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NATUREZA E ESPÉCIES

■ 1. INTRODUÇÃO
O processo consiste em uma sucessão de atos que se encadeiam
logicamente e que visam alcançar o provimento jurisdicional.
São atos processuais os atos humanos realizados no
processo. Não se confundem com os fatos processuais, que são
acontecimentos naturais, que podem ter grande relevância ou
repercussão no processo, mas que não dependem de condutas
humanas. Por exemplo: a morte de uma das partes é um fato
processual de grande relevância. Da mesma forma, uma catástrofe
natural, que provoque o desaparecimento dos autos. Podem ainda
ser consideradas fatos processuais as condutas humanas que não
têm nenhuma relação com o processo, mas que sobre ele
repercutem, como uma greve ou uma guerra, que prejudiquem o
funcionamento forense.
Os atos processuais devem ser praticados em conformidade com
o que determina a lei. Esta preestabelece a sequência em que eles
devem ser realizados e, em regra, a forma que devem obedecer. O
processo é público, e, em princípio, não pode haver disposição do
juiz ou da parte a respeito da sequência e da forma dos atos proces-
suais. No entanto, o CPC flexibiliza essa regra, em especial no art.
190, ao permitir que, nos processos em que se admite a
autocomposição, as partes capazes possam estipular mudanças no
procedimento e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou depois do processo,
com o controle do juiz. A disponibilidade do direito material
repercutirá numa possível flexibilização do procedimento, pelas
partes capazes. Em capítulo próprio, será examinada a negociação
processual e a possibilidade de flexibilização do procedimento.
■ 2. CONCEITO DE ATO PROCESSUAL
Pode ser definido como a conduta humana voluntária que tem
relevância para o processo. Isso afasta os atos irrelevantes e os
que não se relacionem com o processo. Os atos processuais
distinguem-se dos atos jurídicos em geral em razão de sua ligação
com um processo e a repercussão que têm sobre ele. Não se
confundem com os fatos processuais, conforme visto no item
anterior.
■ 3. OMISSÕES PROCESSUALMENTE RELEVANTES
Os atos pressupõem atividade comissiva. Mas as omissões
podem ser de grande relevância para o processo civil, porque a
lei pode prever importantes consequências processuais. A omissão
só será processualmente relevante quando a lei determina a prática
de determinado ato e impõe consequências para a sua não
realização. Assim, a omissão quanto ao ônus de oferecer
contestação trará graves consequências processuais para o réu.
■ 4. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
São várias as maneiras pelas quais se pode classificar um ato
processual. Cada qual leva em consideração determinado critério. O
CPC utiliza a classificação que leva em conta o sujeito, distinguindo
entre atos das partes e atos judiciais.

■ 4.1. Atos das partes


De acordo com o art. 200 do CPC, os atos das partes
consistem em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade.
Os atos unilaterais são os mais comuns no processo:
correspondem àqueles que a parte pratica sem necessitar da
anuência da parte contrária. Por excelência, são os de postulação,
como a petição inicial do autor e a contestação do réu, e os demais
requerimentos que poderão fazer no curso do processo, como a
apresentação de réplica, o requerimento de provas, a interposição
de recursos.
O exemplo mais comum de ato bilateral é a transação, que
provocará a extinção do processo, com resolução de mérito.
Para que o ato seja jurídico-processual, é preciso que produza
efeitos no processo, consistentes na constituição, modificação ou
extinção de direitos processuais (CPC, art. 200).

■ 4.2. Pronunciamentos do juiz


São enumerados no art. 203 do CPC: sentença, decisão
interlocutória e despachos. Esses são os pronunciamentos. Além
deles, o juiz pratica outros atos no curso do processo, como o
interrogatório das partes, a colheita de depoimentos, a inspeção
judicial e outros atos materiais. Mas só os mencionados no art. 203
podem ser considerados pronunciamentos judiciais. Os demais
são apenas atos materiais.

■ 4.2.1. Sentenças
De acordo com o CPC, art. 203, § 1º, “ressalvadas as disposições
expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts.
485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução”.
O art. 485 trata da extinção do processo sem resolução de mérito.
As hipóteses, se verificadas, porão fim ao processo. Já o art. 487
cuida de situações em que há resolução de mérito, quando, em
caso de procedência, não se porá fim ao processo, mas à fase
cognitiva em que a sentença foi proferida, prosseguindo-se
oportunamente com a fase de cumprimento de sentença.
O conceito de sentença formulado pela lei vale-se de seu possível
conteúdo (arts. 485 e 487), mas é determinado, sobretudo, pela
aptidão de pôr fim ao processo, ou à sua fase cognitiva. O
conteúdo do pronunciamento não é determinante, pois, com a
admissão do julgamento antecipado parcial do mérito, haverá
também decisões interlocutórias de mérito. Mas elas não poderão
ser confundidas com a sentença, porque, sendo interlocutórias, são
proferidas no curso do processo, sem pôr-lhe fim e sem encerrar a
fase cognitiva. O prazo para o juiz proferir sentença é de 30 dias
(art. 226, III, do CPC).
O art. 204 ainda menciona, entre os pronunciamentos judiciais, os
acórdãos, atribuindo essa denominação aos julgamentos dos
Tribunais. São decisões proferidas por órgão colegiado.

■ 4.2.2. Decisões interlocutórias


Além das sentenças, o juiz profere outro tipo de ato, que tem
conteúdo decisório. Distingue-se das sentenças por seu caráter
interlocutório, pelo fato de ser proferido no decurso de um processo,
sem aptidão para finalizá-lo. E sem, ainda, pôr fim à fase de
conhecimento em primeiro grau de jurisdição. São as decisões
interlocutórias.
Diferem dos despachos porque estes não têm conteúdo
decisório e não podem trazer nenhum prejuízo ou gravame às
partes. Se o ato judicial for capaz de provocar prejuízo e não puser
fim ao processo ou à fase de conhecimento, será decisão
interlocutória, e não despacho. O prazo para que o juiz profira
decisões interlocutórias é de 10 dias.

■ 4.2.3. Despachos de mero expediente


São aqueles que servem para impulsionar o processo, mas não
tem conteúdo decisório, sendo inaptos para trazer prejuízos às
partes. Se o juiz abre vista a elas, se dá ciência de um documento
juntado aos autos, se determina o cumprimento do acórdão ou se
concede prazo para que as partes indiquem quais provas pretendem
produzir, haverá despacho, contra o qual não caberá recurso,
porque não há interesse para a interposição.
Mas um ato judicial que normalmente seria despacho pode
assumir a condição de decisão, se dele puder advir prejuízo. Por
exemplo: a remessa dos autos ao contador em regra é despacho.
Mas, se o juiz determiná-la para instituir uma liquidação por cálculo
do contador, que não mais existe, retardando com isso o início da
execução, o prejudicado poderá agravar. O prazo para que o juiz
profira despachos no processo é de cinco dias.
■ 5. FLEXIBILIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO E NEGOCIAÇÃO
PROCESSUAL
O CPC de 1973 era bastante tímido ao atribuir poderes às partes
de influir sobre os atos processuais, sobre o procedimento e sobre
seus poderes, faculdades e deveres processuais. Admitia-se a
convenção sobre o ônus da prova (art. 333, parágrafo único), sobre
a suspensão temporária do processo e sobre o adiamento de
audiência. Mas eram situações específicas, expressamente
previstas. O poder de disposição das partes dizia mais respeito ao
direito material discutido do que aos atos processuais e
procedimentais. A publicização do processo apresentava-se
como óbice para que se permitisse às partes negociar sobre o
processo, de forma geral e aberta. O CPC atual modificou esse
panorama e ampliou muito os poderes das partes a esse respeito.
Foi mantida a possibilidade de convenção sobre a distribuição do
ônus da prova (art. 373, § 3º), sobre a suspensão do processo (art.
313, II) e adiamento de audiência (art. 362, I). Mas, além dessas
hipóteses específicas de negociações processuais típicas, que
constituíam um rol legal numerus clausus, tornou-se lícito às partes
plenamente capazes, quando a causa versar sobre direitos que
admitam autocomposição, estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar
sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo (art. 190). Trata-se de
grande inovação, que autoriza as partes capazes, em cláusula
aberta e geral, a influir diretamente sobre o procedimento e o prazo.
Assim, ao lado das hipóteses de negociação típica instituiu a lei a
cláusula que autoriza negociações atípicas. Para que não haja
abusos, o juiz, de ofício ou a requerimento, controlará as
convenções processuais, recusando-lhes aplicação em caso de
nulidade, inserção abusiva em contrato de adesão ou quando
alguma parte se encontre em situação de vulnerabilidade. A respeito
do tema, a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados (ENFAM) emitiu dois enunciados cujo conteúdo pode
orientar a aplicação do art. 190. São os Enunciados n. 36 e 37. O
primeiro dispõe: “A regra do art. 190 do CPC/2015 não autoriza às
partes a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos que
afetem poderes e deveres do juiz, tais como os que: a) limitem seus
poderes de instrução ou de sanção à litigância ímproba; b)
subtraiam do Estado/juiz o controle da legitimidade das partes ou do
ingresso de amicus curiae; c) introduzam novas hipóteses de
recorribilidade, de rescisória ou de sustentação oral não previstas
em lei; d) estipulem o julgamento do conflito com base em lei
diversa da nacional vigente; e e) estabeleçam prioridade de
julgamento não prevista em lei”. O Enunciado n. 37 estabelece: “São
nulas, por ilicitude do objeto, as convenções processuais que violem
as garantias constitucionais do processo, tais como as que: a)
autorizem o uso de prova ilícita; b) limitem a publicidade do
processo para além das hipóteses expressamente previstas em lei;
c) modifiquem o regime de competência absoluta; e d) dispensem o
dever de motivação”. Esses dois enunciados são bastantes para
demonstrar a dificuldade maior que decorre da aplicação do art.
190: estabelecer aquilo que pode e aquilo que não pode ser objeto
de negociação. Os dois enunciados supramencionados podem
servir de norte: não é possível negociar sobre poderes e deveres do
juiz ou do Tribunal, nem sobre atos processuais que repercutam
sobre eles. Tampouco será possível negociação que viole, direta ou
indiretamente, as garantias constitucionais dos litigantes. Por
exemplo: em princípio, será possível que as partes negociem sobre
prazos, podendo dilatá-los ou reduzi-los. Mas o juiz não autorizará a
negociação se a redução for tal que prejudique o pleno exercício do
contraditório ou do direito de defesa ou se a ampliação trouxer
embaraços à duração razoável do processo.
O C. Superior Tribunal de Justiça, em julgamento a respeito do
tema, estabeleceu que os negócios processuais não podem dispor
sobre as funções desempenhadas pelo juiz no processo:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. LIBERDADE
NEGOCIAL CONDICIONADA AOS FUNDAMENTOS
CONSTITUCIONAIS. CPC/2015. NEGÓCIO JURÍDICO
PROCESSUAL. FLEXIBILIZAÇÃO DO RITO
PROCEDIMENTAL. REQUISITOS E LIMITES.
IMPOSSIBILIDADE DE DISPOSIÇÃO SOBRE AS FUNÇÕES
DESEMPENHADAS PELO JUIZ. 1. A liberdade negocial
deriva do princípio constitucional da liberdade individual e da
livre iniciativa, fundamento da República, e, como toda
garantia constitucional, estará sempre condicionada ao
respeito à dignidade humana e sujeita às limitações impostas
pelo Estado Democrático de Direito, estruturado para
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais e a
Justiça. 2. O CPC/2015 formalizou a adoção da teoria dos
negócios jurídicos processuais, conferindo flexibilização
procedimental ao processo, com vistas à promoção efetiva do
direito material discutido. Apesar de essencialmente
constituído pelo autorregramento das vontades particulares, o
negócio jurídico processual atua no exercício do múnus
público da jurisdição. 3. São requisitos do negócio jurídico
processual: a) versar a causa sobre direitos que admitam
autocomposição; b) serem partes plenamente capazes; c)
limitar-se aos ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais das partes; d) tratar de situação jurídica
individualizada e concreta. 4. O negócio jurídico processual
não se sujeita a um juízo de conveniência pelo juiz, que fará
apenas a verificação de sua legalidade, pronunciando-se nos
casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de
adesão ou ainda quando alguma parte se encontrar em
manifesta situação de vulnerabilidade. 5. A modificação do
procedimento convencionada entre as partes por meio do
negócio jurídico sujeita-se a limites, dentre os quais ressai o
requisito negativo de não dispor sobre a situação jurídica do
magistrado. As funções desempenhadas pelo juiz no processo
são inerentes ao exercício da jurisdição e à garantia do devido
processo legal, sendo vedado às partes sobre elas dispor. 6.
Recurso especial não provido” (REsp 1.810.444/SP, de 23
fevereiro de 2021, Rel. Min. Luis Felipe Salomão).
O art. 191, de influência francesa, estabelece que, “de comum
acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos
atos processuais, quando for o caso”, acrescentando o § 1º que “O
calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados”. O CPC dá, portanto, real validade ao princípio
dispositivo, permitindo que, nos processos em que seja lícita a
autocomposição, as partes negociem não apenas sobre o direito
material discutido, mas também sobre o próprio procedimento,
estabelecendo convenções sobre ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais. Isso pode ocorrer antes ou durante o
processo. Pode, por exemplo, ser estabelecido por contrato,
cabendo ao juiz controlar a validade da convenção, na forma do
parágrafo único do art. 190. A instituição do calendário é altamente
vantajosa, por tornar desnecessárias as intimações no processo, já
que os litigantes saberão de antemão as datas em que se realizarão
os atos processuais. De acordo com o Enunciado n. 17 da I Jornada
de Processo Civil da Justiça Federal, não haveria óbice a que a
Fazenda Pública celebre convenção processual, nos termos do art.
190 do CPC.
Outro exemplo do poder de influência das partes no procedimento
ocorre na fase de saneamento do processo. Estabelece o art. 357, §
2º, que “As partes podem apresentar ao juiz, para homologação,
delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se
referem os incisos II e IV (isto é, os fatos sobre os quais recairá
atividade probatória ou as questões de direito relevantes para a
decisão de mérito); se homologada, a delimitação vincula as partes
e o juiz”. Amplia-se o poder de disposição das partes, mas sempre
com a fiscalização e o controle judicial. Trata-se de mais uma
aplicação do princípio da cooperação entre os sujeitos do
processo, para que ele tenha um desenvolvimento mais eficiente.
Além disso, os arts. 168 e 471 permitem às partes escolher, de
comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de
conciliação ou mediação, que pode nem mesmo estar cadastrado
no tribunal, bem como escolher o perito, indicando-o mediante
requerimento conjunto ao juiz. A perícia consensual substitui, para
todos os efeitos, a que seria realizada por perito nomeado pelo juiz
(art. 471, § 3º).
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FORMA E REQUISITOS

■ 1. FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS


A forma é o aspecto exterior pelo qual os atos processuais se
apresentam. Como regra, acolheu-se entre nós o princípio da
liberdade das formas, estabelecido no CPC, art. 188: “Os atos e os
termos processuais independem de forma determinada, salvo
quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os
que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade
essencial”.
Esse artigo contém duas regras importantes: a de que, salvo lei
em contrário, a forma é livre; e a de que, mesmo quando há forma
determinada por lei, o ato será válido se, tendo sido praticado por
outro meio, alcançar a sua finalidade essencial. O processo não é
um fim em si mesmo, mas um instrumento do direito substancial.
Quando a lei determina que o ato seja realizado de determinada
forma, não tem em vista a formalidade ou solenidade em si, mas o
alcance de determinado fim; se atingido por outro meio, ficará
afastada qualquer nulidade.
Por exemplo: a lei determina que o réu seja citado e estabelece a
forma pela qual isso deve ocorrer. Se for desrespeitada, mas o réu
comparecer e apresentar contestação, não haverá nulidade, porque
o objetivo do ato – dar ciência ao réu da existência do processo,
permitindo-lhe que se defenda – terá sido alcançado.

■ 1.1. O processo eletrônico


A busca pela efetividade e duração razoável do processo deu
ensejo ao uso de meios eletrônicos e de informatização do
processo.
A Lei n. 11.280/2006 já havia acrescentado ao art. 154 do CPC de
1973 um parágrafo, autorizando os tribunais, no âmbito da
respectiva jurisdição, a disciplinar a prática e a comunicação oficial
dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos
de autenticidade, integralidade, validade jurídica e interoperabilidade
da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP – Brasil.
Mas a informatização do processo judicial foi regulamentada pela
Lei n. 11.419/2006, que tratou dos meios eletrônicos, da
transmissão eletrônica e da assinatura eletrônica.
O art. 2º autoriza o envio de petições, de recursos e a prática de
atos processuais em geral por meio eletrônico, com a utilização da
assinatura digital, baseada em certificado digital emitido pela
autoridade certificadora; ou mediante cadastro do usuário no Poder
Judiciário, que permita a identificação do interessado. O uso dos
meios eletrônicos nos processos continua disciplinado por essa lei,
mas o CPC, nos arts. 193 a 199, formula os princípios e regras
gerais que devem ser observados.
O art. 193 autoriza que os atos processuais sejam praticados,
total ou parcialmente, por meio digital, na forma da lei. Os sistemas
de automação processual deverão respeitar o princípio da
publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e seus
procuradores, a garantia da disponibilidade, a independência da
plataforma computacional e a acessibilidade e interoperabilidade
dos sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário
administre no exercício de suas funções.
Nesses sistemas, todos os atos de comunicação processual –
como a citação, intimações, notificações – serão feitas por meio
eletrônico, na forma da lei.
Os arts. 8º a 13 da Lei n. 11.419/2006 regulamentam o uso de
meios eletrônicos e digitais.

■ 1.2. Comunicação eletrônica dos atos processuais


Mesmo que o processo não seja eletrônico, é possível que os
tribunais façam uso do Diário da Justiça Eletrônico,
disponibilizado nos sítios da rede mundial de computadores, para
publicação dos atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos
a eles subordinados.
Poderão ser feitas as intimações, dirigidas aos advogados das
partes, pelo Diário da Justiça Eletrônico, caso em que a publicação
só se considera feita no primeiro dia útil subsequente ao da
disponibilização da informação no Diário de Justiça, passando a
correr o prazo no primeiro dia útil posterior.
Caso a parte ou seu advogado se cadastre na forma do art. 2º da
Lei n. 11.419/2006, será dispensada a publicação no órgão oficial,
inclusive eletrônico, porque as intimações serão feitas em portal
próprio, considerando-se realizadas na data em que se efetivar a
consulta eletrônica ao teor da intimação, o que deverá ser
certificado nos autos. Mas a consulta deverá ser feita no prazo de
dez dias corridos, contados da data do envio, sob pena de
considerar-se automaticamente realizada ao final desse prazo.
Se o processo for eletrônico, as citações, intimações e
notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio
eletrônico. Haverá dificuldades, quando o ato for dirigido não ao
advogado, mas à parte, como ocorre com a citação. Só será
possível a utilização de meio eletrônico se o destinatário tiver se
cadastrado na forma do art. 2º da Lei. Não sendo viável, a citação
será feita pelo modo convencional.
O art. 7º determina que as cartas precatórias, rogatórias, de
ordem e, de modo geral, todas as comunicações oficiais que
transitem entre órgão do Poder Judiciário, bem como entre os deste
e os dos demais Poderes, serão feitas preferencialmente por meio
eletrônico.
O art. 246, §§ 1º, 2º e 5º, do CPC estabelece que a citação das
pessoas jurídicas públicas e privadas, bem como da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, das entidades de
administração indireta, e das microempresas e empresas de
pequeno porte que não possuírem endereço cadastrado no
Redesim será feita preferencialmente por meio eletrônico, no Portal
Eletrônico, regulamentado pela Resolução CNJ n. 234/2016. Para
que isso se viabilize, elas são obrigadas a manter cadastro nos
sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de
recebimento de citações e intimações. O art. 1.051, por sua vez,
determina que, para cumprimento do disposto no art. 246, § 1º, as
empresas públicas ou privadas se cadastrem no prazo de 30 dias, a
contar da data de inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica,
perante o juízo onde tenham sede ou filial. A lei não soluciona a
questão relativa às empresas que já tenham feito a inscrição de
seus atos constitutivos antes da entrada em vigor da lei. À míngua
de melhores esclarecimentos, deve-se entender que, para elas, o
prazo de 30 dias correrá da data da entrada em vigor do CPC. A
exigência é imposta somente às pessoas jurídicas, não às físicas,
nem às microempresas ou empresas de pequeno porte. Vale
lembrar que a citação por meio eletrônico das pessoas físicas e das
microempresas e empresas de pequeno porte com endereço
cadastrado no Redesim será feita por meio de envio de e-mail ao
endereço eletrônico, cujo recebimento deverá ser confirmado no
prazo de três dias úteis pelo destinatário, na forma do art. 246, caput
e § 1º-A, do CPC.
■ 2. REQUISITOS DOS ATOS PROCESSUAIS
Existem requisitos que a lei estabelece para a validade dos atos
processuais. Cumpre-nos, neste capítulo, estudar quais são os
gerais, pois os específicos serão examinados oportunamente, à
medida que forem estudados os vários atos de que o processo se
compõe.

■ 2.1. Requisitos gerais quanto ao modo dos atos processuais


■ que sejam redigidos em vernáculo (CPC, art. 192). Eventuais
documentos em língua estrangeira só poderão ser juntados se
acompanhados de versão para a língua portuguesa tramitada
por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por
tradutor juramentado;
■ os atos orais devem ser praticados também em língua
portuguesa. Se o juiz quiser ouvir uma das partes ou uma
testemunha que não conheçam o português, terá que nomear
um intérprete, necessário também em relação àqueles que
fazem uso da linguagem mímica dos surdos-mudos;
■ os atos e os termos do processo serão assinados pelas
pessoas que neles intervierem. Mas se não quiserem ou não
puderem firmá-los o escrivão ou chefe de secretaria certificará a
ocorrência;
■ se o processo for total ou parcialmente eletrônico, os atos
processuais praticados na presença do juiz poderão ser
produzidos e armazenados de modo integralmente digital em
arquivo eletrônico inviolável, na forma da lei, mediante registro
em termo assinado pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de
secretaria, bem como pelos advogados das partes;
■ os atos poderão ser datilografados, por via mecânica ou por
computador. Admite-se o uso da taquigrafia, estenotipia ou
qualquer outro método idôneo, em qualquer juízo ou tribunal.
Mas essa possibilidade fica restrita aos atos judiciais, não aos
das partes. No Juizado Especial Cível, admite-se a gravação
fonográfica para documentar a audiência;
■ são vedados os espaços em branco, nos atos e termos do
processo, salvo se inutilizados; as emendas ou rasuras devem
ser ressalvadas. Tudo para evitar fraudes ou utilização indevida
de espaços em branco (CPC, art. 211).

■ 2.1.1. Publicidade dos atos processuais


A publicidade do processo e dos atos processuais é garantida
pela CF (art. 5º, LX) e regulamentada pelo art. 189 do CPC, já
comentado no Livro I, Capítulo 3, item 2.8, supra.
Quando o processo correr em segredo de justiça, só poderá ser
consultado pelas partes, seus advogados, terceiros
intervenientes admitidos no processo e pelo Ministério Público.
Por isso, os atos de comunicação do processo (intimações e
publicações de editais) serão cifrados, e o nome das partes não
aparecerá na íntegra, mas abreviado. O terceiro que demonstrar
interesse jurídico e que não tenha intervindo no processo poderá
requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de
inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.
O desrespeito ao sigilo que obriga a todos os participantes do
processo poderá acarretar sanções administrativas e eventualmente
civis ao culpado, mas não nulidade processual.

■ 2.2. Requisitos gerais quanto ao lugar


Os atos processuais são praticados, em regra, na sede do juízo
(CPC, art. 217); mas nem sempre, havendo numerosas exceções,
como:

■ os atos de inquirição de pessoas que, em homenagem ao


cargo que ocupam, podem ser ouvidas em sua residência ou
local em que exercem suas funções (CPC, art. 454);
■ os atos que têm de ser praticados por carta;
■ os atos relativos à testemunha que, em razão de dificuldades
de movimento ou locomoção, tem de ser ouvida em seu
domicílio.

■ 2.3. Requisitos gerais quanto ao tempo


Os atos processuais devem ser praticados em um determinado
prazo, em regra, sob pena de preclusão. Não há preclusão para que
o juiz pratique os atos do processo e emita os pronunciamentos que
lhe incumbem, mas, se desrespeitado o fixado por lei, ele ficará
sujeito a sanções administrativas (prazos impróprios). O art.
235 indica o procedimento a ser tomado pela parte, pelo Ministério
Público ou pela Defensoria Pública, em caso de atraso injustificado
do juiz.
O tempo no processo pode ser examinado por dois ângulos: o
referente ao momento, à ocasião do dia, do mês e do ano em que
os atos podem ser praticados; e os prazos que os participantes do
processo deverão observar.

■ 2.3.1. Ocasião para a prática dos atos processuais


Os atos processuais devem ser praticados nos dias úteis, que
não são feriados. De acordo com o CPC, art. 216, são feriados os
sábados e domingos e os dias declarados tais por lei, que incluem
1º de janeiro, 21 de abril, 1º de maio, 7 de setembro, 12 de outubro,
2 de novembro, 15 de novembro e 25 de dezembro. São feriados
forenses o dia 8 de dezembro (Dia da Justiça), a terça-feira de
Carnaval e a Sexta-Feira Santa, bem como os dias em que não haja
expediente forense. Há ainda feriados específicos da Justiça
Federal, feriados estaduais e municipais.
Durante o dia, os atos processuais podem ser realizados das
6h00 às 20h00, mas o art. 212 do CPC estabelece algumas
exceções: quando, iniciados antes do limite do horário, não puderem
ser concluídos e o adiamento puder ser prejudicial; ou quando
tratar-se de citação, intimação e penhora, que poderão realizar-se
durante as férias forenses onde houver, em dias não úteis, ou fora
do horário normal, independentemente de autorização judicial.
As leis de organização judiciária, de âmbito estadual, têm
autonomia para estabelecer horários do fechamento do protocolo, o
que terá grande relevância sobre os prazos processuais em autos
não eletrônicos, já que a petição ou manifestação da parte deve ser
protocolada até a última hora do último dia do prazo. Em São Paulo,
o protocolo fecha às 19h00, e as petições em autos não eletrônicos
têm de ser apresentadas até essa hora. A prática eletrônica do ato
processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24h00 do último
dia do prazo. Os atos externos – como citações e intimações –
poderão estender-se até as 20h00, ou até mais tarde, nas hipóteses
do art. 212, § 1º.

■ 2.3.2. Férias forenses


A Emenda Constitucional n. 45 acrescentou à Constituição
Federal dispositivo (art. 93, XII) que extinguiu a possibilidade de
férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau. Com
isso, desapareceram as férias coletivas nesses órgãos, razão pela
qual não tem eficácia o disposto nos arts. 214 e 215, ambos do
CPC, naquilo que diz respeito a férias, em relação aos processos
que tramitam nessas instâncias.
Mas pode haver férias forenses nos tribunais superiores, período
no qual não são praticados atos processuais (CPC, art. 214). Essa
regra, porém, não é absoluta, pois existem certos atos que podem
ser praticados durante as férias e alguns processos que, nesse
período, correm regularmente, não se suspendendo pela
superveniência delas.
É preciso distinguir então entre aqueles processos que correm ou
não durante as férias. Mesmo nestes, há alguns atos excepcionais,
os de urgência, que a lei autoriza sejam praticados, apesar de
suspenso o processo. Os atos que, em qualquer tipo de processo,
podem ser praticados nas férias são os mencionados no art. 212, §
2º (citações, intimações e penhoras), e as tutelas de urgência. E os
processos que não se suspendem com a superveniência das férias
são os de jurisdição voluntária; os necessários para a conservação
de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento; as
ações de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de
tutor e curador; e os demais processos que a lei determinar (art.
215).

■ 2.3.3. Prazos processuais


Para que o processo não se eternize, a lei estabelece um prazo
para que os atos processuais sejam praticados. Por prazo entende-
se a quantidade de tempo que deve mediar entre dois atos.
Quando a lei determina que o prazo para contestação é de quinze
dias a contar da data da juntada aos autos do mandado de citação,
estabelece o prazo para a prática do ato. Se for desrespeitado, o ato
será intempestivo.

■ 2.3.3.1. Tipos de prazos processuais


■ 2.3.3.1.1. Prazos próprios e impróprios
Os prazos podem ser próprios (também chamados preclusivos) ou
impróprios. Os das partes (incluindo do Ministério Público quando
atua nessa condição) e dos terceiros intervenientes, em regra, são
próprios, têm que ser respeitados, sob pena de preclusão
temporal, de perda da faculdade processual de praticar aquele
ato. Nesse sentido, o art. 223 do CPC: “Decorrido o prazo, extingue-
se o direito de praticar ou de emendar o ato processual,
independentemente de declaração judicial, ficando assegurado,
porém, à parte provar que o não realizou por justa causa”.
Mas alguns atos das partes e seus advogados não serão
preclusivos. Por exemplo: o de formular quesitos e indicar
assistentes técnicos no prazo de quinze dias, quando for
determinada prova pericial, pois há numerosas decisões do STJ que
permitem a apresentação até o início dos trabalhos periciais; o de
restituir os autos, retirados do cartório; o de indicar bens que
possam ser penhorados.
Os prazos do juiz, de seus auxiliares e do Ministério Público,
quando atua como fiscal da ordem jurídica, são impróprios, não
implicam a perda da faculdade, nem o desaparecimento da
obrigação de praticar o ato, mesmo depois de superados. O juiz
não se exime de sentenciar, nem o Promotor de Justiça de se
manifestar, porque foi ultrapassado o prazo previsto em lei. Da
mesma forma, em relação aos auxiliares do juízo. Mas se o
Promotor de Justiça, ainda que fiscal da ordem jurídica, quiser
recorrer, deve fazê-lo no prazo, sob pena de preclusão, já que o
prazo de recurso é sempre próprio.

■ 2.3.3.1.2. Prazos dilatórios e peremptórios


Tradicionalmente, costumava-se distinguir entre prazos
peremptórios e dilatórios, sendo os primeiros aqueles
cogentes, que não podiam ser modificados pela vontade das
partes, e os segundos aqueles que podiam ser alterados por
convenção das partes, desde que a alteração fosse requerida
antes de eles vencerem e estivesse fundada em motivo legítimo,
caso em que o juiz deveria fixar o dia de vencimento da
prorrogação, respeitada a convenção.
Mas essa distinção tem pouca utilidade no sistema do CPC atual,
diante do que dispõem os arts. 190 e 191, que não fazem nenhuma
distinção entre prazos peremptórios ou dilatórios, permitindo que,
por convenção, nos processos que admitem autocomposição, as
partes capazes estipulem mudanças no procedimento e
convencionem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, podendo as partes, de comum acordo com o juiz, fixar
um calendário para a prática de atos processuais quando for o caso.
Não havendo nenhuma restrição ao poder de convenção das
partes, exceto aquele estabelecido no parágrafo único do art. 190,
mesmo os prazos anteriormente considerados peremptórios
estarão sujeitos à alteração, por vontade das partes, sob a
fiscalização do juiz. Com isso, desaparece a utilidade da distinção
entre prazos peremptórios e dilatórios, que era fundada
exclusivamente na possibilidade de haver convenção das partes
para modificá-los. Como a lei não restringe esse poder em nenhum
tipo de prazo, a distinção perdeu o sentido.
Na legislação anterior, essa classificação se justificava porque,
dada a natureza pública do processo, era limitado o poder das
partes de alterar prazos. Aqueles instituídos para comodidade dos
litigantes poderiam ser alterados por eles, convencionalmente; os
que eram estabelecidos para melhor andamento do processo eram
cogentes e inderrogáveis. O CPC atual, ainda que continue
atribuindo natureza pública ao processo, não impede a convenção
das partes sobre o procedimento e a negociação processual, desde
que o processo admita autocomposição. Por isso, todos os prazos
no processo atual podem ser objeto de alteração por convenção das
partes, desde que haja controle judicial.
Sem a convenção das partes, o juiz tem poderes apenas para
dilatar prazos processuais, adequando-os às necessidades do
conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito (art.
139, VI). Afora essa hipótese, em que a dilação decorre da
necessidade do processo, só é dado ao juiz aumentar o prazo, por
até dois meses, nas comarcas, seções ou subseções judiciárias,
onde for difícil o transporte (art. 222). O juiz pode também, sem a
anuência das partes, reduzir os prazos meramente dilatórios. Os
peremptórios, só se houver concordância da parte (art. 222, § 1º),
sendo essa a única situação em que ainda permanece útil a
distinção entre esses dois tipos de prazo.

■ 2.3.4. Contagem de prazo


A contagem de prazo pode ser feita por anos, meses, dias, horas
ou minutos: o prazo da ação rescisória é de dois anos; as partes
podem convencionar a suspensão do processo por até seis meses;
o de contestação é de quinze dias; para que a intimação das partes
as obrigue ao comparecimento, é preciso que seja feita com 48
horas de antecedência; e o prazo para as partes manifestaram-se,
nas alegações finais apresentadas em audiência, é de vinte
minutos.
Os prazos são fixados por lei; na omissão desta, pelo juiz. Se não
houver nem lei nem determinação judicial, o prazo será de
cinco dias (CPC, art. 218, § 3º). Também pode ser fixado pelas
próprias partes, por convenção, nos termos do art. 190 e 191 do
CPC.
Na contagem do prazo, exclui-se o dia do começo e inclui-se
o do vencimento, computando-se, na contagem do prazo em
dias, apenas os dias úteis (art. 219). Por exemplo: se o réu é
citado para contestar em quinze dias, o prazo corre da juntada aos
autos do mandado de citação, porém a contagem não começa no
dia da juntada, mas no primeiro dia útil subsequente. O prazo será
contado de maneira contínua, excluindo-se os dias não úteis, e se
concluirá no final do expediente forense do 15º dia do prazo,
considerados apenas os dias úteis. Os que não o forem deverão ser
excluídos do cômputo. Se a intimação for feita pelo Diário Oficial, o
prazo começará a correr no primeiro dia útil seguinte à publicação.
Se for eletrônico, a publicação considera-se feita no primeiro dia útil
subsequente à disponibilização da informação (art. 4º, § 3º, da Lei n.
11.419/2006).
O termo inicial da contagem dos prazos é estabelecido no art. 231
do CPC. Salvo disposição em sentido diverso, a contagem do prazo
terá como termo inicial:
“I – a data de juntada aos autos do aviso de recebimento,
quando a citação ou a intimação for pelo correio;
II – a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a
citação ou a intimação for por oficial de justiça;
III – a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela
se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria;
IV – o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz,
quando a citação ou a intimação for por edital;
V – o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da
intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê,
quando a citação ou a intimação for eletrônica;
VI – a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou,
não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de
origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação
se realizar em cumprimento de carta;
VII – a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário
da Justiça impresso ou eletrônico;
VIII – o dia da carga, quando a intimação se der por meio da
retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria.
IX – o quinto dia útil seguinte à confirmação, na forma prevista
na mensagem de citação, do recebimento da citação realizada
por meio eletrônico”.
O inciso IX foi acrescentado ao art. 231 pela Lei n. 14.195/2021. É
preciso não confundir as hipóteses do inciso V com a do inciso
IX. Como será mais bem esclarecido no capítulo relativo à citação,
com a edição da lei acima indicada, passaram a existir duas formas
de citação eletrônica em nosso ordenamento jurídico, ambas
preferenciais sobre as demais espécies de citação: aquela feita por
meio do portal eletrônico, tratada pela Lei n. 11.419/2006, e aquela
feita por envio de e-mail ao citando, cadastrado em banco de
dados do Poder Judiciário, tratada pela Lei n. 14.195/2021. A
primeira será a forma de citação eletrônica das pessoas jurídicas de
direito público e de direito privado, incluindo as microempresas e
empresas de pequeno porte, sem endereço cadastrado no Redesim;
a segunda, a forma de citação eletrônica das pessoas naturais e das
microempresas e empresas de pequena forma inscritas no
Redesim. O portal eletrônico, a que alude a Lei n. 11.419/2006, já foi
regulamentado pelo CNJ, por meio da Resolução n. 234/2016 (em
São Paulo é utilizado o portal pelo sistema SAJ); já o banco de
dados a que alude a Lei n. 14.195/2021 ainda depende de
regulamentação do CNJ.
O inciso V do art. 231 refere-se à citação ou intimação
eletrônica feita pelo portal já regulamentado. De acordo com o
art. 5º, § 3º, da Lei n. 11.419/2006, a consulta ao portal deverá ser
feita em até 10 dias corridos contados da data do envio da
intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente
realizada na data do término desse prazo. Isso significa que o
destinatário da citação ou intimação não precisa confirmar o seu
recebimento. O prazo fluirá a partir do momento em que ele
consultar a citação ou intimação em portal próprio. Se, no entanto,
não houver consulta do citando, findo o prazo de 10 dias corridos,
reputa-se realizada a citação ou intimação, e, no dia útil seguinte
ao final do término do prazo de consulta, o prazo para a prática do
ato processual terá início.
Já o inciso IX do art. 231 refere-se à citação ou intimação por
e-mail, que é enviada ao endereço eletrônico do citando, na
forma do art. 246, caput, do CPC. Nessa hipótese, a citação só se
aperfeiçoa se o citando confirma o recebimento no prazo de três
dias úteis, contados do recebimento da citação eletrônica. Não
havendo essa confirmação, a citação reputar-se-á não realizada, e
terá de ser feita pelos meios convencionais, previstos nos incisos do
art. 246, § 1º-A, do CPC. Caso haja a confirmação no prazo de três
dias, a citação por e-mail reputar-se-á realizada, e o prazo para a
prática do ato processual começará a contar depois de cinco dias
úteis da confirmação. Assim, feita a confirmação, é necessário
aguardar o transcurso de cinco dias úteis. No dia útil subsequente
ao término desse prazo, terá início o prazo para a prática do ato
processual.

■ 2.3.5. Suspensão e interrupção do prazo


Distingue-se a suspensão da interrupção de prazo porque, na
primeira, ele fica paralisado, mas volta a correr do ponto em que
parou, quando incidiu a causa suspensiva. Já a interrupção provoca
o retorno do prazo à estaca zero, como se nada tivesse corrido até
então.
Iniciada a contagem, o prazo não será suspenso, salvo a
existência das hipóteses previstas no art. 313, I a VIII, do CPC, ou
se houver algum obstáculo que impeça a parte de se manifestar,
como, por exemplo, a retirada dos autos pelo adversário, a remessa
deles ao contador, o movimento grevista que paralisa as atividades
forenses. Mas não tem sido admitida como causa de suspensão a
falha no serviço de remessa de intimações ao advogado pelo
respectivo órgão ou entidade de classe.
As causas interruptivas são raras, podendo ser mencionadas
duas: quando o réu requer o desmembramento do processo, em
virtude de litisconsórcio multitudinário; e quando as partes opõem
embargos de declaração.

■ 2.3.6. Alguns benefícios de prazo


■ 2.3.6.1. Ministério Público, Fazenda Pública e Defensoria Pública
O Ministério Público (art. 180, caput), a Fazenda Pública (art.
183) e a Defensoria Pública (art. 186) gozarão de prazo em
dobro para manifestar-se nos autos. Esse dispositivo não ofende
o princípio constitucional da isonomia, porque a quantidade de
processos em que atuam é maior do que a comum, razão pela qual
fazem jus a um prazo maior, para contestar e responder.
A Fazenda Pública, a que a lei se refere, abrange todas as
pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, Municípios,
Distrito Federal, autarquias e fundações públicas.
Não têm privilégio de prazo as empresas públicas e as
sociedades de economia mista, pessoas jurídicas de natureza
privada.
O Ministério Público tem o prazo maior, tanto na condição de parte
como na de fiscal da ordem jurídica.
Também têm privilégio de prazo os escritórios de prática jurídica
das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e as
entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
convênios firmados com a Defensoria Pública (art. 186, § 3º). Na
vigência do CPC/73, o benefício só era reconhecido em favor dos
Centros Acadêmicos de universidades públicas, mas, diante dos
termos do CPC/2015, o benefício deverá ser concedido também às
universidades particulares, desde que reconhecidas na forma da lei.

■ 2.3.6.2. Litisconsortes com advogados diferentes


Quando houver litisconsortes que tenham diferentes
procuradores, todos os prazos legais ser-lhe-ão contados em
dobro: para contestar, recorrer, contrarrazoar e falar nos autos em
geral.
É preciso que os procuradores sejam diferentes e que não
pertençam ao mesmo escritório de advocacia (art. 229). A dobra de
prazo não se aplica aos processos de autos eletrônicos (art. 229, §
2º).
Ainda que os litisconsortes tenham, cada qual, vários advogados,
o prazo será simples se houver um que seja comum a todos.
Questão relevante é a relacionada ao prazo de contestação,
quando, citados os litisconsortes, não é ainda possível saber se
todos contratarão advogados e se serão os mesmos.
Já na vigência do CPC/73 vinha prevalecendo o entendimento de
que se houvesse dois réus e um deles permanecesse revel ainda
assim o outro teria prazo em dobro para contestar, porque não tinha
como saber se o corréu contrataria ou não advogado. Nesse
sentido: “Não me parece razoável que a parte, já sabedora de que
atuará com advogado próprio, tenha de aguardar a defesa da outra
– se existirá ou não – para que possa fruir do prazo em dobro,
correndo o risco de, se o litisconsorte for revel, ter sua peça de
defesa inadmitida por intempestiva” (RSTJ – 4ª Turma, REsp
683.956, Rel. Min. Aldir Passarinho). Essa solução foi
expressamente adotada pelo art. 229, § 1º, do CPC/2015. O prazo
de contestação será sempre em dobro, ainda que o corréu
permaneça revel. No entanto, se, havendo dois réus e apenas um
deles contestar, daí em diante cessa a contagem em dobro.
Não há necessidade de pedir ao juiz a dobra de prazo, que
será decorrência automática da contratação de advogados
distintos pelos litisconsortes.
Tem-se entendido que, se a constituição do advogado diferente
ocorreu no curso do prazo, só correrá em dobro o restante. Assim,
se o advogado novo for constituído no 10º dia de um prazo de
quinze, somente os cinco faltantes serão dobrados.
Importante, ainda, a Súmula 641 do STF: “Não se conta em dobro
o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido”.
Tem prevalecido o entendimento de que o art. 229 do CPC não
se aplica aos Juizados Especiais Cíveis, porque é incompatível
com a celeridade que se exige do procedimento. Nesse sentido,
aplica-se o Enunciado n. 123 do Fórum Nacional dos Juizados
Especiais.

■ 2.3.6.2.1. Aplicação cumulativa de mais de uma causa de dobra


Imagine-se que determinado processo tenha dois réus e que um
deles seja a Fazenda Pública. Qual seria o prazo para manifestar-se
nos autos? Se aplicarmos conjuntamente os arts. 183 e 229, ele
seria multiplicado por quatro. Mas não é assim: se estão presentes
as hipóteses de aplicação do art. 183 e do art. 229, o juiz só aplicará
uma delas. Portanto, apenas duplicará o prazo.

■ 2.3.6.3. O art. 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/50


Os beneficiários da Justiça Gratuita não têm prazo especial em
geral. Mas, quando patrocinados por órgãos públicos da assistência
judiciária, como a Defensoria Pública e a Procuradoria do Estado,
passam a ter em dobro todos os prazos para falar nos autos.
Não há ofensa à isonomia, porque tais órgãos atuam em grande
quantidade de processos, o que justifica o benefício.
Equiparam-se, para os fins de dobra do prazo, aos órgãos
públicos os escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas na forma da lei (públicas ou privadas) e as entidades
que prestam serviço de assistência judiciária gratuita em razão de
convênios firmados com a Defensoria Pública.

■ 2.4. Preclusão
É mecanismo de grande importância para o andamento do
processo, que, sem ele, se eternizaria.
Consiste na perda de uma faculdade processual por:
■ não ter sido exercida no tempo devido (preclusão temporal);
■ incompatibilidade com um ato anteriormente praticado
(preclusão lógica);
■ já ter sido exercida anteriormente (preclusão consumativa).
■ 2.4.1. Preclusão temporal
Os prazos próprios são aqueles que, se não respeitados, implicam
a perda da faculdade de praticar o ato processual. Haverá a
preclusão temporal para aquele que não contestou ou não recorreu
no prazo estabelecido em lei.

■ 2.4.2. Preclusão lógica


Consiste na perda da faculdade processual de praticar um ato
que seja logicamente incompatível com outro realizado
anteriormente. Por exemplo, se a parte aquiesceu com a sentença
e cumpriu o que foi nela determinado, não poderá mais recorrer
(CPC, art. 1.000).

■ 2.4.3. Preclusão consumativa


O ato que já foi praticado pela parte ou pelo interveniente não
poderá ser renovado. Se o réu já contestou, ainda que antes do 15º
dia, não poderá apresentar novos argumentos de defesa, porque já
terá exaurido sua faculdade. O mesmo em relação à apresentação
de recurso: se já recorreu, ainda que antes do término do prazo, não
poderá oferecer novo recurso ou novos argumentos ao primeiro.

■ 2.4.4. Preclusão pro judicato


Conquanto os prazos judiciais sejam impróprios, para que o
processo possa alcançar o seu final, é preciso que também os atos
do juiz fiquem sujeitos à preclusão. Não se trata de preclusão
temporal, mas da impossibilidade de decidir novamente aquilo que
já foi examinado. Não há a perda de uma faculdade processual, mas
vedação de reexame daquilo que já foi decidido anteriormente, ou
de proferir decisões incompatíveis com as anteriores.
O tema é de difícil sistematização, porque, no curso do processo,
o juiz profere numerosas decisões, sobre os mais variados assuntos
de direito material e processual. Nem todas estarão sujeitas à
preclusão pro judicato.
O juiz não pode voltar atrás nas que:

■ deferem a produção de provas;


■ concedem medidas de urgência;
■ decidem matérias que não são de ordem pública, como as
referentes a nulidades relativas.
Mas, mesmo nelas, o juiz poderá modificar a decisão anterior, se
sobrevierem fatos novos, que justifiquem a alteração. E se a decisão
foi objeto de agravo de instrumento, pode exercer o juízo de
retratação, enquanto ele não for julgado.
Há outras decisões que, mesmo sem recurso e sem fato
novo, podem ser alteradas pelo juiz. Não estão sujeitas, portanto,
à preclusão pro judicato.
Podem ser citadas:

■ aquelas que examinam matéria de ordem pública, como falta


de condições da ação e pressupostos processuais, requisitos de
admissibilidade dos recursos;
■ aquelas em que há indeferimento de provas, porque, por força
do art. 370 do CPC, o juiz pode, a qualquer tempo, de ofício,
determinar as provas necessárias ao seu convencimento.
■ 3. ESQUEMA DOS ATOS PROCESSUAIS QUANTO AOS
REQUISITOS

QUANTO QUANTO AO LUGAR QUANTO AO TEMPO


AO
MODO

■ 1 – Os ■ Os atos processuais ■ 1 – Os atos processuais devem ser praticados


atos são, em regra, na ocasião apropriada, durante o expediente
escritos praticados nas forense, em dias úteis (ressalvadas as
devem dependências do hipóteses do CPC, art. 212, § 2º).
ser Fórum, mas em
■ 2 – Devem ainda ser praticados no prazo, mas
redigidos situações excepcionais
é preciso distinguir entre os próprios,
em podem ser praticados
geralmente dirigidos às partes, cuja
vernáculo. fora, como as
desobediência implica preclusão temporal; e os
■ 2 – Os audiências nas
impróprios, que são os do juiz, dos auxiliares da
orais hipóteses do art. 454 do
justiça e do Ministério Público fiscal da lei, cuja
também CPC.
desobediência pode ensejar sanções
devem administrativas, mas não a impossibilidade de
ser em realizar o ato.
português
.
■ 3 – Os
atos são
públicos,
exceto
nos casos
de
segredo
de justiça
(CPC, art.
189).

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