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“A questão formulada pela Estatal Consulente está relacionada com o sigilo das propostas em pregão
eletrônico. Noticia que, após a fase de lances, solicitou ao licitante classificado em primeiro lugar, o
envio da proposta readequada ao lance vencedor e respectiva planilha de custos e que, o licitante
enviou referidos documentos com identificação da empresa. Questiona sobre a necessidade de
desclassificação dessa proposta, pelo fato de a Estatal ainda não ter divulgado aos demais licitantes o
nome do primeiro colocado”.
ORIENTAÇÃO ZÊNITE
De acordo com o § 3º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, aqui citado referencialmente, “a licitação não será
sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
conteúdo das propostas, até a respectiva abertura.” (grifamos)
Assim, assegura-se o sigilo das propostas até o momento adequado para sua abertura, com vistas a
“evitar o comprometimento da moralidade e isonomia do certame”, pois o “conhecimento do
conteúdo de uma proposta poderia conduzir a benefício indevido em favor de terceiro”.1
Caso fosse possível que um determinado particular, interessado na licitação pública, conhecesse o
teor das propostas já apresentadas, o princípio da competitividade e da isonomia restariam violados.
Isso porque este particular seria indevidamente beneficiado, já que poderia planejar a sua proposta a
partir das outras, de forma a deixá-la mais vantajosa, na exata medida para vencer as propostas dos
demais concorrentes.
No pregão, o conhecimento do valor das propostas antecipado por um dos licitantes poderia
prejudicar a efetiva competitividade, na medida em que ajustes e conluios poderiam se formar,
prejudicando assim a efetividade da fase de lances.
Interessante registrar o entendimento de Renato Geraldo Mendes, o qual, ainda que esteja a falar em
licitação presencial, com apresentação de envelopes, se mostra útil ao apontar o prejuízo que se
pretende evitar com o conhecimento das propostas antes do momento adequado:
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que ele (envelope) seja aberto em sessão pública, o seu conteúdo não pode ser
defasado. Com isso, o legislador quer assegurar, por um lado, a igualdade entre
todos os competidores e, por outro, a necessária competitividade. Se um dos
licitantes tiver acesso ao conteúdo da proposta de seu competidor, especialmente
o preço, a competitividade estará prejudicada. O objetivo é impedir que um
licitante possa conhecer os termos da proposta de seu competidor antes de
apresentar a sua. Assim, é isso que configura a violação do direito líquido e certo.
Se um licitante obtém acesso ao conteúdo da proposta de seu competidor, mas
não pode mais se beneficiar ou se valer da informação obtida para proveito
próprio, não haverá violação de direito. Isso acontecerá nos casos em que ele
apresentou sua proposta e não pode mais alterar o seu preço ou outra condição
a ser considerada para fins de julgamento. Portanto, quando tal fato ocorrer, será
incabível a invocação da quebra de sigilo do conteúdo da proposta para o fim
específico de obter decisão favorável em mandado de segurança. E será incabível
porque, mesmo havendo a revelação do conteúdo da proposta, não existiu a
respectiva quebra do sigilo. Há, portanto, uma diferença entre violação do sigilo e
revelação do conteúdo da proposta. A violação do sigilo pressupõe a revelação do
conteúdo da proposta; mas isso não implica, necessariamente, que houve
violação do tratamento isonômico. Somente se deve reconhecer a violação de
sigilo se a informação obtida atingir o tratamento isonômico, sob o ponto de vista
material. Não é possível reconhecer ilegalidade se não houver prejuízo concreto
(material). A ideia de sigilo protege a igualdade e a competitividade, ou seja, o
sigilo existe para atender a esse fim. Se a igualdade e a competição são
preservadas mesmo com o conteúdo da proposta revelado, não haverá
ilegalidade. Então, entende-se que não cabe ao juiz reconhecer a violação de
direito líquido e certo em caso de impetração de mandado de segurança. A
diferença entre violação do sigilo da proposta e revelação do seu conteúdo é sutil,
mas fundamental para determinar a fronteira entre ilegalidade e legalidade.”2
(Destacamos.)
Essa racionalidade é defendida por Marçal Justen Filho e Joel de Menezes NIebuhr quando tratam da
finalidade em torno da garantia de sigilo em relação ao autor dos lances no âmbito de pregões
eletrônicos:
Como se vê, o dano material da quebra do sigilo do conteúdo da proposta ou da sua autoria se efetiva
nos casos em que há a possibilidade de os licitantes alterarem suas próprias ofertas diante do
conhecimento do teor da proposta divulgada. E isso, em sede de pregão, dificilmente seria verificado
após a fase de abertura da sessão, posto que, a partir de tal momento, não podem mais os licitantes
substituírem suas propostas.4
Inclusive, isso resta bastante claro do teor do § 1º do art. 26 do Decreto nº 10.024/19, aqui citado
referencialmente:
(...)
A partir das disposições acima infere-se que a própria normatização do pregão eletrônico em âmbito
federal, aqui mencionada como referência, possibilita a identificação do licitante melhor classificado
após o encerramento do envio dos lances.
Logo, se no caso concreto, a proposta do licitante vencedor somente foi de conhecimento dos demais
licitantes após o esgotamento da fase de lances, no momento do envio de proposta e planilha
readequadas, pode-se afirmar não ter havido qualquer prejuízo à isonomia e competitividade que a
regra do sigilo impõe.
(...)
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(...)
(...)
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CONCLUSÕES OBJETIVAS:
Do exposto conclui-se:
Tendo em vista que o conhecimento da proposta do licitante classificado em primeiro lugar, pelo
pregoeiro e sua equipe de apoio e até mesmo pelos demais licitantes, somente se deu após o
encerramento da fase de lances, não trazendo qualquer prejuízo à competitividade, já que a fase
competitiva encontra-se concluída, a situação noticiada não representa ofensa ao dever de sigilo da
proposta. Com isso, não há ilegalidade ou prejuízo para o regular prosseguimento da licitação no caso
descrito, e eventual desclassificação do licitante poderia caracterizar excesso de formalismo.
Salvo melhor juízo, essa é a orientação da Zênite, de caráter opinativo e orientativo, elaborada de
acordo com os subsídios fornecidos pela Consulente.
NOTAS E REFERÊNCIAS
1JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São Paulo:
Dialética, 2012, p. 98.
2Zênite Fácil. Disponível em: http://www.zenitefacil.com.br. Categoria Anotações, Lei nº 8.666/93, nota
ao art. 3º, Acesso em: 09 mai. 2023.
3
Zênite Fácil. Disponível em: http://www.zenitefacil.com.br. Categoria Anotações, Lei nº 8.666/93, nota
ao art. 10, Acesso em: 09 mai. 2023.
4
Acerca do ponto, recomenda-se a leitura do texto da lavra de Renato Geraldo Mendes publicado na
Revista Zênite - Informativo de Licitações e Contratos (ILC) nº 110, abr/2003, p. 317, sob o título “O
conteúdo Jurídico do Princípio do Sigilo das Propostas.”
Fonte:
https://www.zenitefacil.com.br/pesquisaDocumento?task=GET_DOCUMENTO&idDocumento=4EE876E3-48CD-481F-BB75-579086E88555 5/5