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MATERIAL DIDÁTICO DA DISCIPLINA DE PRÁTICA SIMULADA III - PENAL

2º Semestre de 2019 – Prof.ª Ana Paula do Vale Fossali Paranhos

RECURSOS
Fundamento Constitucional do Recurso
 Garantia individual – duplo grau de jurisdição – prevista implicitamente na CR/88 – decorrente do art. 5º, LV, CR/88.
 Status constitucional do duplo grau de jurisdição – Brasil ratificou o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana dos
Direitos Humanos) – art. 5º, §2º, CR/88.
Art. 5º. (...)
§2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Convenção Americana dos Direitos Humanos


Artigo 8º - Garantias judiciais
(...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:
(...)
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.

 Ação de competência originária dos Tribunais – exceção – Deputado Federal condenado criminalmente pelo STF – não há como
recorrer.

Conceito de Recurso
 “Direito que possui a parte, na relação processual, de se insurgir contra as decisões judiciais, requerendo a sua revisão, total ou
parcial, em instância superior”. (NUCCI, Guilherme de Souza)
 Embargos de Declaração – não se trata propriamente de um recurso, uma vez que o próprio órgão prolator da decisão irá rever, com
a possibilidade de emendar.

Natureza Jurídica do Recurso


 Desdobramento do direito de ação – segundo estágio para obtenção do provimento jurisdicional almejado.

Características Fundamentais dos Recursos


 Em geral os recursos devem ser:
1- Voluntários – interposição depende exclusivamente do desejo da parte contrariar a decisão proferida – art. 574, CPP. Exceções –
recursos de ofício ou reexame necessário e possibilidade de extensão dos efeitos do recurso de um recorrente ao coautor – art. 580,
CPP – em razão da teoria monista (art. 29, CP).
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos,
de ofício, pelo juiz:
I- da sentença que conceder habeas corpus;
II- da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou
isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos
réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.

 Teoria Monista – caso um dos coautores recorra e o Tribunal reconheça a atipicidade da conduta – extensão subjetiva do efeito
devolutivo do recurso.
 Art. 580, CPP – benefícios de caráter pessoal – um dos coautores menor de 21 anos – prescrição pela ½ - extinção da punibilidade
apenas para aquele coautor.
2- Tempestivos – pressuposto de admissibilidade – não é viável um tempo indefinido para manifestação do inconformismo.
 Uma das razoes não se deve considerar como recursos as ações autônomas – HC, Mandado de Segurança e Revisão Criminal.
3- Taxativos – o recurso deve estar expressamente previsto em lei – segurança jurídica
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Efeitos dos Recursos
 Efeito Devolutivo – regra geral – permite que o tribunal superior reveja integralmente a matéria controversa, sobre a qual houve
inconformismo.
* Existem matérias que podem ter conhecimento de ofício – nulidade absoluta, por exemplo.
 Efeito Suspensivo – excepcional – impede que a decisão produza consequências desde a sua prolação.
* Eficácia imediata – sentença absolutória.
* Eficácia contida – sentença condenatória.
 Para alguns autores - não é o recurso que tem efeito suspensivo – a decisão sujeita a recurso que não tem eficácia até que a
instância superior se manifeste – prorroga a condição de ineficácia da decisão.
 Efeito Regressivo – devolver ao mesmo órgão prolator da decisão a possibilidade de seu reexame – embargos de declaração,
RESE, agravo em execução.

Recurso de Ofício
 Terminologia equivocada CPP - recurso é demonstração de inconformismo - reforma do julgado.
 Correto é dizer: duplo grau de jurisdição obrigatório ou reexame necessário.
 Relevância da matéria - dupla análise – se há somente uma decisão - não se produz a coisa julgada - Súmula 423, STF.
 Posição minoritária doutrina - recurso de ofício está revogado pela CR/88 - art. 129, I – exclusivamente MP titularidade ação penal
- ilegítima iniciativa do juiz.
 Posição majoritária da doutrina – o juiz apenas submete algumas questões particulares ao duplo grau de jurisdição obrigatório –
cumprimento da lei.
 Exige ainda o duplo grau de jurisdição obrigatório - absolvição de acusados em processo por crime contra a economia popular ou
contra a saúde pública – exceto Entorpecentes (lei específica) e quando houver o arquivamento dos autos do IP (Lei n.º 1.521/51,
art. 7.º).

Lei n.º 1.521/51


Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a
economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo
inquérito policial.

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos,
de ofício, pelo juiz:
I- da sentença que conceder habeas corpus;
II- da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou
isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

 CPP: 1ª hipótese – quando da edição do CPP entendia-se não caber recurso do MP na concessão de HC pelo juiz de 1ª instância –
controle das decisões – hoje o recurso é possível – art. 581, X, CPP; 2ª hipótese – resguardar soberania dos veredictos e
competência do Tribunal do Júri – Lei n.º 11.689/2008 eliminou este reexame necessário – não há mais previsão da absolvição
sumária no art. 411, CPP, mas no art. 415, CPP – ainda, o inciso II do art. 574, CPP menciona apenas as absolvições com base em
excludentes de ilicitude e culpabilidade, sendo que a atual redação do art. 415, CPP menciona outras hipóteses.
 Ainda existe recurso de ofício - relator indefere liminarmente a revisão criminal e se o Presidente do tribunal indefere liminarmente
habeas corpus.

Aspectos Formais e algumas particularidades dos Recursos


Desvio da administração pública no processamento do recurso
 Se algum recurso deixar de ser apresentado ou processado no prazo legal por ato faltoso de servidor público – não apenas do
Judiciário –, é preciso garantir o seu seguimento à instância superior (art. 575, CPP).
Art. 575. Não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos funcionários, não tiverem
seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo.

 Súmula 320 do STF.


Impossibilidade de desistência do recurso do MP

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 Há obrigatoriedade para o ajuizamento da ação penal - principalmente crimes de ação pública incondicionada - interposto o recurso
(desdobramento do direito de ação) não pode o Ministério Público dele desistir (art. 576, CPP).
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

 Não é obrigatório o oferecimento do recurso - depende do convencimento pessoal do MP sobre o acerto ou erro da decisão judicial –
porém, feita a opção, desistência não pode ocorrer.

Múltipla legitimidade recursal


 O recurso pode ser interposto pelo: MP, querelante, réu pessoalmente, ou por procurador ou defensor (art. 577, caput, CPP).
Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu
procurador ou seu defensor.

 Há possibilidade do ofendido e das pessoas que o sucederem na ação penal (CADI) oferecerem recurso – mesmo que não
habilitados assistentes de acusação quando: juiz julgar extinta a punibilidade do réu, impronunciá-lo ou absolvê-lo.
 Também os assistentes de acusação previamente admitidos podem apresentar recurso.
 3º de boa-fé - bem apreendido ou sequestrado - apesar de apresentados embargos teve pretensão rejeitada (art. 130, II, CPP) –
poderá apresentar apelação.

Interesse recursal
 Pressuposto subjetivo para a admissibilidade dos recursos - a parte somente poderá provocar reexame da matéria - quando eventual
modificação lhe trouxer algum tipo de benefício.
Art. 577. (...)
Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou
modificação da decisão.

 Fundamentação deve produzir efeito consequencial concreto no direito da parte – sentença absolutória por reconhecimento de
legítima defesa é bem diferente do que sentença absolutória por insuficiência de provas – cabível indenização cível – art. 65, CPP -
art. 386, CPP.
 MP - deve ser garantido, tanto no caso de parte acusatória, interessada na condenação, quanto como custos legis - interessado no
fiel cumprimento da lei, possibilidade de recorrer de sentença absolutória ou condenatória.
 Ação privada - havendo absolvição e não tendo recorrido o Querelante, não cabe recurso do MP para buscar a condenação - pode
recorrer como custos legis, tendo havido condenação, havendo ou não recurso do querelante, para contrariar a pena aplicada, por
exemplo.

Pressupostos de admissibilidade dos recursos
 Art. 578, caput, CPP - recurso deve ser interposto por petição ou por termo nos autos - forma escrita.
Art. 578. O recurso será interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu
representante.
§1º Não sabendo ou não podendo o réu assinar o nome, o termo será assinado por alguém, a seu rogo, na
presença de duas testemunhas.
§2º A petição de interposição de recurso, com o despacho do juiz, será, até o dia seguinte ao último do prazo,
entregue ao escrivão, que certificará no termo da juntada a data da entrega.
§3º Interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por dez a trinta dias, fará conclusos os
autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo.

 Tais formalidades não podem ser consideradas em todos os momentos – ex. o acusado que recorre verbalmente da sentença em
plenário do júri – deverá seu recurso ser reduzido a termo.
 Se apresentar interposição do recurso por fax - na sequência deve apresentar o original na secretaria – não é totalmente seguro – falta de
papel, defeitos eletrônicos, etc.
Lei 9.800/99.
Art. 2.º- A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens não prejudica o cumprimento dos prazos,
devendo os originais ser entregues em juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término.
Parágrafo único. Nos atos não sujeitos a prazo, os originais deverão ser entregues, necessariamente, até cinco
dias da data da recepção do material.
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 Atualmente - Lei 11.419/2006 (Informatização do processo) - aos poucos começam a surgir os casos de interposição de recurso pela
Internet – pode estar ou não acompanhada das razões.
 Verificação dos requisitos processuais de interposição do recurso deve ser feita, de regra, pelo órgão que proferiu a decisão - Exceções:
a) órgão a quo deixa, indevidamente, de dar seguimento ao recurso e a parte reclama, também por recursos, diretamente ao tribunal
superior; b) quando julga o mérito do recurso.
Pressupostos de admissibilidade dos recursos:
Objetivos:
a) cabimento - previsão legal para interposição – ex. indeferimento da produção de prova testemunhal - não cabe recurso específico –
apresenta-se o inconformismo na apelação;
b) adequação – respeito ao recurso exato indicado na lei para cada tipo de decisão impugnada;
c) tempestividade - respeito ao prazo estabelecido em lei.
Subjetivos:
a) interesse da parte – deve existir motivo para provocar outra instância a reavaliar a matéria;
b) legitimidade - precisa ser oferecido por quem é parte na relação processual, ou quando a lei expressamente autorize a interposição por
terceiros – art. 598, caput, CPP.
 O acórdão, dando ou negando provimento ao recurso, sempre substitui a decisão recorrida – passa ser a decisão a ser cumprida
Impedimentos ao processamento ou conhecimento dos recursos
 Podem ocorrer fatos alheios aos pressupostos de admissibilidade - impedem o processamento ou conhecimento dos recursos. São
eles:
a) desistência - réu, acompanhado do defensor, não mais deseja recorrer. MP não pode desistir;
b) renúncia: antes de apresentado, pode a parte sucumbida manifestar seu desejo de não recorrer, exceto o MP;
c) deserção: quando o réu deixa de pagar as custas devidas (art. 806, §2.º, CPP) ou de promover o traslado de peças dos autos (art. 601,
§1.º, CPP).
* Fuga do réu implica deserção - art. 595, CPP revogado pela Lei n.º 12.433/2011.

Princípio da fungibilidade dos recursos


 A interposição de um recurso por outro, inexistindo má-fé ou erro grosseiro, não impedirá que seja ele processado e conhecido.
* Erro grosseiro - completa e injustificável ignorância da parte, pois há nítida indicação na lei quanto ao recurso cabível e nenhuma
divergência doutrinária e jurisprudencial e Má-fé - vários aspectos - utilização de um determinado recurso unicamente para contornar a
perda do prazo do realmente cabível.
* Exs. - aceitação da fungibilidade: aceitar carta testemunhável como recurso em sentido estrito, quando for denegado seguimento à
apelação; conhecimento do agravo em execução como correição parcial, no caso da parte que se insurge contra a expedição de guia de
recolhimento provisória.

Parecer do MP em grau de recurso e os princípios do contraditório, da ampla defesa e da igualdade processual – não seria uma
dupla representação no Judiciário? Causaria desigualdade das partes no processo? Deveria haver oportunidade de contra-
argumentação da defesa?
 Art. 610, parágrafo único, CPP – primeiro há oportunidade para a defesa e somente após para o Procurador de Justiça ou da
República.
 Serão 03 oportunidades para que a acusação terá oportunidade de expor seus argumentos, que podem ser contrários aos
interesses da defesa!
1- RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
Conceito
 Regra: Cabível para impugnar as decisões interlocutórias do juiz, expressamente previstas em lei – “agravo” – tem efeito devolutivo.
 Exceções:
a) decisão que concede ou nega HC - autêntica ação constitucional – art. 581, X, CPP;
b) decisão que julga extinta a punibilidade do agente - afasta o direito de punir do Estado e faz terminar o processo - art. 581, VIII, CPP.
Cabimento
 CPP enumera expressamente as hipóteses para o cabimento de RESE - não se admite ampliação por analogia, apenas por interpretação
extensiva – ex. rejeição do aditamento à denúncia (equivale à decisão de não recebimento da denúncia - art. 581, I, CPP).
 Atualmente - existe inoperância de alguns incisos do art. 581, CPP – LEP – Agravo em Execução.
 RESE viável apenas para:

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a) decisão que não receber a denúncia ou a queixa (inciso I): Deveria comportar apelação - típica decisão terminativa do processo – pode
ser rejeição parcial;
* Contra a decisão que recebe a denúncia ou queixa não há, como regra, recurso algum – alternativa: HC para cessar o constrangimento ilegal.
* Se houver rejeição da denúncia ou queixa e interposição de RESE pelo MP ou querelante - intimação do denunciado para que apresente
contrarrazões – apesar de não haver processo, para garantia da ampla defesa.
* Lei n.º 9.099/95, art. 82, §2.º - no Juizado caberá apelação da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa.
* Súmula 707, STF – nulidade relativa.
* Súmula 709, STF – data do acórdão vale como recebimento da denúncia.
b) decisão que concluir pela incompetência do juízo (inciso II) - autêntica decisão interlocutória - apenas altera o juízo competente para
julgar a causa, sem colocar fim ao processo.
* Reconhecimento da incompetência feito de ofício.
* Interposição de exceção de incompetência - hipótese prevista no inciso III do art. 581 (decisão que julgar procedente a exceção).
* Concluindo pela competência do juízo, não há recurso, salvo se a decisão for de flagrante ilegalidade – HC.
c) decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição (inciso III) - Para algumas situações deveria ser apelação - exceção
de coisa julgada, litispendência e ilegitimidade de parte – se houver rejeição cabível apenas HC (flagrante ilegalidade ou deverá esperar
eventual apelação para reiterar a impugnação).
* A procedência da exceção de incompetência não é terminativa – decisão interlocutória – RESE – se rejeitar – não cabe recurso – HC – juízo
nitidamente incompetente (ofensivo ao princípio do juiz natural).
* Exceção de suspeição - não há necessidade de interposição de RESE – aceita a suspeição – art. 99, CPP – juiz suspenderá o curso do
processo e enviará os autos ao substituto. Caso não reconheça a suspeição - art. 100, caput, do CPP – remessa dos autos à instância
superior.
d) decisão que pronunciar o réu (inciso IV) - decisão interlocutória mista não terminativa - julga apenas a admissibilidade da acusação,
encaminhando à apreciação do Tribunal do Júri.
* Impronúncia - decisão terminativa - coloca fim ao processo – apelação.
e) decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la,
conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante (inciso V) - todas elas são decisões interlocutórias.
* Se concedida a fiança ou fixado um valor muito baixo – MP pode recorrer; se negada, cassada ou considerada inidônea - acusado pode
recorrer (além do HC – liberdade de locomoção – mais célere).
* Prisão preventiva - pode juiz indeferir pedido MP ou delegado ou revogá-la – RESE MP.
* No caso de decretação da preventiva ou indeferimento de sua revogação - HC.
* Quando juiz conceder liberdade provisória - MP pode Público recorrer. Acusado que tiver pedido de liberdade provisória negado - HC.
* Prisão ilegal – deve ser relaxada – MP pode recorrer. Quando houver negativa ao relaxamento – HC.
* Alguns julgados têm permitido a interposição, pelo Ministério Público, de mandado de segurança – efeito ao recurso em sentido
estrito, que, como regra, não o tem – objetivo evitar libertação - Lei 12.016/2009 consolida entendimento de que cabe MS quando
interposto contra decisão judicial da qual não caiba recurso com efeito suspensivo (art. 5.º, II).
* Assistente de acusação é parte ilegítima para interpor RESE nas hipóteses em que o juiz concede liberdade ao acusado - a edição da Lei
11.690/2008, passa-se a dar ciência à vítima toda vez que o réu ingressar ou sair da prisão (art. 201, §2.º, CPP)? Qual o sentido prático
dessa norma?
f) decisão que absolver sumariamente o réu (inciso VI): o dispositivo foi revogado - (art. 416, CPP).
g) decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor (inciso VII): decisão interlocutória - ambas as hipóteses desfavoráveis ao
acusado – ou HC - Caso o juiz negue o quebramento ou a perda – MP apelação, se houver.
h) decisão que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade (inciso VIII): decisão que mereceria ser
impugnada por apelação – afasta a pretensão punitiva do Estado.
* Prescrição é causa extintiva de punibilidade (art. 107, CP).
* Assistente de acusação nesta hipótese pode apresentar RESE (art. 584, §1º, CPP).
i) decisão que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade (inciso IX): autêntica
decisão interlocutória - processo continua normalmente.
j) decisão que concede ou nega a ordem de habeas corpus (inciso X): é decisão de mérito da ação de impugnação - deveria ser
impugnada por apelação. Recurso de Ofício ou Reexame necessário - o art. 574, I, do CPP;
l) decisão que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte (inciso XIII): decisão interlocutória – dificilmente o recurso
será julgado antes da reprodução dos atos processuais, perdendo o sentido prático a sua interposição. Negando o juiz a anulação do processo
não cabe recurso. Em casos extremos – HC ou reiterar na apelação.
m) decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir (inciso XIV): decisão interlocutória - qualquer pessoa pode questionar a
idoneidade de um jurado, incluído na lista (ver art. 426, §1.º, CPP).

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* Acolhendo petição da parte interessada, pode o juiz excluir o jurado da lista – RESE.
* Também, a inclusão de alguém, impugnada e mantida pelo juiz – RESE.
* Prazo interposição - 20 dias, contado da data da publicação da lista definitiva dos jurados (art. 586, p.ú., CPP);
n) decisão que denegar a apelação ou a julgar deserta (inciso XV): decisão interlocutória.
* Juiz recebe, indevidamente, apelação (ex. apresentada fora do prazo) - parte contrária deverá alegar em preliminar das contrarrazões a
impossibilidade de conhecimento, mas não se interpõe recurso à parte.
o) decisão que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial (inciso XVI): decisão interlocutória. Sobre a
incidência de questão prejudicial, ver os arts. 92 e 93, CPP.
* Questão importante a ser apreciada no juízo cível para o deslinde da causa criminal, devendo ser decidida previamente, determinará a
suspensão do trâmite do processo criminal.
* Decisão pode implicar em prejuízo, direto ou indireto, para alguma das partes – exs. testemunhas que se esquecem do que viram ou ouviram,
provas periciais que podem ficar prejudicadas.
p) decisão que decidir o incidente de falsidade (inciso XVIII): decisão interlocutória - juiz verifica ser ou não falso determinado documento –
material ou ideologicamente.

 Embora constem do rol do art. 581 do CPP, não mais comportam RESE:
a) decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (inciso XI) – caberá agravo em execução e apelação –
SURSIS – a regra é ser concedido na sentença condenatória - caso de apelação. Excepcionalmente, o juiz da execução criminal poderá alterar
as condições (art. 158, §2º, LEP), considerá-lo sem efeito (art. 161, LEP), revogá-lo ou prorrogá-lo (art. 162, LEP) - possibilidade de
interposição de agravo (art. 197, LEP).
b) decisão que conceder, negar ou revogar livramento condicional (inciso XII) - decisão interlocutória, mas da LEP – caberá agravo (art.
197, LEP).
c) decisão a respeito da unificação de penas (inciso XVII) - decisão interlocutória proferida durante a execução das penas - impugnável
pelo agravo.
d) decisão que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado (inciso XIX) - decisão interlocutória do
processo de execução da pena, impugnável pelo agravo - art. 183, LEP.
e) decisão que impuser medida de segurança por transgressão de outra (inciso XX) – decisão interlocutória do processo de execução –
art. 184, caput, LEP.
f) decisão que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774 (inciso XXI) - foi revogado tacitamente pela Lei
7.210/84.
g) decisão que revogar a medida de segurança (inciso XXII) - decisão interlocutória provocando a libertação do agente ou sua liberação do
tratamento ambulatorial (art. 179, LEP) – agravo – única hipótese de agravo com efeito suspensivo.
h) decisão que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação (inciso XXIII) - decisão
interlocutória - agravo em execução. Arts. 175 a 179, LEP - cessação da periculosidade como causa para a libertação ou desoneração do
agente - preenchidos os requisitos legais, se o juiz não determinar a cessação do cumprimento da medida de segurança, cabe agravo.
i) decisão que converter a multa em detenção ou em prisão simples (inciso XXIV) – não há aplicação - art. 51, CP

Processamento do RESE

 Prazo para interposição - cinco dias.


 Exceto - inclusão ou exclusão de jurado da lista geral - 20 dias - data da publicação definitiva da referida lista (art. 586, caput e
parágrafo único, CPP).
 Poderá subir nos próprios autos ou não (art. 583, CPP).
 Para a subida por instrumento, incumbe à parte interessada indicar as peças que pretende ver encartadas nos autos do RESE (art.
587, caput e 588, CPP).
 Peças obrigatórias para averiguação dos requisitos de admissibilidade do recurso (tempestividade, interesse, adequação e
legitimidade): a) decisão recorrida; b) certidão de sua intimação; c) termo de interposição do recurso.
 Art. 583, parágrafo único, CPP - formação de instrumento à parte - pluralidade de réus em caso de pronúncia.
 Tem, como regra, efeito meramente devolutivo - devolve ao tribunal o conhecimento da matéria nele aventada, mas não provoca a
suspensão do andamento do feito.
 Excepcionalmente, têm efeito suspensivo os seguintes casos (art. 584, CPP):
a) contra decisão que considera perdida a fiança (art. 581, VII, 2ª parte);
b) contra decisão que denega seguimento à apelação ou a considera deserta (art. 581, XV);
c) contra decisão que considera quebrada a fiança, somente na parte referente à perda de metade de seu valor (art. 581, VII, 1ª parte).
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 Declaração de quebra da fiança provoca 02 efeitos: perda de metade de seu valor (o que a interposição do recurso permite não seja
aplicado de imediato) e recolhimento ao cárcere (para tanto, não há efeito suspensivo, mas pode comportar HC para evitar a prisão).
 Razões – prazo de 02 dias e contrarrazões, por igual prazo, abre-se vista ao recorrido – o recorrente e recorrido serão intimados
para apresentar as razões, apesar da redação do art. 588, CPP.
Art. 588. Dentro de dois dias, contados da interposição do recurso, ou do dia em que o escrivão, extraído o
traslado, o fizer com vista ao recorrente, este oferecerá as razões e, em seguida, será aberta vista ao recorrido
por igual prazo.
Parágrafo único. Se o recorrido for o réu, será intimado do prazo na pessoa do defensor.

 Após, com ou sem a resposta do recorrido - recurso é concluso ao juiz, que terá 02 dias para reformar ou manter sua decisão,
mandando instruir o recurso com os traslados que julgar necessários (art. 589, caput). Juízo de retratação.
Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias,
reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem
necessários.
Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá
recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso,
independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.

 Ex. se o juiz, no juízo de retratação, reformar a decisão, pode não caber recurso da parte contrária, que foi prejudicada pelo novo
entendimento adotado – se o juiz reconhece uma exceção (de ilegitimidade de parte, por exemplo), cabe recurso. Se houver
retratação, voltando atrás, não cabe recurso, de modo que a outra parte deve conformar-se ou reiterar em preliminar de apelação.
 Indeferimento do seguimento do RESE - interposição de carta testemunhável.

Modelo de Recurso em Sentido Estrito:


1º- Petição de interposição e razões de recurso em sentido estrito em caso de pronúncia
Fato: “F” foi pronunciado por homicídio qualificado pelo motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, não havendo exame
necroscópico nos autos. O juiz, ainda assim, entendeu presente a materialidade da infração penal, alegando haver corpo de delito indireto. O
réu, que contestara a prova de existência do delito, havia alegado, subsidiariamente, a ocorrência de legítima defesa, igualmente afastada na
pronúncia. O magistrado permitiu que o acusado aguardasse o júri em liberdade. Como advogado de “F”, interponha o recurso cabível.

AO JUÍZO DA ____.ª VARA DO JÚRI DA COMARCA ____.1


Autos do Processo n.º ____

“F”, qualificado a fls. ____, por seu defensor dativo, nos autos do processo que lhe move o Ministério Público,2 inconformado com a decisão de
pronúncia, vem, respeitosamente, à presença deste juízo, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com fundamento no art.
581, IV, do CPP, requerendo seja o mesmo recebido e, levando-se em consideração as razões em anexo,3 possa haver o juízo de retratação,4
com a finalidade de impronunciar o acusado.5
Assim não entendendo este juízo, requer o processamento do recurso, remetendo-o ao Egrégio Tribunal de Justiça.
Termos em que, desnecessária a formação de instrumento,6
Requer deferimento.

Comarca, data.
_______________
Defensor
Em outra lauda:
RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
____.ª Vara do Júri da Comarca ____
Autos do Processo n.º ____
Recorrente: “F”
Recorrido: Ministério Público7
7
EGRÉGIO TRIBUNAL8
O Acusado “F” foi pronunciado como incurso nas penas do art. 121, § 2.º, II e IV, do Código Penal, porque, no dia ____, na estrada
____, por volta das ____ horas, teria empurrado a vítima “G” da ponte, fazendo com que caísse no leito de um rio, desaparecendo nas águas.
O acusado teria agido à traição, colhendo o ofendido por trás, bem como por motivo fútil, consistente em desavença de menor importância,
resultado de briga anterior por torcida de time de futebol.9
A decisão de fls. ____, entretanto, não pode prevalecer. O art. 413, caput, do Código de Processo Penal estabelece dois requisitos
indispensáveis para se determinar o julgamento do Acusado pelo Tribunal do Júri: prova da existência do crime e indícios suficientes de
autoria. Quanto à materialidade, inexiste, nos autos, prova da existência da infração penal, uma vez que a vítima, na data dos fatos, tal como
relatado na denúncia, caiu de uma altura de cerca de cinco metros, nas águas de um rio e desapareceu. Pode estar viva, pois, em momento
algum, seu corpo foi encontrado e, consequentemente, submetido a exame pericial obrigatório (art. 158, CPP). Cuida-se de decisão periclitante
encaminhar o acusado a julgamento pelo Tribunal Popular sem a prova inequívoca da morte da vítima.
Ademais, não consta que ela não soubesse nadar ou que tivesse caído de altura mais do que razoável para que sua morte fosse
altamente provável. Por tais motivos, vislumbra-se a inexistência de prova da materialidade do delito. Quanto à autoria, não se nega ter o
Acusado entrado em luta corporal com o ofendido e, em face disso, ter este caído nas águas do rio. O próprio recorrente, dando mostras de
sua sinceridade, desde a fase policial, admitiu esse fato. Entretanto, disse claramente ter agido em legítima defesa, o que não foi
satisfatoriamente considerado pelo ilustre julgador.10
Ambos se desentenderam, realmente, momentos antes, por questões banais. Porém, quem perseguiu o acusado pela estrada,
quando este se dirigia à sua residência na Fazenda ____, foi a vítima. Ao atingirem a Ponte ____, que passa sobre o Rio ____, o ofendido deu
violento soco nas costas do Acusado, que, ato contínuo, entrou em luta com o agressor. A partir desse momento, possivelmente por perder o
equilíbrio, caiu a vítima no rio.
Tal cena foi presenciada pela testemunha ____ (fls. ____), que confirma integralmente a versão dada pelo Acusado. Comprovada,
sem sombra de dúvida, a legítima defesa, caso a vítima tenha morrido em virtude da queda, somente para argumentar, deveria o Acusado ser
absolvido sumariamente, nos termos do art. 415, IV, do Código de Processo Penal.
Por derradeiro, ainda somente para argumentar, caso seja a pronúncia mantida, é de rigor o afastamento das qualificadoras.11 Não
houve motivo fútil, pois este não se configura quando há discussão e agressão física entre Acusado e vítima, conforme pode ser constatado na
doutrina, através da lição de ____.12 Na jurisprudência, do mesmo modo, pode-se citar o seguinte: ____.13
No mesmo diapasão, inexistiu recurso que impossibilitou a defesa, consistente em traição. Se houve, como já mencionado, luta
corporal entre Acusado e ofendido, torna-se ilógico falar em ataque realizado à socapa. Logo, ambas as qualificadoras merecem ser afastadas,
por não encontrarem respaldo na prova dos autos.
Do exposto, conclui-se que inexiste prova suficiente da materialidade para a pronúncia. Assim não entendendo esse Egrégio
Tribunal, torna-se imperiosa a absolvição sumária do acusado ou, ao menos, sejam as qualificadoras afastadas, pois desse modo far-se-á a
tão almejada JUSTIÇA.

Comarca, data.
______________
Defensor

Observações:
1- Em Comarcas onde não há Vara Privativa do Júri, a fase de formação da culpa tramita em Vara Criminal comum. Somente após a pronúncia
transitar em julgado, remete-se o feito ao Tribunal do Júri.
2- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
3- A lei processual penal permite que se ofereça, primeiramente, a petição de interposição do recurso em sentido estrito e, recebido este,
sejam oferecidas as razões (art. 588, CPP). Nada impede, no entanto, que o recorrente apresente, desde logo, as razões que possua, em
especial, quando não se formar instrumento, agilizando o processamento.
4- O recurso em sentido estrito possui efeito regressivo, isto é, possibilita ao juiz prolator da decisão contra a qual se insurge a parte que refaça
o seu entendimento, modificando o julgado (ver art. 589, CPP).
5- Se o juiz modificar a decisão, impronunciado o réu, caberá à parte contrária, por simples petição, recorrer da nova decisão. Não há
necessidade de outras razões, pois as partes já deram seus argumentos (art. 589, parágrafo único, CPP). Embora, a partir da Lei 11.689/2008,
caiba apelação contra a impronúncia, a singela apresentação da petição é suficiente, pois as razões já foram oferecidas.
6- Neste caso, o recurso sobe nos próprios autos do processo principal. Logo, não se indica peça alguma para a forma- ção do instrumento.
Checar os casos em que se pede a formação do instrumento no art. 583, CPP.

8
7- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
8- Há quem insira, também, “Colenda Câmara” e “Douta Procuradoria de Justiça”. Trata-se de uma questão de estilo.
9- Faz-se, na ordem, um breve relato da pronúncia, para, após, levantar-se preliminares, relativas a eventuais falhas processuais. No caso
presente, não havendo nulidades a sanar, a defesa segue diretamente para o mérito da decisão de pronúncia, considerando os dois requisitos
indispensáveis: materialidade e autoria.
10- Atacou-se, inicialmente, a ausência de prova da existência do crime. Porém, por cautela, se for ultrapassada essa questão, invoca a defesa
tese alternativa, que é a da ocorrência de legítima defesa. Não há contradição, mas apenas cautela.
11- Trata-se de outra tese alternativa, com a qual pode e deve jogar a defesa. Se o Tribunal entender cabível a pronúncia, melhor seria ao réu
que fosse por homicídio simples e não qualificado.
12- Mencionar lição doutrinária correspondente.
13- Citar algum acórdão aplicável.

2º- Petição de interposição e contrarrazões de recurso em sentido estrito em caso de pronúncia


AO JUÍZO DA ____.ª VARA DO JÚRI DA COMARCA ____.1
Autos do Processo n.º ____

O Ministério Público do Estado de ____,2 nos autos do processo-crime que move contra “F”, qualificado a fls. ____, vem,
respeitosamente, à presença deste juízo, apresentar as suas CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, requerendo que,
recebidas estas, seja a decisão de pronúncia integralmente mantida,3 remetendo-se o feito ao Egrégio Tribunal de Justiça.
Termos em que,
Requer deferimento.
Comarca, data.
_______________
Promotor de Justiça
Em outra lauda:
CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

____.ª Vara do Júri da Comarca ____.


Autos do Processo n.º ____
Recorrente: “F”
Recorrido: Ministério Público 4
EGRÉGIO TRIBUNAL5

O réu “F” foi pronunciado como incurso nas penas do art. 121, § 2.º, II e IV, do Código Penal, porque, no dia ____, na estrada ____,
por volta das ____ horas, empurrou a vítima “G” da ponte, com animus necandi,6 fazendo com que caísse no leito de um rio, desaparecendo
nas águas.
O acusado agiu à traição, colhendo o ofendido por trás, bem como por motivo fútil, consistente em desavença de menor importância,
resultado de briga anterior por torcida de time de futebol.
A decisão de pronúncia deve ser integralmente mantida.7
Argumenta o recorrente que a materialidade não se encontra evidenciada, tendo em vista que o cadáver da vítima, por não ter sido
localizado, deixou de ser submetido ao exame necroscópico. Cuidando-se de infração penal que deixa vestígio, seria a prova pericial
indispensável, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal.
Entretanto, olvidou-se nessa colocação o disposto no art. 167 do mesmo Código, no sentido de que “não sendo possível o exame de
corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprirlhe a falta”. É esse exatamente o caso dos autos.
O acusado empurrou a vítima da Ponte ____, que passa sobre o Rio ____, de águas profundas e agitadas, golpeando-o por trás.
Caindo, praticamente desacordada, não teria oportunidade de nadar e, por questão de lógica, morreu afogada ou em virtude do traumatismo
provocado pela agressão ou mesmo pela queda. A cena foi vista e retratada fielmente nos autos, durante a instrução, pelas testemunhas ____
e ____ (fls. ____ e ____). Logo, se o exame de corpo de delito não foi realizado, tal situação decorreu exclusivamente por culpa do próprio réu,
que, com sua conduta, permitiu o desaparecimento do cadáver.

9
Convém ressaltar que o corpo de delito – prova da existência do crime – faz-se de duas maneiras: direta ou indiretamente. No
primeiro caso, trata-se do exame pericial, neste caso, como já mencionado, impossível pela não localização do corpo da vítima. No segundo,
realiza-se por prova testemunhal, que, sem dúvida, supriu-lhe a falta.8
Houve intensa atividade de busca, realizada por várias autoridades e populares, tendo sido completamente inútil, o que somente
demonstra ter, realmente, falecido a vítima, perdendo-se o cadáver na corredeira. Quanto à autoria, como bem demonstrou o recorrente, não
há dúvida. Ele foi o autor da agressão que levou à queda e, na sequência, à morte do ofendido.
Sua alegação acerca da legítima defesa é infundada. A testemunha de defesa mencionada no seu recurso (fls. ____) é sua amiga
pessoal, não merecedora, pois, de credibilidade. Ao contrário, as testemunhas arroladas pela acusação bem demonstraram que o réu não
gostava da vítima há muito tempo e, no dia dos fatos, pelo fútil motivo de terem discutido por conta de times de futebol, deliberou matá-lo,
empurrando-o da ponte referida. Não esperava, por certo, ser visto, o que o fez criar a situação de legítima defesa, em verdade inexistente.
Ainda que assim não fosse, cabe ao Tribunal do Júri, juiz natural da causa, a deliberação a respeito da excludente invocada, pois
não está ela nitidamente demonstrada nesta fase processual.9 Finalmente, requer-se a manutenção das qualificadoras imputadas na denúncia
e acolhidas pela decisão recorrida. A futilidade é patente, na medida em que o recorrente agrediu a vítima única e tão-somente por banal
discussão anterior, relativa a qual seria o melhor time de futebol da região. A discrepância entre o resultado produzido – morte do ofendido – e
o móvel propulsor da ação do réu é evidente, caracterizando o motivo fútil.10 A traição evidencia-se pela surpresa com que foi a vítima atacada,
não tendo a menor chance de se defender, como narraram as testemunhas já mencionadas.
Ante o exposto, espera o Ministério Público seja negado provimento ao recurso, mantendo-se, integralmente, a sentença de
pronúncia.
Comarca, data.
_______________
Promotor de Justiça

Observações
1 Em Comarcas onde não há Vara Privativa do Júri, a fase de formação da culpa tramita em Vara Criminal comum. Somente após a pronúncia
transitar em julgado, remetese o feito ao Tribunal do Júri.
2 Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
3 O recurso em sentido estrito tem efeito regressivo, permitindo que o juiz modifique a decisão anteriormente dada. Por cautela, a parte que
oferece contrarrazões pede a manutenção do julgado e a remessa dos autos ao Tribunal.
4 Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
5 Há quem insira, também, “Colenda Câmara” e “Douta Procuradoria de Justiça”. Trata-se de uma questão de estilo.
6 Animus necandi significa “vontade de matar”.
7 A parte interessada em manter a decisão recorrida deve rebater, ponto por ponto, os argumentos levantados pela parte recorrente. Assim
procedendo, propiciará ao Tribunal uma melhor visão do caso, buscando convencê-lo do acerto da sentença de pronúncia.
8 Sobre a formação do corpo de delito direto e indireto, ver as notas 1 a 4 ao art. 158 do nosso Código de Processo Penal comentado.
9 O argumento levantado, em tese, é correto. Somente se exclui da apreciação do Tribunal do Júri os crimes dolosos contra a vida cujas
excludentes invocadas (de ilicitude ou culpabilidade) fiquem, sem sombra de dúvida, provadas durante a instrução.
10 Pode o recorrido mencionar, para fortalecer seus argumentos, doutrina e jurisprudência contrárias às expostas pelo recorrente.
2- APELAÇÃO
 Leva à 2ª instância o julgamento da matéria decidida pelo juiz de 1º grau – sentenças definitivas ou com força de definitivas.
 Recurso amplo – devolve ao tribunal o julgamento pleno da matéria objeto da decisão.
 Instrumento residual – somente será interposto nos casos em que não houver previsão de RESE.
 Preferível em relação ao RESE – art. 593, §4º, CPP. Ex. quando da sentença condenatória reconhecimento de prescrição de um dos
crimes, será cabível apelação e não RESE.
Art. 593.
§4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de
parte da decisão se recorra. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

 Pode ser:
* Plena – se o recurso dirigir-se contra a decisão em sua totalidade;
* Parcial – visar a impugnação apenas em parte.
10
 Entendemos, no entanto, que quando constatada a reformatio in mellius (reforma em benefício do acusado), mesmo que o recurso
vise a reforma de apenas parte da decisão, poderá haver reforma por parte do Tribunal daquilo que não foi requerido pela defesa.

Hipóteses de cabimento nas decisões do juiz singular


Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
I- das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; (Redação dada pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)

 Sentenças por via das quais o juiz julga o mérito da causa, pondo fim à lide – declara improcedente ou procedente a pretensão
punitiva estatal.
II- das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
Capítulo anterior;(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

 Compreende neste dispositivo 02 espécies de decisão:


a) Definitivas (ou terminativas) – que encerram o processo cautelar ou principal, com ou sem julgamento de mérito, sem absolver ou
condenar. Ex. decisão de impronúncia; decisão que soluciona o incidente de restituição de coisa apreendida; decisão que julga
restauração de autos.
 Relembrando: podem recorrer da decisão de impronúncia o MP, o Querelante, o ofendido, habilitado ou não como assistente e até
mesmo o acusado (pleitear uma absolvição sumária).
b) Com força de definitivas – que encerram o pronunciamento final sobre questões que influem no resultado da lide, sem pôr fim ao
processo – ex. decisão em ação sobre crime contra a honra que rejeita o processamento da exceção da verdade; que julga
improcedente o sequestro (art. 127, CPP) – se ordenar o sequestro cabem embargos por parte do interessado (art. 130, CPP).
 Na Lei n.º 9.099/95 – Interposição de apelação contra 03 espécies de decisões:
1- que homologam ou não a transação penal;
2- que rejeitam a denúncia ou queixa;
3- das sentenças definitivas de condenação ou absolvição.

Hipóteses de cabimento nas decisões do Tribunal do Júri


III- das decisões do Tribunal do Júri, quando: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948

 Os vícios posteriores à pronúncia serão oponíveis via recurso de apelação – anteriormente à pronúncia devem ser objeto de recurso
contra a própria pronúncia (RESE) sob pena de preclusão.
 As nulidades relativas ocorridas após a pronúncia devem ser arguidas logo após o pregão das partes no início do julgamento pelo
Júri – se durante o julgamento dever haver arguição imediatamente após a sua ocorrência – se não forem arguidas consideram-se
convalidadas.
 As nulidades absolutas podem ser arguidas em qualquer tempo.
 Caso seja dado provimento ao recurso, o ato viciado, bem como os atos posteriores que dele dependam serão anulados e o acusado
será submetido a novo julgamento.
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; (Redação dada pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)

 A sentença do juiz deve espelhar a decisão dos jurados – ex. quando os jurados reconhecem uma qualificadora e o juiz condena o
acusado por homicídio simples.
 Decisão contrária à lei expressa – ex. juiz nega ao acusado sursis em razão de condenação anterior a pena de multa – art. 77, §1º,
CP.
 Caso o Tribunal dê provimento ao recurso retificará a sentença para se adequar à decisão dos jurados, não havendo neste caso
violação ao princípio da soberania dos veredictos.
§1º Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos
quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; (Redação dada pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)

11
 Erro - juiz aplicar a pena aquém do mínimo legal ou quando determinar sujeição a tratamento ambulatorial em razão de prática de
crime apenado com reclusão (art. 96, CP).
 Injusta – sentença que gradua a pena de modo inadequado à gravidade do crime – sopesar equivocadamente as circunstâncias do
art. 59, CP.
 Provida a apelação o Tribunal fará a adequação da pena ou da MS.
 Inviável apelação com o fim de incluir ou excluir qualificadora, privilégio, atenuante ou agravante – violação de norma constitucional
com a modificação do veredicto.
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. (Redação dada pela Lei nº 263, de
23.2.1948)

 Aos jurados, exclusivamente, cabe a responsabilidade da decisão acerca da procedência ou não da pretensão punitiva – veredictos
são insuscetíveis de modificações pelos tribunais em virtude do princípio constitucional previsto no art. 5º, XXXVIII, CR/88.
 No entanto, cabe apelação quando a decisão é manifestamente contrária à prova dos autos – quando portanto não encontra
qualquer suporte nos elementos de convicção existentes.
 O tribunal só dará provimento se o veredicto afrontar as provas colhidas durante o procedimento.
 Caso o tribunal reconheça a procedência não poderá modificar a decisão – deverá ser novamente levado a julgamento.
 Importante – somente poderá uma vez com esse fundamento, atingindo ambas as partes.
 Súmula 713, STF.

Prazo para Interposição


 Interposição – prazo de 05 dias – a contar da data da intimação da sentença.
 No caso de intimação ficta – prazo inicia-se com o decurso do prazo do edital (60 dias quando a pena for inferior a 1 ano e 90 dias
quando for superior a 1 ano).
 Conta-se o prazo a partir da data da audiência ou sessão em que foi proferida a sentença quando a parte compareceu ao ato.
 O prazo para o assistente habilitado recorrer é de 05 dias – Súmula 448, STF.
 O ofendido ou sucessor que não tenham se habilitado terão prazo de 15 dias, contados da data que se encerrou o prazo para o MP
apelar – art. 598, parágrafo único, CPP.
Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta
apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31,
ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito
suspensivo.
Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em que
terminar o do Ministério Público.

 O prazo para o recurso dos Juizados Especiais Criminais – Procedimento Sumaríssimo – 10 dias – interposição dever ser interposta
por petição juntamente com as razões do inconformismo.
Procedimento
 Interposta a apelação – juiz que proferiu a decisão exercerá o controle prévio de admissibilidade – juízo de prelibação.
 Caso seja denegada a apelação – RESE.
 Recebida a apelação – prazo para o recorrente apresentar suas razões no prazo de 08 dias.
 Se for contravenção penal – prazo de 03 dias, caso não esteja sendo julgado pelo JEspCrim.
 Após, a parte contrária terá o mesmo prazo.
 Assistente – art. 600, §1º, CPP – 03 dias após o MP.
Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias cada
um para oferecer razões, salvo nos processos de contravenção, em que o prazo será de três dias.
§1º Se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias, após o Ministério Público.
§2º Se a ação penal for movida pela parte ofendida, o Ministério Público terá vista dos autos, no prazo do
parágrafo anterior.
§3º Quando forem dois ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns.
§4º Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na superior
instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes, observados os prazos
legais, notificadas as partes pela publicação oficial. (Incluído pela Lei nº 4.336, de 1º.6.1964)

12
 Quando houver apelação simultânea – MP e acusado – abre-se vista aos autos primeiro ao MP e após à defesa em dobro para
apresentar contrarrazões e razões. Após, irá novamente para o MP para apresentar suas contrarrazões ao recurso da defesa.
 Art. 600, §4º, CPP – apresentação das razões em 2ª instância – deve ser requerido na interposição.
 Não há proibição para o MP arrazoar na 2ª instância – deve ter autorização do Procurador Geral de Justiça.
Art. 601. Findos os prazos para razões, os autos serão remetidos à instância superior, com as razões ou sem
elas, no prazo de 5 (cinco) dias, salvo no caso do art. 603, segunda parte, em que o prazo será de trinta dias.
§1º Se houver mais de um réu, e não houverem todos sido julgados, ou não tiverem todos apelado, caberá ao
apelante promover extração do traslado dos autos, o qual deverá ser remetido à instância superior no prazo de
trinta dias, contado da data da entrega das últimas razões de apelação, ou do vencimento do prazo para a
apresentação das do apelado.
§2º As despesas do traslado correrão por conta de quem o solicitar, salvo se o pedido for de réu pobre ou do
Ministério Público.

 No caso do MP não se aplica o art. 601, CPP – não pode desistir do recurso – ausência de intervenção causa nulidade – art. 564, III,
d, CPP.
 Em razão do princípio da ampla defesa – não subirão os autos sem as razões e contrarrazões da defesa.
 O simples atraso na entrega das razões – mera irregularidade.
 Na apelação não existe juízo de retratação.
 É possível a juntada de documentos quando da apelação – vista à parte contrária, bem como o direito de contestar – princípio do
contraditório.
 Súmula 708, STF.

Efeitos
 Tem sempre efeito devolutivo.
 O Tribunal poderá apreciar matéria que não tenha sido objeto de impugnação pelas partes – reconhecimento, de ofício, de nulidade
absoluta.
 Súmula 160, STF – nulidade acolhida contra o acusado sem arguição no recurso da acusação – proibição da reformatio in pejus.
 Não tem efeito regressivo – juízo de retratação.
 Efeito Suspensivo é regra, com algumas exceções:
* apelação contra sentença condenatória suspenderá em todos os casos o lançamento do nome do acusado no rol dos culpados –
presunção de inocência;
* apelação contra a sentença absolutória – tem eficácia imediata – art. 596, CPP – sem efeito suspensivo – acusado é colocado
imediatamente em liberdade.
Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade.
(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
 Efeito extensivo – caso de concurso de agentes – se a decisão não for exclusivamente fundada em motivos de caráter pessoal
aproveitará aos outros – art. 580, CPP.

Modelo de Apelação
1º- Petição de interposição e razões de recurso de apelação em caso de condenação por crime comum

Fato: Y” e “U”, casal de namorados, foram condenados por estupro à pena de reclusão de nove anos de reclusão, em regime fechado inicial,
sem direito a recorrerem em
liberdade. O juiz considerou, para aumentar a pena, os antecedentes e a personalidade de ambos, bem como a motivação do crime, que seria
a vingança de “U” contra sua inimiga “F”. Interponha apelação.

AO JUÍZO DA ____.ª VARA DO JÚRI DA COMARCA ____.1


Autos do Processo n.º ____

13
“Y” e “U”, qualificados às fls. ____, nos autos do processo que o Ministério Público1 lhes move, por sua advogada,2 vêm, respeitosamente, à
presença deste juízo, inconformados com a respeitável sentença de fls. ____, interpor a presente APELAÇÃO, com fundamento no art. 593, I,
do Código de Processo Penal.

Requerem que, após o recebimento desta, com as razões inclusas,3 ouvida a parte contrária, sejam os autos encaminhados ao Egrégio
Tribunal de Justiça, onde serão processados e provido o presente recurso.

Termos em que,
Requerem deferimento.
Comarca, data.
_______________
Advogada

Em outra lauda:
RAZÕES DE APELAÇÃO
____.ª Vara do Júri da Comarca ____
Autos do Processo n.º ____
Recorrentes: “Y” e “U”
Recorrido: Ministério Público4
EGRÉGIO TRIBUNAL5

“Y” e “U” foram processados como incursos no art. 213, em combinação com os arts. 226, I, e 61, II, a, do Código Penal, porque, no dia ____,
nas proximidades da Estrada ____, altura do quilômetro ____, por volta das ____ horas, teriam, em concurso de pessoas, constrangido “F” à
conjunção carnal, mediante o emprego de violência. Segundo constou da denúncia enquanto “U” segurava a vítima, seu namorado “Y”
mantinha com ela conjunção carnal. O crime teria sido praticado por vingança, uma vez que “F” era inimiga de “U”, prejudicando-a,
anteriormente, na empresa onde ambas trabalhavam.
O MM. Juiz condenou-os ao cumprimento da pena de nove anos de reclusão, em regime inicial fechado, sem permitir que recorressem em
liberdade.6
A respeitável decisão de fls. ____ merece ser reformada, pelos seguintes motivos:

I. PRELIMINARMENTE, DO CERCEAMENTO DE DEFESA7


Uma das testemunhas de acusação foi ouvida por precatória, expedida para a Comarca de ____, sem que a defesa tivesse sido cientificada da
data da audiência naquele juízo. Por tal motivo, não foi possível comparecer ao ato, designando o juiz do foro deprecado um defensor ad hoc,
o que, naturalmente, cerceou a defesa. Conforme já se sustentou na oportunidade das alegações finais, por mais empenho com que tenha
agido aquele advogado, perguntas específicas que deveriam ter sido feitas e, em razão da ausência da defesa constituída, não se realizaram,
prejudicando sobremaneira a defesa dos réus. Nesse prisma, feriu-se preceito constitucional, consistente na ampla defesa, bem como se viciou
o ato, por ausência de fórmula essencial à sua efetivação, que é a intimação das partes (art. 564, IV, CPP).8
Requer-se, pois, a nulidade do feito, a partir da expedição da precatória para a Comarca de ____, refazendo-se a instrução com ampla
possibilidade de participação da defesa, o que por certo acarreta na oportunidade de melhor detalhamento dos fatos, a ensejar a absolvição
dos apelantes.

II. MÉRITO9

1. Da absolvição, por insuficiência de provas10

Não há provas suficientes para a condenação dos réus, devendo prevalecer o princípio constitucional da presunção de inocência.11

A única pessoa a apontar os recorrentes como autores da infração penal foi a vítima, que, como explorado ao longo da instrução e reconhecido
pela própria decisão atacada, é inimiga da ré “U”. Logo, suas declarações não são dignas de credibilidade e não podem sustentar a
condenação.

As demais testemunhas não presenciaram o momento em que os acusados estavam com a ofendida, de modo que nada podem informar a
respeito.12

14
2. Da aplicação errônea da pena

Somente para argumentar, caso não seja acolhida a preliminar levantada, nem tampouco o pedido de provimento do apelo para a absolvição
dos réus, torna-se fundamental corrigir as distorções existentes na sentença condenatória.

2.1 Do afastamento da causa de aumento e do reconhecimento da participação de menor importância13

O ilustre julgador aplicou um aumento de quarta parte, fundado na existência de concurso de duas pessoas, valendo-se do disposto no art.
226, I, do Código Penal. Houve equívoco, na medida em que o referido aumento somente seria viável se os réus fossem, efetivamente,
considerados coautores. No caso presente, o autor do estupro teria sido “Y”, já que se trata de um crime próprio, cujo agente necessita ser do
sexo masculino, pois o objetivo é manter conjunção carnal com mulher.
Logo, a ré “U” seria apenas partícipe, não se podendo elevar a pena por conta disso.
Argumentou-se, ainda, ser ela uma partícipe de menor importância, pois, a manter-se a condenação, deve-se levar em conta que houve
apenas incentivo
de sua parte à prática da relação sexual, mas não apoio material à conduta do réu “Y”. Visa-se, portanto, a aplicação do redutor previsto no art.
29, §1.º, do Código Penal à apelante, bem como o afastamento do aumento de quarta parte em relação a ambos.

2.2 Do afastamento da agravante de motivação torpe.


Inexiste prova concreta do motivo do delito. Levantou a acusação, desde o início, uma suposição, consistente em vingança, que caracterizaria,
pois, a torpeza. Em primeiro lugar, nenhuma testemunha presenciou a suposta briga entre a apelante e a vítima, quando trabalhavam juntas na
empresa ____. E, ainda que tivessem divergências, não seria motivo suficiente para a determinação de um crime de tal gravidade. Em Direito
Penal, nada se pode presumir, tornando-se fundamental a prova do alegado. Ausente esta, o ideal é o afastamento da agravante.

2.3 Da inviabilidade de consideração dos antecedentes na fixação da pena-base.


O MM. Juiz, ao aplicar a pena-base, considerou que os réus teriam antecedentes, fazendo referência à folha de antecedentes, que acusa um
inquérito arquivado pela prática de estelionato. Ora, esse registro não pode prestar à conclusão de terem os apelantes antecedentes. Em
primeiro lugar, pelo fato
de ter sido a investigação arquivada, logo, ausentes provas mínimas para justificar uma ação penal. Em segundo lugar, por viger o princípio
constitucional da presunção de inocência, isto é, sem condenação com trânsito em julgado todo acusado é inocente, motivo pelo qual não
possuem os apelantes qualquer antecedente criminal.

2.4 Da insuficiência dos argumentos quanto à personalidade dos réus.


É inegável que o elemento relativo à personalidade constitui fator a ser considerado pelo magistrado quando proferir sentença condenatória
(art. 59, CP). Porém, deve justificar seu entendimento e apontar quais falhas de caráter são, realmente, encontradas nos réus, à luz da prova
produzida nos autos. Limitou-se o MM. Juiz a dizer que eles demonstraram “personalidade deturpada”, o que é insuficiente para a
concretização de qualquer juízo negativo, permissivo de elevação da pena-base.

Ante o exposto, processado o presente recurso, aguardam os apelantes seja acolhida a preliminar de nulidade do processo, a partir da
expedição da precatória. Assim não ocorrendo, esperam que haja o provimento do recurso para o fim de se decretar a sua absolvição, por
insuficiência de provas. Finalmente, caso seja mantida a condenação, deve-se ajustar a pena ao patamar mínimo para o réu “Y” e abaixo do
mínimo à ré “U”, que conta com causa especial de diminuição, aplicando-se o regime mais favorável possível para o início do cumprimento da
pena.

Comarca, data.
______________
Defensor

Observações:
1- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
2- Quando o réu, especialmente o preso, é intimado da sentença, ele pode assinar o termo de recurso, ou seja, pode apelar diretamente. O
ideal é que converse com o defensor e este apresente o recurso cabível.

15
3- O art. 600 do CPP permite que se apresente a petição de interposição da apelação e, após, recebida esta, em oito dias, o apelante ofereça
as razões. Pode até pleitear que as razões sejam apresentadas diretamente no Tribunal. Entretanto, é mais prático e célere o oferecimento das
razões na instância inferior.
4- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública” como sinônimo
de órgão acusatório.
5- Por uma questão de estilo, há quem acrescente também as referências a “Colenda Câmara” e “Douta Procuradoria de Justiça.
6- A prisão cautelar decretada pelo juiz na sentença, se injustificada, pode ser combatida por habeas corpus, especialmente impetrado com tal
finalidade. O ajuizamento de habeas corpus não elimina a necessidade de se questionar o mérito da condenação pelo recurso de apelação.
7- Lembrar, sempre, que os eventuais vícios (nulidades) ocorridos durante a instrução devem ser levantados, em preliminar, nos debates orais,
ao final da instrução. Se o juiz os afastar, devem ser reiterados em preliminar de apelação.
8- A questão da necessidade de intimação das partes acerca da audiência no juízo deprecado é controversa. Há posições variadas.
9- Ao discorrer sobre o mérito, que envolve a aplicação da pena, o ideal é desenvolver o raciocínio por tópicos. Favorece a elaboração da peça
e também permite ao Tribunal maior facilidade para a captação dos reclamos do recorrente.
10- Se viável, inicia-se o mérito pelo pedido de absolvição, sem esquecer que outras teses alternativas devem e podem seguir-se a esta.
11- Sempre que possível, deve-se invocar princípios constitucionais, o que favorece, posteriormente, a interposição de eventual recurso
extraordinário.
12- Se o pleito é dirigido à absolvição por falta de provas, torna-se necessário explorar toda a prova produzida. Levantamos, neste tópico,
apenas um exemplo de argumentações, não afastando outros que possam ser utilizados.
13- Os próximos tópicos, cuidando da aplicação da pena, tratam de temas polêmicos. Se possível, cabe ao defensor acrescentar doutrina e
jurisprudência, em cada um deles, favoráveis à posição sustentada.

2º- Petição de interposição e contrarrazões de recurso de apelação em caso de condenação por crime comum
AO JUÍZO DA ____.ª VARA DO JÚRI DA COMARCA ____.
Autos do Processo n.º ____

O Ministério Público,1 nos autos do processo-crime que move contra “Y” e “U”, qualificados a fls. ____, vem, respeitosamente, à
presença deste juízo, apresentar as suas CONTRARRAZÕES de APELAÇÃO, com fundamento no art. 600 do Código de Processo Penal.
Termos em que,
Requerem deferimento.
Comarca, data.
_______________
Promotora de Justiça

Em outra lauda:
CONTRARRAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO
____.ª Vara do Júri da Comarca ____.
Autos do Processo n.º ____
Recorrente: “Y” e “U”
Recorrido: Ministério Público 2
EGRÉGIO TRIBUNAL3

“Y” e “U” foram processados como incursos no art. 213, em combinação com os arts. 226, I, e 61, II, a, do Código Penal, porque, no
dia ____, nas proximidades da Estrada ____, altura do quilômetro ____, por volta das ____ horas, em concurso de pessoas, constrangeram “F”
à conjunção carnal, mediante o emprego de violência. Segundo constou da denúncia, enquanto “U” segurava a vítima, seu namorado “Y”
mantinha com ela conjunção carnal. O crime foi praticado por vingança, uma vez que “F” era inimiga de “U”, prejudicando-a, anteriormente, na
empresa onde ambas trabalhavam.
O MM. Juiz condenou-os ao cumprimento da pena de nove anos de reclusão, em regime inicial fechado, sem permitir que
recorressem em liberdade.
A respeitável decisão de fls. ____ merece ser integralmente mantida.

16
A preliminar de nulidade deve ser afastada, pois é pacífico o entendimento jurisprudencial a respeito da desnecessidade de
intimação da defesa quanto à data de realização da audiência no juízo deprecado. Basta, para a sua ciência, a intimação da expedição da
carta precatória, o que foi feito, bastando verificar a certidão de fls. ____.
Nesse sentido, os seguintes julgados: _____.4
Quanto ao mérito, há provas mais que suficientes para condenação. A materialidade do delito restou demonstrada não somente pelo laudo de
exame de corpo de delito de fls. ____, comprobatório das lesões sofridas pela vítima, inclusive na região genital, mas também pelos
depoimentos colhidos. Ela, desesperada, após a prática do crime, foi abandonada em um matagal e encontrada nua pela testemunha ____ (fls.
____), agricultor que passava, casualmente, pelo local.
Quanto à autoria, funda-se a prova da culpa dos apelantes não apenas na declaração prestada pela ofendida, mas sobretudo pelos demais
indícios suficientes a apontá-los como coautores.
A testemunha ____ (fls. ____) viu-os conduzindo a vítima na direção do lugar onde foi, algum tempo depois, encontrada ferida e nua no
matagal. Não bastasse, a própria colega de quarto da apelante declarou que ela chegou, assustada, na pensão onde moram, ingressando
imediatamente no banheiro e pedindo que sua roupa fosse lavada com urgência. A depoente constatou manchas de sangue no vestido da ré,
que não soube justificar a origem (fls. ____), graças ao estado de choque que a assolava.
O apelante, por sua vez, após a prática do crime, desapareceu, não mais comparecendo ao trabalho, motivo que levou à decretação da sua
prisão preventiva.
Por tais razões, a prova é robusta e autoriza a condenação.
A pena foi aplicada com integral acerto.
A elevação da pena-base em virtude do antecedente criminal registrado, bem como em decorrência da personalidade dos acusados é justa.
Quanto ao antecedente, há julgados que permitem considerar o inquérito arquivado como tal, podendo-se mencionar, a título de ilustração, os
seguintes: ____.
A personalidade dos apelantes, considerada pelo julgador, como “deturpada” é fruto do crime grave cometido, especialmente porque,
confrontando-se o que fizeram com a motivação (vingança), somente pode resultar na conclusão de que atuaram com particular maldade.
O mesmo se diga do motivo do delito. A vingança da apelante contra a vítima foi engendrada muito tempo antes, como narrou o patrão de
ambas a fls. ____.
Discutiram, na empresa, por motivos banais, ocasião em que a ré declarou que “aquilo não iria ficar assim” e a ofendida iria “sofrer as
conseqüências”.
A torpeza torna-se evidente, pois não é plausível que se resolva qualquer tipo de conflito sob a forma de revanche, mormente quando esta se
funda no
cometimento de crime hediondo.
A causa de aumento foi bem aplicada. O art. 226, I, do Código Penal exige apenas o concurso de duas pessoas, pouco importando se são
coautores ou
partícipes. Ademais, a apelante é coautora e não mera partícipe, uma vez que praticou a conduta típica “constranger alguém mediante
violência”, que integra o art. 213 do Código Penal, enquanto a outra parte do referido tipo “manter conjunção carnal” foi praticada pelo apelante
“Y”. Daí por que nem se
deve cogitar da aplicação da diminuição prevista no art. 29, §1.º, do Código Penal, pois não se trata de participação de menor importância.
Ante o exposto, aguarda o recorrido seja afastada a preliminar e, no mérito, negado provimento ao apelo.
Comarca, data.
_______________
Promotor de Justiça
Observações
1- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
2- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
3- Por uma questão de estilo, há quem acrescente também as referências a “Colenda Câmara” e “Douta Procuradoria de Justiça”.
4- Pode-se mencionar jurisprudência favorável à tese.
3 e 4- EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE
 Os embargos infringentes e os de nulidade são recursos exclusivos da defesa e oponíveis contra decisão não unânime de órgão de
2ª instância que causar algum gravame ao acusado.
 CPP os diferencia:
* Embargos Infringentes – visam discutir matéria de mérito;

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* Embargos de Nulidade – visam discutir matéria processual – reconhecer alguma nulidade.
 Os pressupostos e processamento destes recursos são idênticos.
Hipóteses de Cabimento
 Por serem os órgãos de 2ª instância colegiados pode ocorrer decisão não unânime, ou seja, tomada por maioria dos votos.
 Se a decisão for desfavorável ao acusado poderá opor os embargos para que o julgamento da causa seja devolvido a outro órgão
colegiado, do qual participarão, além dos julgadores responsáveis pela decisão embargada, outros mais.
 A oposição dos embargos ensejará o julgamento da questão por novos julgadores, bem como a possibilidade de mudança de
entendimento dos que já haviam tomado parte na decisão anterior.
 A matéria a ser discutida nos embargos estará restrita ao limite da divergência existente na decisão embargada.
 Voto vencido diverge dos votos vencedores em relação a parte da matéria – os embargos permitem reverter o julgado somente com
relação a essa questão. Ex. se todos os julgadores votam pela condenação do acusado, sendo que apenas um voto reconhece uma
causa de diminuição de pena.
 Inadmissível a oposição de embargos fundada na discrepância da fundamentação dos votos de decisões unânimes.
 Necessário que a decisão não unânime se refira a julgamento de RESE, agravo em execução ou apelação – descabe em HC e
Revisão Criminal.
Processamento
 Prazo de oposição – 10 dias.
 Petição, acompanhada das razões, será dirigida ao relator do acórdão embargado, que fará a verificação dos pressupostos de
admissibilidade e determinará o processamento.
 Não é necessário o recolhimento à prisão para opor embargos.
 Será definido novo relator e novo revisor, que não tenham tomado parte na decisão embargada.
 Para impugnação dos embargos: será dada vista dos autos ao querelante e ao assistente, se houver. Após, manifesta-se a
Procuradoria-Geral de Justiça.
 Os autos irão conclusos ao relator que apresentará relatório – passará ao revisor, seguindo-se o julgamento, no qual votarão o novo
relator e o novo revisor, bem como os demais integrantes da câmara (3, em regra) que haviam participado do julgamento anterior –
poderão manter ou modificar seus votos.
 Da nova decisão, ainda que não unânime, não cabem novos embargos infringentes.
Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de Justiça, câmaras ou turmas
criminais, de acordo com a competência estabelecida nas leis de organização judiciária. (Redação dada pela
Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao réu, admitem-se
embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação
de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de
divergência. (Incluído pela Lei nº 1.720-B, de 3.11.1952)

* Modelo de Embargos Infringentes ou de Nulidade

Fato: “V” encontra-se preso em virtude de sentença condenatória proferida pelo juiz de 1.º grau, por ter incorrido em conduta prevista no art.
213, caput, do Código Penal, pelo que sustentou uma condenação a pena de 6 anos de reclusão. Interposto o recurso de apelação, o Revisor
e o Relator negaram provimento ao apelo da defesa, mantendo a decisão recorrida, enquanto o terceiro Juiz, vencido em parte, deu
provimento parcial ao referido recurso, para anular desde o início o processo. Seu voto ancorou-se na ausência de poderes específicos para a
propositura da ação penal, esbarrando na necessária representação da vítima, demonstrada a hipótese contida no art. 225, caput, gerando a
ilegitimidade ad causam do Ministério Público.

Ao Desembargador Relator1do Acórdão n.º ____ da ____.ª Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Referente Apelação n.º

“V”, já devidamente qualificado nos autos, por seu procurador e advogado infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de
deste Tribunal de Justiça, opor EMBARGOS DE NULIDADE ao venerando acórdão, com fundamento no art. 609, parágrafo único, do Código
18
de Processo Penal, para tanto requerendo seja recebido e ordenado o processamento do presente recurso, frente as razões sustentadas em
apartado.

Termos em que,
Requer Deferimento.

Comarca, data.
_______________
Advogado
Em outra lauda
RAZÕES DO EMBARGANTE
Pelo embargante: “V”
Embargado: Ministério Público
Apelação n.____
Egrégio Tribunal

O Embargante obteve, em sentença proferida em 1.º grau, condenação por conduta prevista no art. 213 do Código Penal,
impingindo-lhe pena de seis anos de reclusão.
Inconformado com teor da decisão, houve por bem o ora embargante recorrer da mesma, negando os fatos de modo geral e,
especificamente, sua participação em qualquer tipo de conduta que gerasse à vítima o aviltamento de sua liberdade para prática de conjunção
carnal.
A decisão em 2.º grau, contudo, não foi unânime em confirmar a sentença proferida no juízo singular. Em verdade, foi confirmada a
sentença atacada em decisão de cunho majoritário, a sustentar a hipótese do presente recurso, ora interposto, em torno do voto vencido.
Sustenta, desta feita, os presentes embargos, o voto que com acerto identificou flagrante ilegitimidade ad causam, uma vez que a
vítima, em princípio, teria legitimado o Ministério Público à propositura da ação penal.
Ocorre que tal legitimação, conforme expressa previsão legal, dá-se através de representação, o que não houve no caso em tela. O
digno Promotor de Justiça oficiante tomou por termo as declarações da vítima sem a acuidade que seria de se esperar, lavrando documento de
conteúdo inconsistente, sem especificação autorizadora para a condução da competente ação.
Ainda que não se sustente excessivo rigorismo, as judiciosas considerações externadas no voto vencido merecem ser subscritas,
sob pena de se premiar flagrante nulidade, a macular de forma indelével a condenação suportada pelo Embargante.
Inequívoca a previsão do legislador, contida no art. 225 do Código Penal, expressando a necessidade de formalização da
autorização da vítima, por se tratar de ação pública condicionada, conduta a envolver obrigatoriamente a atuação da parte, que, em caráter
privado, titularizaria a ação penal.
Assim, de fato, padece de ilegitimidade ad causam o Ministério Público, de forma a ser insustentável a condenação reafirmada pelos
votos vencedores, pelo que deverá preponderar o teor do voto vencido, que acarretará no reconhecimento da nulidade, a fulminar a ação
processada.
Diante do exposto, postula-se se digne este Tribunal de Justiça receber o presente recurso, esperando sejam estes embargos de
nulidade, ao final, julgados de forma a restar reformado o venerando acórdão, para prevalecer o teor do voto vencido, como medida de
JUSTIÇA.
Comarca, data.
_______________
Advogado
Observação:
1- Deverá ser dirigido especificamente ao relator do acórdão.

5- REVISÃO CRIMINAL
 Instrumento processual exclusivo da defesa – rescindir sentença penal condenatória transitada em julgado.
 Considerada a ação rescisória do processo penal.
Natureza Jurídica
 Não é propriamente um recurso – ação penal de conhecimento de caráter desconstitutivo.
 É ação contra sentença – desencadeia nova relação jurídica processual.
Legitimidade
 Pode ser aforada pelo próprio acusado ou por procurador legalmente habilitado.
 Ainda, em caso de falecimento do acusado pode ser aforada pelo CADI.
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Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de
morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

 MP não é parte legítima – ausência de previsão legal.


 Inexiste ainda revisão criminal pro societate.
 Legitimado passivo – Estado, representado pelo MP.
Pressupostos e Oportunidade
 Legitimidade, interesse de agir, possibilidade jurídica do pedido.
 Pressupõe existência de sentença condenatória ou absolutória imprópria transitada em julgado.
 Será cabível qualquer que seja a infração (crime ou contravenção) ou o órgão jurisdicional responsável pela decisão.
 Para requerer a revisão criminal o condenado não é obrigado a recolher-se à prisão – Súmula 393, STF.
 Não tem prazo – pode ser ajuizada em qualquer tempo.
Art. 622. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou após.
Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas.

Hipóteses de Cabimento
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:
I- quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos;

 Contrária ao texto da lei: Quando a decisão mostrar-se inequivocamente em conflito com o direito penal ou processual. Ex.
sentença que condena o acusado por prática de conduta atípica ou com pena acima do limite máximo cominado.
 Não se admite a revisão criminal – aplicação de lei nova mais benéfica – lex mitior – questão deve ser apreciada na VEC.
 Contrária à evidência dos autos: erro evidente do juiz na apreciação da prova, ou seja, quando a sentença não se sustentar em
qualquer elemento de prova existente nos autos.
II- quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;

 Havendo prova de que elemento de convicção não qual se fundou a sentença é falso.
 Não basta que dos autos conste prova inautêntica ou testemunha mendaz – deve haver nexo de causalidade entre os elementos e a
decisão do juiz.
 O acusado deve ajuizar a revisão acompanhada da prova da falsidade, uma vez que não haverá apuração e dilação instrutória no
juízo revidendo.
 Pré-constituir prova testemunhal – o interessado poderá valer-se da justificação – ação penal cautelar preparatória – colhe-se
depoimentos junto ao juízo de primeiro grau.
III- quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição especial da pena.

 A prova de inocência ou de circunstância favorável ao acusado deve ser pré-constituída – não se refere à reapreciação de provas já
existentes – após a sentença se verifica a existência de provas ainda não anexadas aos autos.
Competência
 Os tribunais são competentes para o julgamento da revisão criminal relativa a processos julgados em definitivo pelo juízo de primeira
instância.
 A competência é a mesma dos recursos em geral.
 Com relação aos processos cuja decisão tenha sido proferida por tribunal – julgamento da revisão competirá ainda ao próprio
tribunal.
 O fato de ter havido recursos extraordinário e especial não transfere a competência para o julgamento da revisão criminal a esses
tribunais.
Processamento
1- O interessado fará um requerimento ao Presidente do tribunal competente.
2- Será o pedido distribuído a um relator que não tenha proferido decisão em qualquer fase do processo.
Art. 625. O requerimento será distribuído a um relator e a um revisor, devendo funcionar como relator um
desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer fase do processo.

20
3- O relator poderá indeferir liminarmente o pedido, se o julgar insuficientemente instruído e entender conveniente para o interesse do
Judiciário o apensamento aos autos principais, cabendo recurso nos termos do que preceituar o regimento interno.
§1º O requerimento será instruído com a certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória e com
as peças necessárias à comprovação dos fatos argüidos.
§2º O relator poderá determinar que se apensem os autos originais, se daí não advier dificuldade à execução
normal da sentença.
§3º Se o relator julgar insuficientemente instruído o pedido e inconveniente ao interesse da justiça que se
apensem os autos originais, indeferi-lo-á in limine, dando recurso para as câmaras reunidas ou para o tribunal,
conforme o caso (art. 624, parágrafo único).

4- Não havendo indeferimento liminar, os autos irão ao órgão de segunda instância do MP, que ofertará parecer em 10 dias.
§4º Interposto o recurso por petição e independentemente de termo, o relator apresentará o processo em mesa
para o julgamento e o relatará, sem tomar parte na discussão.
§5º Se o requerimento não for indeferido in limine, abrir-se-á vista dos autos ao procurador-geral, que dará
parecer no prazo de dez dias. Em seguida, examinados os autos, sucessivamente, em igual prazo, pelo relator
e revisor, julgar-se-á o pedido na sessão que o presidente designar.

5- Em seguida, os autos retornarão ao relator, que apresentará relatório em 10 dias – após irão os autos ao revisor com prazo idêntico
para análise – por fim será designada data para o julgamento.
6- Será tomada a decisão pelo órgão competente.
Efeitos
 Se julgada procedente – acarretará a alteração da classificação da infração, absolvição do acusado, modificação da pena (redução)
ou anulação do processo.
Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu,
modificar a pena ou anular o processo.
Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista.

 Caso o interessado requeira, o tribunal poderá reconhecer direito a uma indenização pelos prejuízos sofridos.
 A indenização será liquidada no juízo cível – incumbirá à União se a sentença foi prolatada pela Justiça Federal e aos Estados se
prolatada pela Justiça Estadual.
 A indenização não será devida se:
a) O erro da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio acusado – confissão ou ocultação de prova em seu poder;
b) Se a ação penal tiver sido privada.
 Se julgada improcedente – só poderá ser repetida se fundada em novos motivos.
 Revisão Criminal de sentença proferida pelo Tribunal do Júri – não é inconstitucional – não ofende a soberania dos veredictos – tal
princípio, estabelecido em garantia da liberdade do acusado não lhe poderia restringir o direito de defesa – tribunal exerce juízo
rescisório – pode alterar decisão anterior dos jurados.
 Entendo, no entanto, que se julgada procedente a revisão criminal – acusado deve ser submetido a novo julgamento pelo Tribunal do
Júri.

* Modelo de Revisão Criminal – Decisão condenatória contrária à evidência dos autos


AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE _______.

“G”, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular da carteira de identidade Registro Geral n.º __, inscrito no Cadastro de Pessoas
Físicas sob o n.º ___, domiciliado em (cidade), atualmente detido juntamente ao _____, por seu procurador e advogado infra-assinado,
consoante poderes que lhe foram outorgados em incluso instrumento particular de mandato (documento 1), vem, respeitosamente, à presença
deste Tribunal de Justiça propor a presente ação de REVISÃO CRIMINAL com fundamento no art. 621, I, do Código de Processo Penal, pelas
razões a seguir expostas:

1. O Requerente foi processado perante o respeitável Juízo da ___ Vara Criminal de ___ (autos do processo n.º ____), como incurso
no art. 157, § 2.º, I, do Código Penal, ou seja, roubo com ameaça realizada com arma, como comprovam as inclusas cópias reprográficas, que
ficam fazendo parte integrante da presente (documento 2).

21
2. Foi o mesmo “reconhecido” pela vítima em sede de inquérito e, não obstante suas insistentes negativas sobre a autoria dos fatos
que lhe foram imputados, o Requerente recebeu, em razão disso, sentença condenatória, já transitada em julgado, encontrando-se,
presentemente, detido junto ao _____.
3. Contudo, a análise das provas, no processo que acarretou a sentença de condenação do requerente, merece revisão, uma vez
que evidencia a sua inocência ou, ao menos, gera dúvida razoável para a sua absolvição.
4. Apesar do referido reconhecimento, a vítima, única a prestar esclarecimentos sobre os fatos, não foi ouvida na instrução criminal,
eis que não localizada.
5. Além disso, a arma que teria sido utilizada pelo requerente para ameaçar a vítima não estava em seu poder, nem ao menos foi
encontrada.
6. A versão do requerente de que estaria conduzindo o veículo da vítima a pedido de um amigo, embora não tenha restado
evidenciada, não pode de todo ser refutada, uma vez que não se comprovou, por outro lado, qualquer subtração dos pertences do ofendido.
7. Não se questione, portanto, tratar-se de sentença sustentada em provas inexistentes e em circunstâncias que, por certo, não
autorizam a condenação.
8. Isso porque o decreto condenatório, de extremado rigor, se deu em torno de prova insuficiente, o que vale dizer ser a condenação
nitidamente contrária à evidência dos autos, razão da pertinência da presente revisão criminal.
9. Divorciaram-se o MM. Juiz prolator da sentença e o E. Tribunal, que recebeu o apelo, do princípio processual basilar do nosso
sistema jurídico-penal: in dubio pro reo.
10. Assim, nova análise dos fatos é medida que se impõe, de forma a ter o requerente sua condenação reconhecida como indevida,
reformando-se, desta feita, por completo a sentença proferida, não obstante já estar transitada em julgado.
11. A presente revisão criminal é meio hábil à pretensão do Requerente, considerando existir evidente decisão contrária às provas
produzidas na instrução criminal, pelo que a condenação é insustentável.
12. Doutrina...1
13. Jurisprudência...2
Pelo exposto, requer-se o recebimento da presente ação, seu processamento e, ao final, o reconhecimento de sua total procedência
para o fim de, desconstituída a sentença condenatória, restar o requerente absolvido da conduta que lhe foi imputada, nos termos dos arts. 626
e 386, V, ambos do Código de Processo Penal.
Termos em que, ouvido o ilustre representante do Ministério Público,3
Requer deferimento.

Comarca, data.
____________
Advogado

Observações:
1- Se cabível, mencionar doutrina pertinente ao assunto.
2- Se possível, citar jurisprudência cabível.
3- O Ministério Público funciona, na revisão criminal, como fiscal da lei, oferecendo parecer pela procedência ou improcedência. Alguns autores
o situam como polo passivo da demanda, com o que não podemos concordar, pois sua função não é defender a decisão condenatória, nem
contestar o pedido, mas apenas opinar em qualquer sentido.

6- CARTA TESTEMUNHÁVEL
 Instrumento para que a instância superior conheça e examine recurso interposto contra determinada decisão.
Art. 639. Dar-se-á carta testemunhável:
I- da decisão que denegar o recurso;
II- da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem.
Natureza Jurídica
 Recurso – provoca reexame de uma decisão a pedido da parte que sofreu gravame por não ter sido recebido recurso por ela
interposto ou por não ter dado seguimento a ele.
 Minoritário o entendimento de que não seria recurso – apenas instrumento para o conhecimento de outro recurso.
Hipóteses de Cabimento
 Decisão que não receber o recurso na fase do juízo de admissibilidade;
 Admitindo o recurso, obstar à sua expedição e seguimento ao juízo ad quem.
 Residual – cabível somente quando não interponível outro recurso – ex. denegação da apelação (RESE) e denegação dos Recursos
Extraordinário e Especial (Agravo Regimental).
22
Processamento
 Prazo interposição – 48 horas.
 Petição dirigida ao escrivão – a parte deve indicar as peças que serão extraídas dos autos para formação da carta.
 O escrivão fornecerá recibo ao recorrente – recusa poderá implicar em suspensão por 30 dias.
 Extraída e autuada a carta seguirá em 1º grau o procedimento do RESE – abre-se conclusão ao juiz para exercer, se entender que
for o caso, o juízo de retratação (efeito regressivo).
 No juízo ad quem – carta segue o procedimento do recurso denegado.
 Além das peças obrigatórias (decisão contra a qual foi interposta a carta, petição do Recorrente e resposta do juiz com a certidão de
tempestividade) deverá o recorrente instruir o recurso suficientemente, para que o Tribunal, entendendo conveniente, aprecie
diretamente o mérito do recurso que se pretende ver subir – princípio da economia processual.
 Recorrente – testemunhante e Recorrido – testemunhado.
Efeitos
 Não tem efeito suspensivo.
 Se provido o pedido da carta – tribunal recebe o recurso denegado e determina o seu seguimento – se devidamente instruído poderá
julgar o mérito do recurso denegado.

* Modelo de Carta Testemunhável

Fato: O réu foi pronunciado pela prática de homicídio simples. Intimado da sentença, o defensor não oferece recurso em sentido estrito.
Posteriormente, intimado pessoalmente o réu, este apresenta recurso. Por conta disso, o defensor apresenta as razões do recurso, mas o
magistrado rejeita o recurso em sentido estrito apresentado pelo acusado, sob a alegação de que a defesa técnica, prevalente sobre a
autodefesa, deixara escoar o prazo sem recorrer. Cabe carta testemunhável.

Ilustríssimo Senhor Escrivão 1 da ____ Vara Criminal da Comarca ____.2

Autos do Processo nº.

“Q”, qualificado a fls. ___, nos autos do processo-crime que lhe move o Ministério Público,3 por seu advogado, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Senhoria, inconformado com a decisão de fls. ____, que não admitiu o processamento de recurso em sentido estrito,
interpor a presente CARTA TESTEMUNHÁVEL, com fundamento no art. 639, I, do Código de Processo Penal, para que seja devidamente
recebida, processada 4 e encaminhada ao Egrégio Tribunal de Justiça. Desde logo, apresenta as anexas razões e a lista das peças indicadas
para a formação do traslado: ____.5
Comarca, data.
_______________
Defensor

Em outra lauda:

RAZÕES DA CARTA TESTEMUNHÁVEL

____.ª Vara do Júri da Comarca da ____.


Autos do Processo nº. ____
Pelo testemunhante: “Q”
Testemunhado: Ministério Público
Egrégio Tribunal 6

O réu “Q” foi pronunciado, como incurso no art. 121, caput, do Código Penal, com direito de aguardar o julgamento pelo Tribunal do
Júri em liberdade. O defensor constituído, tomando ciência da decisão de pronúncia em cartório, deixou de interpor recurso em sentido estrito,
por achar conveniente a pronta realização do julgamento pelo Tribunal do Júri e, conseqüentemente, a análise definitiva acerca do mérito.
23
Entretanto, o MM. Juiz determinou a expedição de mandado para que o acusado fosse cientificado da sentença pessoalmente. No
ato da intimação, o testemunhante assinou termo de recurso, por entender que seria conveniente a revisão do julgado pelo Tribunal de Justiça.
Em face disso, possuindo o réu legitimidade para recorrer das decisões que não lhe forem favoráveis, o defensor apresentou as
razões, mas o ilustre magistrado indeferiu o processamento, sob o argumento de que havia decorrido o prazo, levando em consideração,
apenas, a intimação da defesa técnica.
Com essa decisão não se pode aquiescer. É preciso ressaltar que, em homenagem ao princípio constitucional da ampla defesa,
pode o réu exercê-la diretamente (autodefesa) e por meio do seu defensor. Aliás, justamente por tal motivo o MM. Juiz determinou que ambos
fossem intimados da pronúncia. Não é cabível, portanto, o indeferimento do recurso apresentado pelo acusado, até por que a defesa técnica
com ele concordou e apresentou as devidas razões.
Não há divergência entre autodefesa e defesa técnica, devendo haver o processamento do recurso em sentido estrito desta feita.
Ressalte-se que, havendo dupla intimação, o prazo somente se esgotaria se ambos tivessem permitido o trânsito em julgado da decisão.
Ante o exposto, aguarda o testemunhante seja dado provimento ao presente recurso, determinando-se o processamento do recurso
em sentido estrito, possibilitando a nova análise da sentença de pronúncia, pois assim fazendo estará esse Egrégio Tribunal realizando a tão
aguardada JUSTIÇA.
Comarca, data.
_______________
Defensor
Observações:
1- Conforme a organização de carreira do funcionalismo público, em lugar do escrivão, pode-se ter outra nomenclatura.
2- A interposição desse recurso se dirige sempre ao escrivão do cartório relativo à Vara do juiz que denegou seguimento ao recurso
anterior. Se o recurso for denegado em 2.º grau, a carta testemunhável será apresentada ao Secretário do Tribunal.
3- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
4- Após a formação do instrumento, apresentadas as razões pela parte testemunhante, bem como as contrarrazões pela parte testemunhada,
o escrivão encaminha os autos ao juiz, que poderá voltar atrás na sua decisão, determinando o processamento do recurso (juízo de
retratação).
5- A parte testemunhante deve indicar as peças pertinentes, entre as quais não podem faltar as certidões de intimação do defensor e do réu
acerca da sentença de pronúncia, objeto do recurso em sentido estrito que não foi admitido, bem como a decisão de rejeição.
6- Há quem prefira, por questão de estilo, incluir também a Câmara e a Procuradoria de Justiça (ex.: Colenda Câmara; Douta Procuradoria de
Justiça).

7- CORREIÇÃO PARCIAL
 Instrumento de impugnação de decisões que importem em inversão tumultuária de atos do processo – quando não há recurso
específico.
Natureza Jurídica
 Para alguns: providência administrativo-disciplinar destinada a provocar a tomada de medidas de censura contra o juiz, que
secundariamente provoca efeitos no processo.
 Para outros: tem natureza de recurso por ter como fim a reforma pelos tribunais de decisão que tenha provocado tumulto processual.
Legitimidade
 Acusado, MP ou o querelante e o assistente de acusação.
Hipóteses de Cabimento
 Impugnar erro ou abuso quanto a atos e fórmulas do processo que importem em tumulto.
 Cabível apenas quando se tratar de erro no procedimento (error in procedendo) – incabível quando a decisão se mostra equivocada
sobre matéria de mérito (error in judicando).
 Necessária inexistência de recurso específico.
 Exemplos:
a) quando o juiz não remeter os autos do IP à polícia para realização de diligências requeridas pelo MP;
b) quando o juiz, apesar de promoção para o arquivamento do IP, determinar o retorno dos autos à polícia para prosseguimento das
investigações.
Processamento
 Para alguns segue o procedimento do agravo de instrumento – 10 dias – tese preponderante atualmente.
 Para outros segue o procedimento do RESE – 5 dias.
 A correição parcial está prevista na Lei n.º 5.010/66 que organizou a Justiça Federal e na Lei n.º 1.533/51 que trata do MS.
24
 O julgamento é feito pelo Tribunal responsável por julgar os demais recursos.
 A petição será endereçada ao tribunal competente e conterá a exposição do fato e do direito de reforma.
 Será instruída, necessariamente, com cópia da decisão impugnada, de certidão de intimação do recorrente, a fim de comprovar a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados.
 O relator, a pedido do interessado, poderá conferir efeito suspensivo à correição; requisitar informações ao juiz e determinar
intimação da parte adversa - a resposta deverá ser apresentada diretamente ao tribunal.
 Após a correição vai a julgamento, desde que não tenha havido reforma da decisão pelo juiz, hipótese em que restará prejudicado.
 Se julgada procedente a correição – autos poderão ser encaminhados ao Conselho Superior de Magistratura para aplicação de
penalidade ao juiz.

* Modelo de Correição Parcial – Petição de Interposição e Razões

Fato: O juiz, em nome da celeridade processual, na audiência de instrução e julgamento, passou a inquirir as testemunhas de defesa, que
estavam presentes, antes de findar a colheita dos depoimentos das testemunhas de acusação, pois algumas delas deixaram de comparecer.
Findo o ato, designou audiência para colher os depoimentos das testemunhas de acusação faltantes, já tendo esgotado o rol da defesa, contra
a vontade do advogado. Houve inversão tumultuária do andamento processual.

AO JUÍZO DA ____.ª VARA CRIMINAL DA COMARCA ____.


Autos do Processo n. ___________

“F”, qualificado a fls. ____, por seu advogado, nos autos do processo-crime que lhe move o Ministério Público,1 inconformado com a
designação de audiência em continuidade para a inquirição das testemunhas de acusação faltantes, finda a colheita da prova da defesa, vem,
respeitosamente, à presença deste Juízo interpor a presente CORREIÇÃO PARCIAL, com as anexas razões, requerendo, desde logo, seja
revista2 a decisão proferida, com o fim de ser refeita a prova testemunhal, nos termos e na ordem estabelecida em lei.

Termos em que,
Requer deferimento.

Comarca, data.
_______________
Advogado

Em outra lauda

RAZÕES DA CORREIÇÃO PARCIAL

Autos do Processo n.____


Recorrente: “F”
Recorrido: Ministério Público
Egrégio Tribunal3

1. O MM. Juiz, invocando a celeridade processual, determinou a realização de audiência de colheita da prova testemunhal da acusação, ainda
faltante, já tendo ouvido as testemunhas de defesa, invertendo, portanto, o procedimento previsto no art. 400, caput do Código de Processo
Penal.
2. O procedimento ordinário prevê a colheita da prova testemunhal apresentada pela acusação antes das testemunhas arroladas pela defesa.
Tal situação deve-se à oportunidade de conhecimento pleno do conteúdo da imputação feita e das provas oferecidas pelo órgão acusatório, a
fim de permitir que a ampla defesa se realize efetivamente, propiciando ao réu a produção de contraprova.
3. Argumentou o ilustre magistrado com o princípio processual da economia processual, sustentando que algumas testemunhas de acusação,
não localizadas, não podem deter o andamento da instrução, muito embora o Ministério Público tenha insistido na sua busca e intimação. É

25
bem verdade que a celeridade do processo é um objetivo a ser alcançado não somente pelo Poder Judiciário, mas por todos os envolvidos no
processo, o que não significa abrir mão dos direitos e garantias fundamentais primordiais, como ocorre com a ampla defesa.
4. O réu não pode ser prejudicado, na sua linha defensiva, sob o pretexto de se assegurar uma justiça célere, invertendo o procedimento,
autêntica garantia para as partes de que o condutor do processo promoverá atos processuais previsíveis, logo, sem gerar surpresa e prejuízo.
5. Nesse sentido, pode-se citar a posição de ____.4
6. A correição parcial é o recurso cabível para rever atos judiciais que tumultuem o correto andamento da instrução, conforme o rito legalmente
previsto, voltando-se, pois, ao error in procedendo. 5
Ante o exposto, aguarda o Recorrente que esse Egrégio Tribunal dê provimento ao recurso para o fim de determinar que a colheita da prova
testemunhal seja refeita, ouvindo-se todo o rol da acusação, antes de se iniciar a oitiva das testemunhas de defesa.

Comarca, data.
_______________
Advogado

Observações:
1- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.
2- A correição parcial segue o procedimento previsto para o recurso em sentido estrito, existindo, pois, juízo de retratação.
3- Há quem dirija as razões do recurso, igualmente, à Câmara e à Procuradoria de Justiça. Trata-se de uma questão de estilo.
4- Citar a doutrina cabível. Se possível, mencionar jurisprudência aplicável ao caso.
5- Error in procedendo significa “erro no procedimento”, ou seja, o juiz se enganou quanto à movimentação do processo.

8- EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
 São dirigidos ao órgão prolator da decisão quando houver: ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.
Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos
embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença
ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

 Cabível também nas decisões de 1º grau – serão dirigidos ao juiz – “Embarguinhos”.


Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre
que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão.

 Nas decisões de órgãos colegiados – dirigidos ao Relator do acórdão.


Natureza Jurídica
 Parte da doutrina – têm natureza recursal – nada mais são do que meio voluntário de pedir reparação de um gravame decorrente da
ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão da decisão.
 Outros entendem que não possuem caráter infringente (não ensejam a modificação substancial da decisão), apenas se destinam a
esclarecimentos ou pequenas correções e, portanto, não constituem recurso.
 Algumas vezes possuem caráter modificativo – hipótese do juiz omitir-se em apreciar preliminar de nulidade arguida pela parte.
Hipóteses de Cabimento
 Obscuridade – falta de clareza que impeça o entendimento;

 Ambiguidade – permite duas ou mais interpretações;

 Contradição – quando diz uma coisa, mas depois diz outra em sentido contrário – sentença suicida;

 Omissão – quando esquece de tratar de tópico indispensável – ex. regime inicial de cumprimento de pena, possibilidade de
conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.

Legitimidade
 Acusado, MP ou o querelante e o assistente de acusação. É possível que a parte vencedora se utilize dos embargos.
Processamento
 Serão opostos no prazo de 02 dias – contados da data da intimação – requerimento deve indicar, fundamentadamente, os pontos em
que a decisão necessita de complemento ou esclarecimento.
 Endereçado ao próprio juiz ou ao relator.
26
 Se intempestivos ou não preenchidos os requisitos legais – serão indeferidos de plano pelo juiz ou relator.
 Se recebidos – o relator os submeterá à apreciação do órgão que proferiu a decisão – inaudita altera pars – também será assim nas
decisões de 1º grau.
 Se providos – Tribunal corrigirá ou complementará a decisão embargada.
Efeitos
 Opostos os embargos não continuam correndo os prazos para a interposição dos outros recursos.
 Analogia – art. 1.026, CPP – interrupção do prazo – a oposição por qualquer das partes interrompe o prazo também para o
adversário.
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a
interposição de recurso.

 Embargos no Procedimento Sumaríssimo – suspende o prazo para os demais recursos – art. 83, §2º, Lei n.º 9.099/95.
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
omissão ou dúvida.
§1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da
ciência da decisão.
§2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso.
§3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

 Se forem considerados protelatórios – não interrompem o prazo para o outro recurso.

* Modelo de Embargos de Declaração

- De Sentença

Ao Juízo da ____.ª Vara Criminal Federal da Subseção Judiciária ____.


Autos do Processo n. ____

“B”, qualificado a fls. ____, nos autos do processo-crime que lhe move o Ministério Público,1 inconformado com a respeitável
sentença condenatória de fls.____, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença deste juízo interpor os presentes EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, com fundamento no art. 382 do Código de Processo Penal, pelos seguintes motivos:

1. O réu foi condenado à pena de dois anos de reclusão pela prática de sonegação de contribuição previdenciária, em regime aberto, e o douto
julgador não fez qualquer menção, na decisão, a respeito da viabilidade de concessão de penas alternativas ou, pelo menos, da suspensão
condicional da pena.
2. Segundo o disposto no art. 59, IV, do Código Penal, após a fixação do montante e do regime, deve o juiz pronunciar-se acerca da
substituição da pena privativa de liberdade aplicada por outra espécie de pena. Se tal não se der, é fundamental que o magistrado,
expressamente, manifeste-se a respeito da possibilidade de aplicação da suspensão condicional da pena (art. 77, III, CP).
3. No caso presente, o MM. Juiz, ao fixar a pena no mínimo legal, bem como optar pelo regime aberto, deixou de se pronunciar com relação
aos benefícios supra descritos, caracterizando hipótese de omissão, tal como descrito no referido art. 382 do CPP.
4. Portanto, antes de ingressar com eventual recurso de apelação, é imperioso obter provimento jurisdicional disciplinando a concessão ou não
dos benefícios penais aventados.
Ante o exposto, requer o embargante se digne este juízo estabelecer, expressamente, se o réu tem direito à substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos ou, ao menos, à suspensão condicional da pena.

Termos em que,
Requer deferimento.
Comarca, data.
_______________
Advogado
Observação:
27
1- Embora constitua praxe forense a utilização da expressão “Justiça Pública”, em verdade, ela inexiste. Quem promove a ação penal é o
Ministério Público. Quem aplica a lei ao caso concreto, realizando justiça é o Poder Judiciário. Logo, não há “Justiça Pública”, como sinônimo
de órgão acusatório.

- De Acórdão:

Fato: G” foi processado e condenado em razão de ter incorrido em conduta prevista no art. 311 do Código Penal. Recorreu da sentença
proferida em 1.º grau negando a autoria da conduta, pelo que sustentava a absolvição e, em razão subsidiária, atacando o aspecto de ter sido
considerada causa de aumento de pena o fato de ser o mesmo funcionário público, embora não investido no cargo. Em segundo grau foi dado
provimento unânime ao recurso no que se relaciona ao afastamento da causa de aumento de pena, uma vez que “G”, embora aprovado em
concurso público, não tinha de seu respectivo cargo tomado posse, bem como não teria usado da prerrogativa de ser, em potencial, detentor
da função pública. Contudo, o montante da pena de 4 anos de reclusão foi mantido, gerando a contradição sustentada.

AO DESEMBARGADOR RELATOR1 DO ACÓRDÃO N.____ DA ____.ª CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO.

“G”, já qualificado nos autos, por seu procurador e advogado infra-assinado, nos autos do recurso de ____ interposto, vem,
respeitosamente, à presença deste juízo opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ao acórdão, com fundamento nos arts. 619 e 620 e parágrafos
do Código de Processo Penal, por razões a seguir aduzidas:2

1. O Embargante foi condenado em 1.º grau a 3 anos de reclusão, em razão de infração do art. 311 do Código Penal, aumentada de um terço,
uma vez que foi reconhecida a causa de aumento da pena prevista no §1.º do referido artigo, alcançando o montante total de 4 anos de
reclusão.
2. Inconformado frente ao decisório proferido, interpôs o Embargante o competente recurso de apelação, negando a autoria dos fatos e,
subsidiariamente, atacando o reconhecimento da causa de aumento, eis que, não obstante ter sido aprovado em concurso público, não fora
ainda para o cargo nomeado, razão pela qual não poderia, se autor da conduta, fazer uso dessa prerrogativa, merecendo o agravamento.
3. Houve por bem esse ínclito julgador reconhecer o afastamento da causa de aumento, no que foi acompanhado pelos demais magistrados,
embora tenham mantido a condenação do embargante, confirmando a autoria dos fatos.
4. Contudo, afastada a causa de aumento, ensejadora de acréscimo do montante da pena, a mesma foi mantida conforme proferida em juízo
de 1.º grau, ou seja, fixada no total de 4 anos de reclusão.
5. Desta feita, inequívoca a contradição do acórdão proferido, a autorizar a oposição dos presentes embargos, buscando ver sanada a
incoerência entre o afastamento da causa de aumento, sem que se visse alterada a pena fixada.
6. Há, portanto, justificável incompreensão quanto à conclusão do decisório, que se contradiz consigo próprio, merecendo o reparo ora
pretendido.
Ante o exposto, requer sejam recebidos os presentes embargos e, ao final, julgados, para ser declarado o acórdão embargado corrigindo-se a
contradição apontada, como medida de inteiro cumprimento da lei.

Termos em que,
Requer Deferimento.

Comarca, data.
_______________
Advogada

Observação:
1- Deverá ser dirigido ao especificamente ao relator do acórdão cujo teor necessita ser esclarecido quanto à obscuridade, contradição ou
omissão.
2- O recurso deverá ser interposto em peça única, onde se sustentarão as razões da interposição.

28
9- AGRAVO EM EXECUÇÃO
 Recurso utilizado para impugnar toda decisão proferida pelo juiz da execução criminal, que prejudique direito das partes principais
envolvidas no processo.
Previsão Legal
 Art. 197 da LEP – Lei n.º 7.210/84
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.
Procedimento
 Mesmo procedimento do RESE – a LEP não estabeleceu o procedimento para o agravo em execução.
 Para alguns deveria ser o agravo de instrumento previsto no CPC.
 Mas, o art. 2º da LEP reforça o entendimento de que deve ser utilizado o procedimento do RESE:
Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será
exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal.

 Prazo para interposição – 05 dias – Súmula 700, STF.


Legitimidade
 Admite-se que o sentenciado o faça diretamente, por termo nos autos – o juiz deverá determinar abertura de vista ao advogado para
razões – princípio da ampla defesa.
 A legitimidade estende-se ao defensor e ao MP.
 Ainda, será legítimo o CADI – art. 195, LEP – sempre em favor do sentenciado.
Efeitos
 Efeito devolutivo – inexiste o efeito suspensivo, salvo quando um juiz expedir uma ordem para desinternar ou liberar o indivíduo
sujeito a MS (art. 179, LEP).

Modelo de Agravo em Execução

AO JUÍZO DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DA COMARCA DE BELHORIZONTE/MG

Autos do Processo número:

LEANDRO SOARES, já qualificado nos autos do processo de execução, vem, respeitosamente perante este juízo, por seu advogado
constituído que esta subscreve, inconformado com a decisão que negou o pedido de progressão de regime interpor tempestivamente o
presente AGRAVO EM EXECUÇÃO, com fundamento no artigo 197 da Lei de Execuções Penais.
Requer a realização do juízo de retratação e, em sendo mantida a decisão atacada, seja o presente recurso encaminhado a superior
instância para o devido processamento e julgamento.

Termos em que,
Requer deferimento.

Comarca, data
Advogado, OAB.

Razões do Agravo em Execução


Recorrente: Leandro Soares
Recorrido:

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado Minas Gerais


Colenda Câmara
Nobres Julgadores

29
1) DOS FATOS

O Recorrente cumpriu 2 anos da pena em regime inicialmente fechado referente a condenação pela prática de homicídio qualificado
pelo emprego de veneno. Sua pena foi fixada em 12 anos de reclusão.
Após ter o Recorrente cumprido os 2 anos de pena verificou-se também atestado de boa conduta carcerária.
Assim, o cumprimento de dois anos regime fechado que equivale a 1/6 da pena a defesa do Recorrente pleiteou pela progressão de
regime que foi indeferida pelo juiz de execução penal.
A respeitável decisão proferida merece ser reformada pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos.

2) DO DIREITO

Pela simples exposição dos fatos narrados verifica-se o equívoco do juízo da Vara de Execuções Penais, tendo em vista que o crime
foi praticado em 10 de setembro de 2006 e conforme súmula 491 do Superior Tribunal de Justiça os crimes hediondos ou assemelhados
cometidos antes da vigência da lei 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da Lei de Execução Penal.
O artigo 112 da Lei de Execução Penal dispõe que a pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para regime menos rigoroso se já foi cumprido 1/6 da pena e o agente ostenta bom comportamento.
Ademais, deve-se considerar o princípio da individualização da pena. O fato de o crime estar caracterizado como hediondo não
poderá determinar se o Recorrente preenche os requisitos objetivos e subjetivos do benefício.
Verifica-se que foi atestado a boa conduta carcerária do Recorrente o que deixa cabalmente comprovado que a pena privativa de
liberdade pode ser executada de forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso.
É necessário analisar as particularidades do fato e as condições pessoais do agente seja na elaboração da lei, aplicação e execução
da pena. Por tais motivos deve ser garantindo ao recorrente a progressão de regime.

3) DOS PEDIDOS.

Diante o exposto, pede-se o conhecimento e provimento do presente recurso, bem como a determinação de transferência para
regime menos gravoso, conforme dispõe a súmula 491 do Supremo Tribunal de Justiça e artigo 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de
1984.

Termos em que,
Requer deferimento.

Comarca, data
Advogado, OAB.

10- Mandado de Segurança no Processo Penal


 MS – ação constitucional de natureza civil – pode ser utilizado, em determinadas hipóteses, contra ato jurisdicional penal.
 Como o HC – procedimento célere – art. 5º, LXIX, CR/88:
Art. 5º, CR/88
(...)
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-
corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

 A Lei n.º 12.016/2009 disciplina hipóteses de cabimento e o procedimento.


 O objeto do MS é definido por exclusão – impetração só é cabível quando o direito não for amparado por HC ou Habeas Data.
 Será utilizado quando não se destinar a proteger direito de locomoção (tutelado por HC) ou assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa, constantes de registros ou banco de entidades governamentais ou de caráter público, bem como a
retificação desses dados (tutelados por Habeas data).
 Necessário que o direito seja líquido e certo – apurável sem a necessidade de dilação probatória – conceito tipicamente processual
– somente com prova documental, pois esta é adequada a uma demonstração imediata e segura dos fatos.
 Violação do direito pode ocorrer por ilegalidade (gênero) ou abuso de poder (espécie).

30
 Caso a decisão que se pretenda impugnar possa ser revista por outro tipo de recurso – apto a evitar a lesão ao direito da parte – não
será cabível MS.
 Há casos – mesmo com recurso cabível – possível MS – quando não há efeito suspensivo – pode ser utilizado para tentar o efeito
suspensivo.
 Vedada a utilização do MS para decisões já transitadas em julgado – art. 5º, III, Lei n.º 12.016/2009.
Legitimidade Ativa
 Titular do direito líquido e certo violado ou ameaçado.
 Há necessidade de advogado habilitado.
 MP é parte legítima.
Legitimidade Passiva
 Somente autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (art. 1º, Lei n.º 12.016/2009).
 Hipótese de MS contra ato jurisdicional – coator é o juízo.
 A parte beneficiada com o ato jurisdicional atacado por via do MS deve compor, necessariamente, o polo passivo – litisconsórcio
necessário – Súmula 701, STF – Ex. MS impetrado pelo MP – é obrigatória a citação do acusado como litisconsorte passivo.
Competência
 É definida de acordo com a categoria da autoridade coatora, bem como em razão de sua sede funcional.
 MS contra decisão judicial – TJ irá julgar.
 Julgamento de MS de ato jurisdicional do Juizado Especial Criminal – é da Turma Recursal – Súmula 376, STJ.
Prazo
 Prazo para a impetração – 120 dias contados da cientificação acerca do teor do ato a ser impugnado – art. 23, Lei n.º 12.016/2009 –
exclui-se o dia inicial – tem natureza decadencial – insuscetível de interrupção ou suspensão.
Procedimento
 Pode ser por telegrama, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada – em caso de urgência.
 Ao receber a petição – juiz ou tribunal, se não indeferir liminarmente (art. 10 da Lei n.º 12.016/2009) – notificará o coator para em 10
dias prestar informações – pode ainda haver a suspensão dos efeitos do ato quando houver fundado receio de que a demora possa
resultar a ineficácia da medida (art. 7º da Lei n.º 12.016/2009).
 Idêntico prazo será conferido ao litisconsorte necessário que deverá ser citado.
 Findo o prazo para o envio de informações – oitiva do MP – prazo de 10 dias (art. 12 da Lei n.º 12.016/2009).
 O juiz decidirá em 30 dias.
 O procedimento do MS não admite dilação probatória – prova deve ser pré-constituída.

Modelo de Mandado de segurança para impedir a soltura do réu


AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ______.1

O Ministério Público, no desempenho de suas atribuições, neste ato representado por “D”, promotor de justiça, em atividade junto à
___ Promotoria, vem, respeitosamente, à presença deste Tribunal impetrar MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido liminar, contra ato
considerado ilegal e abusivo, proferido pelo MM. Juiz de Direito Doutor ____ (nome da autoridade), em exercício na Vara de Inquéritos
Policiais, 2 com fundamento no art. 5.°, X e LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em combinação com o art. 1.º da
Lei 12.016/09, pelos motivos a seguir aduzidos:

1. Em flagrante realizado na data de ___, foi efetuada a prisão de “R”, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), titular da carteira de
identidade Registro Geral n.° ___, como incurso no art. 33 da Lei 11.343/2006 (tráfico ilícito de drogas).

2. Diante disso, “R” foi indiciado e encontra-se recolhido na ___ Delegacia de Polícia de São Paulo.

3. Houve por bem a defesa de “R” sustentar um pedido de liberdade provisória, em razão de ainda não existirem indícios concretos do delito,
uma vez que teria sido o
flagrante preparado.

4. Ponderou, também, ser “R” uma pessoa de boa índole, sem qualquer envolvimento em outras questões criminais que deixasse evidente sua
participação, de forma que,
acrescido ao fato de ser portador de enfermidade sugestiva de acompanhamento médico rigoroso, mereceria a concessão de liberdade,
mediante compromisso de não se afastar do local das investigações, estando à disposição das autoridades para os esclarecimentos que se
fizessem necessários.

5. Obteve êxito o pleito da defesa e, em medida divorciada da realidade, houve por bem o nobre magistrado, ora apontado como autoridade
coatora conceder a liberdade provisória, determinando a expedição do alvará de soltura.

6. Laborou com lamentável equívoco o MM. Juiz, uma vez que não atentou para a inviabilidade de concessão de liberdade provisória, quando
presentes os requisitos da prisão preventiva (art. 312, CPP).
31
7. Desse modo, a concessão da liberdade provisória foi abusiva, não considerando, inclusive, que “R” foi preso em real estado de flagrante,
não correspondendo à realidade dos fatos a alegação de que o flagrante teria sido preparado, sendo, portanto, ilegal.

8. Além disso, agrava a situação de “R” o fato de existirem outros inquéritos já instaurados, apontando-o como envolvido em diversas condutas
criminosas, que não a originária do flagrante, a sugerir inegável inadequação de liberdade provisória, pois lesiva à garantia da ordem pública.
Ademais, a quantidade de drogas apreendidas em poder de “R” foi expressiva, fora de qualquer cenário de uso, mas nitidamente destinada ao
comércio. Nas imediações, foram apreendidas armas de grosso calibre, com numeração raspada, ainda sob apuração para indicar a autoria.

9. A expedição do alvará de soltura, em virtude da liberdade provisória, cuja concessão se ataca através do presente remédio constitucional,
não só colocará em risco a ordem pública, como, também, a conveniência da instrução criminal, uma vez que, solto, poderá exercer influência
sobre as testemunhas arroladas pela acusação.

10. Presentes estão os requisitos essenciais para a concessão do mandamus em caráter liminar, ou seja, o fumus boni juris, consistente na
impossibilidade
da concessão de liberdade provisória, quando presentes os requisitos da prisão preventiva, e o periculum in mora, que é evidente se
considerarmos que, com a expedição do alvará de soltura, “R” será posto em liberdade, acarretando em provável dificuldade de nova captura
se provido o mérito desta ação.

Ante o exposto, requer-se, liminarmente, a suspensão do cumprimento da ordem judicial de expedição de alvará de soltura, em decorrência da
liberdade concedida, até que o mérito do mandado de segurança seja julgado pela Câmara competente, que, por certo, o concederá. Ato
contínuo, colhidas as informações da autoridade coatora, requer-se a concessão em caráter definitivo da ordem, para cassar a decisão judicial
concessiva da liberdade provisória, pelos fartos e inafastáveis motivos apontados.

Termos em que,
Requer deferimento.
Comarca, data.
_______________
Promotor de Justiça

Observações:
1- Pode-se dirigir a petição diretamente ao Desembargador Presidente da Seção Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça.
2- Há Estados que possuem Varas específicas para cuidar de inquéritos policiais.

11- Recurso Extraordinário


Conceito e Finalidade
 Recurso endereçado ao STF para combater decisão judicial contra a qual não caiba outro recurso – premissa é a ofensa às normas
constitucionais.
 Finalidade – uniformização na aplicação da CR/88 em todo o território nacional.
Cabimento
 Art. 102, III, CR/88 – o recurso extraordinário será cabível contra causas decididas, em única ou última instâncias, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

 Leis locais são as estaduais e municipais – ato de governo é qualquer ato administrativo – pressuposto dessa alínea é que tenha
sido questionada judicialmente a constitucionalidade da lei ou do ato e que a decisão tenha declarado sua validade.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

 Alteração da EC n.º 45/2004 – na redação original da CR/88 seria caso de Recurso Especial.

 O recurso extraordinário só tem cabimento quando nenhum outro recurso possa ser interposto e desde que a parte tenha se utilizado
de todas as vias recursais possíveis – não basta que já tenha decorrido o prazo para a interposição de outros recursos, que por esta
razão tenham se tornado incabíveis.
 Súmula 281, STF
 Exige o prequestionamento – deve haver menção nas razões recursais da matéria constitucional violada para que seja enfrentada
pelo tribunal ad quem.
 Se forem necessários devem ser interpostos Embargos Infringentes, de Nulidade e de Declaração – Súmulas 282 e 356, STF.
 Outras Súmulas:
* Súmula 279, STF – “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário” – o recurso só se presta para a análise de
questões técnico-jurídicas.

32
* Súmula 283, STF – “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles” – é que, nesse caso, se fosse provido o recurso, a decisão impugnada estaria mantida
por outros fundamentos e o recurso extraordinário seria inócuo”.
* Súmula 284, STF – “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata
compreensão da controvérsia” – obviamente que deve ser arrazoado com clareza suficiente para que os julgadores possam
entendê-las.
* Súmula 640, STF – “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou
por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.
Legitimidade
 Parte sucumbente – MP (é do órgão que atue junto ao tribunal a quo), querelante ou defesa.
 Assistente de acusação – pode recorrer extraordinariamente dentro dos limites de seu interesse.
 Súmulas 208 e 210, STF – o Assistente de acusação não pode recorrer de decisão concessiva de HC e pode recorrer inclusive
extraordinariamente da impronúncia e da extinção da punibilidade (arts. 584, §1º e 598, CPP).
Prazos, Interposição e Processamento
 Arts. 26 a 29 da Lei n.º 8.038/90.
 Petição deve ser endereçada ao Presidente do Tribunal a quo.
 Prazo: 15 dias – da data da publicação do acórdão, salvo em relação ao MP – prazo conta da ciência pessoal.
 Petição – deve conter exposição do fato e do direito, demonstração do cabimento do recurso e as razões do pedido de reforma da
decisão.
 Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal – intimação da parte contrária para contra-arrazoar – prazo de 15 dias.
 Autos irão para o Presidente do Tribunal – Juízo de admissibilidade.
 Em 5 dias deverá dar despacho fundamentado, autorizando ou não o processamento do recurso.
 Se denegado – caberá Agravo de instrumento para o STF – prazo de 05 dias.
 Se recebido o recurso, os autos serão encaminhados para o STF.
 Chegando ao STF – será distribuído para uma das turmas, salvo se o processo provier do Tribunal Superior Eleitoral, Superior
Tribunal Militar ou STJ (tribunais superiores) – competência será do Plenário.
 Feita a distribuição – Procuradoria Geral da República – prazo de 05 dias para a manifestação.
 Retornando da Procuradoria Geral da República – designação de data para o julgamento.
 No início do julgamento – novamente será apreciada a admissibilidade do recurso – agora pelos Ministros do STF.
 Se aceito, será realizado o julgamento do mérito pela Turma ou Plenário.
Efeitos
 Arts. 27, §2º da Lei n.º 8.038/90 – tem efeito apenas devolutivo – violação ao princípio da presunção de inocência – tese aceita pelo
STF.
 Estando o acusado solto – a interposição de recurso extraordinário e especial impede que seja determinada a prisão.
 Se o acusado esteve preso durante toda a instrução – deverá permanecer preso se subsistentes os motivos da prisão cautelar.
Repercussão Geral
 Novo pressuposto para o processamento do recurso:
Art. 102.
(...)
§3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais
discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente
podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)

 Possibilidade de o STF recusar, discricionária e politicamente, apreciação do recurso cuja questão controvertida, ainda que de índole
constitucional, não acarrete reflexos de significativa importância para o corpo social.
 A rejeição do processamento pela irrelevância da matéria subordina-se ao reconhecimento por 2/3 dos membros do Tribunal.
Súmula Vinculante – Leitura do art. 103-A, CR/88

Modelo de Recurso Extraordinário


AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Recurso Extraordinário n.º:


Recurso de Apelação n.º: 1.0024.10.286657-1/001
Embargos Infringentes n.º: 1.0024. 10.286657-1/002
33
Comarca: Belo Horizonte/MG
Recorrente – DOUGLAS DE TAL

DOUGLAS DE TAL, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem, por meio de seus defensores in fine assinados
respeitosamente perante este juíz, interpor RECURSO EXTRAORDINÁRIO com fulcro no art. 102, inciso III, alíneas “a” da CR/88 e art. 26 da
Lei n.º 8.038/90.

Requer que, recebido e processado o presente recurso, seja admitido e possa obter seguimento ao Supremo Tribunal Federal,
objetivando final provimento.

Termos em que,
Requer deferimento e juntada do instrumento de mandato para interposição do presente Recurso Extraordinário.

Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2012.

ANA PAULA DO VALE FOSSALI PARANHOS


OAB/MG 96.224

Em outra lauda:

RECORRENTE: DOUGLAS DE TAL

AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SENHOR MINISTRO

A – DA ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Os requisitos objetivos formais estão presentes, pois se trata de recurso próprio e adequado à espécie, de acordo com a Lei n.º 8.038/90 e a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Atende ainda aos ditames da tempestividade, considerando que o julgamento realizado em 26 de abril de 2012, teve a súmula de seu acórdão
publicada em 08 de maio de 2012, com posterior decisão nos embargos infringentes, com publicação em 08 de fevereiro de 2013.

Portanto, de acordo com o previsto no art. 26 da Lei n.º 8.038/90, o prazo somente se esgota em 25 de fevereiro de 2013.

Quanto à legitimidade para recorrer, encontra-se substanciada na sucumbência do requerimento da defesa.

Verifica a defesa in casu, que houve ofensa a preceito constitucional, não sanado pelo Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, não
havendo mais recurso naquela instância, que não o ora apresentado.

B- DA EXPOSIÇÃO DO FATO E DO DIREITO

A denúncia imputa ao Recorrente Douglas a prática dos delitos insculpidos nos artigos 217-A c/c art. 226, II ambos do CPB.

Em primeiro julgamento foi o Recorrente absolvido ante o laudo pericial que constatou a ausência de materialidade.

Dessa forma, inconformado com a absolvição o Ministério Público recorreu e, em sede de apelação, foi o Recorrente, condenado a uma pena
privativa de liberdade de 06 (seis) anos, pela tentativa de estupro de vulnerável.

Importante notar que, apesar do recurso de apelação apresentado pela acusação requerendo a condenação do ora Recorrente pelo crime
narrado na exordial acusatória, a Procuradoria Geral de Justiça, às fls. 188, pugnou pelo desprovimento do recurso de apelação interposto,
diante da dúvida sobre a autoria e a materialidade delitiva.

Na apelação, o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com voto vencido parcialmente do Desembargador Vogal, cassou a decisão de
primeira instância.

Houve afronta ao princípio do devido processo legal, art. 5º, LII, LIV e LV e art. 129 da CF/88, vez que, o Tribunal julgou baseado em fatos não
consonantes da instrução criminal, em clara afronta ao preceito já preconizado pelo STF na Súmula 453.

C- DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece caber recurso extraordinário quando a causa for decidida por Tribunal do
Estado e a decisão recorrida contrariar o disposto no art. 102, III, “a”, CR/88.

Também no acórdão guerreado há questão importante no que concerne ao art. 5º, LIV, LV e LVI da CR/88:

“Art. 5º. [...]


LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”.

Por basear a condenação na fase inquisitiva, olvidaram-se os colendos julgadores da norma insculpida no art. 155 do CPP. Nesse mesmo
jaez, negou-se também a aplicação ao art. 157 do mesmo diploma legal, que tiram seu fundamento de validade das regras constitucionais a
respeito do devido processo legal.

34
Por considerar fatos que não foram, nem em tese, percutidos pela acusação, ao considerar a definição jurídico-fática do fato, qual seja, do art.
217-A c/c art. 226 do CPB, mas sim dar a situação fática configuração não presente na fase processual, o acórdão, impôs além da acusação
perquirida pelo Ministério Pública outra, (velada) paralela aquela, nos moldes do art. 217-A c/c art. 14, II e art. 226 do CPB.

Por tais fatos, não só o acórdão afronta a preceitos constitucionais, mas também ao já disposto nesta corte com a Súmula 453.

D – DA REPERCUSSÃO GERAL

D.1 – DA AFRONTA À SÚMULA 453 DO STF

O acórdão vergastado entendeu por nova definição jurídica do fato, não contida na acusação. Os moldes estabelecidos na fase probatória não
importam em aplicação de norma de extensão, qual seja art. 14, II, do CPB.

Ao determinar condenação desvinculada dos fatos narrados o acórdão que condenou o Recorrente se opôs diretamente ao entendimento
esposado pelo STF em sua súmula 453:

“Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia
ou queixa.”

Dando por certa então a repercussão geral nos moldes do art. 543 A, §3º do CPC.

No caso analisado importa destacar:

Determinar a forma de atuação do Judiciário é razão do maior apreço para o legislador originário.

As formas com as quais a jurisdição possa e deva ser exercida, a forma com a qual o Estado irá se impor sobre o particular, em especial sobre
no processo penal, tem os contornos mais sérios e se referem ao afastamento da tirania.

O órgão julgador não pode a seu bel prazer, em desarmonia com o que sedimentado no caderno probatório, aflorar novas situações fáticas, em
desfavor do Recorrente.

Agir dessa forma significa que o Judiciário será tanto Acusador quanto Julgador, em afronta clara ao art. 129 da Carta Constitucional.

A História demonstra os prejuízos dos poderes de acusador e julgador reunidos em uma só figura, determinar a amplitude e as ressalvas dos
entendimentos dos julgadores é situação que não interessa somente ao Recorrente.

Determinar os limites em que pode o julgador exercer a emendatio libelli ou a mutatio libelli são pontos que não se esgotam no presente
processo mas determinam de forma efetiva o atuar do Ministério Público e do Judiciário no Brasil, com ecos em inúmeros processos.

E- DA INFRINGÊNCIA DO PRINCÍPIO DO JUÍZO NATURAL

E.1- DO JULGAMENTO EM CONTRÁRIO AO DISPOSTO NA SÚMULA 453 DO STF, DA OFENSA AOS PRINCÍPIOS
PROCESSUAIS CONSTITUCIONAIS

A estrutura processual é assunto tão relevante que se incumbiu dela o legislador originário.

A Lexis Legis preceitua uma série de garantias. Uma delas a garantia de um julgamento justo e, principalmente, segundo uma série de
preceitos normativos contidos na própria Carta, cria o Juízo Natural.
A atuação de qualquer julgador que venha, mesmo que minimamente, contrariar este espírito, não só diminui os particulares em prol do
Estado, olvidando a criatura em prol do criador, mas, também, cerceia de forma ilegal a vontade maior, fundadora do Estado Democrático de
Direito.

Dentre as garantias arroladas no texto constitucional uma das mais importantes é a do Juízo Natural, que conjuga a forma e os momentos de
atuação do Judiciário e o órgão – independente – que maneja a ação penal, o Ministério Público.

A denúncia relata que o Recorrente teria em data certa e local determinado praticado conjunção carnal.

Ocorre, no entanto, que, no desenvolvimento do processo, na fase judicial não houve a qualquer momento na descrição fática, mudança
quanto ao entendimento da suposta conjunção carnal.

O pedido de condenação em primeira instância e as razões de apelação do Ministério Público fundadas no fato consumado relativo à
conjunção carnal.

Há declaração de que haveria o Recorrente praticado o fato, tendo a fase policial se encerrado, sim, com a informação de que houvera a
conjunção carnal. Em nenhum momento os testemunhos, ou a vítima, apontaram que o Recorrente teria atentado contra a sua dignidade
sexual, e visto sua vontade frustrada por fato externo a sua vontade.

Encerrada a instrução probatória a acusação não exerceu a faculdade que lhe dispõe o artigo 384 do CPP.

Ao não entender em consonância com os fatos apurados nos autos, pela inexistência da tentativa, manteve o Ministério Público o pedido da
condenação e da reforma da sentença de primeira instância como se o fato houvesse sido consumado.

Em desarmonia com os preceitos processuais o TJMG reconheceu a figura da tentativa, mesmo o laudo pericial (fls. 77 e 78) comprovando a
inexistência de conjunção carnal.

Nesse ponto dois comentários precisam ser feitos. Primeiro: a norma do art. 14, II, do CPB é uma norma de extensão (ou, de acordo com a
doutrina mais moderna, ‘norma de reenvio’) que deve ser conjugada com um determinado artigo penal.

Determinando dessa forma outro tipo penal.

35
Oferece-se a doutrina de Cezar Roberto Bitencourt:

“A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática do ato de execução, mas
o sujeito não chega à consumação por circunstâncias independentes da sua vontade. A tentativa é um tipo penal ampliado, um
tipo penal aberto, um tipo penal incompleto, mas um tipo penal. A tentativa amplia temporalmente a figura típica, cuja
punibilidade depende da conjugação do dispositivo que a define (art. 14, II) com o tipo penal incriminador. Na tentativa, o
movimento criminoso pára em uma das fases de execução...” (BITENCOURT, 2009, p. 429 - grifos acrescido ao original).

Obviamente a situação fática de uma tentativa é diferente da de um crime consumado, não é mera modificação da definição jurídica do fato
imputado, mas alteração da situação fática presente in casu.

Para EUGÊNIO PACELLI, no tocante à norma do art. 384 do CPP:

“nos casos em que o novo fato ou na nova circunstância se referir a uma conduta não narrada na peça acusatória, a hipótese
será, inevitavelmente, de absolvição.” (PACELLI, 2011, p. 703)

A lição do célebre doutrinador é consonante com a Súmula 453 do STF:

“Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia
ou queixa.”

Segundo: ainda desenvolvendo esse raciocínio, não se pode dizer que à mercê de um laudo que comprova não ter havido conjunção carnal
haja possibilidade do entendimento da figura da tentativa.

O laudo pericial pode atestar que o crime não ocorreu, mas não tem como certificar se houve ou não tentativa.

F – DO PEDIDO

Que seja o acórdão vergastado cassado, vez apresentar vícios de âmbito Constitucional, por desconsiderar os preceitos jurídicos debatidos
nesta peça.

Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2013.

ANA PAULA DO VALE FOSSALI PARANHOS


OAB/MG 96.224

12- Recurso Especial


Conceito e Finalidade
 Destinado a dar ao STJ possibilidade de julgar questão federal de natureza infraconstitucional – decidida por TRF ou pelos tribunais
dos Estados, do DF e Territórios.
 Finalidade: garantir a autoridade das leis federais e uniformizar sua aplicação em todo o país.
Cabimento
 Art. 105, III, CR/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

 Na alínea “c” – não se aplica quando ocorre divergência entre julgadores de um mesmo tribunal – hipótese do “incidente de
uniformização jurisprudencial” – regulamentado pelos arts. 476 a 479 do CPC.
 O Recurso Especial pressupõe divergência entre dois tribunais – Súmula 13, STJ.
 Não é cabível para simples reexame de prova – Súmula 7, STJ.
 Exige-se o prequestionamento para a sua admissibilidade.
Legitimidade
 Mesmas regras do Recurso Extraordinário.
 MP tem legitimidade para interpor recurso especial em processo que tenha atuado como fiscal da lei – ainda que não haja recurso da
parte Súmula 99, STJ.
Prazos, Interposição, Processamento e Efeitos
 Mesmas regras do Recurso Extraordinário.
 Caso sejam interpostos simultaneamente os recursos especial e extraordinário – incumbirá ao STJ o mérito do recurso especial e,
em seguida, remeterá os autos ao STF para julgamento do recurso extraordinário (art. 27, §§3º e 4º, Lei n.º 8.038/90).

36
Modelo de Recurso Especial
AO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Recurso Especial n.º:


Recurso de Apelação n.º: 1.0024.10.286657-1/001
Embargos Infringentes n.º: 1.0024. 10.286657-1/002
Comarca: Belo Horizonte/MG
Recorrente – DOUGLAS DE TAL

DOUGLAS DE TAL, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem, por meio de seus defensores in fine assinados, respeitosamente
perante este juízo, interpor RECURSO ESPECIAL com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas “a” da CR/88 e art. 26 da Lei n.º 8.038/90.

Requer que, recebido e processado o presente recurso, seja admitido e possa obter seguimento ao Superior Tribunal de Justiça, objetivando
final provimento.

Termos em que,
Requer deferimento e juntada do instrumento de mandato para interposição do presente Recurso Especial.

Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2013.

ANA PAULA DO VALE FOSSALI PARANHOS


OAB/MG 96.224

Em outra lauda

RECORRENTE: DOUGLAS DE TAL

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SENHOR MINISTRO

A- DA ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL

Os requisitos objetivos formais estão presentes, pois trata-se de recurso próprio e adequado à espécie, de acordo com a Lei n.º 8.038/90 e a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Atende ainda aos ditames da tempestividade, considerando que o julgamento realizado em 26 de abril de 2012, teve a súmula de seu acórdão
publicada em 08 de maio de 2012, com posterior decisão nos embargos infringentes, com publicação em 08 de fevereiro de 2013.

Portanto, de acordo com o previsto no art. 26 da Lei n.º 8.038/90, o prazo somente se esgota em 25 de fevereiro de 2013.

Quanto à legitimidade para recorrer, encontra-se substanciada na sucumbência do requerimento da defesa.

Verifica a defesa que, no caso, foi esgotada a instância, pois, da decisão do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais não há recurso
próprio, que não o ora apresentado.

B- DA EXPOSIÇÃO DO FATO E DO DIREITO

A denúncia imputa ao Recorrente Douglas a prática dos delitos insculpidos nos artigos 217-A c/c art. 226, II ambos do CPB.

Em primeira instância foi o Recorrente absolvido ante o laudo pericial que constatou a ausência de materialidade.

Dessa forma, inconformado com a absolvição a acusação recorreu e, em sede de apelação, foi o Recorrente, condenado a uma pena privativa
de liberdade de 06 (seis) anos, pela tentativa de estupro de vulnerável.

Importante notar que, apesar do recurso de apelação apresentado pela acusação requerendo a condenação do ora Recorrente pelo crime
narrado na exordial acusatória, a Procuradoria Geral de Justiça, às fls. 188, pugnou pelo desprovimento do recurso de apelação interposto,
diante da dúvida sobre a autoria e a materialidade delitiva.

Na apelação, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, com voto vencido parcialmente do Desembargador Vogal, cassou a decisão de primeira
instância.

C- DA DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece caber Recurso Especial quando a causa for decidida por Tribunal do
Estado e a decisão recorrida contrariar lei federal, como estatuído no art. 105, III, “a”.

Não se desconsidera que no âmbito penal o acusado se defenda dos fatos. No entanto, ao reconhecer em sede de apelação pela norma de
extensão da tentativa, infringiu o acórdão o disposto no art. 384 do CPP.

E, tal questão que deve ser enfrentada pela Corte Superior, qual seja, se o reconhecimento de norma de extensão – no caso a tentativa (art.
14, II do CPB) – implica ou não em mutatio libelli.

Questão essa que afronta a Súmula 453 do STF:

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“Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia
ou queixa”.

Observa-se, também, que, por basear a condenação na fase inquisitiva, olvidaram-se os colendos julgadores da norma insculpida no art. 155
do CPP. Questiona-se a razão da aplicação da norma da tentativa para configurar fato em oposição às provas nos autos.

Impropriedade na aplicação do art. 158 do CPP, vez que se deu à suposta “confissão” do Recorrente (suposta, pois em momento algum este
confessa o crime) maior valor que ao LAUDO CIENTÍFICO que reconheceu a integridade física da suposta vítima.

D- DA PROVA ORIUNDA DA FASE INQUISITÓRA E DO OLVIDO DO ART. 158 DO CPP

Durante a fase policial, a suposta vítima realmente relatou o que teria, em tese, havido um crime contra sua dignidade sexual, relatando ter
havido apenas conjunção carnal, pois não narra, em momento algum, qualquer outro ato libidinoso praticado contra si.

No entanto, o caderno de provas, já na fase judicial, desconstrói essa afirmação, vez que o RELATO MÉDICO LEGAL (fls. 77 e 78) REPUTA
QUE NÃO HOUVE agressão à integridade física da menor, ou seja, concluiu-se que NÃO HOUVE CONJUNÇÃO CARNAL CONSIDERANDO
A INTEGRIDADE DO HÍMEN.

Alega-se no acórdão vergastado que há a confissão do suposto autor, segundo o relator:

“...que o declarante informa que estava sob efeito de drogas e cerveja e ‘ESTAVA FORA DE MIM’, conforme se expressa; QUE
o declarante é usuário de maconha e cocaína há aproximadamente 03 anos; QUE o declarante alega que nunca havia tocado
sexualmente em sua irmã anteriormente...” (fase policial, fls. 11)” (fl. 237).

Observa-se neste passo dois pontos:

• não há aqui nenhuma admissão; o Recorrente declara que nunca havia se comportado de maneira imprópria com a irmã. O
“anteriormente” que parece se referir ao que agora fez (abusou da irmã) está fora de contexto. Primeiro por ser valorado na fase de julgamento
uma “prova” da fase policial (e o próprio julgador avisa que o fará, ou seja, que irá contrariar os ditames do art. 155 do CPP);

• segundo, o fato não foi comprovado durante a instrução criminal, como se vê no LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO às fls.
77 e 78, in verbis:

“CONCLUSAO (sic): não houve conjunção carnal considerando-se integridade do hímen...” (fls.77/78).

Nessa seara a lição de celebrado jurista Nestor Távora a respeito do tema CONFISSÃO deve lançar lume sobre esses pontos. Deve-se
também atentar para o que a língua pátria considera confissão (revelação, diante de testemunha(s) privada(s) ou pública(s), que alguém faz de
um ato censurável que cometeu). Como se vê, a definição lexical de confissão não se adéqua ao apontado pelo julgador. Da doutrina de
Nestor Távora:

“A classificação da confissão está assim apresentada: a) (...) extrajudicial: realizada no transcurso do inquérito policial, ou fora
dos autos, ou ainda, perante outras autoridades, como dentro do procedimento administrativo correicional ou perante CPI. Terá
que ser reproduzida no processo para surtir algum efeito na esfera penal” (grifos acrescidos ao original).

Ainda no entendimento do citado jurista:

“Lembramos que se o crime deixar vestígios, a materialidade não pode ser provada pela confissão, pois é necessária a
realização do exame do corpo de delito (...) a confissão servirá para demonstrar a autoria, já que a materialidade estará a
depender da realização de perícia”.

Como se vê, há imperativo categórico pela impropriedade do uso da “confissão” neste caso. Suponhamos então que “A” tenha dito que “B” o
agrediu. “B” levado à delegacia diz ter sim desferido golpes contra “A”, seu desafeto. Ocorre, no entanto, que o laudo pericial para o caso
hipotético aponta não ter havido lesões em “A”. Nesse passo a lógica jurídica só permite três soluções: ou “B” está mentindo, ou “A” está
mentindo, ou ambos estão mentindo por não ter o fato existido.

O Recorrente não afirma que fez algo, e como apontado a doutrina, a confissão só é relevante na fase processual, NUNCA NA FASE
POLICIAL especialmente para embasar condenação.

Para o caso em tela, como a declaração do Recorrente não é uma confissão, ou a vítima está mentindo ou o fato não existiu.

Não pode a confissão, no caso em tela, por estar o Recorrente completamente embriagado e sob efeito de entorpecentes, apresentar-se como
elemento de convicção para o julgamento do juízo. Trata-se de afronta clara ao princípio insculpido no art. 155 do CPP.

E- DA AFRONTA AO ARTIGO 384 DO CPP

Como se observa da leitura dos autos, toda a instrução criminal se desenvolveu ante o fato de uma (possível) conjunção carnal.

A denúncia relata que o Recorrente teria em data certa e local determinado praticado conjunção carnal em sua irmã.

Ocorre, no entanto, que, no desenvolvimento do processo, na fase judicial, não houve a qualquer momento na descrição fática, mudança
quanto ao entendimento da suposta conjunção carnal.

O pedido de condenação em primeira instância e as razões de apelação do Ministério Público foram alicerçados no fato consumado relativo à
conjunção carnal narrada na denúncia.

Há declaração de que haveria o Recorrente praticado o fato, tendo a fase policial se encerrado, sim, com a informação de que houvera a
conjunção carnal. Em nenhum momento os testemunhos, ou a vítima, apontaram que o Recorrente teria atentado contra a sua dignidade
sexual ou praticado qualquer ato libidinoso.

Encerrada a instrução probatória a acusação não exerceu a faculdade que lhe dispõe o artigo 384 do CPP.
38
Ao não entender em consonância com os fatos apurados nos autos, pela inexistência da tentativa, manteve o Ministério Público o pedido de
condenação e da reforma da sentença de primeira instância como se o fato houvesse sido consumado.

Em desarmonia com os preceitos processuais o TJMG reconheceu a figura da tentativa, uma vez que o laudo pericial (fls. 77 e 78)
comprovou a inexistência de conjunção carnal.

Nesse ponto, dois comentários precisam ser feitos. Primeiro: a norma do art. 14, II, do CPB é uma norma de extensão (ou, de acordo com a
doutrina mais moderna, ‘norma de reenvio’) que deve ser conjugada com um determinado artigo penal.

Oferece-se a doutrina de Cezar Roberto Bitencourt:

“A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática do ato de execução, mas
o sujeito não chega à consumação por circunstâncias independentes da sua vontade. A tentativa é um tipo penal ampliado, um
tipo penal aberto, um tipo penal incompleto, mas um tipo penal. A tentativa amplia temporalmente a figura típica, cuja
punibilidade depende da conjugação do dispositivo que a define (art. 14, II) com o tipo penal incriminador. Na tentativa, o
movimento criminoso pára em uma das fases de execução...” (BITENCOURT, 2009, p. 429 - grifos acrescidos ao original).

Obviamente a situação fática de uma tentativa é diferente da de um crime consumado, não é mera modificação da definição jurídica do fato
imputado, mas alteração da situação fática presente in casu.

Para PACELLI, no tocante à norma do art. 384 do CPP:

“nos casos em que o novo fato ou na nova circunstância se referir a uma conduta não narrada na peça acusatória, a hipótese
será, inevitavelmente, de absolvição” (PACELLI, 2011, p. 703).

A lição do célebre doutrinador é consonante com a Súmula 453 do STF:

“Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia
ou queixa”.

Segundo: ainda desenvolvendo esse raciocínio, não se pode dizer que à mercê de um laudo que comprova não ter havido conjunção carnal
haja possibilidade do entendimento da figura da tentativa.

O laudo pericial pode atestar que o crime não ocorreu, mas não tem como certificar se houve ou não tentativa, permanecendo a dúvida.

F- DO PEDIDO

Que seja a condenação do ora Recorrente cassada por fundar-se duplamente em nulidades processuais: infringência do art. 155 do CPP no
que tange à apreciação da prova, e inobservância do art. 384 do CPP e da Súmula 453 do STF.

Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2013.

ANA PAULA DO VALE FOSSALI PARANHOS


OAB/MG 96.224

13- Recurso Ordinário Constitucional


 Previsão – arts. 102, II e 105, II da CR/88.
 A impugnação por via do recurso ordinário devolve o reexame de todas as matérias decididas pelo tribunal recorrido, de fato ou de
direito, respeitada a limitação feita pela parte – efeito equivalente ao da apelação.
Cabimento
 STF
Art. 102.
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;

 Cabível apenas se denegado o pedido formulado por via de um dos “remédios constitucionais” mencionados.
 O não conhecimento do HC ou MS – equivale à denegação – possibilitando o recurso ordinário.
 Incabível tal recurso ao Plenário das decisões emanadas de qualquer das turmas do STF – só tem pertinência quando se tratar de
ato denegatório proferido em única instância pelos Tribunais Superiores da União.
b) o crime político;

 Trata-se de previsão de um terceiro exame da pretensão punitiva referente aos crimes políticos – previstos na Lei de Segurança
Nacional – Lei n.º 7170/83 – são julgados originariamente pelos juízes federais – art. 109, IV, CR/88.
 STJ
Art. 105.
39
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;

 Poderá julgar HC – quando negada a ordem por um tribunal de 2º grau; em sede de reexame necessário (art. 574, I, CPP) ou de
julgamento de RESE (art. 581, X, CPP).
 É facultado ao interessando interpor novo HC perante o STJ ou STF.
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro,
Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

 As alíneas “b” e “c” – tratam de matéria cível.


Procedimento
 Previsão no Regimento Interno.
 Interposição deve ser acompanhada das razões – prazo de 05 dias – nos próprios autos em que se houver proferido a decisão
recorrida.
 Distribuído o recurso – secretaria imediatamente fará os autos com vista ao Procurador Geral da República – prazo de 02 dias.
 Conclusos ao relator – submeterá o feito a julgamento do plenário ou turma.
 Ao processamento do recurso aplicar-se-á, no que couber, o disposto com relação ao pedido originário de HC.
 Em se tratando de natureza denegatória de HC – recurso deve ser interposto no prazo de 05 dias com as razões do pedido de
reforma.
 Em se tratando de natureza denegatória de MS – recurso será interposto no prazo de 15 dias com as razões do pedido de reforma.
 Prazo contado a partir da publicação do acórdão recorrido no Diário Oficial.

Modelo de Recurso Ordinário Constitucional


EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Autos nº 0722122-07.2015.8.13.0000

RODRIGO DE TAL, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem por seus advogados infra-assinados, com fundamento no Art. 105,
II, a, da Constituição Federal e Art. 30 e 32 da Lei nº 8.038/90, interpor o presente RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.

Requer, desde já, o seu regular processamento e remessa ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que,
Requer deferimento.
Belo Horizonte, 20 de outubro de 2015.

Ana Paula do Vale Fossali Paranhos


OAB/MG 96.224

Em outra lauda:

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL


Recorrente: RODRIGO DE TAL
Habeas Corpus nº. 0722122-07.2015.8.13.0000

Ao Superior Tribunal de Justiça,

Colenda Turma,

Ínclitos Julgadores,

Douto Procurador da República.

Em que pese o prestígio do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e o conhecimento e parcimônia dos integrantes da colenda 4ª
Câmara Criminal daquele Tribunal, o acórdão proferido pela referida Câmara Criminal, a qual denegou o pedido de Habeas Corpus impetrado
em favor do Paciente, não pode prosperar, pelas razões abaixo aduzidas.

1- DOS FATOS

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Segundo consta da denúncia, no dia 31 de julho de 2015, por volta 01hs16min, na Avenida Professor Mário Werneck, altura do número 1.160,
em Belo Horizonte, o Recorrente supostamente tentou atingir dois policiais militares com disparos de arma de fogo, iniciando, assim, a
execução de um crime de homicídio que não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade. Por tais fatos, o Paciente foi preso em
flagrante delito.

Remetidos os autos ao Ministério Público para apreciação, este pugnou pela conversão da prisão em flagrante em preventiva. Assim, o juízo
do I Tribunal do Júri da comarca de Belo Horizonte converteu a prisão em flagrante em preventiva nos termos do art. 310, II do CPP.

Fora interposto Habeas Corpus em 08/09/2015, em face da falta de manifestação da referida decisão, uma vez que a mesma não
pormenorizou a ocorrência dos requisitos previstos no art. 312 do CPP.

A 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sendo relator o preclaro Desembargador Júlio Cezar Guttierrez, denegou a
ordem, motivo pelo qual a defesa interpõe o presente recurso.

2- DO MÉRITO

Primeiramente cumpre esclarecer que diversamente do que constou do voto do eminente Desembargador Júlio Cezar Guttierrez, a decisão
que decretou a prisão preventiva do Recorrente não fora suficientemente fundamentada.

Conforme ressaltado pelo próprio Desembargador relator, o juízo do I Tribunal do Júri utilizou como fundamentação para manter o Recorrente
em cárcere, a dinâmica de como os fatos supostamente ocorreram, bem como o fato de que a ordem pública vem sendo atualmente ameaçada
pela prática rotineira na Capital, de delitos de gravidade semelhante ao que supostamente cometeu o Recorrente.

Ora!!! A simples necessidade de coibição na prática de atos violentos nas grandes cidades não pode ser utilizada como fundamentação para a
manutenção de uma prisão, sendo utilizada forma arbitrária e temerosa, como é o caso dos autos.

Sabe-se que, existe na sociedade em geral uma grande necessidade em demonstrar que a Lei Penal vem sendo efetivamente cumprida,
segregando todos que, de alguma forma interfira negativamente no equilíbrio social. Entretanto, a manutenção das prisões deve obedecer aos
critérios objetivos prescritos em lei, com fundamentação idônea e quando esta se revelar como a única medida capaz de garantir a ordem
pública.

Ressalte-se que, como enfatizado pelo próprio juízo do I Tribunal do Júri e citado pelo eminente Desembargador relator, “a dinâmica dos fatos
demonstra uma aparente inaptidão momentânea para o livre e pacífico convívio social”. Em outras palavras, não restou claro se o Recorrente
agiu em um momento de raiva ou agitação, fatos estes que só serão elucidados no curso da investigação criminal, e levando em consideração
o princípio da presunção da inocência e do in dubio pro reo, é que o Recorrente não pode permanecer acautelado preventivamente com base
em meras suposições.

Neste sentido é a jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. PRISÃO EM FLAGRANTE


CONVERTIDA EM PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL. RECURSO PROVIDO. I -
A prisão cautelar deve ser considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu jus libertatis antes do
pronunciamento condenatório definitivo, consubstanciado na sentença transitada em julgado. É por isso que tal medida
constritiva só se justifica caso demonstrada sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução criminal ou
a aplicação da lei penal, ex vi do artigo 312 do Código de Processo Penal (Precedentes). II - No caso, o decreto que impôs a
prisão preventiva ao recorrente não apresenta devida fundamentação, uma vez que a simples invocação da gravidade genérica
do delito não se revela suficiente para autorizar a segregação cautelar com fundamento na garantia da ordem pública. III -
Denota-se do autos que apesar de constar no decreto prisional que o recorrente se evadiu do local do crime, identificamos na
denúncia (fl.61) e no relatório policial (fl. 50) que, na verdade, ele foi preso pela polícia militar, logo após o crime, em situação
de perseguição efetuada pelo irmão da vítima, ou seja, em flagrante impróprio; fato este que, de modo algum, confunde-se com
o fundamento contido no v. acórdão ora impugnado, de fuga do distrito da culpa, utilizado como razão de decidir para denegar
a ordem de habeas corpus na origem. Recurso ordinário provido, para revogar a prisão preventiva do recorrente, salvo se por
outro motivo estiver preso, e sem prejuízo da decretação de nova prisão, desde que concretamente fundamentada, ou outras
medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de Processo Penal. (RHC 51.529/MA, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 02/02/2015) - grifos nossos.”

Ademais, o Desembargador relator destacou que:

“No que tange à aplicação de medidas cautelares diferentes da prisão, entendo, com fulcro no artigo 282, II, do Código de
Processo Penal, que a aplicação das referidas medidas se revelam inadequadas em virtude da gravidade do crime imputado
ao paciente.”

É pacífico na doutrina e na jurisprudência pátria o entendimento de que a gravidade dos fatos supostamente cometidos pelo Recorrente não
são suficientes para a configuração da necessidade de garantia da ordem pública.

Neste sentido também já se manifestou este Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO


PREVENTIVA. GRAVIDADE ABSTRATA DOS FATOS. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. PROIBIÇÃO DE LIBERDADE
PROVISÓRIA CONSTANTE DO ART. 44 DA LEI Nº 11.343/2006. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO STF.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. RECURSO PROVIDO. 1. A
privação antecipada da liberdade do cidadão acusado de crime reveste-se de caráter excepcional em nosso ordenamento
jurídico, e a medida deve estar embasada em decisão judicial fundamentada (art. 93, IX, da CF), que demonstre a existência
da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes da autoria, bem como a ocorrência de um ou mais
pressupostos do artigo 312 do Código de Processo Penal. Exige-se, ainda, na linha perfilhada pela jurisprudência dominante
deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que a decisão esteja pautada em motivação concreta,
sendo vedadas considerações abstratas sobre a gravidade do crime. 2. Caso em que o decreto que impôs a prisão preventiva
ao paciente não apresentou motivação concreta, apta a justificar sua segregação, tendo-se limitado a afirmar, de modo
abstrato, que o tráfico de drogas "é um crime que causa repulsa à sociedade", além de ser "o grande responsável pelo
financiamento das quadrilhas e organizações criminosas que colocam em risco a paz da sociedade". Por sua vez, o acórdão
recorrido manteve a decisão constritiva sem, contudo, indicar nenhuma circunstância pessoal do acusado ou modus operandi
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excepcionais que justificassem, in casu, a prisão. 3. A gravidade abstrata do delito de tráfico de drogas não serve de
fundamento para a negativa do benefício da liberdade provisória, tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade de parte
do art. 44 da Lei n. 11.343/2006 pelo Supremo Tribunal Federal. Precedentes. 4. Condições subjetivas favoráveis ao
recorrente, conquanto não sejam garantidoras de eventual direito à soltura, merecem ser devidamente valoradas, quando não
for demonstrada a real indispensabilidade da medida constritiva. Precedentes. 5. Recurso provido para determinar a soltura do
recorrente, sob a imposição das medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319, incisos I e IV, do Código de
Processo Penal. (RHC 59.610/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
06/10/2015, DJe 13/10/2015) – grifos nossos”

Neste mesmo diapasão, ressalte-se que, nem mesmo no caso de prisão definitiva a gravidade abstrata do delito pode ser utilizada para
agravar a pena, quiçá para manter a segregação cautelar do Acusado, como é o que se verifica nestes autos. Neste sentido, confira-se a
Súmula 440 do STJ, aplicada em analogia, in verbis:

“Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão
da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.”

Neste mesmo sentido dispõe a Súmula 718 do STF, vejamos:

“A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime
mais severo do que permitido segundo pena aplicada.”

Não se pode esquecer que, no Brasil, a regra é a liberdade, ou seja, ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando for possível a
liberdade. Além do mais, atualmente existem diversas maneiras de garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal, sem que
necessariamente o acusado seja mantido no cárcere.

Deste modo, requer seja dado provimento ao recurso para que o Recorrente seja incontinenti colocado em liberdade, expedindo-se o
competente alvará de soltura para o I Tribunal do Júri da Comarca de Belo Horizonte/MG.

3- DA JUSTIÇA GRATUITA

O Recorrente é pobre na forma da lei e está sendo assistido pela justiça gratuita.

Conforme estabelece o art. 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal: “O Estado prestará assistência integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos”, que, de acordo com o art. 3º da Lei 1.060/1950, compreende as taxas, emolumentos, indenizações às testemunhas,
despesas com publicações, honorários de advogados e peritos e custas processuais, e ainda, de acordo com o art. 10 da Lei 14.939/2003 terá
direito à isenção do pagamento das custas os que comprovarem insuficiência de recursos e os benefícios da assistência judiciária (inciso II) e a
Defensoria Pública (inciso VII).

Nesse sentido vem entendendo o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, senão vejamos parte do recente Acórdão n° 2.0000.00.506342-
7/000:

“EMENTA: PENAL – CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO – (...) – JUSTIÇA GRATUITA – RÉU DEFENDIDO POR ENTIDADE
QUE SE EQUIPARA À DEFENSORIA PÚBLICA PARA TAL FIM. Por fim, o art. 805 do CPP dispõe que as custas serão
cobradas de acordo com os regulamentos expedidos pela União e pelos estados. O Estado de Minas Gerais, neste tocante, já
editou a Lei 14.939/03, que em seu art. 10, inciso II, assim dispõe sobre a isenção de custas: “II - Os que provarem
insuficiência de recursos e os que forem beneficiários da assistência judiciária.”

O Recorrente, tendo em vista o fato de estar sendo assistido pelo Núcleo de Prática Jurídica da Universidade FUMEC, a qual equipara-se nos
termos daquela lei à Defensoria Pública do Estado, faz jus aos benefícios da citada lei.
Desse modo, requer a Defesa que seja o Paciente isento do pagamento das custas processuais.

4- DOS PEDIDOS

Isto posto, requer:

- seja dado provimento ao recurso para que o Recorrente seja incontinenti colocado em liberdade, expedindo-se o competente alvará de
soltura para o I Tribunal do Júri da Comarca de Belo Horizonte/MG.

Nesses termos, requer o deferimento.

Belo Horizonte, 20 de outubro de 2015.

Ana Paula do Vale Fossali Paranhos


OAB/MG 96.224

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