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CARÍSSIMO SENHOR PREGOEIRO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE

SANTA BÁRBARA

PROCESSO:
PREGÃO ELETRÔNICO: 008/2023;

A empresa AR RP CERTIFICAÇÃO DIGITAL EIRELI, inscrita no CNPJ nº


21.308.480/0001-22, por intermédio do seu representante legal Sr. ELDO DA CRUZ
BARROS, portador do RG nº 3441219 SSP-GO e do CPF nº 838.650.631-87, e-mail
institucional: licitacoes@rpcd.com.br, telefones: (11) 3504-8750, veem respeitosamente a
presença de Vossa Senhoria, apresentar as razões das quais levaram à interposição do

CONTRARRAZÕES AO RECURSO INTERPOSTO

pela empresa FARTURE INFORMATICA SOLUCOES EM TECNOLOGIA LTDA, já


devidamente qualificada nos autos, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

Nestes termos, pede-se deferimento.

Atenciosamente,

ELDO DA CRUZ BARROS


Procurador
Colendo Departamento/Comissão de Licitações,
Nobres Julgadores,

I- BREVE RELATO DOS FATOS

Preliminarmente insta apontar que se encontrava previsto a abertura do procedimento


aquisitivo pela Administração – Pregão Eletrônico N° 008-2023, para o dia 22 de março do
ano corrente, pelo qual visa o registro de preços para eventual contratação de emissão de
emissão e renovação de certificados digitais, voltado aos servidores da Prefeitura Municipal
de Santa Bárbara, estado de Minas Gerais, douto órgão licitante, ante aos parâmetros pré-
estabelecidos em linhas editalícias.

Logo, uma vez apontadas as questões iniciais, que não poderiam ser olvidadas ao
tema, ao normal andamento do feito, fora aberta a sessão de licitação sagrando-se vencedora
do item 04, qual seja, serviço de emissão, renovação e validação de certificado digital A3, e-
CPF, em nuvem, com validade de 03 (três) anos, a empresa Contrarrazoante, da qual atendera
todas as condições afixadas no instrumento convocatório para tanto, e, sendo, portanto,
declarada vencedora.

Todavia ocorre que, após o encerramento dos lances fora impetrado, pelo Recorrente,
intenção recursal quanto a exequibilidade dos preços ali avençados, vindo em bravar-se pelo
não atendimento do feito ante ao montante aferido para o item, todavia, esquece-se que o
próprio pregoeiro reconhecera sua viabilidade em adjudicar o certame.

Outro fato determinante, paira-se na tendenciosidade da mesma em questionar a


veracidade das informações ali afixadas, mesmo sendo empresa pela qual comercializa o objeto
licitado que é, por contar com ciência das peculiaridades que envolvem este produto o que
poderá, por consequência, relativizar o seu preço. Além de que, seu próprio recurso em
fundamento normativo utilizado, e, mesclado as condições previstas no instrumento
convocatório, reconhecem em conjunto que, nos casos de dúvidas quanto aos valores aferidos
pelas licitantes não terá a desclassificação sumária da licitante e, sim a abertura de diligência
para comprovação das condições de manutenção dos preços, pois esta não se incide em uma
presunção absoluta de inexequibilidade da proposta.
Vejamos então o quão contradita se incluem as indagações recursais (em citação
literal de seus trechos), utiliza-se do seguinte fundamento normativa para pedir a
desclassificação da parte:

“Art. 59. Serão desclassificadas as propostas que: … III –


apresentarem preços inexequíveis ou permanecerem acima do
orçamento estimado para a contratação; … § 4º No caso de obras e
serviços de engenharia, serão consideradas inexequíveis as propostas
cujos valores forem inferiores a 75% (setenta e cinco por cento) do
valor orçado pela Administração. ”

Isto posto, a par de fomentar ao debate, nem mesmo adentraremos na questão que a
lei trouxe o cálculo aritmético para as licitações de obras e serviços de engenharia a qual não
haveria razão para aplicação strito senso, apenas, em tese por analogia, visto que a natureza do
mesmo não coaduna com a do processo em apreço. Superada essa questão, continuou o
recorrente em seus argumentos visando demonstrar a hipotética inexequibilidade dos preços
avençados mediante o uso de uma tabela com os valores de redução dos preços de todos os
itens do processo de compras em tela, a qual reproduzimos a linha a que se refere o item 04.

Lote Empresa Vencedora Valor Valor Percentual


Estimado Ofertado relativo ao
valor
estimado
04 AR RP CERTIFICACAO DIGITAL EIRELI R$155,52 R$77,00 49,51%

Ora, através de simples análise dos dados trazidos pelo Recorrente podemos concluir
que o percentual de redução encontra-se em patamares longínquos daqueles aos quais,
enfatizamos – para obras e serviços de engenharia – a lei estabelece como parâmetro analítico
relativo para suspeita de inexequibilidade, e ressaltamos o termo “relativo” porque tal
presunção não possui caráter absoluto, cabendo sempre a comprovação em sentido contrário
por parte da licitante a qual recomenda-se que o pregoeiro solicite diligência para tanto.
Restando evidente que, pela própria linha de raciocínio da Recorrente (valores forem
inferiores a 75% (setenta e cinco por cento) do valor orçado pela Administração), o
percentual de 49,51% paira sobre a égide de exequibilidade, demonstrando que a
Administração foi exitosa em seu processo, prestigiando a competividade e obtendo por essa
razão a melhor proposta para a Administração Pública.

No mesmo sentido, traz a norma contida no artigo 59 da lei 14.133: “Art. 59. Serão
desclassificadas as propostas que: (...)IV – não tiverem sua exequibilidade demonstrada,
quando exigido pela Administração. ”. Outrossim, a súmula 262 do TCU (Tribunal de Contas
da União), editada ao tempo da Lei 8.666, que reflete o mesmo entendimento, preconiza: “O
critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 8.666/93 conduz a
uma presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à
licitante a oportunidade de demonstrar a exequibilidade da sua proposta. ”
Isto posto, vamos ao pedido da recorrente: “requer que se digne Vossa Senhoria em
JULGAR TOTALMENTE PROCEDENTE o Recurso aqui apresentado, por todos os
argumentos e fatos supra demonstrado, não pairando nenhuma dúvida a respeito, dando
prosseguimento ao certame licitatório, uma vez que todas a propostas devem ser
desclassificadas. ”

Isto é, os próprios fundamentos apresentados refutam o pedido recursal, logo é


eminente, verificar-se a distorção por completo do fato assentado alhures no recurso
apresentado, ao caráter de umas das possibilidades mais recorrentes tidas nos procedimentos
licitatórios, isto é, o uso de ferramenta de exclusão ao concorrente, à inteligência do que
verbera Adilson de Abreu Dallari, in “Aspectos Jurídicos da Licitação”, ed. Saraiva, pág. 88:
“[...] claro que para um participante interessa excluir outro”.

Ora prezado pregoeiro evidente se tornara o desencontro a veridicidade e validade,


tanto do evento em testilha - recurso, quanto em alegar-se inexequibilidade direta dos montante
avençados, pois esta poderia ser provado por exemplo em contratações anteriores de igual
vulto, além de que, incorre em expressivo risco de seguridade basear-se toda a situação em tão
somente na sua estrutura de trabalho, haja vista que até mesmo o tempo de emissão do produto
poderá ser relativizado de empresa para empresa de acordo com sua estrutura e forma laboral,
o que por óbvio exclui todo o amparo recursal da parte contrária, motivo do qual demonstra-
se que este não merece prosperar.

Desta forma, com escopo aos eventos acima expostos, clama-se pela observância da
Justiça ao fatídico em apreço, de modo a que este episódio se ancore em legalidade, e não ao
sopeso da balança equanimidade.

II- DO FUNDAMENTO JURÍDICO

II.1- DAS PRELIMINARES

II.1.1. DO CABIMENTO E DA TEMPESTIVIDADE

Prevê o artigo art. 4º, XVIII, da Lei 10.520/02, que após a declaração de vencedor,
qualquer licitante poderá, durante o prazo concedido na sessão pública, de forma imediata, e
em campo próprio do sistema manifestar sua intenção recursal, ficando a este assegurado o
direito de apresentar suas razões em até 03 (três) dias, e os demais em igual número de dias
ficam desde logo intimado a apresentar suas contrarrazões.

Indo ao encontro do acima lecionado, a cláusula 7.2, do Edital, assenta que “7.2. O
licitante que manifestar a intenção de recurso e a mesma ter sido aceita pelo Pregoeiro disporá
no prazo de 03 (três) dias úteis para a apresentação das razões do recurso, devendo ser
lançado na plataforma do www.licitardigital.com.br, que será disponibilizado a todos os
participantes, ficando os demais desde logo intimados a apresentar as contrarrazões em igual
número de dias. ”

Por conseguinte, uma vez tendo sido apresentado recurso da declaração de habilitação
em desfavor da Contrarrazoante, bem como estando observado o lapso temporal estabelecido
para esta propositura cabível é a demanda que aqui se argui.

II.2- DO DIREITO A QUE SE BASEIA

Quando falamos de inexequibilidade de preços o primeiro ponto que guarda eminente


necessidade de destaque recai-se ao fato de que a própria Lei de Licitações e Contratos com a
Administração Pública (Lei N° 14.133), reconhece que: “§ 3º No caso de obras e serviços de
engenharia e arquitetura, para efeito de avaliação da exequibilidade e de sobrepreço, serão
considerados o preço global, os quantitativos e os preços unitários tidos como relevantes,
observado o critério de aceitabilidade de preços unitário e global a ser fixado no edital,
conforme as especificidades do mercado correspondente.”, vide artigo 59, § 3º.

Isto posto, ali permite-se a análise de preços conforme as especificidades do mercado,


ressalvados os termos de inexequibilidade expressamente lecionados, destarte, diante de
expressa e literal vedação de preços mínimos como condição de classificação em um processo
licitatório, descabida e desencontrada seria a prevalência da tese de que as disposições contidas
no artigo 59, citado alhures configuraria em desclassificação imediata e inequívoca do licitante,
é o que leciona Azevedo (Rodrigo, A Inexequibilidade da Proposta de Preços):

Novamente se verifica que o legislador brasileiro afastou a ideia de


uma desclassificação imediata e inequívoca da proposta comercial em
decorrência, apenas, do baixo valor global ou unitário, cabendo ao
licitante demonstrar a sua viabilidade e a plena possibilidade de sua
execução.
De tal forma, expostos os fundamentos acima, em se verificando o
enquadramento de uma proposta de preço ofertada em um certame,
nas hipóteses contidas nos §§ 1º e 2º do artigo 48 da vigente Lei
Federal de nº 8.666/1993, deve a Administração Pública notificar o
licitante para que o mesmo demonstre a viabilidade de sua Proposta
Comercial e apenas após as justificativas apresentadas, encontrando-
se efetivamente comprovada a inviabilidade da execução do objeto
em decorrência dos valores contidos na Proposta de Preço ofertada,
deve a Administração Pública desclassificar o licitante e adjudicar o
objeto àquele classificado na posição subsequente

Por consequência, cai-se por terra a tese de que apenas pelo fato de incidir-se em
“baixo” preço, à ser julgado pelo crivo exclusivo do concorrente, sem a abertura de quaisquer
diligências e/ou incidências de comprovação, inexequível se encontraria o feito e,
consequentemente sob aspecto de nulidade incidiria a contratação, motivo pelo qual não
merece prosperar os termos recursais avençados.

É o que reconhece o r. Tribunal de Contas da União (TCU), em matéria já sumulada,


inclusive utilizada como escopo recursal no instrumento que aqui refuta-se, vejamos: “O
critério definido no art. 48, inciso II, § 1º, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 8.666/93 conduz a
uma presunção relativa de inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à
licitante a oportunidade de demonstrar a exequibilidade da sua proposta. ”

Nesse diapasão salientamos que a Corte de Contas da União orienta a Administração


em oferecer oportunidade ao licitante para demonstrar a exequibilidade de sua proposta antes
de considera-la inexequível, o que já fora suscitado pelo nobre pregoeiro na fase habilitatórias
quando convocou a licitante, ora Contrarrazoante, a declarar a exequibilidade de sua proposta
por meio de ato declaratório. Apenas a título de retorço ao entendimento mencionado no
presente trazemos:

“Licitação de obra pública: 1 – Para o fim de cálculo de


inexequibilidade de proposta comercial, os critérios estabelecidos na
Lei 8.666/1993 não são absolutos, devendo a instituição pública
contratante adotar providências com vistas à aferição da
viabilidade dos valores ofertados, antes da desclassificação da
proponente
Mediante auditoria realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Amazonas – (Ifam), com o objetivo de fiscalizar obras
do Programa de Trabalho “Funcionamento da Educação Profissional
no Estado do Amazonas”, o Tribunal identificou possíveis
irregularidades, dentre elas, a desclassificação sumária de
empresa privada em processo licitatório no qual apresentara preço
inferior em cerca de 25% da empresa que fora contratada. Para o
relator, o Ifam agira de modo indevido ao desclassificar a empresa que
apresentara o menor preço sem lhe conferir oportunidade de comprovar
a viabilidade de sua proposta, isso porque “os critérios elencados pela
Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, para definir a proposta
inexequível apenas conduzem a uma presunção relativa de
inexequibilidade de preços”. Nesse cenário, para o relator,
considerando que a empresa desclassificada houvera apresentado a
melhor proposta, caberia ao Ifam diligenciar junto a tal pessoa jurídica,
“de modo a comprovar a viabilidade dos valores de sua oferta, de
modo que, ao não agir assim, a entidade contratou com preço mais
elevado sem justificativa plausível para tanto”. Todavia, deixou de
imputar responsabilidade pelo fato ao Diretor do Ifam, por não haver
nos autos elementos que vinculassem sua conduta à adoção das
medidas requeridas. Ainda para o relator, a lógica por trás disso é que
medidas dessa natureza estariam afetas a setores operacionais, a
exemplo da comissão de licitação, não competindo esse tipo de
atribuição ao nível gerencial da entidade, na qual se insere o dirigente
máximo. Assim, no ponto, votou pela não responsabilização do Diretor
do Ifam, sem prejuízo que fossem sancionados os servidores
diretamente envolvidos com a irregularidade, o que foi acolhido
pelo Plenário. Acórdão n.º 1857/2011, TC-009.006/2009-9, rel.
Min.-Subst. André Luis de Carvalho, 13.07.2011.

Por obvio desencontra-se o ordenamento jurídico pátrio em todas suas adjacências


com o buscado pela parte contrária em texto de recurso, pois não se prosperar desclassificação
da parte o fato isolado de observância quanto ao seu preço, haja visto ser premissa assecuratória
a licitante a possibilidade de comprovar seu preço, principalmente quando este incidir-se em
prestação de serviços que poderá variar de empresa para empresa.

Porém, por puro amor ao debate, há que se constar que tal “imprecisão” quanto a
exequibilidade dos valores ali dispostos poderia ser facilmente sanada com uma rápida busca
junto ao sistema de compras, correlacionado ao produto disposto, onde sanado estaria todo o
imbróglio que se desenrola, pois, comprovado se encontraria a possibilidade de atendimento
do feito pela incidência de contratações anteriores em igual margem de preços.

Outro fator determinante ao caso recai-se ao fato de que é evidente que, conduzidas
pelo espírito competitivo, as recorrentes busquem excluir-se entre si, é o que tenta a Recorrente
no causídico em apreço, ainda que ciente esteja do formato de mercado e da perfeita
probabilidade de apresentação e aceitação dos preços, sendo que tal conduta é fartamente
descrita pelos doutrinadores, vejamos a precisa lição de Adilson de Abreu Dallari, in “Aspectos
Jurídicos da Licitação”, ed. Saraiva, pág. 88:

“[...] claro que para um participante interessa excluir outro. Quem faz
licitação sabe que, nesse momento, há uma guerra entre os
participantes, mas a Administração não pode deixar-se envolver
pelo interesse de um proponente (que é adversário dos outros
proponentes) e não pode confundir esse interesse com o interesse
público. Este está na amplitude do cotejo, na possibilidade de
verificação do maior número de propostas”.

Portanto, não há que se falar em incidência de inexequibilidade de preços por parte


da empresa licitante, pois ante as imperiosidades lecionadas no instrumento editalício em
mescla as contratações similares anteriormente incidentes, pertinente se faz o preço disposto,
inexistindo quaisquer indícios de incidentes a inabilitação da parte.

III. DOS PEDIDOS


Ante ao exposto, inerentes aos princípios da conveniência e da oportunidade pleiteia-
se para que Vossa Senhoria se digne de acolher a presente contrarrazão de forma a
desconsiderar por completo todos os termos apontados em linhas recursais.

Contrario sensu, que se digne de abrir diligência para comprovação de preços por
parte da até então vencedora do feito, de forma a que se atenda o ordenamento jurídico
brasileiro.

Nestes termos,
pede-se deferimento.

Goiânia, 30 de março de 2023.

Atenciosamente,

ELDO DA CRUZ BARROS


Procurador

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