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IRREGULARIDADES RECORRENTES NAS

LICITAÇÕES E CONTRATOS

Helton Sanchez

Dados coletados:

1 Principais fraudes em licitações (TCU):


O Tribunal de Contas da União divulgou em 2010 um levantamento indicando os dez principais tipos de
irregularidades graves que, ao serem descobertos por aquela Corte, poderiam gerar a paralização de uma licitação ou do
contrato resultante.
Essa informação foi levantada pelo TCU, registrada no acórdão nº 2.140/2008, cuja cópia inserimos no AVA –
Ambiente Virtual do Aluno, da Unipública.
Vejamos os itens:

Sobrepreço e Superfaturamento
Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente
Alterações indevidas de projetos e especificações
Irregularidades graves na administração do contrato
Irregularidade graves concernentes ao aspecto ambiental
Sub-rogação/ subcontratação irregular de contrato
Descumprimento de deliberações do TCU
Restrição ao caráter competitivo da licitação
Medição/ pagamento de serviços não realizados
Administração irregular de contratos
Execução orçamentária irregular
Irregularidade grave na execução do convênio
Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente com risco de dano ao erário
Ausência de justificativa para preços acima dos de sistemas de referência
Ausência, no edital, de critério de aceitabilidade de preços máximos
Acréscimo do valor contratual superior ao limite legal
Contratação sem a regular licitação
Deficiência grave de fiscalização/supervisão
Deficiência grave na qualidade nos serviços executados
Desvio de finalidade
Reajustamento irregular
Alterações indevidas de projetos e especificações com risco de dano ao erário
Ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial
Ausência de licitação autônoma para aquisição de equipamentos, quando cabível
Ausência de planilha orçamentária de quantitativos e preços unitários referentes ao
projeto básico e/ou executivo
Execução/pagamento de serviços não previstos no contrato
Projeto básico/executivo deficiente ou inexistente ocasionando possível nulidade
do processo licitatório ou do contrato
2Irregularidades licitatórias mais comuns (TCEMG):
Em recente publicação no site do Tribunal de Contas de Minas Gerais, foi divulgado um artigo intitulado “A
Fiscalização das Licitações na Administração Pública”, com um levantamento naquela Corte (cópia no AVA), quando
foram selecionadas irregularidades que frequentemente se repetem nas licitações municipais, quais sejam:
a) falta do procedimento
b) fracionamento de despesas
c) dispensa ou inexigibilidade indevida
d) restrição da competição (direcionamento)
e) preços superiores aos de mercado
f) comissão de licitação
g) com lote ou sem lote indevidamente
h) ausência de publicação
i) descumprimento de prazos recursais
j) ausência de projeto básico e
k) orçamento em planilhas
l) ausência de pesquisa prévia de preços
m) não obtenção do número mínimo de licitantes
n) inobservância de cláusulas essenciais em contratos
o) alterações contratuais em percentuais acima dos permitidos
p) ausência de numeração de documentos do processo
q) ausência de indicação do crédito orçamentário
r) alterações indevidas de projetos e especificações
s) irregularidades graves na administração do contrato
t) irregularidades concernentes ao aspecto ambiental
u) sub-rogação/subcontratação irregular de contrato
v) medição/pagamento de serviços não realizados

3 Indícios de fraudes licitatórias:


Em artigo publicado no site do TCU (http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/ docs/2053588.PDF), foi indicada
uma lista de outros itens de detecção das fraudes em processos licitatórios, que é:
a) empresas constituídas em início de mandato
b) direcionamento de licitações
c) licitações fictícias
d) mesma diagramação e erros de grafia
e) fornecedores de notas fiscais “frias”
f) valores redondos ou próximos de r$ 8 mil
g) falta de publicidade do certame
h) fornecedores distantes e desconhecidos
i) fornecedor exclusivo
j) informações vagas na descrição do serviço prestado

4 Canais de detecção das fraudes licitatórias:


Segundo o“Relatório Fraudes no Brasil 2002” — KPMG, os principais canais de identificação das fraudes(quem
descobre) envolvendo processos de licitações são:
a) auditoria externa
b) coincidência
c) denúncia anônima
d) investigação especial
e) informação de funcionários
f) informação de terceiros
g) auditoria interna
h) controles internos
i) outros

Na época (2002) aquele órgão não destacou a participação do Poder Legislativo como canal de denúncia ou
apuração das fraudes licitatórias, mantendo-o no item “outros”, que teve apenas 3% de participação. Por certo que de
2002 para cá, vimos um crescimento substancial da atuação do Poder Legislativo na fiscalização.
(Fonte: Professor Jonias de Oliveira – Unipública)
Introdução:
Muito embora já tenham decorrido 25 anos desde o advento da Lei nº 8.666/93 – Lei de Licitações e, que neste
período muita jurisprudência e doutrina estejam disponíveis para o balizamento das interpretações da norma, as
irregularidades ainda são muito comuns nos procedimentos desta natureza. Dentre as ocorrências registradas, vamos
listar as que mais comumente restam apontadas nos órgãos de controle interno e externo.
Parece-nos importante, desde o início, distinguir os controles internos dos órgãos de controle interno, hoje mais
comumente chamados de auditoria, exatamente para evitar confusões entre as figuras. Os controles internos, como têm
asseverado os Tribunais de Contas da União, Estados e Municípios, correspondem a mecanismos e rotinas empregados
pelos executores, com a precípua tarefa de mitigar erros de toda e qualquer natureza, mediante procedimentos de
mapeamento de processos, identificação de riscos e aplicação de controles. Quanto aos órgãos de controle, quer internos
ou externos, detêm a competência de identificar os achados – impropriedades ou irregularidades, encontradas dentro dos
processos analisados, recomendando posturas corretivas e, em alguns casos, aplicando sanções diante da identificação
de responsabilidades.
Vale lembrar que, os enfoques dados pelos órgãos de controle, têm sofrido significativas alterações nos últimos
anos e, se de início a fiscalização ocorria sobre os processos realizados, passaram a ser sobre a identificação e avaliação
dos mecanismos de controles internos e, por último, tem se focado no mapeamento de processos e avaliação de riscos
sobre os processos estabelecidos.
Há uma notória evolução metodológica nos órgãos de controle, que hoje muito se balizam nos mecanismos
adotados nas grandes empresas e corporações que, tendo suas ações comercializadas na bolsa de valores, prescindem de
eficácia, eficiência e transparência da gestão, objetivando a confiabilidade e a continuidade dos negócios. Vale lembrar a
Lei Sarbanes-Oxley, decorrentes das quebras de empresas e do fechamento de empresas de auditoria privada, nos
Estados Unidos da América.
Rememorando:
No ano de 2001, os Estados Unidos viram falir a Enron, uma gigante do setor elétrico americano, afundada em
uma dívida de mais de US$ 13 bilhões, levando com ela fundos de pensão e outros investidores, porque manobras
contábeis e a conivência de auditores vinham maquiando a real situação financeira da empresa, gerando o total
descrédito no mercado de ações. O caso não foi isolado, outras grandes empresas norte americanas também sucumbiram
em meio ao escândalo financeiro, como a Xerox, WorldCom e Tyco, dentre outras mais.
Como consequência, em 2002, surgiu a Lei Sarbanes-Oxley, a SOx , nos Estados Unidos, como medida de prote-
ção aos investidores, das práticas fraudulentas, protegendo o mercado com a identificação, combate e prevenção de
fraudes. Qual a importância desses acontecimentos na identificação de irregularidades nas licitações e contratos com a
administração pública no Brasil?
Pode-se dizer que todos aqueles acontecimentos repercutiram de forma globalizada, as empresas estrangeiras
passaram a adotar o compliance, buscando assegurar credibilidade ao mundo negocial e, esta expansão da metodologia
de controle tem atingido a todos os setores, inclusive o setor público brasileiro, sobretudo na esfera dos tribunais de
contas em todas as esferas, razão pela qual todas aquelas metodologias devem ser utilizadas como parâmetros a todo
aquele que busque identificar a ocorrência de irregularidades e impropriedades, independentemente de sua natureza.
Retornando ao núcleo de nossa abordagem, passemos a tratar das irregularidades mais próximas ao nosso
cotidiano, de igual forma atingidas pelas diversas formas de controle.

Nas Licitações:
a) Falta do procedimento:
Não é demais lembrar que o processo licitatório é regra imperativa no ordenamento jurídico pátrio, contida no
inciso XXI, do art. 37, da Constituição Federal, sendo a dispensa (inconveniência) e a inexigibilidade (inviabilidade)
exceções que, contudo, exigem a necessária justificativa fundamentada, como em todo o ato administrativo. A falta de
procedimento licitatório, previamente às contratações, com igualdade de condições para os concorrentes, constitui
irregularidade grave, eivando de nulidade a contratação e impondo penalização dos responsáveis.
De toda a forma, a Administração tem o dever de autotutela e, a todo e qualquer momento, na avalição de seus
atos, ao verificar que há ilegalidade, poderá anulá-lo de ofício.
b) Fracionamento de despesas:
O fracionamento da despesa é caracterizado pela divisão das contratações de compras ou serviços, de modo a
permitir a aquisição mediante dispensa ou, ainda, a adoção de modalidade da licitação de menor valor e, portanto,
diverso daquele que deveria ter sido adotado.
Este tipo de ocorrência é de fácil detecção e identificação pelos órgãos de controle, porque a contabilização das
aquisições fica devidamente registrada, com os elementos de despesa e objetos respectivos, que comumente aparecerão
listados nos sistemas de controle da administração financeira, como no SIAFI, por exemplo.
Acórdão n.º 1.084/2007- TCU - Plenário. Realize o planejamento prévio dos gastos anuais, de modo a evitar o
fracionamento de despesas de mesma natureza, observando que o valor limite para as modalidades licitatórias é
cumulativo ao longo do exercício financeiro, a fim de não extrapolar os limites estabelecidos nos artigos 23, § 2°, e 24,
inciso II, da Lei nº 8.666/1993. Adote a modalidade adequada de acordo com os arts. 23 e 24 da Lei nº 8.666/1993, c/c
o art. 57, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, de modo a evitar que a eventual prorrogação do contrato administrativo dela
decorrente resulte em valor total superior ao permitido para a modalidade utilizada, tendo em vista a jurisprudência do
Tribunal
c) Dispensa ou inexigibilidade indevida:
Os casos de dispensa ou inexigibilidade devem estar devidamente fundamentados, nos precisos termos do que
dispõem os artigos 24, rol exaustivo e 25, rol exemplificativo, da Lei 8.666/93, portanto, toda e qualquer situação que
não se enquadre nos preceitos legais será considerada ilegal, com a consequente identificação e responsabilização dos
responsáveis, nos próprios termos da citada lei, senão vejamos:
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que,
tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade
ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.
A supracitada norma busca proteger os bens jurídicos tutelados, que vão além do além do patrimônio público, e
incluem os princípios que norteiam toda a administração, como a legalidade, a moralidade, a impessoalidade e,
inclusive o devido processo legal que rege as licitações, estabelecido pela Lei nº 8.666/93.
A Corte Especial do STJ tem decidido que a aplicação desta norma somente se dá quando da ocorrência de
dano ao Erário e, que é preciso haver o especial fim de agir, ou dolo específico, à configuração do tipo penal.
E mais:
Acórdão 550/2004 Plenário (Relatório do Ministro Relator) Consoante tese amplamente aceita na doutrina, assim
como na jurisprudência deste Tribunal, a inexigibilidade de licitação, então prevista no art. 23, inciso II, do revogado
Decreto-Lei nº 2.300/1986, e atualmente tratada no art. 25, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, somente se configura
quando há simultaneamente a presença de três elementos, quais sejam, o serviço profissional especializado, a notória
especialização do profissional ou empresa e a natureza singular do serviço a ser contratado. In casu, verifica-se, sem
nenhum esforço de exegese, o preenchimento apenas de um requisito: o tipo de serviço (fiscalização de obras), posto
que expressamente previsto no art. 12, inciso IV, do Decreto-Lei nº 2.300/1986, em vigor à época da contratação. (...)
Não basta que o profissional seja de notória especialização. É mister que o serviço esteja compreendido dentre aqueles
expressamente enumerados e, sobretudo, que seja de natureza singular. Em outro falar: é preciso a existência de serviço
técnico que, por sua especificidade, demande alguém notoriamente especializado.
d) Restrição da competição (direcionamento):
O estabelecimento de condições à participação no procedimento licitatório deve ser condizente com a natureza,
assim como da proporção do seu objeto, sem a inclusão de elementos que busquem restringir a participação de
potenciais licitantes e identifiquem um direcionamento da contratação, com o favorecimento específico de determinada
empresa. Isto, contudo, não impede que algumas condições, essenciais à concretização do objeto final, indispensáveis à
realização da contratação da compra e/ou serviço, sejam incluídos no procedimento em havendo motivação e suporte
legal para tanto.
Como exemplo, podemos citar:
Súmula nº 270: “Em licitações referentes a compras, inclusive de softwares, é possível a indicação de marca, desde que
seja estritamente necessária para atender a exigências de padronização e que haja prévia justificação.”
“que demonstrem preferência por marca, a não ser quando devidamente justificado por critérios técnicos ou
expressamente indicativa da qualidade do material a ser adquirido, hipótese em que a descrição do item deverá ser
acrescida de expressões como ‘ou similar’, ‘ou equivalente’, ‘ou de melhor qualidade’, devendo, nesse caso, o produto
ser aceito de fato e sem restrições pela Administração, de modo a se coadunar com o disposto nos arts. 3°, § 1°, inciso I,
e 15, § 7°, inciso I, da Lei nº 8.666/1993”. Acórdão n.º 1.861/2012-Primeira Câmara, TC 029.022/2009-0, rel. Min.
José Múcio Monteiro, 10.4.2012.
e) Preços superiores aos de mercado:
Há, aqui, um atrelamento a diversos fatores que conduzem uma licitação. Não há como se estabelecer uma
proposta mais vantajosa à Administração, sem o prévio conhecimento dos valores de mercado e, portanto, sem o prévio
conhecimento dos preços praticados em cada praça ou mercado, nas mesmas condições da contratação pretendida. È
preciso saber o preço, para saber se há disponibilidade orçamentária e, portanto saber da possibilidade de abertura do
procedimento licitatório. A falta de informações disponíveis e suficientes ao julgamento do certame podem ensejar
desvios, quer por culpa ou dolo. Há, com relação aos preços, a caracterização de duas situações, muito constantemente
tratadas como sinônimos, mas que não o são, senão vejamos:
Sobrepreço: irregularidade que ocorre quando o preço cotado encontra-se injustificadamente superior ao
praticado no mercado, ou seja, carrega consigo uma margem de lucro maior do que a comumente praticada, e apurado
através de pesquisa inicial, ou mesmo por diligências da Comissão Permanente de Licitações/Pregoeiro- equipe de apoio.
Superfaturamento: esta é outra irregularidade comum durante a execução dos contratos, portanto posterior a
assinatura do contrato, e que está diretamente relacionado à entrega do produto e, pode ser:
Qualitativo: entrega de produto qualitativamente inferior ao especificado no projeto básico ou no projeto
executivo ou, ainda, no termo de referência; e,
Quantitativo: serviço entregue em menor quantidade, ou não entrega, diferentemente do que havia sido
contratado
A constatação de preços superiores aos praticado no mercado, impõe a desclassificação das propostas, como
determina a lei de Licitações, no inciso II, do art. 48.
Art. 24. É dispensável a licitação: VII - quando as propostas apresentadas consignarem preços manifestamente
superiores aos praticados no mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais
competentes, casos em que, observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a
adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços; (...)
Art. 48. (...) § 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas, a
administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis para a apresentação de nova documentação ou de
outras propostas escoimadas das causas referidas neste artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste prazo
para três dias úteis.
f) Comissão de licitação:
A Comissão de licitação é designada pela Administração com a função de receber, examinar e julgar todos os
documentos e trâmites relativos às licitações públicas, nas modalidades concorrência, tomada de preços e convite. Há
uma série de requisitos legais e formais para a composição da comissão, assim como à condução e manutenção dos seus
membros, com a imperiosa renovação de 2/3 deles, anualmente.
O procedimento mais indicado é o de que a Comissão Permanente de Licitações/Pregoeiro e equipe de apoio,
devam receber o processo de licitações com todos os elementos necessários e indispensáveis ao julgamento das
propostas apresentadas, sob pena de responsabilização em aceitar assumir o julgamento das propostas sem as
informações necessárias e suficientes.
Vale lembrar que a assinatura do edital da licitação é de competência da comissão, que passam a ter total
responsabilidade sobre o certame que convocou interessados em contratar com a administração pública.
A Lei nº 10.520/02 instituiu o pregão e, em seu art. 3º, inc. IV, determina:
“ a autoridade competente designará, dentre os servidores do órgão ou entidade promotora da licitação, o pregoeiro e
respectiva equipe de apoio, cuja atribuição inclui, dentre outras, o recebimento das propostas e lances, a análise de sua
aceitabilidade e sua classificação, bem como a habilitação e a adjudicação do objeto do certame ao licitante vencedor“
O pregoeiro é, portanto, o agente responsável pelo processamento das licitações na modalidade do pregão e, incumbe a
ele, a prática de todos os atos relacionados à condução do procedimento licitatório, com o auxílio de sua equipe de apoi-
o.
g) Ausência de publicação:
A falta de publicação do competente edital de convocação, assim como de todas as eventuais retificações
procedidas, fere o princípio da publicidade dos atos administrativos, assim como fere a Lei de Licitações.
A lei especifica os trâmites da licitação e os seus momentos de publicidade, indispensáveis ao regular processamento.
Acórdão nº 558/2010 – Plenário. Explicação sintética da deliberação: o pregoeiro oficial da Universidade foi penalizado
por diversas irregularidades, podendo assim ser resumidas: efetivação de retificações significativas do edital, sem a
comprovação de publicação de todas elas, sem comunicação prévia aos licitantes que haviam retirado o edital e sem
reabertura de prazo para apresentação das propostas; estipulação de tempo exíguo para envio da proposta e da
documentação exigida no edital; aceitação de proposta em desconformidade com o edital; adjudicação de item sem
aguardar o prazo recursal após manifestação de intenção de recurso por parte de licitante. Foi aplicada multa. Aplicação
de multa.
Acórdão nº 200/2011 – Plenário:
...6.1. não-publicação do resumo de edital de licitação no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação (art.
21, inciso I, da Lei n. 8.666/1993);
(...)10. De fato, os responsáveis não conseguiram justificar a falta de adequada publicidade ao certame, consubstanciada
pela publicação do edital, apenas, no Diário Oficial do Estado da Bahia, o que caracterizou descumprimento do art. 21,
incisos I e III, da Lei de Licitações...
h) Descumprimento de prazos recursais:
O descumprimento de prazos recursais caracteriza vício que impõe a nulidade do processo, desde a sua
identificação, acarretando prejuízos de grande relevância à administração pública. É imprescindível que todos os prazos
processuais determinados pela Lei de Licitações sejam rigorosamente respeitados, em especial os recursais, porque
ferem os princípios mais caros à lei constitucional, que são a ampla defesa e o contraditório, além do devido processo
legal.
Cabem recursos dos atos da Administração Pública, decorrentes da realização de licitações, nos casos de:
a) habilitação ou inabilitação do licitante;
b) do julgamento das propostas;
c) da anulação ou revogação da licitação;
d) do indeferimento de pedido de inscrição em registro cadastral, alteração ou cancelamento;
e) da rescisão do contrato, quando determinada por ato unilateral da Administração; e,
f) da aplicação das penas de advertência, multa ou suspensão temporária.
Todos os recursos devem ser interposto por meio de requerimento dirigido à autoridade superior, por intermédio da
que realizou o ato – a própria Comissão Permanente de Licitação, com os fatos e fundamentos para o pedido de reexame,
podendo ser juntado qualquer documento relativo ao pleito apresentando, conforme art. 109 , da Lei nº 8.666/93 e, bem
como dispõe o art. 60 da Lei nº 9.784/1999 – aplicável à administração pública federal.
Dos recursos interpostos, deve haver a necessária comunicação dos demais licitantes à manifestação, que podem
impugnar as razões recursais, nos seguintes prazos:
a) cinco dias úteis para tomada de preços e concorrência;
b) dois dias úteis para convite; e,
c) três dias para pregão.
Os prazos começam a correr a partir da intimação para o ato ou da lavratura da ata. Na contagem dos prazos, exclui-
se o dia de início e inclui-se o de vencimento. Somente se iniciam, e vencem, os prazos em dia que houver expediente
no órgão. A intimação dos atos de habilitação ou inabilitação, de julgamento das propostas, de anulação ou revogação de
licitação e bem assim de rescisão de contrato, será realizada mediante publicação na imprensa oficial.
i) Ausência de projeto básico:
Todo procedimento licitatório deve ser precedido da elaboração de projeto básico ou termo de referência, sendo
designado como o projeto básico o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado,
para caracterizar obra ou serviço ou complexo de obras ou serviços. É imprescindível à realização de qualquer licitação
de obra ou de serviço de engenharia, e deve conter:
a) o desenvolvimento da solução escolhida;
b) as soluções técnicas globais e localizadas;
c) a identificação dos tipos de serviços a executar e de materiais e equipamentos a incorporar à obra;
d) de informações que possibilitem o estudo e a dedução de métodos construtivos;
e) de subsídios para a montagem do plano de licitação e de gestão da obra;
f) do orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos
propriamente avaliados.
Nos julgados do TCU, assim como dos Tribunais de Contas dos Estados e Municípios, é reiterada a assertiva de que
a ausência ou a deficiência de projeto básico é a causa mais comum no atrasos e cancelamentos das licitações,
aditamentos contratuais, sobrepreço, jogo de planilhas e superfaturamentos, que acarretam prejuízos ao Erário.
j) Ausência ou falha na pesquisa prévia de preços:
Notadamente, nos processos licitatórios conduzidos pela administração pública, a realização de pesquisa prévia
de preços compõe elemento indispensável à realização do certame, cuja competência não pertence à Comissão
Permanente de Licitação/Pregoeiro e equipe de apoio, mas sim a outros órgãos internos, responsáveis pela preparação
do processo. Vale lembrar que não há como se destinar a dotação orçamentária relativa à cobertura da despesa se não
houver um orçamento prévio, uma estimativa de preço que possa assegura o êxito do procedimento, portanto a ausência
da pesquisa na instrução do processo caracteriza vício a macular todo o procedimento e, bem assim a identificação de
falha na pesquisa procedida, que poderá impedir a realização do julgamento pela falta de conexão entre objeto e preço,
por instrumento de medida diverso, ou qualquer outro vício que impeça a continuidade do processo, impondo severo
prejuízo à administração.
A responsabilidade do presidente da Comissão Permanente de Licitação, ou do pregoeiro por falhas na pesquisa
de preços somente poderá se estabelecer quando houver delegação de competência para este mister, contudo, esta
atividade não possui natureza própria deste tipo de delegação, inclusive como consequência do princípio da segregação
de funções, valendo lembrar que quem planeja não executa e, quem executa não controla.
k) Não obtenção do número mínimo de licitantes:
O parágrafo 3º, do artigo 22, da Lei 8.666/93, assim define o Convite:
Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos
e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado cópia do
instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu
interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.
A modalidade do convite é a cabível para os valores menores, de até R$ 150.000,00, para obras e serviços de engenharia
(art. 23, I, "a") e de até R$ 80.000,00 para as compras e outros serviços (art. 23, II, "a").
A cada tipo de licitação – menor preço, melhor técnica ou técnica e preço – é previsto um procedimento próprio
na realização da modalidade de Convite, assim, o rito comum previsto no art. 43, da Lei 8.666/93, é o procedimento a
ser adotado quando o critério de escolha da proposta mais vantajosa for a de "menor preço" (inciso I, do § 1º, do art. 45);
mas quando for do tipo "melhor técnica" (inciso II, do § 1º, do art. 45) ou de "técnica e preço" – inciso II, do § 1º, do art.
45, deverão ser adotados os procedimentos previstos no art. 46 e seus parágrafos.
Atualmente, com a realização das licitações por meio de pregão eletrônico, tornou-se raro realizar um
procedimento licitatório na modalidade de convite, mas era bastante comum a necessidade de se refazer todo o
procedimento em decorrência de não se ter atingido o número mínimo de licitantes, como determina a lei. Ocorre que,
muitas vezes havia mesmo uma restrição de possíveis interessados no certame, como haviam restrições na praça ou
mercado pretendido, o que poderia ser justificado desde que houvesse a comprovação de que os convites foram
entregues ao possíveis licitantes mas houve desinteresse, ou que efetivamente na praça ou mercado licitado não haviam
mais licitantes possíveis além dos que haviam sido chamados. De toda forma, por muito tempo houve esta discussão
quanto a validade do certame quando não se atingia o numero mínimo legal de interessados, o que nos parece já algo
ultrapassado.
l) Inobservância de cláusulas essenciais do edital:
O julgamento das licitações está adstrito às cláusulas e condições estabelecidas no ato de chamamento para o
certame e, bem assim, aplica-se aqui o princípio da vinculação ao instrumento convocatório, cuja a inobservância
enseja a nulidade do procedimento. O princípio se dirige tanto à Administração quanto aos licitantes, pois ambos não
podem deixar de atender aos requisitos do instrumento convocatório, respeitando integralmente tudo o quanto foi
estabelecido. O instrumento convocatório, portanto, tem suma importância para a contratação pretendida, tanto assim
que a própria lei estabelece, em seu art. 40, de forma imperativa, tudo o quanto deve dispor o edital. Assim, temos que o
citado artigo apresenta, de foram expressa e taxativa os requisitos, obrigatórios, do edital:
Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual, o nome da repartição interessada e de seu
setor, a modalidade, o regime de execução e o tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e
hora para recebimento da documentação e proposta, bem como para início da abertura dos envelopes, e indicará, o-
brigatoriamente, o seguinte:
I - objeto da licitação, em descrição sucinta e clara;
II - prazo e condições para assinatura do contrato ou retirada dos instrumentos, como previsto no art. 64 desta Lei,
para execução do contrato e para entrega do objeto da licitação;
III - sanções para o caso de inadimplemento;
IV - local onde poderá ser examinado e adquirido o projeto básico;
V - se há projeto executivo disponível na data da publicação do edital de licitação e o local onde possa ser examinado e
adquirido;
VI - condições para participação na licitação, em conformidade com os arts. 27 a 31 desta Lei, e forma de apresenta-
ção das propostas;
VII - critério para julgamento, com disposições claras e parâmetros objetivos;
VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de comunicação à distância em que serão fornecidos elementos,
informações e esclarecimentos relativos à licitação e às condições para atendimento das obrigações necessárias ao
cumprimento de seu objeto;
IX - condições equivalentes de pagamento entre empresas brasileiras e estrangeiras, no caso de licitações internacio-
nais;
X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e global, conforme o caso, permitida a fixação de preços máximos e
vedados a fixação de preços mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de referência,
ressalvado o disposto nos parágrafos 1º e 2º do art. 48; (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida a adoção de índices
específicos ou setoriais, desde a data prevista para apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se
referir, até a data do adimplemento de cada parcela; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XII - (Vetado). (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XIII - limites para pagamento de instalação e mobilização para execução de obras ou serviços que serão obrigatoria-
mente previstos em separado das demais parcelas, etapas ou tarefas;
XIV - condições de pagamento, prevendo:
a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, contado a partir da data final do período de adimplemento de cada
parcela; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
b) cronograma de desembolso máximo por período, em conformidade com a disponibilidade de recursos financeiros;
c) critério de atualização financeira dos valores a serem pagos, desde a data final do período de adimplemento de cada
parcela até a data do efetivo pagamento; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
d) compensações financeiras e penalizações, por eventuais atrasos, e descontos, por eventuais antecipações de paga-
mentos;
e) exigência de seguros, quando for o caso;
XV - instruções e normas para os recursos previstos nesta Lei;
XVI - condições de recebimento do objeto da licitação;
XVII - outras indicações específicas ou peculiares da licitação.
§ 1o O original do edital deverá ser datado, rubricado em todas as folhas e assinado pela autoridade que o expedir,
permanecendo no processo de licitação, e dele extraindo-se cópias integrais ou resumidas, para sua divulgação e for-
necimento aos interessados.
§ 2o Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante:
I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas partes, desenhos, especificações e outros complementos;
II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
III - a minuta do contrato a ser firmado entre a Administração e o licitante vencedor;
IV - as especificações complementares e as normas de execução pertinentes à licitação.
§ 3o Para efeito do disposto nesta Lei, considera-se como adimplemento da obrigação contratual a prestação do servi-
ço, a realização da obra, a entrega do bem ou de parcela destes, bem como qualquer outro evento contratual a cuja
ocorrência esteja vinculada a emissão de documento de cobrança.
§ 4o Nas compras para entrega imediata, assim entendidas aquelas com prazo de entrega até trinta dias da data previs-
ta para apresentação da proposta, poderão ser dispensadas: (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
I - o disposto no inciso XI deste artigo; (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
II - a atualização financeira a que se refere a alínea "c" do inciso XIV deste artigo, correspondente ao período compre-
endido entre as datas do adimplemento e a prevista para o pagamento, desde que não superior a quinze dias. (Incluído
pela Lei nº 8.883, de 1994)
§ 5º A Administração Pública poderá, nos editais de licitação para a contratação de serviços, exigir da contratada que
um percentual mínimo de sua mão de obra seja oriundo ou egresso do sistema prisional, com a finalidade de ressociali-
zação do reeducando, na forma estabelecida em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.500, de 2017)
Veja-se, portanto, que quando a Administração estabelece as condições para participação da licitação,
estabelece também as cláusulas essenciais do futuro contrato e é com base nesses elementos que os candidatos
apresentam suas propostas, o que vincula ambas as partes às condições estabelecidas, assim como vincula o julgamento
aquelas condições.
m) Ausência de informações essenciais (numeração, indicação do crédito orçamentário, etc.):
A eventual ausência de informações essenciais, como as contidas no item acima, obrigam ao administrador,
proceder com as necessárias retificações, sob pena de gerar vício insanável ao procedimento, impondo a sua anulação
por falta de requisito essencial e obrigatório. As retificações procedidas obrigam a realização de novas publicações,
assim como a retomada dos prazos legais, impondo prejuízo a administração, quando deixa de cumprir com as suas
metas e planejamentos, bem como ao erário, porque gera retrabalho e ainda gastos com as republicações, que também
têm o seu custo.
Acresça-se que a ausência de informações no edital, impedem o pleno conhecimento do objeto que se pretende
contratar, preço, prazo e condições
Acórdão 2684/2008 - Plenário – De fato, a licitação se inicia com a abertura de processo administrativo sob autorização
do agente público que designa a comissão de licitação para atuar em certame específico ou por períodos determinados
(arts. 38, caput e inciso III, e 51, § 3º, da Lei n.º 8.666/93). Por sua vez, referida abertura de processo é precedida por
um conjunto de decisões discricionárias que envolvem a política de gerenciamento da Administração (fase interna), em
especial a captação e alocação de recursos financeiros, o tipo de objeto a ser desenvolvido e o cronograma de execução,
entre outros fatores. Assim, vícios que são identificados no decurso das providências a cargo da comissão de licitação e
que possam prejudicar fases inteiras ou a licitação toda, invariavelmente implicam por decidir a continuidade do
certame, com aproveitamento dos atos regulares e renovação dos procedimentos viciados, ou a reabertura de outro
processo, ações que nos afiguram, paralelamente aos aspectos jurídicos envolvidos, vinculadas a objetivos institucionais,
extrapolando a fase externa da licitação.

Nos contratos:
a) Alterações indevidas de projetos e especificações:
Caracterizam alterações indevidas nos contratos:
A alteração onerosa de projetos, sem justificativa;
A substituição onerosa de materiais, sem justificativa;
A inobservância de projetos, especificações ou normas, sem justificativa;
As alterações de serviços e especificações de materiais, sem justificativa.
Cada uma das situações elencadas, acabam por alterar de forma significativa o objeto contratado, assim como a
sua execução, preço e prazo, acarretando no mais das vezes, acréscimos nos gastos com o consequente prejuízo ao
Erário. Não é por outra razão que, para a realização de licitações há a exigência de projetos básicos, do termo de
referência, do projeto executivo, de todos os demais projetos e licenças sanitárias e ambientais necessárias à execução
do contrato, sob pena de , em um determinado momento haver a paralização da sua execução, redundando em mais
gastos e prejuízos.
Não se pretende estabelecer uma completa imutabilidade nas contratações públicas, no entanto, suas alterações
não podem ficar ao alvedrio do gestor, mas devem privilegiar o interesse público, sempre pautando os atos
administrativos com a sua essencial motivação e espectivas justificativas.
A própria Lei de Licitações, em seu artigo 65, ao tempo em que autoriza a modificação unilateral dos contratos,
limita os eventuais acréscimos e supressões, nos seguintes termos:
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;
b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de
seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei;
II - por acordo das partes:
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução;
b) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento,
em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido
o valor inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, sem a
correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço;
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do contratado e a retribuição da
administração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de conse-
qüências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso
fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual. (Redação dada pela Lei nº
8.883, de 1994)
§ 1o O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se
fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e,
no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50% (cinqüenta por cento) para os seus
acréscimos.
§ 2o Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites estabelecidos no parágrafo anterior, salvo: (Redação
dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
I - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
II - as supressões resultantes de acordo celebrado entre os contratantes. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
§ 3o Se no contrato não houverem sido contemplados preços unitários para obras ou serviços, esses serão fixados me-
diante acordo entre as partes, respeitados os limites estabelecidos no § 1o deste artigo.
§ 4o No caso de supressão de obras, bens ou serviços, se o contratado já houver adquirido os materiais e posto no local
dos trabalhos, estes deverão ser pagos pela Administração pelos custos de aquisição regularmente comprovados e mo-
netariamente corrigidos, podendo caber indenização por outros danos eventualmente decorrentes da supressão, desde
que regularmente comprovados.
§ 5o Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou extintos, bem como a superveniência de disposições
legais, quando ocorridas após a data da apresentação da proposta, de comprovada repercussão nos preços contrata-
dos, implicarão a revisão destes para mais ou para menos, conforme o caso.
§ 6o Em havendo alteração unilateral do contrato que aumente os encargos do contratado, a Administração deverá
restabelecer, por aditamento, o equilíbrio econômico-financeiro inicial.
§ 7o (VETADO)
§ 8o A variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços previsto no próprio contrato, as atualizações,
compensações ou penalizações financeiras decorrentes das condições de pagamento nele previstas, bem como o empe-
nho de dotações orçamentárias suplementares até o limite do seu valor corrigido, não caracterizam alteração do mes-
mo, podendo ser registrados por simples apostila, dispensando a celebração de aditamento.
b) Irregularidades graves na administração do contrato:
Superada e fase licitatória, com a homologação do procedimento e a adjudicação do bem, serviço ou obra ao
licitante vencedor, inicia-se a fase de execução contratual, oportunidade em que a administração pública deve designar
um gestor e um fiscal de contrato para o acompanhamento da prestação de serviços, da entrega dos bens ou mesmo da
execução das obras. Nesta fase, também uma indispensável vinculação da execução ao conteúdo do projeto básico, do
termo de referência, dos diversos projetos outros indispensáveis à execução, a ser acompanhada pela figura do gestor e
de um fiscal, o gestor mais próximo à administração, enquanto o fiscal mais próximo do recebimento e/ou
acompanhamento, sempre medindo e avaliando o desempenho, nos precisos termos do que se tenha contratado. É
preciso avaliar se as entregas devidas estão sendo realizadas em quantidade e na qualidade pactuadas, inclusive com as
avaliações dos acordos de nível de serviços, para que o preço pago corresponda diretamente ao produto entregue ou o
serviço realizado, tudo devidamente balizado por papéis de trabalho que traduza fielmente o que foi pactuado, com
regras claras e bem definidas. As irregularidades mais graves neste momento, dizem respeito de entregas menores,
quando realizadas, em qualidades diversas das pactuadas, ou com menos postos de serviço ou profissionais que tenham
sido avençados. As diferenças encontradas entre o adjudicado e o recebido constituem falhas que podem ser graves na
execução do contrato e que trazem como consequência o prejuízo ao Erário. Algumas impropriedades na execução do
objeto, embora toleráveis, podem ser admitidas, com a devida advertência ao contratado e com os descontos devidos nos
pagamentos e, quando constituídas de irregularidades graves, todas elas devidamente formalmente registradas, com a
oportunização da ampla defesa e o contraditório, podem redundar na aplicação de multas e até mesmo na rescisão do
contrato por inexecução da obrigação pactuada. Deste modo, as figuras de gestor e fiscal devem constituir os olhos da
administração em defesa do interesse público.
b) Irregularidades concernentes ao aspecto ambiental:
Muitas das atividades contratadas pela administração pública, mediante o devido processo licitatório, possuem
a necessidade, em razão de suas naturezas, de licenças sanitárias ou licenças ambientais previamente às suas execuções,
e que, portanto, devem ser acompanhadas pelos gestores e fiscais de contrato, de forma a zelar pelo estrito
cumprimento das leis, normas e resoluções que disciplinem o tema ambiental. Hoje, boa parte das execuções de obras e
serviços contratados impõem a prévia concessão e manutenção de habilitações específicas no campo ambiental, cabendo
à administração o rigoroso controle e acompanhamento de seus contratados, evitando a interrupção de serviços ou obras
e, como consequência, evitando que a má gestão contratual acarrete prejuízo ao Erário.
c) Sub-rogação/subcontratação irregular de contrato:
A subcontratação consiste na entrega de parte da prestação de serviços, execução de obras, fornecimento de
bem, para ser realizado em nome do contratado, em algum item, etapa ou parcela do objeto, desde que haja previsão
contratual que autorize a sua realização, sob pena de ensejar a rescisão contratual. Vale lembrar que o Tribunal de
Contas da União, no Acórdão 678/2008 – Plenário, ao enfrentar a questão da sub-rogação, firmou o entendimento no
sentido de que, em contratos administrativos, é ilegal e inconstitucional a sub-rogação da figura da contratada ou a
divisão das responsabilidades por ela assumidas, ainda que de forma solidária, por contrariar os princípios
constitucionais da moralidade e da eficiência (art. 37, caput, da Constituição Federal), o princípio da supremacia do
interesse público, o dever geral de licitar, conforme o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal) e os arts. 2º, 72 e 78,
inciso VI, da Lei nº 8.666/1993.
A sub-rogação consiste na entrega do objeto contratado a terceiro, alheio ao processo licitatório, para a sua
execução, transferindo-se os direitos e deveres constantes do contrato originário. Como não há previsão autorizativa
para a sua realização, a modalidade é ilegal e inconstitucional, como constante do acórdão antes referido.

d) Medição/pagamento de serviços não realizados:


Comumente, as falhas ou a falta de projeto básico, assim como de detalhamentos essenciais à execução
contratual, bem como pela falta da indispensável planilha físico-financeira, acabam por acarretar grandes prejuízos à
administração pública. Há também casos, inclusive em nosso Estado, mais precisamente na Secretaria de Educação, em
que obras inteiras foram pagas pela administração sem que nem mesmo as suas fundações fossem executadas. Nas
contratações de obras é indispensável que hajam, além dos elementos e detalhamentos que permitam a avaliação dos
serviços realizados, também as figuras de fiscais e gestores que acompanhem o mais proximamente possível, a execução
do objeto contratado. Vale lembrar que também os serviços de fiscalização e acompanhamento das obras pode ser
licitado e contratado, para ser realizado por profissional habilitado, tendo em vista que em boa parte da administração
pública, inexistem profissionais habilitados ou com atribuições funcionais para a engenharia civil, por exemplo. Veja-se,
a propósito, a visão do Tribunal de Contas da União, no Acórdão 2873/2008 – Plenário, a respeito do tema:
Com efeito, a precariedade do projeto básico e a inexistência de orçamento com nível de detalhamento
suficiente comprometem a licitação da qual adveio o contrato, vez que incompatíveis com as condições estabelecidas
em lei. As modificações que se fizeram necessárias durante a execução da obra não só comprovam essa assertiva, como,
por si só, já configuram razão suficiente para a nulidade do contrato, vez que seu objeto inicial restou desfigurado e que
sua conclusão já exige que as condições inicialmente contratadas sejam alteradas acima dos limites legais. Além disso, e
conforme apontado pela Unidade Técnica, a simples existência de cláusula de medição e pagamento contrária aos
ditames legais e à moralidade, economicidade e razoabilidade já seria também suficiente para que se declarasse o
contrato nulo, pela flagrante ilegalidade de cláusula essencial.

e) Aditivos indevidos:
Como antes comentado, os aditivos contratuais possuem limitações legais à sua realização, devendo sempre ser
respeitados os ditames da Lei de Licitações, como apontado pelo Pleno do Tribunal de Contas da União, no Acórdão nº
219/2004:
“Os aditivos, normalmente, respeitam o limite legal de 25% para acréscimos contratuais. O resultado dessa equação são
obras interrompidas antes de seu término, na medida em que não mais podem ser aditadas, incapazes de proporcionar o
esperado retorno à população, e executadas a preços superfaturados, tudo isso sob o manto de uma licitação
aparentemente correta, em que supostamente houve competição, tendo sido adjudicada à licitante de melhor proposta, e
executada com aparente respeito à legislação. O nó de toda a questão reside, a meu ver, no descumprimento ou, com
vênias pelo neologismo, no “mau-cumprimento” de comandos da Lei de Licitações por parte de órgãos licitantes em
geral.”

f) Falhas/omissões nos recebimentos:


Nos recebimentos realizados pela administração pública é essencial e indispensável que haja uma comissão
designado para o fim específico de realizar o recebimento dos objetos contratados, além de uma segunda equipe que
possa fazer o recebimento definitivo do objeto, no prazo que o edital estipular, uma vez que a avaliação de
características e de desempenho não podem ser avaliadas de imediato quando da entrega dos bens e, para que todas as
notas fiscais de bens e /ou serviços, seja devidamente atestadas pelas pessoas responsáveis por designação formal para
tanto. Nunca é demais lembra a necessária observância do princípio da segregação de funções, evitando o prejuízo ao
Erário.

Principais Ações fraudulentas em licitações:


Temos assistido, nos últimos anos, a um sem número de operações policiais deflagradas pela Polícia Federal,
assim como de ações propostas pelo Ministério Público Federal, todos eles versando sobre o desvio de verbas públicas,
em patamares jamais imaginados, com a consequente prisão dos responsáveis e alguma devolução de recursos aos
cofres públicos.
As operações e ações intentadas pela Força Tarefa da Lava Jato, em trâmite perante a 11ª Vara Criminal da
Justiça Federal, em Curitiba, têm comprovado que, em muitas das obras realizadas para as Olimpíadas do Rio de Janeiro,
assim como para Copa do Mundo realizada no Brasil, houve a prévia divisão de obras entre as empreiteiras mais
renomadas e fortes do País, com a realização de ajustes financeiros e políticos, fraudando os processos realizados nas
licitações realizadas, assim como nas realizadas pelo de RDC – Regime Diferenciado de Contratação, que parece ter
nascido com a espúria finalidade de lesar os cofres públicos, desviando recursos para agentes públicos e políticos, assim
como para as empreiteiras e construtoras a eles vinculadas.
É imperativo falar sobre os resultados que têm sido divulgados, para se perceber o imenso iceberg que
representa, de forma lamentável, a administração pública no Brasil, loteada que foi à realização de interesses pessoais e
de grupos políticos.
Visualizar estes acontecimentos permite compreender as ocorrências que também são registradas no campo das
licitações públicas, eis que temos mais de 5.500 municípios no Brasil, além de administrações estaduais e federal, o que
multiplica o número de procedimentos licitatórios a um número inimaginável. Somente hoje, com os recursos da
informática e com uma nova visão da administração pública, é possível dimensionar o número de contratações mantidas
pela administração pública nas três esferas de governo, somente hoje há uma concentração de dados em sítios
governamentais que permitem apurar as licitações e contratações havidas, mas muito disto já restou soterrado pela
ineficiência da máquina pública, além de outros interesses também pessoais e políticos, em maior ou menor escala.
Talvez, finalmente estejamos nos encaminhando para a construção de efetivos mecanismos de controle,
sobretudo o controle pela própria sociedade, dos descasos e desmandos realizados com o dinheiro público, insuficiente
às necessidades mais básicas da população mais carente.
Muito embora já se tenha alguma visão de esperança quanto a este cenário, ainda é possível assistir, dia a dia,
novos casos de desvios de recursos públicos, quase todos eles maquiados em processos licitatórios fraudulentos ou com
objetos suspeitos e escusos, ou seja, não há temor qualquer, ou mesmo frei qualquer, que seja capaz de deter agentes
políticos mal intencionados.
Veja-se os seguintes relatos:
O TCU chamou em audiência gestor público pela ausência de competição em licitação realizada, materializada pela
existência, nas empresas participantes da licitação, de relação de parentesco entre os sócios e de sócios em comum, com
indício de simulação licitatória, fraude e violação ao sigilo das propostas, em detrimento dos princípios da moralidade,
da igualdade e da probidade administrativa, consubstanciados nos arts. 3º, caput e § 3º; 22, §§ 3º e 7º; e 94 da Lei nº
8.666/1993, e no art. 37, caput, da Constituição Federal. - Acórdão 673/2008 Plenário.
Importa salientar que a irregularidade constatada decorreu da realização do feito de licitação, sem o
cumprimento do requisito da publicidade, vez que ficou comprovado o emprego de documento materialmente falso
(jornal), usado para servir como documento de comprovação, na prestação de contas apresentada, da publicidade do
procedimento seletivo, por meio de “AVISO DE LICITAÇÃO da Tomada de Preços (...); (...) Note-se que a
irregularidade em comento deu-se na fase externa da licitação, cujos procedimentos são sequenciais, em que a realização
de determinado ato depende da conclusão do ato antecedente e, sendo a publicação do aviso de licitação o primeiro
desses procedimentos, é de vislumbrar que a fraude constatada nesse ato inicial foi, indubitavelmente, montada na fase
interna da licitação, ou seja, foi prévia e conscientemente planejada na sua fase de preparação, bem antes de sua
divulgação por meio do aviso com o resumo do edital, o que comprometeu todos os demais atos subsequente do
questionado procedimento licitatório (...) Diante disso, não tem cabimento o argumento do defendente em querer, agora,
imputar aos membros da Comissão Permanente de Licitação a responsabilidade pela fraude verificada no procedimento
licitatório, vez que, não juntou aos presentes autos quaisquer documentos comprovando a participação de seus membros
no delito, providência que deveria ter sido tomada imediatamente após a ciência do fato, quer como dirigente da
entidade convenente quer como gestor dos recursos recebidos do convênio, o que significou falta de gerenciamento e
negligência na aplicação dos recursos públicos federais sob sua responsabilidade; Os membros da Comissão de
Licitação foram designados em ato de nomeação, assinado pelo responsável, fl. 201. Foi um ato de competência
exclusiva a sua condição de dirigente executivo da Fundação (...), ou seja, se tinha poderes para nomeá-los, os tinha,
também, para investigá-los, apurar suas responsabilidades pelo delito e encaminhar aos controles competentes da (...)
(concedente) a Tribunal de Contas da União 138 documentação sobre o fato apurado e, se assim, não decidiu, restou
evidente sua negligência ou mesmo sua omissão no caso; Ademais, vale salientar que inexistem nos autos quaisquer
documentos evidenciando que as minutas do edital da licitação realizada sob a modalidade de tomada de preços foi
objeto de prévios exame e parecer da assessoria jurídica da Fundação (...) ou de prévio parecer jurídico, nesse sentido,
emitido por advogado contratado para esse mister, o que está em desacordo com o parágrafo único do art. 38 da Lei nº
8.666/1993, o que significa dizer que, se a Fundação possuía uma assessoria jurídica, esta não se manifestou quanto aos
aspectos jurídicos do procedimento licitatório realizado e, se não a possuía, tampouco contratou um parecerista para isso.
Acórdão 1360/2008 Plenário (Relatório do Ministro Relator)

Estatística da identificação das fraudes:


Retomando o tema da identificação, muito embora não haja dados disponíveis quanto a apuração do número de
fraudes descobertas e os agentes responsáveis por sua descoberta, parece flagrante que o número mais expressivo de
ações contra o crime na licitações está sendo realizado por investigações especiais deflagradas por órgãos públicos
federais, como o ministério público federal, a polícia federal, assim como a CGU – Controladoria Geral da União e, em
continuidade, pelos Tribunais de Contas da União, Estados e Municípios, assim como pela inteligência de sistemas
desenvolvidos para o controle das atividades financeiras, o que traz na esteira a Receita Federal do Brasil.

Bons estudos!

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