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HIPÓTESES E MATERIAIS DIREITO DAS

SUCESSÕES
CASO 1 (Estática sucessória) 

Aldo, farmacêutico, faleceu em janeiro de 2020. Dois anos antes de falecer Aldo fez o
seguinte testamento público:

 a modalidade de sucessão aqui prevista é a testamentária: artigo 2026º CC

 O de cuius não possui herdeiros legitimários - artigo 2157º CC; artigo 2133º, nº
1, al. a) e b). A sucessão legitimária prevalece sobre qualquer outra, porém
como o de cujus não tem herdeiros legitimários, prevalece a sucessão
testamentária sobre a sucessão legítima - artigo 2027º CC, pois esta pode ser
afastada pela vontade do autor, tem caráter supletivo. 

 No entanto a sucessão legítima opera no caso de o falecido não tiver


disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, dos bens de que podia
dispor para depois da morte, são chamados à sucessão desses bens os seus
herdeiros legítimos de acordo com o artigo 2131º CC

1. Deixo ao meu afilhado Bernardo o meu direito legal a alimentos sobre os


meus irmãos;

 Aldo tinha dois irmãos: Luís, irmão germano que o sobreviveu e


Sérgio, irmão uterina que morreu e deixou dois filhos

 De acordo com o artigo 2009º CC sobre as pessoas obrigadas a


alimentos, importa ressaltar que os pais de Aldo já faleceram e este não
era casado nem tinha filhos, logo não se aplicam as alíneas a), b) e c) do
artigo 2009º, nº 1. Esta obrigação cabe, então, a Luís- 2009, nº 1, alínea
c) CC, pois Sérgio morreu- artigo 2013º, nº 1, al. a) CC. Porém Luís não
tem nenhuma obrigação de prestar alimentos ao afilhado de Aldo,
pois esta cessa pela morte do alimentado segundo o artigo 2013º, nº
1, al. a) CC

 Mediante o artigo 2025º, nº 1 CC não constituem objeto de relações


jurídicas as relações que devam extinguir-se por morte do respetivo
titular, em razaão da sua natureza- o que enquadra o artigo 2013º, nº 1,
al. a) CC. Logo esta cláusula não é valida. 

2. Deixo o direito de uso e habitação do meu imóvel em Abrantes a Nelson;


 O direito de uso consiste na faculdade de se servir de certa coisa alheia e
haver os respectivos frutos à luz do artigo 1484º, nº 1 CC. Quando este
direito refere-se a casa de morada chama-se de direito de habitação
segundo o nº 2 do mesmo artigo. 

 Os direitos de uso e de habitação constituem-se pelos mesmos modos


que o usufruto e são igualmente regulados pelo seu título constitutivo
segundo o artigo 1485º CC. Desta forma o direito de uso e habitação
pode ser constituído por testamento segundo o artigo 1440º CC.
Logo, de acordo com o artigo 2030º, nº 2, CC Nelson é havido como
legatário. De acordo com o artigo 2258º CC a deixa, na falta de
estipulação em contrário, considera-se feita vitaliciamente. 

 O direito de uso qualifica-se como legado dispositivo, pois traduz-se


numa diminuição do ativo da herança e é um legado de direito novo
formado à custa de um direito preexistente no patrimônio do falecido

 a cláusula é válida 

3. Lego a propriedade do meu imóvel em abrantes a Miguel, com a expressa


obrigação de mandar proceder ao meu funeral por cremação

 O direito de propriedade pode ser adquiridos por sucessão por morte-


artigo 1316º, o momento da aquisição, no caso de sucessão por morte é o
da abertura da sucessão- 1317º, al. b)

 A sucessão é deferida por lei, testamento ou contrato- artigo 2026º CC.


Como Aldo não possui herdeiros legitimários e deixou testamento, este
prevalece sobre a sucessão legitima, já que pode ser afastada pela
vontade de autor- artigo 2027º 

 Aldo qualifica Miguel como legatário e de acordo com o artigo 2030º, nº


5 a qualificação dada pelo testador não lhes confere o título. Mas neste
caso como Miguel sucede em um bem determinado é havido como
legatário- artigo 2030º, nº 2 CC. Portanto, coincide com a qualificação
dada pela lei. 
 Este é um legado dispositivo pois traduz-se numa diminuição do ativo da
herança sendo então um legado de direito real (o direito de propriedade)
preexistente no patrimônio do falecido 

 esta cláusula é válida


 Além disso, o testamento pode ter conteúdo pessoal de acordo com o
artigo 2179º, nº 2 CC. Neste caso dispôs que Miguel deveria mandar
proceder o funeral de Aldo por cremação. A herança responde pelas
despesas com o funeral 2068º CC.  

4. Isa será beneficiária do meu seguro de vida


 Aqui coloca-se a questão sobre certos negócios bilaterais válidos que não
se encaixam a primeira vista na definição de negócios sucessórios
(aqueles pelos quais ocorre uma aquisição por morte de uma liberalidade
à custa do património do falecido), contudo, apresentam relevância
sucessória ou desempenham uma função de atribuição patrimonial muito
parecida com a das deixas testamentárias e pactícias. Portanto, esses
negócios bilaterais válidos, com um papel preponderante no Direito
Patrimonial, suscitam a questão de serem pactos sucessórios não
abrangidos pela previsão do artigo 1700º, nº 1 CC, seriam então uma
sucessão contratual anômala? 

 O contrato a favor de terceiro é aquele mediante o qual o promitente


assume perante o promissário a obrigação de efetuar uma prestação a
favor de terceiro segundo o artigo 443º. Há contratos que a prestação
deve ser efetuada após a morte do promissário artigo 451º, nº 1 CC. 

 O seguro de vida constitui um exemplo de contrato a favor de terceiro


em que a prestação de destina a ser efetuada após a morte do
promissário. Por morte do segurado, o beneficiário do seguro de vida
adquire a título gratuito um capital que lhe é entregue pela empresa
seguradora. No entanto, apesar da aplicação de várias regras sucessórias (
ex. indignidade) o contrato não corresponde a um pacto sucessório
designativo. O capital não é um bem integrante na herança do
promissário, este encontra-se ou encontrava-se no patrimônio da empresa
seguradora que o entrega na sequencia de um contrato celebrado com o
falecido promissário, no entendimento de JDP. logo não se configura
como uma sucessão contratual anómala

5. Reconheço que cátia é minha filha, embora saiba que seu pai não sou eu
6. Deixo a Leonor a minha licença para a exploração de uma farmácia
 A licença para exploração da farmácia enquadra-se como um direito de
usufruto - artigo 1439º CC. Assim sendo, o usufruto não pode exceder a
vida do usufrutuário a luz do artigo 1443º CC

 Desta forma, o usufruto extingue-se por morte de Aldo- artigo 1476º, nº


1, al. a). Enquadrando-se nas situações do artigo 2025º. nº 1 CC

 Esta cláusula é inválida. 

7. O meu usufruto sobre a minha casa sita em Coimbra fica para Edgar

 Edgar morreu 3 segundos após Aldo.

 O direito de usufruto extingue-se por morte do usufrutuário- neste caso


Aldo de acordo com o artigo 1476º, nº 1, al. a). Logo esta situação se
encaixa nas relações jurídicas que não constituem objeto de sucessão,
pois devem extinguir-se por morte do respetivo titular, em razão da sua
natureza à luz do artigo 2025º, nº 1 CC
 Logo, esta cláusula é inválida. 

8. Lego a Óscar o meu direito de preferência convencional sobre a casa sita em


Coimbra

9. Caberá a Pedro o imóvel que tenho no Funchal


 é necessário ter capacidade para suceder 2032º, nº 1, ultima parte;
2033º/1 CC
 De acordo com o artigo 2030º/1CC as especies de sucessores podem ser
divididas entre herdeiros e legatários;

 Como caberá a Pedro suceder o de cuius em um bem determinado, o


imóvel no Funchal, Pedro é havido como legatário à luz do artigo
2030º, nº 2, 2ª parte CC

 No entanto, coloca-se o problema de o de cuius ter feito o testamento


dois anos antes da sua morte. Portanto, em 2018, mas em 2019 o imóvel
no funchal foi vendido, não se encontrando ao tempo da abertura da
sucessão no patrimônio de Aldo. Assim sendo, este legado classifica-se
como legado de coisa alheia, pois o testador deixou uma coisa que não
lhe pertence. Desta forma, aplica-se o artigo 2254º, nº1- é nulo o
legado de coisa determinada, com a declaração de que aquela coisa
existe no seu património, mas assim não suceder ao tempo da sua
morte. 

10. Deixo a casa onde resido, há três anos, com a minha prima, em Lisboa, aos
meus herdeiros legítimos
 Aldo não possui herdeiros legitimários (2157º CC) 
 Os herdeiros legítimos são os irmãos e seus descendentes (2133º, nº 1 al.
c)

Analise o testamento, pronunciando-se sobre a validade das diversas cláusulas, e


determinando o regime jurídico aplicável a cada um dos seus sucessíveis. 

Tenha em conta que: 

a. Aldo morreu num acidente de viação, no qual também faleceu Edgar, três
segundos depois

b. O direito de preferência sobre a casa sita em Coimbra teve origem num


contrato celebrado com Gabriel, nos termos do qual “este direito de
preferência transmite-se por morte de qualquer uma das partes”

c. Em 2019, Aldo vendeu o imóvel sito no funchal

d. A prima de Aldo reclama para si o imóvel onde ambos residiam

e. Aldo tinha dois irmãos, dos quais apenas um, Luís (irmão germano) lhe
sobreviveu. O outro irmão, Sérgio (irmão uterino) deixou dois filhos. Os seus
pais já tinha falecido e Aldo não era casado, nem tinha filhos 

 2179º/1 CC- diz se testamento o acto unilateral e revogável pelo qual


uma pessoa dispõe para depois da morte de todos os seus bens ou de
parte dele;

 2204ºCC - as formas comuns são o testamento público e o testamento


cerrado. Aldo fez um testamento público que a luz do artigo 2025º CC é
o testamento escrito por notário no seu livro de notas
 para testar é necessário ser capaz- capacidade testamentária ativa de
gozo- 2188º CC
 o conteudo do testamento pode ser pessoal ou patrimonial- 2179º /2 CC

 artigo 2025º/1: não constituem objeto de sucessão as relações jurídicas que


devam extinguir-se por morte do respetivo titular, em razão da sua natureza ou
por força da lei- 420º CC: o direito de preferência não é transmissível por morte

 Os sucessores podem ser herdeiros ou legatarios- artigo 2030/1 CC; a relevância


da distinção traduz-se na responsabilidade pelos encargos da herança, que em
principio incumbe aos herdeiros e somente a eles. 

 2030º/2- herdeiros: sucede na totalidade ou numa quota do património; legatário


sucede em bens ou valores determinados

 2031º CC- a sucessão abre-se no momento da morte do seu autor


 2032º /1 CC- chamamento dos herdeiros- serão chamados à titularidade das
situações jurídicas do falecido aqueles que gozam de prioridade na hierarquia
dos sucessíveis, desde que tenham a necessária capacidade

 O direito de uso consiste na faculdade de se servir de certa coisa alheia e haver


os respectivos frutos- Artigo 1484º CC. Os direitos de uso e habitação
constituem-se pelos mesmos modos que o usufruto e são igualmente regulados
pelo seu título constitutivo- 1485º CC- assim sendo o direito de uso e habitação
pode ser constituido por testamento - 1440º CC

modalidade de legados:
dispositivos- traduzem-se numa diminuição do ativo da herança. EX:Legados de
direitos reais ou de crédito preexistentes como tais no patrimônio do de cuius deixa de
coisa pertencente ao autor da sucessão;
obrigacionais: acarretam aumento do passivo hereditário

se o autor da sucessão onerar um legatário com um encargo do pagamento do passivo, a


disposição é valida, mas produz efeitos exclusivamente no plano das relações internas,
isto é, entre os sucessores. Os herdeiros responderão diretamente perante os credores da
herança, embora com direito de regresso sobre o legatário onerado. 

alguns sucessíveis tem o direito a legitima segundo a sucessão legitimária, isto é,


porção de bens legalmente destinada aos herdeiros legitimários- 2165º

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