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2.1. Terminologia
Clóvis Beviláqua, no início do século XX, que, além de civilista, era consultor
jurídico do Itamarati, usava a expressão direito público internacional.
Efetivamente, ninguém mais questiona a expressão direito internacional.
a) Critério dos sujeitos: o DIP é o ramo do direito que estuda as normas que regulam
as relações entre os sujeitos de direito internacional.
b) Critério das matérias reguladas: o DIP é o ramo do direito que estuda as normas
que regulam as matérias que ultrapassam os limites estatais.
c) Critério das fontes: o DIP é o ramo do direito que estuda as normas oriundas das
fontes normativas internacionais.
A doutrina chama atenção para o fato de que esses critérios isolados são
insuficientes para definir o DIP. Por isso, sugerem que a conceituação deve
levar em consideração os três critérios em conjunto, pois, sozinhos, são
insuficientes para definir a matéria. Dessa forma, podemos dizer que o DIP é
o ramo do direito que estuda as normas oriundas das fontes normativas
internacionais, as quais regulam relações entre os sujeitos de direito
internacional nas matérias que ultrapassem limites estatais. O conceito
adiante exposto é utilizado pela maior parte da doutrina brasileira.
Atenção!
• 1625 – Hugo Grocio, pai do DI, escreveu o primeiro manual. Não obstante, Francisco de
Vitória, junto com Hugo Grocio, compôs a escola de DI na Universidade de Salamanca
(primeira universidade na Espanha). O manual se chama Do Direito da Guerra e da Paz.
• 1648 – Paz de Westfália (ou Vestefália) : Tratados de Münster e Osnabrück
puseram fim à Guerra dos Trinta Anos.
Atenção!
Todo ramo do direito atende a uma necessidade social. Como conseguir uma
convivência pacífica entre Estados, sem destruição permanente, sendo
utilizada a guerra somente em casos extremos? Essa era a necessidade
social que fez surgir/evoluir o DI. Nasce o Estado Nacional por conta da crise
do sistema feudal, surgindo o capitalismo, o qual precisa de mercado,
destruição criativa, expansão, investimento, lucro, reinvestimento e mais lucro
etc., formando a espiral do capitalismo. O capitalismo comercial nos séculos
XV e XVI na Europa, passando pela Ásia, criou um fluxo que necessitava
eliminar os entraves, as moedas feudais, as barreiras entre os mercados,
enfatizando a necessidade de unificação. A partir dali, os burgueses apoiaram
determinado senhor feudal, que se tornava rei absoluto e unificava Estado e
atendia os interesses da burguesia da época.
Atenção!
Assim, no final do século XIX termina o DI clássico, ou paradigma grociano (DI da coexistência),
iniciando-se o paradigma kantiano (DI de cooperação). O Tratado de Versalhes
foi o marco entre essas fases. Na coexistência dos Estados, eles simplesmente existiam ao
mesmo tempo; quando discordavam, iam à guerra, sem problemas para o DI, que emudecia
diante disso, o que, por sua vez, era considerado normal.
Em 1795 Kant escreve o opúsculo Da Paz Perpétua – expressão irônica colocada nos
cemitérios, aludindo à belicosidade do ser humano. Essa obra somente gerou reflexão no
século XX. Kant propôs artigos para a garantia da paz perpétua:
1) A Constituição deve ser republicana, vez que uma população participativa terá opinião apta a
trazer a paz.
2) O DI deve fundar-se em federalismo de Estados livres. Todos devem pactuar sobre uma linha
comum para os Códigos Civis. Somente uma Liga de Nações poderia assegurar a paz. Deve
haver um tribunal externo internacional como forma de evitar a guerra. Liga de Paz significa
livre federalismo!
4) Marco desta fase é o Tratado de Versalhes, tratado imenso, cujos pontos principais são:
Características da fase:
a) busca da cooperação;
b) início da preocupação com os indivíduos;
c) solução pacífica de controvérsias, sendo conhecida como um grande esforço pelo
banimento do jus ad bellum (direito à guerra);
d) o século XX é conhecido como o século das organizações internacionais, possuindo
hoje abrangência em todos os setores sociais – saúde, trabalho, postal,
telecomunicações, penal, comercial etc. Nitidamente, os artigos de Kant foram seguidos!
A Liga das Nações fracassou, sendo substituída pela ONU. Hoje, a ONU é “A
Organização Internacional”, possuindo 193 Estados creditados; todos os outros querem entrar,
inclusive a Palestina.
Em suma, temos normas invasivas que tencionam regulamentar a conduta dos agentes dentro
de cada Estado, deixando de lado o caráter de mera cooperação. Isso se dá por conta da
dificuldade de os Estados assegurarem a própria sobrevivência da humanidade em diversas
questões, como a nuclear, a ambiental etc.
Estamos na chamada era dos tribunais. Na era voluntarista, anos 1960, os tribunais eram
exceções, sendo a sociedade internacional paritária e descentralizada, ou seja, o Estado era o
produtor, o destinatário e o intérprete de suas normas. Porém, isso mudou.
Temos vários tribunais internacionais: hoje, são mais de 20, diferentemente de 1990, quando
havia apenas seis. O poderoso órgão de resolução de controvérsias da Organização Mundial do
Comércio (OMC), por exemplo, é mais importante que muitos tribunais internacionais de direito
público, justamente porque envolve muito dinheiro e o comércio internacional.
Consiste na expressão doutrinária que retrata a regulação das relações outrora regidas
por critérios de força ou econômicos, doravante reguladas por critérios jurídicos. O rule
of law é o termo que indica algo juridificado, transformado daquilo que era ao campo da
negociação, da discricionariedade, na gramática do direito. O Brasil na OMC é um grande
litigante, tendo, inclusive, contrato com escritório de advocacia nos EUA. Atualmente,
o Itamaraty contratou o escritório do professor Luiz Olavo Batista, que já foi membro do
órgão de apelação da OMC.
O DI é fruto da vontade dos Estados, pois eles o criam. Todavia, um DI mais invasivo, como
vemos atualmente, faz com que surjam denominações doutrinárias como flexibilização e
relativização da soberania.
Atenção!
Esse tema ajuda muito o STF a interpretar os tratados de integração do Mercosul. Vários
tribunais constitucionais europeus, a partir desses conceitos, consideraram adequados tratados
de integração. O Tratado de Maastricht é um ótimo exemplo: formalmente chamado de Tratado
Qual é o fundamento de validade do DIP? Por que o DIP é obrigatório? Por qual razão o DIP
vincula os Estados e as pessoas internacionais? Existem duas teorias que tentam explicar o
fundamento do DIP: a escola voluntarista e a escola objetivista.
Para a escola voluntarista, o fundamento do DIP repousa na vontade dos Estados. Vale dizer
que o DIP somente é obrigatório, vincula e tem fundamento porque os Estados assim
consentiram. Logo, a validade do DIP depende do consentimento dos Estados. Se estes não
consentissem em criar, obedecer e se vincular ao DIP, ele não existiria ou não vincularia (não
passaria de meros conselhos).
A escola voluntarista é seguida no Brasil por Francisco Rezek. Esse autor faz uma
diferenciação entre o consentimento criativo e o consentimento perceptivo. Para ele, o
consentimento perceptivo diz respeito ao reconhecimento de normas sem as quais a vida em
sociedade internacional seria impossível. Por exemplo: pacta sunt servanda, que, para
Rezek, é uma norma oriunda do consentimento perceptivo. Se as partes não fossem obrigadas
a cumprir seus acordos, ou seja, se os Estados não fossem obrigados a cumprir as suas
manifestações de vontade, suas promessas, seus contratos e seus tratados, não haveria vida
possível na sociedade internacional (assim como também não haveria vida possível na
sociedade interna). Logo, o pacta sunt servanda seria oriundo desse consentimento
perceptivo.
Francisco Rezek também fala, no entanto, sobre consentimento criativo, que diz respeito a
normas que poderiam muito bem ser prescindíveis no cenário internacional – na medida em que
decorrem da criatividade dos Estados. Tais normas somente existem porque os Estados as
criaram expressamente. Por exemplo: uma norma pode fixar o tamanho do mar territorial. Não é
uma norma que decorre da razão humana e se impõe para fins de convivência internacional.
Trata-se de uma norma, reprise-se, que decorre da criatividade das pessoas.
Assim, ao lado da escola voluntarista, temos a escola objetivista. Para a escola objetivista,
nem todas as normas decorrem do consentimento dos Estados. Existem valores que se
Para alguns autores, como Valério Mazzuoli, direito humanitário e normas protetivas dos direitos
humanos se impõem aos Estados – que não têm como negar o seu cumprimento. Desse modo,
são essas duas escolas que tentam explicar o fundamento de validade do DIP: escola
voluntarista (fundamento: consentimento) e escola objetivista (fundamento: valores que
se impõem aos Estados independentemente da sua vontade). Hoje, podemos afirmar que
há uma tendência da doutrina em acolher a escola objetivista. Há, inclusive, um artigo muito
famoso do professor Jorge Miranda, no qual ele fala sobre as oito tendências evolutivas do
direito internacional, sendo que uma das tendências apontadas pelo professor é justamente o
objetivismo. Dessa forma, pode-se afirmar que o paradigma voluntarista vem sendo superado,
havendo uma caminhada rumo ao objetivismo, que preceitua que o direito internacional é uma
ordem jurídica que se impõe aos Estados independentemente de suas vontades.
Como se dá a relação entre o direito internacional e o direito interno? Aqui também existem
duas teorias que tentam explicar essa relação: a teoria dualista e a teoria monista.
A primeira teoria é a dualista, idealizada por Triepel. Para a teoria dualista, direito internacional
e direito interno são duas ordens jurídicas totalmente independentes. Para a teoria dualista, o
Estado pode estar vinculado a uma norma no âmbito internacional e não estar vinculado a ela
no âmbito interno (ou estar vinculado no âmbito interno e não estar no cenário internacional).
São duas coisas que não se comunicam.
Teríamos, assim, dois sistemas jurídicos, separados e independentes. De acordo com a teoria
dualista, para que uma norma internacional tenha validade no âmbito interno, é necessário que
ela seja reproduzida por uma norma de direito interno (aí, sim, terá validade no âmbito
doméstico). Em outras palavras, para que uma norma internacional tenha validade no âmbito
interno, o Estado precisaria iniciar um processo legislativo e aprovar uma lei com o mesmo
conteúdo do tratado internacional.
Entretanto, ao lado da teoria dualista, existe a teoria monista – a segunda forma de explicar e
de enxergar o relacionamento entre o direito internacional e o direito interno. O principal
expoente da teoria monista é Kelsen. De acordo com a teoria monista, direito internacional e
direito interno formam apenas uma ordem jurídica. Se, para a teoria dualista, direito
internacional e direito interno formam duas ordens jurídicas separadas e independentes, para a
teoria monista, direito internacional e direito interno formam apenas uma ordem jurídica. Dentro
da teoria monista existem três subteorias:
a) Internacionalista: diz que o direito internacional e o direito interno são apenas uma
ordem jurídica, mas prevalece o direito internacional.
b) Nacionalista: para esta teoria, prevalece o direito interno.
c) Moderada: nenhuma das ordens deve prevalecer. Elas concorrem entre si, devendo
ser aplicados os critérios de solução de conflito de leis no tempo. Por exemplo: se o
tratado foi aprovado posteriormente, lei posterior revoga lei anterior (critério cronológico).
Se a norma interna for mais específica, norma especial prevalece sobre norma geral
(critério da especialidade). Aplicar-se-iam, portanto, os critérios da especialidade e do
tempo nesses conflitos, prevalecendo norma posterior e norma mais específica.
Como se dá no Brasil a relação entre direito internacional e direito interno? O Brasil adota o
dualismo moderado. Cabe salientar que, para que uma norma internacional tenha vigência na
ordem jurídica brasileira, é necessário que esse tratado internacional passe por um
procedimento de incorporação. Existe um procedimento especial, mas no Brasil basta que a
norma passe por esse processo de incorporação. Em outras palavras, as ordens jurídicas, no
Brasil, são separadas e, para que a norma internacional seja considerada também norma
interna, é necessário passar pelo processo de incorporação.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já reiterou isso em várias ocasiões, inclusive na ADI-MC nº
1.480 e na CR nº 8.279-AgR2. O Ministro Celso de Mello, nessas oportunidades, deu uma
verdadeira aula de direito internacional e afirmou, com todas as palavras, que a teoria adotada
Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para
justificar o inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo
46.
Com base nessa ideia, os internacionalistas afirmam que a teoria adotada no âmbito da
Convenção de Viena, e que todos os Estados-Partes devem adotar, é o monismo
internacionalista. Contudo, existem, hoje, novas abordagens (modernas) sobre esse debate,
que é um debate secular. O que se percebe é que essa forma de abordar o problema (embate
entre monismo e dualismo) é insuficiente para resolver os problemas da maior parte dos
Estados. Portanto, têm surgido várias teorias alternativas.
Uma teoria que vem ganhando destaque e que, em breve, será abordada em concursos
públicos, é a teoria do transconstitucionalismo. Essa teoria preceitua que existem questões
que interessam e são reguladas ao mesmo tempo a mais de uma ordem jurídica.
Isso acontece também, não raro, entre ordem jurídica internacional e interna. Tais questões,
que interessam a mais de uma ordem jurídica, podem ser consideradas transconstitucionais. A
solução desses problemas, para Marcelo Neves, não é uma solução hierárquica, de prevalência
de uma sobre a outra (ou de separação automática entre uma e outra), mas, sim, a solução
dialógica. Sendo assim, ele propõe um diálogo entre as ordens jurídicas. Nesse diálogo, não
haveria prevalência de uma visão sobre a outra, de uma ordem jurídica sobre a outra, mas
haveria, entre as ordens, um diálogo sobre o problema.
Essa solução pode ser considerada, por exemplo, com relação à Lei de Anistia. O STF declarou
a constitucionalidade da Lei de Anistia e afirmou que a anistia no Brasil foi ampla, geral e
irrestrita. Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos declarou a inconvencionalidade/
nulidade de leis de anistia que anistiem pessoas que praticaram crimes contra a humanidade.
Aqui há um conflito, e é possível perceber que se trata de uma questão evidentemente
Como se resolve uma questão como essa? De acordo com a visão transconstitucionalista de
Marcelo Neves, a solução não seria a imposição da Corte Interamericana sobre a brasileira ou
da brasileira sobre a interamericana. As Cortes deveriam dialogar entre si, por meio de uma
aprendizagem recíproca, para chegar a uma solução. Portanto, a solução não se daria por
imposição ou pela separação das ordens jurídicas, mas por meio do diálogo, chegando-se,
portanto, a uma solução dialógica.
Direito internacional público é o ramo do direito que estuda as normas oriundas das fontes
normativas internacionais (critério das fontes), as quais regulam as relações entre os sujeitos de
direito internacional (critério dos sujeitos) nas matérias que ultrapassam os limites estatais
(critério das matérias reguladas).
• Dualismo (Triepel) – ordens jurídicas independentes, internaliza editando lei com o teor
do tratado (Argentina). Brasil – dualismo moderado (Anzilotti) – procedimento de
internalização – apenas incorporação. Min. Celso de Mello já explicitou a tendência.
– Direito interno e observância de tratados – uma parte não pode invocar as disposições de seu
direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Essa regra não prejudica o art.
46.
– Problemas que interessam e tangenciam mais de uma ordem jurídica, devendo ser resolvidos
dialogicamente e não por hierarquia. Por exemplo: conflito da Lei de Anistia entre STF e Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José). STF: válida, Corte Interamericana:
inconvencional por anistiar crimes contra a humanidade.
Atenção!
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