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Direito da Família – 1º semestre – 4º Ano – CASOS PRÁTICOS

17.11.2022

Caso Prático nº 14:

1. André casou com Beatriz, no regime supletivo de comunhão de adquiridos, tendo sido Beatriz vítima de coação
moral por parte de André. André, enfrentando dificuldades financeiras, vendeu um tereno sem consentimento
de Beatriz. Entretanto o casamento é anulado. Quid iuris?

Resposta:
Temos um terreno e presumimos que é comum e face a isto, estamos perante um casamento civil que foi anulado em virtude
de um vicio da vontade que é a coaçã o moral, remeter para as normas que anulam, art.º 1627 CC, anulabilidade art.º 1631 b)
CC. Art.º 1632 CC, quanto à coaçã o moral temos o art.º 1638 CC, e o art.º 1641 e art.º 1645 quanto à legitimidade e prazo.

O que acontece ao contrato de compra e venda que foi celebrado por André sem o consentimento de Beatriz, celebrado
durante o casamento. O art.º 1682-A a) CC, diz que no regime de comunhã o de adquiridos a alienaçã o do terreno impõ e o
consentimento de ambos sob pena de anulabilidade do negó cio, nos termos do art.º 1687 CC. Acontece que ainda nã o houve a
anulaçã o deste contrato de compra e venda e este casamento foi o casamento anulado. Havendo anulaçã o do casamento
poderã o ser reconhecidos efeitos ao casamento se estiver em causa o casamento rotativo. Efeitos até à data do transito em
julgado da sentença de anulaçã o se estiverem verificados os pressupostos do art.º 1647 CC.

O casamento putativo tem uma exceçã o ao regime geral da invalidades porque vem permitir a atribuiçã o de efeitos a um
negó cio que é considerado invalido em virtude da natureza especial deste negó cio que é o casamento.

O art.º 1647 impõ e o preenchimento cumulativo de 3 requisitos para que se produzam os efeitos putativos.

É necessá rio deste logo a existência do casamento, se o casamento for inexistente por se verificar alguma das situaçõ es do
art.º 1628 CC esse casamento nã o irá produzir efeitos putativos art.º 1630 CC, no nosso caso este requisito está preenchido
porque o casamento de André e Beatriz nã o é inexistente, apenas temos um casamento que sofreu de um vicio da vontade
que gera anulabilidade.

O casamento tem de ser declarado nulo ou anulado, até la o casamento vai produzir todos os seus efeitos, no nosso caso o
casamento já foi anulado.

E por fum falta o requisito da boa-fé, tem de existir, é um requisito necessá rio para que se produzam efeitos quer nas relaçõ es
entre os conjugues ou ainda nas relaçõ es externas. A eficá cia putativa em relaçã o aos filhos nã o depende da boa-fé, é um caso
excecional art.º 1827 CC, em relaçã o aos filhos vã o se produzir todos os efeitos independentemente da boa-fé.

A alei presume a boa-fé art.º 1648 nº3 CC, consiste na ignorâ ncia desculpá vel do vicio que causa a nulidade ou anulabilidade.

Considerando que esta também de boa-fé o conjugue cujo consentimento tenha sido extorquido por doaçã o. A boa-fé é aferida
ao momento da celebraçã o do casamento.

Se houve coaçã o moral o André está de má fé porque coagiu Beatriz a casar e em relaçã o a André ele nã o vai poder aproveitar
qualquer efeito putativo do casamento, em relaçã o a Beatriz ela está de boa-fé, foi a vitima da coaçã o moral, significa isto que
a Beatriz vai puder aproveitar os efeito favorá veis do casamento putativos nas relaçõ es entre os conjugues mas no caso, esta
em causa um contrato de compra e venda que foi celebrado com um terceiro e queremos saber se a Beatriz pode ainda vir a
anular este negocio, será que vamos ter a produçã o de efeitos putativos nas relaçõ es externas.

Também nestas relaçõ es é necessá ria a boa-fé e portanto só Beatriz é que se vai puder arrogar dos efeitos e a produçã o destes
efeitos varia consoante o tipo de relaçã o que foi estabelecida. Pois só há a produçã o de efeitos putativos se se tratar de uma
relaçã o que é reflexo das relaçõ es havidas entre os conjugues. Nã o vã o ser produzidos todos os efeitos putativos nas relaçõ es
externas temos apenas a produçã o de efeitos como um mero reflexo. E naturalmente vã o ser aproveitadas se forem favorá veis
ao conjugue de boa-fé.
No nosso caso será que esta relaçã o que André estabeleceu como o terceiro em que vende um terrenos sem consentimento da
Beatriz será que esta relaçã o é reflexo das relaçõ es entre os conjugues? É reflexo porque nã o é um simples contrato de
compra e venda, tem uma limitaçã o quanto ao consentimento.

Estamos perante um efeito que é reflexo das relaçõ es entre os conjugue porque a celebraçã o do contrato de compra e venda
durante a constâ ncia do casamento no qual vigora o regime da comunhã o de adquirido exige o consentimento de ambos, esta
exigência decorre do facto de estarem casado e terem um patrimó nio comum nessa medida esta relaçã o, irá refletir, afetar,
qualquer outra relaçã o que os cô njuges tenham neste â mbito. Se nã o houver consentimento o art.º 1687 permite que o
conjugue que nã o deu consentimento venha anular o negó cio. Sendo esta açã o julgada procedente vai afetar o direito
adquirido pelo terceiro, estando a Beatriz de boa-fé, em relaçã o a ela irã o ser produzidos os efeitos putativos e, portanto, ela
tem legitimidade para invocar a anulabilidade deste negó cio nos termos do art.º 1687 CC.

2. Suponha agora que Beatriz havia recebido de um tio uma doação para casamento. O casamento foi anulado com
base em erro sobre as qualidades essenciais do outro nubente (art. 1636.º), erro que recaía sobre a pessoa do
André. O que acontece à doação?

Resposta: estamos no â mbito do casamento putativo, remetemos o que foi dito anteriormente em termos gerais sobre este
casamento, ser a que continuamos a atribuir efeitos putativos a este casamento que foi anulado? Temos de ver os 3
requisitos. O casamento continua a existir, nã o é inexistente, sabemos que o casamento foi anulado mas agora em erro art.º
1637 CC. Existe boa-fé. A Beatriz estava em erro sobre as qualidades essenciais de André, aparentemente estava de boa-fé.

Estamos no â mbito de uma relaçã o estabelecida entre Beatriz e o tio, um contrato de doaçã o eu foi feito em virtude do
casamento. O tio fez esta doaçã o porque ela iria casar, será que a Beatriz que esta de boa-fé pode aproveitar os efeito
favorá veis do casamento putativos das relaçõ es externas. No art.º 1647 nº2 CC, se apenas um dos conjugue seta de boa-fé
pode aproveitar os efeitos favorá veis do casamento putativos desde que se trate de efeitos que sejam meros reflexos das
relaçõ es entre os cô njuges, embora a doaçã o tenha sido feito em virtude do casamento a doaçã o resulta de uma relaçã o
direta entre a Beatriz e o tio, nã o é um mero reflexo da relaçã o entre os conjugues. O art.º 1760 a) CC, diz que com a
anulaçã o do casamento a doaçã o vai caducar nos termos do art.º 1760 a) CC portanto nã o se tratando de uma relaçã o que é
um mero reflexo nã o vã o ser produzidos quaisquer efeito putativos com a anulaçã o do casamento, a doaçã o caduca e
portanto a Beatriz vai ter de devolver ao tio o bem doado. Só nã o seria assim se ambos estivessem de boa-fé, neste caso o
casamento invalido, vai produzir todos os efeitos quer sejam efeitos que sã o meros reflexos das relaçõ es entre si quer os
demais.
Caso prático n.º 15:

No dia 1 de julho de 2000, Alfredo casa civilmente com Bruna, tendo-se realizado a celebração do casamento católico
no dia de Natal do mesmo ano. Em Junho de 2003, o casamento católico é declarado nulo por decisão definitiva dos
tribunais eclesiásticos. A decisão é devidamente averbada no registo civil.

a). Em dezembro de 2003, Bruna pretende casar, em segundas núpcias, com Caetano. Poderá fazê-lo?

Casamento cató lico que foi declarado nulo, 2ª modalidade do casamento civil facultativo, que assume a particularidade de ter
dos institutos a reger este casamento (direito civil e direito canó nico), art.º 1587 CC e art.º 1589 CC.

No caso em concreto o casamento cató lico foi declarado nulo por decisã o dos tribunais eclesiá sticos, estes tribunais têm
competência para declarar anualidade art.º 1625 CC, sem prejuízo da alteraçã o que foi introduzida pela concordata de 2004
que veio alagar a competência aos tribunais do estado para regular os efeitos desta decisã o.

O processo decorre, nos termos do art.º 1626 CC, para que a declaraçã o de nulidade do casamento cató lico produza efeitos à
luz da ordem civil é necessá rio, um requerimento apresentado pelos interessado ao supremo tribunal da assinatura
apostó lica par que este tribunal remeta o processo para o tribunal da relaçã o, o tribunal da relaçã o terá que proceder à
revisã o e confirmaçã o de sentença estrangeira. Sem este processo, a nulidade nã o é reconhecida na ordem civil, em termos
prá ticos, mesmo tendo sido declarado nulo pelo direito canó nico, à luz do direito civil continua casados. No enunciado diz que
o casamento foi declarado nulo e que a decisã o foi averbada no registo civil, presume-se que foi cumprido este procedimento,
uma vê feita a revisã o e confirmaçã o esta tem de ser averbada no registo. Nesta hipó tese bruna pode ou nã o voltar a casar?
Sim pode, mas só pelo casamento civil, com Carlos, porque à luz da igreja cató lica só a dispensa do casamento rato e nã o
consumado permite a celebraçã o de um novo casamento pela igreja, caso contrá rio casa pelo civil e nã o pela igreja cató lica.

b). Qual seria a solução se, em vez da declaração de nulidade do casamento católico, em junho de 2003 tivesse sido
anulado o casamento civil?

Temos a anulaçã o do casamento civil, isto significa que à luz da igreja cató lica o casamento continua a produzir os seus
efeitos. No caso a anulaçã o seria do casamento civil e nã o do casamento cató lico. À luz do direito canó nico continuariam
casados apesar da anulaçã o por parte do casamento civil. Os tribunais civis nã o tem competência para apreciar a validade à
luz do direito canó nico. O se pode pronunciar sobre as causas de anulabilidade à luz do casamento civil. Isto significa que este
casamento se continua a ser valido à luz do direito canó nico, vai levar a que Beatriz nã o pudesse voltar a casar, porque temos
um impedimento do casamento anterior cató lico nã o dissolvido, art.º 1601 c) CC.

c). E se, em vez da declaração de nulidade do casamento católico ou da anulação do casamento civil, tivesse sido
proferida, em junho de 2003, uma sentença de divórcio?

O divorcio afeta quer o casamento civil quer o cató lico, poderia voltar a casar pelo civil porque já nã o existira, impedimento
matrimonial, mas pela igreja nã o poderia voltar a casar. Mas à luz do direito canó nico há um dever moral de se manterem
casados o que significa à lux do direito canó nico que o casamento é dissolvido por divorcio nã o podem voltar a casar pela
igreja.
Caso prático n.º 16:

O nubente que tinha os apelidos Telles de Andrade, adotou pelo casamento o apelido de Abreu da mulher, tendo
assinado o seu nome no duplicado do assento do casamento com a composição Telles Abreu de Andrade. A nubente
adotou o apelido de Andrade do marido, ficando com o nome assim constituído: Abreu de Andrade.

Diga se é legalmente admitido o procedimento dos nubentes.

Está em causa um dos efeitos pessoais do casamento, nomeadamente o direito ao nome, art.º 1677 CC, de acordo com este
artigo os nubentes pode acrescentar até ao má ximo de dois apelidos do outro e este acréscimo pode ser acrescentar no fim ou
intercalado com o objetivo de criar o nome de família. Neste caso ambos quiseram acrescentar os apelidos para criar o nome
de família e intercalaram. E pode fazê-lo. Esta intençã o de acrescentar os apelidos no momento da celebraçã o do casamento
para que fique a contar do assento do casamento no entanto mesmo apos a celebraçã o do casamento podem vir a adotar os
apelidos sendo que nessa altura será feito o averbamento ao assento do casamento.

Caso prático n.º 17:

Adão casou com Maria, tendo esta adotado os apelidos do marido. Anos volvidos, Adão falece e Maria pretende casar,
em segundas núpcias, com Fernando.

a). Poderá Maria conservar os apelidos de Adão?

Esta em causa um dos efeitos pessoais do casamento nomeadamente o direito ao nome, art.º 1677 CC, e no caso a
manutençã o dos apelidos apos o falecimento do conjugue em primeiro quanto à questã o de aquisiçã o dos apelidos, com o
art.º 1677 cada um dos nubentes pode adotar ao má ximo de 2 apelidos do outro e pode ser acrescentar no fim ou intercalar.
Relativamente à conservaçã o dos apelidos em caso de viuvez o art.º 1677 A CC diz que em caso de viuvez o conjugue viú vo
pode manter o uso de apelidos e pode inclusive manter esses apelidos mesmo se decidir celebrar novo casamento que é o
caso. Maria quer casar com Fernando e manter apelidos de Adã o. Para ao manter terá de declarar até à data de celebraçã o do
novo casamento, senã o com o novo casamento vai perder.

b). E se Maria pretender acrescentar os apelidos de Fernando, poderá fazê-lo?

Pode sim adotar os apelidos de Fernando, mas já nã o vai conservar os apelidos de Adã o. Art.º 1677 nº2 CC.

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