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II. DO MÉRITO.
Desde que não cause prejuízo à administração pública, uma empresa não pode ser excluída do processo de
licitação por conta de questões irrelevantes, como omissões ou irregularidades formais na documentação ou nas
propostas.
No presente caso, a decisão do Pregoeiro não foi clara, não sendo disponibilizado o real motivo que ensejou a
desclassificação da licitante, posto que de forma genérica o pregoeiro alegou a inobservância dos itens 7.7; 7.7.1
e 7.7.2 do edital e 13.3; 13.3.1 e 13.3.2 do Termo de Referência.
Como exposto a licitante recorrente seguiu todas as disposições impostas pelo edital, caso exista algum vício
material na proposta apresentada este foi provocado pelos erros constantes no edital, que induzem claramente a
proposta final em erro.
Possível verificar que ao desclassificar a licitante o pregoeiro se apegou de forma extrema ao formalismo,
mostrando falta de boa vontade com a parte recorrente, posto que sequer foi esclarecido o real motivo de sua
desclassificação. A inabilitação não se mostrou razoável, notadamente por se tratar de pregão eletrônico em que
o foco é o menor preço. Afinal, como a administração pública busca vantagem econômica, o fator preço é
decisivo — por menor que seja. E é isso que prepondera sobre o formalismo.
Houve excessivo formalismo na desclassificação da licitante do certame, não estando em consonância com o
interesse público que deve prevalecer em todas as fases da contratação com a Administração.
Neste sentido, ensinamento de Hely Lopes Meirelles, em Direito Administrativo Brasileiro, p. 261-262, 27ª ed.,
São Paulo, Malheiros, 2002, in verbis: Procedimento formal, entretanto, não se confunde com ‘formalismo’, que
se caracteriza por exigências inúteis e desnecessárias. Por isso mesmo, não se anula o procedimento diante de
meras omissões ou irregularidades formais na documentação ou nas propostas, desde que, por sua irrelevância,
não causem prejuízo à Administração ou aos licitantes. A regra é a dominante nos processos judiciais: não se
decreta a nulidade onde não houver dano para qualquer das partes.
A inabilitação não se mostrou razoável, ainda mais em licitação tipo menor preço, quando o que “(...) a
Administração procura é simplesmente a vantagem econômica. Daí por que, nesse tipo, o fator decisivo é o
menor preço, por mínima que seja a diferença.” (Hely Lopes Meirelles, em Direito Administrativo Brasileiro, p.
290, 27ª ed., Malheiros, São Paulo, 2002). Prepondera, desta forma, o menor preço sobre eventuais
irregularidades formais, que podem ser supridas.
A manifestação exposta tanto está correta que, conforme conhecimento de todos que participam de
procedimentos licitatórios, é praxe em concursos semelhantes o pregoeiro responsável abrir espaço para que os
licitantes ajustem suas propostas, privilegiando, em detrimento do formalismo legal, os melhores preços
ofertados. O pregoeiro solicitou por duas vezes adaptações na proposta enviada, mesmo assim, após a realização
dos ajustes solicitados a licitante foi desclassificada, sem o pregoeiro especificar o erro que originou sua
desclassificação e nem ser proporcionado oportunidade de ajustar o que fosse necessário.
Nossa jurisprudência já tem farta gama de decisões que repudiam o excesso de formalismo nas licitações
públicas, das quais destacamos as seguintes:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. LICITAÇÃO. REGIME DIFERENCIADO DE
CONTRATAÇÃO. PROBLEMAS NO ENVIO DE DOCUMENTAÇÃO DE FORMA VIRTUAL.
OBRIGAÇAO DE ENVIO DOS DOCUMENTOS POR MEIO FÍSICO REALIZADA A TEMPO E MODO.
INCORRETA A DESCLASSIFICAÇÃO DA AGRAVANTE. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. NÃO CARACTERIZADA A LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. LEI 12.462/2011. AGRAVO
PROVIDO. 5. Os agravados e a comissão de licitação não lograram comprovar a ocorrência de qualquer prejuízo
ao procedimento licitatório. Em sede de invalidação de atos processuais ou administrativos incide o princípio de
que não há nulidade senão houver prejuízo. Sua aplicação especificamente ao Direito Administrativo não
encontra controvérsia na doutrina ou na jurisprudência. 6. Afronta o princípio da razoabilidade a conduta da
Administração que, como no caso presente, por mero formalismo, desclassifica a empresa que apresentou a
proposta mais vantajosa e, portanto, mais adequada a atender ao interesse público. (TRF-1 - AG 0052198-
24.2015.4.01.0000 / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON GUEDES, QUINTA TURMA, e-
DJF1 de 13/09/2016).
LICITAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA - INTERPRETAÇÃO DE CLAÚSULAS DO EDITAL -
RIGOR EXAGERADO. O objetivo das licitações públicas é a busca do melhor contrato para a administração,
garantindo-se, de outro lado, a igualdade de chances aos concorrentes. Toda a interpretação de editais deve ser
feita à conta de tal premissa, e, assim, a exigência do item 4. 1.2., alínea a, do Edital (fls. 10), deve ser entendida
cumprida. A declaração exigida não precisa ser formulada com as exatas palavras do edital, mas sim com o
conteúdo material que lhe atenda ao conteúdo. Afastado o entendimento restritivo e eivado de excesso de rigor
por parte da Comissão da Licitação. Prevalência de interpretação que favoreça à maior participação. "O
formalismo no procedimento licitatório não significa que se possa desclassificar propostas eivadas de simples
omissões ou defeitos irrelevantes"(cf. STJ; Mandado de Segurança nº 5418; Relator: Ministro Demócrito
Reinaldo). Sentença confirmada. Remessa improvida. (TRF-2 - REOMS: 24729 99.02.05724-1, Relator:
Desembargador Federal GUILHERME COUTO, Data de Julgamento: 15/03/2006, QUINTA TURMA
ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data::23/03/2006 - Página::101).
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA. CERTIDÃO DE
REGULARIDADE FISCAL POSITIVA COM EFEITOS DE NEGATIVA.APRESENTAÇÃO DAS
PROPOSTAS. FORMALISMO. EXCESSO. 3. A forma de apresentação das propostas exigida no edital não
deve ser encarada com excesso de formalismo por parte da Comissão de Licitações do DNER a ponto de excluir
do certame empresa que possa oferecer condições mais vantajosas na execução do objeto licitado. 4. Remessa
oficial improvida. (TRF-4 - REO: 50386 PR 97.04.50386-5, Relator: HERMES SIEDLER DA CONCEIÇÃO
JÚNIOR, Data de Julgamento: 04/04/2000, QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 19/04/2000 PÁGINA:
101).
Portanto, o formalismo no procedimento licitatório, como já visto anteriormente, não significa que se possa
desclassificar propostas eivadas de simples omissões ou defeitos irrelevantes. O STF já exarou sobre esta
questão. Vejamos: “EMENTA: LICITAÇÃO: IRREGULARIDADE FORMAL NA PROPOSTA
VENCEDORA QUE, POR SUA IRRELEVÂNCIA, NÃO GERA NULIDADE.” (STF, ROMS nº 23.714-1/DF,
1ª T., Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU 13.10.2000).
Na ausência de dano, não há o que se falar em desclassificação de propostas diante de simples omissões ou
irregularidades. Logo, o agente da Administração, ao dar efeito aos critérios estabelecidos na fase da licitação,
deve propiciar, com praticidade, a resolução de problemas de cunho condizente com sua competência, sem
“engessar” o procedimento, de modo a que o licitante não fique vulnerável à exclusão por qualquer tipo de
desconexão com a regra estabelecida, ainda que de caráter formal, salvo quando de todo justificável.