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Brain storm erros em planilhas

Para o TCU, o envio de nova planilha não representa nenhuma espécie de privilégio para a
empresa, posto que o preço global não pode ser alterado, ou seja, não haverá mudança na
classificação, mas apenas uma retificação no documento que discrimina a composição do
preço oferecido pela licitante.

Apesar de não haver um limite para a quantidade de diligências que podem ser realizadas, a
comissão ou o pregoeiro não podem exercer uma espécie de instância revisora da atividade
empresarial. É obrigação da licitante e não da administração decidir como será corrigido o erro
identificado sem acarretar, com essa retificação, novas falhas/vícios na planilha.

A diligência funciona como um recurso indispensável para a comissão de licitação ou o


pregoeiro aproveitarem boas propostas para a administração pública desde que os erros,
falhas ou omissões identificadas em planilhas ou documentos apresentados possam ser
sanados ou esclarecidos sem violação ao princípio da isonomia entre os licitantes.

o Edital é a Lei do certame. Isto é, no Edital estão as coordenadas da “localização” e do


“tempo” em que cada fase deve ocorrer, somadas às regras e aos requisitos que os licitantes e
a Administração necessariamente devem seguir. Logo, compreender corretamente o Edital é
saber conscientemente as regras que dão causa à forma como cada ato deve ocorrer em uma
determinada licitação.

Em licitações, a forma é uma garantia. Isto é, as formalidades integram o núcleo jurídico


material do procedimento, vinculando-se diretamente aos princípios que regem os certames
públicos (art. 5º da Lei nº 14.133/2021).

Conhecida como “jogo de planilhas”, essa prática geralmente envolve — em favor do licitante
contratado — erros de estimativa na planilha de preços constante do edital do certame ou
ausência de critérios de aceitabilidade de preços unitários.

Tamanha tem sido a recorrência da fraude que, em 2009, a Advocacia-Geral da União editou a
Orientação Normativa n. 05, prevendo que “na contratação de obra ou serviço de engenharia,
o instrumento convocatório deve estabelecer critérios de aceitabilidade dos preços unitários e
global.

Um desses princípios gerais é o brocardo latino nemo auditur propriam turpitudinem allegans
(“ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”). A torpeza, qualidade daquilo que é
vergonhoso ou repugnante (AULETE, [online]), não corresponde apenas a uma ação, a um ato
comissivo, mas também a atos omissivos. Embora o particular se submeta ao princípio da
legalidade ampla (art. 5º, II, da CF/88), este não quer dizer a possibilidade de agir sempre que
não houver vedação explícita no direito positivo, 7 e sim a possibilidade de agir quando não
houver vedação no ordenamento jurídico — considerado como o conjunto de normas e
princípios.
Dessa forma, não seria necessário ato comissivo e/ou doloso do licitante no jogo de
planilhas para que se sujeitasse às sanções administrativas e cíveis; bastaria que agisse
dolosamente de forma omissa, ou culposamente. Se o licitante teve amplo acesso ao projeto
básico e à planilha de preços bem como realizou visita técnica, não seria razoável que erros
graves nos preços unitários não fossem evidenciados por aqueles que planejam contratar
com a Administração ou que a estes fossem permitidos agir de má-fé na elaboração de suas
propostas. Em ambos os casos, não seria plausível invocar o princípio da confiança no Estado
quando da existência de erro ou ilegalidade crassa em documento público ou particular.

Ora, se a indisponibilidade do interesse público associada com a prioridade do interesse


público sobre o particular são os princípios matrizes de todo o ordenamento jurídico
administrativista (SUNDFELD, 2000), indubitavelmente qualquer prática —
independentemente se dolosa ou culposa — que leve ao superfaturamento de contratações
públicas jamais poderia se alinhar com a moral jurídica depreendida da própria Administração
nem com o princípio da economicidade.

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