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A CECA não era igual a todas as outras organizações intergovernamentais (como, p.e.,
a ONU e o Conselho da Europa e todas as outras que dão a DIP) que já existiam/tinham
existido, sendo que a GRANDE diferença se prende com um órgão: a Alta Autoridade
(corresponde, mais ou menos, à atual Comissão). Esta tinha como objetivo garantir que
eram alcançados os objetivos da comunidade6.
Além deste órgão, existia já esboços de atuais instituições: a Assembleia 7 (que viria a
ser o Parlamento Europeu); o Conselho8 e um Tribunal9.
E em que sentido é que a CECA era já uma organização supranacional?
A Alta Autoridade podia desenvolver a sua atividade através da adoção de “decisões”
que eram totalmente vinculativas para os Estados-Membros. Esta natureza do direito da
CECA de aplicabilidade direta levou até a que alguns autores, à altura, descortinassem o
que veio a ser confirmado pelo TJ em 1963/64, afirmando que o direito comunitário
tinha (presumidamente) um caráter de supremacia face ao direito dos Estados-
Membros10.
A transferência do poder de decisão dos Estados-Membros para a Comunidade
representava, no fundo, uma transferência dos poderes de soberania. Assim se abria a
porta para uma rutura com o modus operandi de uma tradicional organização
internacional, algo que é reconhecido desde cedo pelo próprio TJ, desde logo no Ac.
Costa v. Enel:
«Diversamente dos tratados internacionais ordinários, o Tratado CEE institui uma ordem
jurídica própria que é integrada no sistema jurídico dos Estados-membros a partir da entrada
em vigor do Tratado e que se impõe aos seus órgãos jurisdicionais nacionais».
6
V. art.8.º Tratado de Paris
7
Que era composta por delegados nomeados pelos parlamentos nacionais; este órgão tinha funções
meramente consultivas – art.22.º a 24.º do Tratado de Paris.
8
Composto por representantes dos governos nacionais, que tinha como função mediar e harmonizar a
ação da Alta Autoridade com a dos Governos, essencialmente no que toca à política económica de cada
Estado-Membro – art.26.º Tratado de Paris.
9
Art.31.º - formado por sete juízes independentes, que tinham como missão garantir a correta
interpretação e aplicação do Direito do Tratado.
10
Já em 1958, notava G. Bebr, “The Relation of the European Coal and Steel Community Law to the Law
of the Member States: a Peculiar Legal Symbiosis”, que “o facto de o direito comunitário ser aplicável
diretamente demonstra a supremacia inerente a este direito. (..) O direito de qualquer tratado
internacional tradicional não penetra tão profundamente nos sistemas nacionais legais” (tradução
minha).
11
Art.86.º do Tratado de Paris estabelecia que ainda cabia aos Estados-Membros a adoção de todas as
medidas necessárias ao cumprimento das obrigações que resultassem das decisões da CECA.
Um outro sentido de supracionalidade (sentido “acima das nações) que podemos
identificar na estrutura da CECA é o da independência (q.b.) da Alta Autoridade: este
órgão era composto por membros independentes e podia adotar decisões por maioria
dos seus membros12.
De facto, este orgão tinha uma lógica de funcionamento diferente (inovadora) face aos
órgãos típicos das organizações internacionais (de base intergovernamental). Este
atuava de acordo com o interesse da Comunidade em si mesma, podendo vincular
Estados-Membros, mesmo que contra a vontade destes, se o interesse (geral) dos
Estados-Membros assim o ditasse. Num mundo ideal, este órgão prossegue as suas
finalidades partindo de uma ideia: a soberania igual de todos os seus Estados-Membros
(da mesma forma que a Administração Pública prossegue o interesse público,
considerando que todos os cidadãos devem ser tratados de forma igual).
Logo, faria sentido adotar decisões que, por vezes, podem ir contra os interesses de um
Estado-Membro em particular, em nome do interesse geral dos outros Estados-Membros
(o Estado-Membro “prejudicado” deve acatar numa ideia de solidariedade entre
Estados-Membros – aqui reside grande parte dos problemas da atual União Europeia).
Concluindo, a supranacionalidade da CECA infere-se de dois aspetos: da qualidade
normativa do seu direito secundário (que é diretamente aplicável; grande novidade) e da
composição, funcionamento e decision-making do órgão que tem o poder de vincular
diretamente todos os Estados-Membros – composto por pessoas independentes que
visam prosseguir o interesse geral dos Estados-Membros e que adotam decisões por
maioria dos seus membros.
Um passo maior que a perna: o primeiro falhanço
Como vamos ver ao longo da história da UE, muitas vezes os Estados-Membros (EM’s)
têm impulsos de integração política sem que exista entre cada um dos EM’s o
sentimento de solidariedade e confiança suficientes para que o passo seja bem
sucedido. Nessas alturas, a UE costuma virar-se para a integração económica (e bem).
A primeira vez que isso aconteceu foi com a tentativa de criação de uma Comunidade
Europeia de Defesa, em 1952. A ideia vinha de trás, de 1950, mais concretamente do
primeiro-ministro francês, René Pleven, que criou o (dito) “Plano de Pleven”, que
sugeria a criação de um exército comum europeu. Este seria comandado por um órgão
supranacional (a criar). À altura existiu grande discórdia política quanto à natureza deste
órgão, particularmente entre os franceses, que chumbaram no seu parlamento nacional,
em 1954, a ratificação do Tratado que instituía a Comunidade Europeia de Defesa.
Falhanço!
Este falhanço descredibilizou a ideia de integração política durante vários anos.
Consequentemente, a ideia de integração virou-se para a sua vertente económica.
Os franceses apenas queriam que o mercado comum passasse a incluir um setor
adjacente ao do carvão e aço: o da energia nuclear. Contudo, os restantes Estados-
Membros fizeram pressão para que se abrangesse todos os setores económicos, de
forma a criar um verdadeiro mercado interno. Acabaram por fazer dois tratados
adicionais (no total, a contar com o Tratado de Paris, ficamos com 3 tratados): criação
12
Art.13.º do Tratado de Paris
da Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM) e da Comunidade Europeia
Económica (CEE), em 1957, pelo Tratado de Roma13.
A CEE veio estabelecer o mercado comum e lançou os alicerces para a atual União.
Durante este período, a comunidade europeia cresceu geograficamente 14. Contudo, nem
tudo lhe correu de feição. Alguns constrangimentos institucionais 15 foram atrasando e
estagnando o momentum político da comunidade e, com isso, a realização do mercado
interno.
A ideia de uma CEE foi primeiro discutida em 1955 na cidade italiana de Messina (na
Conferência de Messina). Nesta altura, Paul-Henry Spaak ficou encarregue de criar um
relatório com as vantagens de um mercado comum (ficou conhecido como o
“Relatório de Spaak”). Foi com base nesse relatório que se decidiu criar um mercado
comum.
O cerne deste mercado comum europeu foi, em primeira análise, a criação de uma
união aduaneira. A união aduaneira é uma união económica em que não existem taxas
aduaneiras internas, mas existe uma taxa aduaneira externa (os bens que circulam
entre a comunidade não pagam taxas; bens que venham de fora da comunidade pagam
taxa)16.
Contudo, o TCEE foi além desta ideia, visando também a “abolição, entre Estados-
Membros, de qualquer entrave aos movimentos de pessoas, serviços e capitais”17.
Estas são as quatro liberdades fundamentais: liberdade de circulação de bens (união
aduaneira), pessoas, serviços e capitais.
Além disso, a CEE também ficou encarregue de instituir uma política comum de
transporte de mercadorias e a adoção de um sistema que garantisse que a competição
no mercado comum não seria desfigurada1819.
Este tratado foi, por isso, estruturante: encarregou as instituições europeias com o ónus
de adotar medidas para cumprir os objetivos do Tratado.
Supranacionalismo normativo
A natureza do Direito Europeu continua a ser de aplicabilidade direta e é na vigência
deste Tratado que surgem os desenvolvimentos jurisprudenciais mais interessantes20.
13
Nota: são dois tratados diferentes, mas ambos ficaram com o mesmo nome por terem sido criados ao
mesmo tempo e na mesma cidade.
14
Entradas de Reino Unido, Irlanda e Dinamarca em 1973; Grécia em 1981; Portugal e Espanha em 1986.
15
Protagonizados, por vezes, pelos franceses, pela mão do General De Gaulle.
16
A união aduaneira é diferente das áreas de comércio livre (como a EFTA): nesta segunda não há
qualquer taxa aduaneira, nem externa. EFTA ≠ União Europeia, até economicamente.
17
Art.3.º/al. c) TCEE
18
Art.3.º/als. e), f)
19
Direito da Competição também vai ser matéria que vamos abordar, mais adiante
20
Em especial, os Acs. Van Gend en Loos e o Ac. Costa v. Enel, são FUNDAMENTAIS. Por razões
pedagógicas não vou explicar já a importância destes acórdãos.
Desta vez, o Direito Comunitário tanto pode ser criado por via de um regulamento (que
tem uma lógica mais legislativa) ou por decisão (lógica de ato administrativo).
Supranacionalismo decisório (ou “de decisão”)
Aqui há algumas diferenças. O Tratado de Roma trouxe uma mudança substancial. A
Comunidade passa a ter um escopo muitíssimo mais alargado, sem que houvesse (como
deu para sentir) ainda um sentimento de confiança/solidariedade muito forte entre os
EM’s.
Por isso, o encargo de alcançar os objetivos do Tratado passa a pertencer ao Conselho21,
ao invés de pertencer à Comissão (ex-Alta Autoridade).
O Conselho é um órgão que tem uma lógica de funcionamento intergovernamental,
por oposição à lógica da Comissão, que é supranacional, como há pouco vimos.
Esta transferência de competência pode ser percecionada como o retorno a uma forma
de decision-making semelhante às organizações internacionais clássicas, pois o
Conselho é composto por representantes de cada Estado-Membro 22e decidia, em várias
matérias, pela regra da unanimidade, seguindo a tradição do Direito Internacional.
Contudo, a solução encontrada no TCEE afasta-se da tradição do Direito Internacional,
na medida em que o poder de iniciativa legislativa cabe à Comissão (órgão
supranacional). Isto é importante porque continua a ser este órgão que define os temas
que são discutidos no Conselho.
Em 1974 foi criado o Conselho Europeu23 que era o órgão onde decorriam as
conferências intergovernamentais.
Este puzzle institucional não permitiu evitar períodos de tensão dentro da comunidade.
Durante alguns anos colidiram duas visões: uma mais intergovernamental (liderada pelo
general francês De Gaulle) contra outra mais supranacional (encabeçada por um
Presidente da Comissão, Walter Hallstein).
Estas visões conduziram a um momento muito caricato na história da União Europeia: a
política da “cadeira vazia”. Passo a explicar: o Tratado de Roma previu um período
transitório de 12 anos, cada um deles dividido num sub-período transitório de 4 anos.
Durante cada sub-período a Comunidade iria sofrendo alterações que permitissem
aprofundar o projeto europeu. Uma dessas mudanças era a alteração da forma de
votação no Conselho, que passaria da regra por unanimidade para a regra da maioria
qualificada, cuja mudança estava prevista ocorrer passados 8 anos (2 sub-períodos), ou
seja, em 1966 (tratado entrou em vigor em 1958).
À altura (mais ou menos abril/maio de 1965) discutia-se uma política agrícola que não
ia de encontro aos interesses dos franceses, sendo que os outros países concordavam
com a mesma. De Gaulle, em sentido de protesto, decidiu adotar a política da cadeira
vazia, ou seja, os franceses deixaram totalmente de aparecer às reuniões.
21
Quando se diz apenas Conselho, queremos falar do órgão equivalente ao atual Conselho da União
Europeia, que é diferente do Conselho Europeu, que nesta altura ainda nem sequer existia formalmente.
22
Art.146.º TCEE
23
Contudo, o Conselho Europeu apenas faria a sua primeira aparição num Tratado em 1986
Resultado? Além do natural mal-estar, o Conselho encontrava-se totalmente bloqueado
pois, estando os franceses ausentes, era impossível cumprir a regra da unanimidade.
Esta política manteve-se de maio 1965 até janeiro de 1966 e obrigou a que os Estados-
Membros se sentassem todos à mesa para discutir e limar arestas – o que acabou por
conduzir aos Acordos de Luxemburgo.
Sobre esta matéria não é totalmente claro o que os Acordos de Luxemburgo sendo que
se costuma dizer que a regra passa a ser a do consenso no Conselho. Ou seja, em certas
matérias, era possível um Estado invocar que os seus interesses estavam a ser postos
particularmente em causa, o que obrigava a estender e aprofundar o debate, sendo que o
objetivo seria certamente que as partes dissidentes chegassem a um consenso.
Mas e se em última análise um dos Estados-Membros não concedesse e não quisesse
qualquer solução de compromisso? Sobre isto importa reter o que dizia uma das atas
deste Acordo:
«1. Quando assuntos de grande importância para um ou mais países membros estejam em causa, os
membros do Conselho tentarão, dentro de um período de tempo razoável, encontrar soluções que
possam ser adotadas por todos os membros do Conselho, respeitando os interesses mútuos e os da
Comunidade, de acordo com o artigo 2.º do Tratado.
2. A delegação francesa considera que, quando estão em causa assuntos de grande importância, o
debate deve prosseguir até à obtenção de um acordo unânime.
3. As seis delegações observam que existe uma divergência de opiniões sobre o que deve ser feito em
caso de impossibilidade de se atingir um acordo total.
Em 1985, o comissário europeu britânico, Lord Cockfield 26, ficou encarregue de fazer
um trabalho que definia até quando é que o mercado interno devia estar completo – o
trabalho ficou conhecido como “White Paper” e definiu que o mercado interno devia
estar completo até 31 dezembro de 1992.
As negociações intergovernamentais, que conduziram ao AUE, dispunham de um duplo
mandato para concluir:
→ Um tratado em matéria de política externa e de segurança comum (PESC).
→ Um ato destinado a alterar o TCEE, nomeadamente nas áreas:
Processo de tomada de decisão a nível do Conselho;
Poderes da Comissão Europeia;
Poderes do Parlamento Europeu;
Alargamento das responsabilidades da CEE e da EURATOM.
Este momento ficou marcado por várias mudanças institucionais.
Em primeiro lugar, o Parlamento Europeu viu as suas competências a ser alargadas
significativamente. O Parlamento Europeu pode vetar a entrada de novos Estados-
Membros e também a conclusão de acordos internacionais com outros Estados.
Os poderes do Parlamento também foram reforçados mediante a exigência de um
parecer favorável da sua parte aquando da conclusão de acordos de alargamento e de
associação. O AUE introduziu o procedimento de cooperação, que reforçou a posição
do Parlamento no diálogo interinstitucional e conferiu-lhe a possibilidade de uma
segunda leitura da legislação proposta ao abrigo de um número limitado de bases
jurídicas – abrindo assim caminho para o futuro papel do Parlamento de co-legislador
com o Conselho.
Em segundo lugar, estabeleceu-se (no seguimento do “White Paper”) que o objetivo do
mercado interno tinha de ser alcançado até ao fim de 1992. Definiu-se mercado interno:
“compreende um espaço sem fronteiras internas no qual a livre circulação das
mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é assegurada de acordo com
as disposições do presente Tratado.”
26
O nome não é fictício e eu também me ri porque tenho 10 anos.
Para permitir a criação do mercado único até 1993, o AUE introduziu um aumento do nº
de casos em que o Conselho pode deliberar por maioria qualificada e não por
unanimidade.
Esta medida simplificou a tomada de decisões e permitiu evitar os frequentes
atrasos inerentes à procura de obtenção de um acordo unânime por parte dos
então 12 países membros.
A unanimidade deixaria de ser necessária para as leis 27 com vista ao
estabelecimento do mercado único, com exceções:
Fiscalidade (ainda é um problema);
Livre circulação de pessoas (até já Schengen);
Direitos e interesses dos trabalhadores assalariados.
O Conselho Europeu foi institucionalizado por um tratado, pela primeira vez, embora as
competências deste órgão apenas tenham sido posteriormente especificadas, em
Maastricht (1992).
O AUE introduziu um conjunto de novos domínios políticos relativamente aos quais as
deliberações seriam efetuadas por maioria qualificada:
1. Mercado interno;
2. Coesão económica e social – a fim de contrabalançar os efeitos da realização do
mercado interno nas regiões menos desenvolvidas;
3. Política social;
4. Ambiente;
5. Política externa comum – a presidência do Conselho era a responsável por tomar
iniciativas e coordenar as posições dos países membros.
Nesta altura, a União Económica e Monetária (UEM) era vista como o próximo passo
de integração europeia, no seguimento do Relatório Delors (1989). Várias tensões mais
integradoras fizeram pressão para uma União cada vez mais federalista. O Conselho
europeu convocou duas conferências intergovernamentais, das quais resultou o Tratado
da União Europeia (TUE).
Este tratado representou uma nova era na vida das comunidades, mas era uma decisão
“de compromisso”: os Estados Membros não tinham conseguido concordar em vários
aspetos, acabando por apenas colocar sob o escopo supranacional a união económica e
monetária – à qual nem todos os países aderiram (ex: Dinamarca).
Debaixo do “telhado” da União Europeia ficaram o Conselho Europeu (finalmente se
definiu as suas competências e modus operandi) e dois pilares intergovernamentais:
política externa de segurança comum e assuntos internos, bem como as comunidades
europeias.
27
Aqui quando se diz “lei”, quer-se identificar o conjunto de medidas com valor legislativo na União
Europeia.
Este preceito separava a organização internacional – União Europeia – das comunidades
europeias. Qual era a relação entre ambas? Dada a estrutura do Tratado de Maastricht, a
relação veio a ser comparada – de forma um pouco enganadora – com a de um templo
grego (estrutura “templo grego”).
As ditas “previsões comuns” formavam o teto do templo e estabeleciam objetivos
comuns.
Debaixo do teto estavam 3 pilares, um supranacional e dois intergovernamentais: o
primeiro (supranacional) compreendia as comunidades europeias; no segundo
encontrava-se a matéria da PESC e no terceiro tínhamos os assuntos internos.
28
O seu objetivo principal era manter a estabilidade de preços (gerir a inflação), através da definição da
política monetária dos Estados
preservar a paz e a segurança internacional em consonância com os princípios
das Nações Unidas;
promover a cooperação internacional;
desenvolver e consolidar a democracia e o Estado de direito, bem como o
respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais.
é introduzida em 3 etapas:
liberalização dos movimentos de capitais (a partir de 1 de janeiro de
1990),
convergência das políticas económicas nacionais (a partir de 1 de janeiro
de 1994),
criação de uma moeda única e estabelecimento de um Banco Central
Europeu (a partir de 1 de janeiro de 1999);
29
Este aspeto foi parcialmente discutido no TJUE, Case C-105/03, Pupino (2005)
30
Vai ser mais desenvolvido na sessão de União Económica e Monetária – 6/05
define critérios relativos à inflação, aos níveis de dívida pública, às taxas de juro
e às taxas de câmbio que os Estados-Membros terão de cumprir antes de
adotarem o euro;
prevê uma cláusula de isenção («opting out») para o Reino Unido (1)
relativamente à terceira etapa e submete a participação da Dinamarca a um
referendo nacional.
Novas políticas
Cabe à UE a responsabilidade pelos seguintes domínios:
redes transeuropeias (RTE);
política industrial;
proteção dos consumidores;
educação e formação profissional;
questões relativas à juventude;
cultura.
Cidadania europeia
Alterações institucionais
Estas incluem:
Este Tratado veio introduzir algumas (poucas) alterações institucionais, todas com a
visão de preparar a União Europeia para o seu futuro alargamento:
Criou o cargo de Alto Representante para a política externa e segurança comum,
entre outras medidas menores, para reforçar a coordenação europeia em assuntos
de política externa;
Criou mecanismos para facilitar a cooperação política e judiciaria penal,
facilitando a troca de informações, detenção e extradição por toda a Europa (pré
Mandado Europeu de Detenção)
Reforçou a política de vistos e asilo criada em 93, além de expandir o Acordo de
Schengen para a União;
Reformou a composição de suas instituições para torná-las mais eficientes, além
de ter “limpado” o tratado de artigos obsoletos;
O procedimento legislativo de co-decisão começou a ser adotado para mais
matérias; o Parlamento Europeu passou a ser composto por 700 membros e
agora já vota na nomeação do Presidente da Comissão Europeia.
Criou um mecanismo sancionatório (art 7º TUE) para punir Estados que
violassem os Tratados.
Este Tratado partiu o Terceiro Pilar: as matérias de vistos, asilo, imigração e outras
políticas relativas à livre circulação de pessoas passaram para o primeiro pilar.
O Acordo de Schengen foi integrado na União Europeia (Reino Unido e Irlanda não
fazem parte; por outro lado, alguns países de fora da União fazem parte – ex: Noruega).
Este tratado tem como objetivo preparar a União Europeia para a sua única grande
adesão: 10 Estados-Membros de uma só vez – República Checa, Chipre, Estónia,
Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Eslováquia e Eslovénia (maio de 2004) –
mais 2 em 2007 (Bulgária e Roménia).
O tratado visa, fundamentalmente, tornar as instituições europeias mais legítimas
(democraticamente) e eficientes. Pontos mais importantes:
1. Alteração do método de composição da Comissão Europeia;
Em vez de ser 1 comissário por Estado-Membro, entendeu-se que
Espanha, Alemanha, França, Itália e Reino Unido deviam ter 2 cada;
A designação do Presidente da Comissão e os comissários são aprovados
por maioria qualificada no Conselho.
2. O sistema de votação no Conselho é redefinido de forma a melhor refletir as
populações da União Europeia e o domínio que o Conselho delibera por maioria
qualificada é aumentado – a forma de chegar à maioria qualificada é alterada31.
3. A composição do Parlamento Europeu é revista e os seus poderes são
reforçados;
O Parlamento passa a poder recorrer ao TJUE;
O Parlamento passou a ter 732 assentos quando chegámos aos 27 EM’s;
O procedimento legislativo de co-decisão foi alargado a praticamente
todos os procedimentos em que o Conselho delibera por maioria
qualificada.
4. O TJUE sofre uma reforma;
reúne em secções formadas por 3 ou 5 juízes, em grande secção
(composta por 11 juízes) ou em sessão plenária (1 juiz por cada Estado-
Membro);
o âmbito das competências do Tribunal de Primeira Instância
(atualmente Tribunal Geral) é alargado, nomeadamente a algumas
categorias de pedido de decisão prejudicial;
o Conselho, deliberando por unanimidade, pode criar tribunais
subsidiários com competências de primeira instância em domínios
especializados do direito, como o das patentes.
Numa reunião do Conselho Europeu de dezembro de 2001 (que ficou conhecida como
Cimeira de Laeken, devido à declaração de Laeken 32), incumbiu-se um antigo
Presidente francês, Valéry Giscard d’Estaing, de liderar uma equipa com o propósito de
identificar as principais reformas necessárias ao crescimento do projeto europeu. Esta
equipa foi dividida em vários grupos de trabalho e, em 2003, apresentou ao Conselho
Europeu o projeto de um Tratado Constitucional.
Este novo tratado revoga todos os antigos tratados e fundia a estrutura tripartida
da “antiga” União, para formar uma “nova” União. Um tratado, uma
personalidade jurídica, uma União.
O Tratado Constitucional estava dividido em 4 partes:
1. Parte inicial que definia os valores e objetivos, competências e instituições,
bem como instrumentos e procedimentos da União;
2. Parte II que incorporava a Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia no Tratado;
3. Parte III em que se detalhavam os vários pormenores atinentes às variadas
políticas internas e externas da União (aqui se incluíam os segundos e
terceiros pilares da “antiga” União);
31
Vou falar mais sobre isto na tutoria de 15/04
32
Laeken é uma região da Bélgica
4. Parte IV – continha previsões gerais e finais;
Preparar Lisboa
Depois deste falhanço, o Conselho Europeu conferiu um novo mandato para um novo
tratado. A ideia aqui era simples: abandonar a ideia formal de uma constituição (dar-lhe
outro nome, basicamente), mas recuperar a sua substância33.
TRATADO DE LISBOA
33
Alguns autores, como Paul Craig, referem que o Tratado de Lisboa replica, em 90% por cento, a
substância do Tratado Constitucional. O tratado apenas é diferente em termos formais.
34
Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
SISTEMÁTICA TRATADO DE LISBOA:
PONTOS-CHAVE
Alterações institucionais:
O Parlamento Europeu
O Conselho Europeu
O Conselho Europeu é composto pelos Chefes de Estado ou de Governo, o que confere
à UE uma maior continuidade e coerência. É formalmente reconhecido como uma
instituição da UE que define as orientações e prioridades políticas gerais da UE.
Elege o seu Presidente por maioria qualificada por um mandato de 30 meses, renovável
uma vez, substituindo assim o anterior sistema de rotação de 6 meses.
O Conselho
O Conselho aprova legislação de acordo com novas regras de votação por maioria
qualificada. A maioria qualificada passa a corresponder, no mínimo, a 55 % dos países
da UE, representando, no mínimo, 65 % da população da UE. O bloqueio de uma
proposta legislativa requer o voto contra de pelo menos quatro Estados-Membros.
As propostas legislativas são discutidas e votadas em reuniões públicas.
A Comissão Europeia
O Presidente da Comissão é:
Outras Políticas da UE
A anterior estrutura de pilares é substituída por uma nova repartição das competências:
Reforço da democracia
O Tratado:
introduz a iniciativa de cidadania, que é uma das maiores inovações do Tratado
de Lisboa e que estabelece que, no mínimo, um milhão de cidadãos (em certas
condições) podem convidar a Comissão a apresentar uma proposta (artigo
11.o do TUE);
torna a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia legalmente
vinculativa e reconhece-lhe o mesmo valor jurídico que aos Tratados (artigo
6.o do TUE);
confere aos parlamentos nacionais uma maior participação no processo de
tomada de decisão da UE (artigo 12.o do TUE);
o processo legislativo ordinário (antigo processo de codecisão) é agora o
procedimento legislativo predefinido, em que o Parlamento Europeu está em pé
de igualdade com o Conselho na qualidade de colegislador (artigo 294.o do
TFUE);
introduz uma distinção entre atos legislativos e não legislativos, dependendo do
processo de tomada de decisão que lhes deu origem (artigo 297.o do TFUE);
introduz atos delegados (artigo 290.o do TFUE) e atos de execução (artigo
291.o do TFUE).
Pela primeira vez, o Tratado estabelece um procedimento formal de saída de um
país da União Europeia (artigo 50.o do TUE, juro que nunca vai ser usado…
ABRAÇO REINO UNIDO).