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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Sollicita PRO | 2
#01 | Acórdão nº 158/19 - Tribunal Pleno – TCE/GO – Planejamento: Alguns critérios de pesquisa
de preço e de requisitos de habilitação _______________________________________ p.04

#02 | Acórdão nº 1906/18 - Tribunal Pleno – TCE/GO – Contratação irregular de remanescente


de obra _______________________________________________________________ p.07

#03 | Acórdão nº 393/17 - Tribunal Pleno – TCE/RN – Dispensa emergencial irregular _____ p.14

#04 | Contratação emergencial segundo o TCE/SP _______________________________ p.18

#05 | Qualificação técnica operacional e profissional segundo o TCE/SP ______________ p.21

#06 | Acórdão nº 29/17 – Primeira Câmara – TCE/MT – Gestão de Contratos ___________ p.24

#07 | Acórdão nº 1863/21 - Tribunal Pleno – TCE/PR – Responsabilidade do parecerista ___ p.37

#08 | Acórdão nº 693/17 - Tribunal Pleno – TCE/SC – Pesquisa de Preços _____________ p.42

#09 | Acórdão nº 433/16 - Tribunal Pleno – TCE/MT – Fiscalização de Contrato ________ pg.61
1. Acórdão nº 158/19 - Tribunal Pleno
– TCE/GO – Planejamento:
Alguns critérios de
pesquisa de preço e de
requisitos de habilitação
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Acórdão nº 158/19 - Tribunal Pleno – TCE/GO – Planejamento: Alguns critérios de pesquisa


de preço e de requisitos de habilitação

O Tribunal de Contas do Estado do Goiás, se manifestou por meio do Acórdão nº 158/19, sobre a
necessidade de realizar um bom planejamento da licitação, atentando para a fase de pesquisa
de preços bem como para a justificativa do uso de alguns critérios de habilitação:

ACORDA o TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS, pelos membros que integram


o seu Tribunal Pleno, ante as razões expostas pela Relatora em considerar regular o
referido edital de licitação Pregão Eletrônico nº 021/2016, do tipo menor preço, com
determinação ao Departamento Estadual de Trânsito - DETRAN que nas futuras licitações,
sob pena de aplicação de multa aos responsáveis em caso de descumprimento, observe:

a) Ao adotar índices contábeis para aferição da qualificação econômico-financeira,


instrua o processo licitatório com a devida justificativa, conforme determina o art. 31, §
5º, da Lei nº 8.666/1993;

b) Ao definir o valor de referência das contratações, promova ampla pesquisa de preço


mercado, ampliando as bases consultadas e estimando os custos unitários em planilhas
de quantitativos que reflitam a necessidade do objeto pretendido nos termos do art. 3,
incisos I e II da Lei nº 10.520/2002, art. 40, inciso X, § 2º, II, da Lei n.º 8.666/93 e art. 88-A
da Lei Estadual nº 17.928/2012.

(...)

VOTO

(...)

Diante da discrepância entre a estimativa de custos prevista na licitação por parte do


DETRAN e das propostas apresentadas pelas licitantes, conforme documentos fls. TCE
139/143, resta comprovada a fragilidade dos critérios para estabelecimento do preço
de referência da contratação e a impossibilidade de aferir se os preços apresentados
pelas licitantes são ou não exequíveis, opinião esta corroborada pelo Ministério Público
de Contas, Auditoria e pela Unidade Técnica, razão pela qual entendo ser necessária
a determinação deste Tribunal para que o DETRAN na deflagração de procedimentos
licitatórios futuros, amplie as fontes de pesquisas de preço do mercado, elabore planilha
analítica do orçamento, para que a estimativa de preço da licitação seja capaz de
representar a realidade de preço do mercado e a real possibilidade de contratação com
o menor preço.

Outro ponto analisado pela Auditoria que merece atenção é o fato de não constar nos
autos do processo administrativo da licitação qualquer justificativa quanto à adoção dos
critérios de aferição da qualificação econômica financeira das licitantes.

Quanto a este apontamento importante destacar que o art. 31, §5º, da Lei nº 8.666/93
permite a adoção pela Administração Pública de índices contábeis destinados à
verificação da boa situação financeira das licitantes. No entanto, a lei exige que os
índices contábeis previstos no edital devem ser devidamente justificados no processo
administrativo da licitação que tenha dado início ao certame licitatório. Observa-se que

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é indispensável que a Administração Pública justifique no processo administrativo da


licitação à escolha e critérios de escolha dos mesmos. A previsão de justificava é exigida
no texto da lei para impedir a adoção de critérios desarrazoados que não possam ser
atendidos por grande número de licitantes e acabem frustrando o caráter competitivo
do certame.

Assim, razão assiste à Auditoria em exigir do DETRAN a justificativa no processo


administrativo da licitação a adoção de índices contábeis destinados à qualificação
econômica-financeira previstos no edital de licitação, o que deve ensejar neste julgamento
nova determinação ao DETRAN com previsão de multa, em caso de descumprimento
para as licitações futuras, já que a esta falha já foi objeto de determinação por este
Tribunal, por meio do Acordão TCE nº 1.152/2018.

(...)

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2. Acórdão nº 1906/18 - Tribunal
Pleno – TCE/GO
Contratação irregular de
remanescente de obra
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Acórdão nº 1906/18 - Tribunal Pleno – TCE/GO – Contratação irregular de remanescente de


obra

O Tribunal de Contas do Estado do Goiás, se manifestou por meio do Acórdão nº 1906/18, sobre
a contratação irregular de remanescente de obra, a qual não respeitou nem o processo de
dispensa de licitação para contratação de remanescente nem o processo licitatório:

EMENTA

Representação. Empresa Sarkis Engenharia Ltda.. AGEHAB. Determinação desta Corte


no item I do Acórdão n.º 5121/2010. Apuração de irregularidades na subcontratação de
empresa para execução de remanescente de obra. Ilegalidades. Prescrição da pretensão
punitiva. Determinação. Arquivamento.

Com os fundamentos expostos nestes autos processuais de nº 201000047002989, que


tratam de Representação formulada pela empresa Sarkis Engenharia Ltda. em face da
AGEHAB, tendo o relatório e voto como partes integrantes deste, ACORDA o TRIBUNAL
DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS, pelos votos dos membros que integram o seu
Tribunal Pleno, ante as razões expostas pelo Relator,

1 - Julgar ilegais a subcontratação realizada entre a AGEHAB e a empresa Prumus


Construções e Empreendimentos Ltda., assim como a subcontratação realizada entre a
AGEHAB e a empresa Sarkis Engenharia Ltda.;

2 - Determinar à AGEHAB que:

2.1 - Adote, como regra, a instauração do devido procedimento licitatório para as


contratações de obras, serviços e fornecimentos, com observância da legislação
aplicável às sociedades de economia mista e empresas públicas, sob pena de incidência
das sanções cabíveis;

2.2 – Elabore os editais de licitação com todas as cláusulas necessárias à correta


execução do objeto, e, especialmente no que tange às subcontratações, que sejam
realizadas na forma da lei, fixando-se o limite máximo e razoável no edital, de modo a
evitar riscos para a Administração Pública;

2.3 – Restrinja a contratação para remanescente de obra, serviço ou fornecimento


apenas para os casos de execução de parcelas restantes de contrato rescindido;

2.4 – Instaure o devido procedimento administrativo, em tempo adequado, para apurar


indícios de irregularidades nos certames, bem como nas contratações realizadas, sob
pena de incidência das sanções devidas por omissão administrativa;

3 - Determinar a remessa de cópia integral dos presentes autos ao Ministério Público


Estadual, em atenção ao Ofício n.º 109/2018, de autoria da Promotora de Justiça Carmem
Lúcia Santana de Freitas;

4 – Determinar o arquivamento do presente feito, ante a ocorrência da prescrição da


pretensão punitiva, conforme previsão do art. 107-A, da Lei estadual nº 16.168/2007.

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(...)

À Gerência de Comunicação e Controle para as anotações pertinentes, publicação,


intimação e demais atribuições a seu cargo. Após, arquive-se.

Passemos, portanto, a análise das questões atinentes à contratação direta da empresa


Sarkis Engenharia Ltda., que, muito embora não compusesse o objeto da “Denúncia”, a
partir da análise efetuada pelas unidades de instrução e dos documentos que instruem
os autos, tais como os pareceres emitidos pela Procuradoria-Geral do Estado – PGE,
este Tribunal determinou à AGEHAB a apuração das irregularidades nas contratações e
subcontratações de que tratam estes autos, bem como a identificação dos responsáveis,
no prazo de 60 dias, conforme item I, do Acórdão n.º 5121/2010, tendo sido o prazo
prorrogado mediante autorização do Pleno desta Corte, nos termos do Acórdão n.º
1574, de 04/05/2011.

Os autos dão conta de que, visando a realização da obra objeto desta demanda, a
AGEHAB instaurou o processo licitatório nº 02/2001-CLP (fls. 123/138- TCE), referente
à construção de 280 unidades habitacionais no Município de Formosa/Goiás, cuja
vencedora foi a Construtora Santa Vitória Ltda.

A referida empresa vitoriosa, entretanto, alegando dificuldades financeiras que


implicariam na inexecução do objeto, subcontratou a obra à pessoa jurídica Prumus
Construção e Empreendimentos Ltda., com a anuência da AGEHAB (fls. TCE 254/257),
sem a adoção do devido procedimento licitatório.

Não obstante isso, a subcontratada também não deu continuidade à obra, subcontratando,
por sua vez, a empresa Sarkis Engenharia Ltda., também com a anuência da AGEHAB
(fls. TCE 259/262), sem realizar licitação, para tanto.

Outra irregularidade que constatei envolve a questão do membro do Conselho de


Administração da AGEHAB, Sr. Sarkis Nabi Curi, ser sócio administrador da empresa
Sarkis Engenharia Ltda., que celebrou a contratação direta com a AGEHAB. Diz o art. 9º
da Lei n.º 8.666/93 que não poderá participar da execução de obra ou serviço, servidor
ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação. Entendo que
o membro do Conselho de Administração de Sociedade de Economia Mista - natureza
jurídica da AGEHAB – equipara-se a dirigente da entidade, pois que exerce poderes de
gestão interna corporis.

Atualmente, com a edição da Lei n.º 13.303/2016, que dispôs sobre o estatuto jurídico
da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, resta claro que os
administradores da empresa pública e da sociedade de economia mista são os membros
do Conselho de Administração e da diretoria, conforme dispõe o art. 1º parágrafo único.
Ao mesmo tempo, o art. 17, §2º, do mesmo arcabouço normativo, elenca as vedações
para a indicação do membro do Conselho de Administração1. Importante ressaltar que
essa irregularidade foi identificada pela Comissão de Sindicância, em que pese nada ter
sido feito a respeito.

No que tange às subcontratações realizadas em decorrência da inexecução contratual


pela empresa vencedora do certame, constato que realmente ocorreram ao arrepio da
Lei n.º 8.666/93. Isso porque as subcontratações não foram realizadas na forma devida.

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É cediço que ao administrador público só cabe agir dentro dos estritos limites definidos
pelo ordenamento jurídico, em homenagem ao princípio da legalidade, devendo
observar, ainda, os demais princípios de direito administrativo para conferir legitimidade
às suas condutas.

No que tange ao instituto jurídico da subcontratação, dispõe o art. 72, da lei nº 8.666/93,
que:

“O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades contratuais


e legais, poderá subcontratar partes de obra, serviço ou fornecimento, até o limite
admitido, em cada caso, pela Administração”.

O Tribunal de Contas da União, em sua obra “Licitações e Contratos: Orientações e


Jurisprudência do TCU”, diz que:

“Subcontratação consiste na entrega de parte de fornecimento de bem, execução de


obra ou prestação de serviço a terceiro, estranho ao contrato, para que execute em
nome do contratado item, etapa ou parcela do objeto avençado.” (4. ed. Brasília: TCU,
2010)

Ainda o TCU, no Acórdão n.º 2002/2005, adotando o voto do relator, consignou que
“a subcontratação deve ser adotada unicamente quando necessária para garantir
a execução do contrato e desde que não atente contra os princípios constitucionais
inerentes ao processo licitatório, e nem ofenda outros princípios relacionados às
licitações, notadamente o da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração.”

Percebe-se, da leitura do dispositivo legal e da interpretação conferida pelo Tribunal de


Contas da União, que a subcontratação é permitida para a execução de item, etapa ou
parcela da obra, e não de quase a totalidade do empreendimento, como é o caso destes
autos, cuja empresa legitimamente contratada teria executado somente 12,78% da obra,
quando, alegando problemas financeiros, desistiu de sua continuidade, subcontratando
a empresa Prumus Construções e Empreendimentos Ltda., que, por sua vez, também não
deu continuidade a obra e subcontratou a empresa Sarkis Engenharia Ltda. Entendo que,
no caso, houve burla ao procedimento licitatório e afronta ao art. 37, XXI, da Constituição
Federal de 1988, pois que a admissão das referidas empresas deu ensejo à adjudicação
do objeto contratual a não participantes do certame.

Destarte, mesmo que prevista a possibilidade de subcontratação no edital, a orientação


do TCU é no sentido de que a Administração deve fixar um limite máximo e razoável no
edital para essa permissividade, de modo a evitar riscos para a Administração Pública,
conforme disciplina o art. 72 da Lei n. 8.666/93 (Acórdão nº 1.045/2006, Plenário).
Também essa regra não foi observada no edital do certame lançado pela AGEHAB.

É dever também da Administração exigir do subcontratado a apresentação dos


documentos de habilitação requisitados na licitação, especialmente quanto à regularidade
jurídica, idoneidade fiscal, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira e o
cumprimento do disposto no inciso XXXIII, do art. 7º, da Constituição Federal (Licitações
e Contratos: Orientações e Jurisprudência do TCU 4. ed. Brasília: TCU, 2010). Isso
certamente evitaria os vários pedidos de reequilíbrio econômico financeiro do contrato,
postulados pela empresa ora Representante.

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Segundo as defesas, a AGEHAB teria aceitado a contratação com fundamento no art.


24, inc. XI, da Lei n.º 8.666/93, que trata da contratação direta por dispensa de licitação
para execução de remanescente de obra, serviço ou fornecimento. Entretanto, o próprio
dispositivo prevê que essa contratação direta deve observar a ordem de classificação
da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor,
inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido. No caso em tela, as empresas
“subcontratadas” sequer participaram do certame, conforme bem ressaltou a Comissão
de Sindicância da AGEHAB, em seu Relatório Final.

No caso em questão, não caberia subcontratar e sim realizar nova licitação e que não
seria caso de contratação direta para execução de remanescente de obra, tendo em
vista que a Construtora Santa Vitória Ltda. teria executado tão somente 12,78% da obra.
Remanescente diz respeito a uma parcela faltante da obra, saldo, fração restante a ser
executada, jamais a quase totalidade da obra.

Certo é também que qualquer modalidade de rescisão do contrato administrativo deve


ser precedida do devido processo administrativo, sendo que sua ausência implica no
impedimento da produção de qualquer efeito lícito da rescisão contratual. Para o caso,
não consta dos autos que esse procedimento foi adotado, inclusive para viabilizar a
apuração dos motivos que ensejaram a rescisão unilateral do contrato e a imputação
das responsabilidades à empresa.

É preciso ressaltar que a Sindicância instaurada pela AGEHAB, por determinação desta
Corte de Contas, deveria ter sido convertida em Processo Administrativo Disciplinar –
PAD, para a devida apuração da autoria dos fatos, e, verificando o nexo de causalidade,
assim possibilitar a imputação das penalidades cabíveis a quem de direito.

Ao que parece, o jurisdicionado encaminhou o Relatório Final da Sindicância para o juízo


de valor deste Tribunal de Contas, sem converter em PAD e sem concluir o julgamento.
Entendo que houve, nesse caso, descumprimento do item I do Acórdão 5121/2010,
que poderia ensejar a aplicação de multa aos responsáveis pela má condução do
procedimento, não fosse o tempo decorrido.

Quanto ao entendimento da Auditoria, para conversão dos autos em Tomada de Contas


Especial - TCE, entendo que não há, no processo, os requisitos que permitem a adoção
desse rito especial.

O professor Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, por sua vez, conceitua a TCE da seguinte
forma:

“Tomada de Contas Especial é um processo de natureza administrativa que visa apurar


responsabilidade por omissão ou irregularidade no dever de prestar contas ou por dano
causado ao erário2.”

Dispõe o art. 62, da LOTCE, que a Tomada de Contas Especial visa precipuamente à
recomposição do dano causado ao erário, com imputação de débito aos responsáveis.
Nos incisos I a IV encontram-se elencados os motivos que dão ensejo à instauração de
TCE, senão vejamos:

Art. 62. A autoridade administrativa competente, sob pena de responsabilidade solidária,


deverá adotar providências para assegurar o respectivo ressarcimento e, não sendo

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possível depois de esgotadas todas as medidas ao seu alcance, instaurar tomada de


contas especial para apuração dos fatos, identificação dos responsáveis e quantificação
do dano, quando:

I – Houver omissão do dever de prestar contas;

II – não for comprovada a aplicação dos recursos repassados pelo Estado, na forma
prevista no inciso VII do art. 4º desta Lei;

III – Da ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos;

IV – Da prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de que resulte dano


ao erário.

Segundo o Tribunal de Contas da União3, é requisito essencial para a constituição de


processo de TCE a comprovação de ocorrência de dano consubstanciada na descrição
detalhada dos fatos, quantificação do débito, a identificação dos responsáveis e as
medidas administrativas adotadas para ressarcimento ao erário, já que a TCE constitui
medida de exceção.

Por outro lado, o art. 98, da LOTCE, dispõe que a conversão em TCE é admitida se
configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que
resulte dano ao erário. Não há nos autos evidências de ocorrência de atos de que
resulte prejuízo aos cofres públicos. No caso, está se falando em responsabilidades na
contratação direta sem licitação, não havendo evidências de dano ao erário em relação
a esse fato.

Deve-se acrescentar que a demora excessiva do processo reflete diretamente na


atividade persecutória e sancionatória desta Corte de Contas, dando ensejo, quase que
sempre, à prescrição da pretensão punitiva, cabendo ao Tribunal de Contas somente a
expedição de recomendações e, no máximo, determinações para evitar a reincidência.

Com efeito, diz o art. 107-A, da Lei estadual n.º 16.168/2007 que a pretensão punitiva do
Tribunal de Contas prescreve em 05 (cinco) anos, contados da data da autuação do feito
no Tribunal ou da data do fato. Diz ainda o §3º do mesmo artigo que a citação válida do
responsável interrompe a contagem do prazo prescricional. Por ser questão de ordem
pública, poderá ser a prescrição decretada de ofício pelo julgador, nos termos do §1º do
citado art. 107.

No caso em tela, conforme se verifica dos autos, a contratação da Prumus Construções


e Empreendimentos Ltda. ocorreu na data de 13/06/2002 (fls. TCE 0254/0257) e a
contratação da Sarkis Engenharia Ltda., na data de 15/04/2003 (fls. TCE 0259/0262). Ora,
verifica-se que as citações dos responsáveis pelas irregularidades nas “subcontratações”
ocorreram além do prazo prescricional de 05 (cinco) anos, veja-se: o sócio administrador
da empresa Sarkis Engenharia Ltda. foi citado em 31/01/2012 (fl. TCE 872) e o Presidente
da AGEHAB, à época dos fatos, Sr. Álvaro César Lourenço, citado em 21/10/2013. Nos
termos do art. 107-A da LOTCE, a prescrição deu-se ainda em abril de 2008, prazo
contado a partir da celebração da última subcontratação, realizada entre a AGEHAB e a
empresa Sarkis Engenharia Ltda..

Portanto, em decorrência da prescrição da pretensão punitiva desta Corte, deixo de

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aplicar as sanções previstas em lei, inclusive àquelas dos arts. 114 e 115, da LOTCE.

Nada impede que este Tribunal de Contas expeça determinações para fazer valer as
cautelas legais nas contratações que vierem a ser realizadas pelo jurisdicionado, sob
pena de incidência das sanções cabíveis.

De se registrar a informação constante dos autos de que cópia integral do processo


foi encaminhada ao parquet para instruir o Inquérito Civil Público n.º 006/2016 e que,
em atenção ao Ofício n.º 109/2018, de autoria da Promotora de Justiça Carmem Lúcia
Santana de Freitas, deve o Tribunal de Contas remeter ao Ministério Público Estadual a
cópia dos presentes autos, bem como da decisão adotada para o caso.

Por todo o exposto, apresento VOTO para:

1 - Julgar ilegais a subcontratação realizada entre a AGEHAB e a empresa Prumus


Construções e Empreendimentos Ltda., assim como a subcontratação realizada entre a
AGEHAB e a empresa Sarkis Engenharia Ltda.;

2 - Determinar à AGEHAB que:

2.1 - Adote, como regra, a instauração do devido procedimento licitatório para as


contratações de obras, serviços e fornecimentos, com observância da legislação
aplicável às sociedades de economia mista e empresas públicas, sob pena de incidência
das sanções cabíveis;

2.2 – Elabore os editais de licitação com todas as cláusulas necessárias à correta


execução do objeto, e, especialmente no que tange às subcontratações, que sejam
realizadas na forma da lei, fixando-se o limite máximo e razoável no edital, de modo a
evitar riscos para a Administração Pública;

2.3 – Restrinja a contratação para remanescente de obra, serviço ou fornecimento


apenas para os casos de execução de parcelas restantes de contrato rescindido;

2.4 – Instaure o devido procedimento administrativo, em tempo adequado, para apurar


indícios de irregularidades nos certames, bem como nas contratações realizadas, sob
pena de incidência das sanções devidas por omissão administrativa;

3 - Determinar a remessa de cópia integral dos presentes autos ao Ministério Público


Estadual, em atenção ao Ofício n.º 109/2018, de autoria da Promotora de Justiça Carmem
Lúcia Santana de Freitas;

4 – Determinar o arquivamento do presente feito, ante a ocorrência da prescrição da


pretensão punitiva, conforme previsão do art. 107-A, da Lei estadual nº 16.168/2007.

É como voto.”

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3. Acórdão nº 393/17 - Tribunal
Pleno – TCE/RN
Dispensa emergencial
irregular
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Acórdão nº 393/17 - Tribunal Pleno – TCE/RN – Dispensa emergencial irregular

O Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte se manifestou por meio do Acórdão
nº 393/17, sobre a contratação irregular, via dispensa de licitação, de serviços de divulgação do
Diário Oficial do Estado, de modo emergencial:

“EMENTA

Denuncia. Prestação de contas. Licitação. Dispensa irregular. Art. 24 da Lei nº 8.666/93.


Irregularidade formal. Desaprovação das contas com aplicação de multa

Vistos, relatados e discutidos estes autos de denúncia apresentada pela Empresa


LINDIART PUBLICAÇÕES LTDA, contra o Diretor Geral do Departamento Estadual de
Imprensa, tendo em vista possível ocorrência de irregularidade na contratação direta,
por dispensa de licitação, (art. 24, inc. IV, da Lei nº 8.666/93) de serviços de distribuição
do jornal “Diário Oficial do Estado”. ACORDAM os Conselheiros, nos termos do voto
proferido pelo Conselheiro Relator, julgar pela desaprovação das contas, na forma do
art. 78, incisos II e IV da Lei Complementar nº 121/94, Lei vigente à época dos fatos,
com aplicação de multa, na forma do art. 102, inciso II, letra “b” da citada lei, no valor de
R$ 1.000,00 (mil reais) ao Sr. Flávio Fernandes Lisboa - Diretor Geral do Departamento
Estadual de Imprensa-DEI, à época, pela irregularidade formal consubstanciada na
dispensa irregular de licitação, haja vista o não preenchimento dos requisitos previstos
no art. 24 da Lei nº 8.666/93. A(s) multa(s) imposta(s), por decisão deste Tribunal de
Contas do Estado, somente poderá(ão) ser quitada(s) mediante pagamento de guias
bancárias, conforme determina os arts. 3º e 4º da Resolução nº 013/2015 - TCE-RN.

(...)

FUNDAMENTAÇÃO

A análise dos autos revela que a matéria sob vergasta, cerne da Denúncia em questão,
tem como suporte uma suposta irregularidade na contratação direta de serviços de
distribuição do jornal “Diário Oficial do Estado”, por dispensa de licitação, com base
no art. 24, IV, da Lei de Licitações 2, que no decorrer da análise desta Casa de Contas,
restou comprovada a veracidade dos fatos denunciados, quando da inexistência da
comprovação das condições legais apresentadas, o que constitui irregularidade grave.

Antes de adentrar no mérito, necessário se faz destacar que a defesa e a documentação


acostada aos autos apresentada pelo Sr. Flávio Fernandes Lisboa - Diretor Geral do
Departamento Estadual de Imprensa-DEI, à época, pouco esclarecem os fatos, como
bem aduziu o Corpo Técnico desta Casa, em sendo assim acompanho o entendimento
da referida Assessoria Técnica, dada a ausência dos requisitos necessários a validar a
dispensa de licitação e o respectivo Contrato.

Cumpre ressaltar que a licitação consiste em um procedimento administrativo destinado


a garantir a observância ao princípio constitucional da isonomia e seleção da proposta
mais vantajosa para os interesses da Administração Pública.

A despeito da regra geral acima tratada, a legislação brasileira em determinados casos


faculta ao Administrador Público, a realização ou não do procedimento licitatório, haja

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vista razões de relevante interesse público e/ou outras circunstâncias expressamente


contempladas pela lei como ensejadoras de dispensa (art. 24 e incisos da Lei nº 8.666/93)
ou de inexigibilidade (Art. 25, caput e incisos da Lei nº 8.666/93).

Note que “a Constituição acolheu a presunção (absoluta) de que prévia licitação produz
a melhor contratação – entendida como aquela que assegura a maior vantagem possível
à Administração Pública, com observância do princípio da isonomia” 3, admitindo a
contratação direta apenas nos casos excepcionados na Lei 8.666/93, cuja aplicabilidade
não restou verificada no presente caso, conforme bem explicou o Órgão Técnico desta
Casa de Contas, senão vejamos: “posto que o gestor teve muito tempo para planejar
uma nova contratação, inclusive com deflagração de procedimento licitatório, fato este
que só não foi possível ante a sua desídia, uma vez que o contrato existente tinha como
prazo de extinção dezembro de 2003. Tal omissão afasta o pressuposto da situação
emergencial, constituindo-se esta no produto resultante da falta de atuação diligente do
gestor.”

Dessa forma, é oportuna a responsabilização do ordenador de despesa que agiu à


margem da legalidade ao ter dispensado a licitação, na forma do art. 24 e incisos da
Lei nº 8.666/93, alegando que o fez, tendo em vista a necessidade de se garantir a
distribuição dos jornais (Diários Oficiais) durante o período de tramite da licitação, sendo
essa a única saída viável, a contratação direta, uma vez que tal serviço é de execução
continuada e a não distribuição prejudicaria o bom andamento do serviço público, no
entanto tal entendimento infringiu, os ditames da Lei de Licitações, o qual deve ser
objeto de planejamento pelos gestores.

Em se falando em planejamento, ele é obrigatório ao administrador público, que tem que


prever o quanto vai ser efetivamente gasto no exercício para a execução de determinada
obra, ou a contratação de determinado serviço ou ainda a compra de determinados
produtos.

Além do que, o dever licitatório advém do comando normativo contido no art. 37, inciso
XXI, da Constituição Federal, que assim aduz:

“Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras


e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos
da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”

Sendo assim, constato que tal falha viola o princípio da legalidade, irregularidade suficiente
para macular a regularidade das contas examinadas, devendo ser aplicada multa ao
gestor responsável, na forma do art. 102, inciso II, letra “b”, § 1º da Lei Complementar nº
121/94.

Sollicita PRO | 16
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Quanto à remessa de cópias processuais ao Ministério Público Estadual, sugerida pelo


Parquet Especial, para fins de apuração da prática de ato de improbidade administrativa,
entendo desproporcional tal medida, uma vez não ter sido constatado nos autos dano
ao erário.

VOTO

Face ao exposto, VOTO pela desaprovação das contas, na forma do art. 78, incisos II e IV
da Lei Complementar nº 121/94, Lei vigente à época dos fatos, com aplicação de multa,
na forma do art. 102, inciso II, letra “b” da citada lei, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) ao
Sr. Flávio Fernandes Lisboa - Diretor Geral do Departamento Estadual de Imprensa- DEI,
à época, pela irregularidade formal consubstanciada na dispensa irregular de licitação,
haja vista o não preenchimento dos requisitos previstos no art. 24 da Lei nº 8.666/93.

A(s) multa(s) imposta(s), por decisão deste Tribunal de Contas do Estado, somente
poderá(ão) ser quitada(s) mediante pagamento de guias bancárias, conforme determina
os arts. 3º e 4º da Resolução nº 013/2015 - TCE-RN.

Sala das sessões, em

RENATO COSTA DIAS

Conselheiro Relator”

Sollicita PRO | 17
4. Contratação emergencial
segundo o TCE/SP
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Contratação emergencial segundo o TCE/SP

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo se manifestou em várias oportunidades sobre


requisitos para a contratação emergencial:

Processo nº 000174/002/09 – TCE/SP

“Não restou comprovado estado emergencial que fundamentasse a dispensa de


licitação (artigo 24, IV)". (...) mormente por ser notório que os serviços de transporte de
alunos são de caráter essencial, contínuo e de total previsibilidade, sendo certo que o
número de veículos necessários à realização de tal mister poderia ter sido calculado a
partir da matrícula dos alunos, que usualmente é feita no final do ano letivo anterior". (...)
"não se discute a precaução de o Prefeito eleito ter elementos concretos como o trajeto
e a fixação do tamanho das linhas em quilômetro rodado para proceder a um processo
licitatório condizente com a verdadeira necessidade do transporte escolar. O que não
se admite é a Administração valer-se de contratação direta reservada exclusivamente às
hipóteses de emergência real e calamidade pública como remédio legal à ineficiência
pontual da própria máquina administrativa”.

TC nº 002821/007/07 - TCE/SP

“prestação de serviços de preparo, nutrição, armazenamento, distribuição nos locais de


cPnsumo, logística, manutenção corretiva e preventiva dos equipamentos e utensílios
utilizados, com emprego de mão de obra e treinamento do pessoal, bem como o
fornecimento de todos os gêneros alimentícios e demais insumos utilizados, incluindo
a prestação de serviços de limpeza nas cozinhas das unidades escolares". (...) "o objeto
contratado é de natureza rotineira e habitual. Sendo previsível, deve ser planejada a sua
contratação com rigor. E realmente não se caracteriza nos autos situação imprevisível,
emergente, que justificasse ajuste com dispensa da licitação, exigida pelo artigo 37, XXI,
da Constituição e 2º da Lei nº 8.666/93". (...) "o que se evidencia, nitidamente, é a falta de
planejamento da Prefeitura, em antecipar as providências para a contratação mediante
regular licitação. Houve, de fato, desinteresse no cumprimento das normas legais e em
fazer prevalecer a exigência constitucional. A hipótese não é de emergência genuína,
mas, na expressão frequentemente utilizada, de emergência ‘fabricada’ pelo descaso da
Administração”.

TC nº 000470/007/09 - TCE/SP

“Não foi devidamente justificada a dispensa de licitação; a licitação não ocorreu em face
da ineficiência administrativa do Município, e não houve publicação de tais atos, em
afronta aos ditames legais". (...) "irregularidade da dispensa de licitação, do Contrato dela
decorrente, bem como dos Termos Aditivos, tendo em conta que não foi caracterizada
emergência, não tendo a Origem conseguido justificar a impossibilidade de instaurar
a necessária licitação, comprometendo toda a matéria". (...) "Tendo em vista que as
alegações apresentadas não foram suficientes para justificar a necessidade de contratar
serviços essenciais ao município, de natureza contínua e previsível, através de dispensa
de licitação, não restando, assim, comprovada a situação emergencial que motivou a
contratação em exame, acolho as manifestações desfavoráveis dos Órgãos Técnicos da
Casa e voto pela irregularidade da Dispensa de Licitação, dos contratos dela decorrentes,
bem como dos Termos Aditivos".

Sollicita PRO | 19
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Processo nº 000174/002/09 – TCE/SP

“Para se configurar a situação de emergência, é preciso certa dose de imprevisibilidade


e a existência de risco em potencial a pessoas ou coisas, que requerem urgência de
atendimento”.

Processo nº 000266/003/11 – TCE/SP

“Imprescindível para a configuração da hipótese de dispensa de licitação prevista no


inciso IV, artigo 24, da Lei nº 8.666/93, que a emergência não tenha sido provocada por
desídia administrativa, falta de planejamento ou má gestão dos responsáveis”.

TC-022924.989.20-5 – TCE/SP

“Contratações diretas, por dispensa ou inexigibilidade de licitação, devem se limitar aos


casos excepcionais, expressamente previstos em lei.

No caso em exame, não ficou comprovada a ocorrência de nenhuma situação inesperada


ou imprevisível, que amoldaria a situação à excepcionalidade prevista no inciso IV do
artigo 24 da Lei Federal nº 8.666/93.

Depreende-se, portanto, que a situação emergencial decorreu de falta de planejamento,


eficiência e celeridade da administração para organizar e efetivar um procedimento
licitatório para a satisfação do interesse público.

Nesses casos, já é pacífico o entendimento desta Corte, no sentido de que a emergência


decorrente de inércia da administração não se amolda à situação prevista no artigo 24,
IV, da Lei de Licitações.

Nesse sentido, as decisões proferidas nos TCs-7576.989.20-6 3 , 23539.989.19-4 4 ,


15691.989.19-8 5 e 17470.989.19-5 6.

Diante do exposto, meu voto é pelo não provimento do recurso.”

Processo nº 000174/002/09 – TCE/SP

“A ausência de licitação não afasta o dever de obtenção de vantajosidade para a


Administração, a teor do contido no caput do artigo 3º da Lei nº 8.666/93, em combinação
com o inciso III do parágrafo único do artigo 26 da mesma lei, sendo imprescindível a
justificativa do preço, de forma cabal e documentalmente demonstrada”.

Sollicita PRO | 20
5. Qualificação técnica operacional
e profissional
segundo o TCE/SP
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Qualificação técnica operacional e profissional segundo o TCE/SP

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo já sumulou entendimento sobre exigências de


qualificação técnica operacional e profissional:

Súmula nº 23 – TCE/SP

"SÚMULA Nº 23 - Em procedimento licitatório, a comprovação da capacidade técnico-


profissional, para obras e serviços de engenharia, se aperfeiçoará mediante a
apresentação da CAT (Certidão de Acervo Técnico), devendo o edital fixar as parcelas
de maior relevância, vedada a imposição de quantitativos mínimos ou prazos máximos."

Súmula 24 – TCE/SP

"SÚMULA Nº 24 - Em procedimento licitatório, é possível a exigência de comprovação da


qualificação operacional, nos termos do inciso II, do artigo 30 da Lei Federal nº 8.666/93,
a ser realizada mediante apresentação de atestados fornecidos por pessoas jurídicas
de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais
competentes, admitindo-se a imposição de quantitativos mínimos de prova de execução
de serviços similares, desde que em quantidades razoáveis, assim consideradas 50%
a 60% da execução pretendida, ou outro percentual que venha devida e tecnicamente
justificado."

TC-018973/026/09 – TCE/SP

“A respeito do tema, recordo que esta Corte sedimentou entendimento reproduzido nos
termos do enunciado n.º 24 da Súmula de jurisprudência, no sentido de que a qualificação
operacional deve ser comprovada “mediante apresentação de atestados fornecidos por
pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades
profissionais competentes...”, conforme locução do próprio § 1º, do artigo 30 da Lei n.º
8666/93, desde que referidas instituições eventualmente admitam essa averbação em
nome da empresa, o que até aqui não ocorre para os serviços e obras de engenharia.”

TC-15054.989.20-7 – TCE/SP

"Conforme consta expressamente do voto condutor da decisão, o registro do atestado


de capacitação técnica operacional na entidade profissional competente que, no caso
específico, é o Conselho Regional de Engenharia, se fundamenta do entendimento
jurisprudencial desta Corte, consolidado na Súmula 24 de nosso repertório:

SÚMULA Nº 24 - Em procedimento licitatório, é possível a exigência de comprovação da


qualificação operacional, nos termos do inciso II, do artigo 30 da Lei Federal nº 8.666/93,
a ser realizada mediante apresentação de atestados fornecidos por pessoas jurídicas
de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais
competentes, admitindo-se a imposição de quantitativos mínimos de prova de execução
de serviços similares, desde que em quantidades razoáveis, assim consideradas 50%
a 60% da execução pretendida, ou outro percentual que venha devida e tecnicamente
justificado.

Com efeito, nos termos do referido entendimento, que guarda conformidade com o

Sollicita PRO | 22
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

parágrafo 1º do artigo 30 da Lei nº 8666/93, a formalidade do registro busca conferir


maior legitimidade ao documento, tendo também sido citados no voto embargado
precedentes que ilustram essa compreensão. ()"

Sollicita PRO | 23
6. Acórdão nº 29/17 – Primeira
Câmara – TCE/MT
Gestão de Contratos
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Acórdão nº 29/17 – Primeira Câmara – TCE/MT – Gestão de Contratos

O Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso se manifestou por meio do Acórdão nº 29/17,
sobre aspectos da gestão contratual:

ACÓRDÃO Nº 29/2017 – PC

RESUMO

Câmara Municipal de Sinop. Contas anuais de gestão do exercício de 2016. Regulares,


com recomendações. Aplicação de multas.

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo nº 16.414-3/2017.

ACORDAM os Senhores Conselheiros do Tribunal de Contas, nos termos dos artigos


1º, II, 21, § 1º, e 22, § 1º, da Lei Complementar nº 269/2007 (Lei Orgânica do Tribunal
de Contas do Estado de Mato Grosso), c/c os artigos 30-E, I, e 193, § 2º, da Resolução
nº 14/2007 (Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso), por
unanimidade, acompanhando o voto do Relator e de acordo com o Parecer nº 6.077/2017
do Ministério Público de Contas, em julgar REGULARES, com recomendações, as contas
anuais de gestão da Câmara Municipal de Sinop, relativas ao exercício de 2016, gestão
dos Srs. Carlos Hailton Ribeiro Leite (período de 15-8 a 5-9-2016), Roger Schallenberger
(período de 6-9 a 2-10- 2016) e Mauro Sérgio Garcia (período de 1º-1 a 14-8 e 3-10 a 31-12-
2016), sendo os Srs. Débora Cristina Malagutti Oliveira - servidora lotada na Secretaria
de Assistência Social, Trabalho e Habitação e fiscal de contrato à época, esses dois
últimos representados pelos procuradores Flávio Américo Vieira – OAB/MT nº 8.726 e
Ledocir Anholeto – OAB/MT nº 7.502-B, e Alisson Bragagnolo – presidente da Comissão
de Licitação à época; recomendando à atual gestão que:

a) formalize no processo administrativo detalhado para a realização de termos aditivos


aos contratos quando impliquem em alteração quantitativa deste, com a exposição
adequada dos motivos para acréscimo ou diminuição do valor contratual, em razão
de alterações na dimensão ou quantidade do objeto, em atendimento ao artigo 65, I,
“b”, da Lei nº 8.666/1993; e, b) adote providências no sentido de orientar o servidor
responsável pela fiscalização de contratos para que a exerça mediante elaboração de
relatórios minuciosos, consoante preconiza o artigo 67, caput, da Lei nº 8.666/1993, não
sendo suficiente para tanto a mera apresentação de declaração do contratado acerca
a execução do serviço; e, por fim, nos termos do artigo 75, III, da Lei Complementar
nº 269/2007, aplicar à Sra. Débora Cristina Malagutti Oliveira (CPF nº 710.849.081-15) a
multa de 10 UPFs/MT, em razão da ausência de comprovação quanto à efetiva realização
de acompanhamento e fiscalização do Contrato nº 13/2016; e, aplicar ao Sr. Mauro
Sérgio Garcia (CPF nº 345.787.491-34) a multa de 10 UPFs/MT, em razão da ausência de
formalização no processo administrativo dos motivos da realização do valor aditivo ao
Contrato nº 13/2016. O responsável por estas contas deverá ficar advertido no sentido de
que a reincidência nas impropriedades e falhas apontadas nos autos poderá acarretar a
irregularidades das contas de gestão referentes ao exercício de 2017, sem prejuízo das
demais sanções cabíveis, nos termos do artigo 194, § 1º, da Resolução nº 14/2007. As
multas deverão ser recolhidas com recursos próprios, no prazo de 60 dias. Os boletos
bancários para recolhimento das multas estão disponíveis no endereço eletrônico deste
Tribunal de Contas – http://www.tce.mt.gov.br/fundecontas.

Sollicita PRO | 25
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Relatou a presente decisão o Conselheiro Substituto LUIZ CARLOS PEREIRA (Portaria nº


009/2017).

(...)

RAZÕES DO VOTO

A partir do espectro de amostragem da auditoria realizada pela Equipe Técnica deste


E. Tribunal nas contas em apreço, não é possível entrever irregularidades nos Limites
Constitucionais, Gestão Patrimonial, Planejamento e Orçamento, Convênios, Pessoal,
RPPS, Prestação de Contas e Diversos, na forma prevista na Resolução Normativa nº
17/2010/TCEMT.

Contudo, as Contas em apreço, isoladamente consideradas, apresentam, segundo


apontamento técnico, um rol de 04 (quatro) irregularidades, sendo 01 (uma) delas
perpetrada no âmbito da gestão licitatória (item 4.1 do RTP); 01 (uma) delas perpetrada no
âmbito da gestão de prestação de contas (item 2.1 do RTP); 02 (duas) delas perpetradas
no âmbito da gestão de contratos (itens 1.1 e 3.1 do RTP).

Deste total, a Equipe de Auditoria concluiu que 02 (duas) delas não restaram
derradeiramente configuradas (Relatório Técnico de Defesa – Documento Digital nº
313813/2017).

Delimitado, pois, o objeto cognitivo das vertentes contas, passo, à luz do que dispõe
o artigo 70 da CF/88, à apreciação da legalidade, legitimidade e economicidade dos
atos de gestão realizados no exercício de 2016, com vistas ao julgamento das vertentes
contas, esclareço que a análise que segue não obedecerá à ordem de apresentação
contida nos Relatórios Técnico Preliminar e de Defesa, mas encontra-se organizada por
assuntos afins, a saber: (1) Contratos, (2) Prestação de Contas, (3) Licitação.

1. CONTRATOS (Itens 1.1 e 3.1)

Responsável: Sra. Débora Cristina Malagutti Oliveira – Fiscal de Contrato - 16/05/2016 a


20/12/2017

HB15 CONTRATOS_GRAVE_15. Ineficiência no acompanhamento e fiscalização da


execução contratual pelo representante da Administração especialmente designado
(art. 67 da Lei 8.666/1993).

1.1) Não houve acompanhamento eficiente na execução dos Contratos 01/2015 e


13/2016 firmados entre a Câmara Municipal de Sinop e a Empresa S.F. Severo - Selva
comunicações. - Tópico - 3.4. Contratos Incialmente, cumpre esclarecer que, em consulta
ao Sistema Aplic e ao Portal da Transparência do site da Câmara Municipal1, verifique
que o Contrato nº 01/2015 não versa sobre a contratação da empresa S.F. Severo para
a prestação de serviço de publicidade e propaganda, conforme registrado no Relatório
Técnico da Secex.

No caso, constatei o referido Contrato foi celebrado com Leonardo Izidoro da Silva e Cia
Ltda-ME, cujo objeto foi o fornecimento de refeições para atender a necessidades da
Câmara.

Sollicita PRO | 26
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Além disso, observei que, de acordo com a cláusula décima segunda do Contrato
nº 01/2015, o servidor designado para realizar a fiscalização e acompanhamento da
execução do objeto foi o Sr. Ricardo Michaliszyn e não a Sra. Débora Cristina Malagutti
Oliveira, que foi apontada pela Equipe Técnica como sendo a Fiscal responsável.

Diante do exposto, extingo a presente irregularidade, sem julgamento de mérito,


estritamente no que se refere a ausência de acompanhamento e fiscalização da
Sra. Débora Cristina Malagutti Oliveira com relação ao Contrato nº 01/2015, face o
reconhecimento ex offício da incompetência absoluta, para processar e julgar fatos e
atos que não lhes foram atribuídos.

Por outro lado, passo a regular apreciação do Contrato nº 13/2016, pois, de acordo com
a cláusula nona desse instrumento, de fato, a servidora Débora Cristina Malagutti foi a
servidora designada para a fiscalização dos serviços contratados.

No caso em apreço, entendo que a Fiscal do Contrato não logrou êxito em comprovar
a alegada realização do acompanhamento e da fiscalização da execução dos serviços
de publicidade pela empresa S.F Severo – Selva Comunicações, relativos ao Contrato
nº 13/2016.

Compulsando os autos, verifico que a Fiscal designada não juntou qualquer documento
que demonstre o registro de falhas ou defeitos verificados na execução dele, nem mesmo
apresentou qualquer outra anotação de informações contemporâneas à execução do
objeto.

Em consulta ao Sistema Aplic, constatei que foram encaminhados dois atestados


de recebimento de serviços relativos ao Contrato nº 13/2016, assinados pela Fiscal
Responsável, Sra. Débora Cristina Malagutti, nas datas de 31/08/2016 e 22/12/2016.

No entanto, entendo que tais documentos não se confundem com os relatórios que
deveriam ter sido produzidos pela representante da Administração e, assim, não a
eximem do dever de evidenciar o efetivo acompanhamento e fiscalização da execução
contratual.

Ainda, como bem salientado pelo Unidade Técnica, as declarações de execução


dos serviços assinadas pelo prestador e as imagens das campanhas de publicidade
colacionadas pela defesa, não constituem prova quanto à fiscalização dos serviços, mas
somente quanto a execução deles.

O artigo 67 da Lei 8666/93 determina, expressamente, que a execução de contrato deve


ser acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração especialmente
designado.

Acerca do dever da Administração com relação à fiscalização de seus contratos,


Marçal Justen Filho ensina, em sua obra Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos2:

Compete à Administração designar um agente seu para acompanhar diretamente a


atividade do outro contratante. O dispositivo deve ser interpretado no sentido de que
a fiscalização pela Administração não é mera faculdade assegurada a ela. Trata-se de
um dever, a ser exercitado para melhor realizar os interesses fundamentais. Parte-se do

Sollicita PRO | 27
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

pressuposto, inclusive, de que a fiscalização induz o contratado a executar de modo


mais perfeito os deveres a ele impostos.

A relevância do registro do acompanhamento do contrato pela Administração é destacada


pela jurisprudência do Tribunal de Contas da União, que possui entendimento assente
de que essa fiscalização constitui condição essencial a liquidação da despesa para a
verificação do direito do credor, in verbis:

O registro da fiscalização, na forma prescrita em lei, não é ato discricionário. É elemento


essencial que autoriza as ações subsequentes e informa os procedimentos de liquidação
e pagamento dos serviços. É controle fundamental que a administração exerce sobre o
contratado. Propiciará aos gestores informações sobre o cumprimento do cronograma
das obras e conformidade da quantidade e qualidade contratadas e executadas.

Não há nenhuma inovação na exigência do acompanhamento da execução contratual.


Inicialmente previsto no art. 57 do Decreto-Lei 2.300/1986, revogado pela Lei 8666/93,
que manteve a exigência em seu art. 67, esse registro é condição essencial à liquidação
da despesa, para verificação do direito do credor, conforme dispõe o art. 63, §2°, inciso
III, da Lei 4320/64. A falta desse registro, desse acompanhamento pari passu, propicia
efetivamente possibilidade de lesão ao erário (...) é passível de multa ao Responsável por
fiscalização de obras que não cumpra as atribuições, previstas no parágrafo único do art.
67 da Lei 8666/93' (Acórdão n° 226/2009. Plenário, rel. Min Walton Alencar Rodrigues).

Assim, considerando que a Sra. Débora Cristina Malagutti Oliveira era a fiscal
regularmente designada no Contrato nº 13/2016 e que não houve a comprovação do
efetivo acompanhamento e a fiscalização por parte desta, entendo restar demonstrado
o nexo de causalidade entre a conduta omissiva da Fiscal de Contrato e a ocorrência da
irregularidade grave classificada como HB15, ora configurada.

Diante do exposto, aplico multa de 10 UPF´s/MT à Fiscal do Contrato nº 13/2016, Sra.


Débora Cristina Malagutti Oliveira, nos termos do art. 75, III, da Lei Orgânica do TCE/MT
c/c art. 289, II, do Regimento Interno do TCE/MT.

Além disso, expeço determinação à atual gestão que adote providências no sentido
de orientar o servidor responsável pela fiscalização de contratos para que a exerça
mediante elaboração de relatórios minuciosos, consoante preconiza o art. 67, caput, da
Lei nº 8.666/1993, não sendo suficiente para tanto a mera apresentação de declaração
do contratado acerca a execução do serviço.

Responsável: Sr. Mauro Sérgio Garcia – Ordenador de Despesas – 03/10/2016 a


31/12/2016

HB10 CONTRATOS_GRAVE_10. Ocorrência de irregularidades nas alterações e/ou


atualizações do valor contratual (art. 57, art. 65 c/c arts.40, XI, 55, III da Lei 8.666/1993).

3.1) Não houve justificativa plausível para acréscimo do serviço, para o preço utilizado e
quais serviços foram acrescidos no termo aditivo assinado em 15/12/2016. - Tópico - 3.4.
Contratos

Compulsando os autos, verifico que o Gestor não apresentou documento que


formalizassem a justificativa prévia, detalhada e suficiente para respaldar o 1º Termo

Sollicita PRO | 28
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Aditivo ao Contrato nº 13/2016, no valor de R$ 95.000,00.

O ex-Gestor não trouxe aos autos cópia do alegado requerimento do Departamento de


Comunicação da Câmara Municipal, com informações específicas que fundamentassem
a necessidade de acréscimos de serviços de publicidade.

Em consulta ao 1º Termo Aditivo encaminhado via Sistema Aplic, verifico que a Cláusula
Primeira atinente ao objeto, também fez referência à justificativa do Departamento de
Comunicação. No entanto, esta justificativa não se encontra anexa à minuta do referido
Termo Aditivo.

O Defendente também não apresentou cópia do alegado parecer jurídico que subsidiou
o processo legislativo do projeto de lei que deu origem à Lei nº 114/2016, que autorizou
o Poder Executivo a abrir crédito adicional suplementar destinados as despesas com
serviços de publicidade da Câmara Municipal de Sinop.

O artigo 65, inciso I, alínea b, da Lei de Licitações prevê a possibilidade de alteração


quantitativa do contrato, que envolve acréscimo ou diminuição do valor contratual em
razão de alterações na dimensão ou quantidade do objeto.

Acerca da necessidade de formalização de relatório contendo a justificativa dos termos


aditivos aos contratos, a jurisprudência do Tribunal de Contas da União já se posicionou,
nos seguintes termos:

Terceirização - aditivos x situação fática

TCU decidiu: “9.3.4. na execução de contratos de serviços terceirizados de mão-de-obra,


proceda à formalização de aditivos sempre que a situação fática demandar aumento ou
redução do quantitativo de postos e/ou de prepostos.”

(TCU. Processo nº TC-006.052/2005-5. Acórdão nº 2347/2006 – Plenário)

Termo aditivo - alteração de valor do contrato

TCU decidiu: “1.1.2.1. procure formalizar, em futuras contratações, termo aditivo quando
restar necessária alteração de valor do contrato, em decorrência de acréscimo ou
diminuição quantitativa de seu objeto”. (TCU. Processo nº TC-012.573/2005-8. Acórdão
nº 736/2007 - Plenário)

A irregularidade consistiu na ausência de formalização no processo administrativo e dos


motivos da realização do aditivo contratual. Essa falha foi agravada pelo fato de que
os aditivos foram firmados cerca de nove dias depois da contratação, o que evidencia
falhas no planejamento da licitação. O seguinte trecho do voto condutor da decisão
impugnada é elucidativo a respeito.

Assim, diante ausência de formalização no processo administrativo dos motivos


da realização do aditivo ao Contrato nº 13/2016, entendo configurada a presente a
irregularidade grave classificada como HB10.

Ademais, considerando que o Sr. Mauro Sérgio Garcia foi o Ordenador de Despesas que
assinou o referido Termo Aditivo, sem que houvesse a exposição dos motivos para o

Sollicita PRO | 29
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

acréscimo de valor no processo administrativo relativo ao contrato, entendo configurado


o nexo de causalidade entre a conduta do agente e a irregularidade configurada, razão
pela qual aplico de multa de 10 UPF´s/MT ao responsável, nos termos do art. 75, III, da
Lei Orgânica do TCE/MT c/c art. 289, II, do Regimento Interno do TCE/MT.

Além disso, expeço determinação à atual gestão que formalize no processo administrativo
detalhados para a realização de termos aditivos aos contratos quando impliquem em
alteração quantitativa deste, com a exposição adequada dos motivos para acréscimo ou
diminuição do valor contratual, em razão de alterações na dimensão ou quantidade do
objeto, em atendimento ao artigo 65, inciso I, alínea b, da Lei nº 8.666/1993.

2. PRESTAÇÃO DE CONTAS (Item 2.1)

Responsável: Sr. Mauro Sérgio Garcia – Ordenador de Despesas – 01/01/2016 a


14/08/2016

MB99 PRESTAÇÃO DE CONTAS_GRAVE_99. Irregularidade referente à Prestação de


Contas, não contemplada em classificação específica na Resolução Normativa nº 17/2010
– TCE-MT.

2.1) Não foram encaminhadas ao Sistema Aplic as normas de rotinas internas e


procedimentos de controle dos sistemas administrativos que compõem a SCI da Câmara
Municipal de Sinop. - Tópico - 3.9. Sistema de Controle Interno

A partir da consulta ao Sistema Aplic, módulo do exercício de 2015, verifica-se que as


normas de rotinas internas e procedimentos de controle que compõem o SCI, de fato,
foram enviadas a este Tribunal. Confira-se:

De acordo com o Anexo I do Leiaute do Sistema Aplic/2016, na carga mensal devem ser
enviadas todas as alterações e complementações efetuadas em normas já existentes3.

Assim, como o Gestor informou que não houve modificação das normas encaminhadas
no exercício anterior, entendo não configurada a presente irregularidade.

3. LICITAÇÃO (Item 4.1)

Responsáveis: Sr. Mauro Sérgio Garcia – Ordenador de Despesas – 01/01/2016 a


14/08/2016 e Sr. Alisson Bragagnolo – Presidente da Comissão de Licitação – 01/01/2016
a 31/12/2016

Sollicita PRO | 30
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

GB15 LICITAÇÃO_GRAVE_15. Especificação imprecisa e/ou insuficiente do objeto da


licitação. (art. 3º, § 1º, I, c/c caput do art. 14 e art. 40, § 2º, IV, da Lei 8.666/1993; art.40,I,
da Lei 8.666/1993; Art. 3º, II, da Lei 10.520/2002; Súmula TCU nº 177).

4.1) Foram constatadas especificações imprecisas e/ou insuficientes do objeto da


Tomada de Preços 01/2016 referentes ao objeto licitado, aos critérios de pontuação e
nas especificações do briefing. - Tópico – 3.3. Licitações e contratações diretas

No caso dos autos, entendo superada a controvérsia levantada pela Secex


consubstanciada no fato de que o objeto da comunicação descrito briefing, “Despertar
a empatia da população para a doação de sangue (...)” (item 4, do Anexo VII), não se
coadunava com o objeto incial descrito do Edital “Contratação de empresa de publicidade
e propaganda para a criação e divulgação dos trabalhos institucionais e legislativos da
Câmara Municipal”. Explico.

Como bem observado pela Secex, o item 5 do briefing (Anexo VII do Edital), de fato,
contêm especificações suficientes acerca o trabalho publicitário a ser executado, ou
seja, a divulgação dos trabalhos institucionais do Órgão (doc. nº 270281/2017, fls. 81/90),
Confira-se:

5. A campanha: Promover a doação de Sangue, a campanha deve ter o tom de


sensibilização, focando pessoas fisicamente ativas devendo despertar a consciência da
comunidade, mostrando como se pode ajudando a salvar vidas através da doação de
sangue.

A campanha deverá mostrar dados estatísticos atuais da realidade da doação de sangue


no município, informar e orientar o processo de doação, bem como a importância do ato
solidário.

5.1 Objetivo da Comunicação: Incentivar a doação de sangue e esclarecer que os projetos


recebem o apoio dos vereadores através das votações.

5.2 Expectativa da Campanha: Peças que convidem a população a participar dos debates
no Legislativo, e apresentem a importância da Câmara de Vereadores nas decisões
que envolvem a cidade. Além disso, devem lembrar à população sobre as funções dos
vereadores, que são representantes da comunidade.

5.3 Público Alvo: População do município de Sinop, de todos os bairros e regiões e


classes sociais.

5.4 Período de Veiculação: 30 dias.

5.5 Abrangência: Local.

5.6 Verba: R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

5.7 Mídias: Elementos que devem ser utilizados para a composição do trabalho:

a) anúncio institucional de meia página para jornal modelo standard;

b) anúncio institucional de um Banner – de 468x60 pixel – em formato gif com no Máximo

Sollicita PRO | 31
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

4 telas;

c) roteiro para anúncio institucional de rádio, com duração de 30” (trinta segundos),
digitadas em fonte de corpo 12, fonte Times, com espaçamento de entrelinhas simples,
em papel tamanho A4 branco;

d) roteiro para anúncio institucional de VT para televisão, de 30” (trinta segundos)


digitadas em fonte de corpo 12, fonte Times, com espaçamento de entrelinhas simples,
em papel tamanho A4 branco.

O inciso II do artigo 6º da Lei nº 12.232/2010⁴, dispõe que o briefing de comunicação


deve conter informações precisas e claras como, objetivo, público-alvo e valor estimado
de investimento, entre outros, de modo que tais informações sejam suficientes para
que as agências interessadas elaborem suas propostas de divulgação. Sendo assim,
entendo que as especificações explicitadas no item 5 do briefing (Anexo VII do Edital),
correspondem adequadamente ao objeto inicial descrito do Edital, relativo à contratação
de empresa de publicidade e propaganda para criação e divulgação dos trabalhos da
Câmara Municipal.

Quanto ao critério de avaliação, também entendo que restou comprovado que as


descrições sobre a atribuição de pontos contida no “item 10.3 –

Ideia criativa” do Edital foram devidamente complementadas, conforme “Aviso de


Retificação e Prorrogação de Prazo” publicado em 05/02/2016, no Jornal da AMM,
edição nº 2.409⁵ Confira-se:

Sollicita PRO | 32
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Pelo exposto, entendo não configurada a presente irregularidade classificada como


GB15.

4. DA ANÁLISE GLOBAL DAS CONTAS DE GESTÃO

Das informações que constam no Relatório Técnico, destaco que restou demonstrado
o equilíbrio financeiro e orçamentário do jurisdicionado, no exercício de 2016, na
medida em que orçamento inicial previsto para a Câmara Municipal de Sinop foi de R$
10.778.400,00, sendo efetivamente recebido o valor de R$ 10.671.797,61 e o gasto total
das despesas, incluídos os subsídios dos vereadores e excluídos os gastos com inativos,
foi de R$ 10.671.797,61, correspondentes a 5,59% da receita base de R$ 190.626.728,75,
estando de acordo com o limite constitucional de 6% estabelecido no artigo 29-A da
Constituição Federal.

A despesa com folha de pagamento da Câmara Municipal, incluídos os subsídios de


seus vereadores, foi de R$ 7.078.190,57, correspondendos a 66,32% da sua receita
arrecadada de R$ 10.671.797,61, não ultrapassando o limite de 70% de sua receita,
conforme estabelecido no §1° do artigo 29-A da Constituição Federal e de acordo com a
Resolução Consulta nº 9/2014 – TP.

A despesa com pessoal da Câmara Municipal totalizou o montante de R$ 7.078.190,57,


correspondentes a 2,18% da RCL, no valor de R$ 323.637.017,28, assegurando o
cumprimento do limite máximo de 6% estabelecido no artigo 20, III, a, da LRF.

Os subsídios dos vereadores da Câmara Municipal de Sinop, fixado pela Lei nº 1579/2011,
no montante de R$ 9.405,67 para os vereadores e R$ 10.020,00 para o Presidente, não
excederam o percentual de 50% do subsídio do Deputado Estadual (R$ 25.300,00),

Sollicita PRO | 33
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

conforme dispõe o inciso VI do artigo 29 da Constituição Federal.

Ademais, em que pese a Secex tenha afirmado em seu Relatório Preliminar que não
foi possível avaliar a gestão de Restos a Pagar realizada, verifiquei que, em consulta
ao Sistema Aplic e ao Demonstrativo da Dívida Flutuante do ente, houve a inscrição
do valor de R$ 2.500,00 na modalidade não processados. Lado outro, não houve a
qualquer baixa deste valor, seja por cancelamento ou pagamento. Confira-se:

Sollicita PRO | 34
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Todavia, numa análise global, os aspectos positivos da gestão demonstram que o


responsável pela Câmara Municipal de Sinop, no exercício de 2016, observou os ditames
constitucionais e legais que regulam sua atividade administrativa.

O artigo 192 do Resolução Normativa nº 17/2010 dispõe que as contas serão julgadas
regulares quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos
contábeis, a legalidade, legitimidade, economicidade e eficácia dos atos de gestão do
responsável, assim como o atendimento das metas e objetivos previstos nos instrumentos
de planejamento.

Assim, após análise dos presentes autos, acompanho o entendimento do Ministério


Público de Contas e concluo pela regularidade das Contas da Câmara Municipal de
Sinop, relativas ao exercício de 2016, sob a responsabilidade do Sr. Mauro Sérgio Garcia
– ex-Presidente da Câmara Municipal, nos termos do artigo 192 da Resolução Normativa
nº 17/2010.

Ressalto, contudo, que por ter a auditoria das contas se baseado em exames documentais
por amostragem, a quitação não afasta eventuais processamentos de Denúncias,
Representações ou outros processos de Auditoria, referentes a atos de gestão que não
foram analisadas nestes autos, pertinentes ao exercício 2016, da Defensoria Pública do
Estado de Mato Grosso.

5. DO VOTO

Diante do exposto, com fulcro no art. 47, inciso II c/c o art. 212 da Constituição Estadual, no
art.1°, inciso II, §1° c/c o art. 20 da Lei Complementar n° 269/2007 e no art. 192, parágrafo
único, da Resolução Normativa n° 14/2007, ACOLHO o Parecer Ministerial nº 6077/2017,
da lavra do Procurador de Contas Alisson Carvalho de Alencar, e VOTO no sentido de:

I - JULGAR REGULARES COM RECOMENDAÇÕES E APLICAÇÃO DE MULTAS, as Contas


Anuais de Gestão da Câmara Municipal de Sinop, referentes ao exercício de 2016, sob a
responsabilidade do Sr. Mauro Sérgio Garcia – ex-Presidente da Câmara Municipal;

II - APLICAR multa à Sra. Débora Cristina Malagutti Oliveira, Fiscal de Contrato, no valor
total de 10 UPFs/MT, nos termos do art. 75, III, da Lei Orgânica do TCE/MT c/c art. 289,
II, do Regimento Interno do TCE/MT, em razão da ausência de comprovação quanto a
efetiva realização de acompanhamento e fiscalização do Contrato nº 13/2016;

III - APLICAR multa ao Sr. Mauro Sérgio Garcia, ex-Presidente da Câmara Municipal, no
valor total de 10 UPFs/MT, nos termos do art. 75, III, da Lei Orgânica do TCE/MT c/c
art. 289, II, do Regimento Interno do TCE/MT, em razão da ausência de formalização
no processo administrativo dos motivos da realização do valor aditivo ao Contrato nº
13/2016;

IV - RECOMENDAR à atual gestão que:

a) formalize no processo administrativo detalhados para a realização de termos aditivos


aos contratos quando impliquem em alteração quantitativa deste, com a exposição
adequada dos motivos para acréscimo ou diminuição do valor contratual, em razão de
alterações na dimensão ou quantidade do objeto, em atendimento ao artigo 65, inciso I,
alínea b, da Lei nº 8.666/1993.

Sollicita PRO | 35
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

b) adote providências no sentido de orientar o servidor responsável pela fiscalização de


contratos para que a exerça mediante elaboração de relatórios minuciosos, consoante
preconiza o art. 67, caput, da Lei nº 8.666/1993, não sendo suficiente para tanto a mera
apresentação de declaração do contratado acerca a execução do serviço;

Advirto ao responsável da unidade que a reincidência nas impropriedades e falhas


apontadas poderão acarretar a irregularidades das contas de gestão referentes aos
exercício de 2017, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, nos termos do art. 194,§ 1º,
do Regimento Interno do TCE/MT (Resolução nº 14/07).

Advirto, ainda, que as sanções impostas deverão ser recolhidas com recursos próprios
no prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da publicação desta decisão,
condicionando a quitação ao envio a este Tribunal de documentos comprobatórios de
seus recolhimentos dentro desse mesmo prazo.

Por derradeiro, decorrido o prazo sem a devida comprovação dos recolhimentos das
sanções ou interposição de recurso, ficam os responsáveis automaticamente constituídos
em débito perante o Tribunal de Contas do Estado, devendo a Subsecretaria Geral
de Emissão de Certidões e Controle de Sanções proceder à inscrição no cadastro de
inadimplentes deste Tribunal, nos termos do artigo 76, § 3º, da Lei Complementar n.
269/2007 e artigo 294, caput e parágrafos, da Resolução n. 14/2007.

É como voto.

Tribunal de Contas, Cuiabá, 05 de dezembro de 2017.

LUIZ CARLOS PEREIRA⁶

Conselheiro Substituto”

Sollicita PRO | 36
7. Acórdão nº 1863/21 - Tribunal
Pleno – TCE/PR
Responsabilidade do
parecerista
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Acórdão nº 1863/21 - Tribunal Pleno – TCE/PR – Responsabilidade do parecerista

O Tribunal de Contas do Estado do Paraná, se manifestou por meio do Acórdão nº 1863/21,


sobre a responsabilidade do advogado parecerista:

2. FUNDAMENTAÇÃO

Insurge-se o recorrente, especificamente acerca do item 08 do

Acórdão nº 3806/2- da Segunda Câmara, que considerou irregular a contratação havida


no processo de licitação Convite nº 1/2009, cujo objeto foi a aquisição de kit escolar
para atender ao Departamento de Educação, material de expediente e de limpeza
para atender a diversos departamentos da Administração, no valor de R$ 78.539,61 e a
empresa contratada foi COPROPEL PAPALARIA E GRÁFICA LTDA – ME.

O Relatório de Inspeção evidenciou que não consta do processo licitatório a estimativa


da quantidade de estudantes e de órgãos, relativos à demanda do material escolar. A
equipe também constatou que as empresas que participaram do certamente possuem
registro cadastral no mesmo endereço e os sobrenomes dos empresários participantes
indicam parentesco (página 13, Acórdão nº 3806/20-S2C).

O Recorrente sustenta que:

a) a lei 8.666/93 não exige para carta convite a apresentação de projeto básico ou termo
de referências para aquisição de bens. Porém, a Secretaria de Educação teria feito o
estudo prévio da quantidade de material que deveria ser adquirido, fixando o preço com
fundamento na média dos 3 (três) orçamentos adquiridos com fornecedores locais.

b) Não competia à comissão de licitações ou à assessoria jurídica inovar das restrições


de participação do certame para evitar a coincidência de sobrenomes e endereços entre
os sócios, uma vez que esta vedação não está descrita no Art. 9º da Lei 8.666/93. Não
se podendo presumir que qualquer parentesco tenha prejudicado a concorrência.

A peça recursal (peça 132) não aduz fatos novos. Os argumentos esboçados pelo
recorrente foram refutados durante toda a instrução processual e no Acórdão nº 3806/20
-S2C.

Como bem sustentou a Instrução nº 931/21 da Coordenadoria de Gestão Municipal,


o exame dos autos (peça 42) não demonstra que a Secretaria de Educação tenha
realizado estudo prévio acerca dos produtos que deveriam ser adquiridos, constam dos
autos apenas orçamentos. No caso, a estimativa de quantitativo de kits e materiais era
determinante para a escolha da modalidade e fixação do preço máximo.

Além disso, o inciso II, § 7º do Art. 15 da Lei 8.666/93 é claro quanto a necessidade de
estimativa de quantitativos para compras:

“ Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:

§ 7º Nas compras deverão ser observadas, ainda:

Sollicita PRO | 38
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

II – a definição das unidades e das quantidades a serem adquiridas em função do


consumo e utilização prováveis, cuja estimativa será obtida, sempre que possível,
mediante adequadas técnicas quantitativas de estimação.”

Ainda que não fosse uma exigência legal, como dito anteriormente a

estimativa de quantitativo é essencial para a definição da modalidade de licitação


escolhida, bem para evitar o emprego de recursos públicos em bens desnecessários e
para evitar desperdício de insumos.

Portanto não procedem as alegações do recorrente, devendo o Acórdão ser mantido em


seus exatos termos.

No que tange à afirmação de que não há impedimento de que parentes participem da


licitação na vedação expressa do Art. 9ª da Lei 8.666/93, de

fato apenas esse elemento não seria suficiente para macular a licitude da concorrência.

Contudo, este não foi o único fator que levou a equipe de fiscalização a concluir pela
fraude no processo licitatório. Aliado a coincidência de sobrenomes dos empresários
licitantes, está o endereço cadastral das empresas, que estão no mesmo local.

Vale lembrar que a modalidade escolhida pela administração há entrega de convites


para empresas específicas, o que reforça a tese da fiscalização no que se refere ao
conluio.

Nesta condição, era dever do assessor jurídico apontar as falhas no procedimento


licitatório para que a autoridade ordenadora da despesa homologasse o procedimento.

Bem esboçado na Instrução nº 931/21, ainda que o parecer jurídico não seja obrigatório,
o fato é que existe responsabilidade técnica do parecerista ao concluir pela legalidade
do certame, quando este contraria a lei, a doutrina e a jurisprudência.

Sobre o tema já decidiu este Tribunal:

Acórdão nº 2731/20 – Primeira Câmara – Tomada de Contas Extraordinária, São Miguel


do Iguaçu. Rel. Fernando Augusto Mello Guimarães.

“Também deve ser responsabilizada a emitente dos pareceres jurídicos, Sra. Janice
Albuquerque, uma vez que verifico de irregularidade em seu proceder, pois, ao exarar
pareceres jurídicos no presente processo de licitação, deixou de abordar questão
crucial aos certames, qual seja, a devida observância legal na formação de seus preços,
caracterizando erro grosseiro em seu proceder.

Ao apresentar opinativos técnicos jurídicos a casos concretos, o parecerista deve


abordar as questões fáticas ocorridas, para que seja verificadas as questões de direito
aplicadas ao caso.” Acórdão nº 827/19 – Tribunal Pleno – Pedido de Rescisão. Município
de Paranaguá – Rel. Ivens Zschoerper Linhares.

“Contudo, no parecer jurídico que consta da peça nº 18, fls. 32/34, o procurador limitou-
se a atestar o “atendimento dos preceitos legais que regem a matéria”, sem atentar-se,

Sollicita PRO | 39
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

por exemplo, para o fato de que não havia orçamentos que demonstrassem como se
chegou ao valor estimado para o contrato, tampouco para a contratação pelo prazo
de 60 (sessenta) meses.” Acórdão nº 3354/18 – Tribunal Pleno – Recurso de Revista –
Município de Guaratuba. Rel. Ivens Zschoerper Linhares.

“ O Tribunal de Contas da União possui entendimento consolidado de que o responsável


pela emissão de parecer jurídico será responsabilizado “em caso de erro grave
inescusável ou de ato ou omissão praticada com culpa em sentido largo” (Acórdão
1591/2011-Plenário, TCU), e que a “atuação decisiva de parecerista para pagamento
indevido caracteriza erro grave e inescusável, além de culpa por negligência, e sujeita o
emitente a responsabilização pelos pareceres que emitiu” (Acórdão 157/2008-Primeira
Câmara), assim como ocorreu no presente caso”

Assim nada há que se reformar no Acórdão recorrido nos aspectos levantados pelo
recorrente.

3. VOTO

A partir do exposto, VOTO pelo CONHECIMENTO e, no mérito, pelo NÃO PROVIMENTO


do Recurso de Revista interposto por Maurício de Oliveira

Carneiro (peça 132), contra a decisão consubstanciada no Acórdão nº 3806/20 – Segunda


Câmara, que aprovou parcialmente o relatório de inspeção nº 27/2019 e responsabilizou
o recorrente pela omissão em apontar irregularidades no Convite 01/2009, com aplicação
da multa prevista no Art. 87, IV, ‘g’ da Lei Complementar 113/2005, mantendo-se a decisão
inalterada.

Com o trânsito em julgado do presente, remetam-se os autos à Coordenadoria de


Monitoramento e Execuções (CMEX) para anotações e providências necessárias.

VISTOS, relatados e discutidos,

ACORDAM

OS MEMBROS DO TRIBUNAL PLENO do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ,


nos termos do voto do Relator, Conselheiro NESTOR BAPTISTA, por unanimidade, em:

I – Conhecer o Recurso de Revista interposto por Maurício de Oliveira Carneiro (peça


132), contra a decisão consubstanciada no Acórdão nº 3806/20 – Segunda Câmara,
que aprovou parcialmente o relatório de inspeção nº 27/2019 e responsabilizou o
recorrente pela omissão em apontar irregularidades no Convite 01/2009, com aplicação
da multa prevista no Art. 87, IV, ‘g’ da Lei Complementar 113/2005, uma vez presentes os
pressupostos de admissibilidade, e, no mérito, julgar pelo não provimento, mantendo-se
a decisão inalterada;

II – determinar, com o trânsito em julgado do presente, a remessa dos autos à


Coordenadoria de Monitoramento e Execuções (CMEX) para anotações e providências
necessárias.

Votaram, nos termos acima, os Conselheiros NESTOR BAPTISTA, ARTAGÃO DE MATTOS


LEÃO, FERNANDO AUGUSTO MELLO GUIMARÃES, IVAN LELIS BONILHA, JOSE DURVAL

Sollicita PRO | 40
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

MATTOS DO AMARAL e IVENS ZSCHOERPER LINHARES.

Presente a Procuradora Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, VALERIA


BORBA.

Plenário Virtual, 5 de agosto de 2021 – Sessão Ordinária Virtual nº 13.

NESTOR BAPTISTA

Conselheiro Relator

FABIO DE SOUZA CAMARGO

Presidente”

Sollicita PRO | 41
8. Acórdão nº 693/17 - Tribunal
Pleno – TCE/SC
Pesquisa de Preços
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Acórdão nº 693/17 - Tribunal Pleno – TCE/SC – Pesquisa de Preços

O Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina se manifestou por meio do Acórdão nº 693/17,
sobre a necessidade de uma regular pesquisa de preços para instruir processo licitatório:

“(...)

RAZÕES DO VOTO

61. Consoante relatado, esta RNI versa acerca de supostas irregularidades no Pregão
Presencial n.º 46/2013, realizado para aquisição de gêneros alimentícios, a fim de atender
ao programa “Cestas Básicas”, promovido pela Secretaria de Ação Social no Município
de Barra do Garças.

62. Assim, procedo à análise das irregularidades objeto deste processo:

RESPONSÁVEIS:

IOMARA SANTANA MARA KISNER DE MORAES – ex-Secretária de Ação Social

MÁRIO MACHADO – Membro da equipe do Setor de Compras da Secretaria de Ação


Social

SIMONY KARLA BERLATTO – Membro da equipe do Setor de Orçamentos da Secretaria


de Ação Social

1. IRREGULARIDADE GB 06. Licitação_Grave_06. Realização de processo licitatório


ou contratação de bens e serviços com preços comprovadamente superiores aos de
mercado – sobrepreço (art. 37, caput, da Constituição Federal; art. 43, IV, da Lei nº
8.666/1993)

Situação encontrada: Foi constatado sobrepreço no balizamento de preços realizado


pelos agentes e gestores responsáveis pelo Pregão Presencial n. 46/2013.

POSIÇÃO DO RELATOR

63. Em relação ao Achado n.º 01, a equipe técnica constatou que a planilha de estimativa
dos preços formulada pela Secretaria de Ação Social para aquisição de itens do programa
Cesta Básica, no Pregão Presencial n.º 46/2013, apresentou itens com valores em 69%
superiores ao praticados no mercado.

64. A esse propósito, é importante esclarecer que as aquisições realizadas pela


Administração Pública estão submetidas às regras gerais estabelecidas na Lei
n.º8.666/1993 (Lei de Licitações e Contratos Administrativos) – seja por meio das
modalidades de licitação, seja por meio das hipótese em que é possível a dispensa
ou a inexigibilidade de licitar –, e em subordinação subsidiária à Lei n.º 10.520/2002,

Sollicita PRO | 43
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

que disciplina a modalidade de licitação denominada “Pregão”, quando é o caso de


aquisição por essa modalidade licitatória.

Nos termos do art. 3° da Lei n.º 8.666/1993, a licitação destina-se a selecionar a proposta
mais vantajosa para a Administração Pública, que enseja a análise de preços e a
qualidade do objeto a ser adquirido ou do serviço a ser contratado.

66. Assim, a pesquisa de preços realizada na fase interna do processo licitatório respalda
os valores estabelecidos no termo de referência, anexo ao edital de abertura, para o
julgamento adequado das propostas ofertadas pelos licitantes.

67. O preço de referência tem por finalidade dar suporte ao processo orçamentário
da despesa, definir a modalidade adequada de licitação e eleger a proposta mais
econômica, com valores coerentes para o ente e com consideração aos preços praticados
no mercado. Além disso, o preço de referência auxilia no afastamento de valores que
caracterizariam prejuízos ao erário.

68. Nesse sentido, o art. 3°, inciso III, da Lei n.º 10.520/2002 determina que, na fase
preparatória e interna do Pregão, devem ser apresentados os orçamentos realizados pelo
ente para composição da estimativa dos preços apresentados no termo de referência,
vejamos:

Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte:

I. - a autoridade competente justificará a necessidade de contratação e definirá o objeto


do certame, as exigências de habilitação, os critérios de aceitação das propostas, as
sanções por inadimplemento e as cláusulas do contrato, inclusive com fixação dos
prazos para fornecimento;

II. - a definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e clara, vedadas especificações
que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias, limitem a competição;

III. - dos autos do procedimento constarão a justificativa das definições referidas no


inciso I deste artigo e os indispensáveis elementos técnicos sobre os quais estiverem
apoiados, bem como o orçamento, elaborado pelo órgão ou entidade promotora da
licitação, dos bens ou serviços a serem licitados; (grifei)

69. Ainda no que tocante à apresentação da composição dos preços de referência,


destaco que o art. 40, § 2º, II, da Lei n.º 8.666/1993 prevê a apresentação de planilha de
quantitativos e preços unitários como anexo do edital:

Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual, o nome da
repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o tipo da
licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para recebimento
da documentação e proposta, bem como para início da abertura dos envelopes, e
indicará, obrigatoriamente, o seguinte: (...)

§2º Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante: (…)

II- orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários;

Sollicita PRO | 44
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

(grifei)

70. Insta ainda salientar que o artigo 15 do mesmo diploma legal estabelece que, sempre
que for possível, a realização da pesquisa de preços deverá ser fundamentada em valores
praticados no âmbito dos órgãos e entidades da Administração Pública, vejamos:

Art.15. As compras, sempre que possível, deverão:

I. - atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade de especificações


técnicas e de desempenho, observadas, quando for o caso, as condições de manutenção,
assistência técnica e garantia oferecidas;

II. - ser processadas através de sistema de registro de preços;

III. - submeter-se às condições de aquisição e pagamento semelhantes às do setor


privado;

IV. - ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias para aproveitar as


peculiaridades do mercado, visando economicidade;

V. - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da


Administração Pública. (grifei).

71. A fim de corroborar o que foi expendido acima, trago à baila a Resolução de Consulta
n.º 20/2016 desta Corte de Contas, a qual determina que a pesquisa de preços para
estabelecer a referência dos valores deve adotar amplitude e rigor metodológico
proporcional à materialidade da contratação e os riscos envolvidos:

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MATO GROSSO. REEXAME DA TESE


PREJULGADA NA RESOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 41/2010. LICITAÇÃO. AQUISIÇÕES
PÚBLICAS. BALIZAMENTO DE PREÇOS.

1) A pesquisa de preços de referência nas aquisições públicas deve adotar amplitude


e rigor metodológico proporcionais à materialidade da contratação e aos riscos
envolvidos, não podendo se restringir à obtenção de três orçamentos junto a potenciais
fornecedores, mas deve considerar o seguinte conjunto (cesta) de preços aceitáveis:
preços praticados na Administração Pública, como fonte prioritária; consultas em
portais oficiais de referenciamento de preços e em mídias e sítios especializados
de amplo domínio público; fornecedores; catálogos de fornecedores; analogia com
compras/contratações realizadas por corporações privadas; outras fontes idôneas,
desde que devidamente detalhadas e justificadas.

2) Nos processos de inexigibilidade e de dispensa de licitação, inclusive aqueles


amparados no art. 24, I, II, da Lei nº 8.666/1993, devem ser apresentadas as respectivas
pesquisas de preços, nos termos do art. 26 da Lei. (grifei).

72. Assim, o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE/MT) entende que são
prioritários os orçamentos advindos de pesquisas de preços praticados na Administração
Pública e a observância aos princípios da proporcionalidade e eficiência, sob pena de
configuração de superfaturamento de preços.

Sollicita PRO | 45
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

73. Nesse sentido, a ausência da estimativa de preços ou a estimativa realizada de


forma inadequada acarreta variações desproporcionais entre os valores ofertados pelos
licitantes, o que pode representar prejuízos ao erário.

74. Dessa forma, o administrador deve evitar que o interesse público seja colocado
em risco no que tange à economicidade dos atos administrativos de gestão do erário,
uma vez que a manutenção da condição lesiva ao patrimônio da Administração e o
ato antieconômico revelam o deszelo com a coisa pública e ofende os princípios
constitucionais da moralidade, impessoalidade e legalidade.

75. Em análise dos autos, verifico que mesmo após a correção dos preços orçados como
referência pela Secretaria de Controle Externo (Secex), há diferença excessiva entre eles
e os valores de estimados pela Secretaria de Ação Social, conforme demonstra a tabela
apresentada pela Secex no Relatório Técnico de Defesa³², abaixo colacionada:

Produtos Média Geral (A) Preços de Diferença em Diferença em %


Referência (B) R$(X=B-A)

Açúcar 2kg R$ 2,98 R$ 5,99 R$ 3,01 101%

Arroz 5kg R$ 8,15 R$ 14,99 R$ 6,84 84%

Biscoito 400g R$ 3,49 R$ 9,99 R$ 6,50 186%

Chá Matte 250g R$ 4,14 R$ 4,90 R$ 0,76 19%

Extrato Tomate R$ 2,14 R$ 4,90 R$ 2,76 129%


350g

Farinha mandioca R$ 4,39 R$ 2,99 -R$ 1,40 -32%


500g

Farinha trigo 1kg R$ 1,95 R$ 2,99 R$ 1,04 54%

Feijão 2kg R$ 6,76 R$ 14,95 R$ 8,19 121%

Fermento em pó R$ 1,98 R$ 3,99 R$ 2,01 102%


100g

Goiabada 500g R$ 2,45 R$ 4,90 R$ 2,46 100%

Leite em pó 400g R$ 8,82 R$ 9,90 R$ 1,08 12%

Macarrão 500g R$ 2,09 R$ 2,50 R$ 0,41 20%

Óleo soja 900ml R$ 2,44 R$ 4,90 R$ 2,46 101%

Sal 1kg R$ 0,83 R$ 1,99 R$ 1,16 140%

Sardinha 165g R$ 3,33 R$ 2,99 -R$ 0,34 -10%

Sollicita PRO | 46
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

76. Após o exame da manifestação da Sra. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, ex-
Secretária de Ação Social, entendo que suas alegações no sentido de que não possuía
experiência na gestão pública não merecem acolhida, uma vez que, ao assumir a função,
o servidor deve ter amplo conhecimento das suas atribuições e obrigações legal.

77. Portanto, a ex-Secretária não pode alegar que a conduta omissiva ocorreu por
desconhecimento dos trâmites do processo, sobretudo porque ela era a responsável
pela pasta.

78. Além disso, suas atribuições não se restringiam apenas em assinar o ofício de
solicitação de abertura do processo licitatório, conforme mencionado pela defesa, pois
a gestora tinha o dever legal que verificar a veracidade das afirmações contidas na
pesquisa de preços.

79. Isso porque assinar documento demonstra a ciência e anuência dos dados ali
inseridos, o que enseja a aplicação da responsabilidade solidária sobre irregularidade
constatada em decorrência conduta negligente da Secretária.

80. Por conseguinte, em relação às razões da defesa encaminhada pelo Sr. Mário
Machado e pela Sra. Simony Karla Berlatto, membros da equipe de cotação, é importante
destacar que, embora tenham afirmado que a pesquisa de preços não era de sua
responsabilidade, as afirmações são contrapostas pela declaração da chefe imediata,
Sra. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, que proferiu as seguintes declarações:

No caso em análise, há informações nos autos sobre qual o setor responsável pela
execução da pesquisa de preço, sendo os servidores Mário Machado e da Sra. Simony
Karla Berlatto³³. (grifei)

Como os servidores Mário e Simony já eram servidores experientes inclusive com


conhecimento na área, apenas assinou o ofício solicitando a licitação, sem imaginar e
saber que os orçamentos anexados junto ao ofício assinado não eram condizentes com
os preços do mercado para os itens solicitados34.

81. Ademais, os servidores buscaram atribuir ao Pregoeiro a função de conferir as


informações contidas na planilha de cotação de preços realizadas pelos defendentes.
No entanto, é importante esclarecer que cabe ao Pregoeiro atuar na condução da
fase externa da licitação, na qual ocorre a sessão pública de lances e a habilitação das
interessadas.

82. Nesse sentido, o Tribunal de Contas da União (TCU) proferiu entendimento exarado
no Acórdão n.º 2.389/2006 - Plenário, no qual concluiu que o Pregoeiro não pode ser
responsabilizado por irregularidades constatadas na fase interna da licitação, como se
vê:

REPRESENTAÇÃO. CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA. AUDIÊNCIAS. JUSTIFICATIVAS


ACOLHIDAS. FIXAÇÃO DE PRAZO PARA ADOÇÃO DE PROVIDÊNCIAS PARA SANAR AS
IRREGULARIDADES VERIFICADAS. 1. É vedada a exigência, nos pregões eletrônicos, da
apresentação de cópias de documentos já apresentados para efeito de cadastramento
no SICAF, nos termos do inciso XIV do artigo 4º da Lei nº 10.520/02 e do art. 14, parágrafo
único, do Decreto nº 5.450/2005. 2. O pregoeiro não pode ser responsabilizado por
eventual irregularidade em editais de licitação, uma vez que a elaboração desse não

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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

se insere no rol de competências que lhe foram legalmente atribuída. (grifei).

83. Além disso, a Corte Federal de Contas entende que é de competência das pessoas
responsáveis pelo setor requisitante a realização da pesquisa de preços, conforme
transcrição parcial do Acórdão n.º 4.484/2010 - 1ª Câmara, de Relatoria do Ministro
Augusto Nardes:

REPRESENTAÇÃO. PREGÃO. AQUISIÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS PARA MERENDA


ESCOLAR. IRREGULARIDADES NA CONTRATAÇÃO. CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA.
MULTA. PEDIDOS DE REEXAME. NÃO CONHECIMENTO DE UMA PEÇA RECURSAL.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO DA OUTRA.

(…)

2. As pesquisas de preços que dão suporte à elaboração de orçamento, à definição


da modalidade de licitação e à efetivação da adequação financeira e orçamentária da
despesa, devem ser realizadas previamente à adjudicação do objeto e homologação do
procedimento.

3. Não constitui incumbência obrigatória da CPL, do pregoeiro ou da autoridade


superior realizar pesquisas de preços no mercado e em outros entes públicos, sendo
essa atribuição, tendo em vista a complexidade dos diversos objetos licitados, dos
setores ou pessoas competentes envolvidas na aquisição do objeto.

84. Portanto, entendo que as fundamentações apresentadas pelos técnicos desta Corte
guardam amparo, pois não restaram demonstradas nos autos do processo licitatório as
justificativas apresentadas para composição dos valores, em evidente afronta às normas
legais e jurisprudenciais supracitadas.

85. Assim, conforme se denota no conjunto probatório nos autos, os membros da equipe
de cotação, com anuência da ex-Secretária de Ação Social, apresentaram a planilha de
preços estimados em 69% acima do praticado no mercado de Barra do Garças, que
ensejou a aquisição superfaturada dos itens pela Prefeitura.

86. Desse modo, a conduta perpetrada pelos responsáveis demonstrou deficiência


no trato com a gestão pública, negligência com os procedimentos legais e ofensa
aos princípios constitucionais norteadores do processo licitatório – em especial, à
legalidade, moralidade e economicidade.

87. Portanto, entendo que deve ser aplicada multa à ex-Secretária e aos membros da
equipe de pesquisa de preços que atuaram no evento em questão, a qual deverá ser
fixada em parâmetro além daquele estabelecido nos estreitos limites da classificação
desta irregularidade.

88. Segundo o art. 3º, inciso II, alínea “a” da Resolução Normativa n.º 17/2016, na
constatação da ocorrência de irregularidades classificadas como “graves”, como estáora
em análise, as multas devem ser fixadas entre 6 e 10 UPFs/MT.

89. Entretanto, neste mesmo artigo da Resolução Normativa, o § 3º estabelece que,


excepcionalmente, em razão da gravidade da conduta ou do resultado, poderá ser
imputada multa superior ao parâmetro máximo de 10 UPFs/MT, desde que ela seja

Sollicita PRO | 48
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

devidamente justificada na decisão, vejamos:

Art. 3º (…)

§ 3º. Excepcionalmente, poderá ser imputada multa superior ao parâmetro máximo


previsto neste artigo, desde que devidamente justificada na decisão, em razão da
gravidade da conduta ou do resultado.

90. Cabe ressaltar que os valores previstos no art. 3º, inciso II, alínea “a”, da Resolução
Normativa n.º 17/2016 encontram-se muito abaixo do patamar máximo de 1.000 UPF/MT
previsto no art. 75 da Lei Complementar n.º 269/2007 (Lei Orgânica do TCE-MT), que é
a norma legal aplicável ao caso:

Art. 75. O Tribunal aplicará multa de até 1000 (mil) vezes a Unidade Padrão Fiscal de
Mato Grosso – UPF-MT, ou outra que venha sucedê-la, na gradação estabelecida no
regimento interno, aos responsáveis por:

(…)

Parágrafo único. Nas infrações enumeradas neste artigo, a cada fato corresponderá uma
sanção, podendo incidir o agente em mais de uma, no mesmo processo.

91. Logo, verifico que há um descompasso entre o que a Lei Orgânica deste Tribunal
dispõe acerca dos limites para multas e o que consta na Resolução Normativa n.º 17/2016.

92. Assim, é possível afirmar que a Lei Orgânica foi intensamente mitigada pela Resolução
Normativa n.º 17/2016, pois a observância dos limites impostos na Resolução para a
aplicação de multas pelo TCE/MT leva, em alguns casos, à inocuidade prática da sanção,
já que em irregularidades com gravidade mais acentuada, como neste caso, os valores
ali estabelecidos se mostram irrisórios.

93. Além disso, ao se considerar apenas os limites impostos pela Resolução Normativa
n.º 17/2016 para aplicação de multas, do ponto de vista material, estas perdem parte da
efetividade pedagógica que podem ter para compelir os maus gestores a não incorrerem
em irregularidades.

94. Por esse motivo, para as condutas em análise, a sanção ao apontamento deve ter a
aplicação da excepcionalidade trazida pelo art. 3º, § 3º, da referida resolução.

95. Dessa forma, com fulcro nas fundamentações expostas, mantenho a impropriedade
classificada como GB_09, de natureza grave, e aplico ao Srs. Mário Machado e Simony
Karla Berlatto, membros da equipe de cotação de preços, e à Sra. Iomara Santana Mara
Kisner de Moraes, multa individualizada no montante de 30 UPFs/MT, nos termos do
artigo 3º, § 3º, da Resolução Normativa n.º 17/2016, na forma de fundamentação prevista
no art. 286, § 2º, do Regimento Interno deste Tribunal.

Sollicita PRO | 49
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

RESPONSÁVEIS:

FÁBIO BONFIM DE OLIVEIRA – Pregoeiro Municipal

VILMA VANETE VASSO – Membro da equipe de apoio do Pregoeiro Municipal

LILIANE CARVALHO DE MEDEIROS – Membro da equipe de apoio ao Pregoeiro


Municipal

2.IRREGULARIDADE GB 03. Licitação_Grave_03. Constatação de especificações


excessivas, irrelevantes ou desnecessárias que restrinjam a competição do certame
licitatório (art. 40, I, da Lei nº 8.666/93; art. 3º, II, da Lei nº 10.520/2002).

Situação encontrada: Foi constatado direcionamento no Pregão Presencial n. 46/2013,


por parte do Pregoeiro Oficial da Prefeitura e sua equipe de apoio, desfavoravelmente
à empresa R. P. A. de Farias.

POSIÇÃO DO RELATOR

96. Quanto ao Achado n.º 2, depreende-se dos autos que os técnicos deste Tribunal
identificaram que houve o direcionamento do Pregão Presencial n.º 046/2013 em favor
do Supermercado Dourado LTDA-EPP, decorrente do descredenciamento irregular da
licitante R. P. A. de Farias - ME.

97. Em apertada síntese, em suas razões de defesa35, o Sr. Fábio Bonfim de Oliveira,
Pregoeiro Municipal, alegou que a empresa R. P. A. de Farias - ME foi descredenciada
por não ter apresentado o cartão CNPJ.

98. Contudo, verifica-se que os motivos vinculados e determinantes para o


descredenciamento da empresa estão apresentados na Ata de Sessão do Pregão³⁶,
na qual o Pregoeiro declarou as seguintes irregularidades: ausência de reconhecimento
de firma na declaração do contador e no termo de credenciamento; não apresentação
da situação de microempresa ou empresa de pequeno porte e não apresentação de
registro comercial.

99. Todavia, em que pese o Pregoeiro ter argumentado que os motivos do


descredenciamento foram inseridos na Ata por um equívoco em não ter apagado os
dados da Ata anteriormente realizada, não é o que se confirma pela análise dos autos,
uma vez que não há qualquer retificação das informações contidas na Ata do Pregão.

100. Do mesmo modo, não houve contestação dos membros da equipe de apoio em
relação ao suposto erro, que teria sido evidente.

101. Além disso, as alegações apresentadas pelo Pregoeiro nestes autos se contrapõem
às suas afirmações proferidas no Inquérito Civil n.º 087/2015637, instaurado pelo
Ministério Público Estadual, no qual afirmou o que exatamente consta na aludida Ata,
conforme se depreende do trecho abaixo colacionado:

A empresa não apresentou os documentos necessários para habilitar-se no

Sollicita PRO | 50
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

credenciamento, deixando de apresentar comprovação da situação de Microempresa


ou Empresa de Pequeno Porte, bem como a declaração do contador não estava
devidamente firmada, nem o Termo de Credenciamento; que a referida empresa
também não deve ter apresentado o Registro Comercial.

102. Já na presente RNI, o Pregoeiro sustentou que a empresa R. P. A de Farias - ME


não apresentou o cartão CNPJ. Porém, não há qualquer documento nos autos daquela
licitação que comprove as alegações do defendente.

103. Aqui, cumpre esclarecer que a verificação do cartão CNPJ das empresas interessadas
em participar do certame licitatório deveria ocorrer somente após a fase de lances, de
acordo com o que determina o art. 4º, inciso VII, da Lei n.º 10.520/2002:

Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos interessados e
observará as seguintes regras:

(...)

VII - aberta a sessão, os interessados ou seus representantes, apresentarão declaração


dando ciência de que cumprem plenamente os requisitos de habilitação e entregarão
os envelopes contendo a indicação do objeto e do preço oferecidos, procedendo-se à
sua imediata abertura e à verificação da conformidade das propostas com os requisitos
estabelecidos no instrumento convocatório. (grifei).

104. Ademais, conforme já esclarecido pela Secex, o cartão CNPJ pode ser emitido de
maneira simples e rápida pelo acesso ao site da Receita Federal do Brasil:

www.receita.fazenda.gov.br

105. Desse modo, ainda que fosse essa a razão real do descredenciamento da empresa,
o ato mostrar-se-ia desarrazoado e exagerado, contrariando o princípio da motivação e
do formalismo moderado, que norteiam todo o processo licitatório.

106. Logo, é evidente que houve a restrição ao caráter competitivo no certame, pois
cabe à Administração Pública evitar o estabelecimento de exigências que venham a
comprometam o caráter competitivo da licitação.

107. Nesse sentido, conforme posição exarada pelo TCU no julgamento do Acórdão
n.º 1795/2015 - Plenário, de Relatoria do Ministro José Múcio Monteiro, a Administração
Pública deve evitar formalismos excessivos e injustificados, a fim de valorizar a
economicidade e a vantajosidade da proposta, bem como de impedir a ocorrência de
dano ao erário:

É irregular a inabilitação de licitante em razão de ausência de informação exigida pelo


edital, quando a documentação entregue contiver de maneira implícita o elemento
supostamente faltante e a Administração não realizar a diligência prevista no art. 43, § 3º,
da Lei 8.666/1993, por representar formalismo exagerado, com prejuízo à competitividade
do certame.

108. Dessa maneira, o rigor excessivo, como observado neste caso, não é condizente
com os princípios da razoabilidade. Além disso, caso fossem verdadeiras as afirmações

Sollicita PRO | 51
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

do defendente, caberia ao Pregoeiro realizar as diligências necessárias para sanar a


irregularidade, em observância ao princípio do formalismo moderado, que é aplicável
aos processos licitatórios.

104. Desse modo, não pode ser admitida a discriminação arbitrária na seleção pelo
contratante, tendo em vista que, nos termos do art. 3º, caput, da Lei n.º 8.666/1993,
a licitação destina-se a garantir não só a seleção da proposta mais vantajosa para a
Administração, mas também a observância do princípio constitucional da isonomia.

110. Portanto, não é possível dar razão às argumentações de defesa do Sr. Fábio Bonfim
de Oliveira, uma vez que são contraditórias as declarações trazidas por ele nesta RNI,
em contraponto ao que consta na Ata da Sessão do Pregão e no bojo do Inquérito
Civil referido, além de tais argumentos não possuírem respaldo nas documentações
constantes nos autos.

111. Quanto às Sras. Vilma Vanete Vasso e Liliane Carvalho de Medeiros, membros
da equipe de apoio, em suma, elas afirmaram que não se omitiram quanto ao
descredenciamento da empresa R. P. A de Farias – ME, bem como sustentaram ter
comunicado verbalmente a irregularidade ao superior hierárquico. Entretanto, segundo
alegam, o fato foi ignorado pelo chefe.

112. No entanto, não constam nos autos qualquer comprovação das alegações proferidas.
Inclusive, nem mesmo sequer houve a identificação do superior hierárquico mencionado
para que este corroborasse as afirmações expendidas.113. Desta feita, mesmo que
ambas não possuíssem o poder decisório acerca do descredenciamento da empresa,
verifico que a omissão das defendentes em representar essa irregularidade à autoridade
competente constitui infração do dever legal imposto a qualquer servidor público.

114. Nesse sentido, a Lei Complementar n.º 03/1991, que dispõe sobre o Estatuto e
o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos do Município, das autarquias e das
Fundações Municipais de Barra do Garças, em seu art. 132, inciso VI, determina que é
dever do servidor “levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de
que tiver ciência em razão do cargo” ³⁸.

115. A esse propósito, especificamente acerca da responsabilidade da equipe de apoio


ao Pregoeiro nos processos licitatórios, o TCU se manifestou no Acórdão n.º 3178/2016
- Plenário, que teve como Relatora a Ministra Ana Arraes, da seguinte forma:

A responsabilidade dos integrantes da equipe de apoio ao pregoeiro somente


emerge se agirem com dolo, cumprirem ordem manifestamente ilegal ou deixarem de
representar à autoridade superior na hipótese de terem conhecimento de ilegalidade
praticada pelo pregoeiro, uma vez que os membros da equipe dão suporte a este,
mas não praticam atos decisórios e não avaliam questões de mérito do certame, cuja
competência é do pregoeiro. (grifei).

116. Desse modo, entendo que o Pregoeiro e os membros da equipe de apoio não
apresentaram justificativas aptas a afastarem a impropriedade apontada e justificar o
descredenciamento da empresa R. P. A de Farias. Acrescenta-se a isso o fato de que
não foi comprovada a comunicação da irregularidade pela equipe de apoio ao superior
hierárquico, haja vista que tinham ciência inequívoca da situação apontada desde o
momento da confecção da Ata39 em questão, conforme se comprova pela assinatura

Sollicita PRO | 52
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

das responsáveis no referido documento.

117. Por todo o exposto, acolho as análises e as conclusões da equipe técnica e do parecer
ministerial, incorporando-as às minhas razões de decidir, e mantenho a impropriedade
classificada como GB_03, de natureza grave, aplicando multa regimental no seu
percentual máximo de 10 UPFs/MT, ao Sr. Fábio Bonfim de Oliveira, Pregoeiro Municipal,
nos termos do artigo 3º, inciso II, alínea “a”, da Resolução Normativa n.º 17/2016, pois a
conduta demonstrou grau de reprovabilidade diferenciado dos membros de equipe de
apoio, por se tratar da autoridade responsável por ter realizado o descredenciamento
irregular de empresa em certame licitatório, com o consequente direcionamento da
licitação em favor de outra empresa.

118. Já em relação às Sras. Vilma Vanete Vasso e Liliane Carvalho de Medeiros, mantenho
a irregularidade, de natureza grave, e aplico-lhes multa de 06 UPFs/MT, no patamar
mínimo para a classificação da irregularidade, nos termos do art. 286, II, c/c o art. 3º, II,
“a”, da Resolução Normativa n.º 17/2016, e nos termos do art. 75, III, da LO/TCE- MT, e
do art. 286, II, do RI/TCE-MT, uma vez que a conduta dos membros da equipe de apoio
demonstrou menor grau de reprovabilidade do que aquela perpetrada pelo Pregoeiro.

RESPONSÁVEIS:

IOMARA SANTANA MARA KISNER DE MORAES – ex-Secretária de Ação Social

MÁRIO MACHADO – Membro da equipe do Setor de Compras da Secretaria de Ação


Social

SIMONY KARLA BERLATTO – Membro da equipe do Setor de Orçamentos da Secretaria


de Ação Social

SUPERMERCADO DOURADO LTDA-EPP

3. IRREGULARIDADE JB 02. Despesa_Grave_02. Pagamento de despesas referentes


a bens e serviços em valores superiores ao praticado no mercado e/ou superiores ao
contratado – superfaturamento (art. 37, caput, da Constituição Federa; art. 66, da Lei nº
8.666/1993).

Situação encontrada: Foi constatado superfaturamento no Pregão Presencial n.


046/2013.

POSIÇÃO DO RELATOR

119. Na Irregularidade n.º 03, a equipe de auditores apontou que houve superfaturamento
no Pregão Presencial n.º 046/2013, em decorrência do sobrepreço dos itens licitados,
ocasionando prejuízo ao erário do Município de Barra do Garças.

120. No caso em tela, conforme documentação carreada aos autos, verifico que a
planilha da estimativa de preços apresentada para subsidiar o Pregão foi formalizada
pelos membros da equipe de cotação, Sr. Mário Machado e Sra. Simony Karla Berlatto,

Sollicita PRO | 53
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

com a aprovação da Secretária da pasta, Sra. Iomara Santana Maria Kisner de Moraes.

121. Importante destacar que, conforme entendimento exarado pelo TCU no Acórdão
n.º 310/2006 – Plenário, de Relatoria do Ministro Ubiratan Aguiar, o sobrepreço decorre
da estimativa de valores acima daqueles praticados no mercado, e a aquisição efetiva
desses produtos com sobrepreço enseja o superfaturamento, vejamos:

O Sobrepreço ocorre quando uma cotação de um bem ou serviço é superior ao valor


praticado pelo mercado. Já o Superfaturamento se verifica após a regular liquidação da
despesa, ou seja, depois da aquisição, faturamento e pagamento de um bem ou serviço.

122. Desta feita, cabe destacar que a Secex constatou a existência do superfaturamento
no referido Pregão pela análise dos orçamentos com preços efetivamente praticados
no mercado à época da licitação, os quais, em comparação com os valores dos itens
adquiridos pela Prefeitura, demonstraram que houve o pagamento a maior em R$
111.051,63 (cento e onze mil e cinquenta e um reais e sessenta e três centavos) em favor
do Supermercado Dourado LTDA - EPP.

123. A esse propósito, cumpre apresentar aqui a tabela referente à comparação entre
os preços praticados no mercado local e os efetivamente pagos à empresa vencedora,
que consta no Relatório Técnico Preliminar⁴⁰:

Produto Qtde adquirida Valor da Média Valor total Preço SUPERFATURAMEN


– unidades (A) de Mercado de Mercado Efetivamente TO (D-C)
(B) (A*B)=(C) pago (D)

Açúcar 1kg 7468 R$ 2,88 R$ 21.532,73 R$ 29.771,39 R$ 8.238,66

Arroz 5kg 7468 R$ 7,83 R$ 58.491,04 R$ 91.403,38 R$ 32.912,34

Biscoito 400g 3234 R$ 2,59 R$ 8.376,06 R$ 12.903,66 R$ 4.527,60

Chá Matte 3234 R$ 3,93 R$ 12.709,62 R$ 16.137,66 R$ 3.428,04


250g

Extrato Tomate 3234 R$ 2,06 R$ 6.672,82 R$ 12.903,66 R$ 6.230,84


350g

Farinha de 3234 R$ 5,99 R$ 19.371,66 R$ 8.731,80 -R$ 10.639,86


mandioca
500g

Farinha Trigo 3234 R$ 2,00 R$ 6.468,00 R$ 9.346,26 R$ 2.878,26


1kg

Feijão 2kg 4234 R$ 6,46 R$ 27.351,64 R$ 52.800,46 R$ 25.448,82

Sollicita PRO | 54
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Fermento em 3234 R$ 1,96 R$ 6.338,64 R$ 11.642,40 R$ 5.303,76


pó 100g

Goiabada 3234 R$ 2,20 R$ 7.114,80 R$ 14.229,60 R$ 7.114,80


500g

Leite em pó 3234 R$ 8,56 R$ 27.683,04 R$ 35.250,60 R$ 7.567,56


400g

Macarrão 500g 7968 R$ 2,69 R$ 21.433,92 R$ 19.099,80 -R$ 2.334,12

Óleo soja 7468 R$ 2,46 R$ 18.371,28 R$ 21.638,35 R$ 3.267,07


900ml

Sal 1kg 3234 R$ 0,87 R$ 2.813,58 R$ 4.689,30 R$ 1.875,72

Sardinha 165g 3234 R$ 3,28 R$ 10.607,52 R$ 25.839,66 R$ 15.232,14

TOTAL 66946 --- R$ 255.336,35 R$ 366.387,98 R$ 111.051,63

124. Da análise dos orçamentos paradigmas e da fundamentação exposta pela Secex,


não há dúvida de que a composição de preços formalizada pela Prefeitura de Barra do
Garças estava superestimada, o que gerou proposta com sobrepreço e o consequente
superfaturamento dos pagamentos.

125. Aqui, é importante destacar que a responsabilização deve recair sobre os


responsáveis pela formulação da planilha de valores e pela Secretária da pasta, Sra.
Iomara, que confiou aos membros da equipe de cotação a realização da pesquisa de
preços e autorizou valores irregulares ao assinar o respectivo Termo de Referência,
assumindo a responsabilidade pela veracidade dos dados constantes na planilha.

126. Portanto, conforme vasta fundamentação já exposta na análise da Irregularidade n.º


1, não acolho as teses defensivas do Sr. Mário Machado e da Sras. Simony Karla Berlatto
e Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, em razão de terem apresentado planilha de
preços estimados em 69% acima daqueles praticados no mercado de Barra do Garças,
ensejando a aquisição superfaturada dos itens pela Prefeitura.

127. No que tange à responsabilidade do Supermercado Dourado LTDA-EPP, cumpre


esclarecer que, após a manifestação da defesa, a Secex verificou que os valores
apresentados na planilha como parâmetro pelo Supermercado Cogal e Mendonça
realmente estavam idênticos, razão pela qual retificou a tabela, concluindo que o valor
do superfaturamento foi de R$ 111.433,26 (cento e onze mil e quatrocentos e trinta e três
reais e vinte e seis centavos).

128. Contudo, considerando a irrelevância da diferença entre novo valor constatado


como superfaturamento e os custos resultantes de novas citações, a equipe técnica
sugeriu à glosa do valor inicialmente constatado de R$ 111.051,63 (cento e onze mil e
cinquenta e um reais e sessenta e três centavos).

Sollicita PRO | 55
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

129. Dessa forma, é importante considerar que, embora a defesa tenha alegado que a
proposta ficou em R$ 56.340,00 (cinquenta e seis mil e trezentos e quarenta reais) menos
onerosa para a Prefeitura em relação ao Termo de Referência apresentado pela equipe
de cotação, tal argumentação não deve prosperar, uma vez que os valores estimados
pelo Município já foram realizados em 69% acima dos preços praticados no mercado.
Portanto, não houve economia para o ente municipal na contratação da empresa pelos
valores que acabaram por ser pagos pelos produtos adquiridos.

130. Quanto à alegação de que a comparação com os valores apresentados pelo


Supermercado Nilo não é razoável porque esta empresa vende em preços de atacado,
verifico que, conforme a tabela apresentada no Relatório Técnico de Defesa, os
produtos extrato de tomate, farinha de mandioca, farinha de trigo, feijão, macarrão e
sal, apresentaram valores maiores que os ofertados pelos outros supermercados
paradigmas⁴. Dessa forma, as afirmações da defesa não merecem razão.

131. No que concerne às argumentações de que há itens em que a Secex apresentou


apenas um orçamento para comparação, verifico que não encontram respaldo, uma vez
que os técnicos apresentaram todos os orçamentos com pelo menos 2 (dois) preços
de cada item pesquisado, conforme se denota na análise da tabela 4 apresentada no
Relatório Técnico de Defesa⁴².

132. Portanto, o fato de a Prefeitura ter apresentado planilha de estimativa com preços
elevados não isenta a responsabilidade da empresa contratada pelo superfaturamento
ocorrido.

133. Isso porque, a obrigação de verificar a compatibilidade de preços com os praticados


no mercado é tanto da Administração Pública quanto da empresa contratada. Assim,
deve haver responsabilização solidária pelos danos causados.

134. A corroborar o expendido, destaco aqui o entendimento do TCU acerca da matéria


em exame, de acordo com a reprodução parcial dos Acórdãos abaixo elencados:

As empresas que oferecem propostas com valores acima dos praticados pelo mercado,
tirando proveito de orçamentos superestimados elaborados pelos órgãos públicos
contratantes, contribuem para o superfaturamento dos serviços, sujeitando-se à
responsabilização solidária pelo dano evidenciado. (Boletim de Jurisprudência 203/2018
- Acórdão 27/2018- Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler)

Os licitantes, sob risco de responderem por superfaturamento em solidariedade com


os agentes públicos, têm a obrigação de oferecer preços que reflitam os paradigmas
de mercado, ainda que os valores fixados pela Administração no orçamento-base do
certame se situem além daquele patamar. (Boletim de Jurisprudência 189/2017 - Acórdão
1959/2017- Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler)

O fato de a empresa não participar da elaboração do edital e do orçamento base da licitação


não a isenta de responsabilidade solidária pelo dano (art. 16, § 2º, da Lei 8.443/1992) na
hipótese de recebimento de pagamentos por serviços superfaturados, pois à licitante
cabe ofertar preços compatíveis com os praticados pelo mercado (art. 43, inciso IV, da Lei
8.666/1993), independentemente de eventual erro cometido pela Administração quando
da elaboração do edital e do orçamento. (Boletim de Jurisprudência 178/2017 - Acórdão
1304/2017- Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler)

Sollicita PRO | 56
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

135. Desse modo, o regime jurídico-administrativo a que estão sujeitos os contratantes


com o Poder Público não os permite incorrer na manutenção de falhas observadas na
composição de preços quando estes se apresentarem acima do realizado pelo mercado.

136. Portanto, em exame das alegações da empresa, não há como acolher as suas
justificativas, pois as constatações trazidas aos autos pela Secex apresentam evidente
existência de dano ao erário daquela municipalidade pela conduta em análise.

137. Desse modo, verifico que houve o superfaturamento no Pregão Presencial


n.º 046/2013, em evidente violação aos princípios da economicidade, legalidade e
impessoalidade, o que acarretou prejuízo ao erário no montante de R$ 111.051,63 (cento
e onze mil e cinquenta e um reais e sessenta e três centavos), que deverá ser ressarcido
aos cofres públicos solidariamente, com recursos próprios, pelo Supermercado Dourado
LTDA-EPP, pelo Sr. Mário Machado, bem como pelas Sras. Simony Karla Berlatto e. Iomara
Santana Mara Kisner de Moraes.

138. Ademais, considerando a gravidade da conduta irregular perpetrada pelos


responsáveis, determino a aplicação de multa em seu percentual máximo de 10% (dez
por cento) sobre o valor do dano a ser restituído, que deve ser arcada individualmente
por cada um dos responsáveis, com fulcro no art. 7º da Resolução Normativa TCE/MT n.º
17/2016 e art. 287 do Regimento Interno deste Tribunal.

139. Por outro lado, coaduno com a posição exarada pela equipe técnica em relação à
ausência da imputação de responsabilidade ao Prefeito Municipal, Sr. Roberto Ângelo
de Farias, pois, considerando a extensa atribuição de seu cargo, seria desarrazoado o
encargo do gestor em conferir a veracidade dos valores constantes em cada processo
licitatório realizado no Município de Barra do Garças.

140. Além disso, verifico que o Prefeito adotou as providências necessárias à elucidação
dos fatos ao determinar a devida instauração de sindicância administrativa para apurar
as irregularidades no processo em questão, conforme se verifica em suas razões de
defesa43.

DISPOSITIVO

141. Diante de todo o exposto, nos termos do artigo 1º, inciso XV, da Lei Complementar
n.º 269/2007 (Lei Orgânica TCE/MT), acolho parcialmente o Parecer Ministerial n.º
3.353/2017, da lavra do Procurador de Contas William de Almeida Brito Júnior, ratificado
por meio do Parecer n.º 2.914/2018, subscrito pelo Procurador Alisson Carvalho de
Alencar, e decido:

a) Pelo conhecimento e procedência da presente Representação de Natureza Interna


(RNI).

b) Pela aplicação de multa individual:

Quanto ao achado n.º 1:

b.1) À Sra. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, ex-Secretária de Ação

Social da Prefeitura de Pontes e Lacerda, ao Sr. Mário Machado e à Sra. Simony Karla

Sollicita PRO | 57
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Berlatto, membros da equipe de cotação, no valor de 30 UPFs/MT, nos termos do artigo


3º, § 3º, da Resolução Normativa n.º 17/2016, na forma de fundamentação prevista no art.
286, § 2º, do Regimento Interno deste Tribunal, em razão da incidência da irregularidade
GB06, por ocorrência de sobrepreço dos itens constantes na planilha de estimativa para
instruir a abertura do processo licitatório.

Quanto ao achado n.º 2:

b.2) Ao Sr. Fábio Bonfim de Oliveira, Pregoeiro Municipal, no valor de 10 UPFs/MT,


conforme art. 286, I, RI-TCE/MT, em consonância com o art. 3º, inciso II, alínea “a”, da
Resolução Normativa TCE/MT n.º 17/2016, em razão da incidência da irregularidade GB03,
pelo descredenciamento irregular da empresa R. P. A. De Farias - ME e o direcionamento
do certame em favor do Supermercado Dourado LTDA-EPP.

b.3) Às Sras. Vilma Vanete Vasso e Liliane Carvalho de Medeiros, membros da


equipe de apoio ao Pregoeiro, no valor de 6 UPF/MT, conforme art. 286, I, RI-TCE/MT
em consonância com o art. 3º, inciso II, alínea “a”, da Resolução Normativa TCE/MT n.º
17/2016, em razão da incidência da irregularidade GB03, pela inobservância do dever
funcional de levar ao conhecimento da autoridade superior a irregularidade de que teve
ciência em decorrência do exercício da função pública.

c) Pela condenação solidária à restituição ao erário do valor de R$ 111.051,63 (cento e


onze mil e cinquenta e um reais e sessenta e três centavos) pelo Supermercado Dourado
Ltda.-EPP, empresa vencedora da licitação; pela Sra. Iomara Santana Mara Kisner de
Moraes, ex-Secretária de Ação Social; pelo Sr. Mário Machado e pela Sra. Simony
Karla Berlatto, responsáveis pela elaboração do orçamento estimativo, em razão do
superfaturamento no Pregão Presencial n.º 46/2013.

d) Pela aplicação de multa individual de 10% (dez por cento) sobre o valor do dano ao
Supermercado Dourado Ltda.-EPP, à Sra. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, ao
Sr. Mário Machado e à Sra. Simony Karla Berlatto, nos termos do art. 7º, da Resolução
Normativa n.º 17/2016 e do art. 287 do RI/TCE-MT;

e) Pela determinação ao Poder Executivo de Barra do Garças, na pessoa do atual gestor,


para que elabore planilha orçamentária detalhada que expresse a estimativa real de
valores, com ampla pesquisa de preços no mercado, nas futuras licitações realizadas
pela Prefeitura, em consonância com o art. 7º, § 2º, II, da Lei n.º 8.666/1993.

142. Por fim, voto pelo encaminhamento de cópia dos autos ao Ministério Público
Estadual para conhecimento, já que os mesmos fatos, que dizem respeito a prejuízo ao
erário, estão sendo investigados pelo órgão.

É como voto.

Cuiabá/MT, 30 de outubro de 2018.

(assinatura digital)⁴⁴

JOÃO BATISTA DE CAMARGO JÚNIOR

Conselheiro Interino

Sollicita PRO | 58
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

ACÓRDÃOS

(Portaria nº 127/2017, DOC TCE/MT de 18/09/2017)

Resumo: PREFEITURA MUNICIPAL DE BARRA DO GARÇAS. REPRESENTAÇÃO DE


NATUREZA INTERNA ACERCA DE IRREGULARIDADES NO PREGÃO PRESENCIAL N°
46/2013, REFERENTE À AQUISIÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS PARA ATENDER AO
PROGRAMA DE FORNECIMENTO DE CESTAS BÁSICAS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE
AÇÃO SOCIAL.

JULGAMENTO PELA PROCEDÊNCIA. APLICAÇÃO DE MULTAS. RESTITUIÇÃO DE VALORES


AOS COFRES PÚBLICOS. DETERMINAÇÃO À ATUAL GESTÃO. ENCAMINHAMENTO DE
CÓPIA DOS AUTOS AO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL.

Vistos, relatados e discutidos os autos dos Processo nº 9.574-5/2016.

ACORDAM os Senhores Conselheiros do Tribunal de Contas, nos termos do artigo 1º,


XV, da Lei Complementar nº 269/2007 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado
de Mato Grosso), c/c o artigo 30-E, IX, § 1º, da Resolução nº 14/2007 (Regimento Interno
do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso), por unanimidade, acompanhando
o voto do Relator e de acordo, em parte, com o Parecer nº 3.353/2017 do Ministério
Público de Contas, ratificado por meio do Parecer nº 2.914/2018, em: a) conhecer e julgar
PROCEDENTE a Representação de Natureza Interna acerca de irregularidades no Pregão
Presencial nº 46/2013, referente à aquisição de gêneros alimentícios para atender ao
programa de fornecimento de cestas básicas da Secretaria Municipal de Ação Social,
formulada em desfavor da Prefeitura Municipal de Barra do Garças, gestão, à época, do
Sr. Roberto Ângelo de Farias, sendo os Srs. Fábio Bonfim Oliveira – ex-pregoeiro, Vilma
Vanete Vasso e Liliane Carvalho de Medeiros - equipe de apoio do pregoeiro oficial
à época, Mário Machado e Simony Karla Berlatto – servidores; Iomara Santana Mara
Kisner de Moraes - ex-secretária municipal de Assistência Social, neste ato representada
pelos procuradores Débora Suzana Ramos de Moraes Armando - OAB/MT nº 15.874
e João Paulo Sousa Ribeiro - OAB/MT nº 15.816; e Maria José de Carvalho (Maria do
Mercado) - vereadora municipal, neste ato representada pela procuradora Géssyka de
Souza Rondon Rocha - OAB/MT nº 11.731, e a empresa contratada Supermercado Dourado
Ltda. - EPP, representada pela procuradora imediatamente acima mencionada e pelo Sr.
Antônio Paulo de Carvalho - sócio majoritário, conforme fundamentos constantes no voto
do Relator; b) aplicar as seguintes multas, nos termos do artigo 286, I, § 2º, da Resolução
nº 14/2007, c/c o artigo 3º, II, “a”, § 3º, da Resolução Normativa nº 17/2016: b.1) aos Srs.
Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, Mário Machado e Simony Karla Berlatto a multa
de 30 UPFs/MT, para cada um, em razão da incidência da irregularidade GB 06, por
ocorrência de sobrepreço dos itens constantes na planilha de estimativa para instruir a
abertura do processo licitatório (achado nº 1); b.2) ao Sr. Fábio Bonfim de Oliveira (CPF nº
857.031.171-00) a multa de 10 UPFs/MT, em razão da incidência da irregularidade GB 03,
pelo descredenciamento irregular da empresa R. P. A. de Farias - ME e o direcionamento
do certame em favor do Supermercado Dourado Ltda. - EPP (achado nº 2); e, b.3) às
Sras. Vilma Vanete Vasso (CPF nº 424.210.121-04) e Liliane Carvalho de Medeiros (CPF
nº 317.820.191-20) a multa de 6 UPFs/MT, em razão da incidência da irregularidade GB
03, pela inobservância do dever funcional de levar ao conhecimento da autoridade
superior a irregularidade de que teve ciência em decorrência do exercício da função
pública (achado nº 2); c) determinar à empresa Supermercado Dourado Ltda. - EPP
(CNPJ nº 02.741.214/0001-44) e aos Srs. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes (CPF nº

Sollicita PRO | 59
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

289.139.058- 09), Mário Machado (CPF nº 124.906.521-68) e Simony Karla Berlatto (CPF
nº 719.103.871-34) que restituam aos cofres públicos, de forma solidária, o valor de R$
111.051,63 (cento e onze mil, cinquenta e um reais e sessenta e três centavos), em razão do
superfaturamento no Pregão Presencial nº 46/2013; d) aplicar à empresa Supermercado
Dourado Ltda. - EPP e aos Srs. Iomara Santana Mara Kisner de Moraes, Mário Machado
e Simony Karla Berlatto, para cada um, a multa de 10% (dez por cento) sobre o valor do
dano acima citado, nos termos do artigo 287 da Resolução nº 14/2007 e do artigo 7º da
Resolução Normativa nº 17/2016; e, e) determinar à atual gestão que elabore planilha
orçamentária detalhada que expresse a estimativa real de valores, com ampla pesquisa
de preços no mercado, nas futuras licitações realizadas pela Prefeitura, em consonância
com o artigo 7º, § 2º, II, da Lei nº 8.666/1993. A restituição de valores e as multas deverão
ser recolhidas com recursos próprios, no prazo de 60 dias. Os boletos bancários para
recolhimento das multas estão disponíveis no endereço eletrônico deste Tribunal de
Contas – http://www.tce.mt.gov.br/fundecontas. Encaminhe-se cópia digitalizada dos
autos ao Ministério Público Estadual, para conhecimento, já que os mesmos fatos, que
dizem respeito a prejuízo ao erário, estão sendo investigados pelo órgão.

Relatou a presente decisão o Conselheiro Interino JOÃO BATISTA CAMARGO (Portaria


nº 127/2017). (...)”

Sollicita PRO | 60
9. Acórdão nº 433/16 - Tribunal
Pleno – TCE/MT
Fiscalização de Contrato
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Acórdão nº 433/16 - Tribunal Pleno – TCE/MT – Fiscalização de Contrato

O Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso se manifestou, por meio do Acórdão nº 433/16,
sobre a necessidade de uma regular fiscalização contratual:

“EMENTA

Responsabilidade. Gestor. Fiscal de contrato. Deficiência na fiscalização.

A ocorrência de falhas ou deficiências no acompanhamento e fiscalização de contratos


administrativos (art. 67 da Lei nº 8.666/93) enseja a responsabilização do fiscal designado
e do gestor designante, podendo ambos se- rem responsabilizados por condutas
omissivas que provoquem danos ao erário ou à legalidade.

ACÓRDÃO Nº 433/2016 – TP

Resumo: SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, ESPORTE E LAZER. PREFEITURA


MUNICIPAL DE ACORIZAL. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL ACERCA DO CONVÊNIO
Nº 097/2008, CUJO OBJETO FOI A CONSTRUÇÃO DE 01 (UMA) UNIDADE ESCOLAR
NO DISTRITO DE ALDEIA. DECLARAÇÃO DE REVELIA. JULGAMENTO PELA
REGULARIDADE DAS CONTAS. APLICAÇÃO DE MULTA AO GESTOR E AO FISCAL DE
OBRA. RECOMENDAÇÃO À ATUAL GESTÃO MUNICIPAL.

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo nº 803-6/2013.

ACORDAM os Senhores Conselheiros do Tribunal de Contas, nos termos dos artigos 1º,
II, e 16 da Lei Complementar nº 269/2007 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado
de Mato Grosso), c/c o artigo 29, IX, da Resolução nº 14/2007 (Regimento Interno do
Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso), por unanimidade, acompanhando o voto
do Relator e contrariando o Parecer nº 2.531/2016 do Ministério Público de Contas em,
preliminarmente, declarar a REVELIA do Sr. Arlindo Miguel Ramos, com base no parágrafo
único do artigo 6º da Lei Complementar nº 269/2007; e, no mérito, julgar REGULARES as
contas referentes ao Convênio nº 097/2008, nos autos desta Tomada de Contas Especial,
celebrado entre Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer, gestão, à época, do
Sr. Ságuas Moraes Sousa, neste ato representado pelos procuradores Joacir José de
Carvalho – OAB/MT nº 4.568 e Aline Cristina Maehler – OAB/MT 8.108, e a Prefeitura
Municipal de Acorizal, gestão, à época, do Sr. Meraldo Figueiredo Sá, inscrito no CPF
nº 626.827.841-00, neste ato representado pelos procuradores Débora Simone Rocha
Faria – OAB/MT nº 4.198, Márcia Figueiredo Sá de Oliveira – OAB/MT nº 9.914, Carlos
Raimundo Esteves – OAB/MT nº 7.255 e Vanessa Arruda de Carli Esteves – OAB/MT nº
15.389, cujo objeto foi a construção de 01 (uma) unidade escolar no distrito de Aldeia,
no citado município; sendo os Srs. José Alves Pereira Filho – ex-secretário auditor-geral
do Estado, Ezequiel Ângelo da Fonseca – ex-secretário-adjunto de Estrutura Escolar/
SEDUC, Arlindo Miguel Ramos, inscrito no CPF nº 063.802201-00 – engenheiro fiscal do
Contrato de Obras nº 15/2008, e a empresa contratada Uniaço Construtora e Comércio
Ltda., conforme consta no voto do Relator; recomendando à atual gestão da Prefeitura
Municipal de Acorizal que acompanhe e fiscalize a realização de todas as suas licitações
e a execução de todos os objetos de contratos presentes e futuros a serem firmados
pela Administração Pública, de modo a evitar atrasos, irregularidades e subcontratações
nas obras públicas que firam a Lei de Licitações e o ordenamento jurídico administrativo,

Sollicita PRO | 62
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

sob pena de aplicação das sanções legais cabíveis; e, por fim, nos termos do artigo 3º, II,
“a”, da Resolução Normativa nº 17/2016, aplicar ao Sr. Meraldo Figueiredo Sá a multa de
12 UPFs/MT, em face do cometimento das irregularidades HB 15 - Contrato Grave (item
3.1), e HB 06 – Contrato Grave; aplicar ao Sr. Arlindo Miguel Ramos a multa de 6 UPFs/
MT, em face do cometimento da irregularidade HB 15 - Contrato Grave (item 3.1). As
multas deverão ser recolhidas com recursos próprios, no prazo de 60 dias. Os boletos
bancários para recolhimento das multas estão disponíveis no endereço eletrônico deste
Tribunal de Contas – http://www.tce.mt.gov.br/fundecontas.

Participaram do julgamento os Conselheiros VALTER ALBANO – Presidente, em


substituição legal, JOSÉ CARLOS NOVELLI, DOMINGOS NETO, SÉRGIO RICARDO e
MOISES MACIEL e o Conselheiro Substituto JOÃO BATISTA CAMARGO, que estava
substituindo o Conselheiro VALTER ALBANO.

Presente, representando o Ministério Público de Contas, o Procurador GETÚLIO


VELASCO MOREIRA FILHO.

Publique-se.

ACÓRDÃO Nº 433/2016 – TP

Sala das Sessões, 16 de agosto de 2016.

CONSELHEIRO VALTER ALBANO – Vice-presidente Presidente, substituição legal

CONSELHEIRO WALDIR JÚLIO TEIS

Relator

GETÚLIO VELASCO MOREIRA FILHO

Procurador de Contas

RELATÓRIO

1. Tratam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pela Secretaria de Estado


de Educação, contra a Prefeitura Municipal de Acorizal, em razão de suposta execução
parcial do objeto e da ausência de prestação de contas do Termo de Convênio nº
097/2008.

2. A Secretaria de Controle Externo de Obras e Serviços de Engenharia - Secex, mediante


relatório técnico conclusivo, sugeriu a aplicação de sanções aos senhores Meraldo
Figueiredo Sá – ex-Prefeito de Acorizal e Arlindo Miguel Ramos – Engenheiro Fiscal do
Contrato de Obras nº 015/2008.

3. O Ministério Público de Contas - MPC, representado pelo Procurador de Contas Getúlio


Velasco Moreira Filho, emitiu o Parecer nº 2.531/2016, e manifestou-se nos seguintes
termos:

a) Preliminarmente, pela declaração de revelia do Sr. Arlindo Miguel Ramos, a teor do art.
6º da Lei Complementar nº 269/2007;

Sollicita PRO | 63
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

b) Pelo julgamento de irregularidade das contas do Convênio nº 097/2008, firmado


entre a Prefeitura Municipal de Acorizal e a Secretaria de Estado de Educação de Mato
Grosso, para a construção de uma unidade escolar com 06 (seis) salas de aula, conjunto
de banheiros M/F, dependências administrativas, cozinha/refeitório, sala de informática,
sala de professor, instalações elétricas e hidrossanitárias, no Distrito de Aldeia, do
município de Acorizal/MT, nos termos do art. 194 da Lei Complementar nº 269/2007;

c) Pela aplicação de multa aos responsáveis, Sr. Meraldo Figueiredo Sá e Sr. Arlindo
Miguel Ramos, pela irregularidade HB15, conforme os termos do art. 75, inciso III, da
LC nº 269/07 c/c o art. 289, inciso II, do Regimento Interno do TCE/MT, com a redação
dada pela Resolução Normativa nº 17/2010, c/c art. 2º, II, e §1º e art. 3º, § 1º da Resolução
Normativa nº 17/2016;

d) Pela aplicação de multa aos responsáveis, Sr. Meraldo Figueiredo Sá e empresa


Uniaço Construtora e Comércio Ltda, pela irregularidade HB06, conforme os termos do
art. 75, inciso III, da LC nº 269/07 c/c o art. 289, inciso II, do Regimento Interno do TCE/
MT, com a redação dada pela Resolução Normativa nº 17/2010, c/c art. 2º, II, e §1º e art.
3º, § 1º da Resolução Normativa nº 17/2016.

4. É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

HISTÓRICO

5. Esta tomada de contas especial foi instaurada pela Secretaria de Estado de Educação,
em desfavor da Prefeitura Municipal de Acorizal, em razão de execução parcial do objeto
e da ausência de prestação de contas do Termo de Convênio nº 097/2008.

6. O objeto do referido convênio era a construção de uma unidade escolar com 6 (seis)
salas de aula, conjunto de banheiros, dependências administrativas, cozinha/refeitório,
sala de informática, sala de professor, instalações elétricas e hidrossanitárias, no Distrito
de Aldeia, do município de Acorizal/MT, no valor de R$ 670.199,58 (seiscentos e setenta
mil, cento e noventa e nove reais e cinquenta e oito centavos).

7. Cumpre esclarecer que todos os representados foram citados, entretanto o Sr. Arlindo
Miguel Ramos não apresentou defesa, mesmo após sua citação via edital, conforme
Edital de Notificação nº 182/WJT/2016, publicado no Diário Oficial de Contas nº 838, de
29 de março de 2016.

8. Em virtude disso, por não atender à solicitação deste Tribunal, considero o Sr. Arlindo
Miguel Ramos, revel nos termos do artigo 140, § 1º, do Regimento Interno do TCE-MT, c/c
o parágrafo único do art. 6º, da Lei Complementar nº 269/2007.

9. Com isso, passo à análise das irregularidades que permaneceram, abaixo discriminadas:

Sollicita PRO | 64
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Contrato Grave. Ineficiência no acompanhamento e fiscalização da execução


contratual pelo representante da Administração especialmente designado (art.
67 da Lei 8.666/1993).

Responsáveis Meraldo Figueiredo Sá (ex-Prefeito de Acorizal) e Arlindo


Miguel Ramos (Fiscal da Obra):

- Item 3.1 - Serviços não executados, executados em quantidade inferior e mal


executados.

Defesa do Sr. Meraldo Figueiredo Sá

10. Em sua defesa o gestor afirmou que a Prefeitura não pode ser responsabilizada, pois
não teria ocorrido formalização de contrato com a empresa JK Construções e Comércio
Ltda., diretamente com a Prefeitura de Acorizal.

11. O ex-prefeito argumentou que não caberia sua responsabilização em face dos atos
praticados por profissional qualificado e detentor de conhecimento e domínio sobre a
técnica empregada na execução do objeto contratual.

Análise da Equipe de Auditoria

12. Quanto à irregularidade HB15, apontada como de responsabilidade do Sr. Meraldo


Figueiredo Sá, a Secretaria de Controle Externo de Obras e Serviço de Engenharia
destacou que, embora a Prefeitura tenha sido informada das pendências na execução
da obra, as irregularidades persistiram, tendo sido constatado ineficiência no
acompanhamento e na fiscalização da execução contratual.

13. Em relação ao apontamento contra o Sr. Arlindo Miguel Ramos, a Secex aduziu que
este permitiu que a contratada executasse serviços fora dos padrões de qualidade e das
especificações técnicas previstas no projeto do objeto conveniado, bem como deixou de
adotar as medidas necessárias para que promovesse as correções das irregularidades
apontadas pelos técnicos da SEDUC.

14. A equipe destacou que a defesa não juntou documento que comprovasse que
os defendentes tivessem tomado alguma providência efetiva a fim de sanear as
irregularidades, e sugeriu pela manutenção da irregularidade.

Manifestação do Ministério Público de Contas

15. O Ministério Público de Contas - MPC concordou com o entendimento da equipe


técnica e opinou pela manutenção dos apontamentos elencados no relatório elaborado
pela Secex de Obras e Serviços de Engenharia, bem como pela penalização dos
responsáveis na medida de suas responsabilidades.

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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

16. O MPC argumentou que o ex-gestor da Prefeitura foi notificado pelos técnicos da
SEDUC acerca das inconformidades na obra pública, mas ficou inerte.

17. O Parquet manifestou que, embora as atribuições precípuas de fiscalização recaiam


ao fiscal da obra, o Engenheiro Arlindo Miguel Ramos, o ex-gestor da prefeitura foi
omisso na cobrança de medidas para solucionar as pendências verificadas pela SEDUC.

Posição do Relator

18. Quanto à irregularidade HB 15, item 3.1, sobre a ineficiência no acompanhamento e


fiscalização da execução contratual, apontada como de responsabilidade do Sr. Meraldo
Figueiredo Sá, verifica-se que o ex-gestor se omitiu em adotar as medidas a fim de
garantir que a fiscalização da obra tomasse providências no sentido de assegurar a
correção de todas as irregularidades.

19. Por outro lado, penso que nem sempre é necessário que o superior hierárquico
deflagre ações ou “mandamentos” ao subordinado para que execute suas funções
dentro da qualidade e necessidade que o fato requer. Ora, se há alguém que aceitou ser
fiscal de contrato, deve saber das suas obrigações, caso contrário se é somente para
cumprir formalidades não pode assumir o ônus de ser fiscal.

20. Acredito que não há necessidade de a cada irregularidade ou anomalia numa


construção, ser necessário que o gestor maior expeça ordens para que as coisas sejam
feitas a contento. Se isso for necessário não precisa de fiscal.

Portanto, não há como, também, deixar de aplicar a penalidade corretiva ao fiscal acima
nominado.

21. Denota-se que a SEDUC realizou fiscalização no local da obra e notificou a Prefeitura
sobre as impropriedades encontradas na execução do convênio com o município de
Acorizal, sobre a construção da unidade escolar do Distrito de Aldeia.

22. Cumpre ressaltar que a SEDUC efetuou visitas na Escola Estadual do Distrito de
Aldeia desde 2009, ao passo que em 13 de junho de 2011 constatou que esta já estava
em funcionamento, mesmo sem o saneamento das irregularidades.

23. Destaca-se que o ex-gestor, após ter sido cientificado reiteradas vezes sobre os
apontamentos feitos pelos técnicos da SEDUC, sobre a execução da obra, deveria ter
tomado providências com o objetivo de saná-los. Entretanto, permaneceu inerte quanto
ao seu dever legal.

24. Nota-se que as justificativas do ex-gestor não são capazes de afastar a irregularidade.
Cumpre esclarecer que mesmo com a delegação de funções do Chefe do Poder Executivo
a subordinados, isso não é capaz de afastar a sua responsabilidade, conforme expresso
no Regimento Interno deste Tribunal, no art. 189, § 3º, cuja redação é a seguinte:

Art. 189. As contas serão julgadas de acordo com os elementos constantes dos
autos e demais provas obtidas através de auditorias, levantamentos, inspeções,
acompanhamentos e monitoramentos, assegurados ao responsável o contraditório e a
ampla defesa. (Nova redação do caput do artigo 189 dada pela Resolução Normativa nº
5/2016).

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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

(…)

3º. A delegação de competência de atos administrativos, incluindo os de ordenação


de despesas, não isenta o gestor delegante de responsabilidade por ato do agente
delegado.

25. Insta salientar que tal preceito determina a permanência da responsabilização dos
gestores pelos atos praticados por seus subordinados, ainda que os atos tenham sido
delegados. Aos superiores hierárquicos podem então ser imputadas responsabilidades,
em decorrência da inobservância do dever de cuidado por procedimentos de agentes
que estejam legalmente sob sua subordinação.

26. Com isso, mantenho a irregularidade HB 15 Contrato Grave, item 3.1, e aplico multa
de 6 UPFs/MT ao Sr. Meraldo Figueiredo Sá, de acordo com o artigo 3º, II, “a”, da
Resolução Normativa nº 17/2016.

Contrato Grave. Ocorrência de irregularidades na execução dos contratos (Lei


8.666/1993).

Responsável Meraldo Figueiredo Sá (ex-Prefeito de Acorizal):

- Subcontratação da empresa JK Construções para a execução de parte dos


serviços referentes ao objeto do Contrato nº 15/2008, ainda que o instrumento
convocatório e o contrato tivessem proibido expressamente a subcontratação
parcial ou total do objeto contratado.

Defesa do Sr. Meraldo Figueiredo Sá

27. O defendente alegou que a empresa JK Construções e Comércio Ltda., contribuiu


apenas na prestação de serviços, e que não teria sido estabelecida relação jurídica desta
com a Prefeitura.

28. A defesa sustentou que a empresa JK Contruções e Comércio não teria executado
diretamente os serviços em decorrência de vínculo contratual com a Prefeitura, mas
os executaria por meio da empresa Uniaço Construtora e Comércio Ltda, esta sim a
responsável pela obra.

29. Ainda relatou que não ocorreu subcontratação da obra, pois teria sido executada
pelas empresas mencionadas por meio do sistema de parceria, o que não causaria
prejuízo ao erário, pois os valores respeitariam a proposta vencedora da licitação.

Análise da Equipe Instrutória

30. A Secex afirmou que a defesa admitiu que a empresa Uniaço Construtora e Comércio

Sollicita PRO | 67
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

Ltda. firmou contrato com a empresa JK Construções e Comércio Ltda., a qual teria
contribuído apenas com a prestação de serviços para a execução do objeto do Contrato
de Obras nº 15/2008.

31. A equipe técnica sustentou que consta do Termo de Declarações (documento nº


7017/2013, às fls. 25/26-TCE) subscrito pelo senhor Carlos Raimundo Esteves, Assessor
Jurídico do Município, que, em decorrência de dificuldades financeiras da empresa
Uniaço Construtora e Comércio Ltda., a obra em questão teria ficado paralisada por cinco
meses, tendo a sua execução sido retomada pela empresa JK Construções e Comércio
Ltda., conforme acordo verbal firmado pela empresa Uniaço Construtora e Comércio
Ltda. e representantes da administração municipal.

32. Ainda, a equipe instrutória destacou que consta do referido Termo de Declarações
que a empresa Uniaço Construtora e Comércio Ltda. reteria 15% (quinze por cento)
dos valores que lhe fossem pagos e repassaria os 85% (oitenta e cinco por cento)
remanescentes à empresa JK Construções e Comércio Ltda.

33. Não obstante, ressaltou que a subcontratação poderia remotamente ocorrer somente
nos casos de contratos administrativos em que a subcontratação fosse permitida, com
autorização expressa da Administração, após a verificação do atendimento, por parte
da pretensa subcontratada, das condições de habilitação previstas no instrumento
convocatório.

34. Ao final, afirmou que a subcontratação sem previsão em contrato e no instrumento


convocatório constitui razão para a rescisão do contrato e, sugeriu a manutenção da
irregularidade.

Manifestação do Ministério Público de Contas

35. O MPC concordou com a sugestão da equipe técnica e opinou pela manutenção da
irregularidade.

36. O Parquet afirmou que houve a subcontratação da empresa JK Construções para


a execução de parte dos serviços referentes ao objeto do Contrato nº 15/2008, ainda
que o instrumento convocatório e o contrato tivessem proibido expressamente a
subcontratação parcial ou total do objeto contratado.

37. O órgão ministerial destacou ainda que, pelos autos, ficou comprovado que a
Prefeitura tinha conhecimento acerca da subcontratação da empresa JK Construções e
Comércio Ltda. Na própria peça de defesa consta que a empresa em tela teria atuado
em parceria com a Uniaço Construtora e Comércio Ltda.

38. Ao final, destacou que tal conduta configura afronta de natureza grave à Lei de
Licitações, dado que a própria norma caracteriza como motivo para a rescisão contratual
a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem,
a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, não
admitidas no edital e no contrato, conforme o art. 78, VI, da Lei de Licitações.

Posição do Relator

39. Em relação à irregularidade HB 06, atribuída ao Sr. Meraldo Figueiredo Sá, verifica-

Sollicita PRO | 68
Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

se que o ex-gestor permitiu que a empresa responsável pelo cumprimento do objeto do


Contrato de Obras nº 15/2008, e do Convênio nº 097/2008, subcontratasse parte das
obras mesmo existindo expressa vedação legal para tanto.

40. Nota-se que na Cláusula III do Contrato de Obras nº 15/2008 está expresso, que
constitui obrigação da contratada não subcontratar, parcial ou totalmente, o objeto do
contrato. No mesmo sentido delibera o edital Tomada de Preços nº 005/2008 em seu
anexo III.

41. Depreende-se do relatório final da Secex que houve a subcontratação da empresa JK


Construções para a execução de parte dos serviços referentes ao objeto do Contrato nº
15/2008, e que a prefeitura detinha conhecimento sobre isso, visto que na própria defesa
alegou que a referida empresa teria atuado em parceria com a Uniaço Construtora e
Comércio Ltda.

42. Vale destacar o Termo de Declarações, subscrito pelo Assessor Jurídico do Município,
no qual se extrai o acordo do município com a empresa Uniaço Construtora e Comércio
Ltda, a fim de retomar as obras sob responsabilidade da empresa JK Construções e
Comércio Ltda. (Documento Digital nº 7017/2013, às fls. 25/26-TCE).

43. Dessa forma, a subcontratação total ou parcial do objeto do contrato na forma


realizada, afronta a Lei nº 8.666/93, mais especificamente em seu artigo 78, IV, na medida
em que é motivo para a rescisão contratual, nos seguintes temos:

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

(...)

VI- A subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado


com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou
incorporação, não admitidas no edital e no contrato; (grifo nosso)

44. Com isso, mantenho a irregularidade HB 06 Contrato Grave, e aplico multa de 6


UPFs/MT ao Sr. Meraldo Figueiredo Sá, de acordo com o artigo 3º, II, “a”, da Resolução
Normativa nº 17/2016.

45. Apesar de haver irregularidades na execução do presente convênio, em razão de


serviços não executados, executados em quantidade inferior e mal executados, que
decorrem da ineficiência no acompanhamento e fiscalização da execução contratual
pelo representante da Administração especialmente designado e também pela
subcontratação da empresa JK Construções, para a execução de parte dos serviços
referentes ao objeto do Contrato nº 15/2008, ainda que o instrumento convocatório e o
contrato tivessem proibido expressamente a subcontratação parcial ou total do objeto
contratado, penso que não cabe neste momento, o julgamento irregular da presente
tomada de contas especial.

46. Embora o teor descritivo da irregularidade que aponta o fato de serviços não
executados e mal executados, não ficou demonstrado quais serviços não foram
executados e se mesmo assim foram pagos. Isso a peça instrutória não traz.

47. Outro fato, trata da subcontratação de empresa para a conclusão dos serviços. Pelo

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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

que foi posto pelo Assessor Jurídico do município de que a obra teria sido paralisada
por mais de cinco meses, isso por si só, seria motivo de rescisão contratual, conforme
estabelece o artigo 78, e incisos, da lei de licitações.

48. Porém, há outro fato que deve ser levado em conta. A outra empresa que deu
andamento na obra, atuou sob a responsabilidade da empresa contratada e vencedora
do certame. Caso houvesse a rescisão do contrato, por certo o prejuízo seria maior e
os problemas causados aos alunos da comunidade pela falta da escola, seriam mais
danosos, pois, havendo a rescisão, obrigatoriamente o município deveria deflagrar outro
processo licitatório.

49. A demora para a solução do caso seria muito maior, talvez mais de ano, haja vista
que muitas vezes há impugnações no processo licitatório. Ainda que tenha havido a
infringência do dispositivo legal mencionado, a solução para a sociedade foi mais
benéfica, apesar da constatação de qualidade inferior, porém isso não alterou os valores
contratados e também não houve qualquer recomendação da equipe técnica, sugerindo
a correção dos serviços. A questão que trata da “má qualidade”, ficou prejudicada haja
vista que não há nos autos, especificamente qual seria a qualidade aceitável.

50. Não obstante as reprimendas apresentadas e sugeridas pelo Ministério Público de


Contas, recomendo à Prefeitura de Acorizal que acompanhe e fiscalize a realização de
todas as suas licitações e a execução de todos os objetos de contratos presentes ou
futuros a serem firmados pela Administração, de modo a evitar atrasos, irregularidades
e subcontratações nas obras públicas que firam a Lei de Licitações e o ordenamento
jurídico administrativo, sob pena de aplicação das sanções legais cabíveis.

51. Portanto, por esses motivos e com base no Relatório de Auditoria e no Parecer
Ministerial, profiro meu voto.

VOTO

52. Diante do exposto, com base no artigo 29, inciso IX, do Regimento Interno deste
Tribunal, não acolho o parecer do Ministério Público de Contas nº 2.531/2016, do
Procurador de Contas Getúlio Velasco Moreira Filho, e voto pela regularidade das contas
referentes ao Convênio nº 097/2008, nos autos desta tomada de contas especial, de
acordo com o artigo 193, § 2º, do Regimento Interno deste Tribunal, e com o artigo 16, da
Lei Complementar nº 269/2007, no seguinte sentido:

a) pela declaração de revelia do Sr. Arlindo Miguel Ramos, com base no parágrafo
único do artigo 6º da Lei Orgânica deste Tribunal;

b) pela aplicação de multas da seguinte maneira:

I- 12 UPFs/MT ao Sr. MERALDO FIGUEIREDO SÁ – ex-Prefeito de Acorizal, face ao


cometimento das irregularidades HB 15 Item 3.1 e HB 06, de acordo com a dosimetria
estabelecida no artigo 3º, II, “a”, da Resolução Normativa nº 17/2016;

II- 6 UPFs/MT ao Sr. ARLINDO MIGUEL RAMOS – Fiscal da Obra, face ao cometimento
da irregularidade HB 15, item 3.1, de acordo com a dosimetria estabelecida no artigo 3º,
II, “a”, da Resolução Normativa nº 17/2016;

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Decisões relevantes de Tribunais de Contas Estaduais para Municípios

c) pela recomendação à atual gestão da Prefeitura de Acorizal para que acompanhe e


fiscalize a realização de todas as suas licitações e a execução de todos os objetos de
contratos presentes e futuros a serem firmados pela Administração Pública, de modo a
evitar atrasos, irregularidades e subcontratações nas obras públicas que firam a Lei de
Licitações e o ordenamento jurídico administrativo, sob pena de aplicação das sanções
legais cabíveis.

53. O recolhimento das multas deverá ser feito no prazo de 60 dias, conforme preceitua
a Lei nº 8.411/2005, ao Fundo de Reaparelhamento e Modernização do Tribunal de
Contas do Estado de Mato Grosso, em consonância com o disposto no art. 286, §§ 1º e
3º, da Resolução Normativa nº 14/2007, cujo respectivo boleto bancário está disponível
na web, no endereço eletrônico deste Tribunal de Contas http://www.tce.mt.gov.br/
fundecontas e que só será dada quitação aos responsáveis após o adimplemento dos
débitos.

54. É como voto.

Tribunal de Contas, 1 de agosto de 2016.

WALDIR JÚLIO TEIS

Conselheiro Relator”

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