPEMS Órgão: PC-


-MS Prova: FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado
de Polícia

Na seara dos tratados e das convenções inter-


nacionais sobre direitos humanos incorpo-
rados pelo ordenamento jurídico brasileiro,
destaca-se a Convenção Americana de Direi-
tos Humanos. Também conhecida como Pacto
de San José da Costa Rica, tal Convenção foi
adotada em 22 de novembro de 1969, duran-
te a Conferência Especializada Interamericana
sobre Direitos Humanos. Sobre ela, é correto
afirmar que

a) em seu bojo, dentre os direitos protegidos,


destaca a proteção à família, embora se omita
sobre o direito da criança.
b) no âmbito regional trata-se do documento
mais importante do sistema interamericano, ex-
cluindo a subordinação ao sistema global de pro-
teção dos direitos humanos.
c) estabelece como competentes para conhece-
rem os assuntos relacionados com o cumprimen-
to dos compromissos assumidos pelos Estados-
-Partes a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
d) embora assinada em 1969, foi ratificada pelo
Brasil apenas em 1988, possivelmente em razão
da resistência do regime militar em acolher os
compromissos nela estipulados.
e) reitera princípios consagrados na Carta da Or-
ganização dos Estados Americanos, na Declara-
ção Americana dos Direitos e Deveres do Homem
e no Estatuto de Roma.

Anotações:

Gabarito: 01 – A | 02 – C | 03 – C

36
#LEGIS

DIA 6 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode


ser expulso ou entregue a outro país, seja
ou não de origem, onde seu direito à vida
Disciplina: Direitos Humanos. ou à liberdade pessoal esteja em risco de
violação por causa da sua raça, nacio-
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
nalidade, religião, condição social ou de
Teles. suas opiniões políticas.
Dia 06: Do Art. 22 ao 26.
9. É proibida a expulsão coletiva de es-
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 trangeiros.

Comentários: O artigo 26 da CADH busca estabe-


lecer um patamar mínimo de garantias referen-
Artigo 22. Direito de circulação e de resi- tes aos migrantes e refugiados, reconhecendo o
dência status de direito protegido pela convenção ao ato
de MIGRAR ou CIRCULAR no território. Esse direi-
1. Toda pessoa que se ache legalmente no to de sair, permanecer e circulardecorre da inter-
território de um Estado tem direito de cir- pretação conjugada dos itens 22.1 e 22.2.
cular nele e de nele residir em conformi-
dade com as disposições legais.
O item 22.3. repete a cláusula geral de restri-
ção de direitos, condicionando-a, assim como
2. Toda pessoa tem o direito de sair livre-
nos artigos 13, 15 e 16, à previsão em lei em
mente de qualquer país, inclusive do pró-
sentido estrito, bem como à presença de legíti-
prio.
mos fundamentos de proteção à segurança na-
cional, ordem pública, moral e saúde pública.
3.      O exercício dos direitos acima mencio-
nados não pode ser restringido senão em
virtude de lei, na medida indispensável, De se mencionar que a REGRA deve ser o LIVRE
numa sociedade democrática, para preve- exercício do direito de CIRCULAÇÃO. As restri-
nir infrações penais ou para proteger a ções devem ser excepcionais e razoáveis sob
segurança nacional, a segurança ou a or- pena de se violar o art. 22 da CADH.
dem públicas, a moral ou a saúde públi-
cas, ou os direitos e liberdades das demais A previsão do item 22.4. de uma hipótese espe-
pessoas. cífica de limitação espacial do direito de circu-
lação, por estar condicionada à previsão legal,
4. O exercício dos direitos reconhecidos já estaria abrangida na cláusula geral do item
no inciso 1 pode também ser restringido 3.
pela lei, em zonas determinadas, por mo-
tivo de interesse público.
O item 22.6 estabelece a necessidade de DECISÃO
5. Ninguém pode ser expulso do territó- em procedimento em previsto em LEI, para ex-
rio do Estado do qual for nacional, nem pulsão de pessoa estrangeira em situação migra-
ser privado do direito de nele entrar. tória regular. Observe que não há exigência de
essa decisão ser necessariamente decorrente
6. O estrangeiro que se ache legalmen- de um órgão jurisdicional, mas apenas que es-
te no território de um Estado-Parte nesta teja dentro de um procedimento regular devi-
Convenção só poderá dele ser expulso em damente regulamentado por legal formal.
cumprimento de decisão adotada de acor-
do com a lei. Os itens 22.7 e 22.8 tratam do direito de REFÚ-
GIO, cuja caracterização está condicionada a
7. Toda pessoa tem o direito de buscar e existência de uma situação de perigo objetivo
receber asilo em território estrangeiro, à pessoa estrangeira que busca permanecer no
em caso de perseguição por delitos polí- território do Estado-parte.
ticos ou comuns conexos com delitos po-
líticos e de acordo com a legislação de cada É vedada a expulsão de NACIONAIS.
Estado e com os convênios internacionais.

37
#LEGIS

É VEDADA a EXPULSÃO COLETIVA de estrangeiros. políticas públicas, quaisquer que sejam estas,
incluídas as de caráter migratório. Este princí-
pio de caráter geral deve ser respeitado e garan-
ATENÇÃO! O artigo 22, itens 1 e 2, ao prever o di- tido sempre, independentemente da condição
reito de migrar e circular NÃO inclui o verbo IN- migratória da pessoa. Qualquer ação ou omissão
GRESSAR. Isso ocorre porque o juízo de discricio- em sentido contrário é incompatível com os ins-
nariedade acerca da possibilidade de concessão trumentos internacionais de direitos humanos”.
do visto caracteriza-se como exercício da sobera-
nia dos Estados. A OC. nº. 25/2018 versa sobre um pedido de con-
sulta veiculado à Corte pela República do Equa-
Não obstante, uma vez tenha ingressado de dor acerca do alcance dos arts. 22.7 e 22.8.
forma legítima no território, a pessoa estran-
geira terá o direito de nele permanecer, cir- “O direito de buscar e receber asilo, no marco
cular e sair, observadas as hipóteses e proce- do sistema interamericano se encontra configu-
dimentos legais de cada Estado, que terá de rado como um direito humano referente a pro-
atender às condicionantes do item 3, sempre teção internacional em território estrangeiro,
que for estabelecer restrições a esse direito. incluindo com esta expressão o estatuto de refu-
giado segundo os instrumentos pertinentes das
O direito de livre INGRESSO somente assiste aos Nações Unidas ou as correspondentes leis na-
nacionais de cada Estado, na forma do art. 22.5. cionais, e o asilo territorial conforme às diversas
convenções interamericanas sobre a matéria.
Observar que a VEDAÇÃO à expulsão COLETIVA
de estrangeiros NÃO FAZ qualquer ressalva quan- O asilo diplomático NÃO se encontra protegido
to à condição migratória regular dos mesmos e no artigo 22.7 da Convenção Americana sobre
NÃO admite exceções, ainda que previstas em lei Direitos Humanos (...), devendo reger-se pelas
interna. próprias convenções de caráter interestatal ou
pelas legislações internas”.
Aprofundando: A Corte IDH já emitiu duas opi-
niões consultivas envolvendo o tema de migra- Atenção: Asilo diplomático é aquele concedido
ções. dentro de embaixadas de outros países, sem
que a pessoa tenha se retirado do País em so-
A OC nº 18/2003 que versa sobre a situação jurídi- fre perseguição por razões políticas, raciais,
ca de trabalhadores migrantes indocumentados, etc.
ocasião em que a Corte entendeu que, indepen-
dentemente da situação migratória das pessoas, Existe uma Convenção específica, no âmbito
seus direitos à igualdade e não discriminação de- interamericano, versando sobre a concessão
vem ser respeitados. de asilo diplomático – Convenção de Caracas
de 1954, da qual o Brasil é signatário.
“Considerando que a presente Opinião se apli-
ca às questões relacionadas aos aspectos jurí- Além desse instrumento internacional, a Cons-
dicos da migração, a Corte estima conveniente tituição Federal resguarda o direito de asilo
assinalar que, no exercício de sua faculdade político, em seu art. 4º, X.
de fixar políticas migratórias, é lícito que os
Estados estabeleçam medidas referentes ao
ingresso, permanência ou saída de pessoas Jurisprudência: Procedimentos que podem re-
migrantes para servirem como trabalhadores sultar na expulsão ou deportação de estran-
em determinado setor de produção em seu Es- geiros devem ser individualizados sob pena de
tado, sempre que isso seja compatível com as violação do art. 22.9 da Convenção Americana
medidas de proteção dos direitos humanos de
toda pessoa e, em particular, dos direitos huma- “381. Como mencionado acima, o Tribunal indi-
nos dos trabalhadores. cou que, para não violar a proibição de expulsões
coletivas, procedimentos que podem resultar
A Corte considera que os Estados não podem na expulsão ou deportação de um estrangeiro
subordinar ou condicionar a observância do devem ser individualizados para avaliar as cir-
princípio da igualdade perante a lei e a não dis- cunstâncias pessoais de cada um, e isto exige,
criminação à realização dos objetivos de suas pelo menos, a identificação e a verificação das

38
#LEGIS

circunstâncias particulares de sua situação mi- 1. Todos os cidadãos devem gozar dos se-
gratória. Além disso, tais processos não podem guintes direitos e oportunidades:
promover discriminação por razões de nacionali-
dade, cor, raça, sexo, língua, religião, política opi- a) de participar na direção dos assuntos pú-
nião, origem social ou qualquer outra condição, blicos, diretamente ou por meio de repre-
e devem necessariamente observar as garantias sentantes livremente eleitos;
mínimas mencionadas anteriormente (supra pa-
rágrafos 356 a 358). (...) 383. (...) os depoimentos b) de votar e ser eleitos em eleições perió-
das supostas vítimas revelam que a expulsão dicas autênticas, realizadas por sufrágio
ocorreu de maneira sumária e em grupo. [Corte universal e igual e por voto secreto que
IDH. Caso dos Dominicanos e Haitianos expulsos garanta a livre expressão da vontade dos
vs. República Dominicana. Exceções prelimina- eleitores; e
res, mérito, reparações e custas. Sentença de 28- c) de ter acesso, em condições gerais de
8-2014. Tradução livre.] [Ficha Técnica.] igualdade, às funções públicas de seu
país.
Indeferimento do pedido de fechamento tem-
porário da fronteira Brasil – Venezuela 2. A lei pode regular o exercício dos direi-
tos e oportunidades a que se refere o inciso
(...) afirmar-se que a ampliação do conceito de anterior, exclusivamente por motivos de
refugiado gera, ao Estado, um dever de proteção idade, nacionalidade, residência, idioma,
humanitária e, lado oposto, uma justa expectati- instrução, capacidade civil ou mental, ou
va naqueles que ingressam ou estão em vias de condenação, por juiz competente, em pro-
ingressar no território brasileiro, para que sua cesso penal.
condição seja reconhecida como tal, ou ao me-
nos que possa ser submetida à avaliação dos ór-
gãos competentes. Comentários: O art 23 da CADH versa sobre
os direitos políticos trazendo como principais
(...) mesmo quando não enquadrados em hipó- balizas: participação direita ou por meio de re-
tese válida de incidência das normas internacio- presentantes eleitos da população nos assun-
nais de proteção de refugiados, imigrantes irre- tos de Estado, eleições PERIÓDICAS, AUTENTI-
gulares com frequência são pessoas em situação CAS, LIVRES, voto universal, secreto e de igual
de vulnerabilidade que fazem jus à proteção peso para todas as pessoas (“ONE PERSON
geral conferida pelos instrumentos basilares de ONE VOTE”) e acesso igualitário às funções pú-
proteção dos direitos humanos, aplicáveis a toda blicas (em uma acepção ampla).
e qualquer situação de fluxo migratório irregular.
O item 2 estabelece uma lista exaustiva de mo-
(...) tanto os refugiados como as pessoas que tivos em que o Estado-parte está autorizado a re-
migram por outras razões, incluindo razões eco- gular o exercício dos direitos políticos.
nômicas, são titulares de direitos humanos que
devem ser respeitados em qualquer momento, A exigência de lei em sentido formal também é
circunstância ou lugar. Esses direitos inalienáveis mantida para essa restrição.
devem ser respeitados antes, durante e depois Mnemônica: O inspetor residente condenou o
do seu êxodo ou do regresso aos seus lares, de- incapaz à perda do idioma nacional.
vendo ser-lhes proporcionado o necessário para
garantir o seu bem-estar e dignidade humana.”
Jurisprudência: “O direito a ter acesso às fun-
(...) INDEFIRO, pois, os pedidos de fechamento ções públicas em condições gerais de igual-
temporário da fronteira com a Venezuela e de dade protege o acesso a uma forma direta de
limitação do ingresso de refugiados venezuela- participação na elaboração, implementação,
nos no Brasil. [STF. ACO 3.121 TP, rel. min. Rosa desenvolvimento e execução das diretrizes po-
Weber, dec. monocrática, j. 6-8-2018, DJE de 8-8- líticas estatais através de funções públicas. En-
2018.] tende-se que estas condições gerais de igualdade
se referem tanto ao acesso à função pública, por
meio de eleição popular, como por nomeação ou
Artigo 23. Direitos políticos designação”. [Corte IDH. Caso Yatama vs. Nicará-
gua. Exceções preliminares, mérito, reparações e
custas. Sentença de 236-2005.]

39
#LEGIS

“(...) a Corte entendeu que o caso deveria ser re- A dicção do item 1 do art 24 traz um dever de
solvido por meio da aplicação das disposições ação “tratamento igualitário” destinado tanto
do art. 23 da Convenção Americana, porque são ao momento de criação quanto de aplicação das
sanções que impuseram uma clara restrição ao leis pelos Estados-partes da CADH.
direito de ser eleito, sem se ajustar aos requisitos
aplicáveis de acordo com o parágrafo 2, relacio- Traz ainda, na parte final, o dever de não discri-
nado a uma “condenação, por um juiz competen- minar pessoas, retirando-lhes a proteção da lei.
te, em processo penal”.

Para o Tribunal, “[n] nenhum desses requisitos Aprofundando: A proibição da discriminação


foi cumprido (...) uma vez que o órgão que im- implica na vedação a tratamentos que estabe-
pôs tais sanções não era um “juiz competente”, leçam distinções de qualquer tipo (exclusão,
não havia “condenação”, e as sanções não foram preferência, limitação ou restrição) entre pes-
aplicadas como resultado de um “processo pe- soas ou grupos que se encontram em situações
nal”. Portanto, a Corte considerou que, embora similares, sem uma justificativa objetiva e ra-
no presente caso o senhor López Mendoza “te- zoável ou uma equivalência entre o grau da di-
nha conseguido exercer outros direitos políti- ferenciação e o propósito almejado.
cos (...), está plenamente provado que ele foi Nesse sentido, a discriminação pode ser dividia
privado do sufrágio passivo, isto é, do direito em duas modalidades: a discriminação negativa
de ser eleito”, razão pela qual “decidiu que o e a discriminação positiva.
Estado violou os arts 23.1.b e 23.2, combinado
com o art. 1.1 da Convenção Americana”. A discriminação negativa ocorre quando a distin-
[Corte IDH. Caso López Mendoza vs. Venezuela. ção aplicada reforça a desigualdade de posições
Resumo oficial da sentença de mérito, repara- entre grupos, ou seja, aumenta a condição de
ções e custas de 1º-9-2011]”. vulnerabilidade de um grupo em relação a outro,
em status mais privilegiado. Essa distinção é in-
“Portanto, o Estado descumpriu seu dever de compatível com o art. 24 da CADH.
respeito e garantia dos direitos políticos de A discriminação positiva é aquela cujo propó-
Florencio Chitay Nech em razão de seu desa- sito é equalizar a condição jurídica e social de
parecimento forçado, configurado como um pessoas em uma situação de desvantagem com
desaparecimento seletivo, e o privou do exer- outro grupo que já goza de maior acesso a deter-
cício do direito à participação política em re- minados direitos, espaços de poder ou políticas
presentação de sua comunidade, reconhecido públicas. Essa distinção não viola o art. 24, CADH.
no art. 23.1 inciso a) da Convenção America- Pelo contrário, o efetiva, tendo em vista que uma
na”. política “neutra” aplicada a uma situação em que
[Corte IDH. Caso Chitay Nech e outros vs. Guate- existe uma clara vantagem para um grupo ape-
mala. Exceções preliminares, mérito, reparações nas reforça a desigualdade, não a elimina.
e custas. Sentença de 25-5-2010.] ATENÇÃO! Na Opinião Consultiva nº 24/2017 que
versa sobre identidade de gênero, igualdade e
Artigo 24. Igualdade perante a lei não discriminação a casais do mesmo sexo, a
Corte entendeu que:
1. Todas as pessoas são iguais perante a “(...) A noção de igualdade se depreende dire-
lei. Por conseguinte, têm direito, sem dis- tamente da unidade de natureza do gênero hu-
criminação, a igual proteção da lei. mano e é inseparável da dignidade essencial
da pessoa, frente a qual é incompatível toda
Comentários: O art. 24 traz o direito à igualda- situação que, por considerar um determinado
de e não discriminação. O direito à igualdade e grupo como superior, resulte em um tratamen-
vetor interpretativo e justificante de todos os de- to privilegiado ao mesmo; ou, em sentido con-
mais direitos humanos e está assegurado pela trário, por considera-lo inferior, o trate com
grande maioria dos documentos internacionais hostilidade ou de qualquer forma o discrimine
de direitos humanos e das cartas constitucionais do gozo de direitos que são reconhecidos a to-
dos países. dos aqueles que não estão incursos em tal si-
tuação.

40
#LEGIS

(...) 1. Toda pessoa tem direito a um recurso


simples e rápido ou a qualquer outro recurso
Os Estados estão obrigados a adotar medidas efetivo, perante os juízes ou tribunais compe-
positivas para reverter ou alterar situações dis- tentes, que a proteja contra atos que violem
criminatórias existentes em suas sociedades, em seus direitos fundamentais reconhecidos pela
prejuízo de determinado grupo de pessoas. Isto
implica no dever especial de proteção que o Es- constituição, pela lei ou pela presente Conven-
tado deve exercer com respeito a ações e práticas ção, mesmo quando tal violação seja cometida
de terceiros que, com sua tolerância ou aquies- por pessoas que estejam atuando no exercício de
cência, disseminem, mantenham ou favoreçam suas funções oficiais.
situações discriminatórias.
2. Os Estados-Partes comprometem-se:
(...)
a) a assegurar que a autoridade compe-
Um direito que está reconhecido às pessoas tente prevista pelo sistema legal do Estado
em geral não pode ser negado ou restringido decida sobre os direitos de toda pessoa
a ninguém, e sob nenhuma circunstância, com que interpuser tal recurso;
base em sua orientação sexual, identidade ou
expressão de gênero. O instrumento interame- b) a desenvolver as possibilidades de re-
ricano veda a discriminação, em geral, incluindo curso judicial; e
as fundadas em categorias como a orientação se- c) a assegurar o cumprimento, pelas auto-
xual e/ou identidade de género, que não podem ridades competentes, de toda decisão em
servir de fundamento para negar ou restringir ne- que se tenha considerado procedente o
nhum dos direitos estabelecidos na Convenção”. recurso.

Jurisprudência: “As ações afirmativas em ge- Comentários: O artigo 25 da CADH consagra,


ral e a reserva de vagas para ingresso no serviço juntamente com o artigo 8º, o direito de acesso
público em particular são políticas públicas vol- à justiça, bem como a obrigação dos Estados em
tadas para a efetivação do direito à igualdade. garantir uma jurisdição voltada à tutela dos direi-
A igualdade constitui um direito fundamental tos humanos.
e integra o conteúdo essencial da ideia de de- O direito à proteção judicial importa no dever es-
mocracia. Da dignidade humana resulta que to- pecífico de os Estados garantirem remédios judi-
das as pessoas são fins em si mesmas, possuem ciais simples, rápidos e efetivos para a proteção
o mesmo valor e merecem, por essa razão, igual dos direitos humanos.
respeito e consideração. A igualdade veda a hie-
rarquização dos indivíduos e as desequipara- A palavra “recurso” foi utilizada no presente arti-
ções infundadas, mas impõe a neutralização go em sua acepção mais ampla, correspondendo
das injustiças históricas, econômicas e sociais, a toda espécie de ferramenta jurídica que veicule
bem como o respeito à diferença. No mundo uma “petição” ao Judiciário e não como um meio
contemporâneo, a igualdade se expressa particu- específico de impugnação de decisões judiciais.
larmente em três dimensões: a igualdade formal,
que funciona como proteção contra a existência O destinatário dessa proteção não é apenas a
de privilégios e tratamentos discriminatórios; a pessoa que teve seu direito diretamente violado
igualdade material, que corresponde às deman- pelo Estado-parte, mas também pode ser esten-
das por redistribuição de poder, riqueza e bem- dido aos seus familiares.
-estar social; e a igualdade como reconhecimen-
to, significando o respeito devido às minorias, De acordo com a redação do art. 25.2.c, não basta
sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, a mera previsão formal de recursos judiciais que
religiosas, sexuais ou quaisquer outras. A igual- assegurem a apreciação das violações de direitos
dade efetiva requer igualdade perante a lei, pela justiça, sendo imperativo ainda que seja ga-
redistribuição e reconhecimento. rantida a efetividade das decisões proferidas na
[STF. ADC 41, rel. min. Roberto Barroso, P, j. defesa dos direitos. Dar efetividade às decisões
8-62017, DJE de 17-8-2017.] significa assegurar que a proteção judicial dê
uma resposta com resultados concretos às viola-
Artigo 25. Proteção judicial ções de direitos humanos.

41
#LEGIS

Aprofundando: É importante destacar a instrumento, adotar todas as medidas para dei-


importância desse dispositivo convencional (ar- xar sem efeito as disposições legais que pode-
tigo 25), no âmbito do que se denominou “Jus- riam contrariá-lo, como são as que impedem
tiça de Transição”. a investigação de graves violações de direitos
humanos, uma vez que conduzem à falta de
O direito à proteção judicial, contido no artigo proteção das vítimas e à perpetuação da im-
25 da CADH, é um dos principais fundamentos punidade, além de impedir que as vítimas e
jurídicos para assegurar o direito às vítimas de seus familiares conheçam a verdade dos fatos.
regimes ditatoriais à efetiva investigação, pu- Dada sua manifesta incompatibilidade com a
nição e reparação pelas graves violações de di- Convenção Americana, as disposições da Lei
reitos humanos perpetradas nesses regimes. de Anistia brasileira que impedem a investi-
gação e sanção de graves violações de direi-
No caso Gomes Lund vs Brasil, a Corte IDH en- tos humanos carecem de efeitos jurídicos. Em
tendeu, na senda de diversos julgados anterio- consequência, não podem continuar a repre-
res, que as “leis de anistia” relativas a graves sentar um obstáculo para a investigação dos
violações de direitos humanos, são incompatí- fatos do presente caso, nem para a identifica-
veis com o Direito Internacional e mais espe- ção e punição dos responsáveis, nem podem
cificamente com a Convenção Americana de ter igual ou similar impacto sobre outros casos
Direitos Humanos, vide: de graves violações de direitos humanos con-
sagrados na Convenção Americana ocorridos
“A Corte Interamericana considera que a forma no Brasil.
na qual foi interpretada e aplicada a Lei de
Anistia aprovada pelo Brasil (pars. 87, 135 e 136 Jurisprudência: “(...) a Corte considera que,
supra) afetou o dever internacional do Estado de acordo com a Convenção Americana, os Es-
de investigar e punir as graves violações de di- tados-Partes estão obrigados a proporcionar
reitos humanos, ao impedir que os familiares recursos judiciais efetivos às vítimas de viola-
das vítimas no presente caso fossem ouvidos ções dos direitos humanos (art. 25), os quais
por um juiz, conforme estabelece o artigo 8.1 da devem ser substanciados em conformidade
Convenção Americana, e violou o direito à pro- com as regras do devido processo legal (art.
teção judicial consagrado no artigo 25 do mes- 8.1), tudo isso compreendido na obrigação ge-
mo instrumento, precisamente pela falta de ral, a cargo dos próprios Estados, de garantir o
investigação, persecução, captura, julgamen- livre e pleno exercício dos direitos reconheci-
to e punição dos responsáveis pelos fatos, des- dos pela Convenção a toda pessoa que se en-
cumprindo também o artigo 1.1 da Convenção. contre sob sua jurisdição (art. 1.1).
[Corte IDH. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Mérito,
Adicionalmente, ao aplicar a Lei de Anistia im- reparações e custas. Sentença de 4-7-2006.]
pedindo a investigação dos fatos e a identifi-
cação, julgamento e eventual sanção dos pos- “Desde sua primeira sentença, esta Corte desta-
síveis responsáveis por violações continuadas cou a importância do dever estatal de investi-
e permanentes, como os desaparecimentos gar e punir as violações de direitos humanos.
forçados, o Estado descumpriu sua obrigação (...) O Tribunal reitera que a obrigação de inves-
de adequar seu direito interno, consagrada no tigar violações de direitos humanos encontra-se
artigo 2 da Convenção Americana. dentro das medidas positivas que os Estados
devem adotar para garantir os direitos reconhe-
A Corte considera necessário enfatizar que, à luz cidos na Convenção. O dever de investigar é
das obrigações gerais consagradas nos artigos uma obrigação de meios e não de resultado,
1.1 e 2 da Convenção Americana, os Estados que deve ser assumida pelo Estado como um
Parte têm o dever de adotar as providências de dever jurídico próprio e não como uma sim-
toda índole, para que ninguém seja privado da ples formalidade, condenada de antemão a
proteção judicial e do exercício do direito a um ser infrutífera, ou como mera gestão de inte-
recurso simples e eficaz, nos termos dos arti- resses particulares, que dependa da inicia-
gos 8 e 25 da Convenção. tiva processual das vítimas, de seus familia-
res ou da contribuição privada de elementos
Em um caso como o presente, uma vez ratifica- probatórios. À luz desse dever, uma vez que as
da a Convenção Americana, corresponde ao autoridades estatais tenham conhecimento do
Estado, em conformidade com o artigo 2 desse fato, devem iniciar, ex officio e sem demora, uma

42
#LEGIS

investigação séria, imparcial e efetiva. Essa inves- iii) seja prestado atendimento médico, sani-
tigação deve ser realizada por todos os meios tário e psicológico à vítima, tanto de emer-
legais disponíveis e deve estar orientada à de- gência como de forma continuada, caso
terminação da verdade. seja necessário, mediante um protocolo de
atendimento, cujo objetivo seja reduzir as
A Corte também salientou que, do artigo 8 da consequências da violação;
Convenção, infere-se que as vítimas de viola-
ções de direitos humanos ou seus familiares iv) se realize imediatamente um exame mé-
devem contar com amplas possibilidades de dico e psicológico completo e detalhado,
ser ouvidos e atuar nos respectivos processos, por pessoal idôneo e capacitado, se possí-
tanto à procura do esclarecimento dos fatos e vel do sexo que a vítima indique, oferecen-
da punição dos responsáveis, como em bus- do-lhe que seja acompanhada por alguém
ca de uma devida reparação. (...) Além disso, de sua confiança, caso o deseje;
a obrigação, conforme o Direito Internacional, v) se documentem e coordenem os atos
de processar e, caso se determine sua respon- investigativos e se use diligentemente a
sabilidade penal, punir os autores de violações prova, retirando amostras suficientes, rea-
de direitos humanos, decorre da obrigação de lizando estudos para determinar a possível
garantia, consagrada no artigo 1.1 da Conven- autoria do ato, assegurando outras provas,
ção Americana. Essa obrigação implica o dever como a roupa da vítima, investigando de
dos Estados Parte de organizar todo o aparato forma imediata o lugar dos fatos e garan-
governamental e, em geral, todas as estruturas tindo a correta cadeia de custódia;
por meio das quais se manifesta o exercício do
poder público, de maneira tal que sejam capazes vi) se ofereça acesso a assistência jurídica
de assegurar juridicamente o livre e pleno exercí- gratuita à vítima durante todas as etapas
cio dos direitos humanos. Como consequência do processo; e
dessa obrigação, os Estados devem prevenir,
investigar e punir toda violação dos direitos vii) se preste atendimento médico, sanitá-
humanos reconhecidos pela Convenção e pro- rio e psicológico à vítima, tanto de emer-
curar, ademais, o restabelecimento, caso seja gência como de forma continuada, caso
possível, do direito violado e, se for o caso, a seja solicitado, mediante um protocolo de
reparação dos danos provocados pela violação atendimento, cujo objetivo seja reduzir as
dos direitos humanos. consequências da violação. Também em
casos de supostos atos de violência con-
Se o aparato estatal age de modo que essa viola- tra a mulher, a investigação penal deve
ção fique impune e não se reestabelece, na me- incluir uma perspectiva de gênero e ser
dida das possibilidades, à vítima a plenitude de realizada por funcionários capacitados
seus direitos, pode-se afirmar que se descumpriu em casos similares e em atendimento de
o dever de garantir às pessoas sujeitas a sua juris- vítimas de discriminação e violência por
dição o livre e pleno exercício de seus direitos”. motivo de gênero”.
[Corte IDH. Caso Gomes Lund vs. Brasil. Mérito, [Corte IDH. Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil.
reparações e custas. Sentença de 24-11-2010]. Exceções preliminares, mérito, reparações e cus-
“Em casos de violência contra a mulher, cer- tas. Sentença de 16-2-2017.].
tos instrumentos internacionais são úteis para
precisar e dar conteúdo à obrigação estatal re- A esse respeito, a Corte considera que o elemen-
forçada de investigá-los com a devida diligên- to essencial de uma investigação penal sobre
cia. Entre outros aspectos, numa investigação uma morte decorrente de intervenção policial
penal por violência sexual é necessário que: é a garantia de que o órgão investigador seja
independente dos funcionários envolvidos no
i) a vítima preste depoimento em ambiente incidente. Essa independência implica a au-
cômodo e seguro, que lhe ofereça privaci- sência de relação institucional ou hierárquica,
dade e confiança; bem como sua independência na prática.
ii) o depoimento da vítima seja registrado
de forma tal que se evite ou limite a neces-
sidade de sua repetição; Nesse sentido, nas hipóteses de supostos cri-
mes graves em que prima facie apareçam

43
#LEGIS

como possíveis acusados membros da polícia, CAPÍTULO III


a investigação deve ser atribuída a um órgão DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
independente e diferente da força policial en-
volvida no incidente, como uma autoridade ju-
dicial ou o Ministério Público, assistido por pes- Artigo 26. Desenvolvimento progressivo
soal policial, técnicos em criminalística e pessoal 26. Os Estados-Partes comprometem-se
administrativo, alheios ao órgão de segurança a a adotar providências, tanto no âmbito
que pertençam o possível acusado ou acusados. interno como mediante cooperação inter-
nacional, especialmente econômica e téc-
A determinação do grau de independência se faz nica, a fim de conseguir progressivamente
à luz de todas as circunstâncias do caso. a plena efetividade dos direitos que de-
[Corte IDH. Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil. correm das normas econômicas, sociais
Exceções preliminares, mérito, reparações e cus- e sobre educação, ciência e cultura, cons-
tas. Sentença de 16-2-2017.] tantes da Carta da Organização dos Estados
Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires, na medida dos recursos dis-
Anotações gerais sobre os artigos anteriores: poníveis, por via legislativa ou por outros
meios apropriados.

Comentários: A Convenção Americana faz men-


ção direta aos direitos de natureza econômica,
social e cultural apenas no artigo 26 e não che-
ga a listar o rol de direitos abrangidos pelo re-
ferido dispositivo, que gozariam de um dever de
implementação progressiva pelos Estados-parte.

Há uma celeuma na doutrina quanto a possibili-


dade de justiciabilidade direta desses direitos
no âmbito no Sistema Interamericano.

Segundo Mazzuoli, somente seriam protegidos


dentro da categoria dos DESCs, com a possibili-
dade de sua tutela por petição ao Sistema Inte-
ramericano, os direitos à educação e associação
sindical, ante previsão específica do artigo 19.6
do Protocolo de San Salvador, que somente faz
referência aos respectivos direitos de segunda
geração.

Não obstante, há precedentes da Corte IDH ad-


mitindo a aplicabilidade direta desses direitos,
como nos casos Lagos del Campo vs Peru, Caso
Poblete Vilches e outros vs. Chile e Gonzales Lluy
vs Equador, com fundamento.
No Caso Poblete Vilches e outros vs. Chile, a Cor-
te IDH pronunciou-se pela primeira vez de ma-
neira autônoma em relação ao direito à saúde.

ATENÇÃO! Na Opinião Consultiva nº 23/2017 que


versa sobre meio ambiente e direitos huma-
nos, a Corte reconheceu:

44
#LEGIS

“(...) a existência de uma relação irrefutável entre tos essenciais e inter-relacionados, que devem
a proteção do meio ambiente e a realização de ser preenchidos em questões de saúde. A saber:
outros direitos humanos, devido ao fato de que disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade
a degradação ambiental afeta o aproveitamento e qualidade. [Corte IDH. Caso Poblete Vilches e
efetivo de outros direitos humanos. outros vs. Chile. Mérito, reparações e custas. Sen-
tença de 8-3-2018].
(...) No sistema interamericano de direitos hu-
manos, o direito a um meio ambiente saudá- “A respeito dos direitos trabalhistas específicos
vel é reconhecido expressamente no art. 11 protegidos pelo art. 26 da Convenção Ameri-
do Protocolo de San Salvador: (...). Esse direito cana, a Corte observa que os termos desse ar-
também deve ser considerado incluído entre tigo mostram que são aqueles direitos que de-
os direitos econômicos, sociais e culturais pro- correm das normas econômicas, sociais e sobre
tegidos pelo art. 26 da Convenção Americana. educação, ciência e cultura constantes da Carta
da OEA. Isto posto, os arts. 45.b e c, 46 e 34.g da
(...) a. Os Estados possuem obrigação de prevenir Carta estabelecem que “[o] trabalho é um direito
dano ambiental significativo dentro e fora do seu e um dever social” e que deve ser prestado com
território. b. Para cumprir esta obrigação de pre- “salários justos, oportunidades de emprego e
venção, os Estados devem regular, supervisionar condições de trabalho aceitáveis para todos”.
e monitorar as atividades sob sua jurisdição que
podem causar danos significativos para o am- Também ressaltam o direito dos trabalhadores e
biente; realizar avaliações de impacto ambiental trabalhadoras de “se associar livremente para a
quando houver risco de danos significativos ao defesa e promoção de seus interesses”. Além dis-
meio ambiente; preparar planos de contingên- so, indicam que os Estados devem “harmonizar a
cia para estabelecer medidas e procedimentos legislação social” para a proteção desses direitos.
de segurança para minimizar a possibilidade de (...) 149. Em relação ao exposto, infere-se que as
desastres ambientais e mitigar qualquer dano obrigações do Estado quanto à proteção do
ambiental significativo que poderia ter ocorrido, direito à estabilidade no trabalho no âmbito
mesmo quando isso aconteceu apesar das ações privado se traduz, em princípio, nos seguintes
preventivas do Estado”. deveres:
a) Adotar as medidas adequadas para a
Jurisprudência: No que se refere ao direito à
devida regulamentação e fiscalização
saúde protegido pelo art. 26 da Convenção
desse direito;
Americana, a Corte observa que a redação do
dispositivo indica que se trata do direito decor- b) Proteger o trabalhador, por meio
rente das normas econômicas, sociais e sobre de seus órgãos competentes, contra a
educação, ciência e cultura contidas na Carta da demissão injustificada;
OEA. (...)
c) Remediar a situação, em caso de
118. (...) O Tribunal especificou que a obrigação demissão injustificada (seja mediante a
geral se traduz no dever do Estado de assegu- readmissão ou, caso seja pertinente, me-
rar o acesso das pessoas aos serviços essen- diante a indenização e outros benefícios
ciais de saúde, garantir uma prestação médica previstos na legislação nacional). Por con-
de qualidade e eficaz, assim como promover seguinte,
melhorias nas condições de saúde da popula-
d) O Estado deve dispor de mecanismos
ção.
efetivos de reclamação frente a uma si-
tuação de demissão injustificada, a fim
119. Em primeiro lugar, a consecução da referi-
de garantir o acesso à justiça e à tutela
da obrigação começa com o dever de regular, ra-
judicial efetiva desses direitos.
zão pela qual a Corte indicou que os Estados são
responsáveis por regular em caráter permanen- 150. Cumpre explicitar que a estabilidade no
te a prestação de serviços (tanto público como trabalho não consiste em uma permanência ir-
privados) e a execução de programas nacionais restrita no posto de trabalho, mas em respeitar
relativos à prestação de serviços de qualidade. esse direito, entre outras medidas, oferecendo
120. Em segundo lugar, levando em considera- devidas garantias de proteção ao trabalhador, a
ção a Observação Geral n. 14 do Comitê DESC, fim de que, em caso de demissão, esta ocorra por
este Tribunal referiu-se a uma série de elemen- causas justificadas, o que implica que o empre-

45
#LEGIS

gador ateste razões suficientes para impor essa Para fixação:


sanção com as devidas garantias e, diante disso,
o trabalhador possa recorrer dessa decisão junto Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV -
às autoridades internas, que garantirão que as 2018 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXV
causas atribuídas não sejam arbitrárias ou con- - Primeira Fase
trárias ao direito”.
Você foi procurado, como advogado(a), por
[Corte IDH. Caso Lagos del Campo vs. Peru. Exce- representantes de um Centro de Defesa dos
ções preliminares, mérito, reparações e custas. Direitos Humanos, que lhe informaram que o
Sentença de 31-8-2017] governador do estado, juntamente com o mi-
nistro da justiça do país, estavam articulando
Anotações sobre os artigos anteriores: a expulsão coletiva de um grupo de haitianos,
que vive legalmente na sua cidade.

Na iminência de tal situação e sabendo que o


Brasil é signatário da Convenção Americana
sobre os Direitos Humanos, assinale a opção
que indica, em conformidade com essa con-
venção, o argumento jurídico a ser usado.

a) Um decreto do governador combinado a uma


portaria do ministro da justiça constituem funda-
mento jurídico suficiente para a expulsão coleti-
va, segundo a Convenção acima citada. Portanto,
a única solução é política, ou seja, fazer manifes-
tações para demover as autoridades desse pro-
pósito.
b) A Convenção Americana sobre os Direitos Hu-
manos é omissa quanto a esse ponto. Portanto,
a única alternativa é buscar apoio em outros tra-
tados internacionais, como a Convenção das Na-
ções Unidas, relativa ao Estatuto dos Refugiados,
também conhecida como Convenção de Gene-
bra, de 1951.
c) A expulsão coletiva de estrangeiros é permi-
tida, segundo a Convenção Americana sobre os
Direitos Humanos, apenas no caso daqueles que
tenham tido condenação penal com trânsito em
julgado, o que não foi o caso dos haitianos visa-
dos pelos propósitos do governador e do minis-
tro, uma vez que eles vivem legalmente na cida-
de.
d) A pessoa que se ache legalmente no território
de um Estado tem direito de circular nele e de
nele residir em conformidade com as disposições
legais. Além disso, é proibida a expulsão coletiva
de estrangeiros.

Ano: 2012 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV -


2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado - VI -
Primeira Fase - Reaplicação

46
#LEGIS

O Protocolo de San Salvador é complementar


à Convenção Americana sobre Direitos Huma-
nos em Matéria de Direitos Econômicos, So-
ciais e Culturais. Assim, o direito de petição ao
Sistema Interamericano de Direitos Humanos
é estendido pelo Protocolo de San Salvador
aos casos de violação

a) ao direito de livre associação sindical.


b) ao direito de vedação ao trabalho escravo.
c) à proibição do tráfico internacional de pessoas.
d) ao direito à moradia digna.

Ano: 2014 Banca: CS-UFG Órgão: DPE-


-GO Prova: CS-UFG - 2014 - DPE-GO - Defensor
Público

A Convenção Americana sobre os Direitos Hu-


manos de 1969 destaca que “Toda pessoa tem
o direito de buscar e receber asilo em territó-
rio estrangeiro, em caso de perseguição por
delitos políticos ou comuns conexos com de-
litos políticos, de acordo com a legislação de
cada Estado e as convenções internacionais”.
Essa recomendação consiste em:

a) conceder asilo diplomático ou territorial, sen-


do este uma modalidade definitiva de asilo polí-
tico.
b) receber o estrangeiro em território nacional,
sem os requisitos de ingresso, evitando punição
ou perseguição baseada em crime de natureza
politica ou ideológica.
c) assistir ao refugiado estrangeiro em toda e
qualquer situação de perseguição em seu país de
nacionalidade
d) facultar ao estrangeiro o asilo extraterritorial
na forma definitiva, quando em perseguição no
país de origem por questão puramente política.
e) reconhecer a condição do refugiado estrangei-
ro em território nacional, impedindo a sua expul-
são em face ao motivo de ordem pública.

Anotações gerais:

Gabarito: 01 – D | 02 - A | 03 – B

47
#LEGIS

DIA 7 subsidiária e complementar. Certos estados de


emergência ou em situações de perturbação da
ordem pública, os Estados usam as Forças Arma-
Disciplina: Direitos Humanos. das para controlar a situação.
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
Teles A esse respeito, o Tribunal entende que a práti-
ca de controle do protesto social, distúrbios
Dia 07: Do Art. 27 ao 32.
internos, violência interna, situações excep-
cionais e criminalidade comum através das
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 Forças Armadas deve ser utilizada com extre-
mo cuidado. Isso porque o treinamento que re-
cebem visa derrotar o inimigo, e não a proteção
e controle dos civis, treinamento que é típico de
CAPÍTULO IV entidades policiais.
SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO
E APLICAÇÃO A demarcação das funções militares e policiais
deve orientar o estrito cumprimento do dever de
prevenção e proteção dos direitos em risco, pelas
Artigo 27. Suspensão de garantias autoridades internas
[Caso Zambrano Vélez e outros vs. Equador. Sen-
1. Em caso de guerra, de perigo público, tença de 4.7.2007].
ou de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado
Parte, este poderá adotar disposições que, 2. A disposição precedente não autoriza
na medida e pelo tempo estritamente a suspensão dos direitos determinados
limitados às exigências da situação, sus- seguintes artigos: 3 (Direito ao reconhe-
pendam as obrigações contraídas em vir- cimento da personalidade jurídica); 4
tude desta Convenção, desde que tais dis- (Direito à vida); 5 (Direito à integridade
posições não sejam incompatíveis com as pessoal); 6 (Proibição da escravidão e
demais obrigações que lhe impõe o Direito servidão); 9 (Princípio da legalidade e da
Internacional e não encerrem discrimina- retroatividade); 12 (Liberdade de cons-
ção alguma fundada em motivos de raça, ciência e de religião); 17 (Proteção da fa-
cor, sexo, idioma, religião ou origem so- mília); 18 (Direito ao nome); 19 (Direitos
cial. da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e
23 (Direitos políticos), nem das garantias
indispensáveis para a proteção de tais di-
Comentários: O dispositivo contempla o que se reitos.
chama de cláusula derrogatória ou cláusula
geral de derrogações, cuja finalidade é permitir
a derrogação de certos direitos em situações de Comentários: É importante memorizar o pre-
exceção. sente dispositivo, pois tais exceções são muito
cobradas em provas.
Mnemônica: Uma VIDA LEGAL com INTEGRIDA-
Jurisprudência: Conforme a Corte IDH, é obri- DE JURÍDICA do NOME da FAMÍLIA e da RELIGIÃO
gação do Estado determinar as razões e moti- NACIONAL evita a ESCRAVIDÃO da CRIANÇA.
vações que levam as autoridades nacionais a de-
clarar um estado de emergência, e corresponde
a estas exercer controle adequado e eficaz dessa MUITO IMPORTANTE! Conforme a Opinião Con-
situação e que a suspensão declarada esteja em sultiva nº 8/87 emitida pela Corte IDH, o art. 7.6
conformidade com a Convenção “na medida e (direito ao habeas corpus) e 25.1 (direito à pro-
pelo tempo estritamente limitado às exigências teção judicial) são inderrogáveis, não poden-
da situação». do ser suspensos em casos de emergência, pois,
apesar de não previstas explicitamente no art.
Os Estados não gozam de discricionarieda- 27.2, se enquadram como garantias judiciais
de ilimitada, e caberá aos órgãos do Sistema indispensáveis, expressão prevista na parte final
Interamericano, no âmbito de suas respectivas do dispositivo.
competências, exercer esse controle de maneira

48
#LEGIS

A Opinião Consultiva nº 9/87 foi mais abrangente petência legislativa e judicial, mas também
e entendeu por “garantias judiciais indispensá- medidas frente aos Estados-membros, a fim de
veis” insuscetíveis de suspensão aqueles provi- que cumpram o tratado dentro das suas compe-
mentos judiciais ordinariamente idôneos para tências.
garantir a plenitude do exercício dos direitos e
liberdade a que se refere o dispositivo e cuja su-
pressão ou limitação colocaria em perigo essa Jurisprudência: “No que concerne à denominada
plenitude. ‘cláusula federal’ estabelecida no art. 28 da Con-
venção Americana, em ocasiões anteriores a Corte
teve a oportunidade de referir-se ao alcance das
3. Todo Estado Parte que fizer uso do di- obrigações internacionais de direitos humanos
reito de suspensão deverá informar ime- dos Estados federais.
diatamente os outros Estados Partes na
presente Convenção, por intermédio do Recentemente, no Caso Escher e outros, o Tribu-
Secretário-Geral da Organização dos Es- nal aduziu que, em sua competência contencio-
tados Americanos, das disposições cuja sa, tem estabelecido claramente que, ‘segundo
aplicação haja suspendido, dos motivos jurisprudência centenária e que não variou até
determinantes da suspensão e da data em agora, um Estado não pode alegar sua estrutura
que haja dado por terminada tal suspen- federal para deixar de cumprir uma obrigação
são. internacional’.

Artigo 28. Cláusula Federal (...)

1. Quando se tratar de um Estado Parte Dessa maneira, a Corte considera que os Estados-
constituído como Estado federal, o gover- -Partes devem assegurar o respeito e a garantia
no nacional do aludido Estado Parte cum- de todos os direitos reconhecidos na Convenção
prirá todas as disposições da presente Americana a todas as pessoas sob sua jurisdição,
Convenção, relacionadas com as matérias sem limitação nem exceção alguma com base na
sobre as quais exerce competência legisla- referida organização interna.
tiva e judicial.
O sistema normativo e as práticas das entida-
2.No tocante às disposições relativas às des que formam um estado federal Parte da
matérias que correspondem à compe- Convenção devem conformar-se com a mesma”
tência das entidades componentes da fe- [Caso Garibaldi vs. Brasil. Sentença de 23-9-2009].
deração, o governo nacional deve tomar
imediatamente as medidas pertinente,
em conformidade com sua constituição Aprofundando: Em razão da cláusula federal,
e suas leis, a fim de que as autoridades não pode o Estado nacional alegar em sua de-
competentes das referidas entidades fesa perante o Sistema Interamericano não po-
possam adotar as disposições cabíveis der invadir a esfera de atribuição de outro ente
para o cumprimento desta Convenção. federado como excludente de responsabilida-
de internacional.
Comentários: O dispositivo é destinado exclusi- Em suma, é o governo nacional (governo fede-
vamente aos Estados que adotam a forma de Es- ral) do Estado que tem o dever de cumprir as
tado Federal, como é o caso do Brasil. A forma disposições de um tratado internacional por
federativa interfere diretamente no modo que ele ratificado, respondendo, no plano interna-
um Estado cumpre seus deveres estabelecidos cional, pelos atos dos Estados federados, e não
nos instrumentos internacionais de direitos hu- estes próprios (por não deterem personalidade
manos, especialmente no que toca à responsa- judicia internacional), sem prejuízo de, no pla-
bilização do governo federal por atos dos Esta- no interno, poder o governo federal exigir do
dos-membros. Estado-membro a satisfação daquilo que teve
que arcar no plano internacional.
A chamada cláusula federal, também denomi-
nada cláusula territorial, obriga o Estado Fe-            
deral a adotar as medidas de implementação da 3. Quando dois ou mais Estados Partes
Convenção não apenas em relação à sua com- decidirem constituir entre eles uma fede-

49
#LEGIS

ração ou outro tipo de associação, dili- dos internacionais de direitos humanos, devem
genciarão no sentido de que o pacto comu- observar um princípio hermenêutico básico (tal
nitário respectivo contenha as disposições como aquele proclamado no art. 29 da Conven-
necessárias para que continuem sendo ção Americana sobre Direitos Humanos) consis-
efetivas no novo Estado assim organizado tente em atribuir primazia à norma que se reve-
as normas da presente Convenção. le mais favorável à pessoa humana, em ordem
a dispensar-lhe a mais ampla proteção jurídica.
Artigo 29. Normas de interpretação
O Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico
que prestigia o critério da norma mais favorável
Nenhuma disposição desta Convenção
(que tanto pode ser aquela prevista no tratado
pode ser interpretada no sentido de: internacional como a que se acha positivada
no próprio direito interno do Estado), deverá
a) permitir a qualquer dos Estados Partes, extrair a máxima eficácia das declarações inter-
grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercí- nacionais e das proclamações constitucionais
cio dos direitos e liberdades reconhecidos de direitos, de modo a viabilizar o acesso dos in-
na Convenção ou limitá-los em maior me- divíduos e dos grupos sociais, notadamente os
dida do que a nela prevista; mais vulneráveis, a sistemas institucionalizados
de proteção aos direitos fundamentais da pessoa
b) Limitar o gozo e exercício de qualquer humana, sob pena de a liberdade, a tolerância e o
direito ou liberdade que possam ser reco- respeito à alteridade humana tornarem-se pala-
nhecidos de acordo com as leis de qualquer vras vãs (HC 93.280/SC , rel. min. Celso de Mello)”
dos Estados Partes ou de acordo com outra [STF. ADC 41, rel. min. Roberto Barroso, voto do
min. Celso de Mello P, j. 8-6-2017, DJE de 17-8-
convenção em que seja parte um dos referi-
2017].
dos Estados;
c) Excluir outros direitos e garantias que Artigo 30. Alcance das restrições
são inerentes ao ser humano ou que decor-
rem da forma democrática representativa As restrições permitidas, de acordo com
de governo; e esta Convenção, ao gozo e exercício dos direi-
tos e liberdades nela reconhecidos, não podem
d) Excluir ou limitar o efeito que possam
ser aplicadas senão de acordo com leis que fo-
produzir a Declaração Americana dos Di-
rem promulgadas por motivo de interesse geral
reitos e Deveres do Homem e outros atos
e com o propósito para o qual houverem sido
internacionais da mesma natureza.
estabelecidas.
Comentários: O dispositivo consagra o princípio
interpretativo da primazia da norma mais favo- Comentários: A própria CADH prevê a possibi-
rável (princípio pro homine), que garante ao ser lidade de restrição de direitos, quais sejam: o
humano a aplicação da norma que, no caso con- direito de reunião (art. 15); o de liberdade de
creto, melhor o proteja, seja decorrente do direi- associação (art. 16, 2 e 3) e o de circulação e de
to interno ou internacional. residência (art. 22, 4). A CADH exige que as res-
trições devam ser feitas necessariamente por
De acordo com a doutrina, o art. 29.a trata da lei e, mesmo assim, atendendo o motivo de inte-
chamada cláusula de autoresguardo impediti- resse geral e com o propósito para o qual hou-
va da “não proteção” ou da “limitação da prote- ver sido estabelecida.
ção” do gozo e exercício dos direitos e liberdades ATENÇÃO! Importante não confundir as res-
nela reconhecidos, de modo que as limitações trições prevista nos próprios dispositivos da
previstas na CADH são aplicáveis apenas na CADH com a possibilidade de suspensão de di-
exata medida nela prevista. reitos, prevista no art. 27.

Jurisprudência: “Em suma: os magistrados e Jurisprudência: Relativamente à expressão


Tribunais, no exercício de sua atividade inter- “lei”, a Corte IDH já se manifestou no sentido de
pretativa, especialmente no âmbito dos trata- que o termo significa norma jurídica de cará-
ter geral, voltada ao bem comum, emanada de

50
#LEGIS

órgãos legislativos constitucionalmente pre- CAPÍTULO V


vistos e democraticamente eleitos, seguindo o DEVERES DAS PESSOAS
devido processo legislativo. Dessa forma, fica evi-
dente que decretos do Poder Executivo ou atos
do Poder Judiciário não são aptos a restringir Artigo 32. Correlação entre deveres e direi-
os direitos e liberdades previsto na CADH, mas tos
apenas atos do Parlamento [Opinião Consultiva
nº 6, de 09.05.1986] 1. Toda pessoa tem deveres para com a fa-
mília, a comunidade e a humanidade.
Artigo 31. Reconhecimento de outros direi-
tos 2. Os direitos de cada pessoa são limitados
pelos direitos dos demais, pela segurança
Poderão ser incluídos no regime de pro- de todos e pelas justas exigências do bem
teção desta Convenção outros direitos e liber- comum, numa sociedade democrática.
dades que forem reconhecidos de acordo com os
processos estabelecidos nos artigos 76 e 77. Anotações sobre os artigos anteriores:

Comentários: Trata-se da regra de não exclu-


são de direitos (ou cláusula aberta), dado que
o rol previsto na CADH não configura numerus
clausus (não taxativo), podendo ser ampliado
através do procedimento previsto no art. 76 e 77
do tratado.

O primeiro prevê a possibilidade de qualquer Es-


tado-parte, a CIDH e a Corte IDH, através do Se-
cretário-Geral da OEA, submeter à Assembleia
Geral da OEA propostas de emendas a Conven-
ção.

Em complemento, o art. 77 dispõe qualquer Es-


tado Parte e a Comissão podem submeter à
consideração dos Estados Partes reunidos por
ocasião da Assembléia Geral, projetos de proto-
colos adicionais a esta Convenção, com a finali-
dade de incluir progressivamente no regime de
proteção da mesma outros direitos e liberdades.

Observações gerais:

51
#LEGIS

Para fixação: e) Segundo essa convenção, a suspensão de ga-


rantias nela previstas prescinde de qualquer co-
Ano: 2009 Banca: MPT Órgão: PGT Provas: PGT municação aos Estados- partes do acordo.
- 2009 - MPT - Procurador do Trabalho

Assinale a alternativa CORRETA:


Ano: 2012 Banca: COPESE - UFT Órgão: DPE-
-TO Prova: COPESE - UFT - 2012 - DPE-TO - Ana-
a) Nos termos da Convenção Americana, o indi-
lista em Gestão Especializado - Ciências Jurí-
viduo, a Comissão Interamericana e os Estados
dicas
- partes podem submeter um caso à Corte Intera-
mericana de Direitos Humanos.
Nos termos do previsto na Convenção America-
b) De acordo com o Direito Internacional, a res- na sobre Direitos Humanos, em caso de guer-
ponsabilidade pelas violações de direitos huma- ra, de perigo público, ou de outra emergência
nos na hipótese do Brasil é da União, e das suas que ameace a independência ou segurança do
Unidades Federativas (Estados) os quais dispõe de Estado Parte, atendidas as demais disposições
personalidade jurídica na ordem internacional. previstas no referido dispositivo legal, pode-
rão ser suspensas obrigações contraídas pelo
c) Na hipótese de violação dos direitos humanos referido Estado Parte, EXCETO, aquelas relati-
é permitido ao Procurador-Geral da República vas a:
requerer ao Supremo Tribunal Federal o desloca-
mento da competência do caso para instâncias fe- a) Direito de reunião.
derais, em qualquer fase do processo.
b) Liberdade de associação.
d) É exclusivamente sobre a União que recai a res-
ponsabilidade internacional na hipótese de viola- c) Direito à propriedade privada.
ção de tratado de proteção de direitos humanos.
d) Direito à integridade pessoal.
e) Não respondida.
Anotações gerais:

Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: DPE-


-RR Prova: CESPE - 2013 - DPE-RR - Defensor
Público

No que se refere à Convenção Americana de Di-


reitos Humanos, assinale a opção correta.

a) No caso de suspensão de garantias, esta não


poderá atingir normas de direitos humanos qua-
lificadas como jus cogens.
b) Nos Estados-partes organizados sob a forma
federal, as reservas ao pacto poderão ser levadas
a efeito pelas unidades federativas do respectivo
Estado-parte.
c) A referida convenção impõe ao governo central
do Estado- parte organizado sob a forma federal
o dever de cumprir todas as disposições de prote-
ção aos direitos humanos nela elencadas, mesmo
aquelas que estejam na órbita de competência
das unidades federadas desse Estado.
d) Essa convenção admite a sua própria suspen-
são in totum em caso de guerra, perigo público ou
outra emergência que ameace a independência
ou segurança do Estado-parte. Gabarito: 01 – D | 02 - A| 03 – D

52
#LEGIS

DIA 08 CAPÍTULO VII

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS


Disciplina: Direitos Humanos. HUMANOS
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
Teles. Comentários: A Comissão Interamericana de
Dia 08: Do Art. 33ª ao 51º. Direitos Humanos foi criada em 1959 e formal-
mente instalada em 1960, quando o Conselho
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 da Organização dos Estados Americanos apro-
vou seu Estatuto. Portanto, a Comissão é an-
terior à assinatura da CADH, ocorrida apenas
em 1969.
PARTE II
MEIOS DE PROTEÇÃO A Comissão é prevista como órgão do Sistema
Interamericano tanto na Carta da Organização
dos Estados Americanos (OEA), artigos 53.d e
CAPÍTULO VI 106, como na Convenção Americana de Direi-
ÓRGÃOS COMPETENTES tos Humanos, art. 33.a. e seguintes.
Além do Estatuto, aprovado em 1960, a Comissão
Artigo 33 tem um Regulamento, aprovado em 1980, cuja
última versão data de 2013.
São competentes para conhecer dos as-
suntos relacionados com o cumprimento dos Desde sua previsão inicial, no art. 106 da Carta da
compromissos assumidos pelos Estados-Par- OEA, já era reconhecida a sua função de promo-
ção do respeito e defesa dos direitos humanos
tes nesta Convenção: no continente americano, remetendo–se a uma
futura Convenção a disciplina de sua estrutura,
a) a Comissão Interamericana de Direitos funcionamento, composição e competências.
Humanos, doravante denominada a Co-
missão; e
b) a Corte Interamericana de Direitos Hu- Atenção: Por ser um órgão previsto na Carta da
manos, doravante denominada a Corte. OEA, a Comissão tem atribuição para processar
petições de TODOS os Estados-parte da OEA,
mesmo que não signatários da Convenção
Comentários: O art. 33 inaugura a PARTE II da Americana de Direitos Humanos.
Convenção Americana de Direitos Humanos,
que passa a versar, consoante apresentamos na
VISÃO PANORÂMICA do Dia 01, sobre os Meios SEÇÃO 1 – ORGANIZAÇÃO
de Proteção dos Direitos reconhecidos e enu-
merados nos Capítulos II e III da PARTE I (arti- Artigo 34
gos 3º a 26 da CADH).
A Comissão Interamericana de Direitos
Os meios de proteção correspondem ao que cha-
Humanos compor-se-á de sete membros, que
mamos de Sistema Interamericano de Direitos
Humanos, ou SIDH, que tem por atribuição asse- deverão ser pessoas de alta autoridade moral
gurar o cumprimento das obrigações assumidas e de reconhecido saber em matéria de direitos
pelos Estados-partes em respeitar, promover e humanos.
proteger, no âmbito de seus territórios os direitos
e deveres elencados na Convenção. Comentários: Apesar da exigência de reconheci-
do saber em direitos humanos, não há necessi-
O SIDH é composto por dois órgãos: a Comissão dade de formação jurídica para a indicação de
Interamericana de Direitos Humanos e a Corte um membro à Comissão.
Interamericana de Direitos Humanos, cujas atri-
buições, composição e funcionamento serão de-
lineadas nos dispositivos a seguir da Convenção. Os sete integrantes da CIDH são denominados
de ‘comissários’ e compõem a Comissão, por um

53
#LEGIS

mandato de 04 anos, permitida uma única recon- tos uma vez, porém o mandato de três dos
dução, a título pessoal e não como delegados membros designados na primeira eleição
ou representantes dos Estados-parte da OEA. expirará ao cabo de dois anos. Logo de-
pois da referida eleição, serão determina-
É vedada a composição por mais de um nacional dos por sorteio, na Assembleia-Geral, os
de um mesmo País. nomes desses três membros.

Artigo 35 2. Não pode fazer parte da Comissão mais


de um nacional de um mesmo Estado.
A Comissão representa todos os Membros
da Organização dos Estados Americanos. Comentários: O item 1 do artigo 37, além de fixar
o tempo do mandato em 04 anos e limitar a um a
única recondução, traz uma previsão de regra es-
Comentários: mesmo composta por apenas sete pecífica para a primeira composição da Comis-
membros, a título pessoal, a Comissão represen- são, cujo objetivo foi tornar os mandatos alterna-
ta todos os Estados da OEA, independentemente dos, ou seja, a cada 02 anos a Assembleia da OEA
de serem signatários da CADH. escolhe 03 ou 04 representantes da Comissão.
  
Artigo 36 Os mandatos serão contados a partir de 1º de ja-
neiro do ano seguinte ao da eleição, na forma do
1. Os membros da Comissão, serão eleitos a artigo 6º do Estatuto da CIDH.
título pessoal, pela Assembleia-Geral da
organização, de uma lista de candidatos No item 2, consta regra que reforça a diversidade
propostos pelos governos dos Estados- de composição da Comissão. Apesar de não fi-
-Membros. gurarem na CIDH como delegados de um Estado,
2. Cada um dos referidos governos pode mas sim a título pessoal, não é permitida a com-
propor até três candidatos, nacionais do posição simultânea do órgão por mais de um
Estado que os propuser ou de qualquer ou- nacional de um mesmo País.
tro Estado-Membro da organização dos
Estados Americanos. Quando for proposta
Artigo 38
uma lista de três candidatos, pelo menos
um deles deverá ser nacional de Estado
diferente do proponente. As vagas que ocorrerem na Comissão, que
não se devam à expiração normal do mandado,
serão preenchidas pelo Conselho Permanente da
Comentários: Os sete comissários são indica-
dos pela Assembleia-Geral da OEA, de uma lista Organização, de acordo com o que dispuser o Es-
tríplice proposta pelos Estados-membros. tatuto da Comissão.

Os candidatos poderão ser nacionais de qual- Comentários: As hipóteses típicas de escolha


quer Estado da OEA, contudo, cada Estado terá dos integrantes da Comissão são objeto do arti-
que indicar, na lista tríplice, pelo menos um can- go 37.
didato que não seja seu nacional.
O artigo 38 trata das hipóteses atípicas, quando
Atenção! Os comissários gozam, a partir do ocorrem vacâncias durante o período do manda-
momento de sua eleição e enquanto durar seu to (por renúncia, doença ou morte de comissá-
mandato, das imunidades reconhecidas pelo rio, declaração de incompatibilidade do membro
direito internacional aos agentes diplomáticos pela Assembleia da OEA ou outra razão).
e dos privilégios diplomáticos necessários ao Nesses casos quem irá indicar o substituto para a
desempenho de suas funções. vaga será o Conselho Permanente da OEA, obser-
vada a lista de indicações dos Estados, conforme
Artigo 37 disposto no artigo 11 do Estatuto da CIDH. Caso
a vacância ocorra faltando menos de 6 meses
do término regular do mandato, a vaga não será
1. Os membros da Comissão serão eleitos preenchida (artigo 11.4 do Estatuto).
por quatro anos e só poderão ser reelei-

54
#LEGIS

Artigo 39 A principal diferença entre as funções da CIDH


no âmbito da OEA e as suas funções no âmbito
A Comissão elaborará seu estatuto e sub- da CADH é a possibilidade de encaminhamento
metê-lo-á à aprovação da Assembleia-Geral e de petições à Corte IDH em face de Estados-
partes, que tenham ratificado a competência
expedirá seu próprio regulamento. jurisdicional da Corte, e que não tenham cum-
prido às determinações de providências constan-
Comentários: tanto o Estatuto quanto o Regula- tes nos relatórios da Comissão.
mento são normas internas que regulam o fun-
cionamento dos procedimentos na Comissão, A Comissão caracteriza-se, portanto, no âmbito
sendo de observância obrigatória tanto pelos co- do Sistema Interamericano, como um órgão de
missários como por peticionantes. monitoramento, consulta e recomendação acer-
ca da situação dos direitos humanos no Conti-
A Comissão teve um primeiro Estatuto aprovado nente americano. Sendo ainda responsável, no
em 1960 pelo Conselho Permanente da OEA, oca- caso dos Estados signatários da CADH, pela ad-
sião em que foi formalmente instalada. Contudo missibilidade, processamento e remessa de pe-
o Estatuto atualmente em vigor é o aprovado tições referentes a casos específicos de violações
pela Resolução AG/RES. 447 (IX-O/79), posterior de direitos humanos à Corte IDH.
à assinatura da CADH.
Artigo 41
Artigo 40
A Comissão tem a função principal de pro-
Os serviços de secretaria da Comissão de- mover a observância e a defesa dos direitos
vem ser desempenhados pela unidade funcional humanos e, no exercício do seu mandato, tem as
especializada que faz parte da Secretaria-Geral seguintes funções e atribuições:
da Organização e deve dispor dos recursos ne-
cessários para cumprir as tarefas que lhe forem Comentários: O conjunto de atribuições listados
confiadas pela Comissão. nas alíneas do artigo 41 se cumprem à realização
da função de promoção da observância e defesa
dos direitos humanos no Continente Americano,
Comentários: a Secretaria Executiva da CIDH é com a finalidade de se estabelecer um parâme-
composta pelo/a secretário/a executivo/a, se- tro mínimo de proteção regional.
cretario/a adjunto/a e todo o pessoal técnico e
administrativo necessário ao desempenho das    
atividades da Comissão, na forma do artigo 11 do a) estimular a consciência dos direitos hu-
Regulamento. manos nos povos da América;
b) formular recomendações aos gover-
SEÇÃO 2 – FUNÇÕES nos dos Estados-Membros, quando o con-
siderar conveniente, no sentido de que
adotem medidas progressivas em prol
Comentários: No que concerne às atribuições da dos direitos humanos no âmbito de suas
Comissão, ante o seu caráter dúplice de Órgão da leis internas e seus preceitos constitucio-
OEA e da CADH, importa tecer alguns comentá- nais, bem como disposições apropriadas
rios sobre o alcance dessa competência em re- para promover o devido respeito a esses
lação a países signatários e não signatários da direitos;
Convenção.

No âmbito da OEA, as atribuições da Convenção Comentários: A obrigatoriedade das recomen-


estão previstas no art. 106 da Carta da OEA e no dações proferidas pela Comissão, por não
seu Estatuto de 1979 (art. 18). Na CADH, essas constar, ao contrário do que ocorre com as de-
funções estão listadas no art. 41 e disciplinadas cisões oriundas da Corte, de forma expressa
no Regulamento de 2013 (versão atualmente em na CADH, é objeto de divergências na doutrina
vigor). O regulamento traz inclusive a previsão de e na jurisprudência pátrias. Ao tempo em que
atribuições não expressamente mencionadas na a doutrina internacionalista aponta para o dever
CADH, mas implícitas na realização do propósito de cumprimento pelos Estados partes em decor-
das demais atribuições. rência do princípio geral de direito internacional

55
#LEGIS

da boa-fé, parte importante da doutrina nacional “O art. 2º, c/c o art. 29, da Convenção Americana
diferencia essas deliberações da Comissão da- de Direitos Humanos (Pacto de São José da Cos-
quelas provindas da Corte em razão da “ausência ta Rica) prevê a adoção, pelos Estados Partes, de
de efeito cogente ou vinculante” das primeiras. “medidas legislativas ou de outra natureza” vi-
sando à solução de antinomias normativas que
possam suprimir ou limitar o efetivo exercício de
Jurisprudência: Sobre o efeito vinculante das direitos e liberdades fundamentais.
deliberações oriundas da CIDH em âmbito in-
terno, já entendeu o Superior Tribunal de Jus- 5. Na sessão de 4/2/2009, a Corte Especial do
tiça tanto pela sua ausência, quanto pela obri- Superior Tribunal de Justiça, ao julgar, pelo rito
gatoriedade de sua observância. Vide: do art. 543-C do CPC/1973, o Recurso Especial
914.253/SP, de relatoria do Ministro LUIZ FUX,
“De acordo com o art. 41 do Pacto de São adotou o entendimento firmado pelo Supre-
José da Costa Rica, as funções da Comissão mo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário
Interamericana de Direitos Humanos não os- 466.343/SP, no sentido de que os tratados de di-
tentam caráter decisório, mas tão somente reitos humanos, ratificados pelo país, têm força
instrutório ou cooperativo. Desta feita, de- supralegal, “o que significa dizer que toda lei an-
preende-se que a CIDH não possui função ju- tagônica às normas emanadas de tratados inter-
risdicional. nacionais sobre direitos humanos é destituída de
validade.”
4. A Corte Internacional de Direitos Humanos
(IDH), por sua vez, é uma instituição judiciária 6. Decidiu-se, no precedente repetitivo, que, “no
autônoma cujo objetivo é a aplicação e a inter- plano material, as regras provindas da Conven-
pretação da Convenção Americana sobre Direi- ção Americana de Direitos Humanos, em relação
tos Humanos, possuindo atribuição jurisdicio- às normas internas, são ampliativas do exercício
nal e consultiva, de acordo com o art. 2º do seu do direito fundamental à liberdade, razão pela
respectivo Estatuto. qual paralisam a eficácia normativa da regra in-
terna em sentido contrário, haja vista que não se
5. As deliberações internacionais de direitos trata aqui de revogação, mas de invalidade.”
humanos decorrentes dos processos de res-
ponsabilidade internacional do Estado podem 7. A adequação das normas legais aos tratados e
resultar em: recomendação; decisões quase ju- convenções internacionais adotados pelo Direito
diciais e decisão judicial. A primeira revela-se Pátrio configura controle de constitucionalidade,
ausente de qualquer caráter vinculante, osten- o qual, no caso concreto, por não se cuidar de
tando mero caráter “moral”, podendo resultar convenção votada sob regime de emenda consti-
dos mais diversos órgãos internacionais. Os tucional, não invade a seara do controle de cons-
demais institutos, porém, situam-se no âmbito titucionalidade e pode ser feito de forma difusa,
do controle, propriamente dito, da observân- até mesmo em sede de recurso especial.
cia dos direitos humanos.
8. Nesse particular, a Corte Interamericana de
6. Com efeito, as recomendações expedi- Direitos Humanos, quando do julgamento do
das pela CIDH não possuem força vinculan- caso Almonacid Arellano y otros v. Chile, passou
te, mas tão somente “poder de embaraço” a exigir que o Poder Judiciário de cada Estado
ou “mobilização da vergonha”. Parte do Pacto de São José da Costa Rica exerça
o controle de convencionalidade das normas ju-
7. Embora a Comissão Interamericana de Di- rídicas internas que aplica aos casos concretos.
reitos Humanos já tenha se pronunciado 9. Por conseguinte, a ausência de lei veiculadora
sobre o tema “leis de desacato”, não há pre- de abolitio criminis não inibe a atuação do Poder
cedente da Corte relacionada ao crime de de- Judiciário na verificação da inconformidade do
sacato atrelado ao Brasil. art. 331 do Código Penal, que prevê a figura típica
do desacato, com o art. 13 do Pacto de São José
(...) da Costa Rica, que estipula mecanismos de pro-
teção à liberdade de pensamento e de expressão.
20. Habeas Corpus não conhecido”.
[STJ. HC - HABEAS CORPUS - 379269, TERCEIRA 10. A Comissão Interamericana de Direitos Hu-
SEÇÃO; Data de julgamento 24-5-2017] manos - CIDH já se manifestou no sentido de

56
#LEGIS

que as leis de desacato se prestam ao abuso, Comentários: No exercício de suas atribuições


como meio para silenciar ideias e opiniões con- a Comissão poderá redigir 4 tipos principais de
sideradas incômodas pelo establishment, bem relatórios:
assim proporcionam maior nível de proteção 1. Os relatórios temáticos que irão abordar a si-
aos agentes do Estado do que aos particulares, tuação de implementação de determinados di-
em contravenção aos princípios democrático e reitos humanos, assegurados pela CADH, nos Es-
igualitário. tados-partes;

11. A adesão ao Pacto de São José significa a 2. Os relatórios de recomendações que podem
transposição, para a ordem jurídica interna, ou não estar vinculados a uma petição específica
de critérios recíprocos de interpretação, sob de violação;
pena de negação da universalidade dos valo-
res insertos nos direitos fundamentais inter- 3. Os relatórios de solução amistosa, redigidos
nacionalmente reconhecidos. Assim, o método quando após um relatório de recomendação ou
hermenêutico mais adequado à concretização no decorrer do processamento de uma petição
da liberdade de expressão reside no postula- na CIDH, o Estado-parte se compromete expres-
do pro homine, composto de dois princípios samente a adotar as medidas progressivas de ob-
de proteção de direitos: a dignidade da pessoa servância e reparação dos direitos cuja violação
humana e a prevalência dos direitos humanos. foi apontada pela CIDH;

12. A criminalização do desacato está na con- 4. O relatório anual que é apresentado pela CIDH
tramão do humanismo, porque ressalta a pre- na Assembleia da OEA e que aponta a situação
ponderância do Estado - personificado em seus de implementação dos direitos humanos nos
agentes - sobre o indivíduo. países-membros.
    
13. A existência de tal normativo em nosso orde-
e) atender às consultas que, por meio da
namento jurídico é anacrônica, pois traduz desi-
Secretaria-Geral da Organização dos Esta-
gualdade entre funcionários e particulares, o que
dos Americanos, lhe formularem os Esta-
é inaceitável no Estado Democrático de Direito.
dos-Membros sobre questões relaciona-
das com os direitos humanos e, dentro de
14. Punir o uso de linguagem e atitudes ofen-
suas possibilidades, prestar-lhes o asses-
sivas contra agentes estatais é medida capaz
soramento que eles lhe solicitarem;
de fazer com que as pessoas se abstenham de
usufruir do direito à liberdade de expressão,
por temor de sanções penais, sendo esta uma Comentários: A alínea ‘e’ do artigo 41 versa so-
das razões pelas quais a CIDH estabeleceu a bre a atribuição consultiva da CIDH. Assim como
recomendação de que os países aderentes ao a Corte, a CIDH dispõe da atribuição de interpre-
Pacto de São Paulo abolissem suas respectivas tar a Convenção e demais instrumentos jurídicos
leis de desacato. interamericanos, sempre que sobre eles for insta-
da pelos Estados-membros da OEA, seja quanto
15. Recurso especial conhecido em parte, e nes- a aplicabilidade, alcance de seus dispositivos, ou
sa extensão, parcialmente provido para afastar a mesmo sobre a compatibilidade de disposições
condenação do recorrente pelo crime de desaca- de direito interno com as normas interamerica-
to (art. 331 do CP).” nas que veiculam direitos humanos.
[STJ. RESP - RECURSO ESPECIAL - 1640084, QUIN-
TA TURMA; Data de julgamento 15-12-2016]
Aprofundando: Segundo a opinião consultiva
nº. 13 de 1993 da Corte IDH:
c) preparar os estudos ou relatórios que
considerar convenientes no desempenho “O que a Comissão deve verificar, em um caso
de suas funções; concreto, é se o disposto pela norma contradiz
d) solicitar aos governos dos Estados- a Convenção e não se contradiz o ordenamento
-Membros que lhe proporcionem informa- jurídico interno do Estado. A atribuição outorga-
ções sobre as medidas que adotarem em da à Comissão para “formular recomendações
matéria de direitos humanos; [...] aos governos dos Estados Membros para que
adotem medidas progressivas em favor dos direi-

57
#LEGIS

tos humanos dentro do marco de suas leis inter- mente às Comissões Executivas do Conselho
nas e seus preceitos constitucionais” (art. 41. Interamericano Econômico e Social e do Con-
selho Interamericano de Educação, Ciência
b) ou o compromisso dos Estados de adotar as e Cultura, a fim de que aquela vele por que se
medidas legislativas necessárias para tornar
promovam os direitos decorrentes das normas
efetivos os direitos y liberdades garantidos pela
Convenção “com esteio em seus procedimentos econômicas, sociais e sobre educação, ciência
constitucionais” (art. 2), não dotam a Comissão e cultura, constantes da Carta da Organização
da faculdade de qualificar o cumprimento pelo dos Estados Americanos, reformada pelo Proto-
Estado dos preceitos constitucionais na elabora- colo de Buenos Aires.
ção de suas normas internas.
Artigo 43
No âmbito internacional o que interessa de-
terminar é se uma lei interna resulta em uma
Os Estados Partes obrigam-se a propor-
violação das obrigações internacionais assu-
midas por um Estado em virtude de um trata- cionar à Comissão as informações que esta
do. Isto pode e deve ser feito pela Comissão na lhes solicitar sobre a maneira pela qual o seu
hora de analisar as comunicações e petições sub- direito interno assegura a aplicação efetiva de
metidas a seu conhecimento sobre violações de quaisquer disposições desta Convenção.
direitos humanos e liberdades protegidos pela
Convenção. Comentários: Os artigos 42 e 43 versam sobre
os deveres específicos de informação dos Esta-
f) atuar com respeito às petições e outras dos em face da Comissão, para que esta possa
comunicações, no exercício de sua auto- exercer de forma efetiva a sua função de monito-
ridade, de conformidade com o disposto ramento da promoção e defesa dos direitos hu-
nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e manos no âmbito regional.

Comentários: A alínea ‘f’ do artigo 41 indica a


Aprofundando: No que tange à obrigação cons-
atribuição semi-judicial da CIDH, no sentido de
tante do artigo 43 (assim como o artigo 48.d),
recebimento, análise de admissibilidade, proces-
o Brasil estabeleceu, por meio de Decreto nº.
samento, análise probatória e remessa ou não
678/1992, uma declaração interpretativa nos se-
de petições sobre casos individuais à Corte. Essa
guintes termos:
atribuição será melhor analisada nos artigos 44 a
51, adiante.
Art. 2° (...) “O Governo do Brasil entende que os
arts. 43 e 48, alínea d, não incluem o direito au-
g) apresentar um relatório anual a As- tomático de visitas e inspeções in loco da Co-
sembleia-Geral da Organização dos Esta- missão Interamericana de Direitos Humanos,
dos Americanos. as quais dependerão da anuência expressa do
Comentários: A alínea ‘g’ do artigo 41 trata sobre Estado”.
a atribuição da Comissão de apresentar informes
anuais à OEA acerca da situação de implementa- Importa assinalar que a referida interpretação
ção dos direitos humanos nos países membros. não se configura como reserva ao tratado, man-
tendo-se integralmente a obrigação de fornecer
Nessa atribuição, a Comissão poderá exercer, as informações demandadas à Comissão.
através do constrangimento público internacio-
nal, um controle, ainda que tênue, da situação
de direitos humanos em face de Estados não sig- SEÇÃO 3 — COMPETÊNCIA
natários da CADH ou que não tenham ratificado a
jurisdição da Corte. Artigo 44

Artigo 42 Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou


entidade não-governamental legalmente re-
Os Estados Partes devem remeter à Co- conhecida em um ou mais Estados membros da
missão cópia dos relatórios e estudos que, em Organização, pode apresentar à Comissão peti-
seus respectivos campos, submetem anual-

58
#LEGIS

ções que contenham denúncias ou queixas de com os princípios de direito internacional


violação desta Convenção por um Estado Parte. geralmente reconhecidos;

Comentários: Ao contrário do que ocorre com a Comentários: Este requisito se explica em virtu-
Corte IDH (que possui uma via restrita de aces- de do caráter subsidiário que o sistema intera-
so), a legitimidade para a instauração de uma de- mericano de proteção dos direitos humanos tem
núncia no âmbito da Comissão é bastante ampla, em relação à proteção a ser proporcionada pelos
sendo admitido que qualquer pessoa, grupo de Estados. Dessa forma, os Estados têm a possibili-
pessoas ou ONG (legalmente reconhecida) dê iní- dade de resolver a nível interno uma situação en-
cio ao processo contencioso contra um Estado- volvendo violações dos direitos humanos, antes
-parte acerca de violações à CADH. de se verem expostos a um processo internacio-
nal.
Artigo 45
Jurisprudência: Na forma do que já entendeu a
1. Todo Estado Parte pode, no momento do Corte IDH no caso Velasquez Rodriguez vs Hon-
depósito do seu instrumento de ratificação duras, tais recursos internos devem estar vol-
desta Convenção ou de adesão a ela, ou tados a “investigar e sancionar toda violação
em qualquer momento posterior, declarar dos direitos reconhecidos pela Convenção e
que reconhece a competência da Comissão procurar, além disso, o restabelecimento, se
para receber e examinar as comunicações possível, do direito violado, e, por outro lado,
em que um Estado Parte alegue haver ou- a reparação dos danos produzidos pela viola-
tro Estado Parte incorrido em violações dos ção dos direitos humanos”.
direitos humanos estabelecidos nesta Con-
venção.
b) que seja apresentada dentro do prazo
de seis meses, a partir da data em que o
2. As comunicações feitas em virtude deste
presumido prejudicado em seus direitos te-
artigo só podem ser admitidas e examina-
nha sido notificado da decisão definitiva;
das se forem apresentadas por um Estado
Parte que haja feito uma declaração pela c) que a matéria da petição ou comunica-
qual reconheça a referida competência da ção não esteja pendente de outro proces-
Comissão. A Comissão não admitirá ne- so de solução internacional; e
nhuma comunicação contra um Estado
Parte que não haja feito tal declaração. d) que, no caso do artigo 44, a petição con-
tenha o nome, a nacionalidade, a profis-
3. As declarações sobre reconhecimento são, o domicílio e a assinatura da pessoa
de competência podem ser feitas para que ou pessoas ou do representante legal da
esta vigore por tempo indefinido, por perío- entidade que submeter a petição.
do determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Se- Comentários: O artigo 46.1 versa sobre os requi-
cretaria-Geral da Organização dos Estados sitos formais de admissibilidade de denúncias ao
Americanos, a qual encaminhará cópia das Sistema Interamericano de Direitos Humanos,
mesmas aos Estados membros da referida sendo os mais importantes: o esgotamento dos
Organização. recursos internos e a necessidade de escolha por
um único sistema de proteção internacional (in-
teramericano ou mundial). Esses requisitos se
Artigo 46 referem apenas aos processos de natureza con-
tenciosa, cuja primeira fase, via de regra, ocorre
1. Para que uma petição ou comunicação no âmbito da Comissão.
apresentada de acordo com os artigos 44
ou 45 seja admitida pela Comissão, será
necessário: 2. As disposições das alíneas a e b do inciso
1 deste artigo não se aplicarão quando:
a) que hajam sido interpostos e esgotados
os recursos da jurisdição interna, de acordo a) não existir, na legislação interna do Es-
tado de que se tratar, o devido processo le-

59
#LEGIS

gal para a proteção do direito ou direitos d) for substancialmente reprodução de


que se alegue tenham sido violados; petição ou comunicação anterior, já exa-
b) não se houver permitido ao presumido minada pela Comissão ou por outro orga-
prejudicado em seus direitos o acesso aos nismo internacional.
recursos da jurisdição interna, ou houver
sido ele impedido de esgotá-los; e Comentários: As situações constantes dos itens
47.a, e 47.d, parte final correspondem ao preen-
c) houver demora injustificada na decisão chimento dos requisitos já mencionado no art.
sobre os mencionados recursos. 46. No 47.d, além da menção a impossibilidade
de acionamento simultâneo de mecanismos in-
Comentários: O artigo 46.2 traz as exceções ao ternacionais de proteção, há também a veda-
requisito de prévio esgotamento dos recursos in- ção à repropositura de demandas. O artigo 47.c
ternos. É muito importante dominar essas exce- traz hipótese de inadmissibilidade por completa
ções, pois grande parte das denúncias ocorrem ausência de fundamento jurídico (inépcia) ou
em uma dessas hipóteses. manifesta improcedência.

O item 47.b traz, a contrario sensu, a condição


Aprofundando: No que tange ao esgotamento MATERIAL de admissibilidade de uma petição
dos recursos internos, já entendeu a Corte IDH no âmbito do SIDH, qual seja, a situação fática
na OC nº. 11/90: deve necessariamente narrar uma violação a
um direito ou garantia enumerado na Conven-
“Que se, por razões de indigência ou temor ção Americana de Direitos Humanos.
generalizado dos advogados para representá-
-lo legalmente, um reclamante alegar perante
A Convenção configura, dessa forma, o funda-
a Comissão que se viu impedido de utilizar os
mento jurídico central do Sistema Interameri-
recursos internos necessários para proteger um
cano de Proteção de Direitos Humanos, no qual
direito garantido pela Convenção, não lhe pode
deve estar balizada qualquer denúncia endere-
ser exigido o esgotamento”.
çada à CIDH.
Não obstante, entendeu na mesma oportunida-
de:
SEÇÃO 4 — PROCESSO
“Que, nas hipóteses narradas, se o Estado Par-
te provar a disponibilidade dos recursos inter-
nos, caberá ao reclamante demostrar/provar Artigo 48
a aplicabilidade das exceções do artigo 46.2 e
que se viu impedido de obter a assistência le- 1. A Comissão, ao receber uma petição
gal necessária para a proteção ou garantia de ou comunicação na qual se alegue viola-
direitos reconhecidos na Convenção”. ção de qualquer dos direitos consagrados
nesta Convenção, procederá da seguinte
maneira:
Artigo 47
a) se reconhecer a admissibilidade da
A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação, solicitará infor-
petição ou comunicação apresentada de acordo mações ao Governo do Estado ao qual
com os artigos 44 ou 45 quando: pertença a autoridade apontada como
responsável pela violação alegada e
a) não preencher algum dos requisitos es- transcreverá as partes pertinentes da pe-
tabelecidos no artigo 46; tição ou comunicação. As referidas infor-
mações devem ser enviadas dentro de um
b) não expuser fatos que caracterizem
prazo razoável, fixado pela Comissão ao
violação dos direitos garantidos por esta
considerar as circunstâncias de cada caso;
Convenção;
b) recebidas as informações, ou trans-
c) pela exposição do próprio peticionário corrido o prazo fixado sem que sejam elas
ou do Estado, for manifestamente infun- recebidas, verificará se existem ou sub-
dada a petição ou comunicação ou for evi- sistem os motivos da petição ou comuni-
dente sua total improcedência; ou cação. No caso de não existirem ou não

60
#LEGIS

subsistirem, mandará arquivar o expe- o processo a uma solução amistosa ou a uma in-
diente; vestigação criteriosa dos fatos expostos.
c) poderá também declarar a inadmissibi-
O item 48.2 traz uma importante faculdade da
lidade ou a improcedência da petição ou
CIDH no âmbito de análise e processamento das
comunicação, com base em informação
petições individuais, a possibilidade de realiza-
ou prova supervenientes;
ção de visitas in loco, aos Estados que tenham
d) se o expediente não houver sido arqui- sido denunciados com ‘palco’ das violações de
vado, e com o fim de comprovar os fatos, direitos humanos. Essa atribuição é fundamental
a Comissão procederá, com conhecimen- para assegurar uma melhor compreensão das si-
to das partes, a um exame do assunto tuações denunciadas, além de um contato mais
exposto na petição ou comunicação. Se próximos com as presuntas vítimas das violações
for necessário e conveniente, a Comissão que, não raras vezes, não conseguem se deslocar
procederá a uma investigação para cuja à sede do órgão.
eficaz realização solicitará, e os Estados
interessados lhes proporcionarão todas
as facilidades necessárias; Atenção: A realização da investigação in loco
dependerá de prévia autorização do Estado
e) poderá pedir aos Estados interessados onde teria ocorrido a violação, na forma do
qualquer informação pertinente e rece- art. 48.2!
berá, se isso lhe for solicitado, as exposi-
ções verbais ou escritas que apresenta-
rem os interessados; e Aprofundando: O Regulamento da CIDH além
de esmiuçar os procedimentos internos refe-
f) pôr-se-á à disposição das partes inte- rentes à apreciação dos casos contenciosos
ressadas, a fim de chegar a uma solução submetidos à Comissão também traz uma atri-
amistosa do assunto, fundada no respei- buição específica do órgão, não listada de for-
to aos direitos humanos reconhecidos ma expressa na CADH: As medidas cautelares.
nesta Convenção. As medidas cautelares emitidas pela Comis-
2. Entretanto, em casos graves e urgentes, são, por sua vez, não têm caráter convencio-
pode ser realizada uma investigação, nal, mas derivam de poderes implícitos do ór-
mediante prévio consentimento do Esta- gão, consubstanciados em seu Estatuto e em
do em cujo território se alegue haver sido seus sucessivos regulamentos.
cometida a violação, tão somente com a
apresentação de uma petição ou comuni- O art. 25.1 do Regulamento dispõe:
cação que reúna todos os requisitos for-
mais de admissibilidade. “Em situações de gravidade e urgência a Co-
missão poderá, por iniciativa própria ou a pe-
dido da parte, solicitar que um Estado adote
Comentários: O artigo 48 disciplina em linhas medidas cautelares para prevenir danos irre-
gerais o trâmite de uma petição na Comissão. paráveis às pessoas ou ao objeto do processo
Proposta a petição, a Comissão realizará um juízo relativo a uma petição ou caso em avaliação.”
prévio de admissibilidade, observado o disposto
nos artigos 46 e 47 da CADH. Essas medidas poderão ser outorgadas pela
Comissão inclusive de ofício e sem que haja
Após a manifestação do Estado acusado da vio-
um caso sob sua apreciação (art. 25.2), bem
lação, a Comissão poderá realizar novo juízo de
como podem ser de natureza individual ou co-
admissibilidade, consideradas as informações
letiva (art. 25.3).
trazidas no contraditório.

A qualquer tempo, comprovada a improcedência A outorga de medidas cautelares dependerá da


ou insubsistência das alegações constantes da comprovação da gravidade e urgência da situa-
petição, a Comissão poderá proceder ao seu ar- ção, do prévio acionamento de instâncias inter-
quivamento. Não obstante, configurada a higidez nas do país denunciado ou da comprovação de
da denúncia submetida ao órgão e, dependendo sua impossibilidade, da identificação individual
da gravidade das violações e da intenção das dos potenciais beneficiários e de sua concordân-
partes em conciliar, a Comissão poderá conduzir cia expressa, quando possível, e prévia manifes-

61
#LEGIS

tação do Estado, salvo de a urgência da situação missão, a decisão relativa à solução amistosa
o impedir. deve gozar do mesmo caráter vinculante, defi-
nitivo e executivo que teria a decisão tomada
Seu caráter vinculante emana da função que no final do processo.
detém a CIDH de aplicar a CADH e da neces-
sidade de preservar o objeto de litígio ou os
direitos tutelados pelo tratado até posterior Artigo 50
relatório de mérito ou decisão da Corte. Caso
descumpridas as cautelares, o processo poderá 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro
ser remetido à Corte IDH, nos termos do artigo do prazo que for fixado pelo Estatuto da Co-
63.2, parte final, da CADH, para que a Corte apre- missão, esta redigirá um relatório no qual
cie a pertinência de editar medidas provisórias. exporá os fatos e suas conclusões. Se o
relatório não representar, no todo ou em
parte, o acordo unânime dos membros da
Artigo 49 Comissão, qualquer deles poderá agregar
ao referido relatório seu voto em separado.
Se se houver chegado a uma solução amis- Também se agregarão ao relatório as expo-
tosa de acordo com as disposições do inciso 1, f, sições verbais ou escritas que houverem
do artigo 48, a Comissão redigirá um relatório sido feitas pelos interessados em virtude
que será encaminhado ao peticionário e aos do inciso 1, e, do artigo 48.
Estados Partes nesta Convenção e, posterior-
mente, transmitido, para sua publicação, ao 2. O relatório será encaminhado aos Esta-
Secretário-Geral da Organização dos Estados dos interessados, aos quais não será facul-
Americanos. O referido relatório conterá uma tado publicá-lo.
breve exposição dos fatos e da solução alcan-
çada. Se qualquer das partes no caso o solicitar,
ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informa- 3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão
pode formular as proposições e reco-
ção possível. mendações que julgar adequadas.

Comentários: os relatórios de solução amistosa


Comentários: Caso comprovada a violação a
correspondem aos pronunciamentos do órgão
direito assegurado pela CADH e não se obtenha
que contenham compromissos do Estado em
uma solução amistosa, será redigido um relató-
adotar providências para fazer sanar as violações
rio preliminar de mérito, de caráter confidencial
indicadas pelos peticionantes e reparar even-
(artigo 44.2 do Regulamento) contendo os fatos
tuais danos já causados aos direitos humanos
denunciados, o exame das alegações, as provas
das vítimas.
apresentadas pelas partes, a informação obtida
em audiências e mediante investigações in loco,
Aprofundando: Os relatórios, segundo o artigo as conclusões da Comissão e recomendações aos
49 da Convenção, deveriam conter a “solução al- Estados. As recomendações terão o intuito de fa-
cançada”, o que exigiria uma discussão sobre a zer cessar os atos que violam direitos humanos;
supervisão de seu cumprimento. esclarecer os fatos e realizar uma investigação
oficial; reparar os danos ocasionados; introduzir
Porém, há precedentes em que se estabelecem mudanças no ordenamento jurídico ou outras
compromissos para solucionar futuramente as medidas que se façam adequadas e pertinentes
violações que deram ensejo à petição (p. ex. Caso à proteção dos direitos violados.
Roison Mora Rubiano X Colombia).
As deliberações da Comissão serão privadas, e
Nesses casos, em que o relatório estabelece com- todos os aspectos do debate serão confidenciais.
promissos de resolução futura das situações de
violação relatadas à Comissão, na medida em Os peticionários serão notificados acerca do re-
que essa solução estabeleça o término anteci- latório e sua remessa ao Estado para que mani-
pado do processo contencioso convencional, festem o interesse de submissão do caso à Corte,
conduzido com compromisso pleno do Estado, a caso o Estado-parte tenha ratificado a sua juris-
aquiescência das vítimas e a supervisão da Co- dição.

62
#LEGIS

mento total ou parcial das recomendações ou


Artigo 51 erro material nos relatórios anteriores.

1. Se no prazo de três meses, a partir da O pedido de modificação somente poderá ser


remessa aos Estados interessados do rela- feito pelas partes interessadas, ou seja, os peti-
tório da Comissão, o assunto não houver cionários e/ou o Estado, antes da publicação do
sido solucionado ou submetido à decisão próprio informe, dentro de um prazo razoável
da Corte pela Comissão ou pelo Estado contado a partir de sua notificação.
interessado, aceitando sua competência,
a Comissão poderá emitir, pelo voto da Em tal hipótese será outorgado às partes interes-
maioria absoluta dos seus membros, sua sadas a oportunidade de debater sobre as provi-
opinião e conclusões sobre a questão dências adotadas ou erros materiais que teriam
submetida à sua consideração. motivado sua petição, de acordo com o princípio
de equidade processual.
2. A Comissão fará as recomendações
pertinentes e fixará um prazo dentro do Sob nenhuma circunstância a CADH faculta à
qual o Estado deve tomar as medidas que Comissão emitir um terceiro informe”.
lhe competirem para remediar a situação
examinada.
Anotações sobre os artigos anteriores:
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão
decidirá, pelo voto da maioria absoluta
dos seus membros, se o Estado tomou ou
não medidas adequadas e se publica ou
não seu relatório.

Comentários: Se as medidas constantes do re-


latório preliminar de mérito não forem adotadas
pelo Estado e não for possível a sua submissão à
Corte IDH, a Comissão elaborará um novo relató-
rio.

O relatório definitivo de mérito será remetido


ao Estado com as recomendações pertinentes
e caso a maioria da Comissão entenda que as
providências não foram cumpridas para repa-
ração dos direitos violados, o relatório será
publicado, expondo as denúncias de violações
à comunidade internacional.

A publicação se repetirá até que a Comissão en-


tenda solucionada a demanda.

Jurisprudência: A Corte IDH já entendeu, na


Opinião Consultiva nº. 15 de 1997, acerca da in-
terpretação do disposto no artigo 51 da CADH, o
seguinte:

“Que não está facultado à Comissão Interame-


ricana de Direitos Humanos, no exercício das
atribuições conferidas pelo artigo 51 da Conven-
ção Americana sobre Direitos Humanos, modifi-
car as opiniões, conclusões e recomendações
transmitidas a um Estado Membro, salvo em
circunstancias excepcionais, como cumpri-

63
#LEGIS

Para Fixação: b) Hoje, para que um Estado possa aderir à Organi-


zação dos Estados Americanos, deve ser membro
Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: DPE- da Convenção Americana de Direitos Humanos.
-AM Prova: FCC - 2013 - DPE-AM - Defensor Pú-
blico c) A Comissão Interamericana de Direitos Huma-
nos foi criada pela Convenção Americana de Direi-
Segundo a Convenção Americana sobre Direi- tos Humanos, com a função exclusiva de receber
tos Humanos, qualquer pessoa ou grupo de denúncias de violação a direitos humanos nos Es-
pessoas, ou entidade não governamental le- tados-membros da Convenção.
galmente reconhecida em um ou mais Estados d) A Convenção Americana de Direitos Humanos
membros da Organização, pode apresentar à prevê um sistema de responsabilização por vio-
Comissão petições que contenham denúncias lação aos direitos nela reconhecidos; os Estados
ou queixas de violação desta Convenção por um que a ela aderirem, seguindo o procedimento de
Estado Parte. adoção de tratado internacional, externa e inter-
namente, exercem jurisdição subsidiária no que
Tais petições, segundo o mesmo tratado, de- se refere à proteção desses direitos.
vem obedecer a certas regras gerais de admissi-
bilidade, dentre as quais NÃO se inclui: e) A Comissão Interamericana de Direitos Huma-
nos exerce dupla função na proteção de direitos
a) A interposição e esgotamento dos recursos da humanos: uma no âmbito da própria Organização
jurisdição interna, de acordo com os princípios de dos Estados Americanos e outra dentro do sistema
direito internacional geralmente reconhecidos. da Convenção Americana de Direitos Humanos.
b) A apresentação dentro do prazo de seis meses,
a partir da data em que o presumido prejudicado
em seus direitos tenha sido notificado da decisão Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-
definitiva. -SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Investigador
de Polícia
c) A manifestação expressa de concordância da ví-
tima ou vítimas da alegada violação aos direitos
humanos. Segundo expressamente estabelecido pela
Convenção Americana de Direitos Humanos,
d) Que a petição contenha o nome, a nacionalida- apresentar petições que contenham denúncias
de, a profissão, o domicílio e a assinatura da pes- ou queixas de violação da Convenção por um
soa ou pessoas ou do representante legal da enti- Estado-parte perante a Comissão Interamerica-
dade que submeter a petição. na de Direitos Humanos é da competência de:
e) Que a matéria da petição ou comunicação que a) juízes criminais legalmente responsáveis para
não esteja pendente de outro processo de solução remeter o caso à Comissão
internacional.
b) membros da Defensoria Pública, do Ministério
públi- co, das Procuradorias Estaduais e Federais,
além de representantes governamentais investi-
Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: DPE- dos na função de polícia judiciária.
-MT Prova: UFMT - 2016 - DPE-MT - Defensor Pú-
blico c) qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou enti-
dade não governamental legalmente reconhecida
Sobre jurisdição e responsabilidade internacio- em um ou mais Estados-membros da Organiza-
nal, no que se refere à proteção dos Direitos Hu- ção.
manos, assinale a afirmativa correta. d) representantes do Ministério de Relações Exte-
riores de cada país interessado no esclarecimento
a) Os Estados que aderiram à Convenção Ame- da respectiva violação da Convenção.
ricana de Direitos Humanos submetem-se a sua
jurisdição, excluindo-se, assim, aquela prevista e) membros do Ministério Público legalmente in-
na Carta da Organização dos Estados Americanos, vestidos no respectivo cargo público de qualquer
quando da violação de direitos humanos. Estado-membro da Organização.

64
#LEGIS

Anotações gerais:

Gabarito: 01 – C | 02 - E | 03 - C

65
#LEGIS

DIA 9 Comentários: A Corte IDH é composta por sete


juízes de nacionalidades diferentes, provenien-
tes de Estados-membros da OEA, mesmo que
Disciplina: Direitos Humanos. esse Estado não seja parte da CADH.
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel
As condições de elegibilidade são aquelas pre-
Teles
vistas no direito interno para o cargo mais ele-
Dia 09: Do Art. 52 ao 69. vado do Poder Judiciário, variando de país para
país. No Brasil, a CF/88 exige idade mínima de
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 35 anos e máxima de 65 anos, além de notável
saber jurídico e reputação ilibada. Diferente-
mente da Comissão, os juízes do Tribunal devem
ter formação jurídica.
CAPÍTULO VIII
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS Artigo 53
HUMANOS
1. Os juízes da Corte serão eleitos, em vo-
Comentários: A Corte Interamericana é um dos tação secreta e pelo voto da maioria ab-
três Tribunais regionais de proteção dos Direi- soluta dos Estados Partes na Convenção,
tos Humanos, conjuntamente com a Corte Euro- na Assembléia Geral da Organização, de
peia de Direitos Humanos e a Corte Africana de uma lista de candidatos propostos pelos
Direitos Humanos e dos Povos. É uma instituição mesmos Estados.
judicial autônoma cujo objetivo é aplicar e in-           
terpretar a CADH.
2. Cada um dos Estados Partes pode pro-
A Corte Interamericana exerce uma função con- por até três candidatos, nacionais do Es-
tenciosa, dentro da qual se encontra a resolução tado que os propuser ou de qualquer outro
de casos contenciosos e o mecanismo de super- Estado membro da Organização dos Esta-
visão de sentenças; uma função consultiva; e a dos Americanos. Quando se propuser uma
função de ditar medidas provisórias. A primei- lista de três candidatos, pelo menos um
ra reunião da Corte foi realizada em 29 e 30 de deles deverá ser nacional de Estado dife-
junho 1979 na sede da OEA em Washington, D.C. rente do proponente.

Artigo 54
Seção 1 — Organização
1. Os juízes da Corte serão eleitos por um
Artigo 52 período de seis anos e só poderão ser ree-
leitos uma vez. O mandato de três dos juí-
1. A Corte compor-se-á de sete juízes, na- zes designados na primeira eleição expirará
cionais dos Estados membros da Orga- ao cabo de três anos. Imediatamente de-
nização, eleitos a título pessoal dentre pois da referida eleição, determinar-se-ão
juristas da mais alta autoridade moral, de por sorteio, na Assembléia Geral, os nomes
reconhecida competência em matéria de desses três juízes.
direitos humanos, que reúnam as condi-
ções requeridas para o exercício das mais 2. O juiz eleito para substituir outro cujo
elevadas funções judiciais, de acordo com mandato não haja expirado, completará o
a lei do Estado do qual sejam nacionais, período deste.
ou do Estado que os propuser como can-
didatos. 3. Os juízes permanecerão em funções até
o término dos seus mandatos. Entretanto,
continuarão funcionando nos casos de
2. Não deve haver dois juízes da mesma que já houverem tomado conhecimento e
nacionalidade. que se encontrem em fase de sentença e,
para tais efeitos, não serão substituídos
pelos novos juízes eleitos.

66
#LEGIS

Comentários: Os mandatos dos juízes serão con- Comentários: Essa previsão visa dar igualdade
tados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte de tratamento às partes na demanda (igual-
ao de sua eleição e estender-se-ão até 31 de de- dade de armas). Mas o dispositivo somente se
zembro do ano de sua conclusão (art. 5.2 do Es- aplica em casos entre Estados. Caso se trata de
tatuto da Corte IDH). O at. 54.2 prevê a hipótese demanda originada de petição individual, o
de mandato tampão para o caso de o mandato juiz nacional deve ser excluído do caso
do juiz ser encerrado antes do tempo inicialmen- [Opinião Consultiva nº 20/09].
te previsto (ex: morte).
3. Se, dentre os juízes chamados a conhe-
Jurisprudência: Os juízes continuarão funcio- cer do caso, nenhum for da nacionalidade
nando nos casos que estão na fase de sentença, dos Estados Partes, cada um destes poderá
mesmo expirado o seu mandato (princípio da designar um juiz ad hoc.
identidade física do juiz). Essa regra deve ser
aplicada inclusive para a decisão sobre a inter- 4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos
pretação de sentença a que se referem os art. 67 indicados no artigo 52.
da CADH
[Caso Godínez vs. Honduras. Sentença de
17.08.1990]. 5. Se vários Estados Partes na Convenção
tiverem o mesmo interesse no caso, serão
Assim, a decisão dos “embargos de declara- considerados como uma só Parte, para os
ção” (ver art. 67) deve também ser tomada, se fins das disposições anteriores. Em caso
possível, pelos juízes que sentenciaram o caso, de dúvida, a Corte decidirá.
mesmo que estejam com mandato expirado,
salvo no caso de falecimento, renúncia, impedi- Artigo 56
mento, escusa ou inabilitação (art. 68.3 do Regu-
lamento da Corte IDH). O quorum para as deliberações da Corte é
constituído por cinco juízes.
Artigo 55
Comentários: O artigo refere-se ao quórum para
1. O juiz que for nacional de algum dos Es- que a Corte possa funcionar e deliberar. Estan-
tados Partes no caso submetido à Corte, do presentes o mínimo de cinco juízes, as deci-
conservará o seu direito de conhecer do sões serão tomadas por maioria (art. 23 do Esta-
mesmo. tuto da Corte).

Comentários: Não impede a participação de Artigo 57


um juiz em dado julgamento perante a Corte o
fato de ser ele nacional de algum dos Estados- A Comissão comparecerá em todos os ca-
-parte no caso (demandante ou demandado).
sos perante a Corte.

ATENÇÃO! Essa regra somente se aplica em de-


mandas entre dois Estados (interestatal). Se a Comentários: A presença da CIDH é obrigatória
demanda for originada de uma petição indivi- em todos os casos apreciados pela Corte, tan-
dual (junto à CIDH, com posterior envio à Corte), to naqueles deflagrados pelo órgão, quanto na
havendo um juiz nacional do Estado demanda- hipótese de a ação ter sido proposta por um Es-
do ficará este magistrado impossibilitado de tado-parte contra outro (interestados). Nesse
participar do conhecimento do caso [Opinião sentido, além das atribuições definidas nos arts.
Consultiva nº 20/09]. 44 a 51, a CIDH tem a função de órgão auxiliar
da Justiça ou de parte sui generis processual.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer


do caso for de nacionalidade de um dos
Estados Partes, outro Estado Parte no Artigo 58
caso poderá designar uma pessoa de sua
escolha para fazer parte da Corte na quali- 1. A Corte terá sua sede no lugar que for
dade de juiz ad hoc. determinado, na Assembléia Geral da Or-
ganização, pelos Estados Partes na Con-

67
#LEGIS

venção, mas poderá realizar reuniões no Artigo 61


território de qualquer Estado membro da
Organização dos Estados Americanos em 1. Somente os Estados Partes e a Comissão
que o considerar conveniente pela maio- têm direito de submeter caso à decisão da
ria dos seus membros e mediante prévia Corte.
aquiescência do Estado respectivo. Os
Estados Partes na Convenção podem, na 2. Para que a Corte possa conhecer de qual-
Assembléia Geral, por dois terços dos seus quer caso, é necessário que sejam esgota-
votos, mudar a sede da Corte. dos os processos previstos nos artigos 48 a
50.
2. A Corte designará seu Secretário.
Comentários: Tanto particulares quanto as ins-
3. O Secretário residirá na sede da Corte e tituições privadas (ONGs, associações, empre-
deverá assistir às reuniões que ela realizar sas etc) estão impedidas de ingressar direta-
fora da mesma. mente na Corte IDH. No SIDH, a Comissão atua
como instância preliminar, podendo em segui-
  Comentários: A Corte IDH está sediada em San da submeter o caso ao Tribunal.
José, na Costa Rica. O acordo de sede (tratado
internacional para o estabelecimento da sede de Também pode acionar a Corte diretamente o
um tribunal ou organização internacional) entre Estado-parte, mas desde que o Estado acusado
o governo da Costa Rica e a Corte foi firmado em tenha aderido à sua jurisdição (nunca ocorreu
10 de setembro de 1981, que inclui o regime de uma demanda interestados). As vítimas ou seus
privilégios e imunidades da Corte, dos juízes, representantes só podem peticionar perante
do pessoal e das pessoas que comparecerem a Comissão, que, caso entenda cabível, poderá
perante o órgão. deflagrar uma ação contra o Estado acusado. O
procedimento de processamento de um Estado
perante a Corte vem detalhado no seu regula-
Artigo 59 mento.

A Secretaria da Corte será por esta esta-


Artigo 62
belecida e funcionará sob a direção do Secre-
tário da Corte, de acordo com as normas admi-
nistrativas da Secretaria-Geral da Organização 1. Todo Estado Parte pode, no momento
em tudo o que não for incompatível com a in- do depósito do seu instrumento de rati-
ficação desta Convenção ou de adesão a
dependência da Corte. Seus funcionários serão
ela, ou em qualquer momento posterior,
nomeados pelo Secretário-Geral da Organiza- declarar que reconhece como obrigató-
ção, em consulta com o Secretário da Corte. ria, de pleno direito e sem convenção espe-
cial, a competência da Corte em todos os
Artigo 60 casos relativos à interpretação ou aplica-
ção desta Convenção.
A Corte elaborará seu estatuto e submetê-
-lo-á à aprovação da Assembléia Geral e expedi-
Comentários: O dispositivo trata da cláusula
rá seu regimento. facultativa de jurisdição obrigatória (cláusula
Raul Fernandes, por ter sido proposta por esse
Comentários: A organização, procedimento e autor brasileiro), que permite a aceitação da
função da Corte estão regulados na Convenção competência contenciosa da Corte pelo Esta-
Americana, mas o Tribunal tem um Estatuto e do-Parte sobre todos os casos relativos às solu-
um Regulamento expedidos pela própria Corte ções de controvérsias acerca da interpretação
e aprovados pela Assembleia Geral da OEA. O ou aplicação da CADH. Caso o Estado-parte re-
Regulamento entrou em vigor em 1º de janeiro conheça a competência contenciosa, estará su-
de 2010, enquanto que o Estatuto entrou em vi- jeito a ser condenado pela Corte IDH.
gor em 1979.
2. A declaração pode ser feita incondicio-
Seção 2 — Competência e funções nalmente, ou sob condição de recipro-

68
#LEGIS

cidade, por prazo determinado ou para 1. Quando decidir que houve violação de
casos específicos. Deverá ser apresentada um direito ou liberdade protegidos nesta
ao Secretário-Geral da Organização, que Convenção, a Corte determinará que se
encaminhará cópias da mesma aos outros assegure ao prejudicado o gozo do seu di-
Estados membros da Organização e ao Se- reito ou liberdade violados. Determinará
cretário da Corte. também, se isso for procedente, que sejam
reparadas as conseqüências da medida
ou situação que haja configurado a viola-
Comentários: São quatro as formas de aceita-
ção desses direitos, bem como o pagamen-
ção da jurisdição contenciosa da Corte IDH:
to de indenização justa à parte lesada.
a) incondicionalmente;
b) sob condição de reciprocidade (condi- Comentários: O dever de reparar, extraído do
cional); art. 63 da CADH, tem sido reiteradamente enten-
dido pela Corte IDH, de forma ampla, compor-
c) por prazo determinado; tando todas aquelas medidas a serem adotadas
d) para casos específicos. O Brasil decla- pelo Estado condenado que tenham por objeti-
rou o reconhecimento da competência da vo extinguir as consequências da violação das
Corte em 1998, seis anos após ter ratificado obrigações internacionais de respeito aos di-
a CADH, por meio do Decreto Legislativo nº reitos humanos consagrados na CADH. Essa re-
89. Através do Decreto nº 4.463/02, o país paração, para a jurisprudência da Corte, consis-
promulgou a declaração de reconhecimen- te, portanto, em um gênero que abarca diversas
to, por prazo indeterminado e sob reserva espécies de obrigações que podem ser divididas
de reciprocidade. da seguinte forma:

1. restituição na íntegra,
Jurisprudência: As hipóteses de modalidades 2. cessação do ilícito,
de aceitação da jurisdição da Corte são taxa-
tivas, não comportando outras restrições [Caso 3. satisfação,
das Irmãs Serrano Cruz vs. El Salvador. Sentença 4. pagamento de indenizações,
de 23.11.2004].
5. garantias de não repetição.
3. A Corte tem competência para conhecer
de qualquer caso relativo à interpretação A reparação na íntegra consiste na adoção
e aplicação das disposições desta Conven- pelo Estado denunciado de medidas específicas
ção que lhe seja submetido, desde que os (obrigação de fazer) tendentes a assegurar às
Estados Partes no caso tenham reconheci- vítimas o efetivo gozo dos direitos violados,
do ou reconheçam a referida competência, assegurando a vítima a restituição plena da
seja por declaração especial, como pre- situação anterior ao contexto da violação, ou
vêem os incisos anteriores, seja por con- medidas práticas que aproximem ao máximo a
venção especial. situação da vítima de uma situação de plena ob-
servância dos direitos postos na Convenção.
Comentários: O reconhecimento da competên- A cessação do ilícito equivalerá a obrigações
cia contenciosa da Corte opera-se irretroativa- negativas, de abstenção, no sentido de o Estado
mente (efeito ex nunc). Assim, um ato estatal se abster de violar ou seguir violando determina-
violador de direitos humanos ocorrido antes do dos direitos. Contudo, também poderá consistir
reconhecimento da competência não poderá em uma obrigação positiva, quando couber ao
ser julgado por ela, mas a omissão estatal que Estado, no exercício de seu papel de garante de
se prolongou para além da data do reconheci- direitos fundamentais, o dever de agir para im-
mento poderá ser objeto de demanda perante pedir ou fazer cessar uma violação a direitos
a Corte IDH (ex: desaparecimento dos corpos de de pessoas e povos em situação de vulnerabi-
vítimas da ditadura militar). lidade por particulares, dentro do território da-
quele Estado.
Artigo 63

69
#LEGIS

As medidas de satisfação correspondem àque- suntos que ainda não estiverem submeti-
las que entregam à(s) vítima(s) a reparação sim- dos ao seu conhecimento, poderá atuar a
bólica de seus direitos. Equivalem às obrigações pedido da Comissão.
impostas aos Estados de dar ampla publicidade,
em jornais de grande circulação, à sentença que
Comentários: As medidas provisórias podem
reconhece a violação ao direito assegurado na
ser solicitadas pela Comissão à Corte em casos
Convenção e a responsabilidade do Estado-parte
ainda não apreciados por esta ou podem ser
por aquela violação, também podem correspon-
deferidas pela própria Corte em casos em an-
der às obrigações de desagravo público de auto-
damento. Exigem-se dois requisitos: a) existên-
ridades, de homenagear a vítima com um dia no
cia de uma situação grave e urgente que está
calendário oficial em sua memória ou com a uti-
a acontecer no momento; b) potencialidade de
lização de seu nome para qualificar ruas, prédios
um dano irreparável a uma pessoa vir a ocorrer
públicos, atos normativos, etc.
em face dessa situação.
O pagamento das indenizações consiste na re-
paração pecuniária à vítima da ofensa ao direi- CUIDADO! Não confundir as medidas provisórias
to assegurado na CADH. Essa reparação abran- da Corte IDH com as medidas cautelares da CIDH.
gerá danos materiais, danos morais e danos
ao projeto de vida, gerados por fatos violatórios
que “alteram de forma substancial o desenvol- Jurisprudência: A Corte IDH tem entendido
vimento do indivíduo” ou impliquem na “perda que as medidas provisórias podem proteger
ou a diminuição de oportunidades de desenvol- membros de uma coletividade ou pessoas li-
vimento pessoal” [Caso Loayza Tamayo vs. Peru. gadas a essa coletividade, ainda que inomina-
Sentença de 27.11.98]. das, bastando que sejam ao menos identificá-
veis ou determináveis [Caso das Comunidades
Por fim, as medidas de não repetição consistem do Jiguamiandó e do Curbaradó. Resolução de
na obrigação de o Estado parte condenado pela 06.03.2003].
violação a direitos assegurados na CADH adotar
providências em âmbito interno para criação
Artigo 64
de políticas públicas e legislações específicas
tendentes a impedir que novas violações simi-
1. Os Estados membros da Organização
lares às sofridas pelas vítimas voltem a ocor-
poderão consultar a Corte sobre a inter-
rer. Significa preparar o Estado para impedir a
pretação desta Convenção ou de outros
perpetuação do ciclo de violações reconheci-
tratados concernentes à proteção dos di-
das pela Corte IDH. Um tipo de garantia de não
reitos humanos nos Estados americanos.
repetição que vem ganhando destaque na juris-
Também poderão consultá-la, no que lhes
prudência da Corte IDH e presente em todos os
compete, os órgãos enumerados no capí-
casos que o Brasil sofreu condenação perante o
tulo X da Carta da Organização dos Esta-
tribunal é o dever de investigar e punir. Essa
dos Americanos, reformada pelo Protoco-
medida merece atenção em razão de ser aquela
lo de Buenos Aires.
que possui o maior grau de descumprimento por
parte dos Estados que sofrem condenações da
Corte IDH (o Brasil se insere nessa mesma situa- 2. A Corte, a pedido de um Estado membro
ção). Sua formulação foi estabelecida na jurispru- da Organização, poderá emitir pareceres
dência interamericana desde o caso Velásquez sobre a compatibilidade entre qualquer
Rodríguez e seu conteúdo básico é no sentido de de suas leis internas e os mencionados
que os responsáveis por toda violação de direitos instrumentos internacionais.
humanos devem ser investigados, processados,
e ser for o caso, punidos no respectivo Estado.
Comentários: Todos os Estados-membros da
2. Em casos de extrema gravidade e ur- OEA têm o direito de provocar a competência
gência, e quando se fizer necessário evitar consultiva da Corte IDH, relativamente à in-
danos irreparáveis às pessoas, a Corte, terpretação da CADH ou de outros tratados
nos assuntos de que estiver conhecendo, referentes à proteção de direitos humanos nos
poderá tomar as medidas provisórias que Estados Americanos, bem como acerca da com-
considerar pertinentes. Se se tratar de as- patibilidade com a legislação interna. Os pa-

70
#LEGIS

receres consultivos da Corte são chamados de indicará os casos em que um Estado não tenha
opiniões consultivas. De acordo com a redação dado cumprimento a suas sentenças.
atual da Carta da OEA, são legitimados a formu-
larem consultas à Corte IDH:
Comentários: A Corte IDH detém o direito de su-
a) Assembleia Geral; pervisionar o cumprimento de suas decisões.
Sua autoridade para a supervisão de sentenças é
b) Reunião de Consulta dos Ministros das uma obrigação convencional proveniente do art.
Relações Exteriores; 65 da CADH.
c) Conselhos; Em cada sentença proferida pela Corte, consta
d) Comissão Jurídica Interamericana; e) um dispositivo referente à supervisão de cum-
Comissão Interamericana de Direitos Hu- primento de suas determinações, bem como
manos; um prazo para que o Estado parte envolvido
apresente um relatório com as medidas ado-
f) Secretaria-Geral; tadas para o cumprimento dos dispositivos da
g) Conferências Especializadas; e sentença. Uma vez findo o prazo que ela tenha
fixado para fazê-lo (o prazo pode durar de um
h) Organismos Especializados. a três anos), o Tribunal remete a informação à
CIDH e às vítimas para que formulem suas ob-
servações.
Jurisprudência: A Corte entende que a expres-
são “outros tratados” não se refere necessa-
Finalmente, a Corte, ao apreciar se houve cum-
riamente a tratados concluídos por Estados
primento do que foi determinado, irá orientar
americanos, bastando que sejam concernentes
as ações do Estado para este fim e, nesse caso,
à proteção de direitos humanos nos Estados
cumprirá a obrigação de informar a Assem-
Americanos [Opinião Consultiva nº 01/82]. O Tri-
bléia Geral, nos termos do art. 65 da Conven-
bunal interpreta de forma ampla o termo, in-
ção.
cluindo outros atos internacionais destituídos
da natureza de tratados, mas que atingem os
Estados americanos com obrigações, ainda que
sejam de índole moral, a exemplo da Declaração Seção 3 — Procedimento
Americana dos Direitos e Deveres do Homem,
que não se configura tecnicamente como um tra- Artigo 66
tado [Opinião Consultiva nº 10/89].
1. A sentença da Corte deve ser fundamen-
tada.
Aprofundando: A Corte IDH, no exercício de sua
função consultiva, não controla a convenciona- 2. Se a sentença não expressar no todo ou
lidade das leis, posto que os pareceres consul- em parte a opinião unânime dos juízes,
tivos não tem força vinculante, diferentemente qualquer deles terá direito a que se agre-
das sentenças de mérito e das medidas provi- gue à sentença o seu voto dissidente ou
sórias. Essa atividade consultiva de verificar a individual.
compatibilidade do direito interno com a CADH
deve ser denominada de aferição de convencio-
nalidade, reservando a expressão controle de Comentários: É através da sentença que a Corte
convencionalidade apenas para os casos anali- IDH realiza o controle de convencionalidade da
sados sob a jurisdição contenciosa do Tribunal. norma interna, da decisão judiciária ou do ato
administrativo que violam um dos direitos pre-
visto na CADH. O dispositivo do art. 66.1 prevê
Artigo 65 o dever de fundamentação das decisões. As
sentenças são assinadas por todos os juízes, mas
A Corte submeterá à consideração da As- estes têm o direito de agregar voto individual
sembléia Geral da Organização, em cada pe- (concordante) ou, caso haja divergência, voto
ríodo ordinário de sessões, um relatório sobre dissidente (discordante).
suas atividades no ano anterior. De maneira es-
pecial, e com as recomendações pertinentes, Artigo 67

71
#LEGIS

A sentença da Corte será definitiva e inapelá- Artigo 69


vel. Em caso de divergência sobre o sentido ou
alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a A sentença da Corte deve ser notificada às
pedido de qualquer das partes, desde que o pe- partes no caso e transmitida aos Estados Par-
dido seja apresentado dentro de noventa dias a tes na Convenção.
partir da data da notificação da sentença.
Anotações sobre os artigos anteriores:
Comentários: O dispositivo prevê o princípio
da irretratabilidade das sentenças no SIDH,
de modo que o Tribunal, após sua prolação, não
pode mais voltar atrás, reformando-a ou mo-
dificando-a de qualquer forma. Além disso, as
sentenças são inapeláveis, inexistindo recur-
so para reforma. É cabível apenas pedido para
esclarecimentos sobre o sentido ou alcance da
sentença, no prazo de 90 dias após a notifica-
ção. A apreciação de tais requerimentos deve ser
feita com a mesma composição dos juízes que
prolataram a sentença, se possível (art. 68.3 do
Regulamento da Corte).

Artigo 68

1. Os Estados Partes na Convenção com-


prometem-se a cumprir a decisão da Cor-
te em todo caso em que forem partes.

2. A parte da sentença que determinar in-


denização compensatória poderá ser
executada no país respectivo pelo pro-
cesso interno vigente para a execução de
sentenças contra o Estado.

Comentários: As sentenças da Corte IDH tem


eficácia imediata e não precisam ser submeti-
das ao procedimento de homologação previsto
no art. 105, I, alínea i, da CF/88, e art. 483 do CPC
como condição de eficácia no território nacional,
pois as sentenças de tribunais internacionais
não se enquadram no conceito de sentenças
estrangeiras a que se refere o dispositivo consti-
tucional. Em regra, o pagamento pelo Estado con-
denado deve ser deve ser feito espontaneamente
e imediatamente após a notificação da sentença
pela Corte IDH, como foi feito pela União no caso
Ximenes Lopes, que deu cumprimento imediato
ao pagamento. O art. 68.2 prevê uma faculda-
de da vítima ou do Ministério Público para o
caso de inadimplemento do pagamento da in-
denização compensatória pelo Estado. Em caso
de descumprimento, a vítima ou o MP poderão
deflagrar ação judicial na Justiça Federal (art.
109, III da CF/88) para o efetivo cumprimento da
obrigação.

72
#LEGIS

Para fixação:

Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: DPE-MS Pro- Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: TJ-
va: VUNESP - 2014 - DPE-MS - Defensor Público -RJ Prova: VUNESP - 2014 - TJ-RJ - Juiz Subs-
tituto
Nos termos do art. 67 da Convenção Americana
de Direitos Humanos, “A sentença da Corte In- Assinale a alternativa correta a respeito da
teramericana de Direitos Humanos será defini- Convenção Americana de Direitos Humanos
tiva e inapelável. Em caso de divergência sobre (Pacto de São José da Costa Rica).
o sentido ou alcance da sentença, a Corte in-
terpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, a) Para a Comissão Interamericana aceitar uma
desde que o pedido seja apresentado dentro de petição na qual se alegue violação de um direi-
to, é necessário que o Estado-parte se manifeste
a) “noventa dias a partir da data da notificação da oficialmente, afirmando que não conseguiu solu-
sentença”. cionar a questão.

b) “sessenta dias a partir da data da notificação b) A convenção proibiu a prisão civil por dívidas,
das partes”. mesmo aquelas relativas ao depositário infiel e
em razão de inadimplemento de obrigação ali-
c) “trinta dias a partir da data da notificação das mentar.
partes”.
c) A decisão da Corte Interamericana caracteri-
d) “dez dias a partir da data da notificação da sen- za-se por ser definitiva e inapelável, cabendo ao
tença”. Estado-parte seu imediato cumprimento.
d) A Convenção proibiu a pena de morte para
todo e qualquer tipo de crime e determinou a
Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: MPE- sua abolição por todos os Estados-partes que a
-SP Prova: VUNESP - 2015 - MPE-SP - Analista de adotem.
Promotoria

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é


uma instituição judicial autônoma cujo objeti-
vo é aplicar e interpretar a Convenção America-
na, exercendo, dentre outras, a função conten-
ciosa, na qual se encontra a resolução de casos
contenciosos e o mecanismo de supervisão de
sentenças. Para que um caso possa ser subme-
tido à decisão da Corte, é necessário que ele
seja apresentado

a) por um dos Estados-Parte ou pela Comissão In-


teramericana de Direitos Humanos.
b) pelo próprio interessado ou por uma entidade
internacional de direitos humanos devidamente
reconhecida como tal pela Corte.
c) por um Estado-Nação, integrante ou não do Sis-
tema Internacional de Proteção aos Direitos Hu-
manos.
d) pela Comissão Interamericana de Direitos Hu-
manos ou por entidade de direitos humanos se-
diada no país onde o caso ocorreu.
e) por um dos Estados-Parte, pela Comissão In-
teramericana de Direitos Humanos, ou pelo inte-
ressado ou seus sucessores. Gabarito: 01 – A | 02 - A| 03 – C

73
#LEGIS

DIA 10 da Comissão estão sujeitos a um período de


quarentena de 2 anos após o fim do seu man-
dato, período em que não poderão representar
Disciplina: Direitos Humanos. vítimas, familiares ou Estados-parte em me-
Responsável: Profs. Lídia Nóbrega e Daniel didas cautelares, petições e casos individuais
Teles perante a Corte.
Dia 10: Do Art. 70 ao 82.
Artigo 72
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3
Os juízes da Corte e os membros da Co-
missão perceberão honorários e despesas de
viagem na forma e nas condições que determi-
CAPÍTULO IV narem os seus estatutos, levando em conta a
DISPOSIÇÕES COMUNS importância e independência de suas funções.
Tais honorários e despesas de viagem serão
Artigo 70
fixados no orçamento-programa da Organiza-
ção dos Estados Americanos, no qual devem
1.Os juízes da Corte e os membros da Co-
missão gozam, desde o momento de sua ser incluídas, além disso, as despesas da Corte
eleição e enquanto durar o seu mandato, e da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte
das imunidades reconhecidas aos agen- elaborará o seu próprio projeto de orçamento
tes diplomáticos pelo Direito Internacio- e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia Ge-
nal. Durante o exercício dos seus cargos ral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta úl-
gozam, além disso, dos privilégios diplo- tima não poderá nele introduzir modificações.
máticos necessários para o desempenho
de suas funções. Artigo 73

2. Não se poderá exigir responsabilidade Somente por solicitação da Comissão ou


em tempo algum dos juízes da Corte, nem da Corte, conforme o caso, cabe à Assembléia
dos membros da Comissão, por votos e Geral da Organização resolver sobre as sanções
opiniões emitidos no exercício de suas aplicáveis aos membros da Comissão ou aos
funções. juízes da Corte que incorrerem nos casos pre-
vistos nos respectivos estatutos. Para expedir
uma resolução, será necessária maioria de dois
Comentários: As imunidades diplomáticas pre-
terços dos votos dos Estados Membros da Orga-
vistas no dispositivo estão garantidas pela Con-
venção de Viena sobre Relações Diplomáticas nização, no caso dos membros da Comissão; e,
de 1961, a exemplo da inviolabilidade pessoal além disso, de dois terços dos votos dos Estados
e domiciliar e da isenção fiscal. Partes na Convenção, se se tratar dos juízes da
Corte.
Artigo 71
Observações:
Os cargos de juiz da Corte ou de membro
da Comissão são incompatíveis com outras ati-
vidades que possam afetar sua independência
ou imparcialidade conforme o que for determi-
nado nos respectivos estatutos.

Comentários: As incompatibilidades dos juízes


da Corte IDH estão previstas no art. 18 do Esta-
tuto do Tribunal. Já as incompatibilidades dos
membros da Comissão, estão consignadas no
art. 4º do Regulamento da CIDH. Os membros

74
#LEGIS

PARTE III Comentários: Reserva é o termo utilizado no


DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS direito internacional definido como “uma decla-
ração unilateral, qualquer que seja a sua reda-
ção ou denominação, feita por um Estado ao as-
CAPÍTULO X sinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado,
ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou mo-
EMENDA, dificar o efeito jurídico de certas disposições do
PROTOCOLO E DENÚNCIA tratado em sua aplicação a esse Estado” (art. 2º,
§1º, d, da Convenção de Viena). Qualquer reserva
Artigo 74 à CADH não requer qualquer aceitação poste-
rior pelos outros Estados (art. 20, §1º da Con-
1.Esta Convenção fica aberta à assinatura venção de Viena). Contudo, é vedado ao Estado
e à ratificação ou adesão de todos os Es- formular reserva incompatível com o objeto e
tados membros da Organização dos Esta- a finalidade do tratado (art. 19, c da Convenção
dos Americanos. de Viena).

Comentários: O convênio constitutivo da OEA é Jurisprudência: A Corte IDH se manifestou no


a Carta de Bogotá, de 1948, configurando con- sentido de que as reservas à CADH devem man-
dição necessária para ser parte na CADH, ser o ter sua compatibilidade com o objeto e finali-
Estado previamente parte da OEA. dade do tratado, sendo vedada qualquer reser-
va destinada a permitir ao Estado a suspensão
de um dos direitos fundamentais consagrados
2.A ratificação desta Convenção ou a ade-
em tratados de direitos humanos, cuja derro-
são a ela efetuar-se-á mediante depósito
gação está em toda hipótese proibida (vide art.
de um instrumento de ratificação ou de
27) [Opinião Consultiva nº 3, de 8.09.1983].
adesão na Secretaria-Geral da Organiza-
ção dos Estados Americanos. Esta Con-
venção entrará em vigor logo que onze Aprofundando: O Brasil não fez nenhuma re-
Estados houverem depositado os seus res- serva ao texto da CADH, apesar de ter realizado
pectivos instrumentos de ratificação ou de duas declarações interpretativas relativamen-
adesão. Com referência a qualquer outro te aos arts. 43 e 48, d. Tais declarações não se
Estado que a ratificar ou que a ela aderir enquadram tecnicamente como reservas, mas
ulteriormente, a Convenção entrará em expressam tão somente uma posição política do
vigor na data do depósito do seu instru- inconformismo estatal com alguma disposição
mento de ratificação ou de adesão. do tratado.

Comentários: A Convenção entrou em vigor em Artigo 76


18 de julho de 1978, quando totalizou 11 Esta-
dos-parte. Para aqueles Estados de aderiram 1. Qualquer Estado Parte, diretamente, e
posteriormente, a vigência inicia-se na data do a Comissão ou a Corte, por intermédio
depósito do seu instrumento de ratificação ou do Secretário-Geral, podem submeter à
de adesão, antes da promulgação e publicação Assembleia Geral, para o que julgarem
interna. conveniente, proposta de emenda a esta
Convenção.
3. O Secretário-Geral informará todos os
Estados membros da Organização sobre a 2. As emendas entrarão em vigor para os
entrada em vigor da Convenção. Estados que ratificarem as mesmas na
data em que houver sido depositado o
Artigo 75 respectivo instrumento de ratificação que
corresponda ao número de dois terços dos
Esta Convenção só pode ser objeto de re- Estados Partes nesta Convenção. Quan-
servas em conformidade com as disposições da to aos outros Estados Partes, entrarão em
Convenção de Viena sobre o Direito dos Trata- vigor na data em que depositarem eles os
dos, assinada em 23 de maio de 1969. seus respectivos instrumentos de ratifi-
cação.

75
#LEGIS

Comentários: No Brasil, assim como na ratifi- ver sido cometido por ele anteriormente
cação e na adesão, as emendas formuladas aos à data na qual a denúncia produzir efeito.
tratados multilaterais dos quais o país é parte
devem necessariamente passar pelo referendo Comentários: Denúncia é o ato unilateral pelo
do Poder Legislativo. qual um Estado-parte em dado tratado manifes-
ta sua vontade de deixar de ser parte no acor-
Artigo 77 do. No caso da CADH, não se admite denúncia
parcial de alguns dispositivos, mas apenas da
1. De acordo com a faculdade estabelecida integralidade do texto do tratado. Ademais, a
no artigo 31, qualquer Estado Parte e a Co- denúncia não exonera o Estado de sua respon-
missão podem submeter à consideração sabilidade em relação aos atos praticados no
dos Estados Partes reunidos por ocasião período em que a CADH esteve em vigor.
da Assembléia Geral, projetos de proto-
colos adicionais a esta Convenção, com a
finalidade de incluir progressivamente Comentários: No Brasil, a doutrina majoritária
no regime de proteção da mesma outros (Pontes de Miranda, Valério Mazzuoli, dentre ou-
direitos e liberdades. tros) entende que é necessária autorização do
Congresso Nacional para que o Presidente da
2. Cada protocolo deve estabelecer as mo- República possa denunciar um tratado. Contu-
dalidades de sua entrada em vigor e será do, se o tratado for de direitos humanos e for
aplicado somente entre os Estados Partes submetido ao rito do art. 5º, §3º da CF, gozará
no mesmo. de status de emenda constitucional e sequer
poderá sofrer denúncia, visto que se caracteri-
zará como cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV).
Comentários: Até o presente momento, existem
apenas dois Protocolos à Convenção Americana,
que são: a) o Protocolo Adicional à Convenção Observações gerais:
Americana em Matéria de Direitos Econômi-
cos, Sociais e Culturais, de 1988, conhecido
como Protocolo de San Salvador, que entrou
em vigor internacionalmente em novembro de
1999, quando foi depositado o 11º instrumento
de ratificação; b) Protocolo à Convenção Ame-
ricana sobre Direitos Humanos Referente à
Abolição da Pena de Morte, de 1990, que entrou
em vigor internacionalmente em 28 de agosto
de 1991 (o Brasil fez reserva a esse protocolo no
que concerne à possibilidade de pena de morte
em tempo de guerra, por força do art. 5º, XLVII,
a, CF/88).

Artigo 78

1. Os Estados Partes poderão denunciar


esta Convenção depois de expirado um
prazo de cinco anos, a partir da data da
entrada em vigor da mesma e mediante
aviso prévio de um ano, notificando o
Secretário-Geral da Organização, o qual
deve informar as outras Partes.
            
2. Tal denúncia não terá o efeito de desli-
gar o Estado Parte interessado das obri-
gações contidas nesta Convenção, no que
diz respeito a qualquer ato que, podendo
constituir violação dessas obrigações, hou-

76
#LEGIS

CAPÍTULO XI A eleição dos juízes da Corte far-se-á den-


DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS tre os candidatos que figurem na lista a que se
refere o artigo 81, por votação secreta dos Es-
Seção 1 — Comissão Interamericana de Direi- tados Partes, na Assembléia Geral, e serão de-
tos Humanos clarados eleitos os candidatos que obtiverem
maior número de votos e a maioria absoluta
Artigo 79
dos votos dos representantes do Estados Par-
Ao entrar em vigor esta Convenção, o Se- tes. Se, para eleger todos os juízes da Corte, for
cretário-Geral pedirá por escrito a cada Estado necessário realizar várias votações, serão elimi-
membro da Organização que apresente, dentro nados sucessivamente, na forma que for deter-
de um prazo de noventa dias, seus candidatos a minada pelos Estados Partes, os candidatos que
membro da Comissão Interamericana de Direi- receberem menor número de votos.
tos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma
lista por ordem alfabética dos candidatos apre- Anotações sobre os artigos anteriores:
sentados e a encaminhará aos Estados membros
da Organização pelo menos trinta dias antes da
Assembleia Geral seguinte.

Artigo 80

A eleição dos membros da Comissão far-


-se-á dentre os candidatos que figurem na lista
a que se refere o artigo 79, por votação secreta
da Assembléia Geral, e serão declarados eleitos
os candidatos que obtiverem maior número de
votos e a maioria absoluta dos votos dos repre-
sentantes dos Estados membros. Se, para eleger
todos os membros da Comissão, for necessário
realizar várias votações, serão eliminados suces-
sivamente, na forma que for determinada pela
Assembléia Geral, os candidatos que receberem
menor número de votos.

Seção 2 — Corte Interamericana de Direitos


Humanos

Artigo 81

Ao entrar em vigor esta Convenção, o Se-


cretário-Geral solicitará por escrito a cada Esta-
do Parte que apresente, dentro de um prazo de
noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte
Interamericana de Direitos Humanos. O Secre-
tário-Geral preparará uma lista por ordem alfa-
bética dos candidatos apresentados e a encami-
nhará aos Estados Partes pelo menos trinta dias
antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 82

77
#LEGIS

Para fixação: mas promulgado internamente pelo Brasil somen-


te em 1992, o Tratado em questão atrai a incidên-
Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: DPE- cia do § 3o do artigo 5o da Constituição, razão pela
-AC Prova: CESPE - 2017 - DPE-AC - Defensor Pú- qual as normas protetivas nele previstas ostentam
blico caráter supralegal.

Assinale a opção correta, com base na Conven- d) por se tratar de Tratado de Direitos Humanos fir-
ção Americana de Direitos Humanos e no enten- mado após a vigência da Constituição de 1988, mas
dimento da Comissão e da Corte Interamericana promulgado internamente pelo Brasil somente em
de Direitos Humanos. 2007, o Tratado em questão atrai a incidência do §
2o do artigo 5o da Constituição, razão pela qual as
a) Conduta estatal que viole obrigação internacio- normas protetivas nele previstas ostentam caráter
nal poderá ser tolerada, caso obedeça às exigências constitucional.
do direito interno desse Estado. e) sendo um Tratado de Direitos Humanos firma-
b) A regra de esgotamento dos recursos de direito do antes da vigência da Constituição de 1988, mas
interno, embora mais processual que substantiva, promulgado internamente pelo Brasil somente em
se estende também a reformas de ordem constitu- 1992, o Tratado em questão atrai a incidência do §
cional ou legislativa. 3o do artigo 5“ da Constituição, razão pela qual as
normas protetivas nele previstas ostentam caráter
c) Modificações no ordenamento jurídico de deter- constitucionalizado.
minado Estado voltadas a adequá-lo às normas do
direito internacional dos direitos humanos não são
consideradas formas de reparação. Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: DPE-
-MT Prova: UFMT - 2016 - DPE-MT - Defensor Pú-
d) A Corte decidiu que, embora a Convenção Ame- blico
ricana de Direitos Humanos proteja a vida em geral,
os embriões não podem ser considerados pessoas. Sobre jurisdição e responsabilidade internacio-
nal, no que se refere à proteção dos Direitos Hu-
e) Embora de difícil efetivação, em razão das fre- manos, assinale a afirmativa correta.
quentes crises migratórias, o direito a migrar está
previsto na Convenção Americana de Direitos Hu- a) Os Estados que aderiram à Convenção America-
manos. na de Direitos Humanos submetem-se a sua jurisdi-
ção, excluindo-se, assim, aquela prevista na Carta
da Organização dos Estados Americanos, quando
Ano: 2017 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª da violação de direitos humanos.
REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região - 2017 - TRF - 2ª
b) Hoje, para que um Estado possa aderir à Orga-
REGIÃO - Juiz Federal Substituto.
nização dos Estados Americanos, deve ser membro
da Convenção Americana de Direitos Humanos.
No que diz respeito à força legal da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, assinale a c) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
opção correta: foi criada pela Convenção Americana de Direitos
Humanos, com a função exclusiva de receber de-
a) por consistir em Tratado de Direitos Humanos núncias de violação a direitos humanos nos Esta-
firmado antes de 1988, mas promulgado interna- dos-membros da Convenção.
mente pelo Brasil somente em 1992. o Tratado em
questão atrai a incidência do § 2o do artigo 5o da d) A Convenção Americana de Direitos Humanos
Constituição, razão pela qual as normas protetivas prevê um sistema de responsabilização por viola-
nele previstas ostentam caráter supralegal. ção aos direitos nela reconhecidos; os Estados que
a ela aderirem, seguindo o procedimento de ado-
b) vigência da Constituição de 1988, mas promul- ção de tratado internacional, externa e internamen-
gado internamente pelo Brasil somente em 2007, o te, exercem jurisdição subsidiária no que se refere à
Tratado em questão atrai a incidência do § 3o do ar- proteção desses direitos.
tigo 5o da Constituição, razão pela qual as normas
protetivas nele previstas ostentam caráter constitu- e) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
cional. exerce dupla função na proteção de direitos huma-
nos: uma no âmbito da própria Organização dos
c) Por consistir em Tratado de Direitos Humanos Estados Americanos e outra dentro do sistema da
firmado antes da vigência da Constituição de 1988, Convenção Americana de Direitos Humanos.

78
#LEGIS

Anotações gerais

Gabarito: 01 – D | 02 - A| 03 – E

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