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MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

A mediação e a conciliação, são técnicas utilizadas pela


Justiça Brasileira desde 2010 e incentivadas pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Porém, a Lei de Mediação (Lei
nº 13.140) em 2015, estabeleceu as diretrizes em termos
legislativos.

O parágrafo 2º da Lei nº 13.140/2015, dispõe dos seguintes


princípios:

- Imparcialidade do mediador;

- Isonomia entre as partes;

- Oralidade;

- Informalidade;

- Autonomia da vontade das partes;

- Busca do consenso;

- Confidencialidade;

- Boa-Fé.

O artigo 334 do Código de Processo Civil estabeleceu a


obrigatoriedade da realização de uma audiência prévia de
mediação e conciliação no trâmite dos processos, audiência
esta que ocorre antes mesmo da formação do litígio.

Vejamos o que estabelece o artigo 334 do CPC:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos


essenciais e não for o caso de improcedência liminar do
pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,

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devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de
antecedência.

A lei de mediação visa modificar a cultura do litígio


judicial, uma vez que a justiça brasileira encontra-se
sobrecarregada. Aderir a esse recurso é uma forma de não
agravar essa situação, o que com o tempo pode trazer mais
celeridade ao Poder Judiciário.

Examinaremos a seguir 10 itens da lei da mediação que


entendemos ser importante conhecer:

1. Informalidade

Por se tratar de um procedimento simples, os atos


praticados durante a mediação não têm uma forma
predeterminada e é conferido às partes o direito de se
expressar sem formalidade.

Os atos são considerados válidos até mesmo se realizados


oralmente, são formalizados por escrito apenas termo
inicial e o termo final, nos quais se registra o acordo.

As sessões de mediação, por exemplo, não precisam ser


publicadas no Diário Oficial ou notificadas por oficial de
justiça. Essa informalidade se traduz em uma sensível
redução dos custos, principalmente em comparação com o
processo tradicional.

Entretanto, lembre-se que apesar de não existir uma forma


estipulada, os atos praticados devem ser claros, simples e
precisos, possibilitando o seu fácil entendimento.

2. Voluntariedade

A mediação de conflitos é voluntária, uma vez que está


pautada na autonomia das partes envolvidas em um conflito.
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As partes também devem estar presentes de forma voluntária
e livre, exercendo sua autonomia de vontade.

Sendo assim, a lei autoriza a desistência dos


participantes a qualquer tempo, sem estabelecer nenhuma
punição caso isso ocorra, uma vez que ninguém pode ser
obrigado ou coagido a realizar a mediação contra a sua
vontade.

Entretanto, se existir uma cláusula em contrato que


preveja a mediação, as partes devem apresentar-se ao menos
na primeira reunião sobre o caso, mesmo que nenhum acordo
seja feito.

3. Direitos mediáveis

A lei de mediação autoriza a utilização do procedimento em


dois casos: art. 3º, que descreve que pode ser objeto de
mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis
ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação.

A disponibilidade de um direito diz respeito à


possibilidade de seu titular abrir mão dele, cedendo-o por
completo ou em parte. Por exemplo, uma pessoa pode ceder
automóvel, casa, dinheiro e afins, contudo, não pode ceder
sua integridade física.

Assim, em tese, apenas os direitos disponíveis seriam


admitidos em mediação, uma vez que são os únicos que
possibilitariam uma transação (concessões recíprocas).

Contudo, entre os direitos indisponíveis, alguns tiveram


sua característica legalmente relativizada. Por exemplo,
atualmente, é possível a solução consensual para litígios

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com entes públicos (dívida ativa, reparação de danos
etc.), ainda que originalmente tais privilégios sejam
indisponíveis.

Logo, chega-se à autorização prevista no artigo acima:


“[…] sobre direitos disponíveis ou sobre direitos
indisponíveis que admitam transação”.

Contudo, as questões envolvendo direitos indisponíveis têm


uma particularidade, pois apenas o consenso das partes
envolvidas não é o bastante para o trato ser válido, uma
vez que o § 2º do artigo 3º da Lei dispõe que o acordo
precisa ser homologado em juízo, sendo obrigatória a
oitiva do Ministério Público.

4. Confidencialidade

Enquanto o processo judicial tem como regra a publicidade


dos atos praticados, na mediação prevalece a
confidencialidade.

O mediador não pode ser chamado para testemunhar sobre


nenhum dos assuntos tratados durante as sessões do
procedimento, nem mesmo em processo judicial ou arbitral,
salvo no caso de confissão de crime por uma parte.

As partes devem ser alertadas pelo mediador, no momento da


convenção do acordo, sobre as regras de confidencialidade
aplicáveis ao trâmite. Contudo, o termo de acordo pode se
tornar público sem constar os motivos de sua celebração,
caso as partes optem pela homologação judicial.

A mediação também pode deixar sua confidencialidade de


lado se as partes assim quiserem e expressamente

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acordarem, ou se a sua divulgação for exigida por lei ou
necessária para o cumprimento do acordo.

5. Mediação extrajudicial

A lei de mediação autoriza a chamada mediação


extrajudicial, realizada por profissional escolhido pelas
partes, independentemente de vínculo com o Poder
Judiciário. O profissional escolhido deve ser capacitado e
ter a confiança dos lados, não sendo necessária sua
associação a nenhum conselho ou entidade de classes.

As partes também podem estar assistidas por advogados ou


defensores públicos. Entretanto, se apenas uma delas tiver
constituído um patrono, o procedimento ficará suspenso até
que todos os envolvidos estejam devidamente acompanhados.

Esse tipo de mediação ocorre quase sempre para evitar um


processo e sua grande vantagem é a resolução do conflito
inteiramente na esfera privada.

6. Eficácia do acordo

O acordo produzido em mediação é um título executivo, isto


é, em caso de descumprimento, a parte pode requerer
imediatamente a tomada de medidas coercitivas para
realização do direito, independentemente da produção de
outras provas.

Esse documento pode ser judicial ou extrajudicial, de


acordo com a decisão das partes de homologar ou não o
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acordo firmado. No primeiro caso, o termo passa pela
revisão de um juiz de direito, o que reduz as chances de
questionamentos futuros sobre ilegalidades na sua
formação.

7. Cláusula de mediação

Os contratos podem prever a obrigação de participar da


primeira sessão de mediação, inclusive com a fixação de
punições pelo não comparecimento. Isso ocorre porque,
antes de iniciar as atividades, os mediadores esclarecem
os princípios e o funcionamento do procedimento para os
presentes.

Com efeito, a cláusula, na verdade, estabelece o dever de


conhecer a mediação, com total liberdade para os
envolvidos não aderirem ao procedimento.

8. Imparcialidade

Um dos princípios que orientam a mediação é a


“imparcialidade do moderador”, portanto o especialista
nomeado não pode ter predileção, favoritismo ou
prejulgamento em relação a nenhuma das partes.

A imparcialidade do mediador é fundamental para que o


processo de mediação obtenha êxito, pois assim nenhuma das
partes obterá vantagens excessivas, garantindo a isonomia.

9. Mediação na administração pública

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A Lei nº 13.140/2015 efetivou definitivamente a
possibilidade da utilização da mediação no âmbito do setor
público, uma vez que a referida lei autoriza que a
administração pública utilize os mecanismos da
autocomposição na solução de conflitos.

Essa medida é importante e efetiva, pois a administração


pública é a parte que tem o maior número de processos
judiciais em andamento no país, em conflitos que envolvem
tanto particulares quanto outros órgãos da própria
administração pública, sendo possível a utilização da
mediação em ambas as situações.

10. Câmaras de mediação

As câmaras de mediação podem ser privadas, as chamadas


“câmaras privadas de mediação e conciliação”, ou públicas,
pois o artigo 43 prevê a possibilidade de os órgãos e
entidades da administração pública criarem câmaras que tem
por objetivo à solução de conflitos entre particulares,
desde que a matéria do desacordo verse sobre a atividade
que o órgão regula ou supervisiona.

As mediações realizadas pelo PROCON são exemplos que


acontecem dentro das entidades públicas. Esse órgão pode
intermediar conflitos que envolvam problemas de consumo.
Logo, é possível concluir que a lei de mediação dá
efetividade ao compromisso, respeitando a voluntariedade
inerente ao procedimento.

Impactos na Administração Pública

A fim de evitar a sobrecarga do Poder Judiciário, uma


alternativa para a resolução de um determinado conflito, é
a utilização da mediação e conciliação.

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O art. 32 da Lei de mediação (Lei nº 13.140/2015), destaca
que a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios poderão criar câmaras de prevenção e resolução
administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos
órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com as seguintes
competências:

I – Dirimir conflitos entre órgãos e entidades da


administração pública;

II – Avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de


conflitos, por meio de composição, no caso de controvérsia
entre particular e pessoa jurídica de direito público.

III – Promover, quando couber, a celebração de termo de


ajustamento de conduta.

É importante ressaltar que a Lei de mediação também prevê


expressamente que podem ser solucionados conflitos que
envolvam equilíbrio econômico-financeiro de contratos
celebrados pela administração com particulares.

Neste aspecto, a Lei afasta a disciplina da contratação


pública das normas gerais de licitações e contratos
administrativos.

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