Você está na página 1de 17

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE

COMODORO – ESTADO DO MATO GROSSO

URGENTE
MEDIDA LIMINAR

PREGÃO PRESENCIAL Nº 12/2023

NEO CONSULTORIA E ADMINISTRACAO DE BENEFICIOS EIRELI, pessoa


jurídica de direito privado inscrita no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica sob o n. 25.165.749/0001-
10, com sede à Alameda Rio Negro, n. 503, sala 1803, Alphaville Empresarial, CEP 06454-000, Barueri,
Estado de São Paulo, endereço eletrônico rodrigo.marinho@neofacilidades.com.br, telefone (11)
3631-7730, comparece perante Vossa Excelência, muito respeitosamente, por intermédio do
advogado que esta subscreve, com fundamento no artigo 5.º, inciso LXIX, da Constituição Federal e
nos artigos 1.º e 7.º, inciso III, ambos da Lei Federal n. 12.016/2009, para impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO


COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR

face aos atos praticados pelo MUNICÍPIO DE COMODORO, por meio do


SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO, SR. DYEGO HENRIQUE ROCHA DE OLIVEIRA, o qual subscreve
Edital, e PREGOEIRO, SR. VANDERSON DA SILVA SANTOS, o qual subscreve a decisão da impugnação,
ambos com endereço à Rua Espírito Santo nº. 199E Centro, Município de Comodoro-MT, endereço
eletrônico licitacao@comodoro.mt.gov.br, ou de quem lhes façam as vezes, arrimada nas razões de
fato e fundamentos jurídicos que alinha adiante.

1
1. FATOS

A impetrante exerce a atividade empresarial de gerenciamento


informatizado do abastecimento de combustíveis, manutenções preventivas e corretivas de veículos
automotores, por meio de cartões magnéticos e microprocessados.

No regular desempenho da sua atividade econômica, a impetrante participa


de licitações públicas em todo território nacional tendo contratos firmados com centenas de órgãos
públicos, dentre eles: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Administração do Estado de São
Cantarina, Tribunais de Justiça de diversos estados do país, Tribunais Regionais Eleitorais também
de diversos estados, dentre tantos outros.

A Prefeitura Municipal de Comodoro publicou o comentado edital com o fim


de promover a “REGISTRO DE PREÇOS PARA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA ESPECIALIZADA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE MECÂNICA EM GERAL, MANUTENÇÃO PREVENTIVA E CORRETIVA.
AQUISIÇÃO DE PEÇAS E ACESSÓRIOS DE VEÍCULOS AUTOMOTORES, MOTOCICLETAS, MÁQUINAS E
TRATORES, IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS, ROÇADEIRAS, MOTOSSERRAS, MOTORES ESTACIONÁRIOS E
SOPRADORES, PARAATENDERASNECESSIDADES DAS SECRETARIASMUNICIPAIS DESTEMUNICÍPIO
DECOMODORO-MT, COM FORNECIMENTO E TROCA DE PEÇAS DE MESMAS ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
E PADRÕES DE QUALIDADE DAQUELAS PRODUZIDAS PELOS FABRICANTES DAS PEÇAS ORIGINAIS,
ACESSÓRIOS, EQUIPAMENTOS OBRIGATÓRIOS E OUTRAS PEÇAS NECESSÁRIAS AO PERFEITO
FUNCIONAMENTO DOS VEÍCULOS QUE COMPÕEM E IRÃO COMPOR A FROTA DO MUNICÍPIO DE
COMODORO/MT”, conforme prazos e quantidades estabelecidos no instrumento convocatório.
(anexo).

Todavia, ao delimitar o conjunto de regras que compõem a estrutura do


certame, o órgão contratante estabeleceu condições que frustram o caráter competitivo da licitação,
especialmente a especificação exclusiva de marca para referência de valores, ausência de estudo
técnico preliminar e valor estimado da contratação, concede preferência para contratação de
empresas ME/EPP, de modo não previsto na Lei Complementar nº 123/2006 e fixa prazo de pagamento
em desacordo com a Lei nº 8.666/93.

2
Tais condutas são atentatórias, notadamente, aos princípios da (i) legalidade,
(ii) competitividade e (iii) isonomia, e constituem patente violação ao direito líquido e certo da
impetrante, estando tudo indubitavelmente consignadas no Edital e no julgamento da impugnação,
que acompanham o presente writ, sendo de fácil identificação as violações apontadas na ação, razão
pela qual se impõe a procedência do presente Mandado de Segurança.

2. FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2.1 DA VIOLAÇÃO DO ARTIGO 7º, §5º, DA LEI Nº 8.666/93, ACÓRDÃO TCU 1.122/2010 E 2300/2007
– PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Conforme explica Alexandre Guimarães Gavião Pinto1, o princípio da


legalidade “importa em subordinação do administrador à legislação, devendo ser fielmente realizadas
as finalidades normativas”, isto é, o agente público fica obrigado a fazer o que a lei determina e deixar
de fazer o que a lei veda. Nesse sentido, a Lei nº 8.666/93:

Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços


obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência:
(...)
§ 5º É vedada a realização de licitação cujo objeto inclua bens e serviços sem
similaridade ou de marcas, características e especificações exclusivas, salvo
nos casos em que for tecnicamente justificável, ou ainda quando o
fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob o regime de
administração contratada, previsto e discriminado no ato convocatório.

Da leitura, compreende-se que em licitações de prestação de serviços, como


ao Edital impugnado, é vedada a exigência de bens e serviços de características e especificações
exclusivas, salvo hipóteses tecnicamente justificadas (o que não ocorre no Instrumento Convocatório).

1
PINTO, Alexandre Guimarães Gavião. Os Princípios mais Relevantes do Direito Administrativo. Revista da
EMERJ, Rio de janeiro, v. 11, nº 42.
3
Contudo, o Edital acaba por trazer a ilegal exclusividade de utilização da
tabela/sistema TRAZ VALOR, como critério de referência de preços de peças e mão de obra:

“6.9. O desconto será aplicado conforme preços do Sistema TRAZ VALOR;”


“1.3. OS ITENS TERÃO COMO CRITÉRIO DE MAIOR PERCENTUAL DE
DESCONTO TENDO COMO REFERÊNCIA DE VALORES DOS PREÇOS DO
SOFTWARE DE ORÇAMENTAÇÃO ELETRÔNICA TRAZ VALOR PARA PEÇAS E
ACESSÓRIOS E/OU MATERIAIS E SERVIÇOS, MAIOR PERCENTUAL DE
DESCONTO SOBE OS PREÇOS DA HORA HOMEM DOS SERVIÇOS DA TRAZ
VALOR (CATÁLAGO ORÇAMENTÁRIO) E TEMPO DE REPARO EQUIVALENTE DA
MONTADORA E/OU FABRICANTE, PARAATENDERASNECESSIDADES DAS
SECRETARIASMUNICIPAIS DESTEMUNICÍPIO DECOMODORO-MT.”
“4.2. O presente Termo de Referência tem por objetivo definir os conjuntos
de elementos que norteiam o registro de preços, para futuras e eventuais
aquisições de peças e serviços, para manutenção dos veículos automotivos
(Veículos, Leves, Médios e Pesados, maquinas pesadas e tratores, peças
mecânicas, acessórios e equipamentos) como referência de preço, via tabela
de preço do SISTEMA TRAZ VALOR: Peça de reposição Montadora/Genuína
ou peça legítima os preços estarão submetidos às Tabelas das montadoras e
Peça de reposição Fabricante/Original, que atendam às mesmas
especificações técnicas e padrões de qualidade daquelas produzidas pelos
fabricantes das peças originais nos termos estabelecidos na nomenclatura e
normas de fabricação da ABNT NBR 15296 para autopeças, tendo como
referência a tabela supracitada a do Sistema TRAZ VALOR.

O Tribunal de Contas de União já decidiu reiteradamente que a indicação de


marca específica no instrumento convocatório tem caráter de excepcionalidade. Portanto, é
necessária a apresentação de uma justificativa plausível do órgão licitante para sua indicação e,
inexistindo, como no caso em apreço, tornam a exclusiva indicação ilegal.

A título exemplificativo, seguem alguns precedentes:

4
“Esta Corte de Contas, em diversos julgados, tem se manifestado pela
possibilidade excepcional de indicação de marca em licitações, desde que
fundadas em razões de ordem técnica ou econômica, devidamente
justificadas pelo gestor, hipóteses nas quais não há ofensa ao princípio da
isonomia, nem tampouco restrições ao caráter competitivo do certame”
(Decisão n. 664/2001 - Plenário; Acórdão n. 1.010/2005 - Plenário e Acórdão
n. 1.685/2004 - 2ªCâmara). (TCU, Acórdão 1.122/2010, Primeira Câmara, Rel.
Min. Marcos Bemquerer Costa, DOU 12/03/2010).”

“É ilegal a indicação de marcas, salvo quando devidamente justificada por


critérios técnicos ou expressamente indicativa da qualidade(...) Quando
necessária a indicação de marca como referência de qualidade ou facilitação
da descrição do objeto, deve esta ser seguida das expressões “ou
equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor qualidade” “(...) Evidentemente
que a imposição de determinada marca nas aquisições promovidas pela
Administração deve estar sempre acompanhada de sólidas razões técnicas.
Modo contrário, e nos termos da Lei de Licitações, estará representando
direcionamento irregular da licitação e limitação não razoável do universo de
fornecedores (...)” Acórdão 2300/2007 Plenário (Voto do Ministro Relator) “

Nesse esteio, é patente a violação do §5º do artigo 7º da Lei nº 8.666/93 e,


consequentemente, da legalidade administrativa, sendo o próprio item do edital motivo suficiente
para concessão da segurança.

2.2 DA VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 3º, XI, a), 2 E 14, I DO DECRETO Nº 10.024/19 – PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE

Para a elaboração dos instrumentos convocatórios, a administração deve


estabelecer critérios de aceitabilidade de preços (artigo 40, inciso X, Lei nº 8.666) e estudo técnico para
definição dos serviços e peças que serão utilizados (artigo 14, I, do Decreto nº 10.024/2019), e o
consequente valor estimado para a contratação (artigo 3º, XI, a), 2 do Decreto nº 10.024/2019).

5
Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual,
o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de
execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o
local, dia e hora para recebimento da documentação e proposta, bem como
para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o
seguinte:
[...]
X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e global, conforme o caso,
permitida a fixação de preços máximos e vedados a fixação de preços
mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de
referência, ressalvado o disposto nos parágrafos 1º e 2º do art. 48; [...]”

“Art. 14. No planejamento do pregão, na forma eletrônica, será observado


o seguinte:
I - elaboração do estudo técnico preliminar e do termo de referência;
[...]
III - elaboração do edital, que estabelecerá os critérios de julgamento e a
aceitação das propostas, o modo de disputa e, quando necessário, o intervalo
mínimo de diferença de valores ou de percentuais entre os lances, que
incidirá tanto em relação aos lances intermediários quanto em relação ao
lance que cobrir a melhor oferta;”

A melhor leitura do artigo 14 e seus incisos se dá conjuntamente com o artigo


3º:

Art. 3º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:


[...]
IV - estudo técnico preliminar - documento constitutivo da primeira etapa do
planejamento de uma contratação, que caracteriza o interesse público
envolvido e a melhor solução ao problema a ser resolvido e que, na hipótese
de conclusão pela viabilidade da contratação, fundamenta o termo de

6
referência;
[...]
XI - termo de referência - documento elaborado com base nos estudos
técnicos preliminares, que deverá conter:
a) os elementos que embasam a avaliação do custo pela administração
pública, a partir dos padrões de desempenho e qualidade estabelecidos e das
condições de entrega do objeto, com as seguintes informações:
[...]
2. o valor estimado do objeto da licitação demonstrado em planilhas, de
acordo com o preço de mercado;

Consoante com as normativas transcritas, o Edital deve conter, por meio do


Termo de Referência, os elementos que embasam a avaliação do custo pela administração pública, e
o valor estimado do objeto da licitação demonstrado em planilhas, de acordo com o preço de mercado
(ipsis litteris), para embasar o critério de aceitabilidade de preços.

Contudo, em todo Instrumento Convocatório, não há qualquer estudo


técnico preliminar, que indiquem os elementos que embasam a avaliação do custo, tampouco o valor
estimado do objeto da licitação.

No instrumento convocatório em questão, há uma clara violação ao artigo 3º


e incisos e 14 e incisos do Decreto nº 10.024/2019, e afronta entendimento do Tribunal de Contas da
União, acerca da imprescindibilidade do estudo técnico preliminar, o critério de aceitabilidade de
preços e o valor estimado do objeto:

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. PREGÃO. EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE


MANUTENÇÃO, INSTALAÇÃO E DESINSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE
SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO E DE MANUTENÇÃO CORRETIVA DE
BEBEDOUROS, GELADEIRAS E FRÍZERES. NÃO DIVULGAÇÃO DO VALOR
ESTIMADO DA CONTRATAÇÃO E DA PLANILHA COM VALORES ORÇADOS,
UTILIZADOS COMO CRITÉRIO DE ACEITABILIDADE DAS PROPOSTAS. ADOÇÃO
DE MEDIDA CAUTELAR SUSPENSIVA DO CERTAME. OITIVA. DILIGÊNCIA.

7
ARGUMENTOS APTOS A AFASTAR APENAS EM PARTE AS SUPOSTAS
IRREGULARIDADES APONTADAS. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
REPRESENTAÇÃO. FIXAÇÃO DE PRAZO PARA ANULAÇÃO DO CERTAME.
COMUNICAÇÕES. ARQUIVAMENTO.
Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Representação formulada por
MRA Comércio de Materiais de Construção e Construções Eireli - EPP, contra
o Pregão Eletrônico PG-70.2017.4180, promovido pela Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco – Chesf, que objetiva a contratação de serviços de
manutenção, instalação e desinstalação dos equipamentos que compõem
sistemas de climatização das instalações, bem como a manutenção corretiva
dos bebedouros, geladeiras, frigobares e frízeres vinculados à Regional de
Teresina;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão
do Plenário, diante das razões expostas pelo Relator, em: [...]
9.4. dar ciência à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco sobre a
seguinte irregularidade identificada no Pregão Eletrônico PG-
70.2017.4180:
9.4.1. não divulgação do preço de referência em edital de licitação na
modalidade pregão, quando utilizado como critério de aceitabilidade de
preços, em desacordo com a jurisprudência desta Corte de Contas (vide
Acórdãos 392/2011-TCU-Plenário, 2.166/2014-TCU-Plenário, 10.051/2015-
TCU-2ª Câmara e 745/2018-TCU-Plenário);

Verifica-se, portanto, patente violação ao princípio da legalidade, na medida


em que, à luz da síntese de Alexandre Guimarães Gavião Pinto, as finalidades normativas devem ser
fielmente realizadas, isto é, o agente público é obrigado a fazer aquilo que a lei determina, ao não
realizar estudo técnico preliminar e estabelecer o valor estimado do objeto, o Edital de Pregão
Presencial nº 12/2023 viola a legalidade administrativa.

8
2.3 DA VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 47, 48 E ARTIGO 49, INCISO II DA LEI COMPLEMENTAR Nº
123/2006 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E ISONOMIA

Hely Lopes Meirelles preconiza que “na Administração Pública só é permitido


fazer o que a lei autoriza”2. Nesse sentido, o agente público fica condicionado a prever no Ato
Convocatório tão somente o que está expressamente previsto nas leis regentes da matéria, qual sejam,
Leis nº 8.666/93, 10.520/02, Decreto nº 10.024/19, Lei Complementar nº 123/2006 e as demais
aplicáveis à espécie.

Nesse sentido, a Lei Complementar estabelece no capaut do artigo 47 que


“nas contratações públicas da administração [...], deverá ser concedido tratamento diferenciado e
simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte [...]”. Para aplicação do tratamento
diferenciado, a administração deverá observar as taxativas hipóteses do artigo 48:

“Art. 48. Para o cumprimento do disposto no art. 47 desta Lei Complementar,


a administração pública:
I - deverá realizar processo licitatório destinado exclusivamente à
participação de microempresas e empresas de pequeno porte nos itens de
contratação cujo valor seja de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);
II - poderá, em relação aos processos licitatórios destinados à aquisição de
obras e serviços, exigir dos licitantes a subcontratação de microempresa ou
empresa de pequeno porte;
III - deverá estabelecer, em certames para aquisição de bens de natureza
divisível, cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do objeto para a
contratação de microempresas e empresas de pequeno porte.”

Contudo, o Edital impugnado concedeu benefício às empresas ME/EPP NÃO

2
MIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 30. Ed. Malheiros: São Paulo, 2005.
9
PREVISTO EM LEI:

“PREGÃO COM CONTRATAÇÃO PRIORITÁRIA DE MICRO EMPRESA, EMPRESA


DE PEQUENO PORTE E MICRO EMPREEENDEDOR INDIVIDUAL LOCAL
CONFORME DECRETO MUNICIPAL 35/2022.”

Veja, Excelência, que as hipóteses legais de tratamento diferenciado entre


licitantes estão taxativamente dispostas no artigo 48 e incisos da Lei Complementar nº 123/2006,
dentre as quais não consta a “contratação prioritária de microempresa, empresa de pequeno porte e
microempreendedor individual local”, sendo ilegal, portanto, a disposição do Edital.

No mais, o referido benefício é concedido por DECRETO MUNICIPAL, que pela


própria natureza jurídica, não pode criar direitos e conferir obrigações, mas tão somente regulamentar
a aplicação destes, criados por LEI. Nesse sentido, o TRF3:

“APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. INSCRIÇÃO COMO


DESPACHANTE ADUANEIRO E AJUDANTE DE DESPACHANTE ADUANEIRO.
EXIGÊNCIA DE CONCLUSÃO DO 2º GRAU. ART. 47 DO DECRETO 646/92.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. ART. 5º, XIII, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DELEGAÇÃO DO § 3º DO ART. 5º DO DECRETO-LEI
2.472/88. NÃO RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. ART. 25
DO ADCT. SOMENTE A LEI PODE CRIAR DIREITOS E OBRIGAÇÕES. AO
DECRETO SÓ CABE REGULAMENTAR A LEI. POSSIBILIDADE DE PREVISÃO, NO
REGULAMENTO, DE PRAZO PARA O EXERCÍCIO DE DIREITO. APELAÇÃO E
REMESSA OFICIAL NÃO PROVIDAS. 2. Em face do princípio da reserva legal,
não cabe ao Poder Executivo, ainda que com a anuência do próprio Poder
Legislativo, criar direitos ou obrigações, através de decreto, sob pena de
subverter a Ordem Constitucional. (TRF-3 - AMS: 1823 SP
2000.61.00.001823-6, Relator: JUIZ CONVOCADO LEONEL FERREIRA, Data de
Julgamento: 12/11/2010, JUDICIÁRIO EM DIA - TURMA D)

E ainda que todos os rigores técnicos e principiológicos fossem ignorados, a

10
concessão dos benefícios não isonômicos dependem de estudo de competitividade local, apto a
demonstrar a existência de, no mínimo, 03 fornecedores ME/EPP na região contratante que sejam
capazes de atender as exigências do Instrumento Convocatório, conforme comando do artigo 49, II da
Complementar nº 123, fato que, notadamente, também não ocorreu.

Nesse sentido, o Tribunal de Contas da União:

“Ocorre, todavia, que restaria configurada a eventual falha na limitação para


a referida licitação em prol, apenas, da ME e EPP, pois, apesar de a decisão
do Coren-AL encontrar amparo no art. 48, I, da Lei Complementar n.º 123, de
2006, não teria ficado evidenciado que subsistiria o mínimo de três
fornecedores competitivos capazes, como ME ou EPP, de cumprir as
exigências estabelecidas pelo edital do Pregão n.º 1/2021 em conformidade
com os arts. 6º e 10, I, do Decreto n.º 8.538, de 2015.” (Acórdão 10384/2022).

Dessarte, o Edital estabeleceu condições que afrontam a legalidade e a


isonomia, princípios consagrados na Constituição Federal (artigo 37, caput), dos quais a administração
deve se nortear. Assim, requer-se a concessão da segurança para declarar NULA a preferência de
empresas ME/EPP locais para a contratação em tela.

2.4 DA VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 40, XIV, a) e 110 DA LEI Nº 8.666/93 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Conforme inteligência do artigo 40, da Lei nº 8.666/93, o Edital deve prever,


dentre outras condições, o prazo de pagamento, que deverá ser de até 30 dias, contados a partir do
adimplemento de cada parcela do serviço ou bem:

“Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual,


o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de
execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o
local, dia e hora para recebimento da documentação e proposta, bem como
para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o
seguinte:

11
[…]
XIV - condições de pagamento, prevendo:
a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, contado a partir da data
final do período de adimplemento de cada parcela;”

Ainda, o art. 110 da mesma lei estabelece o modo de contagem de todos os


prazos contidos na norma, vejamos:

“Art. 110. Na contagem dos prazos estabelecidos nesta Lei, excluir-se-á o dia
do início e incluir-se-á o do vencimento, e considerar-se-ão os dias
consecutivos, exceto quando for explicitamente disposto em contrário."

Portanto, em conformidade com a Lei nº 8.666/93, uma vez apresentada a


Nota Fiscal, a Contratante deve ter o prazo de 30 dias corridos para realizar o pagamento. Contudo, o
Edital do Ato Convocatório estabeleceu como prazo de pagamento de 30 dias úteis:

“CLÁUSULA NONA – DO PAGAMENTO


9.0. O Órgão/Entidade efetuará o pagamento ao FORNECEDOR, através de
crédito em conta corrente mantida pelo FORNECEDOR, preferencialmente
em, até o 30º (trigésimo) dia útil contado a partir da data da apresentação
da nota fiscal/fatura discriminativa acompanhada da correspondente
autorização de fornecimento, com o respectivo comprovante, de que o
fornecimento foi realizado a contento.”

De plano, verifica-se a ilegalidade da cláusula quando comparada com a


determinação da lei, devendo a cláusula ser retificada para adequação aos termos da lei n.º 8.666/93,
e modo que o pagamento ocorra em até 30 dias corridos da apresentação da Nota Fiscal.

Ao fim, verifica-se que o processo licitatório em questão está completamente


viciado, desde a sua fase interna (ausência de elaboração do estudo técnico preliminar e indicação de
valor estimado do objeto, concessão de benefício não previsto em lei e estabelece prazo de pagamento
superior ao legal), fatos que, indubitavelmente, aviltam os princípios da legalidade e isonomia.

12
Tais condutas impediram que a impetrante e demais outras licitantes
apresentassem propostas, em razão da impossibilidade de contraditar os valores apresentados pela
administração, ante a inexistência de estudo de viabilidade, o que gera inevitável insegurança jurídica
e viola o princípio competitividade, impedindo a administração de obter a melhor proposta.

3. MEDIDA LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS

O artigo 7.º, inciso III, da Lei Federal n. 12.016/2009, dispõe expressamente


sobre a possibilidade de concessão de medida liminar, quando presentes os requisitos necessários,
quais sejam: a aparência do direito - “fumus boni iuris” – e o perigo de dano ou risco ao resultado útil
do processo - “periculum in mora”.

Forçoso reconhecer que inúmeras gerenciadoras, diante das


irregularidades do edital, têm tolhido o direito à efetiva participação no certame em tela, haja vista
o prejuízo concreto à possibilidade de disputa sobre o preço valores abstratos.

Nesta exata medida, a própria Administração Pública restará prejudicada


ante a inexistência de participantes e, secundariamente, a população, que, por não ter sido
alcançada a proposta mais vantajosa, presenciará a ineficiência na utilização dos repasses de
recursos públicos.

Assim, plenamente presentes os requisitos ensejadores para a concessão


do efeito suspensivo: o fundado receio de grave lesão ao patrimônio público e a frustração da
competitividade do certame (aparência do direito), evidenciado na medida em as empresas
licitantes restarão impedidas de promover a disputa sobre o preço, o que também prejudicará a
possibilidade de obtenção da melhor proposta pela Administração Pública, refletindo diretamente
no interesse da coletividade.

Por sua vez, o risco de ineficácia da decisão de mérito (perigo de dano


ou risco ao resultado útil do processo) caracteriza-se pela realização da sessão da data de ontem,
aos 16/03/2023, consumando todas as ilegalidades descritas. O prosseguimento da licitação levará

13
a adjudicação e homologação do certame em favor do vencedor, bem como a assinatura do
contrato, o que torna prejudicada qualquer decisão ulterior.

4. DO VALOR DA CAUSA E DA INEXISTÊNCIA DE PROVEITO ECONÔMICO

Desde já, atribui-se o valor da causa a quantia de R$ 1.000,00. Isso porque


não existe proveito econômico da impetrante com a propositura da demanda, consoante com
jurisprudência especializada, como se verá das razões a seguir expendidas, bem assim, dos julgados
que instruem esta peça.

Há luzente conclusão, da simples leitura da exordial, quanto ao fato de que a


impetrante não tenciona benefício patrimonial e que o eventual deferimento da medida liminar, ou
mesmo a procedência do pedido, não lhe proporcionará o aludido proveito. Ao menos, não em
decorrência da concessão da segurança que ora é pleiteada.

É que esta ação mandamental tem por objetivo precípuo discutir a legalidade
dos atos decorrentes do Edital do Pregão Presencial nº 012/2023, e evitar o direcionamento do
certame, com o estabelecimento de critérios de objetivos de aceitabilidade de preços, baseados em
preliminar estudo, em obediência aos primados que regem a atividade da Administração.

A bem da verdade, a procedência do pedido manejado pela impetrante


aproveita muito mais ao interesse da coletividade que ao seu próprio. Primeiro porque o deferimento
gera, quanto à impetrante, apenas expectativa de direito, sendo indiscutivelmente impossível afirmar
que ela restará vencedora do certame caso dele possa participar. Segundo, e mais importante, porque
a ampliação da disputa (competitividade) é o cerne da licitação, tanto que positivada pela legislação
como princípio de indispensável observância.3

A propósito do tema há vasta jurisprudência especializada, da qual são extraídos


os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. LICITAÇÃO. CONCORRÊNCIA.

3 A propósito, vide artigo 2.º, do Decreto Federal n. 10.024/2019.


14
ILEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE CONCRETIZAÇÃO
ECONÔMICA IMEDIATA. INCERTEZA QUANTO A ADJUDICAÇÃO DO CONTRATO.
IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DE OFÍCIO DO VALOR DA CAUSA FORA DAS
HIPÓTESES LEGAIS. FIXAÇÃO DO VALOR DA CAUSA SEGUNDO ESTIMATIVA.
RECURSO PROVIDO. 1 . Embora seja possível a retificação do valor da causa de
ofício pelo Juiz, verifica-se que somente é cabível naquelas hipóteses legais,
conforme bem assevera Marinoni: O Juiz corrigirá de ofício e por arbitramento o
valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial
em discussão ou proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se
procederá ao recolhimento das custas correspondentes (art. 292, § 3º do CPC).
A incidência do art. 292, § 3º, CPC, está restrita aos casos em que há fixação
legal do valor da causa. (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado. Revista dos Tribunais.
2015. pag.302.) 2. Desta forma, não verifica-se entre aqueles incisos e tampouco
em lei extravagante, notadamente a lei de mandado de segurança (Lei nº
12.016/2009), hipótese capaz de configurar a alteração de ofício pelo Juiz, razão
pela qual verifico a ocorrência de erro in procedendo neste pormenor. 3 .
Ademais, entende-se relevante o argumento manejado pelo apelante no
tocante a discussão do mandamus circundar tão somente quanto a ilegalidade
do ato da autoridade coatora, não havendo concretização de valor econômico,
sobretudo porque inexiste certeza caso reconhecida a ilegalidade, a
adjudicação do contrato em favor do impetrante, ora apelante. 4. Recurso
provido. VISTOS, relatados e discutidos estes autos ACORDAM os
Desembargadores que compõem a Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado do Espírito Santo, de conformidade com a ata e notas
taquigráficas que integram este julgado, à unanimidade, conhecer do recurso
para dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Vitória, ES, 09
de julho de 2019. PRESIDENTE RELATOR (TJ-ES - APL: 00073108420188080048,
Relator: EWERTON SCHWAB PINTO JUNIOR, Data de Julgamento: 09/07/2019,
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 22/07/2019).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. VALOR DA CAUSA.


EMENDA DA INICIAL. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE VANTAGEM ECONÔMICA
IMEDIATA. RECURSO PROVIDO EM PARTE 1. Impetração que se volta contra
desclassificação de Concorrência Pública, sem relação direta com o objeto
licitado. 2. Não há proveito econômico imediato neste Mandado de Segurança.
Não enquadramento às hipóteses do art. 292, do CPC. Valor deve ser
estabelecido pela parte. Desnecessidade de emenda da petição inicial para
modificação do valor da causa. 3. Estipular o valor da causa levando-se em
conta o valor do contrato a ser celebrado com a Administração, seria
inviabilizar o emprego deste essencial instrumento de combate à ilegalidade e
ao abuso de poder, sobretudo em procedimentos licitatórios. 4. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE (Classe: Agravo de
Instrumento, Número do Processo: 0017307-93.2016.8.05.0000, Relator (a):
Carmem Lucia Santos Pinheiro, Quinta Câmara Cível, Publicado em: 21/03/2018
) (TJ-BA - AI: 00173079320168050000, Relator: Carmem Lucia Santos Pinheiro,
Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: 21/03/2018).

15
RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO MANDADO DE SEGURANÇA licitação
LIMINAR PRETENSÃO À suspensão do certame INDEFERIMENTO Valor da causa
desnecessidade de retificação iNEXISTÊNCIA dE benefício economico. 1. A
concessão da medida pleiteada é providência que se insere no livre
convencimento do Magistrado. 2. Presunção de legalidade dos atos
administrativos. 3. Não há prova documental para a comprovação da existência
de "fumus boni iuris". 4. A causa de pedir da ação mandamental está
relacionada com a suposta ilegalidade praticada pela Administração Pública,
ou seja, inexiste proveito econômico imediato, não havendo necessidade de
retificação do valor atribuído à petição inicial. 5. Decisão agravada,
parcialmente reformada. 6. Recurso de agravo de instrumento, parcialmente
provido. (TJ-SP - AI: 20230532520138260000 SP 2023053-25.2013.8.26.0000,
Relator: Francisco Bianco, Data de Julgamento: 28/07/2014, 5ª Câmara de
Direito Público, Data de Publicação: 31/07/2014).

De mais a mais, como bem acordado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais no julgamento do Agravo de Instrumento n. 0024133455071001, ementa transcrita
acima, “estipular o valor da causa levando-se em conta o valor do contrato a ser celebrado com a
Administração, seria inviabilizar o emprego deste essencial instrumento de combate à ilegalidade e
ao abuso de poder, sobretudo em procedimentos licitatórios”.

5. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

a) a concessão da medida liminar, inaudita altera pars, nos termos do art.


7º, III, da Lei n. 12.016/2009, para fins de suspender o procedimento licitatório, obrigando a
autoridade coatora a não praticar nenhum ato até que o mérito desta ação mandamental seja
julgado, nisso incluída a própria contratação e execução dos serviços que dela são decorrentes caso
a sessão pública já tenha ocorrido;

b) a concessão da segurança em sentença definitiva de mérito, para


determinar a retificação do edital do certame, de modo que seja realizado o estudo técnico
preliminar, conforme o Decreto nº 10.024/2019, para indicação do valor estimado da contração e
que sejam excluídas as cláusulas que indiquem preferência de marca (6.9, 1.3 e 4,2), concedem
benefício para empresas ME/EPP não previsto na LC nº 123/2006 e que estabelecem prazo de

16
pagamento superior ao legal (9.0);

c) se esse não for entendimento de Vossa Excelência na análise final da


concessão da segurança, que se proceda anulação do referido procedimento licitatório tendo em
vista as ilegalidades presentes, retroagindo, assim, os efeitos da anulação e invalidando todos os
atos praticados no processo administrativo;

d) a notificação das autoridades coatoras, por meio de Oficial de Justiça, para


prestar informações.

Por fim, nos termos do artigo 272, parágrafo quinto, do Código de Processo
Civil, requer que todas as comunicações dos atos processuais atinentes ao feito sejam realizadas
em nome do advogado JOÃO LUÍS DE CASTRO, inscrito na OAB/SP sob o n. 248871,
exclusivamente, sob pena de nulidade.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins fiscais e


processuais.

Termos em que pede e aguarda deferimento.

Barueri, Estado de São Paulo, 17 de março de 2023.

João Luís de Castro - OAB/SP 248.871

Rodrigo Ribeiro Marinho - OAB/SP 385.843

17

Você também pode gostar