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problema que se coloca tem ou não relevância jurídica, por outras palavras, se os
ir tomar um café e um deles decide não aparecer. Não há qualquer dimensão jurídica
nesta questão e não podemos acusar o amigo de faltou de estar a violar uma obrigação
contraída perante o outro. Para resolver este problema inicial deve sempre prevalecer
aplicação, mas, desta vez, tendo os efeitos do negócio jurídico como objeto de estudo
e já não o negócio jurídico propriamente dito. Os negócios jurídicos têm vários efeitos,
um deles as obrigações. Por sua vez, as obrigações têm várias fontes, sendo uma delas
os negócios jurídicos.
produzidos por esses mesmos negócios. Interessa-nos não a formação do negócio, mas
Nos termos do Código Civil Português, em especial, do artigo 397º, será noção de
obrigação:
São vários os princípios que caracterizam o Direito das Obrigações. De acordo com a
entre o credor e o devedor, podendo ser retirada a relatividade dos artigos 397º,
parte mais fraca, patente do próprio direito civil – o devedor como parte mais
fraca, logo alvo de maior proteção jurídica. O princípio tem concretizações legais
muito explícitas, como o artigo 406º (deriva de fonte voluntária), o artigo 777º,
natural, no ser humano, em dar-se aquilo que não se tem, pelo que o Direito das
uma situação de desigualdade: há uma liberdade alargada com o domínio sobre a pessoa e
uma
O direito subjetivo, entendido como um poder de vontade, recai sobre a natureza nãolivre ou
sobre a pessoa estranha – no entanto, note-se que não recai sobre a pessoa em si; mas
sobre um ato que deve ser realizado por essa pessoa, que é a obrigação.
real sobre o devedor – ao que Savigny contrapõe que o foco não é a pessoa, mas
um ato do devedor;
Savatier – com um teor económico, que se traduz na ação patrimonial (que havia sido rejeitada
por Savigny, segundo críticas). Assim, a obrigação como atuação estaria destinada a satisfazer
o
Apesar dos pressupostos em que assentavam estas posições, já se entende hoje que
nem todas as obrigações têm um conteúdo patrimonial e que as obrigações valem por si,
pessoa fica adstrita, em relação a outra, à realização de uma prestação (art. 397º). No entanto,
há que reconhecer que esta noção é insuficiente no que respeita ao conteúdo e estrutura da
obrigação.
obrigações – como transferir, afinal, um vínculo pessoal? Afinal, as teorias pessoalistas não
A primeira tentativa é reportada a Albert Koeppen, que explica que, no crédito, não está
em causa um direito à prestação, mas ainda, o valor monetário que essa prestação tenha para
o credor.
Mais tarde, uma nova ideia de obrigação, vem reduzi-la a uma relação de patrimónios.
De acordo com o prof. Gomes da Silva, poderá ser extrema (quando a obrigação não vincula,
Puacchioni, já próximo das teorias mistas, vem apelar ao crédito como mera expectativa
à prestação, que teria também um direito real de garantia sobre o património do devedor.
adequada, afirmando os críticos que não se havia passado de uma visão pessoal
para uma visão patrimonial, mas de uma visão pessoal para uma adstrição ética
Nas doutrinas mistas residiria a lógica de haftung e schuld, afirmando estas que a
obrigação consiste num conjunto formado pelo débito e pela respondência – aquele que
causalidade; para além disso, não admitem um débito sem respondência, já que não teria
dever de prestar que serve um interesse do credor e uma execução que poderá
tentativa de explicação (já que o débito é de fácil explicação). Destacam-se três conceções: a
Portugal por Galvão Telles e Gomes da Silva, defende que, na obrigação, existe
Note-se que estas posições, apesar dos seus pressupostos, veem a sua aplicabilidade
posta em causa quando se avaliam figuras como: as obrigações naturais, a fiança, os direitos
reais de garantia e a separação de patrimónios (págs. 295 a 298). Para além disso, não deixa
de ser verdade que a respondência é um modo de ser de todo o direito, não se inscrevendo,
por
A teoria clássica apontava para a obrigação como a situação em que uma pessoa está
adstrita, para com outra, à realização de uma prestação e representaria uma noção que,
apesar
Henrich Siber, ao pondera o regime, destaca que a obrigação não traduz apenas um direito e
um
dever, mas antes vários direitos a várias atuações, afirmando a obrigação como um organismo.
complexidade interna, ou seja, constituída por vínculos de vária ordem. Aliás, Felix Herholz
vem
estatuir que a obrigação vai sofrendo modificações ao longo do tempo, o que faz surgir novos
deveres e novos encargos – apresenta a figura como uma relação-quadro constante, apesar
das
Ora, afirmada a obrigação como uma sequência que se prolonga no tempo e que é
composta, no seu conteúdo, por vários elementos, fez emergir a questão do fundamento que
estaria na base dos vários elementos – é chamado à coação o interesse do credor, que, aliás, é
satisfazer.
corretamente aquilo a que está adstrito, deverá sempre proceder a atuações diferencias que
se
Note-se, assim, que estas atuações podem ter fontes intrínsecas, decorrendo da
natureza das coisas; podem ter fontes dispositivas, ou seja, que se predem com o contrato ou
a
fonte em questão; podem ter fontes linguísticas, ou seja, no idioma considerado exige uma
vista unitário, diversas prestações que o servem – aliás, essas prestações tornam-se essencais
para se definir o regime jurídico adequado, bem como para garantir o correto cumprimento da
prestação a que o devedor está adstrito. Distinguem-se, assim, a prestação principal das
valores fundamentais do sistema, nomeadamente da boa fé. Assim, a boa fé deve ser
respeitada
nas negociações (227º), na execução dos contratos (762º) e no exercício de posições jurídicas,
sob pena de abuso de direito (334º). Traduzem-se em: deveres de lealdade, deveres de
segurança e deveres de informação. A função destes deveres é prevenir danos, seja no serviço,
Note-se que, para além do devedor, também o credor tem deveres: poderá,
eventualmente, ter de colaborar para que prestação principal seja possível (aliás, caso não
faculte a execução, entra em mora – 813º e ss.). Está, ainda, adstrito a deveres acessórios, que
têm por base a prevenção do agravamento da posição do devedor e os danos colaterais na sua
pessoa.
1 – INTRODUÇÃO
1.1.1 - Generalidades
No Direito Civil I estudamos a Parte Geral do Código Civil. Neste semestre entramos na
Parte Especial.
A matéria que trata do Direito das Obrigações está prevista no Livro I da Parte Especial do
qualquer espécie de vínculo ou submissão da pessoa a uma regra de conduta (pode ser
Mas no Direito das Obrigações o sentido é mais estrito, alcançando apenas vínculos
quando se tornam credoras e devedoras uma para com a outra, de forma que o credor pode
O estudo do Direito das Obrigações compreende a Parte Geral e a Parte Especial das
obrigações. Neste semestre estudaremos a Parte Geral, que fixa os princípios a que estão
subordinadas todas as obrigações e onde se estuda o nascimento, as espécies, o
1.1.2 – Importância
todas as espécies de obrigações (note que muitas relações obrigacionais surgem sem estar
Direitos reais: definem-se como o poder jurídico, direto e imediato do titular sobre a coisa,
com exclusividade e contra todos. O sujeito passivo do direito real é toda a coletividade que
Direitos obrigacionais (pessoais): Relação jurídica pela qual o sujeito ativo (credor) pode
somente se vinculam aqueles que fizeram parte do que contrataram e anuíram para