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ELEITORAIS
1. Observação inicial
r
Não é fácil sistematizar, em breve apanhado, a larga e con-
trovertida matéria que o tema proposto envolve, abrangen-
do os partidos políticos e sua situação atual, em nosso país,
dentro das linhas da Emenda Constitucional n. O 1, de 1969.
Impossível seria fazê-lo, se estendêssemos nossas inda-
gações até o debate teórico e doutrinário que em tôrno dêle
se trava. Aí, confessemos, a sistematização venceria o nosso
esfôrço mais intenso e concentrado, tais os aspectos, matizes
e peculiaridades que cada organização nacional apresenta.
Tomem-se os tratados mais afamados, os sistematizadores
mais lúcidos e isto se comprovará.
Façamos, pois, apenas, algumas observações prelimi-
nares para chegar à análise do texto constitucional vigente
no Brasil.
2. Surgimento dos partidos
O próprio surgimento dos partidos politicos suscita contro-
vérsia: se Erskine May vai buscá-lo no reinado de Isabel da
Inglaterra, em 1558-1603, Rudlin e Munro a encontram,
lembram Afonso Arinos de Mello Franco (História e teoria
do partido político no direito constitucional brasileiro. p. 9)
3. No Brasil
Entre nós, no Brasil, iríamos encontrar o aparecimento, dos
partidos em feição determinada, em 1838, no fim da Regên-
cia, quando conservadores e liberais se estruturaram.
Daí por diante, assumindo denominações diversas, si-
tuação e oposição vestiram roupagens várias e ganharam
nomes diferentes, ainda que nem sempre defendendo con-
junto harmônico, homogêneo e sistemático de princípios, aos
quais se considerassem jungidos, ou que devessem executar
ao galgar o poder.
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Pelo contrário, assinalou-o Holanda Cavalcanti (in Afon-
so Arinos, op. cit., p. 42), ao dizer que nada mais parecido,
com um "saquarema" (conservador) do que um "luzia" (li-
beral) no poder, como, em nossa realidade recente o repe-
tiria, ao afirmar, não sem maldade, que nada mais parecido
com um pessedista do que um udenista no poder ...
4. Caracterização no regime democrático
Escapa às preocupações dêste breve e sumário croquis a de-
finição de partido político, ou a análise de sua natureza jurí-
dico-política. A Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei
n. o 4740, de 15-7-1965) caracterizou-os como "pessoas jurí-
dicas de direito público interno", que se "destinam a asse-
gurar, no interêsse do regime democrático, a autenticidade
do sistema representativo" (art. 2.°), adquirindo personali-
dade jurídica com seu registro no Tribunal Superior Eleitoral
(art. 3.0) e exercendo sua atuação dentro de programa apro-
vado (art. 4.°).
Dessa caracterização pode-se ver a importância que as-
sumem. Vale repetir:
"destinam-se a assegurar, no interêsse do regime democrá-
tico, a autenticidade do sistema representativo".
Tanto mais autênticos, pois, mais representativos da
vontade dos eleitores que os integram, mais autêntico o re-
gime e mais verdadeira a democracia a que servem.
Compreende-se, por isso, o interêsse superior funda-
mental que deve presidir à sua criação e à regulamentação
jurídica de suas atividades: dêles depende a existência do
regime democrático, na própria afirmação legal.
E, em verdade, assim é: não é possível falar-se em de-
mocracia - modernamente - representativa, onde os par-
tidos não representem a vontade do país; o que só pode
ocorrer onde o povo que se inscreve e atua nos partidos seja
parcela verdadeiramente representativa de todo o povo.
Se os partidos não congregam a maioria, e maioria con-
siderável do povo, ou porque a êles não filiar-se quis ou não
pôde filiar-se, porque para isso não tinha as condições legais
(entre nós, por exemplo, por analfabetismo), não há como
falar em regime democrático autêntico: não há autêntica
representação do povo, finalidade a que se destinam.
Os Partidos Políticos 7
5. Partido?
Mas, partido, partidos? Quantos: um, dois, vãrlos, mui-
tos?
O problema tem sido objeto do estudo dos teóricos, da
apreciação dos homens públicos, e, como assinala Duverger
(Les partis politiques. p. 236), "caiu no domínio público".
Themístocles Cavalcanti, em seu estudo sôbre Os parti-
dos políticos (in: Cinco estudos. p. 21 e seg.), distingue "três
sistemas partidários, conhecidos da época presente: primeiro,
o partido único, segundo, o sistema bipartidário e terceiro, o
sistema multipartidário".
O primeiro, diz, "não obedece às exigências democráti-
cas. A concentração do poder político se realiza integralmen-
te pelo monopólio político do partido, que também tem o
monopólio ideológico".
"O regime dos dois partidos", assinala em outra passa-
gem, Ué preferido pelos países anglo-saxônios menos por uma
imposição legal, que ali geralmente não existe, do que pelo
costume, pela tradição, pela formação mental, pela educação
dêsses povos."
UA terceira solução", acentua, Ué multipartidária, sistema
preferido dos países latinos, onde o espírito domina a própria
realidade política, e, a capacidade para estabelecer as nuan-
ces dos diferentes sistemas, levou a esta complicação parti-
dária, que encontramos notadamente na França e no Brasil.
O sistema multipartidário permite o funcionamento de par-
tidos com um mínimo de exigências, alimentada essa situação
por um sistema eleitoral de base proporcional que permite
uma representação política com um número restrito de vo-
tos" (p. 26).
Maurice Duverger (Sociologie politique. p. 358 e seg.)
ao analisar a estrutura dos partidos, diz que é preciso consi-
derá-la sob diferentes pontos de vista: ideologia, infra-estru-
tura social, estrutura, organização, participação, estratégia.
Cuidando de sua organização interna distingue: os partidos
de quadros, os partidos de massa e os tipos intermediários,
ou partidos indiretos. E analisando, a seguir, os sistemas de
partidos adota a classificação de sistemas pluralistas de parti-
dos e sistemas de partido único.
Não nos detemos na exposição do pensamento do ilustre
professor francês porque dela se verifica apenas como a
matéria é insuscetível de prender-se a esquemas rígidos, tais
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as distinções e subdistinções que comporta: e isso se eviden-
cia logo no início de seu livro sôbre partidos políticos quando
êle expõe aquela contradição fundamental: "é impossível
descrever seriamente os mecanismos comparados dos parti-
dos políticos, mas é indispensável fazê-Io" ("Les partis poli-
tiques. p. 7).
A dificuldade de sistematização explode mesmo nos sis-
temas aparentemente simples: nos Estados Unidos, por
exemplo, parecendo existir regime multipartidârio, pois xis-
tem vários partidos, na sua expressão nacional êsses restrin-
gem-se aos dois tradicionais - democrata e republicano.
Mesmo entre os dualistas, há tipos a considerar, ainda
que se considere o bipartidismo como especificamente anglo-
saxão. E ainda assim o dualismo inglês e o dualismo norte-
americano se opõem quanto à estrutura dos partidos: na
Inglaterra, uma grande concentração (menor entre os con-
servadores do que entre os trabalhistas). Nos Estados Uni-
dos, grande independência entre os comitês.
Duverger considera um caráter natural do bipartidismo
- o dualismo das tendências.
Já o multipartidismo é de difícil tipologia, assumindo
as formas mais variadas, desde três partidos até outras for-
mas inumeráveis: o tripartidismo francês de 1945; o tripar-
tidismo belga tradicional; o quadripartidismo escandinavo
etc.
6. Organização partidária e regime eleitoral
Influi nessa organização e nesse sistema - o regime eleito-
ral. É a realidade que Duverger repete, mais de uma vez (p.
234-5) :
"parmi les facteurs généraux, le régime électoral est le plus
important ... "
"Sur le nombre, la dimension, les alliances, la représenta-
tion, son action est prépondérante. Inversement, le systême
des partis joue un rôle capital sur le régime électoral:
le dualisme favorise l'adoption d'un scrutin majoritaire à
un tour, l'existance de partis à structure de Bund en écarte,
la tendance naturelle aux alliances s'oppose à la représenta-
tion proportionnelle, etc. En définitive, systême de partis et
systême électoral sont deux réalités indissolublement lieés,
partois même difficiles à séparer par l'analyse; exactitu-
de plus ou moins grande de la représentation polltique, par
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exemple, dépend du systême électoral et du systême de
partis, considérés comme éléments d'un même complexe, ra-
rement isolables l'un de l'autre. On peut schématiser l'in-
fluence générale du mode de scrutin dans les trois formules
suivantes; 1.0 la répresentation proportionneIle tend à
un systême de partis multiples, rigides, indépendants et stables
(sauf le cas de mouvements passionnels); 2.° le scrutin ma-
joritaire à deux tours tend à systême de partis multiples,
souples, dépendants et relativement stables (dans tous les
cas); 3.° le scrutin majoritaire à tour unique tend à un
systême dualiste, avec alternance de grands partis indépen-
dants. Mais ces propositions três générales définissent seul e-
ment les tendances de bases; eIles sont loin d'englober toutes
les influences du régime électoral sur les systêmes de partis".
(234-5).
Desta forma, os regimes eleitorais passam a representar
base de autenticidade da representação: os processos, meios
e métodos utilizados para colhêr, aferir e expressar a von-
tade dos representados - os cidadãos.
Os sistemas eleitorais fixam os processos pelos quais se
expressa a vontade do povo, que, colhida nos pleitos, vai
servir para demonstrar a orientação que, na democracia,
deve ser imprimida ao Govêrno.
Da excelência, pois, dêsse sistema - a excelência medi-
da pela aptidão a colhêr e expressar aquela vontade - vai
depender o regime democrático.
Estabelece-se, desta forma, vínculo indestrutível entre
regime democrático, partidos políticos e sistemas eleitorais:
só é possível democracia, sem mais palavra, onde há partidos
políticos que, pela existência de sistema eleitoral racional,
permitem a autenticidade do conhecimento da vontade do
eleitorado, que por sua vez é parcela considerável do povo.
7. No Brasil
Dito isso, elementarmente dito, compreende-se, em análise
objetiva, porque as coisas sempre andaram tão mal no Brasil:
porque nossa democracia nunca passou de planta tenra, e,
ainda assim, freqüentemente podada, ou arrancada pela
raiz, renascendo por milagre de fertilidade do solo moral do
país em que, graças a Deus, é nativa; porque nossos parti-
dos foram sempre tão fracos, inexpressivos e de duração tão
curta, e porque nossos sistemas eleitorais nunca atingiram
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a racionalidade que permitiria a autenticidade da represen-
tação.
Parte-se, desde logo, da premissa do analfabetismo na-
cional, cujos índices invalidam qualquer tentativa de au-
têntica expressão da vontade nacional.
Atinge-se, em seguida, o difícil obstáculo a transpor do
sistema eleitoral a ser adotado, e, naturalmente, chega-se à
debilidade dos partidos políticos.
A parte o problema do analfabetismo, que escapa à nossa
abordagem nesse estudo, e em que não há controvérsia pos-
sível, a natureza do sistema eleitoral apresenta-se como
questão maior.
O grande problema é estruturar um sistema eleitoral
que assegure o pronunciamento livre e autêntico dos elei-
tores. Vale dizer: que impeça a fraude; que não permita
a corrupção; que coíba o abuso de poder; que, enfim,
assegure que a expressão das urnas é a vontade real do eleito-
rado, e, como tal, o povo.
Não é de agora a luta por essa aspiração. A ela, esta-
distas e doutores dedicaram-se sempre, elaborando sistemas,
comprovando-os, testando, na ânsia de atingir aquêle desi-
deratum.
8. Sistemas eleitorais
Afonso Arinos (Curso de direito constitucional brasüeiro. v.
l, p. 137.) assinala que "todos êles, por diferentes que sejam,
se distribuem em dois grandes grupos: o que procura· defen-
der o govêrno das maiorias e o que procura resguardar a re-
presentação das minorias. Pode-se dizer, acentua, que o pri-
meiro grupo tem mais em vista a formação e eficiência dos
governos, enquanto o segundo visa fortalecer a liberdade e a
justiça na distribuição do poder político".
Compreende-se assim a impossibilidade de atingir o
ideal de assegurar as duas metas, igualmente nobres e
justas.
Chega-se, então, de um lado, ao sistema majoritário,
procurando atender àquela vocação para o predomínio de-
mocrático das maiorias, assumindo a solução várias formas,
de acôrdo com o cargo em disputa e as conveniências.
Mas, de outro lado, a vocação não menos democrática
para a defesa dos direitos das minorias, levaria ao sistema
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da representação proporcional, desde 1859, proposto por
Thomas Hare e que teve ampla repercussão.
Se o princípio majoritário se impõe nas eleições em que
há um único pôsto a preencher, a vocação para a proporcio-
nalidade agiganta-se quando se trata do preenchimento si-
multâneo de vários cargos disputados por elementos de mais
de um partido.
Georges Burdeau (Traité de Science Politique, 4 (163):
p. 282.) assinala que
"il est admis que la représentation proportionnelle est seule
apte à satisfaire à la fois la justice électorale en donnant
à chaque tendance la représentation à la quelle lui donne
droit son importance, et l'exactitude de la reproduction par
le Parlement des aspirations de l'opinion".
E afirma ainda:
"Avec la R. P. en effet chaque parti de quelque ampleur
a des chances d'obtenir des siêges sans être pour autant
contraint à sacrifer la pureté de sa doctrine par l'adhésion
à quelconque coalition."
Se bem que o princípio não seja de exatidão absoluta
- e Burdeau o frisa, em nota - verdade é, que isto se en-
tendeu entre nós.
O inegável - e desejamos salientar, por ora - é a in-
fluência do sistema eleitoral sôbre os partidos, sôbre o pró-
prio regime eleitoral.
9. Evolução no Brasil
Entre nós, êsses problemas têm andado mesclados de tal
forma, que é impossível cindi-Ios e se faz mesmo difícil sis-
tematizá-lo.
Nossa primeira República - a de 1891 - "com seu es-
pírito exageradamente federalista e presidencialista", diz
Paulino Jacques (Curso de direito constitucional. p. 116),
"embaraçou a organização dos partidos nacionais".
Vivemos, durante meio século da República, no regime
dos partidos estaduais vinculados a tendências regionais
quando não apenas locais.
Lembra Paulino Jacques, que dois partidos nacionais se
constituiram após 1930, "com ideologia, programa e plano
de ação perfeitamente definidos: o Partido Comunista do
Brasil e o Partido Integralista Brasileiro".
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9.1 Na Constituição de 1891
A Constituição de 1891 não fizera qualquer referência aos
partidos. Por isso mesmo "também excepcionais foram os
ensaios de se pôr em prâtica o sistema dos partidos nacio-
nais, ao tempo da primeira Constituição Republicana"
(Afonso Arinos. op. cito p. 64).
O Partido Republicano Federal, de Glicério, o Republicano
Conservador (1910), de Pinheiro Machado e o Republi-
cano Liberal (1913), de Rui Barbosa, não vingaram.
Na Constituição de 1891 apenas se fazia referência, no
art. 28, na composição da Câmara dos Deputados, ao sufrâ-
gio direto.
"garantida a representação da minoria".
O que vem repetido na Revisão Constitucional de 1926
e jâ em têrmos mais expressivos:
"a um regime eleitoral que permita a representação das mi-
norias" (art. 6.0, lI, letra h)
No art. 70 estabeleciam-se as condições para o alista-
mento.
Em compensação, os partidos estaduais tornaram-se "os
famosos P.R." (Afonso Arinos. op. cito p. 66), presos a inte-
rêsses regionais, "peças essenciais da mâquina da política
dos governadores ou dos Estados".
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mais, bem mais, para forçar a redução a número bem menor,
quatro, por exemplo, o que redundaria em fortalelecimento
considerâvel dos remanescentes.
Outras medidas surgiriam naturalmente.
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natureza se apresentavam, mudava de legenda, com reflexos
na organização partidária: de ordem moral, pelo que repre-
sentava como descumprimento de compromissos assumidos
com o eleitorado; de ordem política, pelo que significava como
fuga aos deveres partidários, tomados antes do pleito. A dança
das legendas era um dos males que exigiam correção, na or-
ganização partidária anterior ao Ato Institucional n. o 3. As
tentativas, inúmeras, para obviar a êsse inconveniente, foram
baldadas. Mais de uma vez se tentou consegui-lo (nós mesmos
o propusemos, em projeto de reforma da lei eleitoral), mas
as tentativas esbarravam no que, a muitos, parecia obstáculo
de ordem constitucional: não prevendo a Constituição a hi-
pótese da perda do mandato pela mudança de legenda; não
havendo nenhum dispositivo superior que obrigasse à disci-
plina partidária; tôdas as tentativas caíam ante a alegação,
muito formalista, em nosso entender, de inconstitucionali-
dade.
Agora, com a inclusão do princípio da disciplina partidária,
expressa na Constituição, será possível cominar penas aos de-
sobedientes, o que não fôra possível na Lei n. o 4740."
Mais ainda: o parágrafo único do art. 152 da Constitui-
ção inclui medida violenta, que se expressa:
"Parágrafo único. Perderá o mandato no Senado Federal, na
Câmara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas e
nas Câmaras Municipais quem, por atitudes ou pelo voto, se
opuser às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos
de direção partidária ou deixar o partido sob cuja legenda foi
eleito. A perda do mandato será decretada pela Justiça Elei-
toral, mediante representação do partido, assegurado o di-
reito de ampla defesa."
O dispositivo não constava nem da Constituição de 1967
nem das anteriores.
Com isso, expressamente se determinou a perda do man-
dato aos que desobedecerem à disciplina partidária, e em têr-
mos amplissimos. De certo modo, até, além do que seria con-
veniente.
O parágrafo único fala que:
"por atitudes ou pelo voto" - o que não deixa de ser - quan-
to às atitudes, algo impreciso e sujeito a interpretações di-
versas;
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e "em diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos de
direção partidária" - o que envolve, evidentemente, a fixação
de o que é diretriz legitimamente estabelecida. Dir-se-á que
são aquelas tomadas em obediência ao programa do partido.
Mas ainda assim as circunstâncias políticas, as conveniências
de situação, as paixões exacerbadas tornam a caracterização
düícil.
O outro caso - êste é incontroverso: "deixar o partido
sob cuja legenda foi eleito". Unânimemente, pode dizer-se, ad-
mite-se que o representante que, eleito por um partido, o
abandona, deve perder o mandato. É que o mandato, num
regime partidário, pertence ao partido. Sem se falar na trai-
ção ao eleitorado, caracterizada pelo fato de um representante
mudar de legenda sem que pudesse legitimamente, ouvir o
eleitorado que o elegeu em um partido sôbre a mudança para
outro.
Infelizmente, isto ocorreu, com relativa freqüência, nos
regimes anteriores, sem que fôsse possível ao partido desfal-
cado tomar qualquer providência além das sanções morais,
mas, infelizmente ainda, inócuas.
Pelo texto agora incluído, a perda do mandato será de-
cretada pela Justiça Eleitoral, precedendo a isso a represen-
tação do partido interessado, e assegurado amplo direito de
defesa ao acusado.
Essa defesa, como é óbvio, pode fundar-se em que a deli-
beração partidária foi ilegítima, por exemplo, por ausência de
quorum exigido, por não representar a exata interpretação da
norma estatutária ou programática etc., reservando-se a úl-
tima palavra à autoridade judicial eleitoral.
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ção de um partido. E foi o que aconteceu, com o aparecimento
de partidos que apenas serviam aos interêsses de seus donos,
não assumindo nunca o âmbito nacional que se exigia.
A atual redação do texto obviou - provàvelmente, sem
o desejar - a um grave problema que surgiria com o texto
da Constituição de 1967. É que êste exigia para a organização
de um partido, 10% de Deputados em pelo menos um
têrço dos estados, e 10% de Senadores.
Ora, fixado o conceito de disciplina partidária, nos têr-
mos do atual parágrafo único do art. 152, seria vedada a cria-
ção de novos partidos: o partido não poderia eleger deputados
e senadores antes de constituir-se, é claro; e os de outro par-
tido não poderiam servir à sua organização, porque perderiam
o mandato ...
Agora, com a redação do n. O 7 é possível a criação, que,
por certo, a médio prazo, pelo menos, se dará, segundo nos
parece.
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