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Partidos Políticos

Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Impresso por: Aline Penna


Curso: Política Contemporânea - Turma 2 Data: terça, 16 ago 2022, 15:47
Livro: Partidos Políticos
Descrição

Módulo III - Partidos Políticos


Índice

Módulo IV - Partidos Políticos

Introdução

Unidade 1 – Consolidação Institucional dos Partidos Políticos

Pág. 2

Pág. 3

Pág. 4

Pág. 5

Conclusão

Exercícios de Fixação - Módulo IV


Módulo IV - Partidos Políticos

Ao final do Módulo IV, o aluno deverá ser capaz de:

Compreender as  ideias do autor Maurice Duverger, sobre a origem dos


Partidos Políticos e sua classificação;

identificar as propostas para um estudo da morfologia dos Partidos e as


relações estabelecidas entre a Regra Eleitoral e os Sistemas Partidários.
Introdução

Neste Módulo, vamos abordar os partidos políticos e os sistemas partidários.  

Foi publicada em 1951, há mais de sessenta anos, portanto, a obra clássica de Maurice Duverger, “Os partidos políticos”. O livro é considerado, com
justiça, um clássico da ciência política por várias razões. Além de, evento raro nesse campo, estabelecer  “leis”, no sentido de conjecturas fortes, que
postulam uma relação causal entre sistemas eleitorais e sistemas partidários, Duverger construiu uma metodologia de investigação que separa
dimensões consideradas relevantes na análise dos partidos políticos; e elaborou uma tipologia dos partidos que relaciona suas origens históricas e
características estruturais. Em todas essas direções, formulou um programa de pesquisa que continua a ser seguido, em graus diversos, pela literatura
contemporânea especializada. O livro tem, portanto, importância histórica e propostas de pesquisa ainda atuais.

Vamos discutir os argumentos de Duverger em três partes, antecedidas por um breve comentário sobre a situação dos estudos acerca dos partidos
políticos na época de sua publicação.
Unidade 1 – Consolidação Institucional dos Partidos Políticos

Desde a consolidação institucional dos partidos políticos, muito se debateu sobre eles. Com honrosas exceções, as discussões obedeciam a um viés
jurídico-constitucional, no qual a regra, suas origens, sua articulação com o sistema político como um todo, importavam mais que o funcionamento
concreto dos partidos. Nesse quadro, duas obras seminais levaram o estudo dos partidos para o terreno da sociologia política.

A primeira obra, cronologicamente, foi “A democracia e a organização dos partidos políticos”, de Moisei Ostrogorski,  publicado em 1902. Ostrogorski
substituiu a análise formalista e normativa pela tentativa de aplicar procedimentos de observação dos partidos, descrição de suas características e
generalização empírica. Seu foco foi o conjunto de forças sociais que atuam na política, representadas nos partidos e nos grupos que atuam no seu
interior.

A segunda obra foi “Para uma sociologia dos partidos políticos na democracia moderna: investigação sobre as tendências oligárquicas na vida dos
agrupamentos políticos”, de 1911, na qual Robert Michels,   sob influência direta de Max Weber, apresentou sua conhecida “lei de ferro” das oligarquias.
Conforme seu argumento, a expansão progressiva do direito de voto, até o sufrágio universal, teria criado um ambiente político no qual o sucesso
eleitoral dependia cada vez mais de organização.

Organização, por sua vez, dependia da criação e manutenção de uma burocracia especializada, burocracia esta que tenderia a concentrar o processo de
tomada de decisões. Ou seja, sufrágio universal exige partidos de massa, partidos de massa existem apenas com burocracias organizadas, burocracias
conduzem, por sua vez, à oligarquia. Paradoxalmente, o aumento da democracia levaria, “inexoravelmente”, a sua negação.
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Origem e Tipologia dos Partidos Políticos

Como já exposto no Módulo I, os partidos políticos surgem, no contexto europeu, em meados do século XIX, como decorrência do funcionamento da
democracia representativa. Na época, já havia parlamentos em operação e seus membros eram recrutados entre o pequeno grupo de homens de
posses, tradição, educação, os “notáveis”, de cada localidade. Em pouco tempo, esses notáveis encontraram-se na situação de exercer seus mandatos
como representantes dos eleitores, ou seja, eleitos por eles para cumprir um mandato definido. Para enfrentar as eleições, organizaram comitês
eleitorais. A relação entre grupos de parlamentares eleitos e seus respectivos comitês eleitorais constituiu o embrião do primeiro tipo de partido político
a surgir: o partido de quadros.

A ampliação progressiva do sufrágio, contudo, alterou substancialmente o ambiente político que deu origem a esses partidos. Não apenas o número de
eleitores, e com ele a complexidade das estratégias eleitorais, aumentou. O fim do voto censitário, das exigências de renda e propriedade aos eleitores,
fez com que as massas trabalhadoras ingressassem como atores importantes na política institucional. Nesse ambiente surgiu um novo tipo de partido,
o partido de massas.

O caminho típico de criação desses partidos passa pela organização dos grupos sociais até então não representados, a constituição de comitês
eleitorais e a eleição de bancadas parlamentares, normalmente sob influência forte das direções partidárias previamente constituídas. Partidos de
massa resultam, portanto, da combinação de grupos sociais, comitês eleitorais e grupos parlamentares.

Para Duverger, as diferenças de origem refletem-se em diferenças de estrutura, ou seja, a lógica que leva à formação de cada tipo de partido estimula
o surgimento de características estruturais distintas.

De forma resumida, podemos constatar que partidos de quadros são, geralmente, partidos burgueses, liberais ou conservadores,  que:

dedicam pouco esforço ao recrutamento,


concentram suas atividades nos períodos eleitorais,
dependem para seu financiamento do aporte das próprias elites partidárias,
contentam-se com uma organização interna relativamente simples,
funcionam com direções concentradas e personalizadas,
exibem um alto grau de disputa interna entre grupos pequenos de suas direções,
trabalham com escassa consistência programática,
dão pouca importância a fatores ideológicos, e
operam com uma estrutura decisória descentralizada e pouco hierárquica.

Em contraste, os partidos de massa, tipo construído a partir da observação dos partidos socialistas e comunistas:

têm no recrutamento, assim como na propaganda e doutrinação, atividades permanentes,


dependem para seu financiamento das contribuições de seus filiados,
adotam formas complexas de organização, com redes de unidades políticas e  uma burocracia permanente,
suas lideranças demonstram pouco personalismo na sua atividade,
a motivação principal da disputa interna é ideológica,
mostram alta consistência programática, e
tendem a criar estruturas decisórias hierárquicas e centralizadas.

 
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A Estrutura dos Partidos Políticos - Dimensões Relevantes

Para a análise da estrutura organizacional dos partidos, Duverger propõe uma série de elementos a ser considerados. Trata-se, na verdade, de uma
relação das perguntas relevantes que devem ser respondidas por toda  pesquisa sobre o assunto. A combinação das respostas definirá tipos de
partidos, que podem ser usados para fins de descrição e classificação dos casos estudados. Duverger agrupa esses elementos em três conjuntos.

O primeiro conjunto é o que denomina arcabouço partidário, que contempla a estrutura partidária, os elementos de base e a articulação entre a
estrutura e esses elementos.

Estrutura partidária é definida de acordo com o grau de independência do partido em relação à sociedade civil organizada. Nessa perspectiva, o autor
chama de partidos diretos aqueles formados sem a mediação de grupos sociais organizados. Por contraste, partidos indiretos seriam aqueles formados
a partir da iniciativa de grupos desse tipo, como associações e sindicatos. É claro que partidos diretos coincidem, pelo menos parcialmente, com
partidos de quadros e partidos indiretos, com partidos de massa.

Elementos de base do partido são os diferentes grupos elementares que o compõe, como os diretórios, comitês, seções, células, entre outros. A
arquitetura organizacional que une essas unidades partidárias pode ser classificada de acordo com sua complexidade entre os extremos,  simples e
complexo.

Finalmente, a interação entre estrutura e elementos de base focaliza a qualidade das relações verticais e horizontais. O sistema de relações horizontais
estabelece a comunicação sem a intermediação do centro, e as ligações verticais se dão a partir da instância superior do partido.    Essas relações
podem ser fortes ou fracas, horizontais ou verticais, resultando, em cada caso, em partidos caracterizados por maior ou menor centralização e maior
ou menor democracia interna. Entre as combinações mais frequentes nesse plano de análise estariam partidos que operam conforme o centralismo
autocrático (quando não há participação da militância partidária nas decisões da cúpula), outros, conforme o centralismo democrático (quando há
participação da militância nas decisões da cúpula partidária).

O segundo conjunto que Duverger separa refere-se aos membros do partido. Nesse ponto é relevante, em primeiro lugar, verificar as condições de
adesão. Há exigências de pagamento de contribuições mensais, compromisso com a disciplina, identificação ideológica, expectativa de militância? Caso
afirmativo, a adesão é regulamentada, caso negativo é aberta.

Em segundo lugar, cabe aferir o grau de participação predominante entre os filiados, se apenas eleitores, simpatizantes ou militantes.

Em terceiro lugar, cumpre nomear a natureza dessa participação que, segundo o autor, pode ser sagrada, quando assume um caráter totalizante, ou
profana, quando expressa um compromisso racional; e comunal, quando a adesão é resultado da pressão do grupo, ou social, quando decorre do
cálculo individual.

O terceiro conjunto diz respeito à direção do partido. As dimensões aqui selecionadas são a forma de escolha dos dirigentes:

se por eleição direta de todos os filiados ou por algum colégio eleitoral menor;
a propensão à oligarquia nessas direções, ou seja, se o acesso aos postos de comando está restrito aos dirigentes e seus amigos ou se permanece
aberto a todo filiado; e, 
ao sentido da relação de influência entre direção partidária e parlamentares eleitos, ou seja, se a direção tem comando sobre os parlamentares ou se
simplesmente reflete e transmite suas decisões para o conjunto dos filiados
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Sistemas Partidários

Ao levar a reflexão dos partidos considerados de forma isolada para a interação dos partidos em sistemas partidários definidos, Duverger tem como
alvo duas questões fundamentais:

1) A diversidade no número de partidos que cada país mantém;

2) a consequência do número de partidos na dinâmica dos governos.

Em ambas questões, as contribuições do autor foram inovadoras. Numa época em que a dinâmica do governo era relacionada ao sistema de governo,
parlamentarista ou presidencialista, ou ao formato do legislativo, unicameral ou bicameral, Duverger postulou uma relação entre número de partidos e
estabilidade dos governos. Para ele, sistemas bipartidários tenderiam, tanto na regra presidencialista quanto na parlamentarista, a serem mais estáveis
que sistemas multipartidários. Sistemas de muitos partidos dependem de coalizões para formar maiorias e as coalizões tendem a ser mais instáveis
que as maiorias formadas por  um só partido.

Mas, quais as razões que levam determinados países a produzir sistemas bipartidários e outros a alimentar sistemas multipartidários? Duverger
distingue diversos fatores. Há fatores específicos, históricos, como a composição étnica e religiosa do país, as divisões produzidas pela tradição e a
história de cada um, e fatores gerais, que operam em todos os casos particulares. Os mais importantes entre os fatores gerais são os econômicos, as
divisões de classe, os ideológicos e os técnicos, entre os quais sobressai o sistema eleitoral.

É claro que Duverger não sustenta que o sistema eleitoral produza a proliferação de partidos. Partidos refletem diferenças políticas relevantes em cada
sociedade, diferenças que não dependem do sistema eleitoral vigente. O sistema pode, contudo, favorecer a cristalização dessas diferenças em partidos
autônomos, atuando, conforme a imagem do autor, como um freio ou acelerador do processo.

Os exemplos são retirados da história observada dos partidos políticos até o momento da formulação do autor, e as chamadas “leis de Duverger” nada
mais são que a postulação de um caminho lógico particular a cada sistema eleitoral e a hipótese de sua repetição futura por indução.

Assim, no que respeita exclusivamente ao número de partidos, Duverger sustenta em sua primeira “lei”, que sistemas eleitorais majoritários de um só
turno levam a sistemas bipartidários. Isso porque nesse sistema partidos minoritários são sempre sub-representados. A verificação desse resultado ao
longo de várias eleições levaria o eleitor a optar por alguma forma de voto útil, a concentrar sua escolha nos partidos com possibilidade real de vitória,
na prática aos dois maiores partidos.

Pela mesma razão, sistemas eleitorais majoritários com dois turnos de votação, como o ballotage na França, tenderiam a produzir sistemas partidários
com mais de dois partidos. Isso porque o eleitor, ao saber que disporá de um segundo momento de voto, não se vê compelido ao voto útil.

Finalmente, sistemas de voto proporcional tendem a gerar sistemas multipartidários, sistemas com um número de partidos ainda maior que aqueles
associados ao voto majoritário com dois turnos de votação. Isso porque no sistema proporcional o número de cadeiras de cada partido deve,
idealmente, espelhar o percentual de votos por ele obtido. Não há descarte de votos no momento da eleição e a formação da maioria é problema não
dos eleitores, mas deixado ao critério dos eleitos.
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Partidos e Democracia

Vimos que o estudo dos partidos políticos, na perspectiva da sociologia do início do século XX, levou ao ceticismo com relação às possibilidades de
permanência da ordem democrática em expansão nas décadas anteriores. A lei da circulação das elites, de Pareto e Mosca, assim como a lei de
ferro das oligarquias, de Michels, expressavam esse ceticismo e a crença no retorno à constante histórica profunda das relações de poder: poucos
mandam, muitos obedecem.

Duverger desenvolve uma relação ambígua com essa vertente. De um lado, aceita o pressuposto fundamental de seus predecessores: o poder está, em
todos os casos, nas mãos de poucos e a regra democrática nada mais é que um mecanismo de seleção e renovação das elites. No entanto, o
surgimento e proliferação  dos partidos de massa representam, para o autor, uma ampliação significativa dos espaços de seleção das elites dirigentes.
Antes, na época dos partidos de quadros, dos notáveis, a elite originava-se de um pequeno grupo do universo das classes proprietárias. Com os
partidos de massa, representantes autênticos das classes trabalhadoras ganham acesso a posições de mando e passam a constituir uma nova elite,
representativa da maioria dos cidadãos de seus países.

Segundo Duverger, se abandonarmos a definição ilusória de democracia, governo do povo para o povo, e aderirmos à definição realista, governo para o
povo, veremos que, no regime representativo, a democracia não é ameaçada pelos partidos de massa e suas burocracias especializadas em
propaganda, doutrinação e campanhas eleitorais. Pelo contrário, esse tipo de partido é condição para que dirigentes saídos das classes majoritárias e a
elas ainda vinculados assumam o governo e tomem as decisões para o povo.

Democracia representativa com partidos de quadros é, para Duverger, uma combinação conservadora. Mais conservadora do que ela, só a ausência de
partidos formalizados, o governo de personalidades isoladas, pois, onde não há partidos a política só se move no sentido de manter a desigualdade
pré-existente.
Conclusão

Vimos neste Módulo que, conforme Maurice Duverger, a eleição dos representantes do povo no parlamento e a ampliação do direito de voto são os
fatos históricos que estão na origem dos partidos de quadros e dos partidos de massa, respectivamente.

Vimos também que o autor propõe uma agenda de pesquisa dos partidos políticos que engloba algumas dimensões. Na dimensão da estrutura
partidária é relevante identificar as unidades mínimas que compõem o partido, sua relação com grupos sociais organizados e as relações que se
estabelecem entre essas unidades e as diversas instâncias dirigentes.

Na dimensão dos filiados importa perguntar as condições da adesão,  os deveres do filiado  e a forma como os filiados percebem sua pertença ao
partido. Finalmente, na dimensão da direção, há que verificar o processo de seleção, a propensão à oligarquização e as relações da direção com a
bancada parlamentar do partido, um foco de poder autônomo.

Vimos, ainda, as relações que o autor estabelece entre os sistemas eleitorais e o número de partidos: as relações entre o voto distrital majoritário em
turno único e bipartidarismo, entre voto distrital majoritário em dois turnos e um sistema com mais de dois partidos e entre voto proporcional e um
número ainda maior de partidos.

 
Exercícios de Fixação - Módulo IV

Parabéns! Você chegou ao final do Módulo IV do curso de Política Contemporânea. 

Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado
não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo.

Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas!

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