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FACULDADE SANTA LÚCIA PÁGINA 1 DE 54

MATERIAL DE APOIO DO SEMESTRE


DISCIPLINA: Direito Civil III
PROFESSOR: Dr. Marcelo Vanzella Sartori
CURSO: DIREITO – 3º SEMESTRE – 2022

MATERIAL ELABORADO UTILIZANDO-SE A BIBLIOGRAFIA:

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2

INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

• Conceito e âmbito do direito das obrigações

Tem por objeto relações jurídicas chamadas de direitos de crédito e/ou direitos pessoais ou obrigacionais.

OBRIGAÇÃO: forma ampla – qualquer espécie de vínculo ou de sujeição da pessoa (na religião. na moral, ou
jurídica) que traduza submissão a uma regra de conduta, cuja autoridade é reconhecida ou forçosamente se
impõe. Ex: obrigações religiosas, morais, sociais etc.

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: sentido estrito – vínculos de conteúdo patrimonial, que se estabelecem de pessoa a
pessoa, colocando-as, uma em face da outra, como credora e devedora, estando uma na situação de poder exigir
a prestação, e a outra na obrigação (ou condição) de cumpri-la.

DIVISÃO DO DIREITO EM 2 GRANDES RAMOS:

1 – não patrimoniais (referentes à pessoa humana como direitos da personalidade e os de família);

2 – direitos patrimoniais: 2.1 – reais e 2.2 – obrigacionais.

O Direito disciplina relações jurídicas que se formam entre as pessoas, vivendo em sociedade, precisando umas
das outras, celebrando convenções de diversas naturezas gerando vínculos entre elas (limitam liberdade,
obrigam-se a fornecer uma prestação).

Ex: VENDEDOR se obriga a entregar a coisa; COMPRADOR a pagar o preço. (essa relação jurídica estabelece-se em
função da escala de valores do ser humano na sociedade.)

Conceito: Direito das Obrigações (D.O.) é complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem
patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro, focando a AÇÃO ou a OMISSÃO
do devedor (prestação patrimonial da PESSOA) em vista do interesse do CREDOR, que tem o direito de exigir tal
cumprimento se utilizando inclusive do Poder Judiciário.

Vista hoje como um direito do credor, fornecendo meios a este para exigir do devedor o cumprimento da
prestação, quando de um CONTRATO, um ATO UNILATERAL DE VONTADE ou UM ATO ILÍCITO que gere prejuízo a
alguém, nasce daí uma relação obrigacional, onde o D.O. resguarda o direito do credor contra o devedor oriundo
desse ato ou fato jurídico.

• Importância do Direito das Obrigações

Exerce grande influência na vida econômica pela incidência constante de relações jurídicas dessa natureza no
mundo consumerista atual.
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Produção, capital-trabalho, relações de consumo (Compra e Venda, permuta, locação), distribuição e circulação
de bens (transporte, revenda...)

É pelas relações obrigacionais que se estrutura o regime econômico. Retrata a estrutura econômica da Sociedade.

Não é taxativo o rol de tipificação (como é no direito das coisas), se estendendo a todas atividades de natureza
patrimonial, desde as mais simples às mais complexas. É substrato do direito!

• Características

Tem por objeto direitos de natureza pessoal – credor (suj. ativo) e devedor (suj. passivo).

Regem vínculos patrimoniais entre pessoas, impondo ao devedor o dever de prestar (DAR, FAZER OU NÃO FAZER)
algo no interesse do credor, a quem a lei assegura o poder de exigir prestação positiva ou negativa.

1 – são direitos relativos: contra pessoas determinadas e não erga omnes; 2 - direito a uma prestação positiva
ou negativa: exige certo comportamento do devedor reconhecido o direito do credor; 3 – patrimonialidade:
pecuniário (discute-se sobre dano moral, porém o interesse do credor mesmo sendo apatrimonial, pode ser
suscetível de uma prestação avaliada monetariamente, procurando confortar a parte); 4 – autonomia privada:
indivíduos com ampla vontade de externar suas vontades, limitada apenas pela licitude do objeto, inexistência de
vícios, pela moral, bons costumes e ordem pública.

• Relações com outros ramos do direito civil

Com parte geral do CC: direitos da personalidade (pessoa natural ou pessoa jurídica) quando da utilização da
imagem, do nome, do corpo para fins publicitários, científicos...)

Direito de família e das Sucessões: aspectos patrimoniais como – casamento, parentesco, poder familiar, dever
de alimentos, transmissão de bens por herança legítima ou testamentária.

Direito das coisas: ambos são direitos patrimoniais. Garantias (penhor, hipoteca) e respeito da coletividade aos
direitos do titular da posse e da propriedade.

Contratual: é fonte das obrigações.

Responsabilidade civil extracontratual: dever legal de não lesar, constituindo fonte de obrigação a de reparar o
prejuízo causado.

• Distinções entre Direito das Obrigações ou Pessoais (D.O.) e Direitos Reais (D.R.)

Real: poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. SUJ. ATIVO –
COISA – RELAÇÃO OU PODER DO SUJ. ATIVO SOBRE A COISA (DOMÍNIO).

Pessoal: direito contra determinada pessoa. De pessoa a pessoa. SUJ. ATIVO – SUJ. PASSIVO – PRESTAÇÃO.

Principais distinções:

a) quanto ao objeto: DO – exige cumprimento de determinada prestação; já os D.R., incidem sobre a coisa.

b) quanto ao sujeito: DO – sujeito determinado; DR – indeterminado.

c) quanto a duração: DO – transitórios e se extinguem por outros meios; DR – perpétuos.


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d) quanto a formação: DO - resultam da vontade das partes, sendo ilimitados (numerus apertus). DR – só podem
ser criados por lei (numerus clausus);

e) quanto ao exercício: DO - em face do devedor; DR – exercidos diretamente sobre a coisa;

f) quanto à ação: DO - contra o sujeito passivo (ação pessoal); DR – pode ser exercida contra quem quer que
detenha a coisa.

Há pontos em comum: obrigação com escopo de adquirir a propriedade (compra e venda). Em outras situações os
DR servem de acessórios do DO, visando conferir segurança a estes (penhor, hipoteca) e em outras ainda, os DO
estão vinculados a um DR (obrigações propter rem, obrigações com eficácia real e dos ônus reais)

• Figuras híbridas

Figuras intermediárias que se situam entre o Direito pessoal e o Direito real.

Discussão jurídica acerca da nomenclatura (considerada por alguns como obrigação real ou, obrigação mista).
Carlos Roberto Gonçalves considera como impróprias tais nominações.

Romanos consideravam-nas obligationes ob rem ou propter rem.

Espécies: 1 -obrigações propter rem (por causa da coisa)

2 - Ônus reais

3 - Obrigações com eficácia real

1 – é a que recai sobre uma PESSOA, por força de determinado DIREITO REAL. Só existe em razão da situação
jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa.

Ex: obrigação imposta aos proprietários e inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o sossego e a
saúde dos vizinhos (1277, CC). Decorre da contiguidade dos dois prédios. Por se transferir a eventuais novos
ocupantes do imóvel, também é conhecida como obrigação ambulatória.

Essas obrigações surgem ex vi legis (por força da lei), atreladas a direitos reais, mas sem se confundir com eles em
sua estruturação. DR (ius in re): direito sobre a coisa ou na coisa; Obrigações propter rem – são concebidas como
ius ad rem (direito por causa da coisa, ou advindos da coisa).

Ex: 1315, 1336, III, 1234, 1297, §1º, 1297, 1280, 1219, CC.

OPR se caracterizam pela origem e transmissibilidade automática. Provêm da existência de um direito real,
impondo-se a seu titular.

2 – ÔNUS REAIS: são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos
oponíveis erga omnes. Ex: Renda constituída sobre imóvel.

Aderem e acompanham a coisa. Quem deve é a coisa, e não a pessoa.

3 – OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL – são as que, sem perder seu caráter de direito a uma prestação,
transmitem-se e são oponíveis a 3º que adquira direito sobre determinado bem. Ex: 576, CC (locação pode ser
oposta ao adquirente da coisa locada, se constar do registro).

• Evolução da teoria das obrigações


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- O devedor respondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação. Se o devedor era inadimplente, se
tornava escravo.

- Lex Poetelia Papira de 428, AC – aboliu a execução sobre a pessoa do devedor passando-a para os bens do
mesmo.

- Código Napoleão – os bens do devedor são a garantia comum de seus créditos.

- Hoje – viés social em destaque. A Função Social do contrato, a Socialização de riscos etc. Se apresentam como
características marcantes nas obrigações do CC/02.

• Posição do Direito das Obrigações no CC/02

- vem melhor inserido logo após a parte geral do código civil.

• Unificação do direito obrigacional

- Para Arnoldo Wald, o direito privado está unificado (arts. 887 a 926, 966 a 1195 do CC/02)

- Mas hoje haveria uma unidade de direito das OBRIGAÇÕES (maioria dos doutrinadores descrevem a esse
respeito). O novo CC unificou as obrigações civis e mercantis, por isso fez promovendo a unificação parcial dos
direitos privados.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS OBRIGAÇÕES

- As obrigações se compõem dos elementos próprios das relações jurídicas em geral. Três delas são essenciais:

1) ELEMENTO SUBJETIVO (sujeitos da relação jurídica)

- SUJEITO ATIVO ou CREDOR: em favor de quem o devedor prometeu determinada prestação. Como titular do
crédito, tem direito de exigir o cumprimento da prestação.

- SUJEITO PASSIVO ou DEVEDOR: sobre ele recai o dever de cumprir a prestação convencionada.

- tanto um quanto outro pode ser pessoa jurídica ou natural, sociedade de fato... Têm que ser determinados ou
determináveis.

- Se não forem plenamente capazes, devem ser representados e/ou assistidos.

- Se houver confusão na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor, extingue-se a obrigação (art. 381,
CC).

2) ELEMENTO OBJETIVO (material ou objeto)

- Objeto da relação obrigacional: uma conduta ou um ato humano (DAR, FAZER ou NÃO FAZER). É chamada de
prestação que pode ser positiva (dar ou fazer) ou negativa (não fazer).

- É a ação ou omissão a que o devedor fica adstrito e que o credor tem direito de exigir.
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- DAR: coisa certa (arts. 233 e seguintes, CC); coisa incerta (indeterminada quanto a qualidade – art. 243, CC).
Consiste em entregar ou restituir a coisa. Na compra e venda o vendedor se obriga a entregar a coisa e o
comprador a entregar o preço.

- FAZER: infungível ou fungível (art. 247 e 249, CC) e de emitir declaração de vontade (art. 501, NCPC)

- NÃO FAZER: arts. 250 e seguintes do CC.

- Prestação (dar, fazer ou não fazer) – é o OBJETO IMEDIATO (próximo, direto) da obrigação. Exemplo: na Compra
e Venda, o vendedor se obriga a entregar (modalidade de dar) a coisa alienada.

Para saber qual o OBJETO MEDIATO (distante, indireto) da obrigação, deve-se perguntar:

Dar, Fazer ou Não fazer o quê?

No exemplo acima, entregar um veículo (este é o objeto mediato; é o objeto da prestação).

- não confundir o ATO DA PRESTAÇÃO (obrigado se encontra vinculado) com a coisa MATERIAL (sobre o qual o ato
incide).

- a prestação ou Objeto Imediato deve obedecer a certos requisitos para ser válido. Tem que ser:

• LÍCITO (que não atente contra a lei, a moral, os bons costumes);

• POSSÍVEL (se for impossível, o negócio é nulo. Lembrando que há a impossibilidade física, onde a prestação
avençada ultrapassa as forças humanas – absoluta e relativa – e a impossibilidade jurídica, que ocorre quando o
ordenamento jurídico proíbe negócios sobre determinados bens – art. 426, por exemplo.

• DETERMINADO (art. 104, II, do CC) ou DETERMINÁVEL (falta-lhe a qualidade – art. 243, CC) e

• ECONOMICAMENTE APRECIÁVEL (104, II, CC)

3) VÍNCULO JURÍDICO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL (elemento abstrato, imaterial)

- É o liame entre o sujeito ativo e o sujeito passivo conferindo ao sujeito ativo o direito de exigir do sujeito passivo
o cumprimento da obrigação.

- Nasce das diversas fontes

- Compõe-se de dois elementos: 1 – DÉBITO: vínculo espiritual, abstrato, imaterial e 2 – RESPONSABILIDADE:


material.

FONTES DAS OBRIGAÇÕES

- Todo fato jurídico de onde brota o vínculo obrigacional (ato ou fato que lhe dá origem, tendo em vista as regras
do direito. São os fatos jurídicos que condicionam o aparecimento das obrigações).

- Concepção moderna de fontes das obrigações:

Atos Ilícitos – todo aquele que por ação ou omissão culposa ou dolosa, causar dano a outrem e violar a lei, é
obrigado a reparar o prejuízo.
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✓ Lei – fonte primária – imediata: exemplo. Art. 1696, CC

✓ Contrato

✓ Ato unilateral de vontade

• Distinção entre OBRIGAÇÃO e RESPONSABILDIADE

- Obrigação: tem por fim precípuo a prestação devida e secundariamente a sujeição do patrimônio do devedor
que não a satisfaz.

- Responsabilidade: é a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional

Perguntas: Pode haver obrigação sem responsabilidade? Sim. Ex.: nas obrigações naturais

Pode haver responsabilidade sem obrigação? Sim. Ex.: fiança

MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

1 – Quanto ao Objeto
a) Obrigação de DAR (positiva)
• Dar coisa certa
• Dar coisa incerta
b) Obrigação de FAZER (positiva)
• Infungível, personalíssima ou intuitu personae;
• Fungível ou impessoal;
• Obrigação consistente em emitir declaração de vontade (NCPC, art. 501)
c) Obrigação de NÃO FAZER (negativa)

2 – Quanto aos elementos


a) SIMPLES (singular) 1 Sujeito Ativo
1 Sujeito passivo
1 Objeto
b) COMPOSTAS (plural) Com multiplicidade de objeto
1 – cumulativas (e)
2 – alternativas (ou) *3 - facultativas
Com multiplicidade de sujeitos
1 – divisíveis
2 – indivisíveis
3 - solidárias

3 – Quanto ao conteúdo ou quanto ao fim


a) Obrigação de meio: o devedor promete empregar todos os meios ao seu alcance para a obtenção de
determinado resultado, sem no entanto responsabilizar-se por ele. Ex: advogados, médicos.
b) Obrigação de resultado: o devedor se exonera da obrigação somente quando o fim prometido é
alcançado. Ex: transportador, cirurgião plástico.
c) Obrigação de garantia: seu conteúdo é a eliminação de um risco que pesa sobre o credor. Ex: fiança

4 – Quanto à exigibilidade
a) Civis: que encontram respaldo no direito positivo, podendo seu cumprimento ser exigido pelo credor
por meio de ação judicial.
b) Naturais: aquelas inexigíveis judicialmente.
• O credor não tem o direito de exigir prestação, e o devedor não está obrigado a pagar.
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• Se o devedor efetua espontaneamente o pagamento, não tem o direito de “pedir de volta” (repeti-lo). Ex: art.
882, CC – dívidas prescritas. Art. 814, CC – dívida de jogo.

5 – Quanto aos elementos adicionais


a) Puras e simples: não sujeitas a condição, termo ou encargo.
b) Condicionais: dependem de cumprimento de condição. Art. 121, CC
c) A termo: prazo. Art. 131, CC
d) Modais, onerosas ou com encargo. Art. 136, CC

6 – Quanto ao momento em que devem ser cumpridas:


a) Obrigações de execução instantânea: se consumam imediatamente, com um só ato.
b) Obrigações de execução diferida: que se consumam em um só ato, mas em momento futuro.
c) Obrigações de execução continuada ou de trato sucessivo: que se cumpre por meio de atos reiterados.

7 – Quanto à liquidez:
a) Líquida: certa quanto à sua existência, e determinada quanto ao seu objeto.
b) Ilíquida: a que depende de apuração de seu valor para ser exigida.

8 – Reciprocamente consideradas:
a) Principais: subsistem por si
b) Acessórias: dependem da existência da obrigação principal e lhe seguem o destino.

9 – Obrigações com cláusula penal:


São aquelas em que há cominação de uma multa ou pena para o caso de inadimplemento ou retardamento do
cumprimento da avença.

OBRIGAÇÃO DE DAR
Aquela pela qual o devedor fica determinado a promover, em benefício do credor, a tradição da coisa, MÓVEL OU
IMÓVEL, ou com o fim de outorgar novo direito , ou com o fim de restituir a mesma coisa a seu dono.

• Formas:

ENTREGA (Ex: Compra e Venda – para ambos são as obrigações)

RESTITUIÇÃO (Ex: contrato de Comodato)

Podem ser:

CERTA (determinada)

INCERTA (indeterminada)

OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA

Coisa individualizada

MÓVEL IMÓVEL

• Se distingue das demais, pois possui características próprias.


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• Diferença principal para a Obrigação de dar coisa INCERTA: esta se caracteriza pelo GÊNERO e QUANTIDADE,
faltando-lhe a QUALIDADE.

• Obrigação de dar coisa CERTA confere ao credor o simples direito pessoal. Ex: Contrato de compra e venda.
Vendedor se obriga a transferir o domínio da coisa ao adquirente. Este, a pagar o preço.

• A transferência do domínio depende da TRADIÇÃO (para MÓVEIS, vide Arts. 1226 e 1267, CC) e do REGISTRO
(para IMÓVEIS, vide Art. 1227 e 1245, CC). Só o contrato não basta para transferir domínio. Cria obrigações e
direitos.

• Art. 498, do NCPC. No comodato (real) – reintegração de posse ou busca e apreensão?

• Impossibilidade de entrega de coisa diversa (art. 313, CC) : não se pode pagar uma coisa por outra contra a
vontade do credor.

• Direitos aos melhoramentos e acréscimos (art. 237, CC)


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OBRIGAÇÃO DE DAR (MODALIDADE “ENTREGAR”)

Situações em que a obrigação de dar não foi cumprida porque, antes da entrega ou restituição da coisa, esta
PERECEU ou DETERIOROU, com culpa ou sem culpa do devedor.

PERECER – perda total

DETERIORAR – perda parcial da coisa.

Res perit domino – a coisa perece para o dono (em tese, o outro contratante que não é dono, nada perde com o
desaparecimento da coisa.)

PERECIMENTO SEM CULPA E COM CULPA DO DEVEDOR

Fato decorreu de culpa, ou não, do devedor?

a) Perda sem culpa do devedor

Art. 234, CC – dever de zelo para com a coisa pelo devedor. Se a coisa se perde sem culpa deste (por uma
avalanche) antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva: RESOLVE-SE (extingue a obrigação para ambas
as partes, voltando a primitiva situação). Se A vendeu a coisa e recebeu de B, deve devolvê-lo a B (sofre o prejuízo
pelo perecimento, mas sem arcar com perdas e danos)

PENDENTE CONDIÇÃO SUSPENSIVA – (ganhar o campeonato, concluir a graduação em direito etc): devedor
suporta o risco da coisa, pois não adquiriu o direito que o ato visa (125, CC)

Vendedor (alienante) é o proprietário até a tradição da coisa – 492, CC.

b) Perda com culpa do devedor

Neste caso, a culpa acarreta a responsabilidade pelo pagamento de perdas e danos. Credor deve receber o
equivalente à coisa em dinheiro e mais, as perdas e danos comprovados.

Art. 234, 2ª parte, CC. – não outro objeto semelhante, mas equivalente em dinheiro.

Dano emergente – o que efetivamente se perdeu

Lucro cessante – o que razoavelmente deixou de lucrar - 402, CC.

DETERIORAÇÃO SEM CULPA E COM CULPA DO DEVEDOR

Houve culpa ou não do devedor?

a) Não havendo culpa: pode credor optar por RESOLUÇÃO da obrigação, pois não lhe interessa o bem danificado
(voltando as partes ao estado anterior). Ou aceitá-lo no atual estado, com abatimento do preço proporcional à
perda. Art. 235, CC.

b) Havendo culpa: idem 235, mas com direito em ambos os casos, à indenização das perdas e danos comprovados.
Art. 236, CC.
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Regra geral:
Sem culpa – resolução da obrigação; partes retornam ao status quo
ante, sem perdas e danos.
Com culpa – são devidas perdas e danos, respondendo o culpado,
ainda, pelo equivalente em dinheiro da coisa.

OBRIGAÇÃO DE DAR (MODALIDADE “RESTITUIR”)

Existe coisa alheia em poder do devedor e que deve devolver ao dono. Ex: comodato, depósito.

A coisa fica sendo utilizada pelo devedor, mas pertence ao credor, titular do direito sobre a coisa (real).

Riscos a que a coisa está sujeita.

PERECIMENTO SEM CULPA E COM CULPA DO DEVEDOR

a) Sem culpa do devedor: Art. 238, CC

Se o objeto a ser restituído perece (por uma eventualidade natural) resolve-se a obrigação do devedor que
deveria restituí-la, NÃO tendo este que pagar perdas e danos.

Porém, se estiver atrasado (em mora), responde pela impossibilidade de ter prestado o necessário. (mesmo em
situações de caso fortuito e força maior) – 238, CC; 399, CC.

b) Com culpa do devedor: Art. 239, CC

Se não zela pela coisa (que é seu dever), o devedor sofre as implicações jurídicas disso.

Deve restituir o valor do bem perecido (em dinheiro) e as perdas e danos.

DETERIORAÇÃO SEM CULPA E COM CULPA DO DEVEDOR

Art. 240, 1ª parte, CC.

a) Sem culpa do devedor: credor suporta prejuízo, como proprietário;

b) Com culpa do devedor: responderá o devedor pelo equivalente em dinheiro, mais perdas e danos.

DAS OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS (Entregar dinheiro. Art. 315, CC.)


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OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA

Art. 243, CC – tem objeto indeterminado (indicando-se, ao menos, o GÊNERO e a QUANTIDADE). É, portanto,
indeterminada mas DETERMINÁVEL (falta-lhe somente a QUALIDADE)

SE FALTA O GÊNERO E A QUANTIDADE, A AVENÇA NÃO GERA OBRIGAÇÃO.

Principal característica: objeto ou conteúdo da prestação, indicado genericamente de início, pode ser
determinado no futuro, por ato de escolha (quanto à qualidade) no momento do pagamento.

Mesmo assim não se confundem com as obrigações ALTERNATIVAS. (nestas há 2 ou mais objeto individuados,
devendo se escolher apenas 1 deles. Nas de dar coisa incerta, o objeto é um só, porém, indeterminado quanto a
qualidade).

Exigências da lei quanto a tal modalidade - Indicação do gênero e quantidade

Escolha e concentração: art. 245, CC – determinada a qualidade da coisa incerta, há a escolha, acabando-se a
incerteza e tornando-se a coisa certa. Passa a vigorar os termos da lei sobre obrigação de dar coisa certa. Ao ato
unilateral de escolha se dá o nome de concentração com atos de definição específica (pesagem, medição etc).

244, CC – ao devedor compete o direito de escolha (em regra). Deve guardar o meio termo (nem a coisa pior, nem
a melhor).

O devedor pode pagar com a de melhor qualidade, quando havia a de qualidade intermediária?

E se houver só duas qualidades?

Gênero limitado e ilimitado: art. 246, CC – tem referência à situação jurídica anterior e a posterior à escolha. Se
ainda não “convertida em coisa certa” (descrita e informada pelo devedor e/ou notificado o credor) não se
poderá alegar culpa ou força maior (ou perda e deterioração) pois, o gênero nunca perece.

OBRIGAÇÕES DE FAZER
Serviço humano em geral, material ou imaterial, realização de obras e artefatos, ou a prestação de fatos que
tenham utilidade para o credor. São portanto, atos ou serviços a serem executados pelo devedor. Tal atividade
humana deve ser lícita, possível e vantajosa ao credor, constituindo objeto da obrigação.

Conhecidas também como prestações de fato. Podem consistir em:

a) trabalho físico ou intelectual determinado pelo tempo, gênero ou qualidade (concentra-se nas energias do
obrigado, realizando obras como a história de um livro, ou um romance, ou ainda, construindo um prédio,
interessando ao credor o produto final do trabalho);

b) trabalho determinado pelo produto (resultado) ; e

c) fato determinado simplesmente pela vantagem que traz ao credor.

As obrigações de fazer se diferem das obrigações de dar principalmente sob o aspecto de que, nas de fazer o
credor pode não aceitar a prestação por terceiro. Já nas de dar, se admite o cumprimento por terceiro (305, CC).
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Espécies

Obrigação de fazer infungível, imaterial ou personalíssima: quando convencionado que o devedor cumpra
pessoalmente a prestação. Só o devedor, cumprindo ele próprio o combinado, extingue a obrigação. Contrato
ocorreu em razão das suas qualidades. (acarreta vício do consentimento – 139, II, CC)

Obrigação de fazer fungível, material ou pessoal: 249, CC – quando não há exigência expressa , nem se tratar de
ato ou serviço cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor, ou de usos e costumes locais, podendo
ser realizado por terceiro.

Inadimplemento

Se descumprida a obrigação de fazer, acarreta responsabilidade do devedor.

Prestação impossível sem culpa do devedor: na hipótese de prestação ter se tornado impossível, fica afastada a
responsabilidade do obrigado. No caso de recusa de cumprimento em prestação infungível, haverá
responsabilização por perdas e danos. (247, CC)

Se descumprida por culpa do devedor (fungível ou infungível): sempre possível optar o credor pela conversão da
obrigação em perdas e danos. Nas fungíveis, credor pode optar pela execução específica, sendo executada por
terceiro, à custa do devedor (249, CC).

* Nas infungíveis, não há como compelir o devedor, de forma direta, a satisfazê-la. Mas meios indiretos há,
cumulando o pedido de perdas e danos com cominação de multa diária, busca e apreensão.

Obrigações infungíveis ou personalíssimas

Art. 247, CC - por convenção expressa ou tácita. Ex: cantor que se recusa a se apresentar no espetáculo
contratado, responde por prejuízos acarretados aos promotores do evento.

Recusa: resolve-se em perdas e danos. E hoje também, execução específica das obrigações de fazer.

Impossibilidade – 248, CC: Ator que fica impedido de se apresentar em determinado espetáculo por ter perdido a
voz por uma razão a que não deu causa, ocorrido no trajeto do teatro. Este não responde por perdas e danos.
Mas a resolução do contrato o obriga a restituir o adiantamento da remuneração.

Se ele deu causa por falta de cuidados ou provocou aquilo, responde.

Obrigações fungíveis ou impessoais

Art. 249, CC – se uma pessoa aluga um imóvel residencial e no contrato o locador se obriga a consertar as portas
de um armário que estão soltas, mas não cumpre a promessa, pode o inquilino mandar fazer à custa do aluguel
que terá de pagar.

Obrigações consistentes em emitir declaração de vontade

Ex: em compromisso de compra e venda, o promitente vendedor se obriga a celebrar o contrato definitivo,
outorgando a escritura pública ao compromissário comprador, depois de pagas todas as prestações.
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* Art. 501 do NCPC – intenção do legislador em formar situação jurídica igual à que resultaria da emissão
espontânea, pelo devedor, da declaração de vontade sonegada. A sentença fará às vezes da declaração não
emitida.

DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER


Conhecida também como obrigação negativa: impõe a quem deve, um dever de abstenção (não praticar tal ato
que geral ou livremente poderia fazer se não se houvesse obrigado).

Ex: compro imóvel na praia (terreno) me obrigando a não construir prédio de andares, somente térreo (casa).
Adquiro um ponto comercial onde funcionava uma oficina mecânica e me comprometo contratualmente com o
vendedor da mesma em não montar ali, naquele ponto, uma nova oficina mecânica.

Se eu fizer um destes atos, aos quais me obriguei a não praticá-los, me torno inadimplente.

Credor pode exigir de mim, com base no art. 251 do CC, o desfazimento daquilo realizado (o negócio), sob pena
de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado as perdas e danos.

É típica obrigação de prestação de fato.

Inadimplemento da obrigação negativa

ART. 251, CC – Ocorre a mora desde o dia em que agiu, como não deveria ter agido.

Portanto, segue-se a ordem: DESFAZER (o devedor) - devedor se recusou, MANDAR DESFAZER À CUSTA DO
INADIMPLENTE, reclamando perdas e danos resultantes de tal ato.

Segue-se regra do art. 249, parágrafo único do CC.

Art. 250, CC – descumprimento de obrigação de não fazer em razão de fato alheio à vontade do devedor, sendo
impossível este de se abster.

Ex: construir uma barragem de água em sua propriedade, por determinação de autoridade pública, quando havia
se comprometido em não obstruir a passagem de água em sua propriedade.

DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS


SIMPLES – tem por objeto uma só prestação.

Se só 1 suj. ativo e 1 suj. passivo, idem. Entrega-se precisamente o objeto devido, não podendo ser outro, ainda
que mais valioso. (art. 313, CC)

COMPOSTA ou COMPLEXA – pluralidade de prestação.

• Cumulativas (ou conjuntiva): pluralidade de prestações onde todas devem ser solvidas. (“e”)

• Facultativas: e;
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• Alternativas (ou disjuntivas): 2 ou mais prestações, das quais uma somente será escolhida para pagamento ao
credor e liberação do devedor. (“ou”)

Alternativa é aquela que compreende 2 ou mais objetos e extingue-se com a prestação de apenas um. Ex:
seguradora, dá outro carro ou repara aquele, como preferir o segurado.

Direito de escolha

Só se cumpre a obrigação alternativa depois de definido o objeto a ser prestado. Isto ocorre com o ato de
escolha.

A quem compete a escolha da prestação?

1º - vontade das partes; 2º - na ausência daquelas ou sem poder se presumir, cabe ao devedor a escolha. Art. 252,
CC.

Por quê esta escolha do devedor pelo legislador?

Considerado parte mais fraca na relação contratual.

Art. 252, §1º - indivisibilidade do pagamento. 2 sacas de trigo ou 2 de feijão, e não uma de um e outra de outro.

Art. 252, §2º - prestações periódicas (mensais, anuais), não se divide o objeto mas, por período pode ser
prestação de um, e em outro período, prestação de outro.

252, §4º - deferir a opção de escolha a terceiro. Pode.

252, §3º - vários optantes, não decidem unanimemente, juiz o faz ao término do prazo por este estipulado.

Concentração

Cientificada a escolha, ocorre a concentração. Torna-se obrigação simples. Objeto escolhido como se fosse o
único desde o início da negociação. Portanto, a concentração retroage ao início da formação do vínculo
obrigacional.

Não necessita de formalidade. Comunicada a escolha, torna-se definitiva e irrevogável. (salvo lei ou disposição
das partes em contrário).

Na falta de comunicação, há permissão de alteração pelo devedor até o momento da execução da obrigação. Pelo
credor, até o momento de proposta da ação devida.

O contrato deve prever prazo para exercício da opção. Se não, devedor deve ser notificado.

Art. 800, NCPC – constituído devedor em mora, credor poderá ingressar com ação.

E se o credor, a quem competia a escolha não a fizer no prazo estabelecido no contrato? Devedor pode propor
ação consignatória. 342, CC

Impossibilidade das prestações

Art. 253, CC – impossibilidade originária ou superveniente de uma das prestações por causa não imputável a
nenhuma das partes.
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Ex: não mais se fabrica tal produto. Ou uma delas ser um imóvel desapropriado. Obrigação concentra,
independente da vontade das partes, na prestação remanescente.

Se impossibilidade jurídica (um dos objetos ilícito) toda obrigação é contaminada de nulidade.

Se impossibilidade desde início for física, obrigação é aparentemente alternativa mas realmente simples.

Superveniente sem culpa do devedor – concentra-se a dívida na outra ou nas outras. Veículo e animal e este
morre por um raio. Se cabia ao devedor a escolha e perece um dos bens, mesmo com culpa deste, concentra-se
na prestação remanescente.

Se impossibilidade de todas as prestações sem culpa do devedor: extingue-se a obrigação – 256, CC. Obrigação se
extingue pura e simplesmente.

Se houver culpa do devedor, cabendo-lhe a escolha: – 254, CC – com perecimento do 1º objeto, concentra-se o
débito no que por último pereceu.

Se a escolha couber ao credor: pode exigir o valor de qualquer das prestações.

Se somente uma das prestações se tornar impossível, por culpa do devedor, cabendo ao credor a escolha: 255, CC
– direito de exigir ou a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos.

Obrigação Facultativa

Conceito:

Ocorre quando o credor exige o cumprimento de coisa certa, mas faculta ao devedor a possibilidade de quitar a
dívida realizando outra prestação. O credor não tem o direito de exigir a prestação facultativa, pois a obrigação
tem por objeto algo certo. Porém é obrigado a aceitar a outra prestação caso o devedor opte por ela, pois essa foi
uma liberalidade concedida pelo credor. É uma espécie sui generis de obrigação, pois é simples para o credor e
alternativa para o devedor.

Características:

• Como o credor só pode exigir uma das prestações, não há necessidade do devedor exteriorizar sua escolha. O
credor é obrigado a aceitar qualquer uma que o devedor venha a cumprir.

• Se houver impossibilidade da única prestação exigível pelo credor, sem culpa do devedor, a obrigação se
extingue, pois ainda assim não pode o credor exigir a prestação facultativa. Surge, então, uma obrigação natural.

• Caso a impossibilidade ocorra devido culpa do devedor, este pode escolher entre realizar a prestação facultada,
ou pagar o valor da que se impossibilitou, acrescidas as perdas e danos. Se a impossibilidade recair sobre a
prestação facultada, o devedor simplesmente perde o direito de escolha, sendo obrigado a realizar a outra.

Embora haja outros entendimentos, não cabe ao credor o direito de escolha.

Obrigações Divisíveis e Indivisíveis

Conceito e distinção entre elas:


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Tanto as obrigações divisíveis, quanto as indivisíveis, são compostas por multiplicidade de sujeitos, tanto ativos
quanto passivos. Se houver apenas um credor e um devedor não há no que se falar em obrigação divisível ou
indivisível. Há apenas uma obrigação simples. A divisibilidade ou indivisibilidade é característica da obrigação.
Porém esta será determinada conforme for o seu objeto.

A obrigação é divisível quando o objeto da prestação admite divisão.

"Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores" (art. 257).

Cada sujeito responde apenas por sua quota na obrigação divisível, não podendo ser exigido a pagar a de outro
devedor, se assim não foi acertado entre as partes.

A obrigação é indivisível quando o objeto da prestação não admite divisão.

"A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por
sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico" (art. 258, CC).

Espécies de indivisibilidade:

• A indivisibilidade é natural quando não se pode fracionar o objeto da prestação sem que haja prejuízo na sua
substância ou valor. Esta é uma indivisibilidade absoluta.

• A indivisibilidade pode decorrer também da vontade das partes. Isso acontece quando estas acertam na
impossibilidade de se fracionar o objeto, mesmo que a sua natureza permita. Essa indivisibilidade,
diferentemente da natural, relativa, pois não há nada absoluto que a barre.

• Quando o judiciário se manifesta pela impossibilidade de fracionar o objeto, a indivisibilidade dá-se por
determinação legal. Esta também é uma indivisibilidade relativa. Exemplo: dívidas de alimento, lotes urbanos,
hipoteca, etc.

Divisibilidade em relação às modalidades de obrigações:

• Obrigação de dar coisa certa é divisível se o seu objeto for. Se a coisa certa é fungível, a obrigação sempre é
divisível.

• Obrigação de fazer é divisível quando o trabalho, ou serviço, não representar unidade.

• As obrigações de, simultaneamente, dar e fazer são geralmente indivisíveis.

• Obrigação negativa geralmente é indivisível, mas nada impede que sejam divisíveis.

• Obrigações alternativas e de dar coisa incerta são indivisíveis, pois não se pode dividir a escolha.

Efeitos da divisibilidade:

"Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda" (art.
259, caput).

O credor pode exigir a prestação indivisível por inteiro de qualquer um dos devedores a sua escolha.

"O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados" (art. 259,
parágrafo único).
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Se a pluralidade for de credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se
desobrigarão, pagando:" (art. 260, caput)

a) Inciso I: "a todos conjuntamente".

b) Inciso II: "a um, dando este caução de ratificação dos outros credores".

"Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em
dinheiro a parte que lhe caiba no total" (art. 261).

Se a dívida for indivisível, o credor que recebeu a prestação dará aos outros credos uma quantia estipulada das
suas quotas partes, já que não é possível fazer a divisão.

"Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só poderão
exigir, descontada a quota do credor remitente" (art. 262, caput).

Se a obrigação for indivisível, os credores restituirão os devedores no valor remetido, após o pagamento do todo.
Caso não haja nenhum proveito extra com a remissão de um dos credores, os demais não precisam restituir nada.

"O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão" (art. 262, parágrafo
único). Como cada sujeito responde pela sua quota na obrigação divisível, a insolvência de um nada interfere nos
outros.

Perda da indivisibilidade:

"Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos" (art. 263, caput).

"Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes
iguais" (art. 263, § 1°).

"Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos" (art. 263, §
2°).

A obrigação também pode se tornar divisível se houver novação, por todos os sujeitos, por uma nova obrigação
que seja divisível.

Os codevedores não são representantes uns dos outros. Por isso, os vícios a uns não se transmitem aos outros.
Caso a obrigação seja indivisível, o defeito do ato para um dos devedores se propaga aos demais, tornando todo o
ato nulo.

OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
Conceito e características:

"Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um
com direito, ou obrigado, à dívida toda" (art. 264).

O credor pode exigir o pagamento total da dívida por qualquer um dos devedores. Feito isto, todos os demais
devedores estarão livres da responsabilidade frente a este credor.
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Se um dos devedores torna-se insolvente, quem sofre são os demais devedores, que ainda respondem pela dívida
inteira.

A solidariedade assemelha-se a indivisibilidade porque o devedor pode ser compelido a pagar a dívida toda.

Porém, na indivisibilidade, isso ocorre devido às características do objeto, ou seja, na medida em que este se
torna divisível, como quando se transforma em perdas e danos, cada devedor só responde por sua quota.

Já na solidariedade, a unidade de cobrança se mantém, pois ela é característica da prestação e não do objeto.

Princípios comuns à solidariedade:

"A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes" (art. 265).

Exemplo de solidariedade na lei: relação pai/filho e empregado/patrão. O parentesco próximo não induz
solidariedade.

A solidariedade é provada com a simples manifestação inequívoca das partes.

"A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a
prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro" (art. 266).

Há a possibilidade da solidariedade ser de modalidades diferentes para cada um dos co-devedores ou co-
credores.

Entre os devedores, cada um só deve ao outro a sua quota parte.

Caso uma condição seja imposta a um devedor e esta não se concretizar, o mesmo está excluído da obrigação.
Porém, responde por ela em caso de insolvência dos co-devedores.

Espécies de solidariedades:

Solidariedade ativa

É a obrigação na qual existem vários credores, todos podendo cobrar da dívida por inteiro.

"Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro" (art.
267).

Não existe muito esse tipo de solidariedade, pois o credor pode não pagar os demais co-credores, bem como ficar
insolvente. Exemplo desse tipo é a conta corrente com mais de um titular.

Solidariedade passiva:

"O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida
comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo
resto" (art. 275, caput).

O credor pode cobrar a totalidade da dívida de qualquer um dos devedores, ou pode ainda cobrá-la parcialmente
de cada um.

O devedor escolhido não pode invocar o beneficium divisionis, pretendendo pagar apenas sua quota-parte.
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SOLIDARIEDADE ATIVA

CARACTERÍSTICAS

"Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro" (art.
267).

• Qualquer um dos credores pode tomar medidas assecuratórias de conservação dos direitos. Se um dos credores
constituir o devedor em mora, a todos os demais credores aproveitam seus efeitos.

• A interrupção da prescrição, solicitada por um, estende-se aos demais.

• Qualquer credor pode ingressar em juízo com uma ação para obter o cumprimento da ação. Somente o credor-
autor que entrou com ação adequada pode executá-la. O devedor é obrigado a pagar a este, não podendo
escolher outro. Se pagar outro credor que não o credor-autor, não se exonera da obrigação e corre o risco de
pagar mal. Se todos os credores entrarem com ação, o devedor tem liberdade de escolher a quem pagar.

"Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este
pagar" (art. 268).

• O devedor deve pagar àquele que lhe primeiro cobrar. Se pagar ainda para segundo, correrá o risco de pagar em
dobro a dívida.

"Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a
quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível" (art. 270).

• Se houver apenas um herdeiro, ou todos agirem conjuntamente, estes poderão cobrar a totalidade da dívida.

"Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade" (art. 271).

"A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros" (art.273).

• Se um dos credores é incapaz, de nada influencia no direito dos outros.

Da mesma forma, "O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a
qualquer deles.” (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) - art. 274, CC.

• Como a obrigação solidária se desdobra em várias, a sentença contrária a um dos credores não prejudica o direito
dos outros, que possuem direitos próprios e diversos para com o devedor. Todos os devedores se aproveitam de
exceções gerais opostas, porém só o específico pode aproveitar-se da sua pessoal.

Extinção da obrigação solidária e direito de regresso:

"O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago" (art. 269).

• A dívida extingue-se totalmente quando o devedor paga a sua totalidade a um dos credores. As quotas de cada
credor se presumem iguais. Se o devedor pagou a mais que a dívida, esta parte fica para aquele credor, não
podendo os demais exigir a divisão.

• Caso haja remissão, novação, transação ou compensação, entre um dos credores e o devedor, o devedor fica
livre somente da quota parte que foi indiretamente paga.

• Se a compensação, novação, transação ou remissão foi da dívida toda, então o devedor exonera-se dela.
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"O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba"
(art. 272).

• O credor que receber toda a dívida fará a divisão das quotas. O pagamento dessas não se dá solidariamente.

• Se o credor cobrou apenas uma parte da dívida, mesmo que tenha sido a sua quota parte, o rateio deverá
acontecer proporcionalmente para cada co-credor.

• Se um dos credores não puder receber sua parte (a obrigação é considerada nula quanto a ele), o rateio acontece
do mesmo jeito, só que o excluindo. Com isto, haverá desconto da quota parte excluída para o devedor.

SOLIDARIEDADE PASSIVA

Características

• Se a prestação tornar-se impossível por culpa de um ou de alguns dos devedores, são estes quem bancarão as
perdas e danos. A obrigação solidária passiva se assemelha à fiança, com a diferença que esta é um contrato
acessório.

"Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores"
(art. 275, parágrafo único).

• O credor que entra com ação contra um dos devedores, ainda pode cobrar dos restantes. Se forem vários os
devedores condenados, o credor pode escolher qual executar.

• Efeitos da morte de um dos devedores solidários:

• "Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota
que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores" (art. 276).

Pagamento parcial e remissão

"O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros
devedores, senão até a concorrência da quantia paga ou relevada" (art. 276).

• Caso haja remissão de um dos devedores, a dívida será diminuída na sua parcela. O remitido ainda é solidário
com os demais em caso de insolvência de algum.

"No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela
parte que na obrigação incumbia ao insolvente" (art. 284).

Cláusula, condição ou obrigação adicional:

"Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor,
não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes" (art. 278).

• Nenhum devedor tem o poder de estipular cláusulas em nome dos outros devedores, sem o consentimento
destes.

• Qualquer cláusula estipulada entre um dos devedores e o credor não se transmitirá aos demais. Ninguém pode
ser obrigado a mais do que consentiu.
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TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES


Relações obrigacionais admitem alterações no conteúdo do seu objeto e nos seus sujeitos (ativos e passivos).

• A transferência de sujeito pode se dar por razões causa mortis (como na sucessão hereditária), ou por atos inter
vivos.

• A mudança de sujeitos não acarreta nenhuma alteração nas características objetivas da obrigação. Elas se
preservam como se nada tivesse acontecido.

• O ato que determina a transmissão chama-se cessão.

CESSÃO DO CRÉDITO

É a mudança do sujeito ativo da obrigação. Acontece entre o credor e terceiro, alheio ao negócio jurídico inicial.

• O devedor (cedido) não participa necessariamente da cessão. Sua anuência é dispensada. Ele tem apenas o
direito de ser informado da cessão.

Diferença com institutos afins:

A cessão de crédito se diferencia da novação subjetiva ativa porque nela as características objetivas da obrigação
permanecem. Na novação, o que há é a substituição da obrigação por outra, o que acarreta na mudança de todas
as características.

O crédito transmitido subsiste, preservando todos seus acessórios. Não há animus novandi.

A cessão do crédito transmite apenas os direitos do credor, preservados os do devedor.

Características e requisitos

"O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com
o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do
instrumento da obrigação" (art. 286).

• A convenção das partes pode impedir que se faça uma cessão de crédito, mas não pode ser alegada para anular a
cessão ao cessionário de boa-fé caso não esteja constado no instrumento da obrigação.

• A cessão de crédito pode ser feita gratuitamente ou onerosamente (mais comum).

• É como uma venda, com a diferença de que o objeto é um bem incorpóreo.

• Na cessão onerosa, o cedente é responsável pela existência e titularidade do crédito no momento da


transferência. Quando a cessão é gratuita, este só será responsável se tiver agido de má-fé.

"Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios" (art. 287).

• Não se pode transmitir as obrigações de caráter personalíssimo e de direito de família.


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• O cedente deve ser pessoa capaz e legitimada para praticar atos de alienação. O cessionário deve ser pessoa
plenamente capaz. Em alguns casos, a capacidade não é requisito suficiente para se ter a legitimação. O tutor e o
curador, por exemplo, não podem ser cessionários de créditos contra seus pupilos e curatelados,
respectivamente. Da mesma forma, os pais, ao administrar os bens dos filhos menores, não podem cedê-los sem
prévia autorização judicial (art. 1691).

• Nos créditos envolvendo direito real de garantia, deve haver consentimento do cônjuge.

Espécies de cessão de crédito

"Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela
existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título
gratuito, se tiver procedido de má-fé" (art. 295).

• Responder pela existência é garantir que o crédito não seja prejudicado por exceções ou qualquer outro tipo de
impugnação, ressarcindo o cessionário caso o haja.

• A cessão do crédito pode abranger a totalidade da dívida ou não. Quando sim, diz-se que ela foi total. O cedente
é excluído da obrigação por não fazer mais parte dela. Na cessão parcial do crédito, o cedente persiste com parte
do crédito, estando incluso ainda na obrigação. O cedente pode ainda transmitir a sua parcela do crédito para
pessoa diversa. O crédito cedido a mais de um cessionário é independente para cada um.

• A cessão pode constituir-se pelo simples acordo entre as partes. Nestes casos a cessão é convencional. Para valer
entre as partes, não se exige forma especial, salvo se o objeto tiver por substância do ato escritura pública.

• Porém, "é ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não se celebrar mediante
instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1° do art. 654" (art. 288).

A cessão do crédito é legal quando ocorre por determinação da lei (ipso juri). São exemplos de cessão legal: a)
as sub-rogações do art. 346, inc. II; b) o devedor solidário que paga toda a dívida (art. 283), o fiador que também
paga toda a dívida (art. 831); c) o mandante, em favor de quem são transferidos os créditos adquiridos pelo
mandatário (art. 668); d) as cessões dos acessórios (art. 287); etc. Quando a cessão é legal, o cedente não
responde pela existência do crédito, pois ele não concorreu com a transferência. Esta foi imposta pela lei. Sendo
assim, seria ilógico obrigá-lo por algo que não foi feito por ele.

• A cessão pode ainda ser judicial, ocorrendo sempre que for determinada pelo juiz. A cessão legal e a judicial não
necessitam de nenhuma exigência a mais do que as que naturalmente dispõem.

Quando o cedente responde apenas pela existência do crédito e não pela solvência do devedor, a cessão é
chamada de pro soluto.

Porém, se o cedente, além de responder pela existência, deve cobrir a dívida em caso de insolvência do devedor,
a cessão é pro solvendo. Esse tipo de cessão deve estar expressamente estipulada no contrato, nunca podendo
ser presumida.

"Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor" (art. 296).

"O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele
recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário
houver feito com a cobrança" (art. 297).
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• Exemplo: se o cedente vende um crédito de R$ 10.000 que possui com terceiro para o cessionário no valor de R$
8.000, responsabilizando-se pela insolvência, caso esta aconteça, o cedente irá reembolsar o cessionário em R$
8.000, acrescidas as despesas.

• O que se indeniza é apenas o interesse contratual negativo, e não o crédito do cessionário. A situação do cedente
não se confunde, por exemplo, com a do fiador ou a do devedor solidário. Entretanto, pelo princípio do pacta
sunt servanda, podem as partes convencionar que o cedente deve responder pela quantia total do crédito, e não
somente a negociada.

"A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado
se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita" (art. 290).

• Isto não significa, porém, que a notificação seja elemento essencial.

"Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no
caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da
obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação" (art.
292).

• Se o devedor foi notificado e mesmo assim paga ao credor primitivo não se desobrigará quanto ao cessionário,
pois quem paga mal, paga duas vezes. Tanto o cedente quanto o cessionário podem notificar o devedor. Caso a
obrigação seja solidária, todos os codevedores devem ser notificados. A notificação pode ser expressa ou
presumida. A expressa é a comunicada pelo credor. A presumida é a que resulta da espontânea declaração de
ciência do devedor. Alguns créditos não exigem notificação da cessão, pois sua transmissão se dá de forma
especial, a qual presume o consentimento do devedor, como os títulos ao portador. A citação inicial para ação de
cobrança equivale à notificação.

"O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que
veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente" (art. 294).

• Se nada opôs na hora contra o cedente, não poderá mais fazer. Já as exceções cabíveis ao cessionário ou à
natureza da obrigação podem ser opostas a qualquer momento, mesmo que não tenham sido feitas na altura da
notificação. Num contrato bilateral, caso o cedente não tenha cumprido a obrigação, pode o devedor exigir o
cumprimento pelo cessionário para que, então, efetue o pagamento.

"O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora;
mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os
direitos de terceiros" (art. 298).

• Uma vez penhorado, o crédito deixa de fazer parte do patrimônio da pessoa. Por isso, não pode ser objeto de
cessão.

CESSÃO DO DÉBITO

É a alteração do sujeito passivo da obrigação, também conhecida como assunção de dívida. "É facultado a
terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor
primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava" (art. 299, caput). A
assunção da dívida acarreta somente na mudança do polo passivo obrigacional. Todos os encargos e acessórios
são mantidos, sendo repassados para o novo devedor.
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Características:

Só pode ser feita com a anuência expressa do credor. O terceiro, que recebe a dívida, responde pelos encargos
obrigacionais, inclusive os acessórios. A anuência do credor é indispensável, pois se presume que ele vê na figura
do devedor a certeza de que este tem idoneidade patrimonial para solver a dívida. Uma troca de devedor pode
representar, para ele, uma incerteza quanto ao seu cumprimento.

"Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o
seu silêncio como recusa" (art. 299, parágrafo único). Somente no caso do adquirente de imóvel hipotecado é que
o silêncio do credor interpreta-se como sua anuência.

"O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor,
notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento" (art. 303).
Esse artigo torna mais fácil a venda de imóveis hipotecados, pois dispensa a homologação do credor de forma
direta. Torna mais rápida a transferência, preservando, do mesmo modo, a segurança do negócio.

Qualquer dívida pode ser objeto de assunção, exceto as que devem ser cumpridas pessoalmente pelo devedor.

Semelhança com institutos afins:

Assunção da dívida e fiança: A fiança é, na verdade, uma obrigação subsidiária. O fiador responde por dívida
alheia. Já o assuntor responde por dívida própria que era alheia, mas que ele o fez sua. O fiador que paga a dívida
integralmente sub-roga-se ao credor do devedor primário. O assuntor não, pois tudo que fez foi pagar sua própria
dívida.

Espécies de assunção da dívida:

Quando há acordo entre o devedor primário e o terceiro, com a anuência do credor, a assunção é feita por
delegação. O devedor primário é o delegante, o credor é o delegatário e o terceiro é o delegado.

Contudo se ocorrer acordo entre terceiro e o credor, sem a participação do devedor primário, a assunção é por
expromissão. Exemplo: Pai assume dívida do filho. Não há no que se falar em anuência do credor na expromissão,
pois é o próprio que participa na alteração. Não há necessidade da anuência do devedor primário na
expromissão.

Quando o terceiro assume totalmente a dívida, exonerando o devedor primário, a assunção é liberatória. Essa
exoneração é extinta, no entanto, quando ocorre a insolvência do novo devedor. O antigo deve arcar com a
dívida. As partes podem, entretanto, acertar que os riscos da insolvência correm por conta do credor (pacta sunt
servanda).

Se o novo devedor assume apenas uma parte da dívida, a assunção é cumulativa. O antigo devedor ainda
responde por uma parcela. Como essa assunção não exclui totalmente a responsabilidade do devedor primitivo,
diz-se que ela é imperfeita.

Efeitos da assunção da dívida:

"O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo" (art. 302).
Só pode opor aquelas que dizem respeito ao vínculo obrigacional.

"Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as
garantias especiais por ele originalmente dadas ao credor" (art. 300). A fiança, por exemplo, é extinta. O fiador
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não é obrigado a garantir devedor que não conhece (o assuntor). As garantias reais (penhor, hipoteca) são
mantidas, pois dizem respeito ao objeto e não aos sujeitos. Somente o credor pode escolher por desconsiderá-las.

"Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as
garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação" (art. 301). Se uma
garantia especial dada pelo devedor primitivo (como a fiança), foi extinguida com a cessão da dívida, essa
garantia não pode ser restaurada caso haja a anulação da cessão. Só poderá ser se o devedor primitivo tiver
conhecimento prévio do vício que anularia a cessão, ou seja, se agisse de má-fé.

CESSÃO DE CONTRATO

É a cessão da inteira posição contratual de um negócio bilateral ou sinalagmático. Em tais negócios, cada parte
possui direitos e deveres recíprocos, não apenas um deles. A diferença para uma cessão de crédito ou débito é
que na cessão contratual é transferido para terceiro um complexo de créditos e débitos conjuntos, enquanto que
nas outras modalidades, só acontece de um deles separadamente. Cada parte é tanto credor quanto devedor. A
transferência dessas características conjuntas é a cessão do contrato. Aquele que cede é o cedente. O terceiro
que recebe é o cessionário. A outra parte que não participa, mas que deve declarar a sua anuência é o cedido.

Características e efeitos:

Como o cessionário se tornará o novo devedor do cedido, é imprescindível a anuência deste. A anuência pode ser
dada previamente, quando o contrato já prevê a hipótese de cessão, no momento em que se celebra a
substituição, ou posteriormente na forma de ratificação.

Há certos casos em que a lei dispensa o consentimento do cedido. É o caso da cessão do comprador de um
imóvel loteado numa relação de compra e venda. A jurisprudência tem estendido esse entendimento para os
imóveis não loteados. Nesses casos ocorre uma cessão imprópria do contrato ou uma sub-rogação legal na
relação contratual.

O cedido pode consentir com a cessão e, ao mesmo tempo, impor, a não liberação do cedente. Desta forma, este
figura na obrigação também, tendo que cumpri-la caso o cessionário não o faça. Como não existe algo expresso
na legislação brasileira a respeito, não há nada que defina qual dos dois (cedente ou cessionário) deve ser
cobrado primeiro, podendo o cedido arguir contra qualquer um.

Para ser objeto de cessão, a obrigação deve ser de execução duradoura. As instantâneas não podem ser objeto de
cessão, pois se extinguem na hora. As obrigações de execução instantânea só podem ser objeto de cessão quando
o cumprimento foi apenas parcial, ou quando há ainda consequências jurídicas a serem produzidas.

O cedente responde pela existência da relação contratual cedida sempre que a cessão for onerosa ou quando o
mesmo age de má-fé na cessão gratuita. Como a cessão do contrato não está disciplinado no Código Civil, faz-se
analogia com a cessão do crédito quanto à responsabilização pela existência.

O cedido não pode alegar ao cessionário nenhuma exceção pessoal do cedente, somente aquelas relacionadas ao
objeto. Da mesma forma, o cessionário quanto ao cedido. Não pode nem impor aquelas fundadas no contrato de
cessão. As exceções pessoais do cedente não se transmitem ao cessionário. Se aquele descobre que foi vítima de
vício depois da cessão, não poderá o cessionário protestar a anulação, somente o cedente.
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Para ser objeto de cessão, a obrigação deve ser de execução duradoura. As instantâneas não podem ser objeto de
cessão, pois se extinguem na hora. As obrigações de execução instantânea só podem ser objeto de cessão quando
o cumprimento foi apenas parcial, ou quando há ainda consequências jurídicas a serem produzidas.

O cedente responde pela existência da relação contratual cedida sempre que a cessão for onerosa ou quando o
mesmo age de má-fé na cessão gratuita. Como a cessão do contrato não está disciplinado no Código Civil, faz-se
analogia com a cessão do crédito quanto à responsabilização pela existência.

O cedido não pode alegar ao cessionário nenhuma exceção pessoal do cedente, somente aquelas relacionadas ao
objeto. Da mesma forma, o cessionário quanto ao cedido. Não pode nem impor aquelas fundadas no contrato de
cessão. As exceções pessoais do cedente não se transmitem ao cessionário. Se aquele descobre que foi vítima de
vício depois da cessão, não poderá o cessionário protestar a anulação, somente o cedente.

DO PAGAMENTO
• O pagamento é norteado por dois princípios.

O primeiro é o princípio da boa-fé: que as partes ajam de forma correta. O devedor não se obriga somente ao
estipulado no contrato, mas em tudo aquilo que seu ato possa gerar de consequência.

O segundo princípio é o da pontualidade, estabelecendo que a prestação deve ser cumprida em tempo e de
forma completa.

Pode haver pagamento tanto de forma direta (como na prestação do contrato), como de forma indireta (como
no pagamento por consignação e na dação em pagamento).

• Quando não há pagamento, mas a obrigação se extingue, diz-se que ela a foi por meios anormais. Ex:
impossibilidade de execução sem culpa do devedor, nulidade, novação, etc.

• A obrigação é cumprida quando é realizada espontaneamente pelo devedor ou voluntariamente quando


interpelado. Dessa forma, não há cumprimento quando a realização é feita por meios coercitivos.

Natureza jurídica

• Controvérsias doutrinárias a esse respeito.

• A dificuldade de classificá-lo é reflexo das diversas formas que existem para se efetuar o pagamento. Dar, fazer,
não-fazer, cada uma representa uma prestação diferente.

• É consenso, porém, que o pagamento é um ato jurídico em sentido amplo, podendo variar entre ato jurídico
strictu sensu e negócio jurídico bilateral ou unilateral.

Requisitos essenciais de validade do pagamento

a) Existência de vínculo obrigacional.

b) Cumprimento da prestação.

c) Pessoa que recebe o pagamento (accipiens).

d) Pessoa que efetua o pagamento (solvens).


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e) Intenção de solvê-lo (animus solvendi).

Quem deve pagar

"Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes
à exoneração do devedor" (art. 304, caput).

• Por interesse, entende-se o jurídico. O principal interessado é o devedor. Porém, aqueles que se interessam pelo
cumprimento da obrigação, como os fiadores, avalistas, adquirentes de imóvel hipotecado, podem pagar a dívida.

• Fazendo isto, sub-rogam-se como credores (art. 346, III). Têm, então, o direito de cobrar a dívida do devedor,
com todos os privilégios e garantias do negócio (art. 349).

• Quando a obrigação é contraída intuitu personae, ou seja, só o foi graças às características do devedor, só o
mesmo pode cumpri-la (art. 247)

“Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste"
(art. 304, parágrafo único).

• Terceiro não interessado judicialmente pode também realizar o pagamento em nome e à conta do devedor. Este
terceiro pode até consignar (art. 334 e seguintes) o credor que não aceita o pagamento, desde que aja em nome
e à conta do devedor, nunca em nome próprio. Exemplo: terceiro possui interesse moral na resolução da
obrigação, como um pai que paga a conta do filho.

"O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que
pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor" (art. 305, caput).

• Caso o devedor se oponha ao pagamento do terceiro, pode o credor alegar motivo justo para não aceitar o
pagamento. Contudo, esta oposição do devedor não configura proibição, estando o credor livre para aceitar o
pagamento. Se o devedor não quiser que o terceiro pague sua dívida, só há uma maneira de impedi-lo: efetuar o
pagamento antes dele.

"O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar
aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação" (art. 306).

• Ilidir a ação é provar que não se devia ela, como quando o devedor alega compensação, decadência, etc.
Contudo, se o devedor ilidir apenas parcialmente a ação do credor, não precisará reembolsar o montante que lhe
aproveita, sendo obrigado pelo resto. Ex: o devedor devia R$ 100,00. Houve compensação entre as partes, sendo
que a dívida caiu para R$ 30,00. Se o terceiro pagou a dívida inicial de R$ 100,00, o devedor terá que reembolsá-lo
apenas na quantia de R$ 30,00.

• Quando o conteúdo do cumprimento não é um negócio jurídico, ou não envolve ato de disposição, pode ser
cumprido por incapaz. Não há nada que obste, por exemplo, que o incapaz faça a entrega de um imóvel seu
negociado por seu tutor.

Pagamento efetuado mediante transmissão da propriedade

"Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar
o objeto em que ele consistiu" (art. 307, caput).

• Quando é feita a dação em pagamento, a mesma só pode ser realizada por aquele que possa alienar o objeto, ou
seja, aquele que é titular do direito real. Não basta ter capacidade genérica, deve-se ter a específica. Ex: Um tutor
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não pode dar em pagamento o imóvel do tutelado sem autorização judicial (art. 1748, IV). Contudo, se o alienante
(o devedor) efetuar a dação, mas só receber o domínio da coisa dada posteriormente ao pagamento, a
transferência se convalidará, se o credor estiver de boa-fé (art. 1268, § 1°).

"Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e
consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la" (art. 307, parágrafo único).

• Nesse caso, caberá ao verdadeiro proprietário da coisa fungível somente voltar-se contra o devedor.

A quem se deve pagar

"O pagamento deve ser feito ao credor ou qualquer um que o represente, caso contrário só valerá a partir da
ratificação deste" (art. 308).

• O credor não é somente o originário. Pode ser o herdeiro, o legatário, o cessionário, ou seja, aquele que possui a
titularidade do direito de crédito no momento da cobrança.

Existem 3 tipos de representantes do credor:

a) Legal: é o que decorre da lei, como os pais, tutores e curadores.

b) Judicial: é o nomeado pelo juiz, como o inventariante, síndico da falência, administrador da empresa
penhorada, etc.

c) Convencional: é o estipulado pelo credor. O representante convencional é a figura do adjectus solutionis


causa, com o objetivo de facilitar a execução do pagamento às partes, podendo ser revogado pelo credor.
Quando, porém as cláusulas do contrato são em favor do próprio adjectus, o negócio é uma estipulação em favor
de terceiro, sendo irrevogável pelo credor e não se extinguindo com a morte do mesmo, como no seguro de vida.

• Quando a representação é legal ou judicial, o pagamento só pode ser destinado a esta pessoa. Caso seja
convencional, o pagamento pode ser dado tanto ao representante quanto ao credor original.

"Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias


contrariarem a presunção daí resultante" (art. 311).

• Essa presunção é relativa, podendo ser totalmente desfeita se, no caso, houver vários indícios que o portador da
quitação é um ladrão, ou outra coisa. Nesse caso, há um mau pagamento, pois o devedor não teve a prudente
cautela.

Validade do pagamento efetuado a terceiro que não o credor

• Se o solvens pagar alguém que não o credor, este ainda terá o direito de exigir o pagamento, pois quem paga
mal, paga em dobro.

• O pagamento a terceiro será válido, no entanto, se for ratificado pelo credor. Essa ratificação retroage até o dia
do pagamento a terceiro para produzir todos os efeitos do mandato.

• O credor ratifica o pagamento quando obtiver proveito direto (o terceiro lhe dá a quantia) ou indireto (o terceiro
utiliza o dinheiro a favor do credor) deste ato. Pode o credor, contudo, optar por não ratificar se esse proveito lhe
tolher a liberdade de decisão sobre o pagamento da dívida.

Pagamento efetuado ao credor putativo


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"O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é valido, ainda provado depois que não era credor" (art. 309).

• Exemplo de credor putativo é o único sobrinho de um falecido rico que se presume ser o herdeiro, mas que na
verdade não o é. Outro exemplo é o do locador aparente, que se intitula como sendo o proprietário do imóvel.
Nesses casos, o que resta ao credor é se voltar contra o accipiens, ou seja, o credor putativo, pois o devedor
exonera-se da obrigação. Além da boa-fé do devedor, é requerido a escusabilidade do erro, pois não se justifica
proteger aquele que agiu com negligência.

Pagamento ao credor incapaz

"Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício
dele efetivamente reverteu" (art. 310)

• O pagamento será válido, contudo, se o devedor desconhecer da incapacidade do credor por erro escusável ou
por dolo daquele (ocultar a idade, por exemplo).

Revertido é o pagamento que chega ao poder do representante do credor, ou aquele que gera enriquecimento
patrimonial daquele. Qualquer ato que aumente o patrimônio do incapaz, como a compra de imóvel, etc; é
proveitoso.

Pagamento efetuado ao credor cujo crédito foi penhorado

"Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele
oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo,
ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor" (art. 312)

• Quando o título é penhorado ou impugnado, o devedor é notificado e instruído a depositar em juízo. Sendo
assim, o pagamento feito ao credor demonstra o não seguimento com o que foi estabelecido, o que implica, logo,
na sua invalidação. Para que não haja enriquecimento ilícito do credor, o mesmo deve devolver ao devedor o
valor pago.

Do objeto do pagamento

• O pagamento só existirá se houver um débito. Pagamento sem débito gera obrigação de restituir o que foi
indevidamente pago.

• O objeto do pagamento deve ser estipulado na prestação. O devedor não se exonera da obrigação prestando
algo diverso. A substituição da prestação só pode ser feita com a anuência do credor.

"O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa" (art. 313).

• Se a obrigação é complexa, só será extinta com o cumprimento na íntegra do débito.

"Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o
devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou" (art. 314).

• A prestação deve ser cumprida por inteiro, não sendo o devedor forçado a pagá-la em partes, nem o credor a
assim aceitá-la, se nada foi estipulado no contrato.

"Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do
credor, suportará este a despesa acrescida" (art. 325).

Pagamento em dinheiro e o princípio do nominalismo


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"As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subsequentes" (art. 315).

• A dívida de dinheiro é aquela que tem por objeto o próprio dinheiro, como quando se faz um empréstimo.
Diferentemente, dívida de valor é aquela em que o dinheiro não é o objeto, mas ele representa o valor monetário
deste. É o caso da indenização.

• O Código Civil adotou o princípio nominalista no pagamento de dívida de dinheiro, ao dispor que o pagamento
deve ser feito na data do vencimento, no valor nominal estipulado no contrato. Isto significa que o valor a ser
pago é a quantidade em moedas estipulada, e não aquilo que elas poderiam ser convertidas na época. Sendo
assim, uma desvalorização ou valorização não são levadas em conta na hora do pagamento.

• Contudo, o próprio art. 315 abre a possibilidade de disposições em contrário ao princípio do nominalismo,
inscritos no próprio CC. É o caso do art. 316 que permite "convencionar o aumento progressivo das prestações
sucessivas". Esta é a chamada cláusula de escala móvel, que prevê o reajuste da prestação conforme os índices de
custo de vida. Este reajuste, porém, não pode ter periodicidade menor que 1 ano. É a compensação da inflação.

• Da mesma forma o art. 317 permite que, "quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta
entre o valor da prestação devida e do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de
modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação".

"São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a
diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial" (art.
318).

• O Brasil adotou o curso forçado da moeda para o pagamento em dinheiro, ou seja, só se pode pagar com a
moeda interna.

"Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os
do lugar da execução" (art. 326).

Prova do pagamento

• O pagamento exonera o devedor e lhe atribui o direito de exigir a quitação da dívida pelo credor. Quitação é a
declaração unilateral escrita pelo credor declarando que a prestação foi efetuada. É o vulgo recibo.

"O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada" (art.
319).

"A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida
quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento" (art. 320, caput).

Há 3 casos especiais em que a extinção da dívida dá-se por presunção, dispensando-se a quitação

1º) "A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento" (art. 324, caput).

• Porém, "ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento"
(ar. 324, parágrafo único).

• Esse tipo de presunção é relativa, pois pode o credor provar, no prazo legal, que o título foi furtado, ou qualquer
outro motivo, invalidando assim o suposto pagamento.
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2º) "Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o
pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido" (art. 321)

• Essa solução é pouco usual, pois não é oponível ao terceiro de boa-fé que detenha o título. Sendo assim, a saída
mais utilizada é a entrada das partes com uma ação de anulação e substituição de títulos ao portador, tornando
ineficaz o título perdido.

"Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a
presunção de estarem solvidas as anteriores" (art. 322).

• Isto porque o natural é que se o credor aceitou o último pagamento é porque tenha recebido os anteriores.

• Essa presunção é relativa, contudo. Há casos como, por exemplo, o do condômino que paga as despesas do
último mês do condomínio, mas entra em ação para discutir outras contas anteriores. Outro exemplo é o caso das
contas de fornecimento de energia elétrica, nas quais consta expressamente que a quitação da última não faz
presumir a quitação de contas anteriores.

3º) "Sendo a quitação do capital sem reserva de juros, estes presumem-se pagos" (art. 323)

• A quitação do capital presume a dos juros. Como os juros são obrigação acessória, presume-se que esta foi paga
quando a principal foi.

Local do pagamento

"Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o


contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias" (art. 327, caput).

• Quando o pagamento segue a regra e é feito no domicílio do devedor, diz-se que a dívida é quesível. Caso seja no
domicílio do credor, ela é portável.

"Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles" (art. 327, parágrafo único).

• Esta situação é usual nos contratos de locação, nos quais se estabelece o domicílio das duas partes como local do
pagamento. É a reiteração do pagamento num dos lugares que acaba definindo qual das opções é a escolhida.

"Se o pagamento constituir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde
situado o bem" (art. 328).

• Prestação relativa ao imóvel é a execução de um serviço, como uma reparação, ou uma construção no imóvel.
Por motivos óbvios, estes só podem ser feitos no local o qual se situa o imóvel.

"Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo
em outro, sem prejuízo para o credor" (art. 329).

• Como o CC não definiu precisamente o que seria esse "motivo grave", a identificação do mesmo cabe ao juiz.

O CC não se posiciona sobre a hipótese de mudança de domicílio do devedor. A jurisprudência tem trabalhado
com o entendimento de que se isso acontecer, pode o credor optar por manter o antigo local para o pagamento.
Caso seja impossível e o pagamento tiver que ser feito no novo domicílio do devedor, este terá que cobrir todas
as despesas relativas à essa mudança, como taxas bancárias, etc.

Tempo do pagamento
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• O tempo do pagamento é observado em relação ao estabelecimento a ser debitado. Ou seja, o devedor não tem
todas as horas do dia para pagar. Uma dívida com o banco, por exemplo, não pode ser paga a qualquer hora do
dia, mas sim somente aquelas nas quais o estabelecimento encontra-se em funcionamento. A interpretação do
art. 397 permite inferir que as obrigações puras com estipulação de data para pagamento devem ser solvidas na
ocasião. Caso não sejam, o devedor é constituído em mora.

• O art. 333 estabelece os 3 casos em que há antecipação do vencimento. Nos 3 casos o que há é uma ameaça ao
credor de não receber seu crédito, daí a necessidade de antecipá-lo para cobrá-lo:

a) Inciso I: "No caso de falência do devedor, ou de concurso de credores". Há a antecipação para que o credor
possa se juntar aos outros.

b) Inciso II: "Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor". A
garantia real corre o risco de não encontrar mais o objeto.

c) Inciso III: "Se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o
devedor, intimado, se negar a reforçá-las". Há ameaça à possibilidade de se receber o crédito pela diminuição das
garantias que ele possuía.

Nos contratos, geralmente o prazo é estipulado em favor do devedor (art. 133). Sempre que assim for, poderá o
mesmo abrir mão desse direito, antecipando o pagamento, para que assim possa evitar algum juro, por exemplo.
Se o prazo for a favor do credor, pode este não aceitar o pagamento antecipado, pelos mesmos motivos (que
para ele interessa). Contudo, se o contrato for regido pelo CDC, não lhe cabe tal direito (art. 52, § 2°, do CDC).
Deverá aceitar o pagamento com a redução proporcional dos juros.

"Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo
imediatamente" (art. 331).

O bom senso, nesses casos, é aplicado, sendo permitido ao devedor satisfazer a obrigação em tempo razoável,
sem que fique constituído em mora. Quando não há prazo, o devedor deve ser informado (judicialmente ou
extrajudicialmente) da intenção do credor de cobrá-lo para que ele fique caracterizado em mora. Os atos sem
prazo podem ser praticados desde logo, a não ser que sua execução esteja subordinada a determinado local ou
tempo, sendo então exequíveis na medida do possível (art. 134). Há certos prazos especiais para o pagamento,
como no comodato, no qual o tempo será o necessário para o uso concedido (art. 581).

"As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que
deste teve ciência o devedor" (art. 332).

O disposto refere-se às condições suspensivas. O mesmo não se observa na condição resolutiva, já que o
adimplemento é feito desde já, sendo a sua extinção condicionada.

DAS FORMAS DE PAGAMENTO INDIRETO


PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

• O pagamento em consignação é uma forma de pagamento especial, feito de maneira indireta. O devedor não só
tem o dever de pagar como tem o direito de fazê-lo, pois isto o interessa na medida em que o exonera da
obrigação.
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"Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa


devida, nos casos e forma legais" (art. 334).

Consiste em depósito, pelo devedor, da coisa devida, com objetivo de liberar-se da obrigação.

• Quando o credor age em mora? Quando o credor rejeita o pagamento sem justificativa aceitável. Assim, pode o
devedor consigná-lo, cobrindo-se dos efeitos que o efetivo pagamento lhe causaria.

• A consignação é forma indireta de pagamento. Por isso, ela só cabe quando não é possível fazer o mesmo de
forma direta.

Se a recusa do credor é justa não se pode consignar o pagamento, pois essa recusa caracteriza que o devedor
não está apto para se exonerar da obrigação.

• A consignação comprova a mora accipiendi, o que não acontece quando a recusa é justa. Se não houver recusa
não há no que se falar em consignação, pois o credor irá aceitar o pagamento quando lhe for oferecido.

Objeto da consignação:

• O art. 334 não especifica o que se pode depositar ou não. Sendo assim, entende-se que pode ser tanto dinheiro
quanto bens móveis ou imóveis. O objeto pode ser ainda certo ou incerto.

• O depósito só é possível nas obrigações de dar. É ilógico pensar neste instituto nas obrigações de fazer e de não
fazer.

"Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o
devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada" (art. 341).

"Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de
perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á
como no artigo antecedente" (art. 342).

• Não é lógico prejudicar o devedor pela mora accipiendi. Se o credor não determina o objeto do pagamento, não
ficará o devedor eternamente a espera da escolha, fará ele a mesma.

Fatos que autorizam a consignação: (art. 335)

a) Inciso I: "Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida
forma".

• Este inciso refere-se à hipótese de obrigação portável. Cabe ao devedor provar que efetivamente ofertou o
pagamento. Ao credor, por sua vez, cabe apresentar causa justa para a recusa.

b) Inciso II: "se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos".

• Este inciso refere-se à dívida quesível. Neste caso, basta o devedor apenas demonstrar que o credor não foi em
busca de seu pagamento.

c) Inciso III: "Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou
de acesso perigoso ou difícil".

• A simples incapacidade não é motivo suficiente para que se faça a consignação. Deve ser impossível também
efetuar o pagamento ao representante do credor. Só assim é possível a consignação, pois, nesse caso, fica
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comprovada a impossibilidade de se pagar diretamente. O caso da ausência é difícil de ser observado, pois tal
instituto só pode ser decretado por sentença, que estabelece um curador para o ausente. Existindo um curador
não há porque não fazer o pagamento diretamente para ele.

d) Inciso IV: "Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento".

Art. 547, NCPC. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o
depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.
Art. 548, NCPC. No caso do art. 547:
I – não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em arrecadação de coisas vagas;
II – comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano;
III – comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação, continuando o
processo a correr unicamente entre os presuntivos credores, observado o procedimento comum.

• Se a residência do credor é em local perigoso ou desconhecido, quando a dívida é portável, o devedor não tem a
obrigação de arriscar a sua vida para efetuar o pagamento. Nas três hipóteses, o devedor não é prejudicado por
não se saber quem é o verdadeiro credor. Seu depósito é suficiente para que seja exonerado da obrigação, não
participando da discussão sobre quem receberá seu pagamento. Se a dúvida quanto quem é o credor não for
razoável, o juiz fará o indeferimento da petição inicial, por falta de interesse de agir do autor.

e) Inciso V: "se pender litígio sobre o objeto do pagamento".

• Estando as partes disputando em juízo o objeto do pagamento é ilógico pensar que uma delas pode se exonerar
da obrigação em disputa.

Requisitos de validade da consignação:

"Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto,
modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento" (art. 336).

Requisito pessoal ou subjetivo para a validade da consignação:

• O pagamento deve ser feito pelo devedor capaz ao verdadeiro credor, também capaz. Tem legitimidade ativa
para a ação consignatória o devedor, bem como terceiro interessado, ou não, que o faz em nome do devedor.

• A legitimidade passiva (réu da ação consignatória) recai sobre aquele que pode receber o pagamento e exonerar
o devedor. Se esta pessoa for desconhecida, será citada por edital (NCPC, art. 256, I) com intervenção, a seu
favor, de curador especial (NCPC, art. 72, II).

Requisito objetivo, ou referente ao objeto:

• O pagamento deve ser efetuado em sua integralidade.

"O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da
dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente" (art. 337).

• O devedor deve incluir no depósito a correção monetária referente ao período entre o vencimento da dívida e o
efetivo depósito. Se o depósito for de entrega de coisa, devem ser entregues também os acessórios, frutos e
produtos que o credor tem direito.

• A jurisprudência tem admitido a discussão em torno do valor depositado, pelas partes. Isto significa que o
princípio de que o depósito deve ser líquido e certo não é pleno.
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• Se o devedor oferecer objeto que não seja o devido, ou descumprir alguma cláusula contratual, poderá o credor,
legitimamente, recusar a consignação.

Modo do pagamento:

• O modo será o mesmo que o estabelecido, ou seja, se a obrigação poderia ser paga em várias prestações,
também poderá o seu depósito.

Tempo do pagamento:

• O tempo do depósito respeitará o fixado no contrato, ou seja, só pode ser feito após o vencimento da dívida.

• Se o prazo foi estipulado a favor do devedor, poderá este retirar o depósito a qualquer momento (art. 333).

• Verificada a condição a que o débito estava subordinado, pode o credor efetuar o depósito (art. 332).

• A mora do devedor não impede a consignação do pagamento por si só. Se ela não tiver causado nenhuma
consequência irreversível, poderá o devedor fazer o depósito. Porém, se neste período o credor tiver demandado
o devedor, a consignação não poderá mais ser feita.

Lugar do pagamento:

O depósito será feito no lugar o qual foi estabelecido para ser o do pagamento (art. 337).

Levantamento do depósito:

"Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não impugnar, poderá o devedor requerer o
levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de
direito" (art. 338).

"O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a
preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os
co-devedores e fiadores que não tenham anuído" (art. 340).

• Se o credor recusar o depósito e contestar a ação, o levantamento do pagamento só poderá ser feito com a sua
anuência. Se assim aceitar, o levantamento corresponderá a um novo crédito, pois o credor permitiu que a
quantia lhe fosse tomada após ter sido assegurado o resgate do seu crédito. Ou seja, ele confirmou com a outra
parte nova obrigação. Sendo a obrigação nova, ficam desobrigados dela todos aqueles que não compactuaram
com sua criação, como os co-devedores e os fiadores.

Aceitando o depósito, o credor extingue a dívida, exonerando todas as partes. Um levantamento posterior da
quantia depositada pelo devedor representa, da mesma forma, uma nova obrigação assumida.

"Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo embora o credor consinta, senão de acordo
com os outros devedores e fiadores" (art. 339).

• O julgamento da procedência do depósito implica na afirmação da exoneração da parte ativa. Por isso um
levantamento da quantia depositada representaria a volta da obrigação em questão. Como tal ato afeta os co-
devedores e fiadores, que têm interesse em ver a obrigação extinta, o levantamento só pode ser feito com suas
anuências.

Disposições processuais:
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• Quando o credor recusa-se a receber o pagamento, o devedor tem duas alternativas:

• a) Efetuar o depósito extrajudicial em banco aceito pelo credor: No depósito extrajudicial, o devedor deverá
apenas comprovar o depósito do pagamento, bem como demonstrar a recusa do credor.

• b) Ajuizar ação de consignação em pagamento: Essa ação é de natureza declaratória, podendo ser feita mesmo
quando houver dúvida sobre o valor exato a ser depositado. Quando a dívida é portável, a ação é proposta no
foro do domicílio do credor. Quando quesível, no do devedor.

• O depósito judicial deverá ser feito no prazo de cinco dias. Se se tratar de prestações periódicas, sendo a primeira
consignada, as demais não precisam seguir toda a formalidade, tendo apenas que ser feitas no prazo de cinco dias
do vencimento de cada uma.

• Isso só pode ser feito até o deferimento da sentença. Essa possibilidade só se estende até a prolação da
sentença. Os depósitos futuros não estão sujeitos ao decidido. Caso o credor recuse as novas prestações, mesmo
com a sentença proferida obrigando-o a aceitar aquelas que foram depositadas, não pode o devedor aproveitar-
se da sentença, devendo ajuizar nova demanda. O prazo de resposta do credor é de quinze dias.

• O credor pode alegar que:

I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;

II - foi justa a recusa;

III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;

IV - o depósito não é integral (NCPC, art. 544, IV). A alegação de que o valor não é o integral não impede que o
credor levante o pagamento parcial e libere o devedor neste montante (NCPC, art. 545, caput e § 1°).

• A procedência da ação reputa efetuado o pagamento, não incidindo os juros moratórios do período da ação. Se a
ação é improcedente, o devedor responde pelos juros do curso da lide, pois se caracteriza o seu retardamento
culposo.

PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO

• Sub-rogação é a substituição de uma pessoa, ou de uma coisa, por outra pessoa, ou outra coisa, em uma relação
jurídica.

• O terceiro que toma o lugar do credor preserva todos os direitos daquele, como os acessórios da obrigação e
suas garantias.

• A sub-rogação pode ser real ou pessoal:

É real quando a substituição é do objeto.

O novo toma o lugar do antigo, preservando todos os ônus e atributos deste primeiro. Exemplo: Substituição da
coisa gravada pelo testador ou doador com vínculo de inalienabilidade.

• A pessoal ocorre com a substituição do credor por terceiro. Ocorre quando este terceiro solve a dívida do
devedor para com o credor, tornando-se, assim, o detentor do direito de ser ressarcido da quantia paga, pelo
devedor.
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• A sub-rogação pessoal é uma figura jurídica anômala, pois extingue a obrigação para o credor, que não pode mais
exigir nada do devedor depois de ter recebido o pagamento do terceiro, mas preserva a obrigação ao devedor,
que passa a dever ao terceiro.

• Apesar de ser instituto semelhante à cessão de crédito, há certas diferenças para com esta.

• Na cessão, visa-se o lucro, pois o objetivo é transformar o crédito em patrimônio, negociando-o. Por isto, o valor
pago é diverso, geralmente, da dívida.

• Já na sub-rogação, ocorre a exata proporção entre o pagamento efetuado e o valor da dívida, pois o objetivo não
é lucrar, mas sim livrar o devedor primário da obrigação com o credor.

Espécies:

• A sub-rogação pode ser legal ou convencional:

A legal decorre da lei. Por isso, é independente da concordância da vontade de ambas as partes. O art. 346 define
as hipóteses nas quais ocorre a sub-rogação legal:

a) Inciso I: "do credor que paga a dívida do devedor comum". São os casos em que o credor percebe que o seu
devedor também é sujeito passivo de outras obrigações e que se estes outros credores executarem seu crédito, o
adimplemento da sua prestação, pelo devedor, corre o risco de não acontecer. Acontece geralmente quando este
credor tem menos garantias que os demais. "Comprando" todas as dívidas do devedor ele tem certeza de que irá
receber seu pagamento preferencialmente, já que não há nenhum outro para receber.

b) Inciso II: "do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecado, bem como do terceiro que
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre o imóvel". Quando há mais de uma hipoteca, aquela
estabelecida primeiro terá preferência numa eventual execução. Por isso, é interessante para aquele que se
utiliza do imóvel comprar a primeira hipoteca, pois caso o imóvel seja executado, o adquirente do mesmo não o
perderá para outro. Essa hipótese não se restringe ao caso da hipoteca. O inciso cita também qualquer relação
contratual que dê ao credor qualquer direito sobre o imóvel. A jurisprudência tem ampliado esse entendimento
para os casos de anticrese e aos adquirentes de coisa móvel.

c) Inciso III: "do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte".
Terceiro interessado é aquele que tem seu patrimônio afetado caso a dívida não seja paga pelo devedor. Para que
isso não aconteça, ele pode exonerar o devedor e, consequentemente, a si mesmo, pagando a dívida. É o caso do
avalista, do fiador, do devedor solidário, do co-devedor de dívida indivisível, etc. O terceiro não interessado que
paga a dívida não se sub-roga como credor, apenas tem o direito ao reembolso.

• A sub-rogação é chamada de convencional quando é estipulada entre as partes. A manifestação dessa sub-
rogação deve ser expressa. Por ter essas características, tal sub-rogação não precisa obedecer nenhuma das
hipóteses legais, ocorrendo nos casos nos quais essa mudança não poderia ser feita, mas assim quiseram as
partes.

• O art. 347 define as hipóteses nas quais ocorre a sub-rogação convencional:

a) Inciso I: "Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus
direitos". Esse caso ocorre somente quando o pagamento é feito por terceiro que não é interessado, pois quando
é interessado, a sub-rogação é legal. Devem ser preenchidos os seguintes requisitos: 1) Haja transferência
expressa dos direitos; 2) A transferência seja feita até a hora do pagamento, pois se não, a dívida é extinta.
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A transferência é feita sem a anuência do devedor. É muito semelhante à cessão do crédito, tanto que o art. 348
estabelece que "na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito".
Entretanto não são a mesma coisa, já que a cessão cuida de uma transferência de crédito, enquanto a sub-
rogação está relacionada ao pagamento. Os fins são os mesmos, mas os meios não.

b) Inciso II: "Quando terceiro empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa
de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito". É a opção do devedor de trocar de credor. Não
precisa haver anuência do credor, pois não tem ele como impedir que o terceiro empreste o valor da prestação.
Os financiamentos regulados pelo sistema financeiro de habilitação são exemplos deste tipo de sub-rogação.

Efeitos da sub-rogação:

A sub-rogação produz dois efeitos:

a) Liberatório: exonera o devedor para com o antigo credor

b) Translativo: é o efeito contido no art. 349, segundo o qual "a sub-rogação transfere ao novo credor todos os
direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores".
O efeito translativo aplica-se às duas modalidades de sub-rogação (legal e convencional). Na convencional,
entretanto, este efeito pode ser limitado, graças à autonomia especulativa das partes.

"Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até a soma que
tiver desembolsado para desobrigar o devedor" (art. 350).

• Se o sub-rogado pagou apenas uma parcela da dívida, terá direito sobre esta, e não sobre a integralidade do
valor. Na sub-rogação convencional essa limitação não ocorre necessariamente, pois as partes podem estipular de
forma diversa.

Sub-rogação parcial:

• Pode haver casos em que o terceiro paga apenas uma parte da dívida, subsistindo o restante. Sendo assim,
surgem dois credores: o antigo e o novo sub-rogado.

"O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante,
se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever" (art. 351).

• O CC nada fala sobre quem tem preferência quando há mais de um sub-rogado, ou seja, quando mais de um
terceiro pagou parcialmente a dívida. Entende-se que, neste caso, todos sujeitam-se à regra de igualdade de
credores, não importando a data, origem ou montante de cada um. Sobre todos estes, porém, ainda prevalece o
credor originário.

DIFERENÇAS DA SUB-ROGAÇÃO COM A CESSÃO DE CRÉDITOS

CESSÃO DE CRÉDITO SUB-ROGAÇÃO


• Decorre da manifestação da vontade das partes; • Pode não advir da vontade das partes (sub-
• Independe do pagamento; rogação legal);
• Visa lucro; • Exige pagamento;
• Exige a notificação do credor; • Não tem aspecto especulativo;
• Tem por objeto transferir o crédito, o direito ou • Dispensa notificação do credor;
a ação; • Objetiva exonerar o devedor perante o
• Não opera a extinção do débito creditório do antigo credor;
devedor (ele é transferido para novo credor); • Extingue a dívida com relação ao credor
• Ela é feita pelo credor; primitivo;
• O cessionário (novo credor) fica responsável pela • Não precisa ser feita pelo credor (devedor);
existência do crédito. • Novo credor não fica responsável pela
existência do crédito.
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IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

Conceito:

• Imputação do pagamento é quando o devedor possui mais de uma dívida com o mesmo credor.

• Pode ocorrer que este devedor não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as dívidas, mas apenas uma ou
algumas delas. Dá-se o nome de imputação à escolha de quais dívidas serão pagas.

"A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual
deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos" (art. 352).

• É ao devedor que, primeiramente, compete escolher qual dos débitos será pago. Entre o capital e os juros, por
exemplo, deve-se pagar obrigatoriamente os juros primeiro, pois os dois débitos são de naturezas diferentes, não
podendo o devedor escolher qual quer pagar.

• Requisitos:

a) Pluralidade de débitos, pois se não há opção de escolha não há no que se falar sobre imputação. Somente é
cabível a imputação em dívida única quando ela se desdobrar, como quando há juros. Mesmo assim, nesse caso,
os juros seriam pagos por primeiro.

b) Identidade das partes, ou seja, a figura do devedor e do credor deve ser a mesma para todas as obrigações.
Estas figuras, porém, não precisam ser uma pessoa só. Pode haver pluralidade, como no caso da solidariedade.

c) Igual de natureza das dívidas. Os objetos devem ser fungíveis de idêntica espécie e qualidade. Não há
imputação quando uma das dívidas é de entregar dinheiro e a outra é de realizar uma prestação.

• Não basta a simples fungibilidade das prestações. Elas devem ser fungíveis entre si, ou seja, homogêneas. Não há
imputação quando uma das dívidas é de entregar dinheiro e a outra de entregar sacas de café. Apesar dos dois
objetos das prestações serem fungíveis, eles não o são entre si.

• As dívidas ainda devem ser líquidas (certas, quanto às suas existências, e determinadas, quanto aos seus objetos)
e vencidas (exigível pelo advento do termo prefixado). Esse requisito é um tanto quanto inútil, já que a maioria
das dívidas é estipulada em favor do devedor, podendo este antecipar o vencimento a seu bel prazer. A lei
permite a imputação do débito vincendo e do ilíquido se assim o credor assentiu.

d) Possibilidade do pagamento resgatar mais de um débito. Deve o pagamento poder saldar mais de uma dívida
(separadamente) para que o devedor possa escolher sobre qual delas incidirá o pagamento.

• Se este somente puder saldar a menor dívida não há no que se falar em imputação, pois não pode o credor ser
constrangido a receber pagamento parcial de dívida se assim não foi estipulado. O devedor deverá pagar a menor
dívida, a única que ele pode saldar inteiramente.

Conceito:

• Dação em pagamento é o acordo feito entre as partes no qual o credor aceita em receber prestação diversa da
que lhe é devida, liberando assim o devedor.

Características:
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• As prestações devem ter natureza diferente. Não caracteriza dação em pagamento o depósito bancário para
pagar dívida de dinheiro.

• A dação pode ser feita, se o credor assentir, para a quitação parcial, quando o objeto oferecido é de menor valor
que a dívida. Nesses casos, o credor deve esclarecer o débito remanescente.

• Não precisa haver coincidência exata entre o valor da dívida e o do objeto da dação. Pode o credor, logo, receber
valor superior ao da dívida sem ter que reembolsar o devedor.

• A dação em pagamento é uma forma indireta de pagamento. É um contrato liberatório.

Espécies:

a) Substituição de dinheiro por bem móvel ou imóvel (rem pro pecunia);

b) De coisa por outra (rem pro re).

c) De coisa por prestação de fato (rem pro facto).

DA NOVAÇÃO

Conceito:

Novação é a criação de obrigação nova para extinguir uma anterior.

• A novação não produz satisfação imediata do crédito.

• É, na verdade, modo extintivo não satisfatório, pois o credor não recebe a prestação devida, mas sim adquire
outro direito de crédito.

Requisitos da novação:

• Existência de obrigação anterior.

"Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas"
(art. 367).

• As obrigações nulas ou extintas não podem ser novadas porque não se pode novar o que não existe. As
obrigações anuláveis têm existência, enquanto não rescindidas judicialmente.

• A novação representa a renúncia ao direito de pleitear a anulação, instituto este que protege as partes em
particular em certas ocasiões.

• Há grande discussão se as obrigações naturais podem ser novadas. Alguns entendem que não, pois ela não pode
ser exigida compulsoriamente. Outros entendem que sim, pois a obrigação natural ganha substrato jurídico na
medida em que é cumprida.

• A obrigação sujeita a termo ou a condição existe, logo pode ser novada.

• A nova dívida pode ser pura e simples ou também condicionada. Sendo condicionada, a novação ocorre com o
implemento da condição estabelecida. Muitos doutrinadores entendem pela novação da dívida prescrita.
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• Constituição de nova dívida: A novação pode recair tanto sobre o objeto quanto sobre o sujeito passivo ou ativo.
Alterações secundárias na dívida, como exclusão de garantia, alongamento do prazo, estipulação de juros, etc;
não constituem novação.

• Intenção de inovar (animus novandi). O credor deve ter a intenção de novar, pois renuncia o crédito e todos os
seus acessórios. Sendo assim, a novação não é presumida.

"Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira" (art. 361).

• A novação tácita é observada sempre que a nova obrigação for diversa na substância ou na forma da obrigação
anterior.

Espécies de novação:

a) Novação objetiva ou real: Ocorre novação objetiva ou real "quando o devedor contrai com o credor nova
dívida para substituir a anterior" (art. 360, I).

• A mudança incide sobre a dívida. A novação objetiva pode decorrer da mudança no objeto principal da
obrigação, na natureza desse objeto ou na sua causa jurídica. É necessário o animus novandi, caso contrário o
que ocorre é a dação em pagamento.

b) Novação subjetiva ou pessoal: Ocorre "quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o
credor" (art. 360, II). A novação do devedor pode ocorrer sem a anuência deste, ou seja, num acordo entre o
credor e terceiro. Este caso denomina-se expromissão. Quando há ordem ou consentimento do devedor,
denomina-se delegação.

• Pode o credor, na delegação, aceitar o novo devedor, mas não abrir mão de seus direitos para com o devedor
primitivo. Neste caso a delegação é imperfeita e não há novação.

• Também se dá "quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor
quite com este" (art. 360, III).

c) Novação mista: Novação mista é quando ocorre, ao mesmo tempo, mudança do objeto da prestação e dos
sujeitos da obrigação.

COMPENSAÇÃO

"Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até
onde se compensarem" (art. 368).

• A compensação acontece quando duas pessoas são credoras e devedoras entre si de obrigações diferentes. Uma
obrigação é paga pela outra, e as duas são então extintas.

Espécies de compensação:

A compensação é total quando o valor das dívidas for igual. Nesses casos, as duas dívidas se compensam
mutuamente por inteiro, não restando nada após.

• Quando o valor das dívidas for desigual, a compensação é parcial. A dívida maior irá compensar a dívida menor,
que não existirá mais. Porém, a parcela da maior excedente continua sendo devida pela outra parte.
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• A compensação é legal quando decorre da lei. Ela produz efeitos ipso iure. Opera de forma automática, de pleno
direito. O juiz apenas a reconhece, declarando sua configuração, desde que provocado, pois não pode proclamar
de ofício. Os efeitos retroagirão ao momento em que foi constituída a segunda obrigação.

Conceito de compensação judicial:

A compensação judicial ocorre, principalmente, nas hipóteses nas quais há procedência da ação e da
reconvenção, ou seja, ambas as partes vencem e são vencidas ao mesmo tempo. O juiz determina que o
pagamento final seja compensado pelo o que cada parte ganhou

Dívidas não compensáveis:

"Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de
uma delas" (art. 375).

• É a chamada exclusão bilateral. Pode haver renúncia unilateral do direito de compensar. Porém, esta só pode ser
feita após o surgimento do crédito que seria compensado e antes de todos os requisitos da compensação estarem
presentes. De qualquer forma, os direitos de terceiros são preservados da renúncia.

• Não havendo interesse público envolvido, nada impede que a renúncia seja feita previamente. A renúncia não
precisa ter fórmula específica, basta apenas ser clara, podendo tanto ser expressa quanto tácita. A diversidade de
causa devendi (o porquê de ter se constituído o crédito) não é motivo para a incompatibilidade de compensação.

DA CONFUSÃO

Conceito e características:

"Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor" (art.
381).

• A confusão age sobre a figura do sujeito ativo e passivo, constituindo um impedimentum praestandi.

• Pode decorrer de ato inter vivos, ou causa mortis. É de ato inter vivos quando há cessão do crédito ao próprio
devedor ou quando o devedor se casa com o credor com comunhão universal de bens. Decorre de causa mortis
quando o devedor é herdeiro do credor falecido.

Espécies de confusão:

“A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela" (art. 392).

• Pode ocorrer confusão parcialmente ou de modo total. Se for parcial, só libera o devedor no montante da quota,
como na compensação.

"A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da
respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade" (art. 383).

• Caso haja pluralidade de credores, se um deles morrer, sendo o herdeiro o devedor, a confusão será parcial ou
imprópria, tendo o devedor que pagar a quota parte dos outros co-credores.
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• Já no caso de pluralidade de devedores, se o credor morrer, sendo um dos co-devedores o único herdeiro, a
confusão é total ou própria para este, que não precisará pagar nada a si mesmo. Entretanto os outros co-
devedores continuam a dever, tendo agora que pagar esse devedor que se tornou credor.

REMISSÃO DE DÍVIDAS

Conceito e natureza jurídica:

• A remissão de dívidas ocorre quando o credor exonera o devedor do cumprimento da obrigação.

"A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro" (art. 385).

• Advém da vontade unilateral do credor de remitir o devedor. Porém, é condicionada à aceitação expressa ou
tácita do devedor, que é livre para se opor e efetuar o pagamento.

• A remissão é espécie do gênero renúncia, pois, diferente desta, necessita da aceitação do devedor.

• O art. 386 impõe como requisitos para a remissão a capacidade do remitente (credor) de alienar e a do remitido
(devedor), de adquirir.

• Qualquer crédito, desde que não contrarie o interesse público ou de terceiro, é suscetível à remissão. A natureza
da remissão é contratual.

Espécies de remissão:

• A remissão é considerada total quando exonera o devedor por completo, extinguindo a dívida completamente.
Quando exonera o devedor de somente uma parcela da dívida, diz-se que a remissão foi parcial.

A remissão é expressa quando resulta de declaração do credor. É tácita quando o comportamento do credor
demonstra que o mesmo não pretende receber o pagamento. A mera inércia ou tolerância do credor, contudo,
não faz presumir a remissão, a menos que contrarie a natureza da obrigação. A remissão é presumida quando
deriva de expressa previsão legal.

• A remissão pode ser concedida sob condição ou a termo inicial. Nessas hipóteses, a extinção dá-se no
complemento do estipulado.

Remissão em casos de pluralidade de devedores:

"A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que,
ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da
parte remitida" (art. 388).

• Se a dívida for indivisível, com pluralidade de devedores, a remissão de um não desobriga os outros, que
continuarão a ter que pagar toda a dívida.

• Após o pagamento, os co-devedores que não foram remitidos poderão exigir a restituição do correspondente à
cota do remitido.
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DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES


• Inadimplemento das obrigações = responsabilidade civil contratual;

• Ilícito contratual que origina a responsabilidade civil contratual – art. 389 e ss do CC; o Extracontratual – art. 927 e
ss do CC.

• Com o estudo do inadimplemento, chegaremos à responsabilidade civil, quando da ocorrência do


descumprimento de uma obrigação sendo que a ação a ser proposta é a indenizatória, com prazo prescricional de
três anos (art. 206, §3°, V, CC).

• Na responsabilidade civil contratual, analisam-se os seus pressupostos quando houver o inadimplemento da


obrigação, sendo eles:

- Ação ou omissão do agente;

- Dolo ou culpa;

- Dano; e

- Nexo causal

• Duas são as modalidades de inadimplemento: INVOLUNTÁRIO e VOLUNTÁRIO

INADIMPLEMENTO INVOLUNTÁRIO

- É o que ocorre sem culpa do devedor;

- Por isso, nessa modalidade não haverá responsabilidade civil, em regra.

- Ocorre quando houver CASO FORTUITO e/ou FORÇA MAIOR.

- Conceito de caso fortuito e/ou força maior é controverso.

- Força maior (evento da natureza, sem vontade humana). Caso fortuito (evento praticado pelo homem, com
vontade humana. – Clóvis Beviláqua, Washington de Barros Monteiro).

POSICIONAMENTO DO STJ

- CASO FORTUITO = é o evento IMPREVISÍVEL e por isso, inevitável.

- FORÇA MAIOR = é o evento PREVISÍVEL, mas inevitável.

- Ambos são considerados sinônimos (art. 393 do CC), que os conceitua como o fato necessário cujos efeitos não
eram possíveis de se evitar ou impedir.

Exceções (situações de responsabilidade civil mesmo com caso fortuito e/ou força maior):

- Se houver no contrato cláusula de assunção da responsabilidade pela ocorrência do caso fortuito e/ou força
maior, havendo, portanto, responsabilidade civil da parte que a assumiu. A 2ª parte do 393 do CC autoriza que se
pactue expressamente na relação contratual cláusula onde a parte irá assumir a responsabilidade pela ocorrência
do caso fortuito e da força maior. Porém, tal cláusula não pode ser inserida em contrato de adesão, por ser uma
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forma de renúncia a um direito garantido em lei (a ausência da responsabilidade), motivo pelo qual o aderente
não poderá assumir tal responsabilidade (art. 424, CC);

- O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora ela resulte de caso fortuito ou de força
maior, se estes ocorrerem durante o período de atraso, salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano ocorreria
mesmo que a obrigação tivesse sido cumprida (399 do CC);

- No contrato de comodato, se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário,
antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se
possa atribuir caso fortuito e/ou força maior (583 do CC)

INADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO (ARTIGO 389, CC)

-é aquele que ocorre com culpa do devedor. Assim, nessa modalidade, ocorrerá responsabilidade civil.

- Nesse caso, 4 serão as sanções que poderão ser cobradas na ação indenizatória:

✓ Perdas e danos;

✓ Juros;

✓ Atualização monetária; e

✓ Honorários advocatícios.

Perdas e Danos

- Existem vários tipos de danos que podem ocorrer no descumprimento de uma obrigação contratual.

✓ DANO MATERIAL: é aquele que acarreta um prejuízo patrimonial. Pode se subdividir em:

a) Dano emergente: trata-se da perda efetiva;

b) Lucros cessantes: aquilo que, razoavelmente, se deixou de lucrar.

✓ DANO MORAL: pode ser próprio ou impróprio;

a) próprio: que causa dor, angústia, sofrimento, tristeza, amargura etc.

b) Impróprio: que acarreta a violação dos direitos da personalidade.

- Exemplo: dano moral decorrente do descumprimento obrigacional, no caso do fotógrafo que não comparece à
cerimônia de casamento, após ter assumido contratualmente a obrigação de realizar as fotos e a filmagem do
evento.

- O dano moral pode ocorrer na modalidade indireta, também chamado de dano moral ricochete, quando atingir
terceiros além da vítima direta do evento.

- Dano estético: é aquele que causa afeamento permanente em alguma parte do corpo humano. O afeamento
deve ser permanente para se caracterizar como dano estético, senão haveria um dano material passível de
solução por meio do pagamento de cirurgia plástica.
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- As perdas e danos devem ser provadas, o que exclui o dano hipotético (aquele que poderia ter acontecido).

- É permitida a cumulação de danos materiais, morais e estéticos (Súmula 387 do STJ - É lícita a cumulação das
indenizações de dano estético e dano moral.)

Juros

- São os rendimentos do capital (frutos civis da coisa. Ex.: aluguéis). Representam o pagamento pela utilização de
capital alheio. São acessórios (art. 95)

- Os tipos de juros são compensatórios e moratórios.

a) compensatórios: cobrados no contato de mútuo feneratício (empréstimo de dinheiro);

b) Moratórios: devidos em decorrência do inadimplemento culposo de uma obrigação (mora).

- Os juros que no momento nos interessam (no inadimplemento das obrigações) são os juros moratórios, que se
subdividem em legais e convencionais.

- Juros moratórios legais: são aqueles descritos na lei.

(Com a EC nº 40/2003, o art. 192 da CF foi alterado, motivo pelo qual os juros moratórios passaram a ser
normatizados em lei infraconstitucional. O artigo que regulamenta é o 406 do CC que não possui redação muito
clara quanto ao seu percentual.)

“Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento
de impostos devidos à Fazenda Nacional.”

- Por sua redação não apresentar, expressamente, qual o percentual dos juros moratórios legais, 2 são as
correntes quanto a sua interpretação:

1ª - a taxa descrita no art. 161, §1º, do CTN (1% ao mês)

2ª - a taxa Selic.

Juros moratórios convencionais: são os convencionados pelas partes, quando estas não quiserem a aplicação da
taxa legal, ou quando preferirem não adentrar na polêmica sobre a taxa descrita no 406 do CC.

Porém, os juros moratórios convencionais possuem um teto de fixação. Conforme a lei de Usura (Decreto nº
22.626/33) não podendo ser fixado mais do que o dobro da taxa legal.

*usura = cobrança abusiva de juros.

- De acordo com o 405 do CC, os juros de mora, na responsabilidade civil contratual, são devidos após a citação do
devedor. Já na modalidade extracontratual, são devidos a partir da data do evento danoso.

- As instituições financeiras não se subordinam à lei usura. Portanto, podem cobrar juros superiores ao dobro da
taxa legal, já que quem os regulamenta é o Banco Central.
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(Súmula 596 STF - As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros
encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional.

ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

- Tem por objetivo devolver o poder de compra da moeda, ou seja, corrigi-la monetariamente em razão das perdas
inflacionárias.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

- Só podem ser cobrados quando houver efetiva atuação do profissional da Advocacia, caso contrário não serão
devidos.

• Espécies de inadimplemento voluntário

- Violação Positiva do Contrato: é o inadimplemento decorrente da violação aos deveres anexos à boa-fé objetiva.

- A parte pode alegar a exceptio non adimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido), prevista no 476 do
CC.

Inadimplemento relativo: ocorre quando a prestação ainda é útil ao credor.

Exemplo: o atraso no pagamento de um empréstimo bancário. Nesse caso, a obrigação ainda pode ser cumprida
após o vencimento, motivo pelo qual, neste caso, teremos a chamada mora.

DA MORA
"Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo,
lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer" (art. 394).

• Embora a mora também se constitua quando o devedor tenta pagar de forma diferente do estipulado, o seu
retardamento é o modo mais comum no qual ela se dá.

• Não é só pelo descumprimento da convenção que a mora acontece. O cometimento de infração à lei também a
caracteriza.

• Súmula 54 do STJ - Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.

• Na contratual, entretanto "contam-se os juros de mora desde a citação inicial" (art. 405).

• Tipos de mora:

- Accipiendi ou creditoris: que é a mora do credor. Exemplo: quando o credor se recusar a receber o pagamento ou
dar quitação.

- Solvendi ou debitoris: é a mora do devedor.


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- Mora ex re: que é a que ocorre automaticamente quando há vencimento na obrigação. Ela decorre da famosa
frase em latim dies interpelat pro homine (o vencimento interpela o homem) – 397 e 398 do CC.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.
(Vide Lei nº 13.105, de 2015)
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. (Vide Lei nº
13.105, de 2015)

- Mora ex persona: a que exige interpelação nos casos em que não houver vencimento na obrigação. (se não há
dies na obrigação, devemos interpelat o homem.)

- Nas obrigações de não fazer, não há o instituto da mora, pois "o devedor é havido por inadimplemento desde o
dia em que executou o ato de que se devia abster" (art. 390).

- Quando o retardamento da prestação torna a mesma inútil ao credor, não há mais mora, mas sim o
inadimplemento absoluto. Exemplo: de nada adianta ao credor receber o bolo que encomendou para seu
casamento um dia depois da festa.

A prestação que não interessa mais ao credor é tida como impossível. Não basta que o credor alegue que a
prestação não lhe é mais útil, as circunstâncias devem demonstrar isto.

- Tanto no inadimplemento absoluto quanto na mora, surge a obrigação de restituir as perdas e danos quando tais
são provocadas pela culpa do devedor.

- Porém, "não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora" (art. 396). Se a mora
deu-se por caso fortuito ou força maior, isto é, não havendo culpa do devedor, este não será responsabilizado
pelas perdas e danos. Se a obrigação tornar-se impossível sem a culpa do devedor, também não haverá
responsabilização deste.

- Todo inadimplemento e mora do devedor presumem-se culposos. Porém pode o devedor afastá-la provando que
o fortuito não se originou por culpa sua. Já para o credor, o mesmo não vale. A mora deste em receber o
pagamento, mesmo sem sua culpa, é sempre de sua responsabilidade. A mora accipiendi não requer a noção de
culpa porque se o credor pudesse afastar sua responsabilidade, o devedor seria obrigado a correr com os riscos
de reter o pagamento por fato que não foi ocasionado por ele.

- Quando o devedor está em mora, ele é notificado pelo credor, para que esteja ciente da sua situação e possa
purgá-la. No inadimplemento absoluto a notificação não é necessária, já que o cumprimento da obrigação é
inviável.

Efeitos da mora do devedor:

"Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado" (art. 395).

• Caso a prestação torne-se inútil ao credor, ou seja, haja o inadimplemento absoluto, o credor pode exigir a
rescisão do contrato, reclamando as perdas e danos.

"O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso
fortuito ou força maior, se estes ocorrerem durante o atraso, salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano
sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada" (art. 399).
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• Isto significa que, na mora, o devedor responde por todos os riscos da coisa. A parte do artigo que isenta o
devedor caso ele prove não ter culpa é ilógico, pois se assim provar não haverá mora em si.

Efeitos da mora do credor:

"A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e o sujeita a recebê-la pela estimação mais favorável
ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação" (art. 400).

• A lei exige que o devedor tenha o mínimo de cuidado com a coisa que forçadamente deve reter. Se o devedor
agir com dolo, abandonando a coisa, por exemplo, responderá pela deterioração desta. Esta solução é tomada
porque o direito que o devedor tem de abandonar a coisa colide com o interesse da comunidade, sendo
preferível exigir que este cuide da coisa, mesmo que por motivo alheio à sua vontade. As despesas que o credor
deve ressarcir são somente as necessárias, previstas no art. 96, § 3° do CC.

Mora de ambos os contratantes:

A mora simultânea de ambas as partes (nem o devedor comparece ao local para efetuar o pagamento, nem o
credor vai para recebê-lo) faz com que a situação permaneça como se nada tivesse ocorrido. Há o cancelamento
mútuo das moras. Ninguém pode exigir da outra parte perdas e danos.

Se as moras são sucessivas (primeiro o credor não quer receber e depois é o devedor que se rejeita em pagar, ou
vice-versa) os prejuízos de cada mora, contabilizados separadamente, serão de responsabilidade das respectivas
partes. Os danos de cada mora não se cancelam, porém nada impede que ocorra uma compensação convencional
das perdas e danos.

Purgação e cessação da mora:

Purgar ou emendar a mora é neutralizar seus efeitos. Ela só é possível se a prestação ainda for proveitosa ao
credor, pois se não for, haverá inadimplemento absoluto, não tendo o que se falar em mora. A purgação produz
efeitos futuros que neutraliza os produzidos, mas não os apaga.

Segundo o art. 400, "purga-se a mora" nas seguintes hipóteses:

I - "Por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da
oferta".

II - "Por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a
mesma data".

• As partes podem aceitar a oferta sem a incidência dos juros da mora, renunciando-os. Porém, este ato não
significa propriamente a purgação da mora.

Entende-se, hoje, que a purgação pode dar-se a qualquer momento da mora, desde que não tenha causado dano
à outra parte. O devedor em mora pode até consignar o pagamento, caso o credor não tenha extraído os efeitos
jurídicos de tal atraso.

• A cessação da mora é diferente da purgação. Nela, o efeito não depende daquele que agiu em mora, mais sim da
outra parte. Ela decorre da extinção da obrigação. A cessação produz efeitos pretéritos, pois afasta os já
produzidos.
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DA CLÁUSULA PENAL
• É uma obrigação acessória, na qual se estipula uma pena ou multa com o objetivo de evitar o inadimplemento da
obrigação principal.

• Representa reforço ao pacto obrigacional através da ameaça de uma sanção civil, caso a obrigação não seja
cumprida.

• Chama-se também de pena convencional ou multa contratual.

"Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou
se constitua em mora" (art. 408).

Natureza jurídica:

• É um pacto secundário e acessório, pois a sua existência depende da de uma obrigação jurídica. Aplica-se, logo,
o princípio de que o acessório segue a sorte do principal. Isto quer dizer que se a obrigação principal é inválida ou
nula, também será a cláusula penal. Contudo, a recíproca não é verdadeira. A invalidez da cláusula penal não
implica na da obrigação principal.

Funções da cláusula penal:

• A cláusula penal é meio de coerção para que o devedor cumpra a obrigação. É também meio de ressarcimento
dos danos causados pelo inadimplemento da obrigação. A cláusula penal constitui modo de cobrir os prejuízos
que dificilmente poderiam ser provados, bem como livrar-se de sua liquidação.

"Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo" (art. 416, caput).

Mostra porque a cláusula penal é utilizada. Sem ter o ônus de provar o prejuízo sofrido, o credor apenas
demonstra que houve o inadimplemento da obrigação. O devedor não pode eximir-se da pena alegando ser ela
excessiva, ou desproporcional com o dano causado, pois assim foi fixado o acordo.

"Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se
assim não foi convencionado. Se o tiver feito, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor
provar o prejuízo excedente" (art. 416, parágrafo único). O parágrafo único do art. 416 fala dos casos em que a
cláusula não é suficiente para cobrir todos os prejuízos. Nessas hipóteses, cabe ao credor provar o valor das
perdas para ser indenizado. Contudo, essa indenização não é imposta em conjunto com a cláusula penal. O valor
dessa segunda é descontado no da primeira, pois se busca apenas o ressarcimento dos danos, e não um
enriquecimento ilícito do credor.

Redução da cláusula penal:

"O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal" (art. 412). Caso haja
excesso, o juiz determinará a redução do valor, não chegando a declarar a ineficácia absoluta da cláusula.

"A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte,
ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio" (art. 413). Quando a prestação foi cumprida em parte, usa-se o princípio da equidade, reduzindo-se
proporcionalmente o valor. A redução do excesso não possui uma medição fixa. O juízo é de ponderação,
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observando-se fatores subjetivos, como a natureza e a finalidade do negócio, para se chegar ao valor final. Tal
disposição é de ordem pública, podendo a redução ser determinada de ofício pelo juiz.

Há diversas leis que estipulam o valor máximo da cláusula penal em situações específicas. Nesses casos, o juiz
observa os limites especiais fixados.

Espécies:

"A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução
completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora" (art. 409).

• A cláusula penal pode ser compensatória, quando estipulada na hipótese de inadimplemento da obrigação; ou
moratória, quando aplicada nos casos de mora do devedor.

• A cláusula penal compensatória geralmente possui valor elevado, pois representa a recompensa do grande
prejuízo que é o não cumprimento da prestação.

"Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta se converterá em
alternativa a benefício do credor" (art. 410).

• O dispositivo dá a oportunidade para o credor escolher entre pleitear a pena compensatória, exigir o
ressarcimento das perdas e danos ou exigir o cumprimento da prestação. Tanto a cláusula penal quanto o
ressarcimento das perdas e danos têm como objetivo impedir que o credor saia prejudicado com o
inadimplemento. Em qualquer uma das hipóteses, o credor tem seu patrimônio preservado. Por isso, só é
permitido ao credor escolher uma das soluções. A escolha de mais de uma representaria um enriquecimento
ilícito do credor.

• Em se tratando de cláusula moratória, "quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em
segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena
cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal” (art. 411). A mora pode ser tanto o atraso da
prestação, como o cumprimento de forma diversa da estipulada.

• Nos casos de cláusulas penais moratórias o valor da multa é geralmente pequeno, pois os prejuízos são referentes
a um pequeno atraso, não ao total inadimplemento. Por isso a aplicação da multa conjuntamente com a exigência
da prestação da obrigação não caracteriza enriquecimento ilícito do credor. É, na verdade, o modo para ele não
sair prejudicado dessa relação obrigacional.

• Sendo assim, uma mesma obrigação pode ter até 3 cláusulas penais diferentes (1 compensatória e 2 moratórias,
uma para o caso de atraso e outra para o caso de cumprimento de forma diversa).

• Quando não há certeza sobre qual é a hipótese estipulada no contrato, costuma-se observar o valor da cláusula
para relacioná-la à hipótese provavelmente correspondente.

Cláusula penal e pluralidade de devedores:

"Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só
poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota" (art.
414).

• Todos os devedores, mesmo não sendo culpados, arcam com o valor da multa, dividida na quota de cada um.
Caso contrário o credor sairia prejudicado pela infração cometida.
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Entretanto, após pagar o credor, "aos não-culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa
à aplicação da pena (art. 414, parágrafo único). Dessa forma, é somente o devedor culpado que arca com as
consequências de sua falta.

Se a obrigação for divisível, "só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringiu, e
proporcionalmente à sua parte na obrigação" (art. 415).

ARRAS OU SINAL
É a quantia ou coisa entregue por uma parte a outra simbolizando a confirmação do acordo entre as partes e, em
certos casos, assegurando o não prejuízo de uma das partes pelo direito de arrepender que a outra tem.

• Cabe apenas nos contratos bilaterais.

• É o pacto acessório, dependendo da existência de um principal. É impossível imaginar a existência das arras
isoladas.

• Têm caráter real, pois o simples acordo entre as partes não é suficiente para caracterizá-lo. É necessária a
entrega de quantia de dinheiro ou objeto.

Espécies:

• As arras são confirmatórias quando sua função é apenas confirmar o contrato pactuado. Nesses casos, "se a
parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for
de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o
equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários
de advogado" (art. 418).

• Caso a parte prejudicada não se contentar com o valor recebido, achando que não foi totalmente ressarcido,
pode "pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima", ou pode
ainda "exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo de indenização"
(art. 419).

• Percebe-se que as arras não têm nenhuma função específica quando confirmatória. É apenas uma quantia
estipulada inicialmente que ajudará no ressarcimento de eventual prejuízo.

• As arras são chamadas de penitenciais quando têm por função resguardar o direito de arrependimento das
partes. Pode a parte infratora decidir por liberar esse valor à outra ao invés do cumprimento da obrigação. O
objetivo não é ressarcir os prejuízos da parte afetada, mas sim representar uma pequena punição pelo
descumprimento da outra.

"Se nos contratos for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão
função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as
recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização complementar"
(art. 420).

• A devolução em dobro é imposta porque se a devolução fosse simples, estar-se-ia apenas restabelecendo o
status quo ante, sem nenhuma punição à parte que descumpriu com a obrigação. Como a função das arras
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penitenciais não é de ressarcir os prejuízos, não é necessário a prova do prejuízo real para que possam ser
exigidos.

A jurisprudência estabeleceu certas hipóteses nas quais a devolução das arras é apenas simples, e não dupla, são
elas:

a) Quando há acordo nesse sentido;

b) Quando a não efetivação do contrato decorre de caso fortuito ou força maior.

Restituição das arras em caso de cumprimento da obrigação:

"Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma das partes der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem
móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo
gênero da principal" (art. 417).

• Quando a obrigação se dá normalmente, sem o arrependimento de nenhuma das partes, as arras funcionam
como princípio do pagamento.

Há várias distinções entre cláusula penal e arras penitenciais.

• A cláusula penal é uma coerção para se evitar o inadimplemento, enquanto que as arras facilitam o
descumprimento da avença, pois as partes sabem qual será a consequência do inadimplemento: perda do valor
dado, ou sua restituição em dobro dependendo do caso.

• A cláusula penal pode ser reduzida pelo juiz quando em excesso, as arras não.

• A cláusula penal é exigível apenas no inadimplemento ou na mora, já as arras são pagas por antecipação.

• A cláusula penal existe apenas pela estipulação no instrumento, enquanto que as arras necessitam da entrega de
dinheiro ou objeto.

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