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RESUMO DAS INSTITUIÇÕES (estão elencadas no art.13.

º TUE)

Como ponto prévio, temos que entender que a União Europeia, na qualidade de
pessoa coletiva, tem a sua vontade formada pelos órgãos que a integram, compostos
pelas pessoas singulares que lá estão. Estes órgãos que vamos agora analisar
obedecem todos a certos princípios fundamentais, dos quais cabe destacar:

 Princípio da atribuição de competências (art.5.º/2 + 13.º/2 TUE) – ou seja, as


instituições apenas têm os poderes que os tratados lhes atribuem;
 Princípios da proporcionalidade e da subsidiariedade – previstos no art. 5º/3
e 4 TUE e explicados no Protocolo N.º 2 Relativo à aplicação dos princípios
da subsidiariedade e da proporcionalidade, com desdobramentos em
decisões do TJUE que vamos ter a chance de estudar;
 Princípio da igualdade – previsto no art. 9º TUE que institui a
cidadania europeia. Impede que as instituições discriminem em
função de nacionalidade;
 Princípio da representação democrática – previsto no art. 10º/3 TUE + a
Comissão que, em sua função de representar a União, representa os
cidadãos da mesma.

Previsões importantes:

Parlamento Europeu (art. 14.º TUE + arts. 223.º a 234.º TFUE)

Este é um órgão com poderes legislativos, de controlo político, orçamental e


consultivo.
Historicamente era composto por representantes de cada EM que eram designados
pelos parlamentos nacionais de cada Estado (art.138.º TCEE).

Contudo, o próprio TCEE previa no art.138.º (3) a vontade de transformar o


Parlamento num órgão que elege os seus deputados por sufrágio direto.

Em 1976 adotou-se o “Election Act”, tendo as primeiras eleições ocorrido em 1979


(com pouca adesão popular).

A história do Parlamento Europeu é uma de constante expansão, em termos de


competência e número de assentos.

Inicialmente o Parlamento apenas tinha poderes meramente consultivos. A partir dos


anos 70’s isso começou a mudar (a partir de 1970 tem o poder orçamental).
Posteriormente, o AUE abriu a porta a uma posição mais forte do Parlamento Europeu
no diálogo interinstitucional, ao criar o procedimento legislativo de cooperação
(permitia ao Parlamento europeu fazer algumas sugestões), até que, a partir de
Maastricht, se criou o procedimento legislativo de co-decisão, que é atualmente o
procedimento legislativo ordinário (arts. 289.º e 294.º TFUE), que exerce
1
conjuntamente com o Conselho .

Hoje em dia, os deputados ao Parlamento Europeu são eleitos pelos próprios


cidadãos europeus (as últimas eleições foram em 2019) e acontecem de 5 em 5
anos.

Atualmente, os tratados preveem que o Parlamento Europeu terá no máximo 751


representantes (750 deputados + 1 Presidente – o sr. David Maria Sassoli). Por força
do Brexit, apenas temos 705 representantes (incluindo o Presidente).

Como é que sabemos quantos deputados elege cada país?

O tratado apenas prevê limites mínimos e máximos. Ou seja, nenhum Estado pode
ter mais de 96 deputados e nenhum pode ter menos de 6 deputados. Isto significa
que a representação dos cidadãos no Parlamento adotou a regra da
proporcionalidade regressiva, ou seja, quanto maior a população de um Estado, mais
2
votos serão necessários para eleger um deputado .

A decisão teve de ser pela regressividade proporcional por estarem aqui dois princípios
em tensão: por um lado, a igualdade democrática (cada cidadão tem igual poder
de voto - uma pessoa, um voto), que ditaria uma regra de proporcionalidade
direta (X

1
A descrição do procedimento legislativo ordinário será feita posteriormente.
2
Ou seja, um eurodeputado alemão precisa de muito mais votos para ser eleito, que um
eurodeputado croata, por exemplo.
votos dariam sempre Y deputados, independentemente do Estado em causa). Na
prática, tal opção significaria que, por cada deputado de Malta (população: 500
mil), teria de haver 160 deputados alemães (população: 80M).

Ora, tal opção seria manifestamente disparatada, precisamente porque não


acomodaria outro princípio: princípio da igualdade entre Estados, segundo a qual
3
cada Estado deveria eleger o mesmo número de representantes .

A solução teve de ser a de um compromisso (ponderativo) entre estas duas. A


lógica diz-de proporcionalidade regressiva pois, quanto menor a população de um
4
Estado, maior poder de voto têm os seus cidadãos .

Contudo, a concreta medida do preenchimento das “quotas” nacionais é algo que


não ficou definido no Tratado. Essa decisão cabe ao Conselho Europeu, após
5
aprovação do PE (art.14.º/2 TUE) .

Competência orçamental → art.314.º TFUE.

Cabe ao Parlamento Europeu eleger o Presidente da Comissão, após a designação


do candidato pelo Conselho Europeu (que delibera por maioria qualificada). O
candidato deve ser votado por maioria absoluta (no Parlamento).

O Parlamento também tem que consentir na escolha dos comissários – o Parlamento


6
verifica a sua idoneidade, o seu passado político, fazem audições individuais

Competências de controlo político:


→ Formular questões orais ao Conselho ou à Comissão.

→ Aprovar moção de censura, por maioria qualificada (art.234.º TFUE), que faz cair a
Comissão (caso seja aprovada).

→ Formar comissões de inquérito, sob proposta de um quarto dos deputados, as


quais se extinguem após a apresentação do relatório final (art.226.º TFUE).

Extras:

→ O PE elege o Provedor de Justiça (art.228.º/1 TFUE – sra. Emily O’Reilly, irlandesa).

→ O PE participa tanto no procedimento de revisão ordinário, como no procedimento


de revisão simplificado (art.48.º TUE).

3
É, no fundo, o que acontece com o Senado norte-americano: cada Estado, independentemente da
sua população, elege 2 senadores.
4
Um cidadão da Malta tem um poder de voto significativamente superior que um cidadão alemão.
5
Portugal tem 21 eurodeputados
6
Esta parte não está nos tratados, mas a prática tem-no revelado. É parecido com o que fazem nos
EUA, em relação aos Juízes do Supremo.
7
→ O PE participa também nas COSAC’s – que são reuniões periódicas entre membros
do PE e parlamentos nacionais (Art.12.º/1 TUE).

→ O PE discute as petições de iniciativa popular.

CONSELHO EUROPEU (ART.15.º TUE + ARTS. 235.º e 236.º


TFUE)

Tem a sua origem nas Cimeiras de Chefes de Estado e de Governo, que ocorrem
desde 1961, data em que se discutiu, pela primeira vez, a entrada do Reino
Unido, por exemplo.

Estas era conferências diplomáticas, que ocorriam à margem das Comunidades


Europeias, nas quais se discutiam assuntos relacionados com a cooperação política.

O Conselho europeu, enquanto instituição (ainda que informal), nasceu na Cimeira


de Paris (1974), na qual os EM’s se comprometeram reunir 3 vezes por ano. Daqui
resultou uma dupla função:

1) Ocupar-se dos assuntos comunitários;


2) Configura-se como o órgão de cooperação política europeia;

O Conselho Europeu vem previsto pela primeira vez no AUE, no seu art.2.º.

Contudo, é apenas com o Tratado de Maastricht (1992) que se consagra uma base
jurídica expressa aplicável ao Conselho Europeu.

Atualmente:

O Conselho Europeu é composto pelo Chefe de Estado ou de Governo de cada


Estado-Membro, bem como pelo Presidente do Conselho europeu (Charles
Michel, belga) e pelo Presidente da Comissão (Ursula Von der Leyen, alemã). O
Alto Representante dos Negócios Estrangeiros (espécie de Ministro dos Negócios
Estrangeiros europeu) também participa dos trabalhos do órgão (Josep Borrel,
espanhol) (art.10.º/2 + 15.º/2 TUE).

Reúne 2 vezes por semestre (art.15.º/3 TUE).

7
Conference of Parliamentary Comittees for Union Affairs of Parliaments of the European Union
Existe, fundamentalmente, para discutir grandes questões de fundo (estão lá
8
reunidas as grandes personalidades da política europeia) .

A principal inovação do Tratado de Lisboa prende-se com o art.15.º/5 TUE:


acabou- se com o sistema das presidências rotativas semestrais – o Presidente do
Conselho europeu é eleito pelo próprio Conselho Europeu para um mandato de
dois anos e meio (maioria qualificada). As funções deste vêm enumeradas no
art.15.º/6 TUE.

A regra de deliberação no Conselho Europeu é a do consenso (art.15.º/4 TUE).


Existem algumas exceções, tais como as previstas nos arts.235.º/3, 236.º/al. a) e b)
TFUE.

O objetivo do Conselho Europeu (art.15.º/1 TUE) acaba por ser parecido com o de
um treinador de futebol: é o Conselho Europeu que decide a tática e a formação,
mas não joga. Ou seja, é o Conselho europeu que decide as grandes linhas e
orientações políticas, que devem motivar a conduta dos restantes órgãos (exemplo:
dar mais ênfase, durante período X, às relações externas da União Europeia com a
Rússia e EUA).

CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA (ART.16.º TUE + ARTS.


237.º a 243.º TFUE)

Não confundir com:


 Conselho Europeu – que expliquei acima;
 Conselho da Europa – que nem é uma instituição da União Europeia.

No Tratado de Roma, o Conselho ficou encarregue da tarefa de garantir que os


objetivos do Tratado seriam alcançados (art.145.º TCEE). Esta tarefa implicava que o
Conselho tinha o papel central nesta altura.
Com a ascensão do PE e do Conselho europeu, esta preponderância foi
consideravelmente limitada. Há hoje um equilíbrio tendencial entre cada instituição.

Forma de atuar/lógica

O Conselho tem uma lógica de funcionamento intergovernamental mitigada: lógica


intergovernamental, na medida em que é composto por um representante de cada
EM a nível ministerial (art.16.º/2 TUE), que atua de acordo com o interesse específico
de cada EM. Contudo, esta lógica encontra-se atualmente mais mitigada, visto que a

8
Querem um exemplo de uma decisão recente? – eis: Conclusões do Conselho Europeu, 10-11 de
dezembro de 2020 - Consilium (europa.eu)
regra de votação é, na maioria dos assuntos, a da maioria qualificada (e não a da
unanimidade).

Composição

O Conselho não tem membros fixos, reunindo-se com 10 formações diferentes em


função da área política agendada. Cada país envia um ministro de tutela da área em
questão.

Por exemplo, quando o Conselho se reúne para debater assuntos económicos e


financeiros (o «Conselho ECOFIN»), é o Ministro das Finanças de cada país que
estará presente. As formações são as seguintes:

1- Agricultura e Pescas;

2- Ambiente;

3- Assuntos económicos e

financeiros; 4- Assuntos Gerais;

5- Competitividade;

6- Educação, Juventude, Cultura e Desporto;

7- Emprego, Política Social, Saúde e

consumidores; 8- Justiça e Assuntos Internos;

9- Negócios Estrangeiros;

10- Transportes, telecomunicações e energia.

Não existe nenhuma hierarquia entre as formações do Conselho, embora o Conselho


dos Assuntos Gerais tenha um papel especial de coordenação e seja responsável
pelos assuntos institucionais, administrativos e horizontais. O Conselho dos
Negócios Estrangeiros também tem um mandato especial.

Qualquer uma das 10 formações do Conselho pode adotar um ato que seja da
competência de outra formação. Por esse motivo, a formação não é mencionada
em nenhum ato legislativo adotado pelo Conselho.

Quem preside às reuniões


O Conselho em que se reúnem os Ministros dos Negócios Estrangeiros é sempre
presidido pelo Alto-Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de
Segurança. Todas as outras reuniões do Conselho são presididas pelo ministro
competente do país que exerce a presidência rotativa da UE (SOMOS NÓSSSS!!!).
Por exemplo, qualquer reunião do Conselho Ambiente que decorra durante o
período em que Portugal assume a Presidência é presidida pelo Ministro português
responsável pela pasta do ambiente.

A coerência dos trabalhos é garantida pelo Conselho Assuntos Gerais, que é


apoiado pelo do comité dos representantes permanentes, composto
pelos Representantes Permanentes dos Estados-Membros junto da UE, que têm o
estatuto de embaixadores.
O Conselho delibera por maioria simples (14 EM’s a favor), por maioria qualificada
9
ou por unanimidade, consoante a decisão a tomar .

O Conselho só pode votar se estiver presente a maioria dos seus membros.

Para serem aprovadas, as decisões requerem geralmente maioria qualificada :

 55% dos países (o que, com os atuais 27 Estados-Membros, equivale a


15 países)
 que representem, pelo menos, 65% da população total da UE.

Para bloquear uma decisão são precisos, pelo menos, 4 países (que representem,
pelo menos, 35% da população total da UE).

 Exceção - assuntos sensíveis, como a política externa e a fiscalidade


exigem a unanimidade (votos favoráveis de todos os países)
 A maioria simples é suficiente quando se vota sobre questões processuais
e administrativas

O que faz o Conselho? Fundamentalmente 5 tipos de atividades:

1- Negoceia e adota a legislação europeia, juntamento com o


Parlamento Europeu, com base em propostas da Comissão Europeia;
2- Coordena as políticas dos países da UE;
3- Define a política externa e de segurança, com base nas orientações
do Conselho Europeu;
4- Celebra acordos entre a UE e outros países ou organizações
internacionais; 5- Aprova o orçamento da UE em conjunto com o Parlamento
Europeu.

O Conselho tem um Secretariado, que exerce uma função auxiliadora muito útil.
Antes sequer de haver uma reunião presencial dos Ministros, que vão lá votar
determinadas propostas, o trabalho que estar já quase todo feito.

9
Cerca de 80% dos assuntos são votados de acordo com a regra da maioria qualificada.
Este trabalho antes da reunião é desenvolvido pelo secretariado e pelas
representações permanentes em conjunto com os técnicos nacionais que estavam a
trabalhar nesse dossier em concreto. São as reuniões preparatórias das reuniões do
Conselho, também designadas por reuniões do COREPER (Comité dos
Representantes Permanentes), que se reúne a 2 níveis: o COREPER 1 e o 2.

COREPER 1: representantes permanentes e embaixadores do Estado.

COREPER 2: os técnicos de cada representação permanente – nestas reuniões


discutem-se os detalhes que estão em cima da mesa, onde se anuncia as
posições dos EM’s. Vai-se decidindo e negociando, depois passa para os
embaixadores e finalmente para a reunião do Conselho.

Finalmente, na reunião dos Ministros, estes vão ser confrontados


fundamentalmente com 2 listas: uma lista que tem aquelas propostas legislativas
que não suscitaram qualquer controvérsia (em que se chegou a acordo no
COREPER) e outra em que não se chegou a acordo, sendo necessário uma
discussão aprofundada. A primeira é aprovada, a segunda vai ser discutida.

COMISSÃO EUROPEIA (art.17.º TUE + arts. 244.º e ss. TFUE)

A Comissão é o que poderíamos chamar de executivo da União, tendo como primeiro


objetivo proteger os interesses gerais da UE. Ela é dividida em áreas de atuação
encabeçadas por comissários liderados pela Presidente da Comissão Europeia –
atualmente Ursula Von der Leyen – que é eleita pelo Parlamento Europeu sob
proposta do Conselho, depois os outros comissários são escolhidos por comum
acordo entre o Presidente-eleito da Comissão e o Conselho, havendo um Comissário
10
por país .

A Comissão, uma vez que representa a União propriamente dita entre as instituições
europeias, age com total independência das outras instituições, não podendo
nenhum comissário ser pressionado pelo seu Estado de origem – tanto que eles
apenas podem ser retirados de seus cargos pelo Parlamento.
O art.17 (3) TUE estabelece o caráter independente que deve pautar a ação dos
comissários:

10
A comissária portuguesa é a Sra. Elisa Ferreira (antiga ministra de governos do PM António
Guterres)
«(…) os membros da Comissão não solicitam nem aceitam instruções de nenhum
Governo, instituição, órgão ou organismo. Os membros da Comissão abstêm-se de toda
e qualquer ação que seja incompatível com os seus deveres ou com o exercício das suas
funções.»

Os EM’s têm o dever de respeitar esta independência (art.245.º TFUE).

Qual o critério para escolher os Comissários?

R: (art.17.º (3) TUE) Os membros «da Comissão são escolhidos em função da sua
competência geral e do seu empenhamento europeu de entre personalidades que
ofereçam todas as garantias de independência».

O que acontece se se considerar que o comissário X deixou de preencher estas


garantias?

R: Ao abrigo do disposto nos arts. 245.º e 247.º TFUE, tal pode levar o TJUE a
demitir compulsoriamente esse comissário, sob proposta do Conselho (que vota
nesta matéria por maioria simples), ou pela própria Comissão.

Como é que a Comissão surge? É complexo. Primeiro surge a Presidente e


só depois o resto da equipa.

Após as eleições europeias (que surgem de 5 em 5 anos, a última aconteceu em 2019),


o Conselho Europeu, de acordo com a representação parlamentar, escolhe uma
11
personalidade do partido mais representado para encabeçar a Comissão, para ser
presidente, após deliberação por maioria qualificada. Esta candidata (em 2019,
aconteceu a atual Presidente Ursula Von der Leyen) tem de ser escrutinada e
votada (por maioria absoluta) no PE. Caso seja chumbada, o Conselho deve
designar um outro candidato e o procedimento repete-se.

Caso seja aprovada, continua-se o caminho. O resto da equipa é decidida de comum


acordo entre a Presidente e o Conselho, que adotam uma lista de nomes que
pretendem que sejam nomeados. Essa lista é sujeita a um voto de aprovação no PE.
Com base nessa aprovação, a Comissão é nomeada pelo Conselho Europeu,
deliberando por maioria qualificada (art.17.º (7) TUE.

A Presidente da Comissão é claramente preponderante. Os membros da Comissão


exercem a função que esta quiser e a tarefa até pode ser alterada a meio do percurso
(art.248.º TFUE).

Além disso, os poderes da Presidente da Comissão vêm enumerados no art.17.º (6)


TUE.

11
Atualmente, o partido mais representado é o Partido Político Europeu (PPE) (centro-direita), que
conta com 187 eurodeputados.
A estes três poderes acresce um quarto, não expresso nos Tratados, mas sim no
regulamento interno da comissão europeia (art.3.º): a Presidente representa a
12
comissão .

A Comissão exerce fundamentalmente, duas funções (que podem ser três, depende
13
da perspetiva (art.17.º (1) TUE) .

1. Adotar as medidas necessárias à promoção do interesse geral da União;

A Comissão deve ser o motor da União Europeia. Para cumprir este papel, a Comissão
14
tem o direito (quase) exclusivo de iniciativa legislativa (art.17.º (2) TUE) .

Acontece também várias vezes que os relatórios de que vos falei a semana passada
(ex: relatório “White Paper” de 1985) são levados a cabo por ação da Comissão.

2. Garantir a aplicação dos Tratados;

Esta função confere um leque abrangente de poderes, quer legislativos ou executivos.

A Comissão pode adotar atos para executar os Tratados, ou seja, pode adotar
direito secundário (apenas em certas áreas, calma – art.106.º (3) TFUE p.e.).

A Comissão também deve velar pela proteção dos Tratados (neste sentido se diz
por vezes que a Comissão é a guardiã dos Tratados). Em certas áreas (como, por
exemplo, a área do Direito da Concorrência) a comissão tem o poder de sancionar
quem tenha infringido os Tratados (art.105.º (1) TFUE). Estas são sanções
administrativas impostas aos Estados-Membros infratores.

Noutras áreas, a Comissão atua como a Procuradora da União Europeia. Quando


verifica uma infração, notifica o EM da sua infração, através de um parecer
fundamentado sobre o assunto, no qual fixa um prazo para a o EM cumprir, findo o
qual assiste à Comissão direito a recorrer ao TJUE (art.258.º TFUE).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (art.19.º TUE


+
art. 251.º e ss. TFUE)

O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE ou Tribunal) é o órgão jurisdicional da


União, tendo como função geral a interpretação dos Tratados (art.19.º (1) TUE) e a

12
Se tiverem interesse em ver quais as orientações definidas pela Comissão Von der Leyen: Ursula
von der Leyen | European Commission (europa.eu)
13
Tem mais funções, estas duas são apenas as duas mais relevantes.
14
Se quiserem uma exceção, consultem o art.76.º/al. b) TFUE, relativo a medidas na área de
cooperação judiciária em processos criminais.
consequente validade de atos da União em relação aos mesmos, a conformidade
de atos nacionais aos mesmos ou a validade do comportamento de determinada
instituição ou Estado-Membro com os mesmos. Desta forma, o Tribunal aprecia três
tipos de ação:

 Ação de incumprimento promovida pela Comissão ou por um ou mais EM


contra outro EM por uma ação ou omissão contraria aos tratados (art. 258º
a 260º TFUE);
 Ações de anulação movidas contra atos da União (263º/2º paragrafo) ou ações
de incumprimento pela omissão de uma ação por uma instituição da UE (art.
263º a 266º TFUE);
 Questões prejudiciais colocadas por tribunais nacionais relativas a como
deve ser interpretado o direito europeu de forma a que tais tribunais possam
auferir a conformidade do direito nacional com o europeu (art. 267º TFUE).

Arquitetura judicial:

Inicialmente, apenas existia uma instância, pela qual passavam todos os litígios
relativos à interpretação e validade do DUE (chamava-se apenas “Tribunal de Justiça”).
O Tribunal começou a ficar entupido e pediu que se criasse um “assistente” judicial:
foi assim que, em 1986, por mão do AUE, que surgiu o então “Tribunal de Primeira
Instância” (atual Tribunal Geral), que analisava os litígios em primeira instância,
assistindo o direito de recurso para o Tribunal de Justiça a ambas as partes.

Com o atual Tribunal de Lisboa, o nome mudou para Tribunal Geral, visto que não
é sempre o tribunal de primeira instância, já que, a partir de 2005, passaram a existir
15
tribunais especializados, dos quais cabe recurso para o Tribunal Geral (na verdade
16
só existe um acho eu: o Tribunal da Função Pública da União Europeia ).

15
Art.256.º (2) TFUE.
16
Durante vários anos tentou-se criar o Tribunal Unificado de Patentes, mas acho que nunca chegou
a existir, sobre este problema podem ver se quiserem: Visão | O pesadelo do Tribunal Unificado de
Patentes (sapo.pt)

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