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c) A ordem jurídica da União Europeia decorrente do Tratado de Lisboa

manteve a dualidade entre método de integração e método intergovernamental.


Explique em que medida subsiste o método intergovernamental e quais as
suas principais expressões no direito originário vigente.- Subsistência, com o Tratado de Lisboa, no âmbito da PESC, do método intergovernamental,
apesar de eliminação da estrutura de pilares da União introduzida pelo Tratado de Maastricht
(art. 23.º e ss. TFUE);
Com o Tratado de Lisboa, a ordem jurídica da União Europeia passou por várias mudanças, mas em termos da dualidade entre o método de integração e o método intergovernamental, é possível identificar que
o método intergovernamental ainda subsiste em certas áreas da UE. No entanto, é importante destacar que o Tratado de Lisboa buscou fortalecer o método de integração comunitária, ampliando a esfera de
atuação das instituições da UE.
O método intergovernamental na União Europeia envolve a cooperação direta entre os Estados membros, com menos influência das instituições supranacionais da UE. Algumas das principais expressões do
método intergovernamental no direito originário vigente incluem:
De acordo com o Tratado de Lisboa, a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) na União Europeia possui regras e procedimentos específicos, estabelecidos no artigo 24º, nº 1 do Tratado de
Funcionamento da União Europeia (TUE). Essas regras e procedimentos destacam os seguintes quatro traços essenciais que caracterizam o método intergovernamental na PESC:
Predominância dos órgãos representativos dos Estados no processo de tomada de decisão: Na PESC, os órgãos representativos dos Estados desempenham um papel central no processo de tomada de decisão.
O Conselho Europeu, composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados membros, estabelece as diretrizes e os objetivos gerais da PESC. O Conselho da União Europeia, composto pelos ministros dos
governos dos Estados membros, é responsável pela adoção das decisões específicas em relação à PESC.
Maioria de deliberação (em regra a unanimidade): Em geral, as decisões no âmbito da PESC são tomadas por unanimidade. Isso significa que todos os Estados membros devem concordar com uma decisão
para que ela seja adotada. No entanto, em certas situações específicas, o Conselho Europeu pode decidir por maioria qualificada para determinadas ações de implementação da PESC.
Exclusão da adoção de atos legislativos: Ao contrário de outras áreas da União Europeia, na PESC, não são adotados atos legislativos vinculativos. Em vez disso, as decisões adotadas no âmbito da PESC são
consideradas atos juridicamente vinculativos dos Estados membros, mas não têm natureza legislativa. Isso destaca a natureza intergovernamental da PESC.
Competência limitada do Tribunal de Justiça da União Europeia: O Tribunal de Justiça da União Europeia tem uma competência limitada em relação à PESC. O Tribunal não tem jurisdição para pronunciar-se
sobre a validade ou a interpretação das ações adotadas no âmbito da PESC, exceto em circunstâncias muito específicas. Essa limitação reflete a natureza intergovernamental da PESC e preserva a autonomia dos
Estados membros nessa área. (arts. 24.º, n.º 1, 25.º, 31.º e 40.º TUE e 275.º TFUE).
Esses quatro traços essenciais ressaltam a predominância dos Estados membros e a natureza intergovernamental da PESC, nos quais as decisões são tomadas por unanimidade ou por maioria qualificada, não há
adoção de atos legislativos vinculativos e a competência do Tribunal de Justiça é limitada. Esses elementos destacam a especificidade e a autonomia da PESC em relação a outros setores da União Europeia,
onde o método de integração comunitária prevalece.

A estrutura institucional e orgânica da União Europeia afigura-se complexa no


presente: por um lado, integra elementos já presentes nos Tratados de Roma
e, por outro lado, apresenta elementos novos introduzidos pelo Tratado de
Lisboa. Caracterize essa estrutura institucional e tais elementos novos, bem
como as relações interinstitucionais à luz do Tratado de Lisboa, indicando os
princípios de Direito da União Europeia pertinentes.

- distinção entre a estrutura institucional (art. 13.º, n.º 1, TUE) e a estrutura orgânica da União
(no âmbito da PESC e no âmbito das outras políticas e acções da União) – em especial, os
órgãos consultivos (Comité Económico e Social e Comité das Regiões e sua participação no
processo legislativo da União, arts. 300.º, 304.º e 307.º TFUE); os órgãos de fiscalização, em
especial o Provedor de Justiça Europeu (arts. 24.º, par. 3, e 228.º TFUE); os órgãos específicos
de algumas políticas da União (em especial, órgãos do Sistema Europeu de Bancos Centrais, do
sistema europeu de supervisão e a Procuradoria Europeia); outros órgãos e instituições (em
especial a comitologia) e os organismos e as agências da União (exemplos); - as principais
inovações da estrutura institucional da União Europeia introduzidas pelo Tratado de Lisboa: o
Presidente do Conselho Europeu (art. 15.º, n.º 5 e n.º 6, TUE), o Alto Representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (e o Serviço Europeu para a Acção
Externa, art. 18.º e 27.º TUE) – caracterização sucinta, legitimidade e competências principais;
- as relações interinstitucionais, em especial entre o Conselho Europeu e o Parlamento
Europeu em matéria de processo de nomeação e aprovação da Comissão (art. 17.º, n.º 7, TUE)
e de responsabilidade política desta perante o Parlamento Europeu (em especial, moção de
censura - art. 17.º, n.º 8, TUE); entre a Comissão, o Parlamento Europeu e o Conselho no
âmbito do processo legislativo, ordinário e especial (arts. 289.º e 293.º e ss., TFUE); entre o
Presidente do Conselho Europeu em matéria de PESC e o Alto Representante (delimitação
recíproca da competência de ambos, art. 15.º, n.º 6, par. 2, TUE); entre o Conselho e o Alto
Representante (preside ao Conselho dos Negócios Estrangeiros (art. 18.º, n.º 3, TUE); entre a
Comissão e o Alto Representante (um dos Vice-Presidentes da Comissão, art. 18.º, n.º 3, TUE);
- os princípios de Direito da União pertinentes: em especial, o princípio da competência de
atribuição das instituições e dos órgãos da União (art. 5.º n.º 1, TUE); o princípio da
cooperação 2 leal entre as instituições, em particular a celebração de acordos
interinstitucionais (art. 13.º, n.º 2, TUE e 295.º TFUE). I

Na complexa estrutura institucional e orgânica da União Europeia assume


particular relevo, após o Tratado de Lisboa, o Alto Representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. Caracterize a sua
legitimidade, as suas principais competências no quadro daquela estrutura,
bem como as questões jurídicas que a sua especificidade pode suscitar.
- indicação das bases jurídicas que preveem o ARUNEPS (designadamente arts. 15.º, n.º 2,
18.º, 17.º n.ºs 4, 7 e 8, 21.º, n.º 3, 22.º, n.º 2, 26.º, n.ºs 2 e 3, e 27.º do TUE);
- legitimidade decorrente da sua nomeação pelo Conselho Europeu que põe termo ao
mandato (art. 18.º, n.º 1, TUE), da qualidade de mandatário do Conselho na execução da PESC
(art. 18.º, n.º 2, TUE) e da presidência do Conselho dos Negócios Estrangeiros (art. 18.º, n.º 3,
TUE); legitimidade relacionada com a participação do PE no processo que conduz à nomeação
da Comissão e responsabilidade da Comissão - de que o ARUNEPS é um dos vice-presidentes
(art. 18.º, n.º 4, TUE) – perante o PE art. 17.º, n.º 7;
- competências principais: condução da PESC, propostas e iniciativas em matéria de PESC,
execução da PESC, presidência do Conselho dos Negócios Estrangeiros, competências
enquanto presidente da Comissão (arts. 18.º, 24.º, 30.ºTUE), competências específicas no
domínio da PCSD (nomeadamente arts. 42.º, n.º 4, 43.º, n.º 2, 44.º, n.º 1, 46.º);
- questões: em especial, consequências da aprovação da moção de censura à Comissão, face à
sua nomeação pelo Conselho Europeu; repartição de competências de representação externa
com o Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão.
O processo de tomada de decisão sofreu alterações significativas com a
evolução da integração europeia e o modelo que vigorava na Comunidade
Económica Europeia já não corresponde ao previsto nos Tratados em vigor.
Caracterize essas alterações em termos de instituições envolvidas no processo
de tomada de decisão e respectiva competência, de diferenciação de
procedimentos de tomada de decisão e de maiorias de deliberação.
- referência aos principais traços de evolução do processo de tomada de decisão no processo
de integração europeia (desde o modelo do TCEE até ao Tratado de Lisboa) e das
competências da Comissão, do Conselho e do Parlamento Europeu (iniciativa e competência
de aprovação de actos normativos);
- em especial a evolução da competência legislativa do Parlamento Europeu e os sucessivos
processos de tomada de decisão com participação desta instituição: processo de cooperação
(Acto Único Europeu), processo de co-decisão (Tratado de Maastricht) e, com a entrada em
vigor do Tratado de Lisboa, processos legislativos ordinário e especial e respectivas bases
jurídicas (art. 289 TFUE);
- distinção entre processo legislativo ordinário e processo legislativo especial;
- as maiorias de deliberação no Parlamento Europeu e no Conselho no quadro do processo
legislativo; em especial, a evolução das maiorias de deliberação no Conselho (n.º de votos, n.º
de Estados membros e percentagem da população) e o sistema vigente e respectivas bases
jurídicas (arts. 16.º TUE e 238.º TFUE em especial)
- a existência de diversos procedimentos de tomada de decisão em razão dos domínios
materiais abrangidos nas atribuições da União: em especial o caso da Política Externa e de
Segurança Comum, a competência do Conselho Europeu, do Conselho e do Alto Representante
(arts. 26.º, 30.º e 31.º do TUE em especial) e o papel do Parlamento Europeu (art. 36.º do
TUE).
d) Atribuições partilhadas e princípio da subsidiariedade são indissociáveis.
Atribuições partilhadas e o princípio da subsidiariedade estão intrinsecamente ligados no contexto da União Europeia. A União Europeia possui um sistema de atribuições partilhadas, onde certas competências
são compartilhadas entre a União e os Estados membros. Por outro lado, o princípio da subsidiariedade estabelece que a União deve agir apenas quando sua atuação é mais eficaz do que a dos Estados
membros atuando individualmente.
O princípio da subsidiariedade busca garantir que a tomada de decisões ocorra no nível mais adequado, ou seja, no nível em que possa ser realizada de forma mais eficiente e próxima dos cidadãos. Ele
reconhece a importância da autonomia dos Estados membros e a necessidade de respeitar suas competências.
Nesse sentido, o princípio da subsidiariedade está diretamente relacionado às atribuições partilhadas, pois ele determina que a União só deve exercer suas competências quando sua ação proporcionar um valor
agregado significativo em relação às ações dos Estados membros. Isso implica que a União deve respeitar a autonomia dos Estados membros nas áreas em que estes têm competência, intervindo apenas
quando necessário para alcançar objetivos comuns em nível europeu.
Assim, as atribuições partilhadas na União Europeia são moldadas pelo princípio da subsidiariedade, garantindo que as decisões sejam tomadas no nível mais apropriado, levando em consideração a eficiência e
a proximidade com os cidadãos. A combinação desses dois princípios busca alcançar um equilíbrio entre a ação da União e a autonomia dos Estados membros, assegurando uma governança eficaz e
democrática no contexto da integração europeia. (arts. 5.º, n.º 1 e 3, TUE; arts. 2.º, n.º 2 e 4.º, TFUE; Protocolo (n.º 2)

Em 18/04/2022, deliberando de acordo com o processo legislativo ordinário, o


Parlamento Europeu e o Conselho Europeu aprovaram a Diretiva n.º X/2022,
que altera o regime jurídico relativo aos direitos e à defesa dos consumidores,
impondo um prazo de 3 meses para a sua transposição.
Alberto, que pretendia beneficiar de um regime mais garantístico previsto nessa
Diretiva, foi informado do seguinte:
a) Encontra-se em vigor, em Portugal, desde 23/05/2022, uma lei que tem um
conteúdo diferente do previsto na Diretiva, devendo aplicar-se
preferencialmente essa lei, por ser mais recente;
- caracterização da Diretiva como um ato típico (artigo 288.º do TFUE);
- breve explicação das principais características das Diretivas (artigo 288.º, 3.º parágrafo do
TFUE), em especial, da necessidade de transposição das Diretivas dentro do prazo; e
- referência ao facto de ainda decorrer o prazo de transposição da Diretiva e particular
menção à importância do princípio da cooperação leal durante o prazo de transposição, que
obriga a atingir o resultado visado pela Diretiva e de não o tornar impossível o que,
consequentemente, obsta à adoção de medidas que se mostrem contrárias à Diretiva.
b) O Conselho Europeu não pode deliberar de acordo com o processo
legislativo ordinário.
- identificação da matéria em causa: defesa dos consumidores;
- menção ao facto de a matéria relativa à defesa dos consumidores se enquadrar na
competência partilhada da União Europeia e referência aos artigos 4.º, n.º 2, alínea f), 114.º e
169.º do TFUE; - alusão ao artigo 169.º, n.º 3 do TFUE, segundo o qual a regulação da matéria
em causa deve ser realizada na sequência de um processo legislativo ordinário;
- breve explicação do processo legislativo ordinário (artigos 289.º, n.º 1 e 294.º do TFUE); e
- referência ao facto de o Conselho Europeu não ter competência legislativa (artigo 15.º, n.º 1
do TUE)
No dia 22 de maio de 2020, a Comissão Europeia aprovou a Diretiva xx/2020
que inclui uma disposição que impõe aos Estados-Membro a obrigatoriedade
de estabelecer mecanismos de bloqueio de conteúdos digitais potencialmente
violadores de Direitos de autor.
No passado dia 21 de junho de 2022, a Assembleia da República aprovou uma
Lei que visava transpor na ordem jurídica interna a Diretiva xx/2020, a qual
estabeleceu o bloqueio preventivo de todos os conteúdos digitais publicados
nas redes sociais e plataformas de difusão de conteúdos.
D pretende obter resposta às seguintes questões:
a) Poderia a Comissão aprovar a Diretiva?
- Breve caracterização da Comissão europeia (art. 17.º TUE e, em especial, arts. 244.º e ss.
TFUE); - Caracterização do procedimento legislativo ordinário, previsto nos arts. 289.º e 294.º
TFUE; - Conclusão pela legitimidade da Comissão para a apresentação da proposta e do
Parlamento Europeu e do Conselho para a adoção do acto, nos termos do art. 294.º do TFUE;
- É valorizada a identificação da matéria relativa ao funcionamento do mercado interno como
competência partilhada entre os Estados-Membros e a União (alínea a) do n.º 2 do art. 4.º do
TFUE).
b) Poderia ser invocada a disposição da Diretiva antes do dia 21 de junho de
2022 para obrigar uma plataforma de difusão de conteúdos a bloquear uma
música?
- Caracterização da diretiva como acto jurídico da União (art. 288.º TFUE) e identificação das
suas principais características, em especial quanto aos destinatários e prazo;
análise sobre o prazo para transposição de diretivas e a eventual ultrapassagem desse prazo.
As diretivas da União Europeia estabelecem objetivos e resultados a serem alcançados pelos Estados-Membros, mas deixam a cargo desses Estados a escolha dos meios e formas de implementação dessas
medidas em suas legislações nacionais. No entanto, é estabelecido um prazo para que os Estados-Membros transponham as diretivas para suas ordens jurídicas internas.
O prazo para a transposição de uma diretiva é definido no próprio texto da diretiva, podendo variar de acordo com a complexidade do assunto tratado. Geralmente, os prazos são estabelecidos em anos ou
meses a partir da data de adoção da diretiva pela União Europeia.
No entanto, em alguns casos, os Estados-Membros podem enfrentar dificuldades ou atrasos na transposição das diretivas para sua legislação nacional. Isso pode ocorrer por diversos motivos, como falta de
recursos, complexidade técnica, debates políticos internos ou falta de vontade política.
Quando um Estado-Membro ultrapassa o prazo de transposição de uma diretiva, ele está em situação de não cumprimento ou não conformidade com as obrigações estabelecidas pelo direito da União
Europeia. Nesses casos, a Comissão Europeia, como guardiã dos tratados, tem o poder de iniciar um procedimento de infração contra o Estado-Membro infrator.
O procedimento de infração pode resultar em ações judiciais perante o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), que pode impor sanções financeiras ao Estado-Membro por não ter cumprido suas
obrigações de transposição.
O efeito direto horizontal refere-se à capacidade das disposições do direito da União Europeia serem invocadas diretamente por indivíduos em litígios entre particulares. Já o efeito direto vertical refere-se à
capacidade de as disposições do direito da União Europeia serem invocadas diretamente por indivíduos em litígios contra o próprio Estado-Membro.
O princípio da interpretação conforme estabelece que, na medida do possível, as disposições do direito nacional devem ser interpretadas de acordo com o direito da União Europeia, para garantir a coerência e
a conformidade entre as legislações nacionais e as disposições da União Europeia.
No caso concreto apresentado, onde uma plataforma de difusão de conteúdos é obrigada a bloquear uma música com base em uma diretiva, é possível que as partes envolvidas, incluindo a plataforma e os
indivíduos afetados pelo bloqueio, possam invocar esses princípios e a jurisprudência relevante do TJUE para defender seus direitos e interesses.
Um exemplo de jurisprudência relevante é o caso Von Colson (C-14/83), onde o TJUE estabeleceu que os Estados-Membros têm a obrigação de garantir a eficácia dos direitos conferidos pelas diretivas da União
Europeia, inclusive quando aplicáveis a relações entre particulares. Isso pode ter impacto no caso em questão, uma vez que envolve uma relação entre a plataforma (particular) e os indivíduos afetados pelo
bloqueio.
Outro exemplo é o caso Marleasing (C-106/89), onde o TJUE estabeleceu que os tribunais nacionais devem interpretar as disposições do direito nacional à luz do objetivo e do texto das diretivas da União
Europeia. Esse princípio da interpretação conforme pode ser relevante para determinar se a legislação nacional que obriga o bloqueio da música está em conformidade com as disposições da diretiva em
questão.
Em conclusão, a jurisprudência relevante do TJUE, como o caso Von Colson e o caso Marleasing, pode ser invocada para argumentar a favor dos efeitos diretos horizontal e vertical das disposições da diretiva e
para sustentar o princípio da interpretação conforme na resolução do caso em questão. No entanto, é importante ressaltar que a aplicação específica da jurisprudência depende do contexto e dos detalhes do
caso em análise.

a) Pode o Conselho Europeu adoptar actos normativos da União?


- bases jurídicas pertinentes: art. 15.º, 1 TUE, 2º período (segundo o qual o Conselho Europeu
não exerce função legislativa)
- a competência do Conselho Europeu para adoptar decisões no âmbito da PESC (arts. 26.º, 1,
31.º TUE, no âmbito da PESC)
c) Atribuições exclusivas da União não se confundem com a sua exclusividade
de ius tractuum.
As atribuições exclusivas da União Europeia e a exclusividade do ius tractuum (direito de celebrar tratados) são conceitos distintos no contexto da União Europeia.
As atribuições exclusivas da União referem-se às áreas em que a União tem a competência exclusiva para agir, sem a participação direta dos Estados membros. Isso significa que somente a União Europeia tem o
poder de legislar e adotar medidas nesses domínios específicos, sem a interferência dos Estados membros. Exemplos de atribuições exclusivas da União incluem a política comercial comum, a política monetária
(no caso dos países da zona do euro) e a política de concorrência.
Por outro lado, a exclusividade do ius tractuum se refere ao poder exclusivo da União Europeia para celebrar tratados internacionais em nome dos Estados membros. Isso significa que a União é a única entidade
autorizada a negociar e celebrar acordos internacionais em áreas de sua competência exclusiva. Essa exclusividade é importante para garantir a representação unificada da União Europeia no cenário
internacional e para assegurar a coerência e a consistência das relações externas da UE.
Embora ambas as noções envolvam o termo "exclusivo", é importante ressaltar que elas não se confundem. A atribuição exclusiva da União diz respeito à competência legislativa e de ação em áreas específicas,
enquanto a exclusividade do ius tractuum trata da capacidade da União de celebrar tratados internacionais em nome dos Estados membros.
Esses conceitos são fundamentais para o funcionamento da União Europeia como um ator internacional e para a realização de seus objetivos políticos e econômicos.
d) Explique a seguinte afirmação, mencionando a jurisprudência pertinente: “O
princípio do primado não tem consagração nos Tratados em vigor, mas assume
uma relevância fundamental na construção europeia.”
A afirmação de que "o princípio do primado não tem consagração nos Tratados em vigor, mas assume uma relevância fundamental na construção europeia" refere-se ao fato de que o princípio do primado não
está expressamente mencionado nos Tratados da União Europeia, mas é reconhecido e aplicado pela jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).
O princípio do primado estabelece que o direito da União Europeia tem primazia sobre o direito nacional dos Estados membros. Isso significa que, em caso de conflito entre o direito da União Europeia e o
direito nacional, o direito da União prevalece e deve ser aplicado pelos tribunais nacionais. Essa primazia é fundamental para garantir a uniformidade na aplicação e interpretação do direito da União em todos
os Estados membros.
Embora o princípio do primado não esteja explicitamente consagrado nos Tratados da União Europeia, ele foi estabelecido pela jurisprudência do TJUE, em particular no famoso caso Costa/ENEL de 1964. Nesse
caso, o TJUE afirmou que o direito da União Europeia tem uma natureza própria e constitui uma ordem jurídica autônoma, cujos efeitos não podem ser afetados pela legislação nacional dos Estados membros. A
partir desse momento, o princípio do primado passou a ser um princípio fundamental do direito da União Europeia, amplamente aplicado pelo TJUE em suas decisões.
A jurisprudência subsequente do TJUE reforçou e desenvolveu o princípio do primado, estabelecendo que todos os órgãos jurisdicionais dos Estados membros devem garantir a aplicação uniforme do direito da
União e que qualquer disposição do direito nacional que entre em conflito com o direito da União deve ser deixada de lado.
Portanto, embora o princípio do primado não esteja expressamente mencionado nos Tratados da União Europeia, ele adquiriu uma relevância fundamental na construção europeia devido à sua consagração
pela jurisprudência do TJUE. Esse princípio desempenha um papel crucial na garantia da efetividade e da unidade do direito da União Europeia em todos os Estados membros.
- O valor jurídico e a sanção do primado: inaplicabilidade (eficácia) e não nulidade (validade; a
possibilidade de acção por incumprimento por violação do princípio do primado (art. 22.º
TFUE).
Primado direito da uniao euroepia
No contexto da União Europeia, o termo "primado" refere-se ao princípio do primado do direito da União. Esse princípio estabelece que o direito da União Europeia tem precedência sobre o direito nacional dos
Estados membros quando há um conflito entre os dois.
Isso significa que, se uma norma do direito da União entrar em conflito com uma norma do direito nacional de um Estado membro, a norma do direito da União prevalecerá e deve ser aplicada. Os tribunais
nacionais são obrigados a aplicar o direito da União e, se necessário, podem anular leis nacionais que sejam incompatíveis com o direito da União.
O princípio do primado do direito da União é fundamental para garantir a uniformidade e a eficácia do quadro legal da UE. Ele assegura que as regras e regulamentos estabelecidos pela União Europeia sejam
aplicados de forma consistente em todos os Estados membros, promovendo a integração e a coerência jurídica dentro da UE.

Jurisprudência do primado
O princípio do primado do direito da União está fundamentado em várias decisões judiciais proferidas pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), que é a mais alta instância judicial da UE. Existem
diversas jurisprudências importantes que estabelecem e reforçam o princípio do primado do direito da União. Algumas delas incluem:
Caso Costa/ENEL (1964): Nesse caso, o TJUE decidiu que o direito da União prevalece sobre o direito nacional e que os Estados membros não podem invocar disposições de seu direito interno para se recusarem
a cumprir obrigações decorrentes do direito da União.
Caso Simmenthal (1978): Nessa decisão, o TJUE reafirmou o princípio do primado do direito da União e afirmou que os tribunais nacionais têm a obrigação de garantir a plena aplicação do direito da União,
inclusive anulando leis nacionais que sejam incompatíveis com o direito da União.
Caso Internationale Handelsgesellschaft (1970): Nessa jurisprudência, o TJUE afirmou que o primado do direito da União é uma característica fundamental do ordenamento jurídico da UE e que os tribunais
nacionais devem assegurar a sua plena aplicação, mesmo que isso implique invalidar leis nacionais.
Esses são apenas alguns exemplos de casos emblemáticos que estabelecem e reforçam o princípio do primado do direito da União. A jurisprudência do TJUE continua a se desenvolver, consolidando o princípio
do primado como um elemento central do sistema legal da UE.
Cidadania - se se falar das origens, podemos falar do Chen.
Se estiver se referindo à cidadania europeia, as origens podem ser rastreadas até o caso "Chen" ou "Caso Chen Wei Shi" (Chen vs. Secretary of State for the Home Department) em 2004. Esse caso teve um
impacto significativo no desenvolvimento da cidadania europeia e em seu reconhecimento legal.
Chen Wei Shi, um cidadão chinês, residia no Reino Unido e buscava o reconhecimento de seu direito de residir como membro da família de um cidadão da UE. O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
emitiu um veredicto que expandiu a interpretação do conceito de cidadania europeia, afirmando que os membros da família de um cidadão da UE têm o direito de residir no território da UE,
independentemente de sua própria nacionalidade.
Esse caso desempenhou um papel fundamental na consolidação e no reconhecimento dos direitos da cidadania europeia, estabelecendo que a cidadania da UE é uma cidadania autônoma, além da cidadania
nacional dos Estados membros. Ele estabeleceu uma base legal para o reconhecimento dos direitos dos cidadãos europeus e de seus familiares, incluindo o direito de livre circulação e residência dentro da UE.
A partir do caso Chen, a cidadania europeia ganhou destaque e adquiriu uma importância jurídica mais sólida nos tratados da União Europeia, tornando-se um elemento central dos direitos dos cidadãos na UE.

Pilares da União Europeia:


Surgimento - Tratado de Maastricht: Os pilares da União Europeia foram estabelecidos pelo Tratado de Maastricht, assinado em 1992. Esse tratado trouxe importantes mudanças para a UE, incluindo a criação
da União Europeia como uma organização política e econômica mais ampla.
Criação dos Três Pilares: O Tratado de Maastricht estabeleceu três pilares principais da União Europeia:
a) Comunidades Europeias (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço - CECA, Comunidade Econômica Europeia - CEE e Comunidade Europeia da Energia Atômica - EURATOM): Este pilar inclui as instituições e
políticas comuns desenvolvidas pela UE nos campos econômico e comercial. Foi o pilar original que existia antes do Tratado de Maastricht.
b) Política Externa e de Segurança Comum (PESC): Este pilar aborda a cooperação em questões de política externa e segurança entre os Estados membros da UE. Visa promover a coordenação e ações comuns
em relação a desafios e ameaças externas.
c) Cooperação em Justiça e Assuntos Internos (JAI): Este pilar abrange a cooperação entre os Estados membros em áreas relacionadas à justiça, imigração, asilo, controle de fronteiras, combate à criminalidade
transnacional, entre outros.
Regras e Características de cada pilar: Cada pilar possui regras e características específicas:
O primeiro pilar, que engloba as Comunidades Europeias, possui uma estrutura supranacional, com instituições da UE tomando decisões vinculativas para os Estados membros.
O segundo pilar, a Política Externa e de Segurança Comum, é baseado na cooperação intergovernamental, com os Estados membros coordenando suas posições e ações externas.
O terceiro pilar, a Cooperação em Justiça e Assuntos Internos, também é baseado na cooperação intergovernamental, com os Estados membros trabalhando juntos em questões relacionadas à justiça e à
segurança interna.
Influência do Tratado de Lisboa na Despilarização Formal e Não Material : O Tratado de Lisboa, assinado em 2007 e em vigor desde 2009, trouxe mudanças significativas em relação aos pilares da UE. Ele
resultou na despilarização formal, eliminando a estrutura dos três pilares e unificando as políticas da UE em um sistema jurídico único.
No entanto, embora a despilarização formal tenha ocorrido, ainda se fala em despilarização não material porque certas características e diferenças entre os antigos pilares persistem. Embora não existam mais
instituições específicas para cada pilar, as áreas de Política Externa e de Segurança Comum e Cooperação em Justiça e Assuntos Internos continuam sendo distintas em termos de abordagem e práticas de
cooperação intergovernamental. Essas diferenças são reflexo da continuidade das diferentes tradições políticas e práticas entre os Estados membros da UE, mesmo após a despilarização formal.

Cidadania na União Europeia: A cidadania da União Europeia é uma condição adicional à cidadania nacional dos Estados membros. Ela confere aos cidadãos da UE uma série de direitos e benefícios, como o
direito de livre circulação e residência em qualquer Estado membro, o direito de votar e se candidatar nas eleições para o Parlamento Europeu, o direito de petição ao Parlamento Europeu e o direito de ser
protegido pelos consulados de outros Estados membros fora da UE.
Atribuições da União Europeia: A União Europeia possui atribuições específicas que estão definidas nos Tratados da UE. Essas atribuições determinam as áreas de competência em que a União pode atuar e
adotar medidas legislativas. As atribuições da União podem ser exclusivas, quando apenas a União pode legislar, ou compartilhadas, quando a União e os Estados membros têm competências concorrentes.
Exemplos de atribuições da União incluem a política comercial, a política de concorrência, a política de coesão econômica e social, a política agrícola comum e a política monetária (para os países da zona do
euro).
Processo de tomada de decisões na União Europeia: O processo de tomada de decisões na União Europeia envolve várias etapas e instituições. As principais instituições envolvidas são a Comissão Europeia, o
Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia.
A Comissão Europeia é responsável por propor legislação e políticas, bem como pela execução e implementação das políticas da UE. O Parlamento Europeu, eleito diretamente pelos cidadãos da UE, tem
poderes legislativos e de supervisão. O Conselho da União Europeia é composto por ministros dos governos dos Estados membros e é responsável por adotar legislação, juntamente com o Parlamento Europeu,
em muitas áreas.
O processo de tomada de decisões pode variar dependendo da área política. Em algumas áreas, como o mercado interno, o Parlamento Europeu e o Conselho utilizam o procedimento legislativo ordinário
(anteriormente conhecido como processo de co-decisão), em que ambos os órgãos têm poderes legislativos iguais. Em outras áreas, como a política externa e de segurança comum, o Conselho desempenha um
papel predominante e as decisões são tomadas por unanimidade ou por consenso.
Competência das Instituições: No processo de tomada de decisões, cada instituição da União Europeia tem sua competência específica. A Comissão Europeia é responsável por propor legislação e políticas,
assim como pela implementação das políticas da UE. O Parlamento Europeu compartilha o poder legislativo com o Conselho da União Europeia e é responsável por revisar, emendar e aprovar propostas
legislativas, além de exercer o controle democrático sobre outras instituições. O Conselho da União Europeia, composto pelos representantes dos governos dos Estados membros, desempenha um papel
importante na adoção de legislação e na definição de políticas.
Cada instituição tem sua própria esfera de competência e seus poderes são definidos pelos Tratados da UE. O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) é responsável por interpretar e aplicar o direito da UE,
garantindo a conformidade com os tratados e a coerência do sistema jurídico da União Europeia.
É importante ressaltar que a competência das instituições da União Europeia é definida pelos Tratados e pode variar em diferentes áreas de política e tomadas de decisão, buscando equilibrar os interesses dos
Estados membros e das instituições da UE, bem como garantir a participação democrática e a eficácia do processo de governança europeia.

Importância do Processo Van Gend & Loos:


O processo Van Gend & Loos foi um marco na construção do direito da União Europeia. A decisão do Tribunal estabeleceu a natureza supranacional do direito da União, reconhecendo sua autonomia e a
capacidade dos particulares de invocar diretamente as disposições do direito da União perante os tribunais nacionais. Isso fortaleceu a proteção dos direitos individuais e contribuiu para a consolidação do
sistema jurídico da União Europeia.
Na prática, o caso Van Gend & Loos é frequentemente citado como jurisprudência para sustentar que os particulares podem invocar diretamente os direitos conferidos pelo direito da União perante os tribunais
nacionais, sem a necessidade de transposição legislativa pelos Estados membros. Esse princípio tem sido aplicado em diversos casos relacionados a direitos fundamentais, livre circulação de bens e serviços,
liberdade de estabelecimento, entre outros.
Importância do Processo Costa vs. ENEL:
O processo Costa vs. ENEL foi fundamental para estabelecer o princípio do primado do direito da União e reforçar a aplicabilidade direta das normas da União Europeia. Essa decisão teve um impacto
significativo na integração europeia, fortalecendo a natureza supranacional do direito da União e a autoridade do TJUE.
A jurisprudência do processo Costa vs. ENEL tem sido amplamente citada em casos relacionados ao primado do direito da União, conflitos entre o direito da União e o direito nacional, e a obrigação dos Estados
membros de garantir a conformidade de sua legislação com o direito da União. O primado do direito da União continua a ser um princípio fundamental no sistema jurídico da União Europeia, garantindo a
consistência e a coerência da aplicação do direito da União em todos os Estados membros.

Importância do Processo Factortame:


O processo Factortame teve um impacto significativo na jurisprudência do direito da União Europeia. Ele reforçou a aplicabilidade direta do direito da União e o poder dos tribunais nacionais de suspender a
aplicação de legislação nacional que seja incompatível com o direito da União. Além disso, o caso destacou o primado do direito da União, reafirmando que o direito da União tem precedência sobre o direito
nacional dos Estados membros.
A jurisprudência do caso Factortame tem sido amplamente citada em casos relacionados à relação entre o direito da União e o direito nacional, especialmente no que diz respeito à aplicabilidade direta das
normas da União e ao primado do direito da União. Esse caso estabeleceu a autoridade dos tribunais nacionais para garantir a conformidade das leis nacionais com o direito da União e desempenhou um papel
fundamental no fortalecimento do sistema jurídico da União Europeia.

Importância dos Processos Francovich e Bonifaci:


Esses processos tiveram um impacto significativo no estabelecimento da responsabilidade dos Estados-Membros por violações do direito da União Europeia e na garantia de reparação para os indivíduos
prejudicados. Eles destacaram a importância da transposição adequada das diretivas da União e estabeleceram o princípio de que os Estados-Membros podem ser responsabilizados pelos danos causados por
sua não conformidade.
A jurisprudência dos casos Francovich e Bonifaci tem sido fundamental para a aplicação e a proteção dos direitos dos indivíduos no contexto do direito da União Europeia. Esses casos estabeleceram as bases
para a responsabilização dos Estados-Membros e a busca de reparação por danos em situações de não cumprimento do direito da União, reforçando assim a eficácia e a aplicabilidade do direito da União
Europeia.
Importância do Processo van Duyn:
Aplicabilidade Direta das Diretivas: O caso van Duyn consolidou o princípio da aplicabilidade direta das diretivas da União Europeia. Isso significa que os indivíduos podem invocar as disposições de uma diretiva
perante os tribunais nacionais, mesmo que a diretiva ainda não tenha sido transposta para a legislação nacional do Estado-Membro.
Efeito Direto das Diretivas: O TJUE esclareceu que, quando uma diretiva é suficientemente precisa e incondicional, os indivíduos têm direitos que podem ser aplicados diretamente perante os tribunais
nacionais, independentemente da transposição da diretiva para a legislação nacional. No caso van Duyn, a diretiva foi considerada suficientemente precisa e incondicional para conferir direitos individuais que
poderiam ser invocados diretamente perante os tribunais.

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