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tratado de direito civil tomo IV

º Características das obrigações


- Natureza patrimonial
- obrigação era originalmente uma ligação entre pessoas e o problema da patrimonialidade não se punha,
entretanto com a evolução que conduziu a responsabilidade patrimonial a situação inverteu-se.
- Exigia-se para cada condenação em prestação uma quantia em dinheiro.
- Entretanto Jhering foi fundamental explicava que as prestações podiam ser sancionadas, mesmo não tendo
alcance patrimonial. Por exemplo, realidades como a saúde e o repouso não tem valor monetário, mas
carecem de proteção , numa evidencia que o Direito da responsabilidade teria de atender. Tudo isto permitiu
considerar ultrapassada a exigência da patrimonialidade.

- experiencia portuguesa
- no período da receção pandectistica conservou a ideia da exigência de uma natureza patrimonial. Iniciou-se
de seguida um movimento em sentido contrario- pois os danos decorrentes da violação de uma obrigação
são variáveis sem que isso resulte do quantum económico da prestação

- a atual redação diz que prestação não necessita de ter valor pecuniário, mas deve corresponder a um
interesse do credor, digno de proteção legal- resolveu aparentemente o problema da natureza
patrimonial, mas veio abrir dois outros: o da existência de um “interesse do credor”, diferente do da
prestação e o do alcance de “digno de proteção legal”

- Discussão dogmática
Tese clássica: a obrigação teria necessariamente natureza patrimonial, pois:
1- Haveria disposições legais expressas nesse sentido
2- Seria uma consequência inevitável da responsabilidade patrimonial
3- Resultaria da irressarcibilidade dos danos morais

De acordo com a evolução processada no direito romano, o devedor responde com os seus bens e não com a
sua pessoa. Sendo assim, perante uma obrigação concreta, sabe-se qual a porção de bens em situação de
respondência. Obtemos um valor que será o da prestação em falta. Se, de todo, a prestação não tiver valor, a
responsabilidade patrimonial não funciona, retirando, ao vinculo, a sua natureza jurídica.
Esta argumentação pressupõe que, na obrigação se inscreva o vinculo de respondência, isto é: que cada
crédito contenha, por ser crédito, um direito ao património do devedor. Não é o caso, pelo que a
responsabilidade patrimonial não “contamina”, de modo necessário e automático, a prestação principal.
Além disso- demonstração irrefutável de Gomes da Silva- a responsabilidade patrimonial poderá visar a
reconstrução não da própria prestação em falta, mas antes de uma realidade sucedânea.
Finalmente: o moderno direito das obrigações admite outros tipos de sanção, para além da execução
patrimonial. Por exemplo a execução especifica (é entregue ou realizado o próprio valor em jogo ) e as
sanções compulsórias (829º A Cciv) que visam levar o devedor ao cumprimento.
Nota: indemnização por danos morais não seria ressarcitória, mas compensatória.

Atualmente a tese clássica pode ser rejeitada pois:


- a própria lei no art 398º/2 1º parte explicita que a prestação não necessita de ter valor pecuniário
- independentemente da patrimonialidade, o devedor pode ser sempre condenado no cumprimento (817º
Cciv 1ª parte), prevendo-se ainda quanto as prestações de facto positivo (828º), as prestações de facto
negativo (829º) e as prestações jurídicas (830º), a execução especifica;

O que se entende por não necessita de ter valor pecuniário? Significa natureza patrimonial

- situação não patrimonial: é aquela cuja troca por dinheiro não seja admitida pelo Direito. As prestações
“sem valor pecuniário” serão aquelas que penetram pela fresta, das atuações que, não podendo ser trocadas
por dinheiro sejam, todavia, lícitas e logo: compensáveis com dinheiro. Repare-se que a dificuldade prática
em fixar o valor de uma prestação não significa que ela não o tenha.

º interesse do credor e a juridicidade


interesse digno de proteção legal significa suscetibilidade de proteção jurídica. Dado ao principio da
autonomia privada, é possível, em direito privado tudo o que não seja proibido pela lei. O que ficará fora da
juridicidade então?
Antunes varela apresenta duas opções:
1- Prestações que correspondem a um mero capricho do credor (ex. não usar cabelos cumpridos ou
saias acima do joelho; não usar uma joia que o inimigo do credor lhe doou)

2- Prestações consideradas por outros complexos normativos (ex. rezar todas as noites certo número de
orações ou fazer todos os meses determinado exercício de devoção; reatar relações com certas
pessoa)
A primeira cai dentro da juridicidade. Brincadeiras ou inutilidades de mau gosto cairão como declarações
não-sérias (245º) ou como contrárias aos bons costumes. Fora isso, se forem devidamente contratadas, são
possíveis. A lei não exige que as prestações sejam socialmente uteis. Fica a segunda, a prestação que apenas
releve para ordens não jurídicas não tem tutela legal; logo, não pode constituir-se como objeto de uma
obrigação.
Ou seja, quando falte a natureza patrimonial da prestação a lei exige juridicidade ao interesse do credor
“interesse digno de proteção legal”

- acordos de mera obsequiosidade ou cortesia: há um assentimento que se coloca por si fora da área do
direito: assim sucede com os convites mundanos, com acordos protocolares, com combinação de horas e
similares. Em regra, estamos perante acordos sem conteúdo patrimonial e que, segundo o trato social, não
são consideradas objeto de tratamento e de sanções jurídicas. A pessoa que não cumpre acordos de cortesia
será simplesmente objeto de reprovação social
- Acordos de cavalheiros: existe um convénio, por vezes com conteúdo patrimonial significativo, mas que as
partes pretendem retirar do campo do Direito: podem mesmo dizê-lo por escrito. Tal acordo vincularia as
partes na base do cavalheirismo, associado a honra pessoal de quem o conclua e não assente na juridicidade
e no aparelho judiciário do Estado.
No critério para determinar a juridicidade das relações obrigacionais, designadamente excluindo delas a
mera obsequiosidade, apela-se a indícios ou critérios, falando-se por vezes em indícios de seriedade. Temos
objetivamente o indicio da patrimonialidade e subjetivamente a vontade de se obrigar ou a vontade de
consequências jurídicas. Na verdade, pensamos que o critério é objetivamente social: em cada sociedade e
no momento considerado, se verificará se o acordo em causa comporta um tratamento jurídico. Assim, um
convite social pode envolver grandes interesses patrimoniais… mas nenhum Tribunal determinará a sua
execução.
Já quanto a acordos de cavalheiros, a questão será, antes, a de saber se é possível abdicar de proteção
jurídica. Pelo direito português isso não é viável, a não ser no plano do cavalheirismo. Os acordos de
cavalheiros comportam, quando patrimoniais, sempre uma colocação jurídica: no limite….

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