Você está na página 1de 6

Direito Processual Penal

TEORIA GERAL DOS RECURSOS


Recurso é o meio de impugnação de uma decisão judicial, utilizado antes de sua preclusão e na mesma relação
jurídica processual, com a finalidade de possibilitar o reexame do decisum por uma instância superior ou pelo
mesmo órgão jurisdicional.

O recurso tem como principal caraterística o fato de estender a relação jurídica processual já existente, não
criando uma nova relação jurídica. Logo, é possível se afirmar que, por não instaurarem uma nova relação
jurídica, o habeas corpus e a revisão criminal não podem ser considerados recursos.
CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS QUANTO À INICIATIVA
Sob a ótica da iniciativa, o recurso pode ser classificado em:
 Voluntário. Recurso voluntário é aquele cuja interposição fica à exclusivo critério da parte que se
sentiu prejudicada pela decisão. A voluntariedade dos recursos constitui a regra (art. 574 do CPP).
 Necessário/anômalo/de ofício. Recurso de ofício é aquele que obrigatoriamente deve “interposto”
pelo próprio juiz, independentemente de qualquer manifestação das partes.
o Parte da doutrina defende que, por força do princípio da inércia da jurisdição e da extinção
da outrora chamada ação penal ex officio, o recurso de ofício não mais subsiste em nosso
ordenamento jurídico. Segundo os adeptos desta corrente, o art. 574 do CPP, que prevê o
chamado “recurso de ofício”, tem, na realidade, natureza jurídica de condição de eficácia
da decisão, já que, enquanto não houver o reexame da decisão pela instância superior, a
decisão não transita em julgado.
o O art. 7º da Lei 1.521/51 dispõe que é cabível recurso de ofício da decisão que determina o
arquivamento do inquérito policial ou que absolve o réu em processo crime contra a
economia popular ou contra a saúde pública.
o O art. 746 do CPP admite recurso de ofício da decisão que concede a reabilitação criminal.
o Já o art. 625, § 3º, do CPP admite o recurso de ofício da decisão do relator que indefere
liminarmente a revisão criminal.
o De acordo com o art. 574 do CPP, é cabível recurso de ofício:
 Da sentença concessiva de habeas corpus;
 Não há recurso de ofício para sentenças denegatórias do sobredito writ.
 Da sentença que absolver sumariamente o réu com fundamento na existência de
circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411
do CPP.
 Em razão de a Lei 11.689/08 ter modificado substancialmente o
procedimento dos crimes de competência do tribunal do júri, passou a
existir certa celeuma quanto a prevalência do recurso de ofício nas
hipóteses de absolvição sumária.
o Para uma primeira vertente doutrinária, mesmo não
modificando o art. 574, II, do CPP (que prevê o recurso de
ofício), ao alterar o art. 411 do CPP (ao qual o art. 574, II, do
CPP se reputa expressamente e que antigamente previa as
hipóteses de absolvição sumária), a lei 11.689/08 revogou o
recurso de ofício.
 Este é o posicionamento defendido por FMB. Para
ele, ao editar a Lei 11.689/08, o legislador quis
simplificar o procedimento do rito do tribunal do júri,
o que, por consequência, não implicaria no aumentos
das hipóteses de cabimento do recurso de ofício.
o Para uma segunda corrente, mesmo que o art. 574, II, do CPP
ainda se repute, erroneamente, ao art. 411 do CPP, cujo
conteúdo (hipóteses de absolvição sumária) passou a ser
disciplinado pelo art. 415 do CPP após o advento da Lei
11.689/08, tal fato, por si só, não revogou o recurso de ofício,
afinal, as hipóteses de absolvição não deixaram de existir, elas
apenas foram deslocadas de um dispositivo para outro.
o Por fim, uma última corrente argumenta que o recurso de
ofício somente será possível nos casos em que a sentença
absolver o réu em razão do reconhecimento de circunstância
que exclua ou isente o réu de pena, não sendo, portanto,
cabível nas demais hipóteses de absolvição sumária que foram

1
Direito Processual Penal
instituídas pelo art. 415 do CPP (leia-se: prova da inexistência
do fato; prova de não ser o acusado o autor ou partícipe do
fato; e o fato não constituir infração penal).
PRESSUPOSTOS RECURSAIS
Para que o recurso possa ser reconhecido, é necessário que seus pressupostos sejam avaliados em um juízo de
admissibilidade denominado “juízo de prelibação”.

Este juízo de admissibilidade é realizado tanto pelo juízo a quo, quanto pelo juízo ad quem.

Ultrapassada a fase de admissibilidade, o recurso será devidamente recebido, processado, conhecido e julgado,
e, dentro desta última etapa, será ele provido ou improvido quanto a seu mérito.
 O juízo de mérito do recurso é denominado pela doutrina de “juízo de delibação”.

Os pressupostos recursais subdividem-se em:


 Objetivos. Os pressupostos recursais objetivos são: (1) o cabimento (ou previsão legal); (2) a
adequação; (3) a regularidade formal; (4) a tempestividade; e (5) a ausência de fato impeditivo ou
extintivo do recurso.
 Subjetivos: Os pressupostos recursais subjetivos são: (1) o interesse; e (2) a legitimidade.
PRESSUPOSTOS OBJETIVOS
CABIMENTO (OU PREVISÃO LEGAL)
Em razão deste pressuposto, a admissibilidade do recurso somente se faz possível nas hipóteses em que o
mesmo estiver expressamente previsto em lei.
ADEQUAÇÃO
Em razão deste pressuposto, a previsão legal do recurso, por si só, não autoriza sua admissão; é também
necessário que o recurso interposto seja adequado para atacar a decisão da qual se pretende recorrer.
 Em regra, cada decisão desafia apenas uma espécie de recurso (é o que se denomina de princípio da
unirrecorribilidade/singularidade); entretanto, excepcionalmente, quando a lei admitir, é possível que
sejam simultaneamente interpostos dois recursos; é o que ocorre, por exemplo, quando ao recorrer
de um acórdão a parte ingressa com recurso especial (endereçado ao STJ) e um recurso
extraordinário (endereçado ao STF).
 Em razão do princípio da fungibilidade (art. 579, caput, do CPP), se a parte ingressar com o recurso
errado, o juiz poderá recebê-lo como se correto o fosse, ressalvados os casos de má-fé.
o Segundo a doutrina, para que o princípio da fungibilidade seja aplicado, é necessário que:
(1) tenha havido equívoco da parte e a interposição de recurso inadequado para a hipótese;
(2) não tenha havido má-fé ou erro grosseiro do recorrente; (3) que o recurso inadequado
tenha sido interposto dentro do prazo previsto para a interposição do recurso correto.
REGULARIDADE FORMAL
Pressuposto de regularidade formal. De acordo com o art. 578 do CPP o recurso pode ser interposto por
petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu representante.
 A interposição por petição é utilizado nos casos de embargos infringentes; embargos de nulidade;
embargos de declaração; carta testemunhável; recurso extraordinário; e recurso especial.
o Nestes casos, as razões recursais devem, obrigatoriamente, acompanhar a peça de
interposição.
o Também o recurso de apelação e o recurso em sentido estrito podem ser interpostos por
petição, contudo, nestes casos é desnecessária a apresentação simultânea das razões
recursais.
 A interposição por termo nos autos pode se dar nos casos de recurso de apelação e de recurso em
sentido estrito.
 Entende a doutrina majoritária que, apesar da lei exigir que a interposição se dê por petição ou por
termo nos autos, se a parte, de outra forma, demonstrar inequivocamente o seu inconformismo com
a decisão, nada obsta que o recurso seja recebido em atenção ao princípio da ampla defesa.
 Ë válido lembrar que a Lei 9.800/99 permitiu às partes a utilização de sistema de transmissão de
dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a realização de atos processuais que
dependem de petição escrita, desde que o original seja entregue em juízo, necessariamente, em até
cinco dias após o término do prazo estipulado em lei.
TEMPESTIVIDADE

2
Direito Processual Penal
Pressuposto de tempestividade. Em razão deste pressuposto, somente se admite o recurso interposto dentro
do prazo legalmente estabelecido.
 A carta testemunhável deve ser interposta dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas (art. 640 do
CPP).
 Os embargos declaratórios devem ser apresentados dentro do prazo de 02 (dois) dias no rito
comum (sumário e ordinário – art. 619 do CPP) e de 05 (cinco) dias no rito sumariíssimo (art. 83, §
1º, da Lei 9.099/95).
 O agravo em execução deve ser interposto dentro do prazo de 05 (cinco) dias (art. 197 da Lei
7.210/84 c/c Súmula 700 do STF).
 O recurso ordinário constitucional interposto contra decisões denegatórias de habeas corpus deve
ser interposto dentro do prazo de 05 (cinco) dias já acompanhado das razões do pedido de reforma
(art. 31 da Lei 8.038/90); já o recurso ordinário constitucional interposto contra as decisões
denegatórias de mandado de segurança deve ser interposto dentro do prazo de 15 (quinze) dias já
acompanhado de das razões do pedido de reforma (art. 33 da Lei 8.038/90).
 O recurso de apelação será interposto dentro do prazo de 05 (cinco) dias (art. 592, caput, do CPP),
contudo, as razões recursais somente serão apresentadas no prazo de 08 (oito) dias (art. 600, caput,
do CPP), contado da data em que a parte for intimada sobre a decisão de recebimento da petição de
interposição.
o No caso de contravenções, as razões recursais da apelação deverão ser apresentadas no
prazo de 03 (três) dias (art. 600, caput, in fine, do CPP). Mas é preciso lembrar que para a
doutrina majoritária esta regra perdeu a sua aplicabilidade em razão da edição da Lei
9.099/95 (que instituiu um procedimento diferenciado para as infrações penais de menor
potencial ofensivo, prevendo, para as sentenças condenatórias proferidas no rito
sumariíssimo, a possibilidade de utilização do recurso de apelação).
o No rito sumariíssimo, a apelação deve ser interposta, já acompanhada das razões recursais,
dentro do prazo de 10 (dez) dias (art. 82, § 1º, da Lei 9.099/95).
 O recurso em sentido estrito deve ser interposto dentro do prazo de 05 (cinco) dias (art. 586, caput,
do CPP), contudo, as razões recursais somente serão apresentadas no prazo de 02 (dois) dias (art.
588, caput, do CPP), contado da data em que a parte for intimada sobre a decisão de recebimento da
petição de interposição.
o No caso de recurso em sentido estrito interposto contra a decisão que inclui ou exclui
jurado da lista geral, o prazo de interposição é de 20 (vinte) dias (art. 586, parágrafo único,
do CPP) e o prazo das razões é de 02 (dois) dias (art. 588, caput, do CPP).
 Em razão do advento da 11.689/08, que modificou a redação do art. 426, § 1º, do
CPP, autorizando o juiz a modificar a lista de jurados de ofício ou mediante
requerimento de qualquer do povo até o dia 10 de novembro, a doutrina
majoritária passou a entender que tal recurso deixou de existir.
 O agravo contra decisão denegatória de recurso especial ou recurso extraordinário também deve ser
interposto dentro do prazo de 05 (cinco) dias (Súmula 699 do STF e art. 28 da Lei 8.038/90).
 Os embargos infringentes devem ser interpostos dentro do prazo de 10 (dez) dias (art. 609 do CPP)
 Os embargos de nulidade devem ser interpostos dentro do prazo de 10 (dez) dias (art. 609 do CPP)
 O recurso especial deve ser interposto dentro do prazo de 15 (quinze) dias, devidamente
acompanhado de suas razões (art. 26, caput, da Lei 8.038/90).
 O recurso extraordinário deve ser interposto dentro do prazo de 15 (quinze) dias, devidamente
acompanhado de suas razões (art. 26, caput, da Lei 8.038/90).

O prazo recursal é de direito processual; logo, deve observar as seguintes regras:


 O termo inicial da contagem do prazo (dies a quo) é o dia da intimação (Súmula 710 do STF).
 Não se computa no prazo o dia de começo, mas se inclui o dia de vencimento (art. 798, § 1º, do
CPP).
 Se o dia da intimação cair em uma sexta-feira, o prazo recursal começará a fluir do primeiro dia útil
seguinte (Súmula 310 do STF).
 Se o último dia do prazo cair em dia não útil, considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato (art.
798, § 3º, do CPP).

É importante lembrar que o defensor público tem prazo em dobro para recorrer (arts. 44 e 128 da LC 80/94).
AUSÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO RECURSO
A renúncia é fato que impede a interposição de recurso, enquanto que a desistência é a deserção são fatos que
extinguem o recurso já interposto.

3
Direito Processual Penal
O fato impeditivo difere do fato extintivo em razão de ser anterior ao ingresso do recurso, o que acarreta, por
consequência, a impossibilidade de sua interposição ou recebimento. Por sua vez, o fato extintivo é posterior
ao recurso, logo, o seu advento apenas obstaculiza o conhecimento da pretensão recursal.

Em regra, a renúncia ao prazo recursal é ato expresso e irrevogável. Tal regra só se faz excepcionável nos
casos em que for demonstrado o vício de vontade, pois nestas hipóteses o ato de renúncia será considerado
nulo.
 Segundo a doutrina, somente pode renunciar ao prazo recursal aquele que puder dispor da ação;
logo, o Ministério Público não poderá renunciar ao prazo recursal, ainda que não tenha a intenção
de recorrer da sentença.

A doutrina diverge quanto a vontade que deve prevalecer no caso em que houver divergência, no tocante à
pretensão recursal, entre a vontade do réu e a vontade de seu defensor:
 Para uma primeira corrente, deve prevalecer a vontade do réu sobre a vontade de seu defensor, o
qual pode, por consequência, renunciar ao prazo recursal ou até mesmo desistir do recurso já
interposto, mesmo contra a vontade de seu defensor. Para os adeptos desta corrente, este raciocínio
se justifica na medida em que o defensor do réu só pode renunciar ao prazo recursal ou desistir do
recurso se estiver munido de poderes específicos para este fim; ademais, se a qualquer tempo o réu
pode desconstituir seu defensor, com maior razão poderá ele atuar na contramão daquilo que
pretender seu procurador.
 Para uma segunda corrente, deve prevalecer a vontade do defensor sobre a vontade do réu, afinal, é
aquele primeiro quem desempenha a defesa técnica do réu e quem tem conhecimento jurídico para
identificar o que é mais benéfico para o seu constituinte.
o PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO TENTADO. APELAÇÃO.
DIVERGÊNCIA ENTRE RÉU E DEFENSOR. I - Havendo conflito entre o réu,
que renunciou ao direito de recorrer da sentença condenatória, e o seu defensor,
que interpôs apelação, deve prevalecer a manifestação deste, tendo em vista que,
por ter conhecimentos técnicos, em tese, está em melhores condições para avaliar a
necessidade da impugnação (Precedentes). II - "A renúncia do réu ao direito de
apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da
apelação por este interposta" (Súmula n.º 705 - STF). Writ concedido (STJ - HC: 69792 SP
2006/0245266-0, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 03/04/2007,
T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 04.06.2007 p. 401).
 Para uma terceira corrente, deve prevalecer a vontade daquele que quiser recorrer, eis que, tratando-
se de recurso exclusivo da defesa, a situação jurídica do réu não poderá ser agravada pela decisão do
Tribunal em razão do princípio da non reformatio in pejus.
o PENAL. CRIME DE FURTO QUALIFICADO (ART. 155, § 4º, IV, DO CÓDIGO
PENAL). ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA. APLICAÇÃO DE MEDIDA DE
SEGURANÇA. CONFLITO ENTRE O DESEJO DO RÉU EM RECORRER E A
DEFESA TÉCNICA. PREVALÊNCIA DA VONTADE DE QUEM QUER
SUBMETER A DECISÃO AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. MESMO
INIMPUTÁVEL, TEM O ACUSADO O DIREITO DE RECORRER. NOMEAÇÃO
DE NOVO DEFENSOR. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE
PROVAS (ART. 386, V, DO CPP). [...]. a) "No caso de divergência - o réu deseja
recorrer, mas o defensor, não, por exemplo - deve prevalecer a vontade de quem
quer sujeitar a decisão ao duplo grau de jurisdição." (NUCCI, Guilherme de
Souza. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008, p. 922). b) Mesmo o réu sendo inimputável, não se pode tolher o seu
direito de recorrer. c) A sentença absolutória imprópria, por mais que tenha caráter
absolutório, impõe gravame ao acusado ao determinar a aplicação da medida de segurança,
daí porque o réu tem interesse em recorrer. d) Apesar de a confissão não ter sido
confirmada em Juízo - uma vez que o acusado não compareceu para ser interrogado -, as
demais provas colacionadas são suficientes para confirmar a autoria delitiva, possuindo um
encadeamento dos fatos lógico e congruente. e) Caracterizada a excludente da
culpabilidade em razão da inimputabilidade do réu, impõe-se a aplicação da medida de
segurança. f) Não obstante o Laudo Psiquiátrico ter sugerido a "internação" do réu,
mantém-se o tratamento ambulatorial, a fim de se evitar reformatio in pejus, uma vez que
o recurso é exclusivo da Defesa (TJ-PR - ACR: 7567628 PR 0756762-8, Relator: Rogério
Kanayama, Data de Julgamento: 30/06/2011, 3ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ:
671).
o Súmula 705 do STF. A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a
assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

4
Direito Processual Penal

A exigência de que o réu se recolhesse à prisão para poder recorrer (que outrora era considerado um
pressuposto recursal), hoje não mais subsiste (Súmula 347 do STJ).
 O referido pressuposto foi afastado por macular os princípios constitucionais da presunção de
inocência, do acesso ao duplo grau de jurisdição e da ampla defesa.
 Mesmo com a revogação do art. 594 do CPP (que previa a necessidade de o réu se recolher ao
ergástulo público para poder recorrer), hodiernamente, ao proferir a sentença condenatória, o juiz
deve decidir fundamentadamente sobre a manutenção ou a imposição da prisão preventiva (ou outra
medida cautelar). Há de se notar, no entanto, que a pretensão recursal não resta prejudicada pela não
concretização da medida cautelar (art. 387, parágrafo único, do CPP).

Já a desistência, como fato extintivo do direito de recurso, consiste no ato de disposição de vontade, expresso
ou tácito, pelo qual a parte manifesta o seu interesse de não dar seguimento à sua pretensão recursal.
 Como exemplo de desistência tácita, pode ser citada a hipótese em que a parte interpõe recurso de
apelação com fundamento no art. 593, III, “a” e “c”, do CPP (contra a decisão do tribunal do júri
em razão de nulidade posterior à pronúncia; e em razão de injustiça na aplicação da pena ou da
medida de segurança) e na sequência, apresenta fundamenta suas razões apenas no art. 593, III, “c”,
do CPP.
 A desistência, assim como a renúncia, é ato irrevogável. Tal regra somente se excepciona no caso de
vício de vontade, eis que nesta hipótese, a manifestação de vontade eivada do referido vício pode ser
declarada nula.
 Em razão do princípio da indesistibilidade (que é decorrência do princípio da indisponibilidade) o
Ministério Público não pode desistir do recurso por ele interposto (art. 576 do CPP).
 A defesa pode desistir de sua pretensão recursal à qualquer momento, desde que antes da apreciação
do recurso pelo Tribunal.

A deserção como causa extintiva do direito recursal ocorre nos casos em que se verifica a inexistência de
preparo (art. 806, § 2º, do CPP).
 Em âmbito estadual, normalmente as leis preveem despesas de preparo recursal somente para os
casos de ação penal privada.
 Em âmbito federal, a lei 9.289/96 não previu a necessidade de pagamento das despesas de preparo
como pressuposto recursal.
 O art. 595 do CPP (que previa a deserção do recurso em caso de fuga do réu) foi expressamente
revogado pela Lei 12.403/11.
PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS
A legitimidade para a interposição do recurso está disciplinada pelo art. 577 do CPP, segundo o qual: “o
recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu
defensor”.
 A jurisprudência tem admitido, por força do princípio da ampla defesa, a interposição do recurso,
por advogado sem procuração ou munido de mero mandado verbal.

O rol constante no art. 577 do CPP não é exaustivo. Com efeito, podem recorrer:
 O curador do réu que é, reconhecidamente, portador de doença mental ou de desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, conforme constatado em exame de insanidade mental.
 O assistente de acusação, nos casos expressamente previstos em lei.
o De acordo com o art. 584, § 1º, do CPP, o assistente pode ingressar com recurso de
apelação contra a sentença de impronúncia; ou com recurso em sentido estrito contra a
decisão que decreta a prescrição ou julga, por outro modo, extinta a punibilidade do réu,
desde que o Ministério Público não tenha recorrido.
 Nesta hipótese, o assistente pode recorrer inclusive extraordinariamente (Súmula
271 do STF).
o Por força do art. 598 do CPP, o assistente pode apelar da sentença proferida pelo Tribunal
do Júri ou pelo juiz singular nas hipóteses em que o Ministério Público não tiver recorrido.
 Nesta hipótese, o assistente pode recorrer inclusive extraordinariamente (Súmula
271 do STF).
o O assistente pode recorrer dentro do prazo de 05 (cinco) dias após o término do prazo
recursal do Ministério Público.
o Súmula 208 do STF. O assistente do Ministério Público não pode recorrer,
extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas-corpus.

5
Direito Processual Penal
 O ofendido, seu representante legal, seu cônjuge (ou companheiro), seu ascendente, seu
descendente e seu irmão (CADI).
o O cônjuge, o ascendente, o descendente e o irmão podem recorrer ainda que não tenham
se habilitado como assistentes.
o Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das
pessoas enumeradas no art. 31 (CADI), ainda que não se tenha habilitado como assistente,
poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo (art. 598 do CPP).
 O prazo para a interposição de recurso nestes casos é de 15 (quinze) dias e
somente começa a fluir após o término do prazo concedido ao Ministério Público
(art. 598, parágrafo único, do CPP).

O interesse em recorrer está previsto no art. 577, parágrafo único, do CP, segundo o qual: “não se admitirá,
entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão”.
 Detém interesse de recorrer aquele que foi sucumbente pelo menos em parte da decisão.
 Segundo a doutrina, o réu não tem interesse de recorrer pleiteando a condenação de seu corréu que
foi absolvido.
 Quanto ao Ministério Público:
o Em se tratando de ação penal pública, o órgão ministerial sempre terá interesse recursal,
que seja a sentença condenatória (com o objetivo de obter a absolvição, desclassificação ou
agravamento da pena), quer seja a sentença absolutória (com o objetivo de obter a
condenação).
o Em se tratando de ação penal privada exclusiva e de ação penal privada personalíssima, o
Ministério Público somente poderá apelar em caso de sentença condenatória, com o
objetivo de obter a absolvição do réu, eis que seu interesse se dá na exata aplicação da lei.
Tratando-se de sentença absolutória, o Ministério Público não poderá recorrer em razão de
não possuir legitimidade para intentar ações desta natureza.
 Há de se observar, no entanto, que a interposição de recurso pela defesa, contra a
sentença condenatória, prejudica a pretensão recursal do Ministério Público.
o Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público sempre
poderá recorrer, independentemente da natureza do pronunciamento judicial (art. 29 do
CPP).
 O assistente de acusação pode recorrer demandando o agravamento da pena imposta ao réu.
 O réu pode recorrer da sentença absolutória imprópria.
 O réu também pode recorrer objetivando alterar o dispositivo de fundamento da decisão, a fim de
que a sentença criminal produza efeitos no juízo cível, impedindo, assim, ingresso de ação destinada
a discutir sua responsabilidade civil pelo fato.

Você também pode gostar