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À respeitável Comissão de Licitação da Base Administrativa de Guarnição de Natal.

Concorrência Eletrônica n.º 1/2023


Processo Administrativo nº 64592.007108/2023-98

Guarani Solar Ltda., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o
nº. 34.990.626/0001-04, com sede na Rua Manoel Januário da Silva, nº. 15, Itape-
tinga, CEP 59642-600, Mossoró/RN, neste ato representado por sua sócio proprie-
tário Sielly Terlan Fernandes Dantas, inscrito no CPF nº. 067.488.014-51,
residente e domiciliado em Mossoró/RN, nos termos do art. 165 da Lei nº.
14.133/21 e itens 8.1 e 8.2 do edital do pregão em epígrafe, em tempo hábil, apre-
sentar razões de RECURSO ADMINISTRATIVO ante a decisão de aceitação da pro-
posta e habilitação da empresa RP ENERGIA RENOVAVEL LTDA, CNPJ
27.252.123/0001-76, o que faz pelos motivos de fato e de direito que passa a expor.

I. DAS EXIGÊNCIA S DO EDITAL


Descumprimentos pela empresa recorrida

a) Balanço patrimonial dos dois últimos exercícios

Conforme item 8.26 do Termo de Referência, anexo ao edital:

A empresa recorrida RP ENERGIA RENOVAVEL LTDA deixou de apresentar o


balanço patrimonial devidamente registrado na Junta Comercial ou Escrituração

Rua Francisco Isódio, 321, Centro, CEP 59600 -140, Mossoró/RN

marcos.adv.freitas@gmail.com +55 (84) 98868-3883


Contábil Digital (ECD) referente exercício de 2021, vindo a apresentar somente o
de 2022.

b) Da responsável técnica. Datas incompatíveis com o atestado

Observa-se que a responsável técnica indicada para fins de comprovação do item


8.37 e 8.39 do Termo de Referência (anexo ao edital). Vejamos:

Ao observar a data de início das atividades da Engª. Eletricista Louise Araújo de Me-
deiros, indicada como responsável técnica pelos serviços desempenhados no L’Ac-
qua Condominium Clube, temos a seguinte insurgência:

Data de início das


atividades na em-
presa recorrida em
10/10/2023

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Ao verificarmos o atestado de capacidade técnica, temos a seguinte data de finalização dos
serviços:

Data de finalização
dos serviços:
03/11/2023

De início, causa estranheza a elaboração do atestado de capacidade técnica em


31/10/2023, antes do término dos serviços em 03/11/2023.

Fato relevante é que a Engª. Eletricista Louise Araújo de Medeiros somente início as
atividades de responsável técnica pela empresa recorrida em 10/10/2023, atuando
nos serviços somente até 03/11/2023, ou seja, por apenas 24 dias.

Tal fato retrata a fragilidade dos documentos apresentados para fins de qualificação
técnica do item 8.37 do edital, onde os profissionais devem comprovar através de
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), a execução de serviços de

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características semelhantes que compõem as parcelas de maior relevância técnica e/ou
econômica com no mínimo 50kwp de potência.

II. DA INEXEQUIBILIDADE DA PROPOSTA


Diligência. Comprovação necessária

Partindo do valor orçado da licitação em R$ 399.423,40, há evidente indício de ine-


xequibilidade da proposta da empresa recorrida.

A empresa RP ENERGIA RENOVAVEL LTDA sagrou-se vencedora pelo lance de


R$ 200.000,00, com uma diferença do valor orçado de R$ 299.423,40, ou seja,
50,07% do valor estimado.

Assim, requer-se diligência para aferição da exequibilidade na forma do art. 59, §§2º
e 4º da Lei nº. 14.133/21:

Art. 59. Serão desclassificadas as propostas que: (...)

III - apresentarem preços inexequíveis ou permanecerem acima do orçamento


estimado para a contratação;

IV - não tiverem sua exequibilidade demonstrada, quando exigido pela Adminis-


tração; (...)

§ 2º A Administração poderá realizar diligências para aferir a exequibilidade


das propostas ou exigir dos licitantes que ela seja demonstrada, conforme dis-
posto no inciso IV do caput deste artigo.

§ 3º No caso de obras e serviços de engenharia e arquitetura, para efeito de avali-


ação da exequibilidade e de sobrepreço, serão considerados o preço global, os
quantitativos e os preços unitários tidos como relevantes, observado o critério de
aceitabilidade de preços unitário e global a ser fixado no edital, conforme as es-
pecificidades do mercado correspondente.

§ 4º No caso de obras e serviços de engenharia, serão consideradas inexequíveis


as propostas cujos valores forem inferiores a 75% (setenta e cinco por cento)
do valor orçado pela Administração.

Conforme item 6.9.3 do edital:

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Pelo valor da proposta da empresa recorrida, e, atendendo ao comando do item 6.9.3
do edital, requer-se que seja realizada diligência para aferição da exequibilidade na
forma art. 59, §2º da Lei nº. 14.133/21, devendo ser apresentado documentos hábeis
que comprove a possibilidade de execução através dos itens de maior relevância,
quais sejam: módulos, inversores, componentes e serviços.

III. DOS PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

O art. 5º da Lei de Licitações nº. 14.133/21, impõe a observância dos seguintes prin-
cípios conforme transcrição:

Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legali-


dade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do
interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do plane-
jamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da mo-
tivação, da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança
jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da proporcionalidade,
da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento nacional susten-
tável, assim como as disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setem-
bro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

Adiante, o art. 11 novamente elenca o princípio da isonomia entre os licitantes, con-


forme se observa:

Art. 11. O processo licitatório tem por objetivos:


I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação
mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive no que se refere
ao ciclo de vida do objeto;
II - assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a
justa competição; (...)
IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável.

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Em se tratando do princípio da vinculação ao edital, o assunto é externado pelas sá-
bias palavras de Hely Lopes Meirelles[1]:

(...) a vinculação ao edital é princípio básico de toda licitação. Nem se


compreenderia que a Administração fixasse no edital a forma e o modo
de participação dos licitantes e no decorrer do procedimento ou na reali-
zação do julgamento se afastasse do estabelecido, ou admitisse documen-
tação e propostas em desacordo com o solicitado. O edital é a lei interna
da licitação, e, como tal, vincula aos seus termos tanto os licitantes com a
Administração que o expediu (art. 41).

A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do renomado


Ronny Charles[2] que preleciona que “O desacato à regra editalícia pode tornar o pro-
cedimento inválido, pela presunção de prejuízo à competitividade e à isonomia.”

A jurisprudência dos nossos tribunais tem comungado do mesmo entendimento ora


mencionado, é o que se conclui da ementa abaixo:

STJ
RECURSO ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO
LICITATÓRIO. PREGÃO ELETRÔNICO Nº 38/2018.
CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS DE TRIAGEM E ATENDIMENTO.
DESCUMPRIMENTO DE NORMA LEGAL E EDITALÍCIA.
APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE FALÊNCIA OU
CONCORDATA VENCIDA. INABILITAÇÃO. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE E/OU ABUSIVIDADE DO ATO. OBSERVÂNCIA
DOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA VINCULAÇÃO AO
INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO E DA ISONOMIA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. A licitação é ato estri-
tamente vinculado aos termos da lei e às previsões editalícias, não se
afigurando possível a supressão ou mesmo relativização de regra legi-
timamente adotado pelo edital do certame, aplicável indistintamente
a todos os proponentes. (...) (STJ AgRg no RMS 48186/MG, Relator o
Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 16/02/2016,
Dje 25/02/2016). 5.Recurso conhecido e desprovido. ACÓRDÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes do ÓRGÃO ESPECIAL
deste e. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ, por una-
nimidade, em conhecer do presente recurso, mas para negar-lhe provi-
mento, nos termos do voto do relator, parte integrante deste. Fortaleza,
17 de outubro de 2019. (TJ-CE - Recurso Administrativo:
85172005220188060000 CE 8517200-52.2018.8.06.0000, Relator:

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ANTÔNIO ABELARDO BENEVIDES MORAES, Data de Julga-
mento: 17/10/2019, Órgão Especial, Data de Publicação: 17/10/2019)

Conforme se observa, a comissão de licitação de deve observar a lei e ao instrumento


convocatório.

Marçal Justen Filho[3] esclarece que “A licitação é um procedimento orientado a redu-


zir o risco de escolhas fundadas em critérios subjetivos, vinculando o administrador à
disciplina legal e ao conteúdo do ato convocatório. E assim complementou:

A seleção do licitante vencedor é uma decorrência do preenchimento dos


requisitos previstos em lei e no ato convocatório, tal como da apresenta-
ção da proposta mais vantajosa. Não se admite que a atividade decisória
da Administração seja informada por subjetivismos do julgador. (...) A
objetividade do julgamento significa que todas as decisões na licitação de-
vem ser o resultado lógico dos elementos objetivos existentes no procedi-
mento e no mundo real.

Como julgamento objetivo entende-se aquele baseado em critérios e parâmetros


concretos, precisos, previamente estipulados no instrumento convocatório, que
afastem quaisquer subjetivismos quando da análise da proposta e da data de reaber-
tura da sessão. Nesse sentido o Tribunal de Contas da União se manifestou:

TCU
O edital deve estabelecer, com a necessária objetividade,
a forma de comprovação da aptidão para o desempenho
de atividades pertinentes e compatíveis em características, quantidades e
prazos com o objeto da licitação (Acórdão nº 8.430/2011).

A preservação do julgamento objetivo, portanto, demanda a informação clara e pre-


cisa para empresas participarem do processo licitatório, visando resguardar a igual-
dade entre as empresas que prestam um bom serviço a toda a Administração Pública.

Conforme disposição legal e o entendimento doutrinário/jurisprudencial elencado,


não há razão ou qualquer motivo em classificar a proposta e habilitar a recorrida,
tendo em vista a inexequibilidade das propostas e o descumprimento do edital.

IV. DO TRATAMENTO ISONÔMICO

Conforme art. 37, XXI da Constituição Federal de 1988:

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Art. 37. (...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes,
com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permi-
tirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à ga-
rantia do cumprimento das obrigações.

Acerca da igualdade, Ronny Charles[4] é enfático:

A determinação de obediência ao princípio da igualdade, na licitação e


contrato administrativo, impede discriminação entre os participantes do
certame, seja através de cláusulas que favoreçam uns em detrimento de
outros, seja mediante julgamento tendencioso. Esse tratamento isonô-
mico é uma garantia da competitividade e da consequente busca pela me-
lhor proposta para o negócio administrativo.

A fim de impedir eventuais exigências restritivas que possam comprometer a igual-


dade entre licitantes, os administradores não podem se deixar levar por preciosis-
mos técnicos que apenas podem vir lhe causar prejuízos.

Nesse diapasão, impende destacar o entendimento do respeitado Hely Lopes Mei-


relles[5]:

A igualdade entre os licitantes é o princípio impeditivo da discriminação


entre os participantes do certame, quer através de cláusulas que, no edital
ou convite, favoreçam uns em detrimento de outros, quer mediante julga-
mento faccioso, que desiguale os iguais ou iguale os desiguais (art. 3º, §
1º). Desse princípio decorrem os demais princípios da licitação, pois estes
existem para assegurar a igualdade. O inc. I do art. 3º foi alterado pela Lei
12.349/2010, para adequá-lo à margem de preferência prevista nos §§ 5º
e 12 desse mesmo art. 3º, examinados acima.

O desatendimento a esse princípio constitui a forma mais insidiosa de


desvio de poder, com que a Administração quebra a isonomia entre os li-
citantes, razão pela qual o Judiciário tem anulado editais e julgamentos
em que se descobre a perseguição ou o favorecimento administrativo, sem
nenhum objetivo ou vantagem de interesse público.

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O festejado professor Marçal Justen Filho[6] preleciona, de modo esclarecedor, no
sentido de que:

O edital deverá subordinar-se aos preceitos constitucionais e legais. Não


poderá conter proibições ou exigências que eliminem o exercício do di-
reito de licitar, importem distinções indevidas ou acarretem preferên-
cias arbitrárias. Toda exigência formal ou material prevista no edital tem
função instrumental.

V. REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, diante das razões de fato e de direito e considerando a doutrina e
jurisprudência atualizadas acerca da matéria, requer-se:

a) A reconsideração pelo Pregoeiro na forma do art. 165, §2º da Lei


nº. 14.133/21, para fins de inabilitar a empresa RP ENERGIA
RENOVAVEL LTDA, por deixar de apresentar o balanço patri-
monial devidamente registrado na Junta Comercial ou Escritura-
ção Contábil Digital (ECD) referente exercício de 2021, vindo a
apresentar somente o de 2022, descumprindo o item 8.26 do Termo
de Referência (anexo ao edital), e, pela fragilidade dos documentos
apresentados para fins de qualificação técnica do item 8.37 do edi-
tal, devendo ainda ser aferida a exequibilidade da proposta;

b) A remessa dos autos para a autoridade superior para decidir o re-


curso conforme art. 165, §2º da Lei nº. 14.133/21, caso o prego-
eiro mantenha a decisão de aceitação da proposta e habilitação da
empresa RP ENERGIA RENOVAVEL LTDA;

c) Ao final, requer-se procedência do presente recurso administra-


tivo, modificando a r. decisão que aceitou as propostas e habilitou
a empresa recorrida RP ENERGIA RENOVAVEL LTDA, tendo
em vista que desatendeu aos dispositivos do edital;

Nestes termos,
Pede deferimento.
Mossoró/RN, 19 de dezembro de 2023.

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Assinado de forma digital por MARCOS VINICIUS DE
MARCOS VINICIUS DE FREITAS VERAS FREITAS VERAS
Dados: 2023.12.20 09:16:41 -03'00'

OAB/RN 14.724

SIELLY TERLAN Assinado de forma digital por


SIELLY TERLAN FERNANDES
FERNANDES DANTAS:06748801451
DANTAS:06748801451 Dados: 2023.12.19 17:30:25 -03'00'

GUARANI SOLAR LTDA.


CNPJ nº. 34.990.626/0001-04
Sielly Terlan Fernandes Dantas

1. Meirelles, Hely Lopes. Burle Filho, José Emmanuel. Direito administrativo brasileiro. 44. ed. rev., atual. e aum. São Paulo: Ma-
lheiros, 2020. p. 268, 271
2. Torres, Ronny Charles Lopes de. Leis de licitações públicas comentadas – revista, amp. e atualiz. 11. ed. – Salvador: Ed. Juspo-
divm, 2021. p. 112, 118
3. Justen Filho, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 17. ed. rev., atual. e ampl. 2.ª tir. – São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 110, 902

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