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BREVE APRESENTAÇÃO

Sejam muito bem-vindos, prezados Conciliadores e Mediadores,

É com grande prazer que apresento a vocês este curso de Noções


Gerais do Direito formulado para capacitação de conciliadores e mediadores judiciais
promovidos pela Escola de Mediação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
-EMEDI.

Nosso curso abordará tópicos da legislação, doutrina e jurisprudência


brasileira sobre temas relacionados aos métodos não adversariais na solução de
conflitos, bem como apresentará ao cursista noções do Direito Processual Civil,
procedimentos dos Juizados Especiais Cíveis, Criminais e Fazendários, Direito do
Consumidor, Direito de Família, Atos Processuais Negociais e Atos Concertados.

Os temas abordados são costumeiramente objeto de demandas


judiciais ou estão diretamente ligados ao serviço da prestação jurisdicional e que com
frequência serão levantados por partes, advogados, servidores e demais operadores do
Direito aos conciliadores e mediadores, antes, durante ou depois de uma sessão de
conciliação e mediação.

Este módulo do curso de capacitação tem por objetivo ser mais uma
ferramenta na formação de futuros mediadores e conciliadores, permitindo que o
cursista possa compreender a estrutura do Poder Judiciário, suas demandas e
especificidades, capacitando-o para auxiliar o Sistema de Justiça na solução definitiva
dos conflitos.
A busca por uma ordem justa e fraterna, pautada numa cultura de
pacificação, é o nosso norte e o uso de mecanismos consensuais de solução de conflito
constituem ferramentas céleres e eficientes para o cumprimento deste objetivo.

Desejo um excelente curso!

DANIEL KONDER
JUIZ DE DIREITO DO TJRJ
1 – POLÍTICA NACIONAL DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES

I – Introdução

Não é novidade no ordenamento jurídico brasileiro a utilização de


métodos conciliatórios para se dirimir uma controvérsia judicial, havendo notícias de
utilização oficial destes métodos desde o Brasil Império, que via de regra era realizada
pelo Juiz de Paz e, posteriormente, pelo próprio juiz togado nas causas patrimoniais
antes de iniciada a audiência de instrução e julgamento, conforme disciplinava o Código
de Processo Civil de 1973.

Talvez, o grande ingrediente nesta jornada seja a mudança de paradigma,


iniciada pela Constituição Cidadã, de se inverter a cultura da sentença pela cultura de
pacificação, pois a primeira cultura ainda que termine o processo, não elimina os
conflitos sociais que lhe deram origem.

Atualmente no Brasil temos a Lei nº 9099/95, regulamentando os


Juizados Especiais Cíveis e Criminais, que determina, sempre que possível, a conciliação
para solução da controvérsia judicial.

Ancorado no sucesso da Lei nº 9099/95 outros Juizados Especiais foram


instituídos, focados na solução do conflito pela consensualidade, como o Juizado
Especial Federal (Lei nº 10.259/2001) e o Juizado Especial da Fazenda Pública (Lei nº
12.153/2009).

Em 2015 tivemos a publicação do Código de Processo Civil, que


expressamente determinou que o Estado Brasileiro promova, sempre que possível, a
solução consensual de conflitos e que “a conciliação, a mediação e outros métodos de
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados,
defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial”, conforme estipula o art. 3º, §2º e §3º .

Logo em seguida e com o mesmo propósito foi publicada a Lei nº


13140/2015, regulamentando a mediação entre os particulares e a autocomposição no
âmbito da Administração Pública.

No âmbito do Poder Judiciário o Conselho Nacional de Justiça publicou


duas importantes resoluções, uma disciplinando a Política Pública de Tratamento
Adequado de Conflitos de interesses e também a Resolução nº 125/2010 e de Justiça
Restaurativa nº 225/2016.

Acesse, abaixo, as Resoluções do CNJ.

Res. 125/2010: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156


Res. 225/2016: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2289

Ou se preferir leia o QR CODE.


II – Dos órgãos Judiciais integrantes da Política Nacional de Tratamento
Adequado dos Conflitos de Interesses.

A) Conselho Nacional de Justiça -

Compete ao CNJ, como órgão de controle da atuação administrativa do


Poder Judiciário promover as ações de incentivo à autocomposição de litígios e à
pacificação social por meio da conciliação e da mediação, instituindo programas e
parcerias com entidades públicas e privadas, como universidades e instituições de
ensino, bem como estabelecer diretrizes a serem observadas pelos Tribunais do país.

Dentre as funções do CNJ está a regulamentação do Código de Ética da


atuação de conciliadores e mediadores e demais facilitadores da solução consensual de
conflitos, bem como as Diretrizes Curriculares para capacitação básica destes atores,
entre outras funções previstas no art. 6 da Resolução.

Acesse o Código de Ética – ANEXO III da Resolução nº 125/2010:


https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2014/04/resolucao_125_29112010_23042014190818.pdf

Se preferir leia o QR CODE:

B) Tribunais

Compete aos Tribunais implantarem os Núcleos Permanentes de


Métodos Consensuais de Conflitos – NUPEMEC responsável pelo planejamento,
aperfeiçoamento e manter ações voltadas ao cumprimento da Política Nacional de
Tratamento Adequado de Conflitos e o cumprimento de metas.

O NUPEMEC - RJ é um Órgão Colegiado Administrativo vinculado à


Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, responsável pela
proposição de iniciativas que estimulem e viabilizem práticas autocompositivas, nos
moldes da Resolução CNJ nº 125/2010.

Entre as ações do NUPEMEC está o incentivo e a promoção de


capacitação de magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos de
consensuais de solução de conflitos.
Os Tribunais também são responsáveis por instalar os Centros Judiciários
de Solução de Conflitos e Cidadania que concentrarão a realização das sessões de
conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, dos órgãos
por eles abrangidos.

Acesse o link abaixo para conhecer um pouco mais da atuação do


NUPEMEC:

http://www.tjrj.jus.br/web/guest/institucional/mediacao

Se preferir leia o QR CODE:

C) Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania.

Os CEJUSCs são unidades judiciárias de 1ª instância que realizam a gestão


das sessões de CONCILIAÇÃO e MEDIAÇÃO em procedimentos pré-processuais ou
judiciais. Promovem, ainda, o atendimento ao CIDADÃO para orientação sobre suas
causas, nos termos da Resolução nº 125/2010 do CNJ.

Os procedimentos judicias são encaminhados ao CEJUSC pelo juízo


natural da causa, não havendo, a princípio, qualquer vedação ao objeto de discussão.

No setor pré–processual o CEJUSC poderá atender as partes em disputas


de qualquer natureza e que sejam de competência do respectivo segmento da Justiça,
exceto aquelas que tratarem de direitos indisponíveis não transacionáveis, nos termos
do art. 3º da Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015), colhendo, sempre que necessária,
nos termos da lei, a manifestação do Ministério Público, antes da homologação pelo Juiz
Coordenador, conforme dispõe o Enunciado nº 04 do FONAMEC.

Os acordos celebrados externamente poderão ser encaminhados ao setor


pré-processual para homologação pelo Juiz Coordenador do CEJUSC, salvo quando
existir processo judicial em andamento, devendo neste caso a juntada do acordo se
efetivar nos próprios autos (E N U N C I A D O Nº13 do FONAMEC).

O enunciado nº 10 do FONAMEC nos informa ainda que “quando se tratar


de questões cuja resolução não seja possível no âmbito dos CEJUSCs, o Setor de
Cidadania ficará responsável pelos serviços de orientação e encaminhamento do
cidadão ao órgão responsável.

Os CEJUSCs poderão, sempre que possível, implantar e fomentar a adoção


das Oficinas de Divórcio e Parentalidade para resolução e prevenção de conflitos
familiares, nos termos do art. 1º, I, da Recomendação nº 50 de 08/05/2014, do CNJ -
Enunciado nº 09 do FONAMEC.

Sobre a atuação preventiva a fim evitar a judicialização de conflitos, o


Enunciado nº 15 do FONAMEC orienta que “o Tribunal de Justiça, por meio do
NUPEMEC ou pelo Juiz Coordenador do CEJUSC, poderá propor aos grandes litigantes da
comarca a realização de política pública de não judicialização de conflitos através do seu
tratamento preventivo em conciliação ou mediação prévia”.

III - Noções básicas sobre conciliação e mediação.

a) Quem são os Conciliadores e Mediadores?

Para atuar como mediador nos termos do art. 11 da Lei nº 13140/2015 é


preciso ter 21 anos, ser graduado há pelo menos dois anos em qualquer área de
formação e estar em pleno gozo dos direitos políticos. Além disso, é necessário possuir
capacitação nos moldes da grade curricular estabelecida pelo Conselho Nacional de
Justiça, com curso teórico de 40 horas e estágio supervisionado de mais 60 horas.

Estas exigências não são exigidas do Conciliador que poderão atuar antes
da conclusão do curso superior, desde que tenha realizado a capacitação adequada,
esteja em pleno dos direitos políticos e cursando o terceiro ano ou o 5º Período de
Curso Superior.

Concluída a capacitação, conciliadores e mediadores serão incluídos no


Cadastro Nacional de Mediadores e Conciliadores Judiciais.

Tanto conciliadores como mediadores deverão se pautar pelos princípios


fundamentais previstos no Código de Ética, são eles:

i. confidencialidade,
ii. decisão informada,
iii. competência,
iv. imparcialidade,
v. independência e autonomia,
vi. respeito à ordem pública e às leis vigentes,
vii. empoderamento e validação.

Aplicam-se aos conciliadores e mediadores as mesmas regras de


suspeição e impedimento e magistrados, no que couber, previstas no art. 144 e art. 145
do CPC.

Em razão da condição privilegiada que ocupam conciliadores e


mediadores, durante as sessões ambos devem observar o dever de confidencialidade.

Dispõe o art. 30 da Lei nº 13140/2015:

Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será


confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo
arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou
quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo
obtido pela mediação

Estabelece, ainda, que:

§ 1º O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus


prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua
confiança que tenham, direta ou indiretamente, participado do
procedimento de mediação, alcançando:
I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por
uma parte à outra na busca de entendimento para o conflito;
II - reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do
procedimento de mediação;
III - manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo
mediador;
IV - documento preparado unicamente para os fins do procedimento de
mediação.
§ 2º A prova apresentada em desacordo com o disposto neste artigo não
será admitida em processo arbitral ou judicial.
§ 3º Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação
relativa à ocorrência de crime de ação pública.

Sobre a exceção da regra da confidencialidade o ENUNCIADO nº 38 do


FONAMEC dispõe: “o mediador/conciliador que tomar conhecimento de crime ocorrido
ou que testemunhe crime ocorrido durante as sessões deverá informar ao juiz
Coordenador do CEJUSC a respeito”.

b) O conciliador e mediador que não observarem as regras de


conduta estão sujeitos a alguma punição?

Exige-se do conciliador e mediador conduta adequada pela função que


desempenha.

O art. 173 do CPC nos informa que serão excluídos do cadastro de


conciliadores e mediadores aquele que:

• agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou da


mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer dos
deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º;
• atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de
impedido ou suspeito.

Além da sanção de natureza administrativa, é possível sanções de ordem


civil, por eventual dano causado, bem como de natureza penal em razão da quebra da
confidencialidade:

Vejamos:

Violação do segredo profissional

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir
dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa de um conto a dez
contos de réis.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

c) Qual a diferença entre a conciliação e a mediação?

A conciliação é utilizada em conflitos mais simples, de natureza


predominantemente patrimonial, em que o conciliador poderá adotar postura mais
ativa, sem perder é claro sua imparcialidade e neutralidade. Relações de consumo,
responsabilidade civil, acidentes de trânsito são bons exemplos de conflitos que possam
ser encaminhados para conciliação.

A mediação é direcionada a conflitos mais complexos, multidimensionais,


sobretudo quando existe uma relação ou vínculo pré-existente entre as partes. O
mediador atua para facilitar o diálogo e a solidariedade entre os interessados, para que
eles possam buscar por si próprio soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
Ações de família, como guarda e regime de convivência, vizinhança e litígios coletivos de
posse são exemplos de encaminhamento para mediação.

Assim dispõe o CPC, art. 165:

§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não


houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o
litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou
intimidação para que as partes conciliem.
§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver
vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender
as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo
restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções
consensuais que gerem benefícios mútuos.

O mediador, em razão de sua capacitação, tem autonomia para optar


pelo método autocompositivo a ser aplicado, quando efetuada em conformidade com
os §§ 2º e 3º do art. 165 do Código de Processo Civil, e aceita pelas partes. Neste
sentido o Enunciado nº 34 do FONAMEC.

Por fim, é importante ressaltar que a autocomposição judicial pode


envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido
deduzida em juízo, nos termos do art.515 § 2º do CPC.

d) Participação de crianças e adolescentes.

A Doutrina da Proteção integral previstas na Constituição Federal, no


Estatuto da Criança e do Adolescente e na Convenção Internacional dos Direitos da
Criança inserem as crianças como sujeitos de direito e, em razão disso, podem e devem
ser informadas de ações que lhe digam respeito, em conformidade com sua
características etárias e de desenvolvimento, nos termos do 4º, inciso II da Lei nº
13257/2016.

O ECA igualmente estabelece que as crianças e adolescentes têm direito


a serem ouvidos e de participarem nos atos e na definição da medida de promoção dos
direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade
judiciária competente, respeitado seu estágio de desenvolvimento.

Em caso como adoção, por exemplo, o adolescente deve consentir em


ser adotado.

No procedimento de mediação, é possível, em em casos de


fundamentada necessidade, avaliada e autorizada pelo Juiz Coordenador do CEJUSC, a
participação de crianças e adolescentes – respeitado seu estágio de desenvolvimento e
grau de compreensão – quando o conflito (ou parte dele) estiver relacionado aos seus
interesses ou direitos. Esse é o entendimento do Enunciado nº 26 do FONAMEC.

e) Os conciliadores e mediadores podem advogar?

O Art. 167, § 5° estipula que os conciliadores e mediadores judiciais


cadastrados na forma do caput, se advogados, estarão impedidos de exercer a
advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções.

A regra acima teve interpretação conferida pelo Fórum Nacional de


Mediação e Conciliação – FONAMEC, esclarecendo que “os CEJUSCs são considerados
unidades judiciais autônomas para fins do reconhecimento do impedimento previsto no
art. 167, §5º do CPC”, conforme enunciado nº 21.
Nos termos do art. 7, § 7º da Resolução nº 125/2010 os conciliadores
estão impedidos de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes, pelo
prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram.

f) A participação de advogados nas sessões de mediação e


conciliação.

Conforme dispõe o art. 133 da Constituição Federal o advogado é


indispensável à administração da Justiça. Se nos processos heterocompositivos os
advogados se pautam no convencimento para vencer a demanda, nos processos
autocompositivos suas ações são direcionadas a contribuir com a soluções negociadas e
consensuais.

Devemos lembrar, entretanto, quem nem toda ação judicial exige a


presença de advogado. As adoções dispensam a participação de advogado no processo,
embora recomendável, nos termos do art. 166 do ECA. Outra hipótese são ações de até
vinte salários mínimos no Juizado Especial Cível.

Por sua vez, qualquer cidadão pode buscar o CEJUSC para conciliar antes
de iniciar uma demanda, não exigindo que constitua advogados para o ato.

O art. 10 da Lei nº 13140/2015 estipula que “qualquer das partes poderão


ser assistidas por advogados ou defensores públicos e que comparecendo uma das
partes acompanhada de advogado ou defensor público, o mediador suspenderá o
procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas.

Sobre o tema ENUNCIADO nº 22 do FONAMEC orienta que “nos


procedimentos processuais (mediação e conciliação judiciais), quando o advogado ou
defensor público, devidamente intimado, não comparecer à audiência
injustificadamente, o ato poderá ser realizado sem a sua presença se o
cliente/assistido concordar expressamente”.

g) É possível ocorrer sessões de mediação ou conciliação de forma


virtual?

Não há vedação para o uso de ferramentas digitais para soluções


consensuais do conflito. Neste sentido o ENUNCIADO nº 02 do FONAMEC:

“As sessões de conciliação ou mediação poderão ser realizadas por meio


eletrônico, inclusive videoconferência, nos termos do art. 334, §7º CPC e
do art. 46 da Lei de Mediação (Lei 13.140/2015).”.

O Ato Normativo Conjunto do nº02/2023 do Tribunal de Justiça do Estado


do Rio de Janeiro, art. 3§ 2º igualmente legitima a ferramenta de audiência
telepresencial nas hipóteses de conciliação e mediação no âmbito dos CEJUSCs.

No âmbito do Juizado Especial Cível, estipula o art. 21, § 2º que é cabível


a conciliação não presencial conduzida pelo Juizado mediante o emprego dos recursos
tecnológicos disponíveis de transmissão de sons e imagens em tempo real, devendo o
resultado da tentativa de conciliação ser reduzido a escrito com os anexos
pertinentes.

Que conhecer um pouco mais sobre os enunciados do FONAMEC?

Acesse o link:
http://nupemec.tjba.jus.br/nupemec/wp-content/uploads/2023/05/Caderno-de-
Enunciados-ate%CC%81-13o-FONAMEC-2023.pdf
Se preferir leia o QR CODE:
Assista ainda este vídeo do CNJ sobre conciliação.

Segue o Link também:


https://www.youtube.com/watch?v=1nVZIzRNfRI&t=8s
2 - Noções de Direito Processual Civil e dos Procedimentos dos Juizados
Especiais Cíveis, Criminais e Fazendários:

I – Noções básicas de Processo civil:

a) Processo e Procedimento

De forma resumida, podem podemos classificar o processo em duas


espécies distintas:

i. processo de cognição ou conhecimento: que tem a função de


declarar a vontade concreta da lei. Aqui o objetivo é constituir o título executivo.
ii. processo de execução: quando se pretende a satisfação do
direito do credor, por meio de uma coação estatal sobre a figura do devedor,
independentemente da sua vontade. Aqui o objetivo é executar o título executivo.

Uma mediação ou conciliação exitosa forma um título executivo, que


pode ser um título extrajudicial ou judicial a depender da existência de decisão ou
sentença homologatória do acordo. Os métodos consensuais reduzem, portanto,
consideravelmente ou até mesmo eliminam todo o procedimento de conhecimento. E
durante a satisfação do crédito do credor, cria mecanismos de satisfação mais rápida do
crédito de forma menos onerosa ao devedor.

b) Tipos de procedimento.

Em se tratando de processo de conhecimento, os procedimentos se


dividem em: procedimento comum e procedimentos especiais. Além disso, há o
procedimento sumaríssimo que vigora no âmbito dos Juizados Especiais.

Além disso, existem os procedimentos próprios do processo de execução,


que variam de acordo com a natureza da obrigação (obrigação de fazer e não fazer;
entregar coisa certa ou incerta e pagamento de quantia certa) e da natureza do título
(título executivo judicial e título executivo extrajudicial). Existem ainda as execuções
com procedimentos específicos, quais sejam, execução fiscal, execução contra a
Fazenda Pública, execução contra devedor insolvente e execução de alimentos.

Importante frisar que o acordo realizado por conciliadores e mediadores


constituem títulos executivos extrajudiciais seguindo o rito da execução de título
extrajudicial nos termos do art. 771 e seguintes do CPC e os mesmos acordos, uma vez
homologados pelo juiz, seguem o rito do cumprimento de sentença previsto no art. 513
e seguintes do CPC.
c) Nomenclaturas importantes de atos judiciais

Distribuição: Sempre que houver diversos órgãos concorrentes em


matéria de competência ou atribuições, ou seja, vários juízes ou cartórios com a mesma
competência, numa mesma comarca, haverá necessidade de distribuir os feitos entre
eles na sua entrada em juízo. Segundo o art. 285, CPC, a distribuição, que poderá ser
eletrônica. No estado do Rio são usados dois sistemas o DCP e o PJE.

Autuação (CPC, art. 206): Ao receber a petição inicial de processo, o


escrivão ou o chefe de secretaria a autuará, mencionando o juízo, a natureza do
processo, o número de seu registro, os nomes das partes e a data de seu início, e
procederá do mesmo modo em relação aos volumes em formação.

Registro: o registro é feito por meio de lançamento em livro próprio do


cartório, dos dados necessários à identificação do feito

Distribuição e registro no processo eletrônico: A distribuição da petição


inicial e a juntada da contestação, dos recursos e das petições em geral, todos em
formato digital, nos autos de processo eletrônico, podem ser feitas diretamente pelos
advogados públicos e privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou
secretaria judicial, situação em que a autuação deverá se dar de forma automática,
fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo (Art. 10, Lei 11.419/06. ).

Protocolo: Em se tratando de autos físicos, as petições e documentos,


antes de ingressar no processo, devem ser protocolizadas perante o setor competente,
adquirindo um número de registro e constando a data e horário em que se deu o seu
protocolo.

Em se tratando de autos eletrônicos, quando o ato processual tiver que


ser praticado em determinado prazo, por meio de petição eletrônica, serão
considerados tempestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.
Se o Sistema do Poder Judiciário se tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica
automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema.

Juntada: Ocorre a juntada quando o escrivão certifica o ingresso de uma


petição ou documento nos autos.

Conclusão: É o ato que certifica o encaminhamento dos autos ao juiz,


para alguma deliberação.

Recebimento: é o ato que documenta o momento em que os autos


voltaram a cartório após uma vista ou conclusão.

Remessa: saída dos autos de cartório e o envio deles ao juiz da causa, ao


advogado, ou a outro grau de jurisdição.

Assentada: é o termo de comparecimento das testemunhas em juízo.


Atualmente se usa a expressão “termo”, no art. 459, §3º do CPC.

Publicação: durante o processo, uma série de atos processuais são


praticados, devem ser documentados e comunicados às partes. Esta comunicação é
feita, entre outras formas, por meio da publicação de tais atos no órgão oficial.

Petição inicial: A peça processual que inaugural do processo. Há de ser


firmada pelo advogado(a) do autor, bem como preencher os requisitos do art. 319 do
CPC, além dos nomes, qualificação das partes, indicação dos fatos, fundamentos
jurídicos do pedido e do pedido, entre outros requisitos essenciais, deve o autor
informar a sua opção pela realização ou não de audiência de conciliação ou de
mediação.
Audiência de conciliação e mediação do art. 334 do CPC: tentativa
norteadora de solução consensual do conflito antes mesmo da peça de resistência das
partes. A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. A
audiência não será realizada:

• se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na


composição consensual;
• quando não se admitir a autocomposição.

O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na


autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de
antecedência, contados da data da audiência.

Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve


ser manifestado por todos os litisconsortes.

O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de


conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com
multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa,
revertida em favor da União ou do Estado.

Importante frisar que no Juizado Especial Cível o não comparecimento do


autor a audiência preliminar de conciliação importa no arquivamento dos autos,
enquanto a ausência do Réu, importa na declaração de Revelia.

Revelia – Ausência de contestação. Em regra, gera dois efeitos: material e


processual.
Efeito material é presunção de veracidade dos fatos. Exceções:
• se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
• as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis
ou estiverem em contradição com prova constante dos autos;
• a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a
lei considere indispensável à prova do ato;
• havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;

Efeito processual significa que os correm da data de publicação do ato


decisório no órgão oficial. Exceção: Basta constituir advogado nos autos.

Contestação: É uma peça de resistência. É ela o instrumento processual


utilizado pelo réu para opor-se, formal (art. 337, CPC) ou materialmente, à pretensão
deduzida em juízo pelo autor. Prazo, em regra, de 15 dias (art. 335, CPC). O réu que tem
o ônus de arguir toda a matéria de defesa é chamado de princípio da eventualidade ou
da concentração.

Nos termos do art. 335 o “réu poderá oferecer contestação, por petição,
no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data:

I – da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de


conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo,
não houver autocomposição;
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação
ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art.
334, § 4º, inciso I ;
III - prevista no art. 231 , de acordo com o modo como foi feita a citação,
nos demais casos.
§ 1º No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, §
6º , o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um dos réus, a
data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da
audiência.
§ 2º Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso II , havendo
litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda
não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão
que homologar a desistência.

Réplica: direito que o autor de se manifestar sobre fato impeditivo,


modificativo ou extintivo do direito do autor, bem como sobre eventuais preliminares
meritórias arguidas pelo réu, no prazo de 15 (quinze) dias.

Decisão saneadora: momento em que o juiz resolve questões processuais


pendentes necessários para o julgamento do mérito da ação.

Audiência de Instrução e Julgamento: ato processual solene onde são


colhidos os depoimentos orais das partes, testemunhas, informantes e peritos. Instalada
a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior
de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a
arbitragem. Sendo dever do juiz (art. 139, V, do CPC) promover, a qualquer tempo, a
autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais.

Termos processuais cíveis e autos: Termo é a documentação escrita de


atos processuais, feita por serventuário da Justiça, no exercício de suas atribuições, ou
seja, como existem atos que se realizam oralmente e precisam ficar documentados no
processo, sua documentação faz-se por meio dos termos.

Em alguns casos particulares, a terminologia processual utiliza, invés de


termo, outros vocábulos que têm o mesmo significado, como auto. Assim é que auto é o
termo que documenta atos praticados pelo juiz, auxiliares da Justiça e partes, fora dos
auditórios e cartórios. Nos termos do art. 188 do CPC, via de regra independem de
forma determinada.
Os atos e os termos do processo serão assinados pelas pessoas que neles
intervierem, todavia, quando essas não puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão
ou o chefe de secretaria certificará a ocorrência.

São exemplos:

1) Termo de autuação:
2) Termo de vista
3) Termo de conclusão
4) Termo de juntada.
5) Termo de remessa
6) Termo de recebimento
7) Termo de apensamento:
8) Termo de audiência de instrução e julgamento:
9) Termo de compromisso de inventariante.
10) Termo de tutor e curador: ver art. 759, CPC.

São exemplos de auto:


1) Auto de inspeção judicial: (art. 484, CPC).
2) Auto de adjudicação: (ver arts. 876 a 878, CPC).
3) Auto de arrematação: art. 903, CPC.
4) Auto de divisão: ver art. 588 a 598, CPC.

Atos do juiz: tendo como espécies os despachos, as decisões


interlocutórias e a sentença. Sentença é ato do juiz singular que põe fim ao
procedimento ou à fase do procedimento em primeira instância. A sentença pode
ocasionar a extinção do processo com ou sem resolução de mérito. Decisão
interlocutória. São decisões proferidas pelo juiz no curso do processo, que não põe fim
ao procedimento em primeira instância. (art. 203, § 2º, CPC). Despacho são
manifestações do juiz, com a finalidade de dar marcha processual. Como exemplo,
temos a designação de audiência, a determinação de manifestação das partes nos
autos.

Atos meramente ordinatórios: atos que apenas movimentam o processo


sem qualquer cunho decisório, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidos e revistos pelo juiz quando
necessário (art. 203, §4º, CPC).

Podem ser: Atos de movimentação: feito precipuamente pelo escrivão e


seus funcionários ao realizarem a conclusão dos autos ao juiz, concederem vista às
partes, expedirem mandado. Atos de documentação: a lavratura dos termos referentes
à movimentação (conclusão, vista, etc), a feitura do termo de audiência, o lançamento
de certidões, etc. Atos de execução: produzidos ordinariamente pelos oficiais de justiça.
Trata-se dos atos realizados fora dos auditórios e cartórios, em cumprimento a
mandado judicial. Atos de comunicação processual: consistente em intimações ou
citações, é realizado pelo escrivão, com o auxílio dos correios, ou pelo oficial de justiça,
em cumprimento a mandados judiciais.

Publicidade e processos que correm em segredo de justiça: Nos termos do


art. 189 do CPC, os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos:

I - em que o exija o interesse público ou social;


II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,
união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de
justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus
procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz
certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha
resultantes de divórcio ou separação

Comunicação dos atos processuais: A comunicação dos atos processuais


nasce diante da necessidade de cientificar as partes sobre os atos praticados e a serem
praticados.

• Comunicação real, quando feita diretamente à pessoa do interessado.


• Comunicação presumida: feita por um órgão ou um terceiro que se
presume faça chegar a ocorrência ao conhecimento do interessado.

Formas de comunicação dos atos processuais: a) carta precatória: para outra


comarca, dentro do território nacional; b) carta rogatória: para outro país; c) carta de
ordem: de um tribunal para um juiz que lhe esteja subordinado; d) citação: por correio,
por mandado judicial, pelo escrivão ou chefe de secretaria, por edital, por hora certa e
por meio eletrônico; e) intimação: para cientificação de atos e termos do processo.

Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o


interessado para integrar a relação processual (art. 238, CPC).

Modalidades de citação: Art. 246.


I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em
cartório;
IV - por edital;
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei

Observação: Nos termos do art. 154, IV do CPC. Incumbe ao oficial de justiça


certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das
partes, na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. Certificada a
proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a intimação da parte
contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento
regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa.

Intimação: é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos ou termos do


processo (art. 269, CPC). Trata-se de ato de comunicação processual da maior
relevância, já que é da intimação que começam a fluir os prazos para que as partes
exerçam os direitos e faculdades processuais. Em razão do princípio do impulso oficial,
as intimações não dependem de provocação das partes e são efetuadas, de ofício, no
curso do processo, salvo disposição em contrário (art. 271, CPC).

Contagem do prazo de intimação: Art. 231, CPC. Salvo disposição em


sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou
a intimação for pelo correio;
II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou
a intimação for por oficial de justiça;
III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por
ato do escrivão ou do chefe de secretaria;
IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação
ou a intimação for por edital;
V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao
término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for
eletrônica;
VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não
havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida,
quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta;
VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça
impresso ou eletrônico;
VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos
autos, em carga, do cartório ou da secretaria.
§ 1o Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para
contestar corresponderá à última das datas a que se referem os incisos I a VI do caput.
§ 2o Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado
individualmente.
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por
quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de representante
judicial, o dia do começo do prazo para cumprimento da determinação judicial
corresponderá à data em que se der a comunicação.
§ 4o Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação com hora certa.

Curso dos prazos: Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por
lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto
neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.

Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos


entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.
§ 1o Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os
juízes, os membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública
e os auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante o período previsto no
caput.
§ 2o Durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências nem
sessões de julgamento.
Art. 221. Suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado em detrimento
da parte ou ocorrendo qualquer das hipóteses do art. 313, devendo o prazo ser
restituído por tempo igual ao que faltava para sua complementação.
Parágrafo único. Suspendem-se os prazos durante a execução de programa
instituído pelo Poder Judiciário para promover a autocomposição, incumbindo aos
tribunais especificar, com antecedência, a duração dos trabalhos.

Prazos das partes: Prazo dilatório é aquele que, embora fixado em lei,
admite ampliação pelo juiz ou que, por convenção das partes, pode ser reduzido ou
ampliado. Já o prazo peremptório é aquele que a convenção das partes e,
ordinariamente, o próprio juiz, não podem alterar (art. 222, §§1º e 2º, CPC).

- Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de


emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial,
ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa
causa.
§ 1o Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a
impediu de praticar o ato por si ou por mandatário.
§ 2o Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no
prazo que lhe assinar.
- Quando nem a lei nem o juiz fixar prazo para o ato, será de 5 (cinco) dias o
prazo para a prática de ato processual a cargo da parte (art. 218, §3º, CPC).
- Art. 225. A parte poderá renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente
em seu favor, desde que o faça de maneira expressa.
- Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de
escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para
todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento.
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus,
é oferecida defesa por apenas um deles.
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.

Prazos do juiz: Art. 226. O juiz proferirá:

I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias;


II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias;
III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias.

Prazo do servidor: Art. 228. Incumbirá ao serventuário remeter os autos


conclusos no prazo de 1 (um) dia e executar os atos processuais no prazo de 5 (cinco)
dias, contado da data em que:

I - houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi imposto pela lei;
II - tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz.

Processos que correm em recessos: Art. 214, CPC. Durante as férias


forenses e nos feriados, não se praticarão atos processuais, excetuando-se:

I - os atos previstos no art. 212, §2º;


II - a tutela de urgência.

Art. 215, CPC. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e


não se suspendem pela superveniência delas:

I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação


de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento;
II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e
curador;
III - os processos que a lei determinar.
Art. 216, CPC. Além dos declarados em lei, são feriados, para efeito forense,
os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente forense.

II – Noções básicas do procedimento nos Juizados Especiais Cíveis

i. São princípios norteadores do Juizado Especial: oralidade,


simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.

ii. Competência: a competência em razão da matéria está elencada


no art. 3º

• as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário


mínimo.
• a ação de despejo para uso próprio;
• as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente
ao fixado no inciso I deste artigo.

A Competência territorial esta prevista no artigo 4:


• domicilio do réu.
• local onde deva ser satisfeita a obrigação.
• Domicilio do autor reparação de ato ilícito;

iii. Partes do Processo: Nos termos do art. 8, § 1o, somente serão


admitidas a propor ação perante o Juizado Especial:

I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de


pessoas jurídicas;
II - as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais,
microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei.
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art.
o o
1 da Lei n 10.194, de 14 de fevereiro de 2001.
Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão
pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado. Nas causas de valor superior, a
assistência é obrigatória.

Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida


por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se
quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na
forma da lei local.

O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado,


quando a causa o recomendar.

iv. Dos atos processuais. A Lei 9.099/95 traçou as seguintes normas


para os atos processuais:

a) os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário


noturno, conforme dispuserem as leis de organização judiciária (art. 12).

b) os atos processuais se subordinarão ao princípio da instrumentalidade


das formas. Assim, os atos se consideram válidos “sempre que preencherem as
finalidades para as quais forem realizados” (art. 13). Via de conseqüência, nenhuma
nulidade será pronunciada sem que, efetivamente, tenha havido prejuízo (art.13, §1°).

c) a comunicação poderá ser realizada informalmente, por qualquer meio


idôneo, não sendo necessário o uso formal de carta precatória para que o juiz da causa
solicite a outro juiz a prática de ato processual fora de sua circunscrição territorial (art.
13, §2°).

d) a documentação dos atos realizados na audiência será limitada apenas


aos atos considerados essenciais.

e) caberá às leis de organização judiciária dispor sobre a conservação das


peças do processo e demais documentos que o instruem (art. 13, §4°).
v. Do pedido. Em observância ao princípio da simplicidade e informalidade,
o art. 14 da Lei 9.099/95 permite que a instauração do processo se dê tanto por meio de
requerimento escrito como pela via do pedido oral. Caberá à parte dirigir-se à
secretaria do Juizado, que tomará por termo a pretensão, se formulada oralmente, caso
em que se poderá utilizar o sistema de fichas ou formulários impressos (art. 14, §3°).

Admite-se, tal como no CPC, a formulação de pedidos alternativos ou


cumulativos. Nas cumulações, todavia, a soma dos pedidos conexos não poderá
ultrapassar o limite de 40 salários mínimos (art. 15).

vi. Procedimento: Registrado o pedido, independentemente de distribuição


e autuação, a Secretaria do Juizado designará a sessão de conciliação, a realizar-se no
prazo de quinze dias (art. 16).

Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a


sessão de conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação (art. 17).
Quando ambos os litigantes formularem “pedidos contrapostos”, ou seja, pedidos de
um contra o outro, será dispensada a formalização de contestação e os dois pedidos
opostos serão apreciados na mesma sentença (art. 17, §único). Na verdade, a hipótese
não é de reconvenção, pois os dois litigantes comparecem simultaneamente e cada um
formula pedido próprio contra o outro. São, pois, duas ações conexas que o art. 17
prevê como reuníveis para sentença única.

vii. Das citações e intimações. As citações no Juizado Especial são


normalmente realizadas por correspondência com aviso de recebimento em mão
própria (art. 18, inciso I). Na hipótese de pessoa jurídica ou de titular de firma individual,
a citação será válida desde que seja entregue ao encarregado da recepção, que deverá
ser obrigatoriamente identificado (art. 18, inciso II). É admissível, também, a citação por
oficial de justiça, mas apenas em caráter excepcional e com justificativa adequada, caso
em que a diligência se cumprirá independentemente de mandado ou precatória (art. 18,
inciso III).

Não se admite a citação por edital no Juizado Especial (art. 18, §2°). Se o réu
estiver em local incerto ou ignorado, não será possível o ajuizamento da ação
sumaríssima da Lei 9.099.

O comparecimento espontâneo do réu, entretanto, supre a ausência ou os


defeitos do ato citatório (art. 18, §3°).

viii. Intimações: as intimações dos atos processuais serão feitas na forma


prevista para a citação, mas poderão também adotar outro meio idôneo de
comunicação (art. 19). Dos atos praticados na audiência, não há intimação
propriamente dita, pois a lei os considera, desde logo, como da ciência das partes (art.
19, §1°).

As partes comunicarão ao juízo as mudanças de endereço ocorridas no


curso do processo, reputando-se eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente
indicado, na ausência da comunicação (art. 19, §2°).

ix. Da conciliação. Conciliação: O Juizado foi instituído pela lei como uma
ferramenta voltada para a solução conciliatória. Antes analisar fatos e provas, tem-se o
compromisso legal de tentar a conciliação. O art. 21, Lei 9.099 diz que “aberta a sessão,
o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação,
mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao
disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.”

O art. 22, Lei 9.099 esclarece que a “conciliação será conduzida pelo Juiz
togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação”. Uma vez obtida a conciliação,
esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sentença com
eficácia de título executivo.”

x. Da instrução e julgamento. Fracassada a audiência prosseguirá,


em regra, rumo à instrução e julgamento, na mesma sessão (art. 27, caput). Somente
quando não for possível a imediata coleta das provas reputadas necessárias pelo juiz é
que será marcada uma nova audiência, cuja realização deverá ocorrer num dos 15 dias
subseqüentes, ficando as partes e testemunhas, se presentes, desde logo cientes, sem
necessidade de novas intimações (art. 27, §único). Rege-se pelo princípio da
concentração do procedimento, inspirado no princípio da oralidade, pois sempre que
possível uma só audiência será de conciliação, instrução e julgamento.

Durante a audiência, todos os incidentes devem ser solucionados de plano,


evitando suspensões ou paralisações (art. 29). Sobre os documentos apresentados por
uma das partes, a outra deverá manifestar-se de imediato, ou seja, na mesma audiência
(art. 29, §único).

xi. Da resposta do réu. A defesa do réu poderá ser escrita ou por


manifestação oral, caso em que será tomada por termo (art. 30). Permite-se o réu
incluir na contestação pedido contra o autor, desde que fundado nos mesmos fatos que
constituem objeto da controvérsia (art. 31). Importante destacar que o pedido
contraposto somente poderá se referir à matéria compatível com a competência do
Juizado Especial (valor e matéria) e apenas poderá se referir aos mesmos limites fáticos
dos eventos descritos na inicial do autor. O autor poderá responder ao pedido do réu
na própria audiência ou requerer a designação da nova data, que será desde logo fixada,
cientes todos os presentes (art. 31, §único).

xii. Da revelia. Nos termos do art. 20 da Lei 9.099/95, “não


comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de instrução e
julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o
contrário resultar da convicção do Juiz.”

xiii. Das provas. No Juizado, são permitidos os meios de prova moralmente


legítimos, ainda que não especificados em lei, podem ser utilizados durante a instrução
da causa processada perante o Juizado Especial Civil (art. 32) e deverão ser produzidas,
em regra, na audiência de instrução e julgamento (art. 33). Não há necessidade de
requerimento prévio e ao juiz são conferidos amplos poderes para limitar ou excluir
provas consideradas excessivas, impertinentes ou protelatórias, bem como para
determinar, de ofício, as havidas como necessárias.

Necessário registrar que a atividade instrutória não pode ser confiada ao


conciliador. É tarefa que a Lei 9.099 reserva à direção do juiz togado ou do juiz leigo (art.
37).

xiv. Da sentença. Não há necessidade do relatório a que alude o CPC,


no art. 489, inciso I. Não se admite condenação ilíquida (§único do art. 38). Assim, ainda
que o autor tenha formulado pedido genérico, cumprirá ao juiz apurar o quantum
debeatur e proferir, ao final, sentença líquida.

A condenação não pode exceder a alçada estabelecida pela Lei 9.099.


Exorbitando o valor de alçada será havida como ineficaz na parte excedente ao limite
traçado no art. 3° (art. 39).

Não está adstrito aos limites da alçada o acordo decorrente de transação


ou conciliação.

será plenamente eficaz, mesmo atingindo valor maior que a alçada do


Juizado.
No Juizado Especial a sentença de mérito quando a instrução houver sido
dirigida pelo juiz leigo, a este caberá julgar a causa. Trata-se de julgamento sujeito à
homologação do juiz togado (art. 40). Negando a aprovação da sentença submetida pelo
juiz leigo, o juiz togado proferirá outra.

xv. Da extinção do processo sem resolução do mérito. Dispõe o


artigo 51 da Lei nº 9099 que se extingue o processo, além dos casos previstos em lei:
I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do
processo;
II - quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei ou seu
prosseguimento, após a conciliação;
III - quando for reconhecida a incompetência territorial;
IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no art. 8º
desta Lei;
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de sentença ou não
se der no prazo de trinta dias;
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a citação dos
sucessores no prazo de trinta dias da ciência do fato.
§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer hipótese, de
prévia intimação pessoal das partes.
§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a ausência
decorre de força maior, a parte poderá ser isentada, pelo Juiz, do
pagamento das custas.

xvi. Das despesas processuais. Nos termos do art. 54 o “acesso ao


Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas,
taxas ou despesas. Havendo recurso, o seu preparo, na forma do § 1º do art. 42 desta
Lei, compreenderá todas as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em
primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária gratuita.
O artigo 55 dispõe ainda que: “A sentença de primeiro grau não condenará
o vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-
fé.

3 – Noções básicas do Juizado Especial Criminal.

I - Competência: O Juizado Especial Criminal tem competência para a


conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. Na reunião de processos,
perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de
conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição
dos danos civis.

II - Infrações de menor potencial ofensivo. Art. 61. Consideram-se


infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa.

III - Princípios orientadores: Art. 62. O processo perante o Juizado Especial


orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

IV - Assistência Jurídica obrigatória. Art. 68. Do ato de intimação do autor


do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu
comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta,
ser-lhe-á designado defensor público.

V - Audiência Preliminar. Art. 72. Na audiência preliminar, presente o


representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o
responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação
imediata de pena não privativa de liberdade.

VI - Composição civil dos danos. A composição civil dos danos é a


proposta feita pelo suposto autor do fato à vítima para reparar os prejuízos causados
pela infração. A vítima aceitando a proposta e esta sendo homologada pelo juízo,
teremos a renúncia ao direito de queixa e de representação. Igualmente, extingue-se a
punibilidade nos crimes de ação provada pública condicionada a representação e ação
penal privada. Nos termos do art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a
escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a
ser executado no juízo civil competente.

Não obtida, nos termos do art. 75, a composição dos danos civis, será dada
imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação
verbal, que será reduzida a termo. O não oferecimento da representação na audiência
preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto
em lei.

VII - Transação Penal. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de


crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o
Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta. Aceita a proposta pelo autor da infração e seu
defensor, será submetida à apreciação do Juiz.

Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração,


o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência,
sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
anos.
A imposição da sanção não constará de certidão de antecedentes criminais,
salvo para concessão de novo benefício, e não terá efeitos civis, cabendo aos
interessados propor ação cabível no juízo cível.

Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:


• ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
• ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,
pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
• não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida.

VIII - Suspensão condicional do processo. Art. 89. Nos crimes em que a pena
mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por
dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,


recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:

• I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;


• II - proibição de frequentar determinados lugares;
• III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
• IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.
O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

Mister esclarecer que a suspensão será revogada se, no curso do prazo, o


beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo
justificado, a reparação do dano.

A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no


curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade e


não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

IX - Das Despesas Processuais. Art. 87. Nos casos de homologação do acordo


civil e aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as despesas
processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual.

4 – Noções básicas do juizado Especial Fazendário.

I - Introdução: O art. 1o da Lei nº 12153/2009 dispõe que os Juizados


Especiais da Fazenda Pública, órgãos da justiça comum e integrantes do Sistema dos
Juizados Especiais, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua
competência.

II - Competência: É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda


Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:


I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e
Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão
imposta a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.

Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de


competência do Juizado Especial, a soma de 12 (doze) parcelas vincendas e de eventuais
parcelas vencidas não poderá exceder o valor referido no caput deste artigo.

III - Legitimados processuais. Art. 5o Podem ser partes no Juizado Especial


da Fazenda Pública:

I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de


pequeno porte, assim definidas na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de
2006.
II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios,
bem como autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.

IV - Conciliação e mediação. Art. 8o Os representantes judiciais dos réus


presentes à audiência poderão conciliar, transigir ou desistir nos processos da
competência dos Juizados Especiais, nos termos e nas hipóteses previstas na lei do
respectivo ente da Federação.
V - Documentação necessária. Art. 9o A entidade ré deverá fornecer ao
Juizado a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa,
apresentando-a até a instalação da audiência de conciliação.
VI - Pagamento. As obrigações definidas como de pequeno valor a serem
pagas independentemente de precatório terão como limite o que for estabelecido na lei
do respectivo ente da Federação.

§ 3o Até que se dê a publicação das leis de que trata o § 2o, os valores serão:

I – 40 (quarenta) salários mínimos, quanto aos Estados e ao Distrito Federal;


II – 30 (trinta) salários mínimos, quanto aos Municípios.

Importante frisar que no âmbito do Estado do Rio de Janeiro temos a Lei nº


9629 de 04 de abril de 2022, que dispõe sobre a autocomposição para as pessoas
jurídicas de direito público do Estado e cria a Câmara Administrativa de Solução de
Controvérsias – CASC.

Estipula o art 2º que “sem prejuízo de outras hipóteses já admitidas por lei
ou ato governamental estadual, a Procuradoria Geral do Estado poderá promover a
realização de acordos para prevenir ou findar litígios, inclusive os judiciais, que
envolvam a Administração Pública, direta ou indireta, do Estado do Rio de Janeiro, sem
a necessidade de prévia e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo, nos
seguintes casos: I - na realização de acordos que não envolvam a assunção direta de
obrigação de pagar por ente estadual;

II - na realização de acordos que envolvam créditos ou débitos com valor


igual ou inferior a 100 (cem) salários-mínimos ou a 2% (dois por cento) do faturamento
da empresa, na hipótese de empresa pública, na forma estabelecida por ato do
Procurador Geral do Estado.

3 Noções do Direito de Família, das relações familiares e do princípio da


prioridade absoluta de crianças e adolescentes.
I - Breve Introdução

Nos termos do art. 226 da Constituição Federal a “família, base da


sociedade, tem especial proteção do Estado, sendo um direito fundamental de toda à
criança e adolescente à convivência familiar e comunitária. A Convenção Sobre Os
Direitos Da Criança igualmente estabelece importância impar à família, concebendo-a
como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento e bem-
estar de todos os seus membros. Seguindo a linha dos documentos normativos acima, o
ECA em seu artigo 19 estipula que “é direito da criança e do adolescente ser criado e
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento
integral.”

Segundo o Dicionário Houaiss, família é conceituada como “núcleo social


de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e
mantêm entre si uma relação solidária".

Na Grécia antiga o termo epíston era utilizada para designar a família,


significando aquilo que está perto do fogo. Uma família era um grupo de pessoas às
quais a religião permitia invocar os mesmos manes, e oferecer o banquete fúnebre aos
mesmos antepassados.

Assim, já de início, podemos afirmar que o conceito de família é criação


humana mutável, cuja estruturação se dá através do direito. Portanto, família é um
conceito axiologicamente aberto, mutável no tempo e no espaço a qual está inserida.
Entre vários exemplos de sistemas familiares podemos destacar:

i) Famílias Patriarcais: a figura do pater tem o poder espiritual e temporal sobre a


terra, filhos, esposas e servos.
ii) Família matriarcais: acreditam que as mães são as pessoas mais importantes da
sociedade e, portanto, as propriedades são transferidas de mãe para filhas.
Os Minangkabau que vivem no oeste de Sumatra, na Indonésia, e compostos
por 4 milhões de pessoas, são a maior sociedade matriarcal do mundo. As
mulheres governam internamente, e os homens assumem funções de
liderança política e espiritual.

iii) Famílias Horizontalizadas: caracterizada pela ausência de hierarquia entre os


seus membros, prezando na construção de laços existenciais e de
fortalecimento do grupo.

A família disciplinada no Código Civil de 1916 se caracterizava como


patriarcal, matrimonializada, institucionalizada, indissolúvel, heteressexual,
hierarquizada e patrimonializada, As composições que não se enquadravam neste
modelo eram consideradas famílias informais, marginais e invisíveis.

Por sua vez, a Constituição Federal e o Código Civil de 2002 elencam um


rol axiologicamente aberto, reconhecendo uma pluralidade de relações familiares que
se formam a partir dos vínculos de afetividade, com ênfase no caráter existencial, na
igualdade entre os seus membros, vedando a distinção entre os filhos.

A relação paterno-filial prescinde da biologia, caracterizando sobretudo


pela posse do estado de filiação. Por sua vez, a paternidade socioafetiva, declarada ou
não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação
concomitante com aquele baseado na origem biológica, conforme entendimento do STF
no RE 898.060/ 2016.

Deste modo é possível a chamada “ação de declaração de ascendência


biológica” para tão somente declarar quem é o pai ou mãe biológico, sem a necessidade
de se destituir o poder familiar com o adotante, inclusive com a possibilidade do registro
da multiparentalidade.

II Princípio norteadores das relações familiares.

1 Princípios do novo Direito de Família brasileiro


2 Solidariedade familiar
3 Igualdade entre filhos. As expressões como filho adulterino,
incestuoso, espúrio e bastardo estão abolidas da ordem jurídica
doméstica. Para fins didáticos, porquanto jurídicos, a melhor
terminologia seria filho havido fora do casamento. Além desses,
os adotivos e aqueles havidos por inseminação artificial
heteróloga (art. 1597, V, CC).
4 Igualdade na chefia familiar – é extraída dos arts. 226, § 5º, e
227, § 7º, CF/88, 1566, III e IV, 1631 e 1634, CC.
5 Não-intervenção. O Estado e as demais pessoas não devem
interferir de forma coativa na relação familiar
6 Afetividade – o direito de família é baseado no amor, na ética e na
afetividade, e não na estrita legalidade. Com efeito, a
parentalidade ou paternidade socioafetiva está esculpida nos
Enunciados 103 e 108 do CJF e Provimento nº 63 do CNJ.
7 Função social da família – a família, com sua importante função
social, como vetor da dignidade da pessoa humana, deve ser vista
com as peculiaridades regionais e sociais em que está inserida a
célula-máter da sociedade.

III - Composições familiares.

A doutrina, exemplifica algumas composições familiares. Entre elas


destacamos:
i) Parental: é a que se estabelece a partir dos vínculos entre pai e
mãe e seus descendentes.

ii) Monoparental: entidade familiar formada por qualquer dos pais e


seus descendentes, art. 226, §4º da CF/88.

iii) Anaparental: família constituída sem ascendentes, como por


exemplo o convívio duradouro entre duas irmãs.

iv) Adotiva: aquela cuja parentesco civil se forma por ato de vontade
dos pais e dos filhos. Conhecido como parentesco civil por eleição.

v) Socioafetiva: aquela que se forma pelo estado de posse de filho,


prescindindo da origem genética, tendo como elo constituidor o afeto. O
Provimento nº 63 do CNJ regulamenta o registro extrajudicial da
paternidade socioafetiva.

vi) Homoafetiva: são famílias compostas por membros do mesmo


sexo, sendo normatizado pela Resolução nº 175/2013 do CNJ.

vii) Poliafetiva: é a união conjugal formada por mais de duas pessoas


convivendo em reciprocidade afetiva.

viii) Composta, pluriparental ou mosaico: fruto de famílias que fizeram


parte de outras famílias, tem via de regra como características filhos de
relacionamentos anteriores.

ix) Simultâneas e paralelas: composta por núcleos familiares


distintos, em que um dos seus membros convive simultaneamente entre
elas, geralmente uma oriunda do casamento e a outra decorre da
convivência em união estável.

x) Multiespécie: formada por indivíduos de espécies diferentes.


Sobre o tema, o Enunciado 11 do IBDFAM dispõe que “a ação destinada a
dissolver o casamento ou a união estável, pode o juiz disciplinar a
custódia compartilhada do animal de estimação do casal”.

xi) Virtual: decorrente de relações afetivas ocorridas no mundo


virtual.

IV- A conceituação de Família no Estatuto da Criança e do Adolescente

O ECA elenca três formações básicas de núcleo familiares: família natural,


extensa e substituta.

Família natural: a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e


seus descendentes, nos termos do art 25 do ECA.

Conceitua como família extensa ou ampliada: aquela que se estende


para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes
próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de
afinidade e afetividade. Destaca-se que para ser considerado família extensa, não basta
ser parente, nos termos do art. 1591, 1592 e 1595 do Código Civil, ou seja, ascendente,
descendentes, parentes colaterais até o quarto grau e por afinidade, é indispensável
que seja próximo da criança, com ela convivendo e que mantenha vínculos de afinidade
e afetividade.
Família substituta, nos termos do art. 28 do ECA é aquela que decorre
mediante guarda, tutela ou adoção. Nesta situação, deve-se priorizar a manutenção do
grupo de irmãos, respeitando o consentimento do adolescente e a oitiva da criança,
respeitado sempre seu estágio de desenvolvimento. O art 39, §3º do ECA ainda estipula
que “em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e de outras pessoas,
inclusive seus pais biológicos, devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando.

IV – Guarda

Atributo originariamente decorrente do poder familiar, é formando por


um complexo de direitos e deveres jurídicos e morais, entre eles o de sustentar, educar,
ter o filho em sua companhia, consentir para casamento, nomear tutor, representar e
assistir, reclamar de quem o tenha ilegalmente, cumprir as determinações judiciais,
bem com exigir obediência, respeito serviços próprios de sua idade e condição.

A guarda confere à criança a condição de dependente para todos os


efeitos legais, nos termos do 33, §3º do ECA, e quando transferida a terceiro é sempre
um ato precário podendo ser revogado a qualquer tempo. Neste caso, tem por
finalidade regularizar uma posse de fato sobre a criança ou adolescente.

A guarda se extingue com a perda do poder familiar dos pais,


emancipação do adolescente, maioridade e morte do guardião ou da criança

Mister ressaltar que o exercício da guarda por terceiros não impede o


direito de visita nem desobriga os pais a prestarem alimentos aos filhos.

Muitos termos são utilizados para designar a forma do exercício da


guarda, são elas:
a) Guarda provisória. É a guarda conferida em sede liminar até o
julgamento definitivo do mérito em processos de tutela, adoção ou ação de guarda.

b) Guarda definitiva. É aquela conferida com julgamento do mérito


da ação de guarda. Destaca-se que é definitiva nos autos da ação em que é movida, mas
como já afirmado anteriormente a guarda é sempre rebus sic stantibus podendo ser
alterada em outra ação judicial quando alteradas as questões fáticas que lhe deram
ensejo.

c) Guarda excepcional. Decorre de situações peculiares para suprir a


falta eventual dos pais ou responsável ou para exercer direito de representação para
determinados atos, conforme dispõe o art. 33, §2º do ECA c/c art. 1584, §5º do Código
Civil. Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe,
deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida,
considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade

d) Guarda anômala. Quando deferida a guarda apenas para


regularizar uma situação fática, em casos que se aconselha a tutela ou adoção, acaba-se
por perdurar no tempo. Destaca-se que a guarda é um instituto menos protetivo do que
a tutela e adoção.

e) Guarda protetiva ou estatutária. A guarda prevista no Estatuto da


Criança e do Adolescente para os casos em que a criança ou adolescente estão com seus
direitos violados ou ameaçados nos termos do art. 98 do ECA.

f) Guarda familiar. É aquela conferida a favor da família extensa.


g) Guarda subsidiada ou por incentivo. Conferida em caso de
acolhimento familiar, devendo o poder público garantir subsídios, assistência jurídica e
isenções fiscais para programas de acolhimento, nos termos do art. 34 do ECA.

h) Guarda de fato. Na verdade, não se trata de guarda, apenas a


posse de fato sobre uma criança, sem qualquer respaldo da autoridade judicial. Situação
informal. Nos termos do art. 50, §13º, a guarda de fato, em tese, não autoriza o
desrespeito à observância ao Sistema Nacional de Adoção, quando o responsável de fato
pela criança busca adotá-la.

i) Guarda Legal. Prevista no art. 92, §1º do ECA, em que equipara o


diretor ou responsável pelas entidades de atendimento a guardiões.

j) Guarda avoenga. É a guarda exercida por avós, perfeitamente


admitida no ordenamento jurídico.

k) Guarda nidal. Quando os filhos permanecem no domicilio da


família cujos pais se separam, revezando estes a companhia

l) Guarda unilateral. É aquela conferida a um dos genitores, nos


termos do art. 1584, § 2º CC. Todavia, confere ao outro genitor o direito de supervisão e
de solicitar informações e prestações de contas. Muito comum quando um dos genitores
apresenta algum perigo à criança ou não deseja o exercício da guarda.

m) Guarda Compartilhada. É a regra no ordenamento jurídico,


mesmo em caso de ausência de acordo entre os genitores. Os motivos aptos a justificar a
supressão da guarda de um dos genitores devem ser graves o suficiente para
comprometer o convívio saudável com os filhos, tais como ameaça de morte, agressão
física, assédio sexual, uso de drogas etc.”
Os pais compartilham direitos e deveres na assistência material, moral e
educacional dos filhos, promovendo uma distribuição equânime do tempo. A guarda
compartilhada não implica ausência de pensionamento, nos termos do Enunciado 607
do CJF. As despesas devem ser divididas de forma equilibrada, de acordo com a
capacidade de cada um dos pais. A pensão alimentícia ainda pode ser estipulada, caso
exista diferença de renda que justifique o pagamento.

n) Guarda alternada: Acontece com a divisão estanque de


responsabilidade dos genitores sobre a criança. Durante os períodos fixados por estes,
ocorre a transferência total de responsabilidade em relação aos filhos.

A competência para discussões envolvendo guarda de crianças e


adolescentes originariamente é da Vara de Família, salvo quando a criança se encontra
nas hipóteses do art. 98 do ECA, fato que legitima a competência da Vara da Infância e
Juventude, nos termos do art. 148, II do ECA.

Excepcionalmente, nos termos da jurisprudência do STJ, REsp


1.550.166/STJ, a Vara Especializada da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher,
nas ações de natureza civil, poderá decidir sobre guarda, sendo imprescindível neste
caso, que a correlata ação decorra da prática de violência doméstica ou familiar contra a
mulher, sendo relevante, ainda, para tal escopo, a atual a situação de violência
doméstica e familiar a que a demandante se encontre submetida, a ensejar,
potencialmente, a adoção das medidas protetivas expressamente previstas na Lei n.
11.340/2006, sob pena de banalizar a competência das Varas Especializadas

V – Tutela

A tutela é um encargo atribuído por um juiz para que um adulto capaz


possa proteger, zelar e administrar o patrimônio de crianças e adolescentes e
representá-los para os atos da vida civil. Recebe forte crítica da doutrina por ser instituto
de natureza eminentemente patrimonial.

O tutor deve prestar contas de dois em dois anos, ainda que os pais não
tenham exigido. Não geram efeitos a quitação dada pelo pupilo, enquanto não
aprovadas as contas pelo juiz. A tutela se extingue pela morte, maioridade, emancipação
ou adoção.

São tipos de tutela:

a. Testamentária. Compete aos pais em conjunto ou separadamente,


durante o poder familiar, indicar no testamento quem seria o tutor.]

b. Legítima. Na ausência de testamento, os parentes assumem o


encargo, nos termos do art. 1730 CC, priorizando os ascendentes aos descendentes e,
não havendo, chama-se os parentes até o 3º grau. Os parentes mais próximos (grau)
preferem aos mais remotos e estando no mesmo grau, os mais velhos para precedem os
mais moços.

c. Dativa. Na ausência de testamento de parentes aptos a assumir a


tutela, o juiz nomeará pessoa idônea, nos termos do art. 1732 do CC. Neste caso, nos
termos do art. 1737 do Código Civil, não existe a obrigatoriedade de assumir o ônus.

d. Estatutária. É a tutela de crianças e adolescentes que estão com


seus direitos violados ou ameaçados nos termos do art. 98 do ECA.

e. Compartilhada. É aquela exercida por duas pessoas, por analogia a


curatela compartilhada, nos termos dos art. 1.775-A do Código Civil c/c art. 1774.

VI – ADOÇÃO
a) Introdução.

A adoção, assim como a guarda e a tutela é um instrumento valioso para


efetivar o direito fundamental da criança e do adolescente à convivência familiar e
comunitária, previsto no art. 227 da Constituição Federal.

A Constituição Federal de 1988, rompendo o paradigma da legislação civil


anterior, nos termos do art 227, §6º, estabeleceu que os filhos, havidos ou não da
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Por sua vez, a luz da doutrina da proteção integral, o instituto da adoção


passou a ser visto para atender sobretudo o interesse de crianças e adolescentes, como
sujeitos de direito que demandam proteção prioritária. Neste sentido dispõe o art. 39, §
3º do ECA:

§ 3 o Em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e de


outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem prevalecer os
direitos e os interesses do adotando

A adoção é a formação do parentesco civil por eleição, exigindo,


necessariamente a intervenção do Poder Judiciário, não sendo permitida sua realização
por escritura pública ou mesmo por procuração, sendo, portanto, um ato
personalíssimo.

Uma vez realizada é irrevogável, sendo apenas desconstituída por ação


rescisória, segundo o Superior Tribunal de Justiça (Resp. 1545959). Por ser medida plena,
importa no rompimento definitivo de todos os laços com a família biológica, nos termos
do art. 41 do ECA, mantendo-se apenas os efeitos inerentes aos impedimentos para o
casamento entre parentes biológicos. É também incaducável, sendo que a morte dos
adotantes não restabelece o vínculo com os pais naturais.

A criança deve participar do processo de adoção, respeitado seu estágio


de desenvolvimento, enquanto o adolescente deve necessariamente consentir com o ato
jurídico. Deve haver a destituição dos pais biológicos ou o seu consentimento, se vivos.
Também pode acontecer em caso de orfandade.

Não podem adotar ascendentes, inclusive por afinidade, irmãos ou casal


divorciados e ex-companheiros. Nestes dois últimos casos, permite-se a adoção se
houver acordo sobre guarda, visitação, alimentos e o estágio de convivência tenha
iniciado ainda na constância da união, bem como reste configurado vínculos de
afetividade. Também não podem adotar tutor e curadores que não prestaram contas do
encargo.

Uma vez deferida a adoção o juiz mandará cancelar o registro original do


adotado, podendo o novo registro ser lavrado no cartório de domicilio do adotante. A
legislação civil permite a alteração do nome do adotando, podendo o prenome ser
alterado a pedido das partes, observando o direito de participação da criança e o
consentimento do adolescente.

O adotando tem direito ao conhecimento de sua história e da sua origem


genética, nos termos art. 48 do ECA após completar dezoito anos, podendo ter acesso
antes da maioridade, mediante autorização judicial.

Durante o processo de descoberta da identidade pode surgir conflitos


familiares sendo a mediação uma ferramenta importante neste processo de estabelecer
as comunicações entre os envolvidos.
A Vara de Infância e Juventude é o órgão jurisdicional competente para o
julgamento de ações de adoção para crianças e adolescentes, sendo a competência
territorial definida pelo local de residência da criança – critério do juízo imediato, nos
termos do art. 46, § 5º do ECA. A adoção de maiores de idade é da competência das
Varas de Família.

A adoção produz seus efeitos após o trânsito em julgado da sentença.


Com exceção dos casos de adoção póstuma, cujos efeitos decorrem desde a data do
óbito. O recurso da sentença de adoção não possui efeito suspensivo como regra, com
exceção da adoção internacional.

b- Tipos de adoção:

i) Simples/singular. É aquela que há a formação de apenas um


vínculo na linha ascendente imediata.

ii) Conjunta. É a formação de dois vínculos na linha ascendente


imediata, ou seja, aquela feita por um casal, nos termos do art. 42, §2º do ECA.

iii) Homoparental. Entende-se por adoção homoparental aquela


adoção requerida por duas pessoas do mesmo sexo que mantém relação homoafetiva.
Ou seja, é adoção por casais homossexuais. STJ -Informativo 567: “É possível a inscrição
de pessoa homoafetiva no registro de pessoas interessadas na adoção (art. 50 do ECA),
independentemente da idade da criança a ser adotada.”

iv) Poliafetiva. É aquela com formação de mais de dois vínculos na


linha ascendente imediata.

v) Unilateral. Aquela em que não existe alteração entre um dos


vínculos na linha ascendente imediata da família biológica, via de regra, quando um
companheiro(a) adota o enteado. A adoção unilateral, por óbvio, afasta a observância do
Sistema Nacional de Adoção, nos termos do art. 50, §13º do ECA. Para a adoção
unilateral exige-se igualmente o consentimento do genitor biológico, sua destituição ou
que esse esteja morto.

vi) Intuito personae ou dirigida. Quando os genitores elegem o


futuros pais adotivos. Não existe previsão legal para esta possibilidade de adoção,
sobretudo porque tal possibilidade fere o Sistema Nacional de Adoção. Recebe crítica
por parte da doutrina, posto que na maioria das vezes os pais adotivos não passaram
pelo processo de habilitação para adoção, podendo comprometer a integridade física e
moral das crianças. Além disso, fere o princípio da segurança jurídica e da isonomia,
posto que preterem casais e pretendentes que aguardam na fila da adoção. Todavia, o
STJ admitindo o superior interesse da criança, sobretudo, quando já formado laços de
afeto, vem chancelando a formação desta família adotiva. Sobre o tema, se mostra
interessante o Enunciado 13 do IBDFAM.

“Na hipótese de adoção intuitu personae de criança e de adolescente, os


pais biológicos podem eleger os adotantes.”

vii) À brasileira. Se assemelha a adoção intuito personae, sendo


inclusive tratada como sinônimo por alguns doutrinadores e pela jurisprudência. Se
diferenciam por parte da doutrina pelo fato deste tipo de adoção envolver uma fraude
registral. No Brasil foi muito comum o expediente do avô materno, a fim de evitar a
desonra da neta, registrar a criança como se dele fosse filha. Outra hipótese é de fraude
no registro do filho da companheira ou de terceiros, sobretudo, antes do surgimento da
DNV – declaração de nascido vivo. O STJ no informativo nº 608 afirmou que “a chamada
‘adoção à brasileira’, muito embora seja expediente à margem do ordenamento pátrio,
quando se fizer fonte de vínculo socioafetivo entre o pai de registro e o filho registrado,
não consubstancia negócio jurídico vulgar sujeito a distrato por mera liberalidade,
tampouco avença submetida a condição resolutiva consistente no término do
relacionamento com a genitora”, esclareceu o relator do processo, ministro Luís Felipe
Salomão.

viii) Póstuma. A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após


inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de
prolatada a sentença, nos termos do art. Art. 42 § 6o do ECA. O STJ admite, entretanto, a
adoção póstuma, mesmo com morte do adotante antes de iniciado processo de adoção,
desde que vínculo paterno-filial seja incontestável, Resp. 1.217.415-RS.

ix) Nacional. São aquelas realizadas no território nacional por


brasileiros ou estrangeiros com residência fixa no brasil.

x) Internacional. Considera-se adoção internacional aquela na qual o


pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia e deseja
adotar criança em outro país-parte da Convenção. Antes de se efetivar a adoção
internacional, deve-se consultar o Sistema Nacional de Adoção e certificar a ausência de
interessados no Brasil. Igualmente é indispensável o consentimento do adolescente e a
intervenção das Autoridades Centrais de cada país. Os brasileiros residentes em outros
países têm prioridade na adoção internacional no Brasil.

xi) Por brasileiro no exterior. Nos termos do art. 52 -b do ECA, se o


país de origem for signatário da Convenção de HAIA a recepção da filiação ocorrerá
automaticamente, posto que obedeceu a convenção. Nestes casos, as autoridades
centrais se comunicam, para que o Ministério da Justiça providencie o Certificado de
Naturalização Provisório. Caso o país não seja signatário a decisão precisa ser
homologada pelo STJ, nos termos do 105, I, “i”, CF/88 c/c art. 961 do CPC.

Os postulantes à adoção devem se submeter ao procedimento de


habilitação. Trata-se de procedimento de jurisdição voluntária com o escopo de declarar
a aptidão dos pretendentes para constituição de famílias adotivas, sendo indispensável
que nesta fase os habilitandos passem por estudo psicossocial, tenham contato com
crianças acolhidas e que, quando possível, participem de grupos de apoio à adoção.

VII – Casamento, união estável e rompimento dos vínculos.

a) Casamento civil – É a união entre duas pessoas, realizado após a


habilitação do casal perante o Cartório de Registro Civil, em que serão analisados
documentos e ocorrerá a publicação de proclamas na imprensa local. O casamento é
oficializado pelo Juiz de Paz, com presença de testemunhas. Após o ato é lavrada a
certidão de casamento, documento que atesta oficialmente a união.

b) Casamento religioso – É celebrado de acordo com cada religião.


Se não for acompanhado de registro civil, os noivos permanecem com estado civil de
solteiro.

c) Casamento religioso com efeito civil – Neste caso, após a


cerimônia religiosa deve ser apresentado o termo de casamento pelo celebrante
religioso ao RCPN para formalização perante o registro civil, no prazo de 90 dias. Para
efetivação dos efeitos civis é necessária a habilitação das partes em cartório (análise
documental), assim como ocorre no casamento civil.

d) União estável. – É uma união entre duas pessoas, configurada na


convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição
de família. Não necessariamente depende da comprovação de coabitação ou mesmo
tempo pré-definido. A diferença entre união estável e namoro é que nesse, há um
objetivo de família futura, sendo que naquela, a família já existe. o art. 1724, CC, traz os
deveres do companheirismo: Lealdade; Respeito; Assistência; Guarda, sustento e
educação dos filhos, desde que havida pela união estável. Nos termos do art. 226, §3º,
deve a lei facilitar a conversão da união estável em casamento (art. 226, § 3º, CF/88).

e) Divórcio: é a dissolução do matrimônio. Atualmente podemos


falar em três tipos de divórcio:

• Extrajudicial - rompimento consensual e não existe filhos


menores ou incapazes.
• Judicial Consensual - Quando a filho menores e incapazes, mas é
realizado de forma consensual.
• Judicial Litigioso - O casal não está de acordo com os principais
pontos reflexos do casamento como partilha de bens, guarda,
visitação e alimentos. Deve-se destacar, entretanto, que o divórcio
é um direito potestativo de qualquer cônjuge, não dependendo da
aceitação do outro.

O instituto do divórcio não modifica os direitos e deveres dos pais em


relação aos filhos (art. 1579, “caput”, CC), inclusive nos casos de novo casamento ou
união estável desses pais (art. 1579, parágrafo único, CC). Segundo o arts. 1580, CC, e
226, § 6º, CC.

e) Uso do nome (art. 1578, CC) – nome é a representação do


indivíduo no meio civil, sendo direito da personalidade. Dissolvido o casamento pelo
divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no
segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

f) Regras gerais sobre regimes de bens:

i. Comunhão parcial (arts. 1658 a 1666, CC) – trata-se do regime


legal ou supletório – silente os cônjuges ou se o pacto antenupcial for nulo. Pela regra
básica do regime, comunicam-se os bens havidos durante o casamento, com exceção
dos incomunicáveis. Esses bens que se comunicam formam os aquestos. Não há
necessidade de prova do esforço comum.

ii. Comunhão universal (arts. 1667 a 1671, CC) – era o regime legal
até a Lei do Divórcio (Lei 6515/77). Pela regra básica, comunicam-se todos os bens –
anteriores, presentes e posteriores ao casamento (futuros) – bem como as dívidas
passivas, com exceção dos incomunicáveis. O art. 1668, I a V, CC, prevê os bens que são
incomunicáveis: I. Bens doados ou herdados com cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar – a cláusula de incomunicabilidade deve ser justificada (art.
1848, “caput”, CC).

iii. Participação final dos aqüestos (arts. 1672 a 1686, CC) – é


chamado de regime contábil complexo. A lei fala em meação, mas na verdade não há
(Silmara Chinelato). A regra básica dispõe que, durante o casamento, cada cônjuge
mantém o seu patrimônio particular (separação de bens). Dissolvida a união, cada um
terá direito à metade dos bens adquiridos pelo casal a título oneroso (necessidade de
prova do esforço comum) na constância do casamento

iv. Separação de bens (arts. 1687 e 1688, CC) – é possível duas


espécies: a legal ou obrigatória (art. 1641, I a III, CC) e a convencional (decorre de pacto
antenupcial). Pela regra básica, nada se comunica, nem os bens anteriores, presentes ou
posteriores ao casamento, tendo cada cônjuge a administração exclusiva dos seus bens
particulares

VIII – Parentesco e Reconhecimento dos filhos.

a) Parentesco: São parentes em linha reta as pessoas que estão


umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes. Nos termos do art.
1.592. são parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas
provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. São parentes civis
quando a relação se forma de outra forma que não a natural, como a adoção. Cada
companheiro ou conjunge é alinhado aos parentes do outro, pelo vínculo de afinidade,
limitando-se aos descendentes e aos irmãos do outro cônjuge ou companheiro. Na linha
reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

Nos termos do art . 1594 contam-se, na linha reta, os graus de parentesco


pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um
dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

b) Filiação: A filiação é o vínculo jurídico, estabelecido entre


ascendentes e descendentes, presente uma das formas de parentesco.

O art. 1607, CC, dispõe que o filho havido fora do casamento pode ser
reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente. A maternidade é quase sempre
certa, enquanto a paternidade, presunção.

O art. 1609, I a IV, CC, traz as hipóteses de reconhecimento voluntário de


filhos:
• No registro do nascimento;
• Por escritura pública ou escrito particular a ser arquivado em
cartório;
• Por testamento, legado ou codicilo;
• Por manifestação direta e expressa ao juiz, ainda que o ato não
seja o objeto principal da ação.

O reconhecimento de filho é ato irrevogável, mesmo feito por meio de


testamento revogado (art. 1610, CC), sendo ineficazes a condição e o termo que
constam do reconhecimento (art. 1613, CC).
c) Paternidade socioafetiva: trata-se do reconhecimento do estado
de posse de filho, unindo pais e filhos não pelo vínculo natural, mas pelo afeto e
responsabilidade familiar entre seus membros. Pode ser reconhecida judicialmente ou
extrajudicialmente, nos termos do Provimento nº 63 do CNJ.

A ação investigatória de paternidade é imprescritível, por envolver estado


de pessoas.

d) Declaração de origem genética: trata-se de direito de


personalidade de se reconhecer a origem genética, conforme prevê o art. 48 do ECA.

O STF RE 898.060/ 2016 - afirmou que: “A paternidade socioafetiva,


declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de
filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”.

Enunciado 29 IBDFAM - Em havendo o reconhecimento da


multiparentalidade, é possível a cumulação da parentalidade socioafetiva e da biológica
no registro civil.

IX – Alimentos

Trata-se de recursos materiais básicos que sustentam o alimentando,


devendo ser fixados levando-se em consideração os princípios da necessidade,
possibilidade e proporcionalidade.

Podem decorrer ou da relação Poder Familiar – art. 1634 ou da


solidariedade Familiar – art. 1694 CC. Ex. dos filhos maiores, posto que o parentesco não
se rompe com a extinção do poder familiar.
Vejamos: “Súmula 358 STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho
que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda
que nos próprios autos.
.
ENUNCIADO Nº 20 do FONAJUP “A perda do poder familiar, por sentença
irrecorrível, não extingue a obrigação alimentar que decorre do vínculo de parentesco”,
aprovado à unanimidade.

Termo inicial dos alimentos – julgada procedente a investigação de


paternidade, os alimentos serão devidos a partir da citação (Súmula 277 do STJ).

Os alimentos ainda podem ter caráter indenizatório ou de natureza civil


quando decorrem de ato ilícito. Ex.: morte de um pai de família em razão de
atropelamento.
A legislação ainda permite a chamada possibilidade dos alimentos
gravídicos nos termos da lei nº 11804/2008, tendo por escopo de arcar com as despesas
adicionais decorrentes da gravidez, uma vez que a criança possui direitos desde a
gestação.
4 – Noções de Direito do Consumidor

I – Introdução.

Instituído pelo Lei 8078/90, sendo norma de ordem pública com interesse
social e fundamento constitucional, sendo de observância obrigatória, não podendo a
vontade dos interessados afastá-lo.

São princípios norteadores do CDC:

• Princípio da vulnerabilidade do consumidor – está previsto no art. 4º, I,


CDC. Deve-se reconhecer a vulnerabilidade do consumidor na relação de consumo.

• Princípio da hipossuficiência – está delineado no art. 6º, VIII, CDC.


Hipossuficiência é uma situação de disparidade político-social (acesso a órgãos de
defesa do consumidor), econômico-financeira (de poder monetário) ou técnica (não
possui conhecimento suficiente sobre o produto ou serviço adquirido).

• Princípio da reparação integral de danos – está expresso no art. 6º, VI e


VII, CDC, encontrando fulcro no art. 5º, V e X, CF/88. A codificação prevê a reparação de
danos materiais e morais, inclusive cumulativamente (Súmula 37 do STJ).

• Princípio da boa-fé objetiva – está no art. 4º, III, CDC. Decorre do


fundamento constitucional da solidariedade. Boa-fé objetiva é uma conduta ligada à
lealdade e aos deveres anexos (ou laterais), ínsitos a qualquer negócio jurídicos. A
lealdade deve ser observada em todas as fases contratuais – pré-contratual e pós-
contratual.
• Princípio da função social do contrato – A função social do contrato tem
dupla eficácia: interna e externa. A primeira (entre as partes) afirma que a cláusula
abusiva (antissocial) é nula (art. 51, CDC). A segunda (fora das partes) assevera que o
contrato que traz danos coletivos é nulo.

II - Elementos da Relação de Consumo

Os elementos estão previstos nos arts. 2º e 3º, CDC. Há elementos


objetivos e subjetivos.

Elementos subjetivos – são as pessoas que integram a relação de


consumo. São eles:

Fornecedor ou prestador – deve ser profissional nas atividades previstas


no art. 3º, “caput”, CDC, podendo ser pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira,
de Direito Público ou Privado. Toda prática lucrativa habitual é considerada como
inerente a fornecedor

Consumidor - deve ser destinatário final do produto ou serviço, sendo


também destinatário fático ou econômico. Art. 2º, “caput”, CDC: é toda pessoa que
adquire produto ou serviço como destinatário final. Prevalece no Brasil a Teoria finalista
mitigada, que exige que o consumidor seja o destinatário final fático e econômico,
porém admite, em sede de exceção, como o profissional vulnerável (taxista em relação a
montadora de veículo).

Além do chamado consumidor padrão temos também o consumidor por


equiparação ou “bystander”. São aqueles que sofrem dano oriundo de uma relação de
consumo, não a integrando originalmente, ou seja, não possui vínculo contratual com o
fornecedor. Ex.: Pessoa que está no banco, e este é assaltado, será considerada
consumidora

Elementos Objetivos: são os objetos do consumo. Produtos e serviços.

Produto – pode ser móvel ou imóvel, material ou imaterial. Ex.: jogo de


futebol, produto imaterial.

Serviço – atividade remunerada, excetuada as decorrentes da relação de


trabalho. Os serviços bancários, de natureza financeira e securitária são englobados.

III - Direitos do consumidor – art. 6

• a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados


por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.

• a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

• a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.

• a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;

• a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas;
• a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;

• o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à


prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou
difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

• a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências; a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

• a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira


e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e da
repactuação da dívida, entre outras medidas;

• a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação,


na repactuação de dívidas e na concessão de crédito.

• a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de


medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso

IV - Responsabilidade civil no CDC.

A responsabilidade civil é objetiva e solidária.


Vício do produto – está nos arts. 18 e 19, CDC. O problema acomete a
coisa, não havendo outras repercussões. Os vícios podem ser de qualidade e de
quantidade.

O art. 18, § 1º, CDC, prevê um prazo de 30 dias em favor do fornecedor


para sanar o vício. Ultrapassado o prazo tem o consumidor as seguintes opções:

• abatimento no preço;
• novo produto (igual ou semelhante);
• complementação de peso ou medida para vício de quantidade;
• resolução do negócio, com a devolução do valor pago sem
prejuízo de perdas e danos.

Prazo decadenciais: o Consumidor tem 30 dias para bens não duráveis e
90 para duráveis para entrar com a ação, contados a partir da tradição, se o vício for
aparente, ou a partir da descoberta, se o vício for oculto (art. 26, §§ 1º e 3º, CDC).

Vício implica entrave ligado diretamente ao produto ou serviço, não


implicando em reflexos e prejuízos ontologicamente alheios. Já no fato ou defeito, há
danos outros que não ao próprio produto ou serviço. O vício sugere prazo decadencial
(ação constitutiva negativa), enquanto o fato, prescricional.

Observa-se, portanto, um regime diferenciado, apesar de haver


solidariedade em quase todas as categorias (com exceção do fato do produto). Quatro
são as hipóteses de responsabilidade civil pelo CDC:

Fato do produto - (arts. 12 e 13, CDC) – Decorrem outros danos materiais


que comprometem além da própria coisa. Ex.: Micro-ondas explode e o consumidor é
ferido. Há uma responsabilidade direta do fabricante e uma responsabilidade indireta
ou subsidiária do comerciante apenas nas hipóteses do art. 13, CDC.
Prazo prescricional - é de 5 anos, contados do fato (acidente de
consumo) ou do conhecimento de sua autoria (art. 27, “caput”, CDC.

Vício do serviço (art. 20, CDC) – problema ocorre apenas no serviço.


Ocorre solidariedade entre todos os envolvidos. As opções do consumidor são os
mesmos do vício do produto (art. 20, I a III, CDC). Os prazos decadenciais são os mesmos
do art. 26, CDC.

Fato do serviço (art. 14, CDC) – os danos extrapolam o serviço em si


atingindo bens alheios. Deve especial destaque que nos casos dos profissionais liberais a
responsabilidade é subjetiva. Prazo prescricional de 5 anos do art. 27, CDC, valendo as
mesmas causas do art. 26, § 1º, CDC. Ex. furto do carro no estacionamento.

Excludentes de responsabilidade pelo CDC (arts. 12, § 3º e 14, § 3º, CDC)



• que não colocou o produto no mercado.
• que, embora haja colocado o produto no mercado, o
defeito inexiste.
• que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
• que a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

V - Natureza dos danos:

• Dano material – lesão ao património material.


• Dano moral – ofensa aos direitos de personalidade, como
intimidade, vida privada, honra e imagem).
• Dano estético – quando existe uma modificação negativa na
aparência da vítima.
• Dano in re ipsa - não precisa de prova, deriva do próprio fato.
Presumida sua ocorrência.

• O STJ vem utilizando o método bifásico em que se analisa


inicialmente um valor básico para a indenização, considerando o interesse jurídico
lesado, com base em grupo de precedentes que apreciaram casos semelhantes. Em um
segundo momento, o juízo competente analisa as circunstâncias do caso para fixação
definitiva do valor.

VI - Superendividamento: O Código de Defesa do Consumidor define


superendividamento como: “a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa
natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas,
sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação” (definição
legal do parágrafo 1º do artigo 54-A).

Trata-se de fenômeno inerente a sociedade de consumo atual, fruto da


ausência de informação adequada, de ações de marketing e assédio ao incentivo do
consumo. O Tratamento destas questões merece um olhar refletido de todos os atores
da relação de consumo, como corolário da boa-fé objetiva, permitindo o consumidor
repactuar suas dívidas e o recebimento do que é devido aos credores.

Não há dúvidas que o consumo é uma das formas de inclusão na


sociedade, e o superendividamento é sua morte civil.

A Lei n. 14.181/2021 institui tanto o tratamento extrajudicial como o


judicial do superendividamento. prevê uma conciliação em bloco por meio de uma
“audiência global de conciliação” (expressão do art. 104-C, § 1º) única e que reúne
todos os credores do consumidor com o objetivo der repactuar dívidas, apresentando
um “plano de pagamento” no prazo de cinco anos, que pode ser realizada nos CEJUSCs.
Neste primeiro plano não se investigam abusividades. Mas é preciso deixar consignado
que o instituto legal não é direcionado para aqueles que agiram de má-fé. Não havendo
composição o consumidor poderá processo por superendividamento para revisão dos
contratos e repactuação das dívidas remanescentes.

Importante esclarecer que nos termos do 2º do art104 do CDC, o “não


comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu procurador com poderes
especiais e plenos para transigir, à audiência de conciliação de que trata o caput deste
artigo acarretará a suspensão da exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos da
mora, bem como a sujeição compulsória ao plano de pagamento da dívida se o
montante devido ao credor ausente for certo e conhecido pelo consumidor, devendo o
pagamento a esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento aos
credores presentes à audiência conciliatória.
Havendo conciliação, com qualquer credor, a sentença judicial que
homologar o acordo descreverá o plano de pagamento da dívida e terá eficácia de título
executivo e força de coisa julgada.

O CNJ editou uma cartilha sobre o assunto:


5 - IDENTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E VULNERABILIDADES

I – INTRODUÇÃO

Os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania além de


gerenciar e realizar conciliações e mediações, também é um órgão importante para
orientação e divulgação de outros serviços de atendimento ao cidadão.

Neste sentido, é importante que a equipe do CEJUSC esteja preparada


para reconhecer casos de violência e vulnerabilidades que impeçam a manifestação
voluntária das partes nos procedimentos de conciliação e mediação, bem como
promova orientação à comunidade sobre forma de prevenção e proteção a situações de
violência e vulnerabilidades.

A vulnerabilidade é um termo associado as discussões sobre os Direitos


Humanos e remete a ideia de fragilidade de um grupo ou individuo fragilizado jurídica,
social ou politicamente.

São exemplos de grupos vulneráveis: mulheres, crianças e adolescentes,


idosos, população em situação de rua, pessoas com deficiência, a comunidade
LGBTQIAPN+, bem como a população negra que historicamente sofre com o racismo
estrutural.

Embora muitas vezes definidos como direito das minorias, não significa
que estatisticamente sejam um grupo de poucas pessoas. Exemplo disso são as
mulheres, que embora componham a maior parte da população são considerados ainda
grupos vulneráveis, em razão fragilidades e barreiras culturais e sociais impostas, basta
imaginar, para fins de exemplo, que homens ainda são maioria na representação de
cargos públicos eletivos no Brasil.
II - Violência contra as Mulheres

A Lei Maria da Penha, Lei Federal nº 11.340/2006 é uma das ferramentas


de proteção a violência doméstica e familiar.

Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são formas de violência


doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe
cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique
e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade,
que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
Recebido o expediente com o pedido da ofendida o juiz poderá entre
outras medidas, determinar a imediata apreensão da arma do agressor, afastamento do
lar, proibição de se afastar da ofendida, seus familiares e testemunhas; frequentar
determinados lugares, restrição e suspensão de visitas, entre outras no termo do art. 22
da Lei.

Importante destacar que o agressor pode ser encaminhado para


programas de recuperação e reeducação e que o descumprimento de medidas
protetivas de urgência é crime punível com detenção de três meses a dois anos.

Quer saber um pouco mais sobre o assunto? Leia o QR CODE:


III - Violência contra crianças

O art. 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que é dever


da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Estabelece, ainda, em seu artigo 5º que nenhuma criança ou adolescente


será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais.

A Lei nº 14344/2022, conhecida como Lei Henry Borel cria mecanismos


para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e
o adolescente.

O artigo 2º da referida lei configura como violência doméstica e familiar


contra a criança e o adolescente qualquer ação ou omissão que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano patrimonial:

I - no âmbito do domicílio ou da residência da criança e do adolescente,


compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que compõem a família natural, ampliada ou substituta, por
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação doméstica e familiar na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a vítima, independentemente de coabitação.
Qualquer pessoa que tenha conhecimento tem o dever de comunicar o
fato imediatamente, devendo o poder público garantir meios, medidas e ações para
proteção e compensação das pessoas que noticiarem a prática de violência.

Como exemplo de medidas protetivas estão a possibilidade de proibição


de contato com do agressor com a vítima e seus familiares; afastamento do agressor da
residência, restrição de suspensão de visitas, prestação de alimentos, comparecimento
em programas de recuperação e reeducação, prisão preventiva, entre outros.

A Lei do Depoimento Especial - LEI Nº 13.431/2017, também traz


ferramentas importantes de proteção da criança vítima de violência. A Lei prevê 04
modalidades de violência: física, sexual, psicológica e institucional

Estabelece que os Entes Federados deverão criar serviços de


atendimento, de ouvidoria ou de resposta, pelos meios de comunicação disponíveis,
integrados às redes de proteção, para receber denúncias de violação de direitos de
crianças e adolescentes e disciplina duas formas de oitiva da criança:

ESCUTA ESPECIALIZADA: Tem por objetivo reunir elementos mínimos que


indiquem a ocorrência do fato, sua dinâmica (ainda que não pormenorizada, mas
suficiente para que, de pronto, sejam feitos os encaminhamentos necessários à rede de
proteção), e sempre que possível à sua autoria. O relato deve ser livre, sem
afunilamento, sem exaustão, apenas ouve-se.

A partir do relato livre, buscam-se desencadear as intervenções para a


devida proteção que se fizerem necessárias: medida de proteção, intervenção médica e
assistencial, encaminhamento à Autoridade Policial etc.
DEPOIMENTO ESPECIAL: é o procedimento de oitiva perante Autoridade
Policial ou Judiciária. O CNJ definiu para o Judiciário o Protocolo Brasileiro de Entrevista
Forense (CNJ, Res. 299/19, arts. 8.º, 14, §§ 2.º e 3.º, e 23).

No campo de proteção de crianças e adolescentes podemos destacar


ainda a Lei nº 13185/15 que estabelece o Programa de Combate a Intimidação Sistêmica
(bullying), cuja expressão significa acossar, violentar, intimidar.

A referida lei não prevê punição e tem seu foco voltado para prevenção e
tratamento.

Podemos caracterizá-lo com atos de violência física ou psíquica que gere


isolamento proposital da vítima de forma intencional e repetitiva.

Pode ser praticado de forma isolada ou em grupo, geralmente sem


qualquer motivo relevante, como a vítima afastar de comportamentos de repetidos pela
maioria.

Trata-se de prática que gera angustia e dor na vítima, causando


verdadeiro desequilíbrio na relação.

Não existe um tipo penal específico para punir o "bullying" no Brasil, mas
evidentemente que a conduta pode ser enquadrada como calúnia, difamação, injúria,
ameaça, lesão corporal, por exemplo, seja como ilícito penal ou ato infracional.

Exemplos de identificação do bullying:

• ataques físicos (tapas, socos, chutes, etc.);


• ataques morais (insultos pessoais): comentários sistemáticos
• apelidos pejorativos
• ameaças por quaisquer meios
• grafites depreciativos
• expressões preconceituosas;
• isolamento social consciente e premeditado;
• pilhérias (zombarias).
• cyberbullying

O art. 12, IX, da Lei 9394/96 estabelece que o “estabelecimento de ensino


deverá “promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os
tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das
escolas”.

Importante consignar que toda criança tem o direito de ser educada, seja
pelos pais, representantes legais ou responsáveis por sua educação, livre de castigos e
tratamento cruel e degradante conforme disciplina a Lei nº 13010/14 também
conhecida como Lei da Palmada ou “MENINO BERNADO”.

Mister que o castigo físico imoderado também sujeita os genitores a


perda do poder familiar.

Portanto, qualquer pessoa que cuide ou eduque a criança e use de


castigos para corrigir ou disciplinar, sem prejuízo da infração criminal que cometerem,
ainda estão sujeitas a medidas como:

• encaminhamento a programa de proteção à família;


• encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
• encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
• obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
• advertência.
Por fim, ainda podemos pontuar a Lei nº 12318 de 2010, que considera
como ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do
adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que
repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos
com este.

Nos termos do parágrafo único do art. 2º são formas exemplificativas de


alienação parental:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no


exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações
de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança
ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós.

Que tal conhecermos a fundo todas estas leis?


III – Idosos

A instituiu o Estatuto da Pessoa Idosa, com idade igual ou superior a 60


anos, sendo obrigação o da família, da comunidade, da sociedade e do poder público
assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária,
nos termos do art. 3º do Estatuto.

Importante destacar que entre as pessoas idosas tem prioridade na oferta


de serviços públicos tramitação de processos, sendo assegurada prioridade especial aos
maiores de 80 (oitenta) anos, atendendo-se suas necessidades sempre
preferencialmente em relação às demais pessoas idosas.

Nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de negligência,


discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por
ação ou omissão, será punido na forma da lei.
É possível a fixação de alimentos em favor da pessoa idosa, sendo
possível a transações relativas a alimentos, que poderão ser celebradas perante o
Promotor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de
título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil, nos termos do art. 13 do
Estatuto.

Sobre sua saúde é importante frisar que a pessoa idosa que esteja no
domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de
saúde que lhe for reputado mais favorável.

Sempre que a pessoa idosa estiver com direitos ameaçados ou violados, é


possível a aplicação de medidas de proteção nos termos do art. 45, entre eles:

I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de


responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial,
hospitalar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, à própria
pessoa idosa ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário.

Gostaria de conhecer o Estatuto?


IV – Discriminações em razão da orientação sexual e gênero.

A Constituição Federal de 1988 estabelece como objetivos fundamentais


da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária
e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, I e IV).

Desta forma compete ao Estado Brasileiro assegurar o pleno respeito às


pessoas, independente da orientação sexual ou identidade de gênero, respeitando a
igualdade, a liberdade e autonomia individual, ou seja, deve garantir o direito à vida e à
integridade física e mental da população LGBTI, assim como à sua integridade sexual,
segurança do corpo, liberdade de expressão da identidade de gênero e orientação
sexual.

Art. 3º da Resolução 348 do CNJ, com base no glossário das Nações


Unidas, considera:
I – transgênero: termo empregado para descrever uma variedade ampla
de identidades de gênero cujas aparências e características são
percebidas como atípicas – incluindo pessoas transexuais, travestis, cross-
dressers e pessoas que se identificam como terceiro gênero; sendo:
a) mulheres trans: identificam-se como mulheres, mas foram designados
homens quando nasceram;
b) homens trans: identificam-se como homens, mas foram designadas
mulheres quando nasceram,
c) outras pessoas trans não se identificam de modo algum com o espectro
binário de gênero; e
d) que algumas pessoas transgêneras querem passar por cirurgias ou
porterapia hormonal para alinhar o seu corpo com a sua identidade de
gênero; outras, não;
II – intersexo: pessoas que nascem com características sexuais físicas
oubiológicas, como a anatomia sexual, os órgãos reprodutivos, os
padrões hormonais e/ou cromossômicos que não se encaixam nas
definições típicas de masculino e feminino; considerando que:
a) essas características podem ser aparentes no nascimento ou surgir no
decorrer da vida, muitas vezes durante a puberdade; e
b) pessoas intersexo podem ter qualquer orientação sexual e identidade
de gênero;
III – orientação sexual: atração física, romântica e/ou emocional de uma
pessoa em relação a outra, sendo que:
a) homens gays e mulheres lésbicas: atraem-se por indivíduos que são do
mesmo sexo que eles e elas;
b) pessoas heterossexuais: atraem-se por indivíduos de um sexo diferente
do seu;
c) pessoas bissexuais: podem se atrair por indivíduos do mesmo sexo ou
de sexo diferente; e
d) a orientação sexual não está relacionada à identidade de gênero ou às
características sexuais;
IV – identidade de gênero: o senso profundamente sentido e vivido do
próprio gênero de uma pessoa, considerando-se que:
a) todas as pessoas têm uma identidade de gênero, que faz parte de sua
identidade como um todo; e
b) tipicamente, a identidade de gênero de uma pessoa é alinhada com o
sexo que lhe foi designado no momento do seu nascimento.

O Conselho Nacional de Justiça, na Resolução nº 270/2018, dispõe sobre


o uso do nome social pelas pessoas trans, travestis e transexuais usuárias dos serviços
judiciários, membros, servidores, estagiários e trabalhadores terceirizados dos tribunais
brasileiros, direito já consagrado no Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016, da
Presidência da República, que dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da
identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional.

Importante frisar que o STF na ADI nº 4275, reconheceu a transgêneros a


possibilidade de alteração de registro civil sem mudança de sexo, e a decisão proferida
no RE nº 670.422.

O Supremo Tribunal Federal julgou, em 13/06/2019, a Ação Direta de


Inconstitucionalidade por Omissão n.º 26 e o Mandado de Injunção n.º 4733, por or
maioria, a Corte reconheceu a mora do Congresso Nacional para incriminar atos
atentatórios a direitos fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT. Deste modo
até que sobrevenha lei, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que
envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém, por
traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social,
ajustam-se, por adequação típica, aos preceitos definidos na Lei nº 7.716, de
08/01/1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que
o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”).

Quer saber mais?


V - Pessoas com deficiência

A Lei 13146/2015 Instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com


deficiência, assim considerada aquela que possua impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas, conforme disciplina o art. 2º da citada Lei. Disciplina
o Estatuto que a avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar.

A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento
desumano ou degradante, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de
fornecimento de tecnologias assistivas.

Importante frisar que a deficiência, não afeta a plena capacidade civil da


pessoa (art.6) e de voto (art.85, §1º), inclusive para:
• casar-se e constituir união estável;
• exercer direitos sexuais e reprodutivos;
• exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter
acesso a informações adequadas sobre reprodução e
planejamento familiar;
• conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
compulsória;
• exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
• exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas.
• Direito de voto

Os Institutos da Curatela e do Processo de Tomada de Decisão Apoiada,


são instrumentos protetivos em favor da pessoa com deficiência quando necessário e a
mediação pode ser importante entre os familiares para melhor atender os seus
interesses.
No âmbito do Poder Judiciário o CNJ editou a resolução 401/2021 dispõe
sobre o desenvolvimento de diretrizes de acessibilidade e inclusão de pessoas com
deficiência nos órgãos do Poder Judiciário e de seus serviços auxiliares, e regulamenta o
funcionamento de unidades de acessibilidade e inclusão.

Você já sabe. Para aprender um pouco mais só basta ler o QR CODE:


VI – Pessoas em situação de rua.

O CNJ através da Resolução nº 425/2001 instituiu a Política Nacional de


Atenção a Pessoas em Situação de Rua e suas interseccionalidades, com o objetivo de,
nos termos do art. 1º , “ assegurar o amplo acesso à justiça às pessoas em situação de
rua, de forma célere e simplificada, a fim de contribuir para superação das barreiras
decorrentes das múltiplas vulnerabilidades econômica e social, bem como da sua
situação de precariedade e/ou ausência habitacional”.

Deve-se pontuar a heterogeneidade da população em situação de rua,


seja em relação ao nível de escolaridade, naturalidade, nacionalidade, identidade de
gênero, características culturais, étnicas, raciais, geracionais e religiosas.

Além disso está vulnerabilidade precisa ser analisada com aspectos


interseccionais no atendimento a essa população, pensando em mulheres, população
LGBTQIAPN+, crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas convalescentes,
população negra, pessoas egressas do sistema prisional, migrantes, povos indígenas e
outras populações tradicionais, pessoas com deficiência, - sofrimento mental, incluindo
aquelas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas - exigindo tratamento
equitativo e políticas afirmativas, para assegurar o gozo ou exercício dos direitos seus
direitos fundamentais.

Para nosso estudo, também é importante consignar que é objetivo da


Política Nacional de Atenção a Pessoas em Situação de Rua, nos termos do art. 1,VI, “
estimular a adoção de medidas preventivas de litígios que envolvam as pessoas em
situação de rua no âmbito do sistema multiportas, como Centros de Conciliação,
Laboratórios de Inovação e Centros de Inteligência do Poder Judiciário”.
O Poder Judiciário deve assegurar o acesso à Justiça com prioridade,
celeridade, inclusão, humanização e desburocratização dos procedimentos, devendo os
sistemas processuais incluir, no cadastro de parte ou de processo, o campo “pessoa em
situação de rua” para maximizar a garantia de direitos, promovendo acesso aos direitos
de cidadania e às políticas públicas.

Acesse a Resolução nº 525 do CNJ para aprender um pouco mais.

VII - Equidade Racial

A Lei nº 12288/2010 instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, garantindo à


população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, bem como o combate à
discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Entende-se por população negra o conjunto de pessoas que se


autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição
análoga.
No âmbito do Sistema de Justiça o CNJ está construindo o Pacto Nacional
do Judiciário pela Equidade Racial consiste na “adoção de programas, projetos e
iniciativas a serem desenvolvidas em todos os segmentos da Justiça e em todos os graus
de jurisdição, com o objetivo de combater e corrigir as desigualdades raciais, por meio
de medidas afirmativas, compensatórias e reparatórias, para eliminação do racismo
estrutural no âmbito do Poder Judiciário”. Visa o Pacto desarticular o racismo
institucional e estrutural presente na sociedade com o escopo de garantir oportunidade
a grupos historicamente privados da condição de igualdade de oportunidades.

Que tal aprofundar mais sobre os temas:


6– ATOS NEGOCIAIS PROCESSUAIS E ATOS CONCERTADOS.

Segundo as novas diretrizes principiológicas do Código de Processo Civil,


as partes não estão submissas a um rigor procedimental de forma absoluta, podendo os
atores do processo, mediante acordo de vontade, regular, dentro dos limites legais,
várias situações processuais, bem como proceder algumas transformações
procedimentais.

O art. 190 do CPC é visto como uma verdadeira clausula geral tendo como
consequência a atipicidade dos acordos jurídicos processuais.

Dispõe o CPC:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade
das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se
encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

O legislador ainda permitiu a possibilidade de as partes construírem um


calendário processual, nos termos do art. 191 do CPC:

De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a


prática dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual
ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.

O Fórum Permanente de Processualistas Civis– FPPC, bem como o


Conselho Justiça Federal, possui alguns enunciados importantes sobre o tema. Vejamos:

ENUNCIADOS FFPC:
✓ Enunciado n. 17 do FPPC: As partes podem, no negócio processual, estabelecer
outros deveres e sanções para o caso do descumprimento da convenção.
✓ Enunciado n. 18 do FPPC: Há indício de vulnerabilidade quando a parte celebra
acordo de procedimento sem assistência técnico-jurídica.
✓ Enunciado n. 19 do FPPC: São admissíveis os seguintes negócios processuais,
dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das
partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa
consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo da
apelação, acordo para não promover execução provisória.
✓ Enunciado n. 20 do FPPC: Não são admissíveis os seguintes negócios bilaterais,
dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo para
supressão da primeira instância.
✓ Enunciado 254. É inválida a convenção para excluir a intervenção do Ministério
Público como fiscal da ordem jurídica.
✓ Enunciado 255. É admissível a celebração de convenção processual coletiva.
✓ Enunciado 256. A Fazenda Pública pode celebrar negócio jurídico processual.
✓ Enunciado 427. A proposta de saneamento consensual feita pelas partes pode
agregar questões de fato até então não deduzidas.
✓ Enunciado 492. O pacto antenupcial e o contrato de convivência podem conter
negócios processuais.
✓ Enunciado 493. O negócio processual celebrado ao tempo do CPC-1973 é
aplicável após o início da vigência do CPC-2015.
✓ Enunciado 494. A admissibilidade de autocomposição não é requisito para o
calendário processual.
✓ Enunciado 579. Admite-se o negócio processual que estabeleça a contagem dos
prazos processuais dos negociantes em dias corridos.
✓ Enunciado 580. É admissível o negócio processual estabelecendo que a alegação
de existência de convenção de arbitragem será feita por simples petição, com a
interrupção ou suspensão do prazo para contestação.
✓ Enunciado 628. As partes podem celebrar negócios jurídicos processuais na
audiência de conciliação ou mediação.

ENUNCIADOS DO CJF
Enunciado 115. O negócio jurídico processual somente se submeterá à
homologação quando expressamente exigido em norma jurídica, admitindo-se,
em todo caso, o controle de validade da convenção.

Enunciado 128. Exceto quando reconhecida sua nulidade, a convenção das


partes sobre o ônus da prova afasta a redistribuição por parte do juiz.

Enunciado 152. O pacto de impenhorabilidade (arts. 190, 200 e 833, I) produz


efeitos entre as partes, não alcançando terceiros.

Enunciado 616. Os requisitos de validade previstos no Código Civil são aplicáveis


aos negócios jurídicos processuais, observadas as regras processuais pertinentes.

Dentro do espírito de solução consensual de conflitos, o conciliador ou


mediador mesmo não obtendo auxiliar as partes na solução definitiva do mérito, pode
ajudar na construção de caminhos processuais mais adequados para solução do conflito,
a fim de reduzir os efeitos nefastos de disputas judiciais e os desgastes naturais de um
procedimento adversarial.

As partes podem chegar a acordos a fim de limitar a controvérsia judicial


a determinada prova, como por exemplo, o exame de DNA em ações de investigação de
paternidade cumulada com alimentos.

O Art. 417 do CPC estabelece a possibilidade de indicação do perito


judicial.

Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o perito,


indicando-o mediante requerimento, desde que:
I - sejam plenamente capazes;
II - a causa possa ser resolvida por autocomposição.

§ 3º A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria


realizada por perito nomeado pelo juiz.

O art. 730 do CPC prevê a possibilidade de a alienação judicial ocorrer em


forma acordada pelas partes, dispensando sua alienação obrigatório pela forma de
leilão.

Podemos extrair outros exemplos da Jurisprudência:

Remessa dos autos à Contadoria Judicial - natureza de negócio jurídico


processual "1. Uma das atribuições da contadoria judicial é auxiliar o juízo na
elaboração dos cálculos contábeis, esclarecendo os dados contábeis necessários à
devida prestação jurisdicional. 2. A concordância das partes acerca da necessidade de
os autos serem remetidos à contadoria judicial caracteriza negócio jurídico processual,
que deve ser observado." Acórdão 1247408, 07236483520198070000, Relator: MARIO-
ZAM BELMIRO, Oitava Turma Cível, data de julgamento: 6/5/2020, publicado no DJE:
19/5/2020.

Despesas Processuais. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE


COBRANÇA. HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. REJEIÇÃO. DESPESAS PROCESSUAIS. NEGÓCIO JURÍDICO
PROCESSUAL. POSSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 1 - Rejeita-se a preliminar de não
conhecimento do recurso, por ausência de interesse recursal, porque suscitada
unicamente sob argumentos que se confundem com o mérito recursal. 2 - Nos termos
do art. 190 do Código de Processo Civil, versando o processo sobre direitos que
admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.? 3 -
Constatando-se que no termo de acordo celebrado pactuou-se expressamente que os
Réus são responsáveis pelo pagamento das despesas processuais, não incide no caso o
disposto no § 2º do art. 90 do CPC, aplicável somente em caso de silêncio das partes.
Assim, uma vez que houve negócio jurídico processual entre as partes acerca da
responsabilidade pelo pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios,
é escorreita a sentença em que os Réus foram condenados ao pagamento desses
encargos. Preliminar rejeitada. Apelação Cível desprovida. 07066203420188070018 -
(0706620-34.2018.8.07.0018 - Res. 65 CNJ)

II – Atos concertados

São acordos firmados entre juízos e instituições cooperantes de forma a


consubstanciar o princípio da eficiência na administração pública, desburocratizando e
racionalizando as atividades administrativas e funções jurisdicionais.
O Art. 67 do CPC dispõe que os órgãos do Poder Judiciário, estadual ou
federal, especializado ou comum, em todas as instâncias e graus de jurisdição, inclusive
aos tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca cooperação, por meio de seus
magistrados e servidores.

O Código de Processo Civil estabelece que os juízos poderão formular


entre si pedido de cooperação para prática de qualquer ato processual, não
prescindindo de forma específica e podem ser executados por:

✓ auxílio direto;
✓ reunião ou apensamento de processos;
✓ prestação de informações
✓ atos concertados entre os juízes cooperantes.

O CNJ editou a Resolução nº 350/20 disciplinando a cooperação judiciária


nacional entre os órgãos do Poder Judiciário, estabelecendo um rol exemplificativo de
atos concertados entre os juízes cooperantes que poderão consistir:

❖ na prática de quaisquer atos de comunicação processual, podendo


versar sobre a comunicação conjunta a pessoa cuja participação
seja necessária em diversos processos;

❖ na prestação e troca de informações relevantes para a solução dos


processos;

❖ na redação de manuais de atuação, rotinas administrativas,


diretrizes gerais para a conduta dos sujeitos do processo e dos
servidores públicos responsáveis por atuar em mecanismos de
gestão coordenada;
❖ na reunião ou apensamento de processos, inclusive a reunião de
execuções contra um mesmo devedor em um único juízo;

❖ na definição do juízo competente para a decisão sobre questão


comum ou questões semelhantes ou de algum modo
relacionadas, respeitadas as regras constantes nos artigos 62 e 63
do Código de Processo Civil;

❖ na obtenção e apresentação de provas, na coleta de depoimentos


e meios para o compartilhamento de seu teor;

❖ na produção de prova única relativa a fato comum;

❖ na efetivação de medidas e providências para recuperação e


preservação de empresas;

❖ na facilitação de habilitação de créditos na falência e na


recuperação judicial;

❖ na disciplina da gestão dos processos repetitivos, inclusive da


respectiva centralização (art. 69, § 2º, VI, do Código de Processo
Civil), e da realização de mutirões para sua adequada tramitação;

❖ na efetivação de tutela provisória ou na execução de decisão


jurisdicional;

❖ na investigação patrimonial, busca por bens e realização prática de


penhora, arrecadação, indisponibilidade ou qualquer outro tipo de
constrição judicial;
❖ na regulação de procedimento expropriatório de bem penhorado
ou dado em garantia em diversos processos;

❖ no traslado de pessoas;

❖ na transferência de presos;

❖ na transferência de bens e de valores;

❖ no acautelamento e gestão de bens e valores apreendidos;

❖ no compartilhamento temporário de equipe de auxiliares da


justiça, inclusive de servidores públicos;

❖ na efetivação de medidas e providências referentes a práticas


consensuais de resolução de conflitos;

❖ no compartilhamento de infraestrutura, tecnologia e informação,


respeitada a legislação de proteção de dados pessoais; (incluído
pela Resolução n. 436, de 28.10.2021)

❖ na transferência interestadual ou intermunicipal de crianças e


adolescentes ameaçados(as) de morte e inseridos(as) no
Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de
Morte (PPCAAM). (incluído pela Resolução n. 498, de 4.5.2023)

❖ na formulação de consulta dirigida a outro magistrado ou órgão


do Poder Judiciário (incluindo comitês, comissões e grupos de
trabalho instituídos em seu âmbito) ou, ainda, no caso de
cooperação interinstitucional, a pessoa, órgão, instituição ou
entidade externa ao Judiciário, solicitando manifestação ou
opinião em resposta, facultada a participação do consultor no
processo, a critério do juízo consulente; (incluído pela Resolução
n. 499, de 10.5.2023).

A Resolução 350/2020 do CNJ em seus anexos traz modelos de modelo


exemplificativo de pedido de cooperação por auxílio direto dando como exemplos:

Ex. 1. “...encaminhe informações sobre o andamento do processo de


execução em face de EMPRESA TAL, indicando se existem bens penhorados e se há
previsão para realização de leilão para sua expropriação”.

Ex. 2. “proceda à intimação da testemunha (NOME DA TESTEMUNHA),


endereço (LOCALIDADE), para comparecer à audiência na data (DATA), para prestar
depoimento nos autos do processo no (NÚMERO DO PROCESSO) XXX, em trâmite nesta
Comarca/Subseção Judiciária”.

Ex. 3. “proceda à penhora no rosto dos autos da quantia de R$ (VALOR


EM NUMERAL) (VALOR POR EXTENSO), anotando a reserva do crédito em favor de
(NOME DO BENEFICIÁRIO), cujo crédito decorre de sentença condenatória nos autos do
processo em epígrafe, em trâmite nesta Vara (ESPECIFICAR O JUÍZO).”

Ex. 4. “encaminhe cópia integral dos autos do processo no (NÚMERO DO


PROCESSO) XXX, em trâmite nesta Subseção Judiciária, a fim de instruir o processo em
epígrafe”.

Menciona exemplos de atos concertados:


Ex. 1: “Este ato concertado objetiva disciplinar a cooperação judiciária
envolvendo processos individuais e/ou coletivos envolvendo a pandemia de Covid-19
que estejam tramitando nos limites territoriais dos juízos cooperantes e digam respeito
a questões relacionadas ao direito à saúde”.

Ex. 2: “Este ato concertado objetiva disciplinar a cooperação judiciária


envolvendo os atos de expropriação envolvendo o bem imóvel Fazenda XXXXX,
registrado no 1º Cartório de Registro de Imóveis da cidade de YYYY, atualmente
penhorado e arrestado em processos que estão tramitando perante os juízos
cooperantes”.

Ex. 3: “Este ato concertado objetiva disciplinar a cooperação judiciária


envolvendo os atos necessários para a produção de prova pericial única em todos os
processos acima relacionados, nos termos seguintes”.

Ex. 1: “Determina-se que a prova pericial sobre a eficácia farmacológica


do remédio TAL será produzida nos autos do processo YYYY, em trâmite no juízo da 3ª
Vara Federal de XXXX, e aproveitada por todos os juízos cooperantes”.

Ex. 2: “Define que o juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de Salvador será o


competente para proceder ao leilão do imóvel penhorado e o juízo da 5ª Vara
Empresarial da Comarca de São Paulo será o competente para decidir as questões
relacionadas ao concurso individual de credores”.

Ex. 3: “Determina-se que a intimação da testemunha FULANO DE TAL,


comum aos processos acima relacionados, será realizada pelo juízo da 1ª Vara do
Trabalho, e a sua oitiva será realizada em ato único e conjunto, na data TAL,
oportunidade em que será inquirida sucessivamente pelos juízos cooperantes”.
Conheça a Resolução 350 do CNJ e explore um pouco mais seu
conhecimento.
Referências:

BRASIL Lei Federal nº 9099 de 26 de setembro de 1995. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm
BRASIL. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Lei Federal nº 13146 de 06 de julho de
2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm
BRASIL. Código Civil. Lei Federal nº 10406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei Federal nº 13105 de 16 de março de 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
BRASIL. Código do Consumidor. Lei Federal nº 8078/90. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília. Disponível em :
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de
1990. Disponível em : https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
BRASIL. Estatuto da Igualdade Racial. Lei Federal nº 12288 de 20 de julho de 2010.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm
BRASIL. Estatuto do Idoso. Lei Federal nº 10741 de 01 de outubro de 2003. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
BRASIL. Lei do depoimento especial. Lei Federal nº 13431 de 04 de abril de 2017.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13431.htm
BRASIL. Lei Federal 12138 de 26 de agosto de 2010. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm
BRASIL. Lei Federal nº 11804 de 05 de novembro de 2008. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm
BRASIL. Lei Federal nº 12153 de 22 de dezembro de 2009. Disponível em :
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm
BRASIL. Lei Federal nº 13140 de 26 de junho de 2015. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm
BRASIL. Lei Federal nº 13185 de 06 de novembro de 2015. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm
BRASIL. Lei Henry Borel. Lei Federal nº 14344 de 24 de maio de 2022. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 63 de 14 de novembro de 2017.
Disponível em https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2525
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 63 de 14 de novembro de 2017.
Disponível em https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2525
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 63 de 14 de novembro de 2017.
Disponível em https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2525
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 73 de 28 de junho de 2018. Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2623
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 73 de 28 de junho de 2018. Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2623
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 125 de 29 de novembro de 2010.
Disponível em : https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 225 de 31 de maio de 2016. Disponível
em : https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2289
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 270 de 11 de dezembro de 2018.
Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_270_11122018_12122018112523.pdf
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 348 de 13 de outubro de 2020. Disponível
em: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento 73 de 28 de junho de 2018.
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2623
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 350 de 27 de outubro de 2020 Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3556.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 401 de 16 de junho de 2021. Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3987
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 425 de oito de outubro de 2021.
Disponível em https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4169
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 492 de 17 de março de 2023.
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4169
RIO DE JANEIRO. Lei Estadual nº 9629 de 04 de abril de 2022. Disponível em:
https://leisestaduais.com.br/rj/lei-ordinaria-n-9629-2022-rio-de-janeiro-dispoe-sobre-a-
autocomposicao-no-ambito-estadual-e-sobre-a-camara-administrativa-de-solucao-de-
controversias-casc-de-que-trata-o-decreto-estadual-no-46-522-2018

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