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A administração deverá limitar-se a exigir do licitante apenas o que está previsto em lei, a

especificar e detalhar o objeto de forma completa e suficiente para não restar dúvida; e para
que a Administração adquira ou contrate aquilo que atenda sua necessidade. Todavia, o
detalhamento cingir-se-á às características necessárias ao atendimento da demanda
administrativa, sem direcionar, favorecer ou beneficiar qualquer interesse particular.

A lei incentiva o caráter competitivo com o aumento do universo de competidores,


propiciando, desta forma, a obtenção da proposta mais vantajosa à Administração. Entretanto,
o universo de competidores será franqueado a quem tenha reais e comprovadas condições de
realizar o objeto, a fim de impedir que o órgão público contrate uma empresa desqualificada e,
consequentemente, venha prestar um mau serviço à coletividade.

A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

(…)

II – Comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em


características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, …” (grifo nosso)

A regra descrita na norma legal vigente permite exigir do licitante apenas a prova de que ele
tem condições efetivas e reais de cumprir o objeto da licitação (o desempenho anterior do
licitante deverá comprovar sua aptidão técnica para exercer atividades da mesma natureza e
semelhantes ao que está sendo licitado).

Quando tratamos da capacidade técnica, devemos considerar que os requisitos devem ser
especificamente atrelados ao objeto da contratação, de maneira a atender plenamente a
necessidade da Administração.

art. 37, XXI da CF: “ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de
pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações”.

É necessário, portanto, que as exigências relativas à qualificação técnica sejam interpretadas


em consonância com o disposto no art. 37, XXI da Carta Magna, juntamente com os demais
dispositivos infraconstitucionais, a fim de que sejam exigidos somente os requisitos
indispensáveis ao cumprimento da obrigação, de modo a possibilitar a ampla participação de
competidores interessados em contratar com a Administração, assegurar a economicidade da
contratação e garantir, sempre que possível, o tratamento isonômico.

Me parece que a habilitação exigida não é razoável pois amplia o universo de candidatos sem
que seja atendido o requisito mínimo necessário para a realização do objeto.
Inicialmente, é oportuno relembrar que a qualificação técnica não pode, diante do caso
concreto, ignorar aspectos como o vulto e a complexidade do objeto, devendo a
Administração ao fixar os parâmetros de análise, se abster de exigências demasiadamente
restritivas à competitividade do certame.

o Acórdão nº 914/2019-Plenário do Tribunal de Contas da União, segundo o qual “é


obrigatório o estabelecimento de parâmetros objetivos para análise da comprovação
(atestados de capacidade técnico-operacional) de que a licitante já tenha fornecido bens
pertinentes e compatíveis em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação”.

Em se tratando de hermenêutica, um dos métodos de interpretação tradicional mais utilizado


é o sistemático, o qual considera uma regra dentro do seu contexto lógico, desprezando, por
conseguinte, conclusões fundamentadas em termos isolados.

Nos itens relacionados à qualificação técnica-operacional, podemos destacar três aspectos


distintos que devem ser considerados na análise dos atestados, quais sejam:

Aspecto temporal: comprovação de EXPERIÊNCIA MÍNIMA DE 02 ANOS na prestação dos


serviços;

Aspecto qualitativo: O(s) atestado(s) e/ou declaração(ões) de capacidade técnica deve(m)


comprovar que o licitante tenha executado serviço(s) de MANUTENÇÃO PREVENTIVA E
CORRETIVA DE APARELHOS CONDICIONADORES DE AR COM CAPACIDADE IGUAL OU SUPERIOR
AO DO TERMO DE REFERÊNCIA;

Aspecto quantitativo: para fins de comprovação de quantitativos, nos serviços de manutenção


preventiva e corretiva, o licitante deverá comprovar através dos atestados apresentados
experiência de execução de, no mínimo, 30% do quantitativo previsto no termo de referência.

Acórdão 933/2011- plenário – relator: André de Carvalho

A exigência de atestado de capacidade técnica deve ser justificável em razão do objeto licitado.

artigo 3º, §1º, inc. I, da lei 8.666/93, que impõe a vedação de toda e qualquer ação
discriminatória destituída de interesse público para o objeto a ser licitado, com a
imprescindível qualidade das contratações públicas, alcançadas, não raro, através de cláusulas
incomuns e critérios mais rigorosos de julgamento, estabelecidos com vistas a viabilizar a
seleção do particular que detenha a expertise necessária para o satisfatório adimplemento da
demanda, de modo a atender o interesse público envolvido.

Todavia, muito se observa a confusão entre restrição à competitividade e o resguardo da


eficiência na contratação, o que acaba sendo afastado diante da falta de critérios mais
específicos em determinados casos, reclamados, sempre, pelo interesse público, os quais
carecem de motivação plausível para salvaguardar a sua legitimidade e, com isso, resguardar a
qualidade do objeto pretendido.

Assim, ciente da amplitude do tema, tem-se como problemática a ser diluída durante o
presente trabalho a avaliação criteriosa a ser desenvolvida pelo administrador quando da
elaboração das cláusulas de qualificação técnica nos editais de licitação, conforme ensina, por
exemplo, o §5º do artigo 30 da Lei de Licitações, à luz dos princípios da ampla competitividade
e da eficiência.

Por Que Licitar: Estabelece a Constituição Federal, art. 37, inciso XX I, a obrigatoriedade de
licitar para a Administração Pública. Objetiva a licitação permitir que a Administração contrate
aqueles que reúnam as condições necessárias para satisfação do interesse público, levando em
consideração especialmente aspectos relacionados à capacidade técnica e econômico-
financeira da empresa licitante, a qualidade do produto e ao valor do objeto. O procedimento
licitatório busca assegurar a todos os interessados igualdade de condições no fornecimento de
bens, execução de obras ou prestação de serviços para a Administração Pública.

Em apertada síntese, a qualificação técnica pode ser assimilada como o conjunto de requisitos
e condições que o licitante interessado em contratar com o ente público precisa apresentar. O
artigo 30 da Lei 8.666/93 trouxe um rol de exigências que a Administração poderá dispor para
fins de aferir a aptidão técnica do particular.

Nessa linha de raciocínio Meirelles (2003) expressa que diante dessa realidade, é licito a
Administração verificar não só a capacidade técnica teórica do licitante como a sua capacidade
técnica efetiva de execução, que se convencionou chamar aqui de capacidade operativa real.

A capacidade técnico-operacional envolve comprovação de que a empresa licitante, como


unidade econômica agrupadora de bens e pessoas, já executou, de modo satisfatório,
atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da
licitação (TCU, 2010). Capacidade técnico-operacional será comprovada mediante:

I. Apresentação de atestado de aptidão para desempenho de atividade compatível com


o objeto da licitação, em características, quantidades e prazos;
II. Indicação das instalações, do aparelhamento e do pessoal;
III. Técnico adequado e disponível para a realização do objeto da licitação;
IV. Qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que será responsável pela
execução do objeto.

Nessa linha de compreensão, observa-se que a capacidade técnico-profissional refere-se em


outras palavras a capacidade operativa da empresa licitante para a execução o objeto
licitatório.

Destaca-se que o interesse público exige do administrador, por vezes, a fixação de condições
mais rigorosas durante a fase de habilitação, como forma de resguardar a qualidade do que se
pretende contratar. Isso, no entanto, não pode ser confundido com uma carta branca para se
eleger regras de pouca ou nenhuma relevância, o que pode levar ao direcionamento do objeto
licitado. As mudanças ocorridas na gestão pública, com a adoção de programas comuns ao
planejamento e ao orçamento, foram o ponto de partida do processo de transformação da
administração burocrática em gestão por resultados.

De todo o modo, o fato é que a qualificação técnica desempenha relevante papel enquanto
elemento de habilitação nas licitações públicas. É por meio dela que se afere a capacidade e as
condições de experiência dos licitantes para bem desempenhar as atividades ligadas ao objeto
do futuro contrato.

Essa característica da qualificação técnica força a necessidade de propor soluções que


conciliem os fins buscados por ela com os limites traçados pela ordem jurídica hoje vigente.
O relator, ao analisar o caso, destacou as normas que disciplinam as exigências relativas à
capacidade técnica nas licitações, em especial o art. 37, inc. XXI, da Constituição e o art. 30,
inc. II c/c art. 3º, § 1º, inc. I, da Lei nº 8.666/93. Com base nesses dispositivos, esclareceu que,
“dentro dessa moldura normativa, relativamente à capacidade técnica, os requisitos a serem
exigidos devem ser especificamente atrelados ao objeto da contratação, de maneira a atender
plenamente à necessidade da Administração Pública, e, ainda, assegurar a participação do
maior número possível de licitantes aptos a cumprir o futuro contrato, em atendimento ao
preceito constitucional da isonomia, a fim de garantir a obtenção da proposta mais vantajosa”

A qualificação técnica tem a finalidade de aferir a aptidão técnica do licitante conferindo


segurança à Administração Pública de que o mesmo possui pleno conhecimento técnico para a
execução do contrato, caso se sagre vencedor do certame.

Neste sentido, Joel de Menezes Niebuhr descreve que a “Administração Pública, ao avaliar a
qualificação técnica dos licitantes, pretende aferir se eles dispõem dos conhecimentos, da
experiência e do aparato operacional suficiente para satisfazer o contrato administrativo.”

Dentre os documentos arrolados taxativamente pela Lei de Licitações para cobrar dos
licitantes para fins de qualificação técnica, existem os atestados de capacidade técnica que
estão estipulados no artigo 30, II e § 1º, I, da Lei n. 8.666.

Os atestados de capacidade têm a finalidade de comprovar para a Administração Pública, por


intermédio de um documento subscrito por terceiro alheio à disputa licitatória, de que o
licitante já executou o objeto licitado em outra oportunidade e a referida execução foi a
contento, o que gerará confiança e segurança à Administração licitadora de o aludido licitante
possuir expertise técnica.

Marçal Justen Filho enaltece a relevância do atestado ao discorrer que “em todo o tipo de
contratação pode cogitar-se da exigência de experiência anterior do licitante como requisito
de segurança para a contratação administrativa. Aliás até se pode afirmar que em muitos casos
a capacitação técnica operacional se evidencia como a única manifestação de experiência
anterior relevante e pertinente.

Convém destacar que a interpretação do artigo 30 no que concerne aos atestados, deve ser
cautelosa e primar pela finalidade precípua da exigência, qual seja: a demonstração de que os
licitantes possuem condições técnicas para executar o objeto pretendido pela Administração
caso venha a sagrar-se vencedor.

Portanto, a apresentação de atestados visa demonstrar que os licitantes já executaram,


anteriormente, objetos compatíveis em características com aquele definido e almejado na
licitação. A finalidade da norma é clara: resguardar o interesse da Administração - a perfeita
execução do objeto da licitação -, procurando-se, com a exigência de demonstração de
capacidade, preservar a competição entre aqueles que reúnam condições de executar objeto
similar ao licitado.

Nesta mesma linha de afastar possíveis formalismos excessivos nos atestados, o Tribunal de
Contas da União tem posicionamento sólido e inclusive determina que havendo qualquer
dúvida nos atestados é dever da Administração Pública realizar a competente diligência:
Licitação para contratação de bens e serviços: As exigências para o fim de habilitação devem
ser compatíveis com o objeto da licitação, evitando-se o formalismo desnecessário.

Portanto, a exigência e a demonstração de capacidade técnica por meio dos atestados têm o
escopo de resguardar a Administração Pública de que o licitante possui expertise e aptidão
técnica, caso seja o vencedor do certame e venha a ser contratado. Neste prisma, os
documentos apresentados no envelope de habilitação deverão ser apreciados e interpretados
sempre preconizando a teleologia (finalidade) do documento para a consecução do interesse
público.

Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitarseá a:

I registro ou inscrição na entidade profissional competente?

II comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em


características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e
do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da
licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se
responsabilizará pelos trabalhos?

Determina o art. 30, I, e § 2º, da Lei 8.666/1993 que a experiência anterior obtida com a
execução de obra ou serviço de características semelhantes, exigida para ser comprovada por
atestado de capacidade técnica, deverá ser limitada exclusivamente às parcelas de maior
relevância e valor significativo do objeto da licitação, as quais devem ser definidas no
instrumento convocatório.

Se a definição das parcelas de maior relevância e valor significativo perde o sentido em objetos
caracterizados pela homogeneidade, indivisibilidade ou similares, ocorre o inverso quando o
objeto licitado admite sua divisão ou repartição em obrigações contratuais diferentes, que
podem ter sido executadas isoladamente pelo licitante, isto é, pode ter o licitante obtido a
experiência em apenas uma ou algumas das obrigações contratuais que envolvem o objeto
licitado.

Entende-se por parcelas de maior relevância as parcelas que apresentam relevância técnica
especial no contexto do objeto, isto é, aqueles itens que apresentam complexidade técnica
mais acentuada, maior dificuldade técnica ou, ainda, são de domínio inabitual no mercado, de
modo que a comprovação de experiência anterior será importante no que tange à execução
dessa parcela do objeto.

O Tribunal de Contas da União tem decidido que não se deve exigir a título de qualificação
técnico-operacional (da empresa) a comprovação de experiência anterior com quantitativos
mínimos superior a 50% (cinquenta por cento) dos quantitativos dos bens ou serviços que se
pretende contratar, a não ser que a especificidade do objeto o recomende, situação
excepcional em que os motivos de fato e de direito deverão estar devidamente explicitados no
processo administrativo da licitação.9 Em outras palavras, deve a Administração se abster de
fixar no edital a exigência de atestado de capacidade técnica que comprove experiência
superior a 50% (cinquenta por cento) do quantitativo total do objeto da licitação.

Sabemos que o conteúdo dos atestados técnicos a serem exigidos dos licitantes deve ser
suficiente para garantir à Administração que o mesmo tem condições de executar o objeto
pleiteado e a recomendação do TCU neste sentido que fixa percentual entre 30% e 50% parece
razoável frente aos objetos contratados com menor grau de especialização técnica.

A comprovação da execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com


características semelhantes, para fins de atestar a capacidade técnico-operacional, deve
guardar proporção com a dimensão e a complexidade do objeto e recair, simultaneamente,
sobre as parcelas de maior relevância e valor significativo. Como regra, os quantitativos
mínimos exigidos não devem ultrapassar 50% do previsto no orçamento base, salvo em
condições especiais e devidamente justificadas no processo de licitação. (ACÓRDÃO TCU
244/15 – PLENÁRIO)

“Súmula 263: Para a comprovação da capacidade técnico-operacional das empresas licitantes, e


desde que limitada, simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo do
objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da execução de quantitativos
mínimos em obras ou serviços com características semelhantes, devendo essa exigência guardar
proporção com a dimensão e a complexidade do objeto a ser executado”.

parcela de maior relevância técnica” o conjunto de características e elementos


que individualizam e diferenciam o objeto, evidenciando seus pontos mais
críticos, de maior dificuldade técnica, bem como que representam risco mais
elevado para a sua perfeita execução. Trata-se aqui da essência do objeto
licitado, aquilo que é realmente caracterizador da obra ou do serviço, que é de
suma importância para o resultado almejado pela contratação.
A Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei Nacional n.º
14.133/2021), abarcou de certo modo o entendimento da Corte de Contas
Federal ao prever que poderá ser admitida a exigência de atestados com
quantidades mínimas de até 50% (cinquenta por cento) das parcelas mais
relevantes e valor significativo (art. 67, §1º e § 2º).
Portanto, diferentemente da antevista deliberação, o novo marco regulatório
assevera que o quantitativo mínimo do atestado deve restringir-se a 50% da
parcela mais relevante, e não do total do objeto licitatório.
Por fim, cumpre ressaltar que a predita norma prever que são consideradas
parcelas de maior relevância ou valor significativo aquelas que tenham valor
individual igual ou superior a 4% (quatro por cento) do valor total estimado da
contratação (art. 67, §1º).

1.6.2.5 Princípio da eficiência


O princípio da eficiência impõe aos agentes públicos e à própria Administração
o dever de celeridade, de observância aos padrões adequados de desempenho
das atividades. A incidência deste princípio visa não só assegurar o emprego
dos meios necessários para o correto desempenho das funções, mas também
assegurar a concretização dos resultados vislumbrados.

A melhor proposta não deve ficar atrelada apenas ao valor


econômico do serviço a ser contratado, mas também à qualidade.
Em licitações, a vantajosidade caracteriza-se como
a adequação e satisfação do interesse coletivo por meio da
execução do contrato. O gestor público deve sempre ter em mente
que a contratação vantajosa é aquela que reflete o melhor gasto pela
Administração Pública, sendo que o “melhor gasto” deve gerar
economia aos cofres públicos, e
proporcionar eficiência e qualidade aos serviços.
Tais cuidados são importantes, uma vez que valores excessivamente
baixos podem levar a Administração Pública a correr o risco de não ter
os serviços prestados adequadamente, com a qualidade e eficiência
que se espera, podendo, ao final, acarretar prejuízos consideráveis
aos cofres públicos. Em um primeiro momento, o valor por si só pode
parecer vantajoso, mas se não for levada em consideração a real
capacidade da empresa de executar os serviços, corre-se o risco
de, ao invés de realizar a melhor contratação, contratar-se serviços
que, futuramente, não serão prestados ou o serão de forma precária.

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