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ESPÍNDOLA, Iago Juntai.

“A cláusula de barreira e o sistema eleitoral alemão: modelos à


reforma do sistema eleitoral brasileiro”. TCC (graduação) - Universidade Federal de Santa
Catarina. Centro de Ciências Jurídicas. Orientador: Mezzaroba. 2016

Siglas:
CDU – União Democrata-Cristã (Christlich Demokratische Union Deutschlands).
CSU – União Social-Cristã (Christlich-Soziale Union in Bayern)
FDP – Partido Liberal (Freie Demokratische Partei).
SPD – Partido Social-Democrata (Sozialdemokratische Partei Deutschlands).

Sistemas eleitorais

Classificação dos sistemas eleitoras.

Cada ordenamento jurídico entende o sistema eleitoral doméstico de uma maneira específica.
Ainda assim, há duas grandes famílias: as constituições que determinam a regulamentação dos
sistemas eleitorais através da legislação infraconstitucional e as que optam pela
constitucionalização dos sistemas eleitorais (p. 11). As que optam por manter no âmbito
infraconstitucional, têm menos requisitos legais para alterações em seu texto, o que é - pelo
autor - entendido como positivo. Entre os países que adotam esse tipo de característica, estão
Alemanha, França, Itália e Suécia. No Brasil, na Espanha e na maioria das democracias
ocidentais, o sistema eleitoral está previsto na Constituição, o que gera uma maior restrição à
modificações (p. 12). O sistema alemão, a partir de 1949, é considerado por Nicolau (2004)
como um sistema eleitoral misto (p. 21).

O sistema eleitoral alemão

Citação direta: No ano de 1902, o jurista e cientista político austro-húngaro Siegfried


Geyerhahn elaborou o mecanismo de regulação eleitoral que viria a ser adotado pela
Alemanha como matriz de sua engenharia institucional, o qual combinava a exigência: i) da
responsabilidade pessoal recíproca entre representante e eleitor (crente que só a proximidade
entre ambos, assegurada pelos colégios uninominais territorialmente restritos, realizaria); ii)
de representação política das diferentes tendências e projetos políticos nacionais através dos
partidos, sem exclusão de quaisquer alternativas e segundo uma representação proporcional
rigorosa, que só a possibilidade de que os grupos minoritários se aglutinaram para além dos
limites do colégio uninominal poderia produzir (TAVARES, 1994 apud ESPÍNDOLA, p. 37).

Um dos fatores apresentados para o desenvolvimento do sistema político alemão é o produto


da República de Weimar em 1919 e sua extrema proporcionalidade (p. 39), levando à extrema
fragmentação.

Na primeira eleição alemã, que ocorreu em 1949, foram 400 deputados eleitos, 60% por
sistema majoritário de maioria relativa e 40% com o sistema proporcional (p. 39). O eleitor
possuía apenas um voto e decidia se ia votar em um candidato, despejando seu voto no
majoritário, ou na lista partidária. A fórmula era a D’Hondt (p. 40), a mesma utilizada no
Brasil para preencher o Legislativo. Em 1953 foi aprovado o voto duplo (p. 42). Além disso, a
lei estabeleceu percentuais iguais para o preenchimento de cadeiras, 50% para cada sistema
(p. 42). Em 1956, novas mudanças foram realizadas. O número de cadeiras que cada estado
tinha direito, antes estabelecido de forma estadual, agora é nacionalizado. Em seguida, a
cláusula de 5% é estabelecida. Em 1956, a fórmula do sistema proporcional é alterada. Antes
do D'Hondt, agora é estabelecido o método Hare-Niemeyer (p. 43).

Citação direta: “Quanto ao método de Hare-Niemeyer, ele funciona da seguinte maneira: i)


divide-se o número total de votos válidos na circunscrição eleitoral pelo número de mandatos
estabelecidos para esse círculo, obtendo-se como resultado o quociente eleitoral; ii) em
seguida, divide-se o montante de votos obtidos por cada partido pelo quociente eleitoral, o
número inteiro obtido por esta divisão representa o número de cadeiras as quais o partido tem
direito; iii) por fim, sobrando assentos não preenchidos pelos partidos, estes serão atribuídos,
por ordem decrescente, aos partidos que possuírem mais votos residuais, ou seja, àqueles
votos que não foram suficientes para conquistarem um mandato. (p. 43).

Em 1990, aconteceu a reunificação alemã. Dentre as alterações, aconteceram mudanças nas


legislações eleitorais, mas, que em maior parte, restringiram-se as eleições de 1990 (p. 45).

Em maio de 2013, uma nova reforma eleitoral foi realizada no sistema eleitoral. Ainda assim,
características chaves do sistema se mantiveram inalteradas. Entre as citadas por Nohlen
(2015 apud Espíndola, 2016, p. 46) estão as: “i) divisão territorial do país em 299
circunscrições uninominais e 16 circunscrições plurinominais; ii) sistema combinado de
representação proporcional; iii) não se alterou o número de membros do Bundestag (598); iv)
continuou-se a ter dos dois votos, o primeiro para o candidato e o segundo para a lista do
partido; v) a segunda votação continuou determinando quantos deputados cada partido enviará
ao parlamento” (p. 46-47). Mas, ainda com a reforma, o sistema alemão manteve seu caráter
proporcional.

Citação direta: “A proporcionalidade do sistema alemão está vinculada à representação dos


países federados a nível nacional e ao voto em lista (überhangmandate). Assim, conectando-se
as listas partidárias de diferentes Länder, o que até então era a base da distribuição
proporcional do sistema eleitoral alemão, aplica-se o método Sainte-Laguë/Shapers, sem
qualquer compensação de possíveis assentos excedentes no plano das circunscrições
plurinominais” (p. 47).

Eleições para Kanzler - Chanceler

O maior cargo alemão é o de chanceler (ou primeiro-ministro), resultado das eleições


legislativas - eleições indiretas. “ Segundo Oliveiro e Volpe (2007, p. 184) “A Grundgesetz de
1949 criou uma forma de governo racionalizada, que garante ao Chanceler Federal uma
posição de notável importância e reforça a estabilidade do executivo” (p. 48).

Antes das eleições legislativas, os partidos já devem ter definido seus candidatos para o cargo
de chanceler. O partido que obteve a maioria dos assentos no Parlamento, garante a escolha
do chanceler (p. 48). Conforme apresentado pelo autor, desde o fim da Segunda Guerra
Mundial, somente o SPD e o CDU/CSU tiveram chances de ter seus candidatos viáveis a
ocupar o cargo de primeiro ministro (p. 48). Desde 1945, 5 foram do CDU e 3 do SPD.

Cláusula de barreira

Citação direta: “As barreiras jurídicas se referem somente ao partido em questão, não ao
candidato individual (de um partido), que no caso de uma vitória em sua circunscrição
eleitoral (por exemplo, no caso da atribuição de um determinado número de assentos diretos
de acordo com o método de maioria relativa em circunscrições uninominais) mantém o seu
assento, independentemente de que seu partido, em conjunto, tenha podido ou não superar a
barreira legal correspondente. Ao contrário de barreiras naturais que surgem e variam segundo
o tamanho das circunscrições, as barreiras legais estão definidas artificialmente.” (NOHLEN,
2015, p. 15 apud ESPÍNDOLA, 2016, p. 49).

Na Alemanha, a cláusula de barreira foi inserida no ordenamento jurídico em 1949 para evitar
a fragmentação partidária e “Obstar a ascensão de ideologias extremas e fortalecer a
governabilidade” (p. 51). Na Alemanha, com a cláusula, o sistema ficou dividido em seis
partidos: CDU, CSU, SPD, Partido Verde, À Esquerda e Partido Liberal (p. 51). O
funcionamento da cláusula de barreira foi deferido pelo Tribunal Constitucional alemão em
1957 a fim de valorizar a governabilidade (p. 53).

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