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Direito Comunitário

CAPÍTULO IV – Objetivos da União Europeia

1. Objetivos
constitucionais

2. Competências da União
Europeia
Objetivos da União
Europeia
3. Liberdade de circulação
dos fatores produtivos

4. Política Europeia de
Concorrência

1. Objetivos constitucionais

Objetivos constitucionais
Objetivos Objetivos Objetivos
políticos económicos sociais

No preâmbulo do Tratado de Roma, atualmente constitui o preâmbulo do TFUE, são


identificados os principais objetivos que se pretendiam alcançar com a criação da CEE e que
referiam:

“DETERMINADOS a estabelecer os fundamentos de uma união cada vez mais estreita entre os
povos europeus,
DECIDIDOS a assegurar, mediante uma ação comum, o progresso económico e social dos seus
países eliminando as barreiras que dividem a Europa,
FIXANDO como objetivo essencial dos seus esforços a melhoria constante das condições de vida
e de trabalho dos seus povos,

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RECONHECENDO que a eliminação dos obstáculos existentes requer uma ação concertada tendo
em vista garantir a estabilidade na expansão económica, o equilíbrio nas trocas comerciais e a
lealdade na concorrência,
PREOCUPADOS em reforçar a unidade das suas economias e assegurar o seu desenvolvimento
harmonioso pela redução das desigualdades entre as diversas regiões e do atraso das menos
favorecidas,
DESEJOSOS de contribuir, mercê de uma política comercial comum, para a supressão progressiva
das restrições ao comércio internacional,
PRETENDENDO confirmar a solidariedade que liga a Europa e os países ultramarinos, e
desejando assegurar o desenvolvimento da prosperidade destes, em conformidade com os
princípios da Carta das Nações Unidas,
RESOLVIDOS a consolidar, pela união dos seus recursos, a defesa da paz e da liberdade e
apelando para os outros povos da Europa que partilham dos seus ideais para que se associem
aos seus esforços,
DETERMINADOS a promover o desenvolvimento do mais elevado nível possível de
conhecimentos dos seus povos, através de um amplo acesso à educação, e da contínua
atualização desses conhecimentos”.

Os Tratados foram-se sucedendo e hoje o Tratado da União Europeia no seu artigo 2º refere
que “A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da
democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos do Homem, incluindo os
direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros,
numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a
solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.”

O artigo 3º do Tratado da União Europeia traça os objetivos gerais da União Europeia:

“1. A União tem por objetivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos.
2. A União proporciona aos seus cidadãos um espaço de liberdade, segurança e justiça sem
fronteiras internas, em que seja assegurada a livre circulação de pessoas, em conjugação com
medidas adequadas em matéria de controlos na fronteira externa, de asilo e imigração, bem
como de prevenção da criminalidade e combate a este fenómeno.
3. A União estabelece um mercado interno. Empenha-se no desenvolvimento sustentável da
Europa, assente num crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos preços, numa
economia social de mercado altamente competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o
progresso social, e num elevado nível de proteção e de melhoramento da qualidade do ambiente.
A União fomenta o progresso científico e tecnológico.
A União combate a exclusão social e as discriminações e promove a justiça e a proteção sociais,
a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre as gerações e a proteção dos direitos
da criança.
A União promove a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-
Membros.
A União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística e vela pela salvaguarda e pelo
desenvolvimento do património cultural europeu.
4. A União estabelece uma união económica e monetária cuja moeda é o euro.
5. Nas suas relações com o resto do mundo, a União afirma e promove os seus valores e
interesses e contribui para a proteção dos seus cidadãos. Contribui para a paz, a segurança, o
desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o

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comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos do Homem, em
especial os da criança, bem como para a rigorosa observância e o desenvolvimento do direito
internacional, incluindo o respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas.
6. A União prossegue os seus objetivos pelos meios adequados, em função das competências que
lhe são atribuídas nos Tratados.”

Para alcançar estes objetivos “a ação dos Estados-Membros e da União implica, nos termos do
disposto nos Tratados, a adoção de uma política económica baseada na estreita coordenação
das políticas económicas dos Estados-Membros, no mercado interno e na definição de objetivos
comuns, e conduzida de acordo com o princípio de uma economia de mercado aberto e de livre
concorrência”. (art.119º, nº1 do TFUE)

Objetivos políticos
 Alcançar a solidariedade entre os Estados-membros;
 Defesa da paz e da liberdade;
 Apelo para que os outros povos da Europa que partilham dos seus ideais para que se
associem aos seus esforços;
 Afirmação da sua identidade na cena internacional;
 Criação de uma PESC;
 Instituição de uma cidadania da União;
 Manutenção e desenvolvimento da UE enquanto espaço de liberdade, de segurança e
de justiça;
 Manutenção da integralidade do acervo da UE e o seu desenvolvimento;
 Garantir a eficácia dos mecanismos e das instituições da UE.

Objetivos económicos
 Criação de uma união económica e monetária;
 Aplicação das políticas ou ações comuns;
 Promover, em toda a Comunidade, o desenvolvimento harmonioso, equilibrado e
sustentável das atividades económicas;
 Crescimento sustentável e não inflacionista;
 Alto grau de competitividade e de convergência dos comportamentos das economias;
 Elevado nível de proteção e de melhoria da qualidade do ambiente;
 Coesão económica e social;
 Promoção do progresso económico e social e de um elevado nível de emprego e a
realização de um desenvolvimento equilibrado e sustentável;
 Estabelecimento de uma união económica e monetária.

Objetivos sociais
 Elevado nível de emprego e de proteção social;
 Igualdade entre homens e mulheres;
 Aumento do nível e da qualidade de vida;
 Coesão económica e social;
 Promoção do progresso económico e social e de um elevado nível de emprego e a
realização de um desenvolvimento equilibrado e sustentável.

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2. Competências da União Europeia

Competência exclusiva
da União Europeia

Competências da Competência partilhada


da União Europeia
União Europeia
Competência de apoio da
União Europeia

Apenas com o Tratado de Lisboa foi estabelecida uma classificação precisa e encontramos hoje
três tipos de competências principais na União Europeia:

 Competência exclusiva (art.2º, nº1 do TFUE  Art.3º do TFUE);


 Competência partilhada (art.2º, nº2 do TFUE  Art.4º do TFUE);
 Competência de apoio (art.2º, nº5 do TFUE  Art.6º do TFUE).

Esta clarificação é importante para o bom funcionamento da UE pois evita muitos conflitos de
competências anteriores, bem como permite um controlo efetivo relativo ao exercício das
referidas competências.

Competência exclusiva da União Europeia


Atualmente está previsto que quando “os Tratados atribuam à União competência exclusiva em
determinado domínio, só a União pode legislar e adotar atos juridicamente vinculativos; os
próprios Estados-Membros só podem fazê-lo se habilitados pela União ou a fim de dar execução
aos atos da União.” (art.2º, nº1 do TFUE)

É o princípio da atribuição de competências, que estabelece que a União só atua nos limites das
competências que lhe tenham sido atribuídas para atingir os objetivos fixados nos Tratados.
Além deste princípio também os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade são
fundamentais.

Dispõe o artigo 3º do TFUE:

“1. A União dispõe de competência exclusiva nos seguintes domínios:


a) União aduaneira;
b) Estabelecimento das regras de concorrência necessárias ao funcionamento do mercado
interno;
c) Política monetária para os Estados-Membros cuja moeda seja o euro;
d) Conservação dos recursos biológicos do mar, no âmbito da política comum das pescas;
e) Política comercial comum.
2. A União dispõe igualmente de competência exclusiva para celebrar acordos internacionais
quando tal celebração esteja prevista num ato legislativo da União, seja necessária para lhe dar
a possibilidade de exercer a sua competência interna, ou seja suscetível de afetar regras comuns
ou de alterar o alcance das mesmas.”

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Nas matérias onde a União Europeia detém competência exclusiva é a União Europeia a única a
poder legislar e adotar atos vinculativos nestes domínios.

Competência partilhada da União Europeia


Preveem os Tratados que quando estes “atribuam à União competência partilhada com os
Estados-Membros em determinado domínio, a União e os Estados-Membros podem legislar e
adotar atos juridicamente vinculativos nesse domínio. Os Estados-Membros exercem a sua
competência na medida em que a União não tenha exercido a sua. Os Estados-Membros voltam
a exercer a sua competência na medida em que a União tenha decidido deixar de exercer a sua.”
(art.2º, nº2 do TFUE)

Dispõe o artigo 4º do TFUE:

“1. A União dispõe de competência partilhada com os Estados-Membros quando os Tratados lhe
atribuam competência em domínios não contemplados nos artigos 3º e 6º.
2. As competências partilhadas entre a União e os Estados-Membros aplicam-se aos principais
domínios a seguir enunciados:
a) Mercado interno;
b) Política social, no que se refere aos aspetos definidos no presente Tratado;
c) Coesão económica, social e territorial;
d) Agricultura e pescas, com exceção da conservação dos recursos biológicos do mar;
e) Ambiente;
f) Defesa dos consumidores;
g) Transportes;
h) Redes transeuropeias;
i) Energia;
j) Espaço de liberdade, segurança e justiça;
k) Problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública, no que se refere aos aspetos
definidos no presente Tratado.
3. Nos domínios da investigação, do desenvolvimento tecnológico e do espaço, a União dispõe
de competência para desenvolver ações, nomeadamente para definir e executar programas, sem
que o exercício dessa competência possa impedir os Estados-Membros de exercerem a sua.
4. Nos domínios da cooperação para o desenvolvimento e da ajuda humanitária, a União dispõe
de competência para desenvolver ações e uma política comum, sem que o exercício dessa
competência possa impedir os Estados-Membros de exercerem a sua.”

Na competência partilhada quer a União Europeia quer os Estados-Membros podem adotar atos
vinculativos nesses domínios. Mas os Estados-Membros só podem exercer a sua competência
se a União Europeia não tiver exercido a sua ou tenha decidido não o fazer.

Competência de apoio da União Europeia


Neste tipo de competências está previsto nos Tratados que “Em determinados domínios e nas
condições previstas pelos Tratados, a União dispõe de competência para desenvolver ações
destinadas a apoiar, a coordenar ou a completar a ação dos Estados-Membros, sem substituir a
competência destes nesses domínios.

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Os atos juridicamente vinculativos da União adotados com fundamento nas disposições dos
Tratados relativas a esses domínios não podem implicar a harmonização das disposições
legislativas e regulamentares dos Estados-Membros.” (art.2º, nº5 do TFUE)

Dispõe o artigo 6º, do TFUE:

“A União dispõe de competência para desenvolver ações destinadas a apoiar, coordenar ou


completar a ação dos Estados-Membros. São os seguintes os domínios dessas ações, na sua
finalidade europeia:
a) Proteção e melhoria da saúde humana;
b) Indústria;
c) Cultura;
d) Turismo;
e) Educação, formação profissional, juventude e desporto;
f) Proteção civil;
g) Cooperação administrativa.”

Neste tipo de competência a União Europeia só pode intervir para apoiar, coordenar ou
completar a ação dos Estados-Membros. A União Europeia não possui poder legislativo nestes
domínios e não pode interferir no exercício destas competências, que estão reservadas aos
Estados-Membros.

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3. Liberdade de circulação dos fatores produtivos

Liberdade de circulação dos


fatores produtivos

2. Liberdade de circulação 4. Liberdade de


1. Liberdade de circulação 3. Liberdade de
de trabalhadores (e de estabelecimento e de
de mercadorias circulação de capitais
cidadãos) prestação de serviços

O grande objetivo da União Europeia era alcançar um mercado interno. E para alcançar essa
finalidade é necessário uma efetiva liberdade de circulação dos fatores produtivos, ou seja,
mercadorias, capitais, trabalhadores e estabelecimento e serviços.

Liberdade de circulação de mercadorias

Liberdade de circulação de
mercadorias

Proibição de Proibição de encargos de Proibição de Proibição de medidas de Exceções à


direitos efeitos equivalentes a restrições efeito equivalente a livre
aduaneiros direitos aduaneiros quantitativas restrições quantitativas circulação de
mercadorias

A inexistência de impostos aduaneiros a nível interno e a existência de uma pauta aduaneira


comum aplicável às mercadorias provenientes de países terceiros, são a base da União
Aduaneira.

A liberdade de circulação de mercadorias no espaço da União Europeia aplica-se aos produtos


originários da União Europeia e aos produtos em livre prática, que podem circular livremente
na União Europeia.

Por produtos originários entende-se as mercadorias originárias dos seus Estados-membros


(agricultura, pesca, indústria).

O conceito de produtos em livre prática está definido no artigo 29º do TFUE que refere
“Consideram-se em livre prática num Estado-Membro os produtos provenientes de países
terceiros em relação aos quais se tenham cumprido as formalidades de importação e cobrado os

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direitos aduaneiros ou encargos de efeito equivalente exigíveis nesse Estado-Membro, e que não
tenham beneficiado de draubaque total ou parcial desses direitos ou encargos.”

Proibição de direitos aduaneiros


O artigo 30º do TFUE prevê que são “proibidos entre os Estados-Membros os direitos aduaneiros
de importação e de exportação ou os encargos de efeito equivalente. Esta proibição é igualmente
aplicável aos direitos aduaneiros de natureza fiscal.”

Os direitos aduaneiros incidem sobre os produtos importados, e podem ser direitos específicos
(incidem sobre a natureza, volume ou peso da mercadoria) ou direitos ad valorem (incidem
sobre o valor da mercadoria). Este tipo de direitos permitem proteger os mercados nacionais.

Proibição de encargos de efeitos equivalentes a direitos aduaneiros


Este foi, e ainda continua a ser, um grande problema em que muitos Estados criaram situações
destinadas a proteger os seus agentes económicos, através de mecanismos que não eram
direitos aduaneiros, mas produziam os mesmos efeitos, ou seja, eram direitos alfandegários
mascarados.

Proibição de restrições quantitativas


Nos termos dos artigos 34º e 35º do TFUE são proibidas, entre os Estados-Membros, as
restrições quantitativas à importação e à exportação.

A abolição dos direitos aduaneiros entre os Estados-membros não era suficiente para permitir
uma plena liberdade de circulação de mercadorias. Através de restrições quantitativas à
importação ou à exportação era fácil limitar essa circulação. Limitando-se as quantidades de
produtos que se podiam importar ou exportar, limitava-se de uma forma clara a plena liberdade
de circulação de mercadorias.

Proibição de medidas de efeito equivalente a restrições quantitativas


Nos termos dos artigos 34º e 35º do TFUE são proibidas, entre os Estados-Membros, as
restrições quantitativas à importação e à exportação.

Deste modo, consideram-se medidas de efeito equivalente e restrições quantitativas à


importação e à exportação de todas as medidas que visem impedir ou limitar a importação de
bens e favorecer a aquisição de bens nacionais. Estes atos são qualificados de medidas de efeito
equivalente a restrições quantitativas à importação e à exportação se produzirem um efeito
restritivo nas trocas comerciais equivalente a uma restrição quantitativa.

Exceções à livre circulação de mercadorias


O artigo 36º do TFUE permite aos Estados-membros que em casos justificados “por razões de
moralidade pública, ordem pública e segurança pública; de proteção da saúde e da vida das
pessoas e animais ou de preservação das plantas; de proteção do património nacional de valor
artístico, histórico ou arqueológico; ou de proteção da propriedade industrial e comercial.
Todavia, tais proibições ou restrições não devem constituir nem um meio de discriminação
arbitrária nem qualquer restrição dissimulada ao comércio entre os Estados-Membros.”

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