Você está na página 1de 40

DIREITO

OBRIGACIONAL E CONTRATUAL
UNIDADE I

Unidade: Joinville | Curso: Direito | Período: 3º Semestre | Professor: Fernando


Speck de Souza
POSIÇÃO DO DIREITO
DAS OBRIGAÇÕES E DO
DIREITO CONTRATUAL
No Código Civil Brasileiro
Posição do Direito das
Obrigações e do Direito
Contratual no Código
Civil de 1916

PARTE GERAL PARTE ESPECIAL


LIVRO I LIVRO I
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR DO DIREITO DE FAMÍLIA

LIVRO II LIVRO II
DOS BENS DO DIREITO DAS COISAS

LIVRO III LIVRO III


DOS FATOS JURÍDICOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

LIVRO IV
DO DIREITO DAS SUCESSÕES

DISPOSIÇÕES FINAIS
Posição do Direito das Obrigações e do Direito
Contratual no Código Civil de 2022
PARTE GERAL PARTE ESPECIAL
Livro I – Das pessoas Livro I – Do Direito das Obrigações
Livro II – Do Direito de Empresa
Livro II – Dos bens Livro III – Do Direito das Coisas
Livro IV – Do Direito de Família
Livro III – Dos fatos Livro V – Do Direito das Sucessões
jurídicos Livro Complementar – Das
disposições finais e transitórias
Posição do Direito das Obrigações e
do Direito Contratual no Código Civil

“O Direito das Obrigações deve ser estudado logo após a parte geral, precedendo, pois,
ao Direito das Coisas, ao Direito de Família e ao Direito das Sucessões. Conhecidos os
princípios fundamentais do Direito Privado, de aplicação comum às partes especiais, e
sabidos os conceitos gerais, impõe-se, de imediato, o estudo do Direito das Obrigações.
A principal razão dessa prioridade é de ordem lógica. O estudo de vários institutos dos
outros departamentos do Direito das Obrigações, tanto mais quanto ele encerra, em
sua parte geral, preceitos que transcendem sua órbita e se aplicam a outras seções do
Direito Privado. Natural, pois, que sejam apreendidos primeiro que quaisquer outros”
(GOMES, Orlando. Obrigações. 12 ed. atual. por Humberto Theodoro Júnior. Rio de
Janeiro: Forense, 1998. p. 4).
Posição do
TÍTULO I – DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES
Direito das TÍTULO II – DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
Obrigações e TÍTULO III – DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS
OBRIGAÇÕES
do Direito
TÍTULO IV – DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
Contratual no TÍTULO V – DOS CONTRATOS EM GERAL
Código Civil TÍTULO VI – DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATO
TÍTULO VII – DOS ATOS UNILATERAIS
TÍTULO VIII – DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
PARTE ESPECIAL TÍTULO IX – DA RESPONSABILIDADE CIVIL
LIVRO I TÍTULO X – DAS PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS
DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
CONCEITO DE
OBRIGAÇÃO
Distinções
(o.bri.ga.ção)
sf.
1. Ação ou resultado de obrigar; imposição; ENCARGO; DEVER: Tinha a obrigação de cuidar da
criança
O significado 2. Favor, benefício (mais usado no pl.): "E confessava as grandes obrigações que lhe devia"
(Latino Coelho)
3. Serviço, tarefa: Terminou logo sua obrigação
de obrigação 4. Jur. Escritura que obriga alguém a pagar dívida ou cumprir contrato
5. Econ. Título de dívida pública
6. Jur. M.q. debênture
na Língua 7. Bras. A família
8. Rel. Nos cultos afro-brasileiros cada um dos preceitos religiosos a serem cumpridos

Portuguesa [Pl.: -ções]


[F.: Do lat. obligatio]
Obrigação ao portador
1 Jur. Debênture.
Obrigação do Tesouro Nacional
1 Econ. Bras. Entre 1986 e 1989, quando foi extinta, nova denominação de Obrigação
Reajustável do Tesouro Nacional. [Sigla: O.T.N.]
Obrigação moral
1 Ét. Imposição interior que orienta o comportamento ou determinada atitude, baseada em
princípios éticos de respeito, dever, solidariedade etc.
Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional
1 Econ. Bras. Título da dívida pública brasileira entre 1964 e 1986 (quando passou a chamar-se
Obrigação do Tesouro Nacional, por sua vez extinta em 1989). [Constantemente reajustado em
função da desvalorização da moeda, serviu de índice para dívidas, contratos etc. Sigla: O.R.T.N.]
Conceito de obrigação no Direito Romano

Inst. 3, 13 pr.
Nunc transeamus ad obligationes. “Obrigação é um vínculo jurídico “A obrigação é o vínculo jurídico
obligatio est iuris vinculum, quo por meio do qual nós ficamos em razão do qual, de acordo com
necessitate adstringimur alicuius necessariamente adstritos a os nossos direitos pátrios,
solvendae rei, secundum nostrae prestar alguma coisa, segundo o compulsoriamente <(por
civitatis iura. direito da nossa cidade.” (Trad. necessidade jurídica)> nos
Eduardo C. Silveira Marchi, Dárcio sujeitamos a pagar alguma coisa.”
R. M. Rodrigues, Bernardo B. (MORAES, Bernardo Bissoto
Queiroz de Moraes e Hélcio M. F. Queiroz de. Institutas de
Madeira. In: MARCKY, Thomas. Justiniano: primeiros
Curso elementar de direito fundamentos de direito romano
romano. 9. ed. São Paulo: YK, justinianeu. São Paulo: YK, 2021.
2019. p. 141). p. 229).
Código Civil
português

Artigo 397º – Noção. Obrigação é o vínculo jurídico por


virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação.
Código Civil y
Comercial de
la Nación

Art. 724. – Definición. La obligación es una relación


jurídica en virtud de la cual al acreedor tiene el
derecho a exigir del deudor una prestación destinada a
satisfacer un interés lícito y, ante el incumplimiento, a
obtener forzadamente la satisfacción de dicho interés.
Conceito de obrigações
(Caio Mário da Silva Pereira)

“Também nós, procurando um meio sucinto,


definimo-la, sem pretensão de originalidade,
sem talvez elegância do estilo e sem ficarmos a
cavaleiro das críticas: obrigação é o vínculo
jurídico em virtude do qual uma pessoa pode
exigir de outra prestação economicamente
apreciável” (PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil: teoria geral das
obrigações. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999. v. 2. p. 5).
DIREITOS
OBRIGACIONAIS E
DIREITOS REAIS
Distinções
Direitos obrigacionais e
direitos reais: distinções

Direitos da
A própria pessoa
personalidade

Os direitos
exercem-se sobre
Direitos reais
Um bem jurídico
Direitos
fora da pessoa (de
patrimoniais
valor econômico)
Direitos
obrigacionais

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. v. 2, p. 22.
Direitos obrigacionais e direitos reais:
distinções

Quanto ao Quanto ao Quanto ao Quanto à Quanto à Quanto à ação


objeto exercício sujeito duração formação
Direitos reais: Direitos reais: Direitos reais: Direitos reais: Direitos reais: Direitos reais:
incidem sobre a diretamente sujeito passivo são perpétuos — são criados por pode ser oposta
coisa sobre a coisa indeterminado não se lei (numerus contra qualquer
Direitos Direitos Direitos extinguem pelo clausus) um que detenha
obrigacionais: obrigacionais: há obrigacionais: não uso. Direitos a coisa
incidem sobre a um sujeito passivo Exceções: obrigacionais: Direitos
prestação intermediário (o determinado ou usucapião e são ilimitados obrigacionais:
devedor) determinável desapropriação somente contra
Direitos quem figura na
obrigacionais: relação jurídica.
transitórios.
Obrigação propter rem:
hipótese de ilegitimidade do
promitente vendedor
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. CONDOMÍNIO. DESPESAS
COMUNS. AÇÃO DE COBRANÇA. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA NÃO LEVADO A REGISTRO. LEGITIMIDADE PASSIVA.
PROMITENTE VENDEDOR OU PROMISSÁRIO COMPRADOR. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. IMISSÃO NA POSSE. CIÊNCIA
INEQUÍVOCA.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firmam-se as seguintes teses:
a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do compromisso de compra e
venda, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela
ciência inequívoca do condomínio acerca da transação.
b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas de condomínio pode recair
tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso concreto.
c) Se ficar comprovado: (i) que o promissário comprador se imitira na posse; e (ii) o condomínio teve ciência inequívoca da
transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para responder por despesas condominiais relativas a período
em que a posse foi exercida pelo promissário comprador.
2. No caso concreto, recurso especial não provido. (STJ, REsp 1.345.331/RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, j.
8/4/2015, DJe 20/4/2015).
Obrigação propter rem:
legitimidade do proprietário no
cumprimento de sentença
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. [...] DÉBITOS
CONDOMINIAIS. PROPRIETÁRIA DO BEM QUE NÃO FIGUROU COMO PARTE NA AÇÃO DE COBRANÇA ORIGINÁRIA. LEGITIMIDADE
PASSIVA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ACORDO FEITO PELO MUTUÁRIO COM O CONDOMÍNIO. OBRIGAÇÃO PROPTER REM.
1. [...] Julgamento: CPC/73. 2. Ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, em virtude da inadimplência no
pagamento de cotas condominiais. 3. O propósito recursal, a par de analisar acerca da ocorrência de negativa de prestação
jurisdicional, é definir se a proprietária do imóvel gerador dos débitos condominiais tem legitimidade para figurar no polo passivo
do cumprimento de sentença, ainda que alegue figurar apenas como promitente vendedora do imóvel e ainda que o
mutuário/ocupante do imóvel tenha firmado acordo diretamente com o Condomínio, responsabilizando-se pelo pagamento da
dívida. 4. [...]. 5. Em se tratando a dívida de condomínio de obrigação propter rem e partindo-se da premissa de que o próprio
imóvel gerador das despesas constitui garantia ao pagamento da dívida, o proprietário do imóvel pode figurar no polo passivo do
cumprimento de sentença, ainda que não tenha sido parte na ação de cobrança originária, ajuizada, em verdade, em face dos
promitentes compradores do imóvel. 6. Ausência de colisão com o que decidido pela 2ª Seção no bojo do REsp 1.345.331/RS,
julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, uma vez que a questão que se incumbiu decidir nos referidos autos foi acerca da
responsabilidade pelo pagamento da dívida, e não propriamente sobre a legitimidade para figurar no polo passivo da ação. 7. O
acordo firmado entre o mutuário e o Condomínio - não cumprido em sua integralidade -, não acarreta a alteração da natureza da
dívida, que mantém-se propter rem. 8. Recurso especial conhecido e não provido. (STJ, REsp 1.696.704/PR, rel. Min. Nancy
Andrighi, Terceira Turma, j. 8/9/2020, DJe 16/9/2020).
Obrigação propter rem: legitimidade do
proprietário no cumprimento de sentença

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


TAXAS CONDOMINIAIS. COBRANÇA. PROMITENTE-VENDEDOR. RETOMADA DO
IMÓVEL. RESPONSABILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
1. “Em se tratando a dívida de condomínio de obrigação propter rem e partindo-se da
premissa de que o próprio imóvel gerador das despesas constitui garantia ao
pagamento da dívida, o proprietário do imóvel pode figurar no polo passivo do
cumprimento de sentença, ainda que não tenha sido parte na ação de cobrança
originária, ajuizada, em verdade, em face dos promitentes compradores do imóvel”
(REsp 1696704/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 16/09/2020).
2. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ, AgInt no AREsp 1.691.909/SP, rel.
Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, j. 16/8/2021, DJe 19/8/2021).
Obrigação propter rem:
dívida de honorários não se
transfere para o adquirente do bem
RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚM. 211/STJ. AÇÃO DE COBRANÇA DE COTAS CONDOMINIAIS.
CONDENAÇÃO. ALIENAÇÃO DO IMÓVEL A TERCEIRO. PAGAMENTO DAS COTAS CONDOMINIAIS, MULTAS E JUROS
MORATÓRIOS. OBRIGAÇÃO AMBULATÓRIA (PROPTER REM). VERBAS DE SUCUMBÊNCIA. HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO ART.
1.345 DO CC/02. HONORÁRIOS DEVIDOS PELO ALIENANTE. DIREITO AUTÔNOMO DO ADVOGADO DO CONDOMÍNIO.
OBRIGAÇÃO QUE NÃO SE TRANSFERE AO ADQUIRENTE DO BEM. ALIENAÇÃO JUDICIAL DO IMÓVEL CANCELADA.
JULGAMENTO: CPC/73. 1. [...]. 2. O propósito recursal é dizer se as verbas de sucumbência, decorrentes de condenação em
ação de cobrança de cotas condominiais, possuem natureza ambulatória (propter rem), bem como se está configurado, na
espécie, o excesso de penhora. 3. O art. 1.345 do CC/02 estabelece que o adquirente de unidade responde pelos débitos
do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios. 4. A obrigação de pagar as verbas de
sucumbência, ainda que sejam elas decorrentes de sentença proferida em ação de cobrança de cotas condominiais, não
pode ser qualificada como ambulatória (propter rem), seja porque tal prestação não se enquadra dentre as hipóteses
previstas no art. 1.345 do CC/02 para o pagamento de despesas indispensáveis e inadiáveis do condomínio, seja porque os
honorários constituem direito autônomo do advogado, não configurando débito do alienante em relação ao condomínio,
senão débito daquele em relação ao advogado deste. 6. Hipótese em que não se justifica a alienação judicial do imóvel do
recorrente-adquirente para o pagamento das verbas de sucumbência devidas pelo recorrido-alienante. 7. Recurso especial
conhecido e provido. (STJ, REsp 1.730.651/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 9/4/2019, DJe 12/4/2019).
Obrigação propter rem:
água, coleta de esgoto e energia
elétrica

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE


FORNECIMENTO DE ÁGUA E COLETA DE ESGOTO. DÉBITO DE LOCATÁRIO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO
PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.
1. É firme o entendimento no STJ de que o dever de pagar pelo serviço prestado pela agravante - fornecimento
de água - é destituído da natureza jurídica de obrigação propter rem, pois não se vincula à titularidade do bem,
mas ao sujeito que manifesta vontade de receber os serviços. Precedentes: AgRg no AREsp 265966/SP, Relator
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 10/04/2013; AgRg no AREsp 2.9879/RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, DJe 22.05.2012; AgRg no AREsp 141404 / SP, Relator Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 02/05/2012; REsp 1311418/SP, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
15/05/2012.
2. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no REsp 1.320.974/SP, rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, j. 12/8/2014, DJe 18/8/2014).
Obrigação propter rem:
locatário e direitos condominiais do
proprietário do imóvel

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONDOMÍNIO. AÇÃO DE PROCEDIMENTO COMUM AJUIZADA POR
LOCATÁRIO. PRETENSÃO VINCULADA À RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE O PROPRIETÁRIO LOCADOR E O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. ILEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA NA ORIGEM. [...] RECURSO DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 18 do
CPC/2015, correspondente ao art. 6º do CPC/1973, “ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico”. Não existe norma que confira ao locatário legitimidade para atuar em
Juízo na defesa dos interesses do condômino locador. 2. O vínculo obrigacional estabelecido no contrato de locação dá-
se entre o inquilino e o locador. 3. A convenção realizada entre os particulares transfere a posse direta do imóvel e,
eventualmente, o dever de arcar com obrigações propter rem, de titularidade do proprietário, mas não sub-roga o
inquilino em todos os direitos do condômino perante o condomínio. 4. No caso específico dos autos, a pretensão
autoral está embasada em ocorrências inerentes à relação jurídica estabelecida entre o proprietário e o condomínio. 5.
O locatário não possui legitimidade para ajuizar ação contra o condomínio, no intuito de questionar o descumprimento
de regra estatutária, a ausência de prestação de contas e a administração de estabelecimento comercial, cujo
reconhecimento resultaria na necessidade de adequações de cota condominial e recomposição de prejuízos financeiros.
[...] (STJ, REsp 1.630.199/RS, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, j. 5/8/2021, DJe 10/8/2021).
OBRIGAÇÃO CIVIL
VS.
OBRIGAÇÃO NATURAL
Obrigação civil e
obrigação natural

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não


obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a
quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi
ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou
interdito.
Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para
solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível.
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta
não obrigam a pagamento; mas não se
Dívida de jogo pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou, salvo se foi
ganha por dolo, ou se o perdente é menor
ou interdito.
§1º Estende-se esta disposição a qualquer
contrato que encubra ou envolva
reconhecimento, novação ou fiança de
dívida de jogo; mas a nulidade resultante
não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.
§2º O preceito contido neste artigo tem
aplicação, ainda que se trate de jogo não
proibido, só se excetuando os jogos e
apostas legalmente permitidos.
§3º Excetuam-se, igualmente, os prêmios
oferecidos ou prometidos para o vencedor
em competição de natureza esportiva,
intelectual ou artística, desde que os
interessados se submetam às prescrições
legais e regulamentares.
Jogo e aposta Jogo proibido
X
Jogo tolerado
X
Jogo legalmente permitido
Dívida de jogo

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DÍVIDA DE JOGO. CASA DE BINGOS. FUNCIONAMENTO COM AMPARO EM
LIMINARES. PAGAMENTO MEDIANTE CHEQUE. DISTINÇÃO ENTRE JOGO PROIBIDO, LEGALMENTE
PERMITIDO E TOLERADO. EXIGIBILIDADE APENAS NO CASO DE JOGO LEGALMENTE PERMITIDO,
CONFORME PREVISTO NO ART. 815, § 2º DO CÓDIGO CIVIL. 1. Controvérsia acerca da exigibilidade de
vultosa dívida de jogo contraída em Casa de Bingo mediante a emissão de cheques por pessoa
diagnosticada com estado patológico de jogadora compulsiva. 2. Incidência do óbice da Súmula
284/STF no que tange à alegação de abstração da causa do título de crédito, tendo em vista a ausência
de indicação do dispositivo de lei federal violado ou objeto de divergência jurisprudencial. 3. "As
dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento" (art. 814, caput), sendo que "o preceito
contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos
e apostas legalmente permitidos." (art. 814, § 2º, do Código Civil). 4. Distinção entre jogo proibido,
tolerado e legalmente permitido, somente sendo exigíveis as dívidas de jogo nessa última hipótese.
Doutrina sobre o tema. 5. Caráter precário da liminar que autorizou o funcionamento da casa de
bingos, não se equiparando aos jogos legalmente autorizados. 6. Inexigibilidade da obrigação, na
espécie, tratando-se de mera obrigação natural. 7. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (STJ, REsp
1.406.487/SP, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. 4/8/2015, DJe 13/8/2015).
Jogo e aposta

RECURSO ESPECIAL - DÍVIDAS DE JOGO - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO FIRMADO ENTRE APOSTADOR E BANCA (JOCKEY
CLUB DE SÃO PAULO) - FORMAÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - NULIDADE DA EXECUÇÃO - NÃO-OCORRÊNCIA
- APOSTAS EM CORRIDAS DE CAVALO - MODALIDADE DE JOGO LÍCITO, REGULADO POR LEIS ESPECÍFICAS -
INAPLICABILIDADE, NA ESPÉCIE, DAS DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL - APOSTAS EM CAVALOS REALIZADAS POR MEIO DE
CONTATO TELEFÔNICO ENTRE APOSTADOR E BANCA DE APOSTAS - NÃO VEDAÇÃO DE TAL CONDUTA PELOS DIPLOMAS
LEGAIS QUE REGULAM ESSA MODALIDADE DE JOGO - VALIDADE DA EXECUÇÃO - PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA DA VONTADE - AFERIÇÃO, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS, DA REGULARIDADE NO PROCEDIMENTO DAS
APOSTAS - REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO - INVIABILIDADE DESTA INSTÂNCIA RECURSAL - ÓBICE DO
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - A aposta em corrida de cavalos é atividade
expressamente regulamentada pela Lei n. 7.291/84 e pelo Decreto n. 96.993/88, não incidindo, pois, as vedações contidas
no Código Civil a esse tipo de jogo; II - Embora os referidos diplomas legais prevejam a realização de apostas em dinheiro
e nas dependências do hipódromo, em nenhum momento eles proíbem a realização delas por telefone e mediante o
empréstimo de dinheiro da banca exploradora ao apostador; III - Entender pela abusividade de tal prática levaria ao
enriquecimento ilícito do apostador e feriria ao princípio da autonomia da vontade, que permeia as relações de Direito
Privado, onde, ao contrário do Direito Público, é possível fazer tudo aquilo que a lei não proíbe; IV - In casu, as instâncias
ordinárias manifestaram-se no sentido da regularidade do procedimento das apostas promovidas pelo recorrente, sendo
que o revolvimento de tais premissas implicaria o reexame do conjunto fático-probatório, o que é inviável na presente via
recursal, em face do óbice do Enunciado n. 7 da Súmula/STJ; V - Recurso especial improvido. (STJ, REsp 1.070.316/SP, rel.
Min. Nancy Andrighi, rel. p/ acórdão Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, j. 9/3/2010, DJe 3/8/2010).
Jogo e aposta

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. COBRANÇA. DÍVIDA DE JOGO. CASSINO NORTE-AMERICANO.
POSSIBILIDADE. ART. 9º DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. EQUIVALÊNCIA. DIREITO NACIONAL E
ESTRANGEIRO. OFENSA À ORDEM PÚBLICA. INEXISTÊNCIA. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. VEDAÇÃO. TRIBUNAL ESTADUAL.
ÓRGÃO INTERNO. INCOMPETÊNCIA. NORMAS ESTADUAIS. NÃO CONHECIMENTO. PRESCRIÇÃO. SÚMULA Nº 83/STJ.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. 1. Na presente demanda está sendo cobrada obrigação constituída integralmente nos
Estados Unidos da América, mais especificamente no Estado de Nevada, razão pela qual deve ser aplicada, no que concerne ao
direito material, a lei estrangeira (art. 9º, caput, LINDB). 2. Ordem pública é um conceito mutável, atrelado à moral e a ordem
jurídica vigente em dado momento histórico. Não se trata de uma noção estanque, mas de um critério que deve ser revisto
conforme a evolução da sociedade. 3. Na hipótese, não há vedação para a cobrança de dívida de jogo, pois existe equivalência
entre a lei estrangeira e o direito brasileiro, já que ambos permitem determinados jogos de azar, supervisionados pelo Estado,
sendo quanto a esses, admitida a cobrança. 4. O Código Civil atual veda expressamente o enriquecimento sem causa. Assim, a
matéria relativa à ofensa da ordem pública deve ser revisitada sob as luzes dos princípios que regem as obrigações na ordem
contemporânea, isto é, a boa-fé e a vedação do enriquecimento sem causa. 5. Aquele que visita país estrangeiro, usufrui de sua
hospitalidade e contrai livremente obrigações lícitas, não pode retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. A lesão
à boa-fé de terceiro é patente, bem como o enriquecimento sem causa, motivos esses capazes de contrariar a ordem pública e os
bons costumes. 6. A vedação contida no artigo 50 da Lei de Contravenções Penais diz respeito à exploração de jogos não
legalizados, o que não é o caso dos autos, em que o jogo é permitido pela legislação estrangeira. [...]. 11. Recurso conhecido em
parte e, nessa parte, parcialmente provido. (STJ, REsp 1.628.974/SP, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, j.
13/6/2017, DJe 25/8/2017).
FONTES DAS
OBRIGAÇÕES
Fontes do Direito

• Lei
• Analogia
• Costumes
• Princípios gerais do direito
• Jurisprudência
• Doutrina
Fontes das obrigações

Fontes do
Direito Fontes das
obrigações
Fontes no
Direito
Romano
As classificações de Gaio
1ª) contrato e delito

Gai. 3, 88
Nunc transeamus ad Passemos agora às
obligationes, quarum obrigações, cuja suma
summa diuisio in duas divisão se reparte em
species diducitur: omnis duas categorias: pois
enim obligatio uel ex toda obrigação nasce ou
contractu nascitur uel ex de contrato ou de delito
delicto. (Trad. Dárcio R. M. Rodrigues).
As classificações de Gaio
2ª) contrato, delito e outras causas

D. 44, 7, 1 pr. (GAIUS libro D. 44, 7, 1 pr. (GAYO;


secundo aureorum) Diario, libro II)
Obligationes aut ex Las obligaciones nacen ó
contractu nascuntur aut ex de un contrato, ó de un
maleficio aut proprio delito, ó por cierto derecho
quodam iure ex variis propio, según las varias
causarum figuris. especies de causas. (Trad.
García Del Corral, Cuerpo
del derecho civil romano, t.
3, p. 505).
As classificações de Gaio
3ª) - contrato
- delito
- quase-contrato
- quase-delito

Inst. 3, 13, 2
Sequens divisio in quattuor A divisão seguinte distribui <as obrigações> em
species deducitur: aut enim ex quatro espécies. De fato, <elas> são <oriundas> ou
contractu sunt aut quasi ex de um contrato ou de um quase-contrato ou de um
contractu aut ex maleficio aut delito ou de um quase-delito. De início, é necessário
quasi ex maleficio. prius est, ut expormos aquelas que são <oriundas> de um
de his quae ex contractu sunt contrato. Delas, há igualmente quatro espécies: de
dispiciamus. harum aeque fato, ou <as obrigações contratuais> são contraídas
quattuor species sunt : aut enim <pela entrega> de uma coisa ou <pelo emprego> de
re contrahuntur aut verbis aut palavras <solenes> ou <pelo emprego de fórmulas>
litteris aut consensu. de quibus escritas ou pelo consenso. Tratemos de cada uma
singulis dispiciamus. delas. (Trad. Bernardo Moraes).
Code Napoléon

Ancien art. 1370 (Abrogé par Ord. no 2016-131 du 10 févr. 2016, à


compter du 1er oct. 2016) Certains engagements se forment sans
qu'il intervienne aucune convention, ni de la part de celui qui
s'oblige, ni de la part de celui envers lequel il est obligé.
Les uns résultent de l'autorité seule de la loi; les autres naissent
d'un fait personnel à celui qui se trouve obligé.
Les premiers sont les engagements formés involontairement, tels
que ceux entre propriétaires voisins, ou ceux des tuteurs et des
autres administrateurs qui ne peuvent refuser la fonction qui leur
est déférée.
Les engagements qui naissent d'un fait personnel à celui qui se
trouve obligé, résultent ou des quasi-contrats, ou des délits ou
quasi-délits; ils font la matière du présent titre.
Code Napoléon

Art. 1100 (Ord. n. 2016-131 du 10 févr. 2016,


art. 2, en vigueur le 1er oct. 2016) Les
obligations naissent d'actes juridiques, de faits
juridiques ou de l'autorité seule de la loi.
Elles peuvent naître de l'exécution volontaire
ou de la promesse d'exécution d'un devoir de
conscience envers autrui. — Dispositions
transitoires, V. Ord. no 2016-131 du 10 févr.
2016, art. 9, ss. art. 1386-1.
Código Civil italiano

Art. 1173. Fonti delle


obbligazioni. — Le obbligazioni
derivano da contratto (1321-
1469), da fatto illecito (2043-
2059), o da ogni altro atto (1987-
1991) o fatto (433, 2028-2042)
idoneo a produrle in conformità
dell’ordinamento giuridico.
As fontes das obrigações contemporâneas

a) contrato;
b) atos unilaterais;
c) delitos (atos ilícitos);
d) atos meramente lícitos.
OBRIGADO!

Fim da Unidade I

Você também pode gostar