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À Secretaria da Segunda Câmara,

Trata-se de denúncia, com pedido de medida cautelar,


formulada pela pessoa jurídica Augusto Pneus EIRELI em face do edital
do Pregão Eletrônico n.º 1251666 39/2023 (Processo SEI n.º
1250.01.0010761/2023-06), promovido pela Polícia Militar de Minas
Gerais (Comando de Policiamento de Meio Ambiente), cujo objeto é a
“aquisição de PNEUS NOVOS AUTOMOTIVOS” (p. 42 da peça 02).
A denunciante sustenta, em síntese, que a exigência de
apresentação de Certificado de Regularidade no IBAMA em nome do
fabricante, prevista na Cláusula 6.7 do Termo de Referência, configuraria
restrição excessiva, já que excluiria do certame a participação de licitantes
que comercializam pneus importados.
Aponta, ademais, suposta irregularidade quanto ao
agrupamento do objeto em lote único, ao argumento de que não houve a
devida comprovação da inviabilidade da divisão em itens e da
vantajosidade econômica para a Administração.
Por fim, requer a concessão de medida liminar para a
suspensão do certame.
Cumpre destacar que a presente denúncia deu entrada neste
gabinete em 16/10/2023, ao passo que a sessão de abertura do pregão está
prevista para o dia 25/10/2023.
No tocante à exigência de apresentação do Certificado de
Regularidade junto ao IBAMA emitido em nome do fabricante, o
Pregoeiro se pronunciou em sede de impugnação administrativa
formulada pela empresa ora denunciante.
Na oportunidade, concluiu-se que, de fato, não seria o caso
de exigir o certificado unicamente do fabricante, conforme prejulgamento
de tese fixado em consulta deste Tribunal, julgando-se procedente a
impugnação quanto a este ponto e procedendo-se a alteração editalícia
para permitir a apresentação do Certificado de Regularidade perante o
IBAMA emitido em nome do fabricante ou do importador de pneus
novos, fixando-se nova data para sessão de julgamento, devidamente
publicada no “Minas Gerais” de 06/10/23.
Diante do deferimento da impugnação administrativa ao
edital em relação a este questionamento e da consequente alteração do
instrumento convocatório, tem-se que o pleito da denunciante já foi
acolhido pelo órgão licitador, razão pela qual o pedido encontra-se
prejudicado no âmbito deste processo de controle.
Noutro giro, quanto ao agrupamento de itens no mesmo
lote, a denunciante alega que o parcelamento é a regra e que apenas
excepcionalmente se permite a junção de produtos e serviços em um lote,
não sendo o caso do presente certame, cujo objeto viabilizaria
tecnicamente a divisão em itens.
De fato, depreende-se do art. 23, §1º, da Lei n.º 8.666/93,
que a regra é a divisão do objeto em tantas parcelas quantas se

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comprovarem técnica e economicamente viáveis. Nas lições de Marçal
Justen Filho:

“A obrigatoriedade do fracionamento respeita limites de ordem


técnica e econômica. Não se admite o fracionamento quando
tecnicamente isso não for viável ou, mesmo, recomendável. O
fracionamento em lotes deve respeitar a integridade qualitativa do
objeto a ser executado. Não é possível desnaturar um certo objeto,
fragmentando-o em contratações diversas e que importam o risco
de impossibilidade de execução satisfatória.” (Comentários à Lei de
Licitações e Contratos Administrativos. 13ª ed. São Paulo:
Dialética, 2009, p. 265)

No mesmo sentido, excerto da decisão contida no Agravo


n.º 863.135, do Pleno desta Corte de Contas, proferida em 18/4/12:

“Com efeito, segundo entendimento uníssono da doutrina e


posicionamento pacificado por este Tribunal na Súmula n.º 114,
ambos fundamentados no § 1º do art. 23 da Lei n.º 8.666/93, em se
tratando de objeto divisível, conquanto a regra seja o parcelamento,
mostra-se legítima a licitação em um único lote quando esta for
técnica ou economicamente mais vantajosa para a Administração.
[...] Dessa forma, estando demonstrado que a opção pelo não
parcelamento do objeto licitado se mostra mais vantajosa, entendo
cabível a revogação da decisão liminar para permitir a continuidade
do certame, sem prejuízo do prosseguimento do processo
principal.”

Assim, desde que observados os limites legais, a escolha da


melhor forma de contratação cabe ao administrador, utilizando-se de
critérios de conveniência e oportunidade, resguardando-se a isonomia
entre os licitantes, a vantajosidade para a Administração e a

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sustentabilidade como preservação do meio ambiente (inteligência do art.
3º do Estatuto Nacional de Licitações e Contratos).
In casu, encontra-se, no Termo de Referência, justificativa
para o agrupamento em lote único:

“2.2. Essa abordagem justifica-se para evitar a contratação de


múltiplos fornecedores para itens individuais do certame, o que
poderia causar prejuízos ao conjunto da operação. Um exemplo
disso seria a contratação de fornecedores diferentes para a
aquisição de pneus. Ao agrupar os pneus em um único lote,
simplifica-se a gestão do contrato, negociação de preços e garante-
se a conformidade, economizando recursos públicos.
(...)
2.4. Em resumo, a decisão de realizar a licitação em lote único,
agrupando os itens de acordo com critérios técnicos e econômicos,
visa garantir a eficiência na administração dos recursos públicos e
a boa execução dos serviços, em conformidade com as orientações
do TCU e do TCE/MG”.

Também em resposta a impugnação formulada pela empresa


ora denunciante, o Pregoeiro esclareceu que a aglutinação de itens em lote
único implica aquisição mais vantajosa para a Administração e economia
de escala.
Não bastasse, a denunciante não logrou êxito em demonstrar
que a licitação em lote seria economicamente desfavorável ao órgão
licitador.
Convém recordar que, por força do disposto no art. 300 do
Código de Processo Civil, de aplicação subsidiária aos processos de contas,
a tutela de urgência somente será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito, o perigo na demora e risco
iminente.

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Cotejando os apontamentos aduzidos pela denunciante e os
termos do instrumento convocatório, não vislumbro, em juízo
perfunctório, disposições restritivas à competição ou prejudiciais aos
interesses da Administração e dos particulares capazes de ensejar a
concessão da medida cautelar, em razão do que indefiro o pedido liminar.
Ressalto, contudo, que este Tribunal de Contas poderá
determinar a suspensão dos procedimentos licitatórios em qualquer fase
até a data da assinatura do respectivo contrato, nos termos do art. 60 da
Lei Orgânica e do art. 267 do Regimento Interno.
Junte-se a petição protocolizada sob o n.º 9001081900/2023,
na qual a denunciante requer acesso aos autos e garantia de “vista
permanente”, em virtude do sigilo das peças e movimentações.
Nos termos do art. 67 da Lei Complementar n.º 102/08 e do
art. 305 da Resolução n.º 12/08, a denúncia mantém o “caráter sigiloso até
que sejam reunidas as provas que indiquem a existência de irregularidade ou
ilegalidade”, de modo que o respectivo processo terá “o acesso

automaticamente restrito entre a data da autuação e da citação do responsável”,

consoante preceituado no § 2º do art. 2º da Resolução n.º 06/2022, razão


pela qual indefiro o pedido formulado.
Intimem-se denunciante e responsáveis, via diário oficial e e-
mail, desta decisão.
Em seguida, encaminhe-se o processo ao órgão técnico para
análise e, posteriormente, ao Ministério Público junto ao Tribunal.

Tribunal de Contas, em 17/10/23.

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