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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0702555-25.2020.8.07.0018


APELANTE(S) SM7 ENGENHARIA, TECNOLOGIA E IMPORTACAO LTDA
GERENTE DE ACOMPANHAMENTO DE RECURSOS DA
APELADO(S) CAESB,SUPERINTENDENTE FINANCEIRO DA CAESB e COMPANHIA DE
SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL - CAESB
Relatora Desembargadora GISLENE PINHEIRO

Acórdão Nº 1303647

EMENTA

ADMINISTRATIVO. CONTRATO ADMINISTRATIVO. REAJUSTE DE VALORES. DATA


BASE. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA. PERIODICIDADE ANUAL. DIA E MÊS.

1. Conforme as disposições da Lei 10.192/2001, que regula a forma de reajuste dos contratos
administrativos, é garantido que os reajustes respeitem a periodicidade mínima de um ano e a data base
para a ocorrência dos reajustes deve ser a data limite para apresentação de proposta.

2. Considerar apenas o mês de apresentação da proposta seria violar a periodicidade anual, razão pela
qual devem ser considerados dia e mês para fins de fixação da data base.

3. Recurso desprovido. Sentença mantida.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, GISLENE PINHEIRO - Relatora, CRUZ MACEDO - 1º Vogal e GETÚLIO
MORAES OLIVEIRA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora GISLENE
PINHEIRO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. IMPROVIDO. UNANIME., de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 25 de Novembro de 2020


Desembargadora GISLENE PINHEIRO
Presidente e Relatora

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de apelação interposto por SM7 ENGENHARIA, TECNOLOGIA E


IMPORTAÇÃO LTDA contra a sentença de Id. 19381873, proferida pelo Juízo da 5ª Vara Cível de
Brasília, que denegou a segurança consistente na anulação de ato administrativo e reconhecimento de
direito a reajuste de preços de serviços realizados desde o dia 1° de agosto de 2019.

Em seu recurso, a impetrante/apelante afirma que firmou contrato administrativo com a COMPANHIA
DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL – CAESB e entende que o
instrumento prevê o reajuste dos valores do contrato na data base de um ano após a apresentação da
proposta, sendo considerado o mês da apresentação.

Narra que o ente administrativo teve a interpretação de que o prazo de reajuste deve ser considerado
em dias.

Assevera que sua proposta, quando do procedimento licitatório, foi apresentada no dia 20 do mês de
agosto de 2018, sendo que o edital definiu que o reajuste dos preços teria por base o mês de
apresentação da proposta, o que levaria à incidência do reajuste a partir de do dia 1° de agosto de 2019.

Argumenta que nas “condições gerais do contrato” previstas no edital de licitação está disposto que a
medida de tempo adotada entre as partes contratantes é o MÊS.

Aduz que a não consideração do mês como base do reajuste gera prejuízos pelos serviços prestados
entre o 1° e 19° dia do mês de agosto de 2019 que não foram objeto de reajuste.

Nesse sentido, postula o provimento de seu recurso para que seja reformada a sentença e concedida a
ordem para determinar que as autoridades coatoras procedam o reajuste do contrato a partir do dia 1°
de agosto de 2019.

Preparo nos IDs. 19381880 e 19381881.

Contrarrazões do apelado, Id. 19381886, pela manutenção do julgamento monocrático.

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - Relatora


Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.

Na origem, a impetrante, SM7 ENGENHARIA, TECNOLOGIA E IMPORTAÇÃO LTDA, ingressou


com ação mandamental contra ato que dispôs sobre reajuste de valores de contrato administrativos,
alegando que o valor deveria ter por base o mês de apresentação da proposta vencedora da licitação e
não o dia e mês de apresentação.

A sentença recorrida denegou a segurança.

Irresignada, a impetrante apresentou apelo nos termos das razões recursais anteriormente relatadas.

Para melhor compreensão da controvérsia, vejamos o seguinte trecho do relatório consignado na


sentença (Id. 19381874):

Trata-se de mandado de segurança impetrado por SM7 ENGENHARIA, TECNOLOGIA


E IMPORTACAO LTDA contra atos do GERENTE DE ACOMPANHAMENTO DE
RECURSOS DA CAESB e SUPERINTENDENTE FINANCEIRO DA CAESB. Alegou a
impetrante que integrou o concorsórcio vencedor da licitação deflagrada pelo Edital LN
nº 016/2018 da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, e firmou
contrato administrativo nº 9022, em 05/12/2018. Afirmou que os preços contratados
ficaram sujeitos a reajuste após decorridos 12 (doze) meses. Sustentou que a data para
incidência do reajuste deve ter por base o mês de apresentação da proposta na fase de
licitação. Contudo, as autoridades impetradas teriam feito intepretação diversa,
alegando que deveria ser considerado o dia e mês da apresentação da proposta. Aduziu
que a interpretação das impetradas está em desacordo com as normas editalícias e
normas que regem a matéria. Requereu a concessão da segurança para determinar a
anulação do ato coator, reconhecendo o direito ao reajuste de preços dos serviços por
ela realizados desde o primeiro dia de Agosto de 2019.Ministério Público informou que
não há interesse que justifique sua intervenção no caso dos autos e não se manifestou
quanto ao mérito da ação (ID 61775622).

A questão da controvérsia recursal diz respeito à forma de reajuste de contrato administrativo e como
deve ser considerada a data base do reajuste se pelo mês ou pelo dia e mês da proposta vencedora de
procedimento licitatório.

Para a melhor análise da questão colaciono os artigos 2° e 3° da Lei n. 10.192/2001 que dispõem
sobre as formas de reajustes de contratos firmados pela Administração Pública pelo regime de direito
público:

Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste por índices de


preços gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos custos de produção ou dos
insumos utilizados nos contratos de prazo de duração igual ou superior a um ano.

§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de


periodicidade inferior a um ano.

(...)

Art. 3o Os contratos em que seja parte órgão ou entidade da Administração Pública


direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão
reajustados ou corrigidos monetariamente de acordo com as disposições desta Lei, e, no
que com ela não conflitarem, da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.

§ 1o A periodicidade anual nos contratos de que trata o caput deste artigo será contada
a partir da data limite para apresentação da proposta ou do orçamento a que essa se
referir.

(...)

A leitura dos dispositivos legais acima mencionados deixam claro que a intenção do legislador é
garantir que os reajustes respeitem a periodicidade mínima de um ano e a data base para a ocorrência
dos reajustes deve ser a data limite para apresentação de proposta.

Ora, considerar o mês de apresentação da proposta seria desrespeitar a periodicidade mínima além de
violar flagrantemente o disposto no art. 3°, § 1°, da Lei n. 10192/2001 acima transcrito, pois a data
base pretendida pelo recorrente (01/08/2019) não respeita o período de um ano da data da proposta
(20/08/2018).

Nesse sentido, colaciono o seguinte julgado:

ADMINISTRATIVO. CONTRATO. LICITAÇÃO. EDITAL. PREÇO DA ENERGIA


ELÉTRICA. CONTRATO DE SUPRIMENTO DE ENERGIA Nº OC-1819/2005. DATA
BASE. REAJUSTE CONTRATO. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA. AGRAVO RETIDO.
INÉPCIA DA INICIAL. CONEXÃO. IRREGULARIDADE NA REPRESENTAÇÃO
PROCESSUAL. PRELIMINARES REJEITADAS. HONORÁRIOS.

1. Por força do princípio da vinculação do instrumento convocatório (art. 41 da Lei n.


8.666/93), não pode a Administração deixar de cumprir as normas constantes no edital
de licitação, nem o particular se abster de atender às exigências ali estabelecidas.

2. O Edital como "lei interna" da licitação deve sobrepor-se aos interessados de forma a
assegurar a lisura, transparência e isonomia no que diz respeito ao cumprimento dos
seus requisitos e exigências, tudo direcionado ao interesse público.

3. A periodicidade anual para fins de critério de reajuste de contratos em que seja parte
órgão ou entidade da Administração Pública será contada a partir da data de
apresentação da proposta.

4. No caso, foram corrigidos (a) o mês em que se deve realizar o reajuste dos valores
contratados; (b) o mês de referência para a adoção do IGPM no reajuste dos preços; (c)
a fórmula adotada para o cálculo dos reajustes dos preços praticados.

5. A ausência de provas documentais acerca das alegações autorais não leva


necessariamente a um juízo de inépcia da inicial. Isto porque, em diversas situações, a
parte autora poderá demonstrar a veracidade de suas alegações por outros meios de
provas (art. 332 do CPC). Não se pode tolher a dedução da pretensão do autor, porque
ele não provou o seu direito já na petição inicial.

6. Uma vez apreciada a questão concernente à conexão por órgão colegiado deste
Tribunal, não a reconhecendo, a questão tornou-se preclusa, não havendo mais
justificativa plausível para rediscussão do tema em outro órgão fracionário.

7. Analisando os autos, afastou-se qualquer alegação de irregularidade na representação


processual da parte autora.

8. Negou-se provimentoao Agravo Retido da AMAZONAS DISTRIBUIDORA DE


ENERGIA S/A (atual denominação de MANAUS ENERGIA S/A)

9. Negou-se provimento ao apelo da ELETROBRÁS e da AMAZONAS DISTRIBUIDORA


DE ENERGIA S/A.

10. Deu-se provimento ao apelo da RIO AMAZONAS ENERGIA S/A.

(Acórdão 858318, 20090110102438APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, , Revisor:


GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, 3ª TURMA CÍVEL, data de julgamento:
25/3/2015, publicado no DJE: 31/3/2015. Pág.: 240)

Com tais fundamentos, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao recurso para manter integralmente o
disposto na sentença. Sem honorários em razão do rito do mandado de segurança, art. 25 da Lei n.
12.016/2009.

É como voto.

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. IMPROVIDO. UNANIME.

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