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Mediação

Câmaras privadas de mediação e conciliação


Nos países em que a conciliação e a mediação são mais frequentes, existem instituições que se dedicam
unicamente para desempenhar tais atividades em caráter privado, oferecendo isso como um serviço à
população. É o caso, por exemplo, dos EUA. No Brasil tal atividade está no início, mas já é possível identificá-
las em alguns lugares.
Assim, tais instituições possuem em seu corpo conciliadores e mediadores profissionais, ou seja, pessoas
que fizeram cursos e dominam as técnicas adequadas para ter êxito em uma conciliação ou mediação. O CPC
2015 previu a existência dessa atividade e denominou tais “instituições” de “câmaras privadas de mediação
e conciliação”.
Como se dá em Minas Gerais?
PORTARIA CONJUNTA Nº 655/PR/2017. Esta Portaria Conjunta dispõe sobre a instituição do Cadastro
Estadual das Câmaras Privadas de Conciliação e Mediação, no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
- TJMG, bem como sobre o cadastramento, a atuação, a supervisão e a exclusão dessas Câmaras.

Procedimento de Mediação
1. Providência Inicial
Conforme artigo 14 da Lei de Mediação, no início da primeira reunião de mediação, e sempre que julgar
necessário, o mediador deverá alertar as partes acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao
procedimento.
A confidencialidade é de extrema importância para que as partes sejam transparentes em suas intenções e
posições no curso do procedimento de mediação, sendo, inclusive, princípio previsto no artigo 2º da Lei de
Mediação.
Importante registrar que a confidencialidade impõe dever de sigilo a todos aqueles que de algum modo
tenham participado do procedimento de mediação quanto ao conteúdo das reuniões realizadas.
A lei de mediação proíbe que o mediador seja testemunha ou atue como árbitro e, ainda, proíbe que atue
de qualquer forma, por um ano, para quaisquer das partes.
2. Natureza e complexidade do conflito
Segundo o artigo 15 da Lei de Mediação, a requerimento das partes ou do mediador, e com anuência
daquelas, poderão ser admitidos outros mediadores para funcionarem no mesmo procedimento, quando
isso for recomendável em razão da natureza e da complexidade do conflito.
Dessa forma, desde que haja expressa concordância das partes, poderão funcionar na mediação dois ou mais
mediadores.
3. Suspensão do processo pela mediação
Conforme artigo 16 da Lei de Mediação, ainda que haja processo arbitral ou judicial em curso, as partes
poderão submeter-se à mediação, hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a suspensão do processo
por prazo suficiente para a solução consensual do litígio.
Manifestação do princípio da autonomia relativa da vontade, a lei de mediação admite que, a requerimento
das partes, os juízos estatal ou arbitral poderão suspender o processo por prazo suficiente para que se
promova a tentativa de resolução consensual, por meio da mediação, do litígio.
O requerimento deve ser feito por ambas as partes ou por uma delas, desde que haja a concordância da
outra.
O prazo de suspensão é prorrogável por idêntica manifestação concordante de ambas as partes.
Ademais, importante registrar que, é irrecorrível a decisão que suspende o processo nos termos requeridos
de comum acordo pelas partes. Assim, caso ambas as partes requeiram a suspensão do processo para se
submeterem à mediação, a decisão do juiz que concede a suspensão é irrecorrível.
Por outro lado, a suspensão do processo não obsta a concessão de medidas de urgência pelo juiz ou pelo
árbitro.
4. Instituição da mediação
O termo inicial do procedimento, em que se considera instituída a mediação, é a data marcada para a
primeira reunião do mediador com as partes.
Conforme artigo 17 da Lei de Mediação, considera-se instituída a mediação na data para a qual for marcada
a primeira reunião de mediação.
Lembrem que, conforme já vimos, a arbitragem é instituída a partir da aceitação da nomeação pelo
árbitro(os) ou instituição arbitral. Já a mediação é instituída na data da primeira reunião de mediação.
Ademais, enquanto a instauração da arbitragem importa em interrupção da prescrição, a instauração da
mediação importa em suspensão de sua contagem, voltando a correr o prazo pelo restante quando findo o
procedimento.
5. Reuniões
O mediador, no curso do procedimento, poderá se reunir com as partes em conjunto ou separadamente
para colher informações que possam facilitar o entendimento entre elas.
A lei determina o respeito à autonomia da vontade das partes e à busca do consenso.
Segundo o artigo 18 da Lei de Mediação, iniciada a mediação, as reuniões posteriores com a presença das
partes somente poderão ser marcadas com a sua anuência.
Nessa linha, só se admite que as reuniões posteriores que prevejam a presença das partes dependem de sua
concordância.
Evidentemente, permitida a reunião com apenas uma das partes, só da concordância desta dependerá sua
realização, assim como independe da concordância das partes a reunião com outras pessoas que, de
qualquer modo, possam contribuir para a resolução do litígio, a juízo do mediador.
Nos termos do artigo 19 da Lei de Mediação, no desempenho de sua função, o mediador poderá reunir-se
com a partes, em conjunto ou separadamente, bem como solicitar das partes as informações que entender
necessárias para facilitar o entendimento entre aquelas.
As partes são obrigadas a comparecer à primeira reunião, apenas se prevista contratualmente a mediação.

6. Prestação de informações
Preservado o dever de confidencialidade, o mediador pode solicitar das partes as informações que entender
necessárias para facilitar o entendimento do litígio e para propiciar a aproximação dos litigantes.
As informações prestadas não servirão para fins de produção de provas.
A negativa da parte pode caracterizar infração ao dever de cooperação, impedindo a continuidade do
procedimento.
7. Encerramento da mediação
O encerramento do procedimento de mediação dá-se com a lavratura de termo final que poderá conter
acordo entre as partes, declaração do mediador ou manifestação de qualquer das partes de que são inúteis
novos esforços para a obtenção do consenso.
O termo final da mediação tem efeito liberatório do mediador e não impede que as partes cheguem a acordo
posteriormente.
O termo final que contenha acordo entre as partes tem a natureza jurídica de título executivo extrajudicial
e, caso homologado pelo juiz ou árbitro, título executivo judicial.
A homologação do acordo pode ser recusada se houver dúvida sobre sua licitude.
A impugnação por via autônoma do acordo deve ser feita através de ação anulatória e não por ação
rescisória.
8. Entendimentos do STJ sobre o assunto
O simples termo de reunião não é titulo executivo porque retrata apenas negociações preliminares (STJ.
REsp. 1.346.265).
A homologação judicial de autocomposição pode ocorrer após o trânsito em julgado de sentença, conforme
entendimento do STJ (STJ. EDivREsp. 978.154).
A homologação arbitral dispensa a judicial (STJ. EDcl. DESIS. AREsp. 1.094.553).
Deve ser recusada a homologação de acordo cuja licitude seja duvidosa (STJ. REsp. 1.090.6950).
Não cabe ação rescisória contra homologação judicial de acordo (STF. ACO 1.140).
Contra homologação judicial de acordo cabível anulatória (STF. ACO 1.140).

Princípio da Confidencialidade

1. Mediação pela internet

A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que permita a transação à
distância, desde que as partes estejam de acordo (art. 46 da Lei).

É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à mediação segundo as regras estabelecidas na Lei
n 13.140/2015.

2. Confidencialidade

Regra:
Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a terceiros,
não podendo ser revelada nem sequer em processo arbitral ou judicial.

A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não
poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes (§ 1º do art. 166
do CPC 2015).

Exemplos de informações da mediação que não podem ser reveladas:


- declarações, opiniões, propostas formuladas por uma parte à outra;
- reconhecimento ou confissão de algum fato por qualquer das partes;
- documento preparado unicamente para os fins do procedimento de mediação.

O mediador deverá alertar as partes acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao procedimento.

Exceções:

As informações relacionadas com a mediação poderão ser reveladas se:

1) as partes expressamente concordarem;


2) a lei exigir sua divulgação;
3) a sua divulgação for necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação;
4) for uma informação relacionada com a ocorrência de um crime de ação pública.

Obs: mesmo havendo a regra da confidencialidade as partes têm o dever de comunicar à administração
tributária (Fisco) as informações necessárias ao pagamento de tributos. Ex: se em uma mediação a parte “A”
concordou em pagar a “B” R$ 100 mil a título de danos materiais, esse rendimento deverá ser informado à
Receita Federal, não estando abrangido pelo dever de confidencialidade.

A quem se aplica o dever de confidencialidade:

O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus prepostos, advogados, assessores


técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta ou indiretamente, participado do
procedimento de mediação.
Em suma, aplica-se a todos os que participaram, de algum modo, da mediação.

Sessão privada

Algumas reuniões ocorrerão com o mediador e as duas partes e, em outras oportunidades, o mediador se
reunirá apenas com uma das partes. Estas últimas são chamadas de “sessões privadas”.
A Lei determina que é confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada, não podendo o
mediador revelá-la à outra parte, exceto se expressamente autorizado (art. 31).

Prova inadmissível:

Se algum documento ou informação da mediação for apresentado em processo arbitral ou judicial fora das
exceções legais em que era permitida a sua exibição, o árbitro ou juiz não deverá aceitá-lo, determinando o
seu desentranhamento do processo.

Proibição de testemunhar
Em razão do dever de sigilo, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não
poderão divulgar ou depor sobre fatos ou elementos relacionados com a conciliação ou a mediação (§ 2º do
art. 166 do CPC 2015).

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