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Direito Internacional Pública – 2º Semestre – 2º Ano

18.02.2021

Capítulo I – Introdução ao Direito Público Internacional Público


Definição de Direito Internacional:
o Conjunto de normas e princípios jurídicos reguladores das relações internacionais entre sujeitos da
comunidade internacional.
o As normas têm tendência a ser regras mais detalhadas, enquanto que os princípios são mais “largos”. No
entanto, nos dois casos temos regras vinculativas.

Principais aspetos do Direito Internacional:


o O DI não é formado por normas de cortesia, morais ou políticas;
o Inclui todos os sujeitos da comunidade internacional
o O objeto deste ramo do direito é as relações internacionais
o O direito internacional surgiu com os contactos entre os grupos humanos dotados de alguma
organização. Logo que surgissem contactos entre estes grupos humanos já se podia falar de uma certa
forma em direito internacional mesmo que estejamos aqui com um direito internacional muito limitado
uma vez que temos poucos sujeitos e poucas normas.

Secção I. Período pré-histórico do Direito Internacional

1. Antiguidade clássica (-3500-sec. V)


o Escassos são os contributos para a formação do DI, quer na fase dos grandes impérios (China,
Egipto, Babilónia), quer na fase das potências citadinas.
o No caso da Grécia, em particular, o mundo helénico encontrava-se atomizado em diversas cidades-
Estados (polis) que eram verdadeiras comunidades políticas independentes.
→ O facto de os conflitos armados terem sido constantes na Antiguidade, nem como o
isolamento das diversas culturas, podem explicar o pouco que estas civilizações puderem dar
para o desenvolvimento futuro do DI.
o O aparecimento da civilização romana marca uma viragem importante. Neste império, a lei
romana era importa aos povos dominados.
→ Importância do ius gentium (≠ius civile)
→ Esta importância do ius gentium foi mais técnica do que substantiva, ao assentar numa
conceção das relações internacionais incompatível com o DI.
2. Idade Média (476-1453)
o Movimento contraditório:
→ Formação de Estados, como base futura da sociedade internacional;
→ Afirmação de estruturas políticas supra-estaduais, tanto no poder espiritual (Papado),
como no poder temporal (Sacro-Império Romano-germânico), na procura de uma Civitas
Christiana (ou Respublica Christiana)
3. Idade Moderna (sec. XVI-XVII)
o Os Descobrimentos seriam uma epopeia de abertura de horizontes, não só colocando questões
ao Direito Internacional, como igualmente acentuando a globalização, numa tendência sem
precedentes.
o O nascimento dos Estados modernos, assentes numa crescente concentração e secularização
do poder, legitimadas pelas teorias da soberania e da separação do poder temporal e espiritual.

Não sai perguntas da matéria anterior


Secção II. Período clássico do Direito Internacional: modelo de Westfália (1648)

o O Tratado de Westfália de 1648 abre o período clássico e abrange a primeira parte da história do DI.
Origens no sec. XV, com a divisão do cristianismo que acaba por provocar a emergência do
protestantismo, com efeitos pertinentes nas RI – divisão da Europa crista em duas partes (a católica e a
protestante) como a guerras sanguinárias entre essas duas partes.

o Essas guerras de religião vão terminar com o tratado de Westfália (1648), que consagra a coexistência na
Europa entre Estados protestantes e católicos e o princípio do “equilíbrio europeu”.

o Assim, a data que tem sido tradicional para o nascimento do DI é da formação do fim das guerras de
religião, plasmada no Tratado de Westfália, celebrado em 1648.
→ Igualdade formal dos Estados e coexistência entre os Estados iguais católicos e protestantes (1ª
“Carta Constitucional da Europa”).

o Esta preocupação de equilíbrio não foi suficiente para evitar novas guerras. De facto, as Descobertas
inauguraram novos mercados. O interesse económico divergente entre os estados originou novas
guerras.

o O conhecimento da Africa, Asia e da América, e a entrada em contacto com outros povos desses
continentes, vão mundializar as relações internacionais.

o O DI conhece, ao lado dos costumes, um desenvolvimento sem precedentes dos tratados


internacionais, principalmente tratados bilaterais.
→ A formação espontânea de normas consuetudinárias tende a assumir uma importância acrescida
numa comunidade internacional descentralizada.
→ Os acordos de vontade entre 2 Estados prevalecem em razão das relações sobretudo bilaterais
entre os Estados (princípio da reciprocidade).
o Mas a ordem vigente caracterizava-se pelo eurocentrismo das RI: os primeiros mapas realizados
continham a Europa no meio, centralizavam a Europa que era superior a todos os níveis, económico,
militar, tecnológico. Havia desconsideração dos outros povos porque havia a ideia de que os
conquistadores eram superiores.

o Principais características do modelo de Westfália.


→ De acordo com a ideia de igualdade formal entre os Estados, é um modelo de mera
coordenação de entidades soberanas - Fixa que todos os estados são iguais e coexistem em
paridade total.
→ Ademais, o DI clássico era um direito axiologicamente neutro, no sentido que não visava alterar
os dados da realidade a que se dirigia (normas horizontais) tendo todas o mesmo valor, não
havendo superiores.

Secção III. Período moderno do Direito Internacional: modelo da CNU (carta das nações unidas)

o Estamos no 2º período da história do DI – que se iniciou no sec. XX (1914) – caracteriza-se por vários
fenómenos indo no sentido de desagastarem a soberania estadual:
→ Consolidação das OI, no âmbito do supra-nacionalismo, bem como do multilateralismo;
→ Afirmação dos novos Estados, com a descolonização, e a nova ordem internacional económica,
de cooperação e de desenvolvimento;
→ Afirmação da proteção internacional dos DH e da proibição do uso da força pelos Estados.
o Todas estas características têm um ponto comum, impor relações de subordinação dos direitos internos,
é um ramo que se vai aperfeiçoar e vai agir em nome de uma vontade internacional. Esta modelo é de
subordinação.
→ Este modelo não significa que o de Westfália tenha desaparecido. O DI passou a ser revelador de
uma tensão dialética entre as instituições do período clássico, que subsistem, e as instituições
do período moderno, que com aquelas convivem.

1. A criação da Sociedade das Nações (SdN)


o Finda a 1ª GM, suscitaram-se 2 problemas fundamentais:
→ A reorganização do mapa político da Europa
→ E a substituição do velho sistema do equilíbrio por outro que garantisse uma existência mais
pacífica.
o Celebrou-se assim o Tratado de Versalhes, em 1919, que tenta resolver estes 2 problemas e
garantir a paz com a Alemanha. Em anexo a estre tratado foi aprovado o famoso Pacto da SdN, que
cria uma organização internacional (OI) de relevo central, a SdN, mas este fracassou e nunca
conseguiu reunir todos os estados para a universalidade, nem conseguiu a manutenção da paz pois
houve uma 2ª guerra mundial.

o A SdN nunca atingiu a desejada universalidade, nem conseguiu o seu objetivo de manutenção da
paz.
o A estrutura interna da SdN tinha sido mal concebida, o que levou a uma grande deficiência
funcional dos seus órgãos, em especial dos 2 principais, o Conselho e a Assembleia.

2. A criação da Organização das Nações Unidas (ONU)


o No rescaldo da 2ª guerra mundial (1939-1945), a Comunidade Internacional assiste à criação da
ONU em 1945- “Constituição da ordem internacional”.
o Cedo as ilusões começaram a desfazer-se sob o peso da crescente intervenção na cena mundial
das 2 superpotências que então se formaram: os EUA e a URSS, e a seguir a formação dos blocos, as
potências ocidentais na aliança com os EUA e as potências socialistas em aliança com a URSS.
→ Estes blocos entram numa Guerra Fria que gera tensões, coloca em perigo a paz no mundo,
mesmo que a guerra em si não aconteça uma com a outra mas sim entre os seus estados
satélites.
→ Então para não haver uma nova guerra mundial dá-se uma Teoria da coexistência pacifica
o O fenómeno da descolonização atinge grande proporções principalmente em Àfrica, onde se fazem
sentir o exemplo de descolonização de outros territórios e as ideias independentistas, apoiadas no
princípio de autodeterminação dos povos consagrado na CNU.

o Mudanças muito importantes no DI derivado da descolonização : Relativamente aos sujeitos


internacionais e relativamente a novas matérias - o tema da cooperação entre países ricos e países
pobres vai ser importante para não haver apenas uma importância formal, criando um verdadeiro
direito internacional de cooperação e desenvolvimento. A sociedade internacional não pode ficar
indiferente quanto à posição dos novos estados ainda em desenvolvimento. Para além disto, há
agora uma completa mundialização do direito internacional que vai levar ao regionalismo
internacional, ou seja, vão ser criadas várias organizações regionais, que terão de ser articuladas
com o mundialismo, terão de dispor de poderes amplos e de mecanismos de subordinação da
vontade dos estados. Por exemplo, a União Europeia, é a organização mais integrada que consegue
impor as suas normas ao nível interno e os países têm de ser subordinados às suas normas.
o Declaração Universal dos Direitos Humanos: Consagração pela primeira vez no plano internacional
dos direitos humanos e a adoção de 2 pactos, um sobre direito civis e políticos e outro sobre direitos
sociais e culturais.

o Proibição geral do uso da força pelos estados : Fim da Lei do Talião (dente por dente olho por olho,
o que fizeres eu faço-te de volta), esta já não é utilizada. Fica assim definitivamente abolida a justiça
privada na esfera das regiões internacionais.

Secção IV. Juridicidade do Direito Internacional Público:

1. Os argumentos negadores
o Duvidam da natureza jurídica das normas internacionais, como se os estados não estivessem a
respeitar estes aspetos. Hoje já não existem autores que negam a existência do direito internacional,
embora haja argumentos negadores com 2 grupos distintos de objeções à natureza jurídica da
norma de direito internacional:
→ 1º grupo de argumentos: Resulta de uma prévia tomada de posição filosófica do estado como
encarnação absoluta do ideal na história, consagração da soberania como um absoluto.
 O estado não pode submeter-se a uma autoridade superior, isto resulta na negação do
direito internacional e da sua existência e a única resolução dos litígios é entrar em guerra
ou então tentar construir um direito internacional, mas apenas com base na vontade dos
estados;
 Negação em direito internacional da existência da comunidade internacional, ou seja, o
direito tem que ser sempre vinculado a uma sociedade, não existiria verdadeiramente
nenhuma comunidade superior aos estados.
→ 2º grupo de argumentos: Resulta da análise da ordem jurídica internacional, há outros autores
que analisam a ordem jurídica internacional e vêm dizer que estas normas não são jurídicas:
 Não existiria na escala mundial, um parlamento mundial, um governo mundial, e uma
política mundial. Não há a separação dos poderes no direito internacional, não estando
num verdadeiro ramo de direito, mas sim perante normas de cortesia sem imposição
jurídica.

2. Discussão dos argumentos negadores


o 1º grupo de argumentos:
→ Hoje os estados já abandonaram a soberania absoluta, o que implica que o estado pode-se
vincular por normas superiores a este, não havendo obstáculo para que um estado seja
vinculado por normas que o transcendem, por exemplo quando um estado celebra um tratado
para entrar numa união, em termos de soberania isto implica uma limitação da sua soberania.

→ Existem muitas relações jurídicas, existindo sim uma comunidade internacional pelo menos
como ficção jurídica, havendo imensas normas que foram elaboradas com vista à comunidade
internacional

o 2º grupo de argumentos:
→ Existência de normas:
 Na comunidade internacional é verdade que não há legislador central, exatamente
porque o direito internacional não se transformou, nem o irá fazer, em direito mundial.
Este direito é fragmentário onde há zonas sem normas, é um direito rudimentar, mas é
certo que existem zonas onde já existe legislador (exemplo: organizações internacionais
que podem concluir tratados, pactos, diretivas), portanto é falso dizer que não há de todo
legislador. Mesmo que não houvesse de todo legislador, não quer dizer que não haja
direito, pensando bem em direito interno, a lei não é a única fonte de direito havendo
outras fontes, como por exemplo um contrato de trabalho. Em direito internacional
também há várias fontes de direito, como o costume que é muito importante neste
direito, mas há também os tratados, são fontes que vão produzir normas jurídicas
obrigatórias e vinculativas.
→ Relativamente à inexistência de órgãos jurisdicionais:
 Existem tribunais internacionais que são aceites pelos estados e só assim estes podem
julgar esses estados. As partes têm de aceitar esse tribunal para este os julgar. Em DI o
tribunal mais importante é o tribunal internacional de justiça que julga os estados que
aceitam os tratados que prevêem esse tribunal. Quanto ao DI consuetudinário, a
competência dos tribunais internacionais é facultativa. Mesmo no DI convencional a
submissão de um litígio a um tribunal internacional, continua a depender da prévia
aceitação das partes.
 Mas já são muitas as convenções que atribuem jurisdição obrigatória ao TIJ. E já há
organizações internacionais cujos tribunais têm sempre jurisdição obrigatória (UE).

Existência de sanções:
→ A sanção é um elemento de eficácia de uma regra mas não é necessariamente uma característica essencial
da norma jurídica.
→ Não se pode concluir que as normas de DI estão desprovidas de sanções. No domínio do DI convencional e
no das organizações internacionais, a regra é, pelo contrário a existência de sanções. Por exemplo em
direito constitucional a maioria das normas têm sanções quando violadas (uma norma não precisa
necessariamente de estar vinculada a uma norma). Não é correto dizer que no direito internacional não há
sanções, neste direito há sim sanções (exemplo: quem não respeitar as normas da União Europeia pode ser
excluído ou podem proibir o seu direito de voto). O problema aqui é aplicar as sanções porque por vezes essa
aplicação é desmentida pela realidade da vida internacional onde se pode assistir ao triunfo do mais forte, é
mais complicado aplicar sanções por exemplo aos EUA do que a um estado mais fraco como Portugal. Os
direitos não devem ser violados, mas podem quando esta é pontual e os estados reclamam quanto a isso.
Embora o direito internacional possa ser violado, o mais importante é aplicar todos os dias normas
internacionais que correm bem.
→ Enfim, embora o DI possa ser violado como qualquer outro ramo de direito, a esmagadora maioria das
normas internacionais são aplicadas todos os dias sem dificuldades.
25.02.2020

Questões:

1. Expor as principais características do período clássico do direito internacional.


R: O período clássico tem a haver com o modelo de Westfália. Desenvolver o aspeto do principio da
coexistência, igualdade, soberania dos estados.
2. SdN e a ONU são duas organizações internacionais com finalidades dissemelhantes? Isto é verdadeiro
ou falso?
R: Falso, são organizações com o mesmo objetivo, chegar à paz mundial.

Capítulo II. Os Costumes Internacionais e os Atos Unilaterais Internacionais

o O costume é uma fonte importante pois é privilegiada e pressupõe uma elevada taxa de cumprimento,
há mais violação dos tratados do que dos costumes. O costume está na origem das primeiras
positivações jurídicas, a primeira fonte que apareceu foi o costume e em direito internacional esta fonte
conserva uma grande importância.

Secção I. Os costumes internacionais

o O artigo 13 da CNU – O desenvolvimento da codificação não fez perder a importância do costume, e


este artigo conferiu à AGNU (assembleia geral das nações unidas) 2 mandatos, para a realização dos
quais criou a CDI com vista a encorajar:
1. O desenvolvimento progressivo do DI - onde houver lacunas a CDI pode intervir e propor projetos
de desenvolvimento progressivo;
2. A sua codificação - significa passarmos de uma norma não escrita para uma norma escrita, e é uma
formulação mais precisa e sistemática
→ Desvantagem: risco de cristalização
→ Vantagem: segurança jurídica
o Considerada uma fonte privilegiada no sentido que prossupõe uma elevada taxa, os costumes são
respeitados, esta fonte conserva uma grande importância.
o O que se entende por costume? Artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ)
1 - O Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional as controvérsias
que lhe forem submetidas, aplicará:
a) As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) O costume internacional, como prova de uma prática geral aceite como direito;
c) Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) Com ressalva das disposições do artigo 59, as decisões judiciais e a doutrina dos publicistas mais
qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
o Definição errónea:
→ O costume não é a prova de uma prática;
→ O costume não vincula por ser aceite;
→ O costume relevante não é só o geral.
 Costume Internacional: norma não escrita, assente numa prática uniforme e reiterada
pelos membros da Comunidade Internacional (CI) nas suas relações, determinada e
acompanhada pelo sentimento da sua obrigatoriedade.

1. Os elementos do costume internacional


A. O elemento material
o Durante muito tempo, foi exigida uma prática generalizada e imemorial, ou seja, uma prática
executada por um número importante de sujeitos de estados (generalizada) e uma prática levada a
cabo já há muito tempo (imemorial). Hoje, já não é esta opinião dominante, pois em relação ao
número de sujeitos já não se exige a generalidade.
→ Exemplos de prática generalizada: costumes regionais (TIJ, Haya de la Torre, 1951) ou
bilaterais (TIJ, direito de passagem sobre o território indiano, 1960).
→ Exemplos da prática imemorial: esta posto de parte o requisito da imemorabilidade. Em
relação à duração longa, já não se exige que haja uma prática imemorial de muitos anos porque
estamos a assistir a mudanças muito rápidas.
o Precisões Complementares
→ A prática pode consumar-se por ação ou omissão.
→ O costume deve apenas nascer a partir de uma prática constante. Tem que ser reiterada,
uniforme, não vamos aceitar variações de comportamento.
 Uma prática isolada é um simples precedente.
→ Não são exigidas uma consistência e uma uniformidade absolutas.
 Podem ocorrer situações de violação pontual. Como já vimos todas as normas não devem
ser violadas e o costume também não, mas pode sempre ser violado, o que vai ser
importante quando há violações é que elas fiquem pontuais. Se forem violações pontuais,
que não enfraquecem o elemento psicológico, um estado que sabe que está a violar as
regras, mas arranja uma solução, enquanto que forem pontuais e não enfraqueçam o
elemento psicológico as violações não enfraquecem o costume. Se houver protestos
contra as violações, podemos dizer que a norma costumeira continua em vigor, se não
houver podemos colocar em causa a existência da norma.

B. O elemento psicológico/animus/opinio juris


o É necessário que os sujeitos de DI acreditem na obrigatoriedade jurídica da prática. É necessária
uma orientação normativa (regra jurídica). Os sujeitos devem estar convencidos que essa prática é
juridicamente obrigatória e que podem haver sanções se não respeitarem. Os costumes são tão
obrigatórios como os tratados. O costume só se configura a partir deste elemento, é importante
identificar quando temos o elemento psicológico pois é a partir daqui que a norma costumeira vai
figurar, e é quando este elemento deixa de existir que a norma costumeira deixa de vigorar. Pode
ser difícil fixar com rigor a data de nascimento da norma e de quando ela deixa de vigorar, mas é
uma dificuldade que não é própria ao DI, é inerente a esta fonte.
o É difícil caracterizar este elemento psicológico, aplica-se uma presunção ilidível de que a
formação da prática, nada havendo em contrário, permite supor a formação da correspondente
opinio júris.
→ Não é necessário que o convencimento seja unanime bastando a convicção dos Estados
principalmente interessados.

Pontos Fracos (dos costumes):

o Caracter estruturalmente conservador.


o Demasiada lentidão
o Fonte de direito demasiada indeterminada.

Pontos Fortes (dos costumes):

o Função indispensável na ordem internacional em caso de lacuna normativas.


o Desenvolvimento dos costumes selvagens, ao lado dos costumes sensatos.
→ Costume sensato (tradicional): prática seguida da opinio júris.
→ Costumes selvagem: convicção da obrigatoriedade da norma, seguida pela prática. Caracter
espontâneo e súbito, função acelerada do costume

2. O fundamento do costume internacional


o Teoria voluntarista ou positivista: acordo tácito
→ Durante muito tempo por força desta teoria, com as quais a vontade de um estado é
considerada como a fonte única de todo o direito positivo, o costume assim era visto
como fundado num acordo tácito, entre os Estados.
→ Hoje, esta explicação jamais pode ser aceite, porque temos dois aspetos que vão em
contradição com esta teoria, se assim fosse, o acordo tácito, isso implicaria que todos os
estados deveriam conhecer a formação do costume, mas isso nem sempre acontece. Nos
países mais ricos e poderosos, eles conseguem detetar a formação do costume, nem
todos conseguem identificar a formação do costume. Esta teoria não explica o motivo
porque os novos estados que surgem também se considerem vinculados a costumes
relativamente aos quais no momento da sua criação eles nem sequer existiam e por
maioria da razão não disseram nem que sim nem que não. O facto de acederem à
sociedade, faz com que seja obrigação deles aceitarem certas regras para a convivência
internacional.
o Teoria jusnaturalista: necessidades da convivência internacional.
→ uma teoria que tem a haver com valores e princípios acima da vontade dos estados e
devem inspirar a criação das normas em vigor nas sociedades. Conforme esta, o costume
forma-se independentemente da vontade dos estados. Independente do consentimento
porque derivam das necessidades da convivência internacional. A origem dos costumes é
inconsciente e o seu valor deriva da convicção da sua obrigatoriedade e das necessidades
da convivência internacional.
o A prática do TIJ não tem sido uniforme:
→ Caso da Plataforma continental do Mar do Norte de 1969, o TIJ afastou a tese
voluntarista;
→ Casos das Pescarias de 1951 e da Barcelona Traction de 1970, o TIJ aceitou a teste
voluntarista.
o Nas decisões mais recente do TIJ, a tendência é afastar a teste voluntarista para o costume
geral e basear-se na tese voluntarista para os costumes particulares. Se estamos face a uma
norma universal = costume geral = direito internacional geral, o juiz internacional afasta a tese
voluntarista pela razão pragmática anterior, é impossível verificar a vontade de todos os estados
do mundo, era um trabalho enorme que o juiz não pode fazer, mas sim ver qual a prática dos
estados interessados. O TIJ aceita a tese voluntarista dando um peso maior à vontade dos
estados no caso dos costumes particulares, com um âmbito mais restrito, local ou regional, se o
âmbito de aplicação é mais restrito, então é preciso dar um peso mais forte à vontade dos
estados.

Regime Jurídico do Costume Geral


o Em princípio, presume-se a aceitação do costume. Pode ser manifestada expressamente pelos
estados ou pode ser deduzida a partir do silencio dos estados. É um silêncio guardado perante
uma dada situação, se o estado não diz nada podemos dizer que ele deduziu. Também pode
haver estados que não queiram ser vinculados a costumes, quem pretender tem que provar que
não aceitou a sua formação, para isto são necessários objetores persistentes se reunirem 3
condições:
1. Contestar o costume desde o início da sua formação;
2. Manter a contestação de maneira continua;
3. Não contestar uma norma imperativa (só se pode opor a normas dispositivas (ordinárias))
(jus cogens).
o A não-aceitação por alguns pode ser insuficiente para impedir a formação de um novo costume
geral. Mesmo que alguns se oponham à formação de um costume isso pode não ser suficiente,
nem sempre todas as objeções são suscetíveis de impedir a formação.
o Quando um costume esta em regressão, seria é a possibilidade de coexistência temporária de
costumes contraditórios.
o A violação sistemática de uma norma consuetudinária é suscetível de conduzir à eliminação ou
alteração do costume (salvo se for uma norma de jus cogens). As normas imperativas
costumeiras, são todas costumeiras porque estão nos dois suportes, estas são consideradas
como tão importantes que não basta violações para as eliminar, pelo menos se as violações
forem pontuais, é sempre possível modificá-las, mas em princípio estamos num sentido de
sempre melhorar essas normas.
3. A determinação da existência do costume internacional
o O costume pode ser invocado ex officio pelo juiz. No caso me que tenha sido invocado pelas
partes num diferendo, cabe-lhes o respetivo ónus da prova. É um silêncio guardado perante uma
dada situação, se o estado não diz nada podemos dizer que ele deduziu.
o Analise da prática dos estados na ordem interna e na ordem internacional:
→ Ordem Interna:
 Analise foca-se na observação dos atos jurídicos dos estados, como praticam os
órgãos do estado, o legislativo, o legislativo e jurisdicionais.
 Atos do executivo: o que pode ter importância por exemplo um discurso oficial, pode
ser utilizado como uma prova que o estado acredita que é costume e obrigatório, atos
diplomáticos, correspondência diplomática, e também tudo o que é instruções
governamentais e ministeriais que são transmitidas aos diplomatas.
 Atos dos órgãos legislativos: alguma importância as leis internas que são votadas pelo
parlamento interno, podem dar uma orientação sobre a conduta que um estado adota
sobre outros estados.
 Atos dos órgãos jurisdicionais: poder judicial, toda a jurisprudência dos tribunais
nacionais, pode ser útil quando os tribunais internos se pronunciam sobre questões do
direito internacional

→ Ordem Internacional:
 Decisões das instâncias jurisdicionais e sentenças arbitrais internacionais, importante
no sentido em que se pronuncia sobre a existência de um costume, facilita o
conhecimento do direito.
 Tratados, pois podem codificar o costume, e também podem dar nascença a um
costume em paralelo, os tratados tanto podem codificar um costume, mas um tratado
sendo só tratado no início pode através da sua aplicação reiterada, criar uma prática
que mesmo os que estão fora a pratiquem, isso vai dar origem a um costume.
 Atos das Organizações Internacionais (OGs), participam muito na formação do
costume, existem cerca de 300 organizações internacionais, elas produzem direitos e
resoluções, permitem comentários por partes dos governos, tudo isto contribui para a
criação de costumes, mesmo que as resoluções não sejam obrigatórias, a substância
dessa resolução pode evoluir para um carácter obrigatório se houver ao seu lado uma
prática reiterada com a convicção dos estados podemos concluir que paralelamente à
resolução há um costume obrigatório.

4. Classificação dos costumes


A. Costumes gerais ou universais
o Vigoram e são aplicáveis em toda a sociedade internacional, costumes reconhecidos pela
generalidade (universal) dos Estados.
→ Para que um estado seja vinculado a um costume geral não é necessário que ele tenha
participado na sua elaboração ou formação, basta que manifeste tacitamente a sua
elaboração. A única exceção seria a de não rejeitar o costume no momento da sua
formação.
→ Saber se os novos estados presentes na cena internacional estão ou não vinculados aos
costumes gerais já existentes - foi importante no momento da descolonização, só que
hoje considera-se que há algumas regras importantes a respeitar, como a proibição do
uso da força, o princípio da soberania territorial, a liberdade do alto mar, tudo isto é
importante para a convivência dos estados.
B. Costumes particulares ou regionais
o Só vigoram entre determinados estados, ou seja, só vigoram entre os estados que os
sancionaram com as suas partes. Da se mais peso á vontade dos estados.
o Os que apenas são reconhecidos por dois (bilateral) ou um grupo de estados
o O estado que invoca um costume particular fica com o ónus da prova, tem de provar a sua
existência, em que o juiz vai ser muito mais exigente.

Secção II. Os atos unilaterais internacionais

1. Definição:
o Ato praticado por um só sujeito do DI, ou a vários conjuntamente desde que, neste último caso, o
conteúdo do ato seja o mesmo.
o Inicialmente só existia atos unilaterais dos Estados, mas com a importância das organizações
internacionais essas passaram a adotar atos unilaterais

2. Os atos unilaterais dos Estados:


1. A notificação – é a comunicação aos respetivos destinatários de uma qualquer situação a qual se
associam efeitos jurídicos.

2. O reconhecimento – ato pelo qual o estado verificando a existência de cetos factos/atos jurídicos
declara que os considera como elementos a ter me conta nas suas relações internacionais.

3. A promessa – ato pelo qual um estado declara a outro ou outros que se obriga a adotar um certo
comportamento. A expressão da vontade é obrigatória. Exemplo: caso que opôs a Dinamarca à
noruega a propósito da Gronelândia oriental. O rei da Dinamarca tinha prometido renunciar um
território da Gronelândia e essa promessa vou reconhecida como vinculativa pelo juiz internacional.
Exemplo: França e outros dois estados a austrália e a nova Zelândia em relação aos ensaios
nucleares. A França para experimentar as bombas nucleares, tem que o fazer numa ilha na polinésia
francesa, mas ao fazer isto cria consequências nuclear negativas para os países vizinhos (austrália e
nova Zelândia). Estes dois estados foram contestar estas experiências francesas a dizer que estavam
a ser prejudicados. O presidente francês disse que só ia fazer testes subterrâneos. Os pedidos foram
tomados como sem objeto, porque reconheceu que a promessa é um ato vinculativo para o estado.

4. A renuncia – vontade de um estado fazer distinguir um direito que lhe pertence.

5. O protesto – manifestação de uma discordância quanto a um acontecimento/situação, pode ter


haver com um facto como uma situação ou um ato jurídico.

6. A denúncia – ato pelo qual um estado se declara desvinculado de um tratado, sabendo que há
condições a respeitar.

3. Os atos unilaterais das Organizações Internacionais


1. As resoluções (termo genérico): atos emanados de órgãos coletivos
2. As recomendações: atos através dos quais a OI dirige, de forma solene, um convite para a adoção de
um certo comportamento (Ex: AGNU)
3. As decisões: atos através dos quais a OI impõe um dado comportamento, com caracter obrigatório
(Ex: Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU))

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