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por
Dainis KAREPOVS
2001
Resumo
Quase ao mesmo tempo em que houve a queda da monarquia no País teve início o
processo de organização dos trabalhadores brasileiros. Numericamente reduzidos e com
pouca experiência, faltava-lhes, de um lado, um forte lastro de tradições organizativas,
seja em nível partidário, seja no campo sindical, e, de outro, uma maior presença na
sociedade. A participação política de parte significativa da vanguarda da classe operária
brasileira nas primeiras décadas da história republicana do País foi muito limitada e teve
forte influência das idéias anarquistas, que estimulavam a abstenção nos processos
eleitorais e davam grande ênfase à chamada “ação direta” como forma de atuação
política.
Os anos 1920 marcaram uma mudança neste quadro. Em primeiro lugar, pelo
declínio das posições anarquistas. Depois, pela intensificação da presença dos
trabalhadores e de suas reivindicações no cenário político brasileiro. Por fim, sob
influência da revolução russa, pelo surgimento do Partido Comunista do Brasil (PCB) em
1922. Este, ao defender as posições da Internacional Comunista (IC), advogava, entre
outras, a participação dos trabalhadores nos processos eleitorais e nos parlamentos,
buscando utilizar-se de tais ocasiões e espaços para fazer denúncias, propaganda e
agitação políticas. Para tanto, o PCB impulsionou na segunda metade da década a
criação de uma organização política de frente única a fim de atuar neste campo: o Bloco
Operário e Camponês. Sua participação nos processos eleitorais, desde 1925 – através
de uma eleição municipal na cidade de Santos (no Estado de São Paulo) -, isoladamente
ou em aliança, trouxe novos personagens à cena política brasileira. Esta, monopolizada
pelos liberais pertencentes aos partidos republicanos e democráticos, e que vivia o
processo final de desagregação do modelo que vigorava desde a queda da monarquia,
não viu com bons olhos e buscou obstruir esta participação, que ultrapassava em muito
o ato de votar.
Assim, objetiva-se aqui examinar a trajetória e a atuação do Bloco Operário e
Camponês, bem como a atuação de seus parlamentares (João Batista de Azevedo Lima,
Minervino de Oliveira e Octavio Brandão).
PALAVRAS-CHAVE: Bloco Operário e Camponês; Partido Comunista (PCB);
Internacional Comunista; João Batista de Azevedo Lima; Octavio Brandão; Minervino de
Oliveira; Eleições (Brasil).
II
Abstract
Almost at the same time when the monarchy collapsed in the country, the
beginning of the Brazilian workers organizational process took place. In a small number
and with little experience, in one hand it lacked them organizing tradition regarding either
political party’s and labor union aspects and, in the other hand, a greater presence in
society. Significant part of the Brazilian labor class avant-garde had very limited political
participation in the first decades of the country’s republican history, and it also had a
strong influence from anarchical ideas that instigated the absenteeism in electoral
processes and that gave great emphasis to the so called “direct action” as a way of
political actuation.
This scenario shifted in the years 1920. Firstly, because of anarchical positions
decline. Then, because of the intensification of workers presence and of their claims in
Brazilian political scene. At last, under the influence of the Russian revolution, by the
Brazilian Communist Party (PCB) uprise, in 1922. This one, supporting the Communist
International positions, defended, among other things, the workers participation in
electoral processes and in the parliaments, trying to acquire from those occasions and
places means to make denoucements, propaganda and political agitation. To accomplish
it, the PCB stimulated, in the second half of the decade, the creation of an unique front
political organization in order to act in this field: the Labor and Peasant Bloc. Its
participation in the electoral processes, since 1925 - through one municipal election in
Santos city (in São Paulo state) - isolatedly or in alliance, brought new characters to the
Brazilian political scene. This one, monopolized by the liberals from the republican and
democratic parties, and which was passing through the process of final disaggregation of
the model that occurred since the monarchy’s decay, did not indulge and tryed to obstruct
this participation that went far beyond the act of voting.
Therefore, the aim here was to examine both way and actuation of the Labor and
Peasant Bloc, as well as its parliamentaries (João Batista de Azevedo Lima, Minervino de
Oliveira and Octavio Brandão).
III
SUMÁRIO
Introdução 1
a) Os Comunistas: Do surgimento no Brasil aos primeiros passos na vida 15
eleitoral (1918-1924)
Antecedentes anarquistas 16
Rumo ao PCB 26
Surge o Partido 39
O PCB e a CSCB 48
Largada queimada 66
Ser eleitor e votar na República Velha 72
ANEXO I - Relatório apresentado pela 7a. Seção do Bom Retiro 97
ANEXO II - Relatório da Comissão Executiva da Coligação Operária de Santos, 99
sobre o pleito de outubro de 1928
b) A primeira participação: A Coligação Operária de Santos 103
O PCB em Santos 108
Surge a Coligação Operária 117
O programa 123
Os resultados 129
ANEXO III - Plataforma eleitoral da Coligação Operária 140
c) Os primórdios do Bloco Operário e Camponês (1924-1926) 145
Esboçando um programa para o Bloco Operário 166
ANEXO IV - Plataforma do Bloco Operário (1925) 172
ANEXO V - Programa de Reivindicações do PCB (1926) 175
d) O Bloco Operário vem à luz (1927) 179
Primeiros movimentos 206
Começa a campanha 211
O papel de A Nação 213
Os comícios 222
O primeiro sucesso 236
Ampliando a ação: Ao Estado do Rio de Janeiro 246
ANEXO VI - Carta aberta a Maurício de Lacerda, a Azevedo Lima, ao Partido 254
Socialista, ao Centro Político dos Operários do Distrito Federal, ao Centro Político
dos Choferes, ao Partido Unionista dos Empregados no Comércio, ao Centro
Político Proletário da Gávea e ao Centro Político Proletário de Niterói
e) Ampliando a ação 263
De Volta à clandestinidade 263
O PCB encontra os “Tenentes” 273
Surge o Bloco Operário e Camponês 282
No BOC de São Paulo, um contratempo 284
ANEXO VII – Estatutos do Bloco Operário e Camponês 315
ANEXO VIII - Bases de Grupo Gráfico Pró-Bloco Operário 318
ANEXO IX – O candidato operário e sua obra primordial 319
f) No Topo: As Eleições Municipais de 1928 321
Rio de Janeiro (Distrito Federal) 329
Estruturando a campanha: Os Comitês Eleitorais e os Centros Políticos 329
O trabalho positivo e o trabalho negativo 334
VI
Agradecimentos
Konrad (UFSM); Prof. Dr. Fernando Teixeira da Silva (Unimep), sobretudo pela
sua extrema generosidade em dar-me acesso à preciosa documentação sobre o
movimento operário de Santos de que fez uso e da qual me vali fortemente; Prof.
Dr. José Flávio Motta (FEA-USP); Prof. Marco Aurélio Garcia (IFCH-UNICAMP);
Maristela Calil Atalah; Prof. Dr. Roberto Ponge (Letras-UFRS); Profa. Dra. Nara
Machado (PUC-RS); Romildo Maia Leite, diretor do Arquivo Público Estadual de
Pernambuco “Jordão Emerenciano” e Profa. Dra. Terezinha Santarosa Zanlochi,
diretora do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica de Bauru (USC).
Aux amis um abraço e um beijo: Airton Paschoa; Clara Ant; Elisabeth Ueta;
Gema Martins; Glauco Arbix; Leda Maria Paulani; Luís Antônio Alves de Azevedo;
Mauro Belleza; Sandra Ambrósio; Sérgio Ricardo da Silva Rosa; Vagner Pelosini
e Vladimir Sacchetta.
Por fim, gostaria de fazer os agradecimentos de praxe ao CNPq pela bolsa
concedida e sem a qual eu não poderia ter realizado este trabalho.
IX
SIGLAS UTILIZADAS
Antes de tudo, um relato pessoal, que, como tal, explica alguma coisa, mas,
necessariamente, nem tudo.
Desde 1987, com interrupções, tenho exercido parte de minhas atividades
profissionais no âmbito do Poder Legislativo. Onze deles trabalhei atuando na
assessoria a Parlamentares. Parlamentares, diga-se de passagem, assim mesmo,
com “P” maiúsculo: Clara Ant, Luizinho Azevedo e Sérgio Rosa. Cada um deles
imprimindo sua característica ao mandato, mas todos com um ponto em comum,
afora o partido político de oposição: um elevado zelo e compreensão em relação
à sua missão legislativa. Também é verdade que no Poder Legislativo vi o outro
lado da moeda, aquele que vai às manchetes de jornal e acaba sendo
transformada, num trabalho executado pela mídia que adora adular os mandantes
de plantão, na “imagem exclusiva” do Poder Legislativo: uma súcia de
oportunistas, para não irmos muito longe. Vi também outras coisas, como a
dificuldade, causada pelos mais variados motivos, de um segmento dos cidadãos
brasileiros em compreender a importância desse poder na sua vida. Para parte
deles o Poder Legislativo é uma porta, ou melhor, um balcão ao qual recorrem em
busca de uma solução pessoal para um problema que a máquina pública não
pode ou não quer resolver. Mas, estes, em boa parte, buscavam apenas uma
saída pessoal.
Mas não foi exatamente esta parte amarga - pois afinal, como dizia meu
saudoso amigo Fulvio Abramo, política é a arte de engolir sapos e continuar
andando - que me fez pensar em fazer desse lugar onde estive um ponto de
partida para algumas reflexões. Pelo contrário, foi a partir dessa gente, a com “P”
maiúsculo, que me interroguei desde quando, como, onde, por que, para que, por
quem eles, de tempos em tempos, ocupavam a atenção da população brasileira
durante as eleições e depois, uns com mais outros menos atenção dos cidadãos e
da mídia, diariamente prosseguiam com muito sangue, suor e lágrimas na busca
de dias melhores para este grande País.
2
1
- Fundado em março de 1922 com o nome de Partido Comunista do Brasil, em agosto de
1961 modifica seu nome para Partido Comunista Brasileiro, sempre com a sigla PCB. Tal mudança
realiza-se com vistas a requerer o registro legal do partido perante o Tribunal Superior Eleitoral e
contornar o argumento que propiciou a cassação da legenda em 1947: "do Brasil" caracterizaria a
representação brasileira de uma entidade estrangeira. Em razão de discordâncias políticas e
posicionando-se contra esta decisão, um grupo de militantes, em fevereiro de 1962, retoma o antigo
nome e usa a sigla PCdoB para diferenciar-se do PCB. Em 1992, como um dos resultados das
colossais mudanças operadas na conjuntura mundial a partir do que se convencionou chamar de crise
do Leste europeu, o PCB é sucedido pelo Partido Popular Socialista - PPS. Como no caso do PCdoB,
também se manteve um PCB.
4
Os anos 1920 foram o momento em que ela começou a tomar vulto na sociedade
brasileira: tanto numericamente, como resultado do início da aceleração do
processo de industrialização, como em poder apresentar suas propostas ao País.
Esta falta de implantação na sociedade tinha como resultado a
transitoriedade dos partidos que foram sendo criados ao longo do tempo e
rapidamente desapareciam. Neste sentido, é ilustrativo vermos os comentários de
um observador contemporâneo dos fatos a respeito de um deles, o Partido
Socialista Brasileiro, que havia sido fundado em São Paulo, em um congresso
realizado de 28 de maio a 1º de junho de 1902:
“Efêmera foi a existência do Partido. Aos dirigentes faltou, desde logo, aquele
entusiasmo salutar, que leva os indivíduos ao sacrifício. Houve inúmeras eleições.
E eles não disputaram uma só cadeira. Não fundaram jornais: o único que teve
vida, e essa passageira, foi o Avanti, redigido em italiano. Um ano, se tanto, o
partido era fumo. Nada havia que denotasse a sua ação, a sua vigilância. Por que
o fracasso? Vieram cedo à arena. A grande massa de imigrantes ainda tinha
ilusões acerca das promessas dos agricultores. As finanças brasileiras, graças à
moratória conseguida por Campos Salles, achavam-se desafogadas. A indústria
estava no começo, e os operários, nela empregados, não tinham muita razão de
queixa: a felonia não levava os capitalistas a desregramentos e extorsões
escandalosas. Demais, muitos dos signatários, percebendo que a semente não
caíra em terra fértil, foram-se aburguesando. [...] Pensar em socialismo, e no seu
programa, de certo que não era de boa tática.”2
2
- Antônio dos Santos Figueiredo. A evolução do Estado no Brasil, p. 169-170.
5
3
- José Oiticica. O sufrágio universal. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 28-8-1918 In
OITICICA, José. Ação direta, p. 61-62 (grifos no original).
4
- Echo Popular. Rio de Janeiro, 17-23/01/1890. p. 1 apud Angela de Castro Gomes. A
invenção do trabalhismo, p. 50. Outro exemplo a ser citado é o caso de João Ezequiel de Oliveira
Luz, gráfico, militante socialista vinculado ao Centro Protetor dos Operários e que foi eleito deputado
estadual em Pernambuco no ano de 1912. Em suas memórias Ao contrário do tenente Vinhaes, o qual
expunha de maneira clara suas concepções, este militante não correspondeu à expectativa de seus
eleitores, que algum tempo depois deixaram claro que foram ludibriados, pois “o nosso delegado
mentiu sua investidura, sua missão”, que o passaram a chamá-lo de “falso apóstolo” (cf. Brasília
Carlos Ferreira. Trabalhadores, sindicatos, cidadania. Nordeste em tempo de Vargas, p. 131-133)
6
5
- Joaquim Pimenta. Retalhos do passado, p.192-193. Brasília Carlos Ferreira. Op. cit., p.
131-133.
6
- Angela de Castro Gomes. Op. cit., p. 50.
7
7
- El Partido Comunista y el parlamentarismo In Internacional Comunista. Los cuatro
primeros congresos de la Internacional Comunista, p. 173.
8
- Idem. p. 180-182.
9
9
- Octavio Brandão. Relatório trimestral do PCB à Comissão Executiva da Internacional
Comunista. Rio de Janeiro, 10-4-1924 (RGASPI).
10
- Ver, no Anexo III, a plataforma apresentada pela “Coligação Operária”.
11
- S.A. “A vida do Bloco Operário e Camponês”. S.l., 1928, p. 1 (RGASPI).
10
12
- Apenas contaram, várias vezes, embora nem sempre, com o apoio de Maurício de Lacerda.
Além disso, por uma exigência regimental, que estabelecia um mínimo de três peticionários,
Maurício de Lacerda costumara apor sua assinatura às iniciativas parlamentares dos intendentes do
BOC.
11
13
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1).
12
alguém que o pudesse representar. Isto coloca um exame sobre estas barreiras
institucionais ao exercício do voto.
Este exame da atuação da esquerda em relação ao Parlamento se fará sob
três ângulos ao longo do trabalho. O primeiro enfoque será dado a partir de como
a esquerda brasileira apresentava o Poder Legislativo aos seus interlocutores
privilegiados, os trabalhadores. O segundo enfoque se dará através do exame do
momento das campanhas eleitorais, por meio de suas plataformas e propostas. E,
por fim, o último ângulo será o do próprio Parlamento, pela atuação dos
parlamentares de esquerda, através de seus discursos ou proposições
parlamentares, e também pelo enfoque que tal atuação recebia na sociedade.
Juntamente com estes pontos, inserem-se outros voltados para os
comunistas, quais sejam, o do exame sobre como as diretivas da Internacional
Comunista sobre parlamentares eram trabalhadas no Brasil e, por conta de
peculiaridades do Brasil, se acabavam gerando ou não contradições internas no
PCB.
Por fim, também é preciso estar atento à tensão permanente nos partidos
comunistas entre seu caráter internacionalista e o caráter nacional, para a qual
nos alerta Annie Kriegel:
que nenhum sistema de poder pode totalmente dissolver, um resíduo sem cessar
reexaminado, retocado, discutido, recalcado, disperso e assim expurgado das suas
virtudes ativas autônomas: numa palavra, formalizado.”14
14
- Annie Kriegel. A III Internacional in Jacques Droz (dir.). História geral do socialismo
(vol. 7), p. 84-85.
a) Os Comunistas: Do surgimento no Brasil aos
primeiros passos na vida eleitoral (1918-1924)
ANTECEDENTES ANARQUISTAS
1
- Imigrantes anarquistas. Correio Paulistano. São Paulo, 30-07-1893.
17
2
- Sheldon Leslie Maram. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro, 1890-
1920, p. 78.
3
- Daniel Guérin (O anarquismo, da doutrina à ação. Rio de Janeiro, Germinal, 1968, p. 26-
27) ressalva que a atitude dos anarquistas frente à participação no processo eleitoral estava longe de
ser “coerente e conseqüente” e cita como exemplo o caso da Espanha. Em 1931, muitos anarquistas
espanhóis, apesar da tradicional posição abstencionista, acabaram votando nas eleições que
resultaram na queda da monarquia. Dois anos depois, defenderam enfaticamente a abstenção nas
eleições, que acabaram por consagrar uma direita “violentamente antioperária”. Em 1936, mais uma
vez se pronunciaram pela abstenção, “mas fizeram uma campanha bastante discreta para não serem
18
“Há uma única paixão humana, a mais vil, a mais abjeta de todas que não
seja colocada em jogo num dia de eleição? Fraude, calúnia, vulgaridade, hipocrisia,
mentira, toda a lama que repousa no fundo da besta humana - eis o belo
espetáculo que nos oferece um país a partir do momento em que se lança em
4
período eleitoral.”
ouvidos pelas massas populares”, as quais acabaram participando em peso e garantindo a vitória da
Frente Popular.
4
- Piotr Kropotkin. O governo representativo In Pedro Augusto Coelho (org.). Os anarquistas
e as eleições. Brasília, Novos Tempos, 1986, p. 33.
5
- Erico Malatesta. A política parlamentar no movimento socialista. In Erico Malatesta et alii.
O anarquismo e a democracia burguesa. São Paulo, Global, 1979, p. 81.
19
6
- Idem, p. 82.
7
- Piotr Kropotkin. O governo representativo In Pedro Augusto Coelho (org.). Os anarquistas
e as eleições. Brasília, Novos Tempos, 1986, p. 34.
8
- Erico Malatesta. A política parlamentar no movimento socialista. In Erico Malatesta et alii.
O anarquismo e a democracia burguesa, p. 80.
9
- Piotr Kropotkin. Sobre o governo representativo ou parlamentarista In Erico Malatesta et
alii. . Op. cit., p. 51.
20
“Os políticos operários em nada diferiam dos demais. E tudo não passou de
palavras e palavras... O trabalhador continuou cada vez mais explorado e nunca a
iniqüidade campeou tão livremente! Todos os sonhos de melhores dias de justiça
ruíram por terra com os trabalhadores que caíam nas masmorras porque
reclamavam os seus direitos conculcados!
Tudo como dantes. As mesmas condições de vida miserável. Uns gozando e
10
outros sofrendo. Estes trabalhando, aqueles na ociosidade!”
10
- Cecílio Dinorá. Partidos políticos e ação direta. A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro, nº
22, 01/01/1913, p. 2.
11
- Erico Malatesta. A política parlamentar no movimento socialista. In Op. cit., p. 90-1.
21
12
- Idem, p. 98.
13
- Mota, Benjamin Franklin Silveira da. Rebeldias. São Paulo, Carlos Gerke, 1898, p. 46-57.
O jornal em questão era a primeira edição, de 16/01/1898, do jornal anarquista paulistano Il
Risveglio, editado em língua italiana por Alfredo Mari e Gigi Damiani e o artigo de França e Silva
intitulava-se “Aos italianos socialistas”. A brochura de Mota aqui citada era uma coletânea de artigos.
Originalmente o texto de Mota – “Lutas eleitorais” - foi publicado no segundo número do mesmo
periódico, datado de 16 de janeiro de 1898.
22
demonstrar que a conquista dos poderes públicos não passava de uma utopia,
pois a burguesia, caso se sentisse ameaçada, proporia leis permitindo apenas
aos poderosos votar. Mais: afirmou que, caso fossem eleitos, os parlamentares
nada fariam, sequer a propaganda das idéias, exprimindo, mesmo sem alusão
direta, a idéia defendida pelos anarquistas a respeito do poder de corrupção dos
parlamentos como elemento de explicação para a defesa do abstencionismo.
Também criticou os efeitos da proposta de “França e Silva” sobre os eleitores, os
quais, na visão anarquista, tenderiam a se acomodar, nada mais fazendo “para
emancipar-se do jugo capitalista e da tirania do estado”. Isto o próprio Mota teria
constatado quando apresentou sua candidatura, “de antemão derrotada”, a
deputado estadual com o fim de demonstrar a “inutilidade da luta eleitoral”.
14
- Mota, Benjamin. Op. cit., p. 50.
23
15
- Sobre a questão operária. Tribuna do Povo. Recife, nº 5, 10-04-1918, p. 1.
16
- Neno Vasco. Lei e ação direta. A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro, nº 11, 17-05-1909,
p. 1.
24
Por isso, proletários, pensai e pensai com calma para agir; pensai que não
deveis delegar a ninguém poderes para defender no parlamento ou em qualquer
parte que seja os nossos interesses lesados.
Guerreai, pois, os farsantes políticos que tudo nos prometem quando
precisam do voto e depois, empoleirados, falando de cima, justificam o seu silêncio
de qualquer maneira, quando se sabe, que calam porque, provavelmente, estão
comendo a gorda fatia do Estado.
Interessemos, pois, a família operária, na hostilidade a todos os políticos,
gente hipócrita, interesseira e mentirosa, cujo ofício é mistificar em próprio proveito.
Não abdiqueis, operários, do vosso direito de pensar elegendo os papa-
subsídios. Pensai por vós mesmos, e elegei a vossa consciência, como tribunal
17
para resolver sobre os vossos interesses.”
“Ora, toda a gente está fartíssima de saber que grande farsa é essa das
eleições. O reconhecimento de poderes, em que uns quantos candidatos se
reconhecem a si próprios para depois reconhecerem os outros, é
proclamadamente uma das mais agudas e abracadabrantes pouca-vergonhas
desta desmoralizadíssima democracia em que vegetamos. E nisso é que se cifra o
mecanismo do sufrágio: combinações e arranjos de paredros e reconhecimento de
poderes.
O nosso povo, porém, tem o bom senso de não perder o tempo em ir
depositar a sua cédula nas urnas eleitorais. Os ‘puros’ da política acham que isso é
um mal. Muito pelo contrário: é um bem. Para que votar? Para que eleger três ou
quatro centenas de ambiciosos e que vão para a Câmara e para o Senado a se
descomporem mutuamente e a fazerem leis idiotas... à razão de cem mil réis por
dia? E depois, os votos de nada valem. Para outra coisa não existem as atas e não
se faz o reconhecimento, senão precisamente para colocar os interesses
partidários acima e adiante dos votos.
Votar é, pois, ao primeiro exame, inteiramente inútil. E é também uma
fraqueza e uma indignidade, porque indigno e fraco é o homem que delega em
outro homem o poder de o governar.
São estas umas verdades comezinhas de que o povo tem apenas a intuição,
18
mas de que deve ter uma firme consciência.”
17
- A farsa eleitoral. A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro, nº 20, 15-11-1909, p. 1-2.
18
- A farsa eleitoral. A Vida. Rio de Janeiro, nº 2, 31-12-1914, p.1.
25
19
- A Batalha. Democracia e Sindicalismo. Contra a política parlamentar e pela ação direta.
Boletim da Comissão Executiva do 3º Congresso Operário. Rio de Janeiro, nº 1, ago. 1920, p.14.
26
RUMO AO PCB
20
- Comissão Central Executiva do PCB. Relatório geral sobre as condições econômicas,
políticas e sociais do Brasil e sobre a situação do P.C. Brasileiro. Rio de Janeiro, 01-10-1923, p. 6
(RGASPI).
27
21
- Abílio de Nequete. Ao Comitê Executivo da I. Comunista. Montevidéu, 01-02-1922, p. 1
(RGASPI). Nessa mesma época, também no Rio Grande do Sul, foram fundados outros grupos com as
mesmas características da União Maximalista e que também se apresentavam como simpatizantes e
apoiadores da Revolução Russa. Referimo-nos à Liga Comunista de Santana do Livramento e ao
Centro Comunista de Passo Fundo (cf. Isaac Akcelrud. Santos Soares. Problemas. Rio de Janeiro, nº
39, mar.-abr. 1952, p. 90).
22
- Abílio de Nequete. Idem, p. 1.
28
23
- Manuscrito fragmentário, sem data e nem local, encontrado no Fundo Astrojildo Pereira
(ASMOB), junto a uma série de documentos incompletos ou fragmentários (ARCH A2, 32, p. 19).
24
- Veja sua transcrição em Edgar Rodrigues. Op. cit., p. 237-241.
25
- José Oiticica. Princípios e fins do programa comunista-anarquista. Rio de Janeiro, s.c.p.,
1919, p. 9. O texto de Oiticica foi também publicado em Spartacus. Rio de Janeiro, n º 3, 16-08-1919,
p. 1.
29
26
- Ver os seguintes artigos da coluna “Rio Plebeu” publicada em A Plebe: Importante sessão
de propaganda do Partido Comunista do Brasil. Nº 7, 05-04-1919, p. 4 e O Partido Comunista do
Brasil. Mais uma sessão de propaganda. Nº 9, 19-04-1919, p. 4.
27
- Fritz Mayer (pseudônimo de Octavio Brandão). Agrarismo e industrialismo, p. 50.
28
- Jacy Alves de Seixas. Mémoire et oubli. Anarchisme et syndicalisme révolutionnaire au
Brésil: mythe et histoire, p. 246-249.
30
29 -
Secretariado do Partido Comunista do Brasil. Partido Comunista do Brasil. Alba Rossa. São
Paulo, nº 11, 03-04-1919, p. 3.
31
Astrojildo Pereira, por sua parte, em seu relato memorialístico acima citado,
situa, ao mesmo tempo em que ocorreu o descenso do movimento de massas, no
ano de 1921, o acirramento de tal confrontação, buscando explicar as “primeiras
restrições à revolução bolchevique” como resultado da influência de periódicos
espanhóis e argentinos sobre “certos meios anarquistas” brasileiros31.
Já de acordo com Nequete, os ataques dos anarquistas ao “bolchevismo” se
deram de modo “sorrateiro”, mas passaram a sê-lo abertamente e ganhando
consistência a partir do 3º Congresso Operário, em abril de 1920, quando os
º
anarquistas passaram a “sabotar toda e qualquer propaganda maximalista”. No 3
Congresso Operário foi aprovada uma moção que elidia a questão da adesão à
IC, mas na qual se declarava a “expectativa simpática em face da 3a.
Internacional de Moscou, cujos princípios gerais correspondem verdadeiramente
às aspirações de liberdade e igualdade dos trabalhadores de todo o mundo” e
chegou a enviar moções de congratulações com a IC 32. Tal moção expressava,
nas entrelinhas, uma reserva, mas não um ataque aberto, o qual efetivamente se
deu em outros momentos do Congresso, quando se discutiram pontos sobre a
organização de um partido operário, onde acabou prevalecendo a postura
antipartidária clássica dos anarquistas e que vinha sendo sucessivamente
º
aprovada desde o 1 Congresso Operário de 1906, e as relações do proletariado e
a Revolução Russa. Neste ponto o texto apresentado pela redação do jornal A
Batalha concluía muito mais enfaticamente que a moção acima mencionada por
Nequete:
30
- Abílio de Nequete. Idem, p. 3.
31
- Manuscrito fragmentário, sem data e nem local, encontrado no Fundo Astrojildo Pereira
(ASMOB), junto a uma série de documentos incompletos ou fragmentários (ARCH A2, 32, p. 22-23).
32
- O operariado do Brasil e a situação internacional proletária. Boletim da Comissão
Executiva do 3º Congresso Operário. Rio de Janeiro, nº 1, ago. 1920, p.15.
32
33
- O proletariado e a Revolução Russa. Boletim da Comissão Executiva do 3º Congresso
Operário. Rio de Janeiro, nº 1, ago. 1920, p.16.
34
- É importante assinalar uma certa característica pessoal de Nequete no sentido de
menosprezar outras iniciativas que não as suas. Nesse sentido é relevante o depoimento de Octavio
Brandão sobre a personalidade presunçosa de Nequete (cf. John W. Foster Dulles. Anarquistas e
comunistas no Brasil, p. 148-149).
33
“Foi quando faliu ‘A Voz do Povo’ [em novembro de 1920, dk] e Astrojildo
com outros promoviam um arrebanho de donativos para os famintos da Rússia.
Todos devem ter ciência, pois o cinema divulgou a tragédia, do que foi essa fome
no país dos sovietes. Numa reunião promovida por Astrojildo na Rua José Maurício
(Sindicato dos Padeiros, se não me falha a memória), Astrojildo, visivelmente
embaraçado, com meias frases, titubeando, expôs-nos a necessidade de acudir ao
povo russo, pois seria ajudar a revolução proletária do mundo. Eu, [João]
Gonçalves, Fábio Luz e outros entreolhamo-nos e não demos trégua a Astrojildo,
demonstrando-lhe que já não nos iludíamos com Lenine, Trotski e quejandos
‘revolucionários’.
Astrojildo não insistiu. Dias depois, entrando eu no mesmo sindicato, vi,
reunidos na saleta de entrada, com Astrojildo à cabeceira da mesa, além deste,
Brandão, [José] Elias, Diniz e mais outro. Astrojildo falava, como sempre,
mansinho. Ao me verem, calaram-se. Foi quando Elias alvitrou: ‘Gildo, não acha
melhor dizer ao Oiticica o que se passa?’. Astrojildo, sem levantar a cabeça de um
papel que segurava, respondeu displicentemente: ‘É..., é melhor!’ E Elias,
voltando-se para mim, na sua linguagem de ex-embarcadiço, proferiu esta frase
expressiva: ‘Oiticica, nós agora é na exata!’ Nada mais disse, porque,
compreendendo tudo, retruquei apenas: ‘Já sei, vocês são bolchevistas!’ Eles
confirmaram e eu retirei-me.
Compreendi a ação subterrânea de Astrojildo. Ele havia, sem me dizer nada,
minado os sindicatos, propagado o vírus da ditadura-do-proletariado e da férrea
disciplina, a ‘exata’ de Elias. Os métodos empregados seriam os constantes das
35
- Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos de preparação e realização
do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, 29-03-1922 (RGASPI).
34
37
Com isto, “doze dos camaradas mais esclarecidos” , constatando que os
debates entre os partidários da III Internacional e os anarquistas cristalizaram
ambas posições, indicando a inutilidade do prosseguimento das discussões,
tomaram a iniciativa de fundar o Grupo Comunista do Rio de Janeiro, em 7 de
novembro de 1921. A partir de então o Grupo passou a entrar em contato com
outros “centros proletários do Brasil” para expor-lhes seu programa e as 21
condições de admissão na IC e também decidiu fundar uma revista em janeiro de
1921, Movimento Communista. Tal ação teve como resultado o surgimento e a
consolidação de grupos comunistas no Recife – fundado em 01-01-1922 -, Juiz de
36
- José Oiticica. Brandão e Gildo!!!. Ação Direta. Rio de Janeiro, nº 115, mar. 1957 In José
Oiticica. Ação Direta. Rio de Janeiro, Germinal, 1970, p. 262.
37
- Eram eles Astrojildo Pereira, Antônio Branco, Antonino de Carvalho, Antônio Cruz
Júnior, Aurélio Durães, Francisco Ferreira de Souza, João Valentim Argolo, José Alves Diniz, Luís
Peres, Manuel Abril, Olgier Lacerda e Sebastião Figueiredo (cf. Moniz Bandeira et alii. O Ano
Vermelho, p. 290). A ação do grupo foi delimitada pelas seguintes “bases de acordo”: “1) Fica
fundado o Grupo Comunista com o fim de defender e propagar, no Brasil, o programa da
Internacional Comunista. 2) os aderentes do Grupo aceitam os princípios, a tática e a disciplina do
mesmo, estabelecido de conformidade com o programa da Internacional Comunista. 3) O Grupo só
aceitará a adesão de pessoas cuja idoneidade constitua suficiente garantia da atuação revolucionária
conforme aos fins do programa comunista. 4) O Grupo institui uma comissão de admissão, de cujo
parecer, baseado no artigo precedente e submetido à sanção da assembléia, depende a adesão de novos
aderentes propostos. 5) poderão ser excluídos do Grupo os aderentes cuja atuação pública ou
particular se mostre contrária aos princípios, à tática e à disciplina do mesmo. 6) A exclusão de
qualquer aderente de conformidade com o art. Precedente só poderá ser deliberada por assembléia, e
quando documentadamente proposta. 7) São válidas somente as assembléias a que compareça um
mínimo de dois terços dos aderentes do Grupo. 8) São válidas e obrigatórias para todos os aderentes
do Grupo as deliberações tomadas por maioria nas assembléias regulares do mesmo. 9) As
assembléias do Grupo se realizam ordinariamente uma vez por mês. 10) A comissão executiva do
Grupo Comunista, eleita anualmente em assembléia, se compõe de nove membros que entre si
distribuem os serviços de secretaria, tesouraria, imprensa, admissão etc. 11) A Comissão Executiva se
reúne ordinariamente uma vez por semana. 12) Todas as publicações do Grupo ficam sob o controle
direto da Comissão Executiva. 13) Fica estabelecida a quota regular de 2$000 mensais por aderente.
As quotas extraordinárias são ocasionalmente estabelecidas. 14) Os aderentes do Grupo Comunista
devem pertencer à organização sindical existente de seu ofício ou indústria. 15) O Grupo Comunista
promoverá a organização de grupos congêneres pelo interior do país, mantendo com os mesmos as
mais estreitas relações, tendentes à formação partidária, no Brasil, de uma seção da Internacional
Comunista. 16) O Grupo manterá as mais estreitas relações com as organizações de outros países
aderentes à Internacional Comunista. 17) Os casos não previstos nestas bases são resolvidos em
assembléia do Grupo.” (Cf. anexo de Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos
de preparação e realização do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro,
29-03-1922 (RGASPI).)
35
Fora, Cruzeiro, Niterói, São Paulo, Santos – ambos no início de março de 1922 - e
outras cidades. Somente no Rio de Janeiro conseguiu reunir “70 aderentes
seguros”, às vésperas do congresso de fundação do PCB.
No processo de delimitação entre anarquistas e comunistas no Brasil, um
peso significativo dele está circunscrito às questões doutrinárias e do próprio
movimento operário brasileiro. No entanto, há um aspecto da conjuntura
internacional que teve um papel importante e que é relevante destacar. A atração
exercida pela Revolução Russa, particularmente sobre a corrente
anarcossindicalista, foi muito vigorosa em uma série de países. Enquanto os
comunistas russos impulsionavam uma política de cisão dentro dos partidos
socialistas para a criação de partidos comunistas, no campo sindical as coisas
aconteceram durante algum tempo de modo diferente, pois os russos recusavam-
se a promover cisões no meio sindical para a constituição de “sindicatos
vermelhos”, o que permitiu e garantiu uma proximidade entre comunistas e
anarquistas. Isto, todavia, durou até julho de 1921, quando aconteceu o
congresso de fundação da Internacional Sindical Vermelha (ISV) em Moscou, no
qual se decidiu privilegiar um estreito contato orgânico entre os movimentos
operários revolucionários, sobretudo a IC e a ISV. Esta decisão foi fatal para o
sucesso da nova internacional sindical, pois a crítica que a partir de então foi
feita, sobretudo pelos anarcossindicalistas, era de que se decidira no congresso
pela subordinação dos sindicatos à IC.
No Brasil, o movimento de distanciamento entre os anarcossindicalistas e a
revolução russa já vinha, como vimos, se dando de algum tempo antes, mas, sem
dúvida, esta decisão do congresso teve muito peso na ruptura: não seria mais
possível conviver com os comunistas como se vinha fazendo até então.
Além disso, é também importante ressaltar que os anarquistas, no instante
em que, passado o entusiasmo inicial com que a Revolução Russa foi recebida no
Brasil, e aqueles que acabaram permanecendo nas fileiras ácratas
compreenderam efetivamente o que ali acontecera, fizeram também questão de
36
destacar que a opção pela via parlamentar feita pelos comunistas era uma das
principais causas de diferenciação entre as duas correntes:
38
- Edgard Leuenroth, Rodolpho Felippe, Antonino Domingues, Ricardo Cipolla, Antônio
Cordon Filho, Emílio Martins, João Peres, José Rodrigues e João Penteado. Os anarquistas no
momento presente. Definindo atitudes. Aos anarquistas, aos simpatizantes do ideal libertário, ao
proletariado. A Plebe. São Paulo, n º 177, 18-03-1922, p. 4.
39
- Voz do Povo era sucessore de Spartacus (que circulou de agosto de 1919 a janeiro de 1920)
e órgão da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro. Reunia militantes anarquistas e socialistas
e, como seu antecessor, publicava farto noticiário sobre a Rússia Soviética. Circulou de fevereiro a
novembro de 1920.
37
40
- Ver Edgar Rodrigues. Op.cit., p. 363-364.
41
- Mâncio Teixeira. Porque deixei a Coligação Social. A Voz do Povo. Rio de Janeiro, nº 281,
16-11-1920, p. 1.
42
- Nossa Bandeira. Renovação. Rio de Janeiro, nº 1, 16-12-1920, p. 2. Ver também
Renovação. Renovação. Rio de Janeiro, nº 2, 01-01-1921, p. 1 e 4.
38
43
- Carta de Everardo Dias à Redação de A Plebe. Rio de Janeiro, 25-10-1920, In Um partido
político parlamentar com elementos ex-anarquistas. A Plebe. São Paulo, nº 88, 06-11-1920, p. 2.
44
- Assis Brasil. Os escândalos da 1a República. São Paulo, J. Fagundes, 1936, p. 182-184.
39
45
Abramo-las!”
SURGE O PARTIDO
45
- Affonso Schmidt. Op. cit. , p.30. Recorde-se que, naquele momento, a palavra “comunista”
servia para designar, no Brasil, a corrente anarcocomunista, que, como vimos, diferenciava-se da
anarcossindicalista e tinha um caráter mais “ortodoxo”.
46
- Michel M. Hall e Paulo Sérgio Pinheiro. O grupo Clarté no Brasil: da Revolução nos
Espíritos ao Ministério do Trabalho In Antônio Arnoni Prado (org.). Libertários no Brasil. Memória,
lutas, cultura, p. 287. Ver também Ana Paula Palamartchuk. Ser intelectual comunista... Escritores
brasileiros e o comunismo, 1920-1945.
47
- Em uma carta, datada de 16-09-1926, dirigida à Seção de Agit-Prop da CEIC, Astrojildo
Pereira arrola os escritores membros do PCB: Octavio Brandão, Affonso Schmidt, Raymundo Reis,
Laura da Fonseca e Silva e Vicente de Miranda Reis. Com exceção de Laura da Fonseca e Silva,
companheira de Brandão, todos os demais estavam listados entre os membros do Grupo Comunista
Brasileiro Zumbi (cf. a lista de aderentes existente em Affonso Schmidt. Op. cit., p. 28).
40
48
- Não foi possível estabelecer a identidade de Alexandrovsky, talvez seja a mesma pessoa
que assina R. Vaterland e envia uma mensagem de saudação ao Congresso de fundação do PCB em
nome do “Bureau da Internacional Comunista para a Propaganda em Sul-América” (cf. Aos
trabalhadores comunistas do Brasil. Movimento Communista. Rio de Janeiro, nº 7, jun. 1922, p. 182-
184).
49
- Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos de preparação e realização
do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, 29-03-1922, p. 2
(RGASPI).
50
- Em relatório ao CEIC, datado de 01-01-1923, a direção do PCB apresenta o número de
123 militantes (Comissão Central Executiva do PCB. Relatório geral sobre as condições econômicas,
políticas e sociais do Brasil e sobre a situação do P.C. Brasileiro. Rio de Janeiro, 01-10-1923). Em um
relatório anterior (Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos de preparação e
realização do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, 29-03-1922),
redigido logo após a realização do Congresso de fundação, foi apresentado o número de 165
militantes, mas acreditamos, neste caso, que não se deve desprezar a tendência a inchar estatísticas
41
Exemplo disso, entre vários, pode ser dado através das declarações
publicadas de um dos fundadores do PCB que expressam, em março de 1922, no
momento da criação do PCB, a confusão ideológica ainda reinante:
em eventos como congressos, bem como considerar o fato de que o tempo decorrido entre estes dois
relatórios permitiu uma melhor apuração dos dados apresentados pelos delegados durante a fundação.
Além disso, Antônio Bernardo Canellas (Relatório da delegacia à Rússia. Rio de Janeiro, s.c.p., p.
50) apresenta o número de 132 “membros fundadores”, de acordo com dados referente a maio ou
junho de 1922, número este também próximo ao apresentado na avaliação do relatório de outubro de
1923. E, para concluir o quadro de confusão reinante a respeito do número de militantes do grupo
fundador do partido, Astrojildo Pereira, em resposta a um questionário da IC, provavelmente em
fevereiro de 1924, quando de sua chegada à URSS, apresenta o número de 138 camaradas (cf. p. 8).
De acordo com o relatório de março de 1922, os delegados presentes ao Congresso de fundação
do PCB representavam o Partido Comunista do Uruguai, o Bureau da IC para a Propaganda na
América do Sul (ambos por Abílio de Nequete), e os Grupos Comunistas de Porto Alegre (Nequete,
libanês, barbeiro), Recife (Christiano Cordeiro, contador e professor), São Paulo (João da Costa
Pimenta, gráfico), Cruzeiro (Hermogênio Silva, eletricista de ferrovia), Niterói (Astrojildo Pereira,
jornalista) e do Rio de Janeiro (José Elias da Silva, operário da construção civil, Joaquim Barboza de
Souza, alfaiate, Luiz Peres, vassoureiro, e Manoel Cendón, espanhol, alfaiate - este último como
suplente, em razão da ausência de Antônio Gomes Cruz Júnior, comerciário, que estava adoentado).
Deixaram de enviar delegados os Grupos Comunistas de Juiz de Fora e Santos. O relatório de março
de 1922, que totalizou 165 militantes, discriminava os efetivos de cada um dos grupos: Porto Alegre -
15, Recife - 45, São Paulo - 7, Cruzeiro - 13, Rio de Janeiro e Niterói - 70, Santos - 2 e Juiz de Fora -
13. Não foi possível apurar de quais locais se originava a diferença de 42 militantes entre os relatórios
de março de 1922 e de outubro de 1923. Ressalte-se, cotejando-se o relatório de 1922 com o texto
publicado no órgão oficial do PCB sobre o Congresso de fundação, que o número de setenta, que até
agora vinha sendo apresentado como o número inicial de militantes do PCB em todo o País, na
verdade referia-se apenas aos do Rio de Janeiro e Niterói. O artigo, neste ponto, transcreve palavra a
palavra o mesmo parágrafo do relatório enviado ao Comitê Executivo da Internacional Comunista em
1922 (cf. Nosso Congresso. Movimento Communista. Rio de Janeiro, nº 7, jun. 1922, p.178).
51
- Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos de preparação e realização
do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, 29-03-1922, p. 3
(RGASPI).
42
52
- Sebastião Figueiredo. Porque aderi ao Grupo Comunista. Vanguarda. Rio de Janeiro, 09-
03-1922 apud Thomaz Ramos Neto (pseudônimo de Fragmon Carlos Borges). Algumas observações
sobre a fundação do Partido. Estudos. S.l., nº 2, mar. 1971, p. 88.
53
- Pierre Broué. Histoire de l’Internationale communiste, 1919-1943, p. 249-250.
43
54
- Internacional Comunista. Condições de admissão aos Partidos na I. C. Vida Nova. Santos,
n º 1, 01-05-1922, p.7.
44
55
- El Partido Comunista y el parlamentarismo In Internacional Comunista. Los cuatro
primeros congresos de la Internacional Comunista, p. 173.
56
- Idem. p. 180-182.
45
57
- Segundo dados oriundos do “Relatório dos trabalhos de preparação e realização do
Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil”, enviado a Moscou e assinado pelo secretário
geral, Abílio de Nequete, e pelo secretário internacional interino, Astrojildo Pereira, datado de 29 de
março de 1922, o núcleo de Santos possuía apenas 2 militantes.
58
- Nós e as eleições. Vida Nova. Santos, nº 1, 01-05-1922, p. 3-4.
46
59
- Fernando Teixeira da Silva. Operários sem patrões: da Barcelona à Moscou brasileira
(Trabalho e movimento operário em Santos no entreguerras), p. 383.
60
- Em uma carta enviada pelo então encarregado da Comissão de Educação e Cultura,
Octavio Brandão, ao responsável da Seção de Agitação e Propaganda da IC, Bela Kun, datada de
18/11/1924, é traçado um quadro da literatura da IC à qual os comunistas brasileiros tinham então
acesso. Fixando-nos apenas em nosso objeto, Brandão informa que “a vanguarda do partido” conhecia
“A moléstia infantil”, de Lenin, cujas obras eram lidas no Brasil em francês e, principalmente, em
espanhol. Além disso, destaca que, entre a bibliografia utilizada nos cursos ministrados pelo PCB aos
seus militantes estavam as teses e resoluções da III Internacional, as quais (dos três primeiros
congressos) são pedidas a Bela Kun, “pois a polícia no-las carregou”. Especificamente do II
47
Congresso, sabemos que houve duas edições em francês – não há referências às em espanhol -
editadas em 1920 - uma em Petrogrado e outra em Paris - que continham suas resoluções (cf. Vilém
Kahan. Bibliography of the Communist International (1919-1979). Vol. 1. Leiden, E. J. Brill, 1990,
p. 115), uma das quais provavelmente o PCB teve acesso.
61
- Para maiores detalhes sobre a participação de A. B. Canellas no IV Congresso e a polêmica
decorrente de sua atuação ver Edgard Carone. Uma polêmica nos primórdios do PCB: o incidente
Canellas e Astrojildo (1923). Memória & História. São Paulo, n. 1, 1981, p. 15-36.
48
62
- Antônio Bernardo Canellas. Quelques aspects de la vie politique au Brésil. Moscou, 09-10-
1922 (RGASPI).
49
O PCB E A CSCB
Quase um ano depois, no primeiro semestre de 1923 foi que o PCB saiu
lentamente da clandestinidade por meio da implementação de uma política de
frente única com a Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira (CSCB)64.
Até então, os esforços do partido deram-se mais em um sentido restrito de
doutrinação e formação de quadros, como afirmava seu secretário de relações
internacionais à IC:
63
- PCB. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do Brasil e sobre a
situação do P.C. brasileiro. Rio de Janeiro, 01-10-1923, p. 2 (RGASPI).
64
- A criação da CSCB foi antecedida pela da Federação Sindicalista-Cooperativista Brasileira
(FSCB), surgida em 1919, como nos relata Cláudio Batalha: “Todavia, esta federação não parece ter
se organizado antes de 1920, quando a encontramos entre os participantes da inauguração do
Sindicato Central Ferroviário. A FSCB aí esteve representada pelo professor socialista Tertuliano
Toledo de Loyola, que foi membro das direções dos partidos socialistas de 1902 e de 1919 e um dos
participantes do Congresso Humanista de 1906. Ainda em 1920, a FSCB obteve do parlamento uma
lei que fixava uma ajuda financeira do Estado às organizações que seguiam os princípios do
sindicalismo-cooperativista. Pouco depois, a FSCB cessou de existir.” (Cláudio Henrique de Moraes
Batalha. Le syndicalisme “amarelo” à Rio de Janeiro (1906-1930), p. 322).
50
“Em parte são justas vossas críticas à nossa revista [o autor refere-se a
Movimento Communista, então órgão oficial do PCB , dk]. Entretanto, temos a dizer
que é preciso criar em primeiro lugar um bloco, um núcleo de bons comunistas,
conhecendo mais ou menos a teoria marxista, que até então era desconhecida no
Brasil. Tal foi a obra de nossa revista: criar dirigentes, militantes. Como ir às
massas, sem ter criado militantes? Estes existem no Brasil, mas anarquistas. Os
primeiros proletários aderentes ao P.C.B. devem-se a Movimento Communista.
Quando o estado de sítio for suspenso, faremos nossa revista quinzenal; então a
primeira parte do trabalho de educação estará terminado. Vosso desejo será
realizado. Até o final do estado de sítio apenas podemos escrever nos jornais
proletários. Não podemos enfrentar a polícia e o melhor que podemos fazer é
ficarmos submersos, fazer um trabalho de sapa.
Ir às massas! Este será o trabalho de 1924. Estudar o marxismo e a
Revolução Russa! Este foi o trabalho de 1921 e 1922. Suportar a reação, viver,
fazer reuniões, apesar da perseguição! Eis o trabalho de 1923.”65
No bojo dessa aliança com a CSCB foi tratada a questão da “ação político-
parlamentar”. No entanto, antes de examiná-la, é importante lançarmos nossa
atenção à CSCB.
Fundada em 26 de março de 1921, a CSCB teve como seu presidente e
principal ideólogo o funcionário do ministério da Agricultura Custódio Alfredo
Sarandy Raposo, que, afirmando-se como um discípulo do economista francês
Charles Gide e do também francês e teórico do socialismo Charles Fourier, desde
1905, vinha difundindo entre associações operárias do Rio de Janeiro as bases
sobre as quais se assentava o organismo66. Fundamentalmente a CSCB
advogava, por meio dos sindicatos e das cooperativas, uma transformação social
evolutiva, dentro da ordem política e do progresso econômico. Os sindicatos eram
vistos como instituições das quais se se serviriam os trabalhadores a fim de se
buscar um acordo harmônico e eqüitativo entre capital e trabalho, processando-
65
- Carta de Octavio Brandão a Otto Wilhelm Kuusinen. Rio de Janeiro, 27-08-1923, p. 4-5
(RGASPI).
66
- Elas podem ser vistas mais detalhadamente na obra de C. A. Sarandy Raposo, Teoria e
prática da cooperação (Da cooperação em geral e especificamente no Brasil). Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1912. Note-se que esta publicação tem um caráter oficial, pois apareceu como
anexo do relatório do Ministro da Agricultura, Pedro de Toledo, ao Presidente da República, Hermes
da Fonseca, referente ao ano de 1911. Para maiores detalhes sobre a CSCB e Sarandy Raposo ver
Maria do Rosário da Cunha Peixoto. O trem da História e Angela de Castro Gomes. A invenção do
trabalhismo, p. 156-168.
51
se, por sua vez, a passagem gradual dos meios de produção e distribuição para
as cooperativas, que operacionalizariam, assim, a transformação do capital
individual em coletivo, tudo isto sob a “assistência imparcial do Estado”. Como
observa Angela de Castro Gomes:
“Antes de mais nada, ele não representa uma corrente política determinada,
mas um conjunto de correntes ideológicas – muitas vezes adversárias umas das
outras -, sustentando uma prática sindical, ou melhor, uma série de práticas
sindicais idênticas ou muito semelhantes. Podem ser consideradas como
expressões do reformismo associações operárias de um espectro ideológico
bastante diversificado, que vão desde o socialismo reformista ao mais estreito
tradeunionismo, passando por correntes que se arvoram republicanas sociais ou
cooperativistas. Essas diversas correntes reformistas, que não alcançam uma
unidade, nem no tempo, nem no espaço, têm em comum concepções sindicais
marcadas por uma visão da greve como o ‘último recurso’; por buscar consolidar as
conquistas trabalhistas através de medidas legais; por apelar para os serviços de
intermediários (advogados, políticos, representantes dos poderes públicos); por
sustentar a idéia de sindicatos fortes e ricos, recorrendo à beneficência como
forma de assegurar o número de associados e a entrada de recursos; e por tentar
conquistas espaços de participação institucional lançando candidatos próprios nas
67
- Angela de Castro Gomes. Op. cit., p. 161.
52
68
- Claudio Henrique de Moraes Batalha. Uma outra consciência de classe? O sindicalismo
reformista na Primeira República In Anpocs. Ciências Sociais Hoje, 1990, p. 120-121.
69
- Astrojildo Pereira. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do
Brasil e sobre a situação do P.C. Brasileiro ao Comitê Executivo da I.C. Rio de Janeiro, 01-10-1923,
p. 5 (RGASPI).
53
70
- Astrojildo Pereira. Op. cit., p. 10-11.
54
71
- No Meio Operário: A Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira e a renúncia do
Sr. Sarandy Raposo. O Paiz. Rio de Janeiro, 13-5-1923, p. 9.
72
- No Meio Operário: O sindicalismo-cooperativista, o comunismo e o sindicalismo
revolucionário ou anarquismo são as três correntes político-sociais que orientam atualmente o
operariado. O Paiz. Rio de Janeiro, 07-10-1923, p. 9.
73
- Astrojildo Pereira. Manobras suspeitas. Movimento Communista. Rio de Janeiro, nº 18-19,
10/25-03-1923, p. 84.
55
“No entanto, O PAIZ, que instituiu esta seção com os mais alevantados
sentimentos patrióticos, sente-se na obrigação de afirmar lealmente que essa nova
e formidável organização político-social [o PCB, dk] tem encontrado os melhores
elementos de propaganda nos sucessivos erros legislativos e administrativos,
principalmente administrativos, ou mais objetivamente, no constante desprestígio
ao programa oficial sindicalista-cooperativista, quer por deficiência psicológica de
uma vasta seriação de administradores que têm estado à frente dos
departamentos encarregados das questões do trabalho, quer pela subalternização
desses mesmos administradores às sugestões de individualidades ignorantes das
questões sociais e possuídas por odiosidades contra indivíduos que,
reveladamente patriotas, têm sabido doutrinar, organizar e apostolar, em prol dos
mais eminentes interesses pátrios, a perfeita sistematização sindicalista-
cooperativista, buscada sob profundos ensinamentos psicológicos e verdadeiras
inspirações filosóficas, à letra apagada e confusa, às vezes inconscientemente
contraditória, dos decretos legislativos referentes aos sindicatos agrícolas e
profissionais e às instituições cooperativas.”74
Embora tenha reconsiderado seu gesto e reassumido seu cargo, por pressão
dos filiados da CSCB, o fato é que algum tempo depois Sarandy Raposo
pessoalmente procurou o PCB para propor um entendimento e uma ação comuns
75
e oferecer-lhe espaço na coluna “No Meio Operário” . Para tal aliança a CSCB
apontava as seguintes vantagens mútuas:
74
- No Meio Operário: A Confederação Sindicalista-Cooperativista e a renúncia do Sr.
Sarandy Raposo. O Paiz. Rio de Janeiro, 13-05-1923, p. 9.
75
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 254. Brandão comete um
pequeno equívoco em estabelecer que tal contato se dera na segunda metade do ano de 1923. Ver
também Astrojildo Pereira. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do
Brasil e sobre a situação do P.C. Brasileiro ao Comitê Executivo da I.C., p. 9 (RGASPI) e Astrojildo
Pereira. Relatório trimestral do P.C. Brasileiro ao Executivo da I.C. Rio de Janeiro, 06-01-1924
(RGASPI).
56
76
- No Meio Operário: Impõe-se aos “leaders” trabalhistas um gesto de honestidade edificante.
O Paiz. Rio de Janeiro, 19-06-1923, p. 6.
77
- Astrojildo Pereira. Relatório trimestral do P.C. Brasileiro ao Executivo da I.C. Rio de
Janeiro, 06-01-1924, p. 2-3 (RGASPI).
57
78
- Astrojildo Pereira. Tableau general. Moscou, [fev.] 1924, p. 14 (RGASPI).
79
- Astrojildo Pereira. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do
Brasil e sobre a situação do P.C. Brasileiro ao Comitê Executivo da I.C., p. 9 (RGASPI).
58
80
- Astrojildo Pereira. A reorganização sindical. O Internacional. São Paulo, nº 31, 01-06-
1922, p. 1-2.
81
- Tesis sobre la acción de los comunistas en las cooperativas; Resolución del III Congreso de
la Internacional Comunista sobre la acción en las cooperativas; Resolución sobre la cooperación In
Internacional Comunista. Los cuatro primeros congresos de la Internacional Comunista (2a parte), p.
133-135, 136, 244-247, respectivamente.
59
82
- No Meio Operário: Declaração relativa à Conferência dos Presidentes das Associações
Operárias. O Paiz. Rio de Janeiro, 28/08/1923, p. 7. Esta declaração foi assinada por dez entidades
sindicais dirigidas ou com forte influência dos comunistas: União dos Alfaiates, Centro Cosmopolita,
Aliança dos Oficiais de Barbeiro, União dos Empregados em Fábricas de Vassouras, União dos
Empregados em Padarias, Associação Gráfica do Rio de Janeiro, Liga Operária da Construção Civil
de Niterói, Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, Associação dos Funileiros e Bombeiros e
União Geral dos Metalúrgicos.
61
83
- No Meio Operário: Uma idéia que poderá servir a quantos desejam a unificação das forças
proletárias. O Paiz. Rio de Janeiro, 02-08-1923, p.6.
84
- No Meio Operário: Foram brilhantes os debates travados ontem na C.S.C.B. em torno da
questão parlamentar. O Paiz. Rio de Janeiro, 11-07-1923, p. 6.
62
85
- General M. Martins. No Meio Operário: Falando ao povo sobre as causas e os remédios
dos seus males (Tese defendida em assembléia geral da Confederação Sindicalista-Cooperativista
Brasileira, de 10 de Julho de 1923). O Paiz. Rio de Janeiro, 13-07-1923, p. 6.
63
Fica claro que aos trabalhadores cabia apenas armar-se, não com dinamite,
como afirmava Martins, mas com o título de eleitor e não se abster de votar.
Quanto a atuar e intervir diretamente nas Casas Legislativas, esta já era outra
história; era para “especialistas”...
Como se inserem os comunistas neste debate? Aqui também ocorre o
mútuo jogo de buscar-se vantagens no combate político. A ambos, CSCB e PCB,
interessava atacar e isolar os anarquistas, e como a questão da “ação político-
parlamentar” era um ponto de clara delimitação ideológica, nada mais
interessante que reforçá-lo. Aliás, sempre que os sindicalistas-cooperativistas
buscavam caracterizar as idéias comunistas, um dos pontos enfatizados, como
forma de diferenciação com os anarquistas, era justamente que os comunistas
não “desprezavam sequer a ação parlamentar”. Assim, uma das primeiras
questões colocadas quando da aproximação entre ambos foi justamente a da
“ação político-parlamentar”:
A discussão em torno deste ponto, como destaca Peixoto88, teve por fim
quebrar a resistência entre os trabalhadores à participação no parlamento. Ao fim
de um longo debate de alguns meses, foi incorporada ao corpo doutrinário da
CSCB a questão da participação dos processos eleitorais, já então sob o novo
nome, “ação político-parlamentar-proletária”. Todavia, destaque-se, a maneira
pela qual esta mudança foi introduzida se fez sob uma forma, típica da tradição
86
- General M. Martins. No Meio Operário: Falando ao povo sobre as causas e os remédios
dos seus males – VI. O Paiz. Rio de Janeiro, 20-07-1923, p. 7.
87
- No Meio Operário: A Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira e a política
parlamentar. O Paiz. Rio de Janeiro, 17-06-1923, p. 10.
88
- Maria do Rosário da Cunha Peixoto. O Trem da História. A aliança PCB / CSCB / O Paiz,
p.48.
64
89
- No Meio Operário: A assembléia da Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira
assumiu proporções de um sério acontecimento trabalhista. O Paiz. Rio de Janeiro, 12-10-1923, p. 6.
90
. V. I. Lenin. Parlamento burguês e revolução proletária. O Paiz. Rio de Janeiro, 24-04-
1924, p. 7.
65
91
- A direção da CSCB acabou sendo assim então composta: Diretoria - Custódio Alfredo
Sarandy Raposo, presidente; Maurício de Lacerda, 1º vice-presidente; Arthur de Pinna, 2º vice-
presidente; Alves de Souza, 3º vice-presidente; Joaquim Pimenta, secretário geral; Carlos Gomes de
Almeida, 1º secretário; Francisco Garcia da Rosa Júnior, 2ª secretário; Luiz Natálio Schiavo, 1º
tesoureiro; Manoel Tertuliano dos Santos, 2º tesoureiro; Conselho Fiscal – Evaristo de Moraes,
presidente; Pedro da Motta Lima, secretário; Vogais: Maximiano Martins; João da Silva Barbosa;
Antônio Lopes de Carvalho; Antônio da Silva Cravo; Álvaro Felippe de Sant’Anna; José Cabrera da
Costa; Manoel Solano dos Santos; Antônio Duarte Júnior; Manoel Marques Filho; e Maurício Bruner
(cf. No Meio Operário. Realiza-se hoje, às 20 horas, na sede do Centro Cosmopolita, à rua do Senado
n. 215, a assembléia geral ordinária da Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira, para
discussão e votação do programa a ser executado em 1924 a 1926, eleição e posse da nova diretoria. O
Paiz. Rio de Janeiro, 26/04/1924, p.7.).
92
- Curiosamente o decréscimo dos efetivos da CSCB aos olhos dos comunistas se dá, em
1924, de maneira abrupta. Provavelmente em março de 1924, em resposta a um questionário da IC,
Astrojildo Pereira afirmava que não seriam 140.000, e que a CSCB estava longe de possuir 80.000. Já
no relatório de 10-04-1924 enviado ao CEIC pelo PCB a queda é ainda mais espetacular, afirmando-
se que não eram sequer 60.000 aderentes, mas sim apenas de 10.000 a 15.000.
66
Algum tempo depois, outro juízo crítico, embora com alguns valores e
conceitos fora de contexto - particularmente o referente à eqüivalência entre
reformismo e fascismo - a respeito da CSCB foi reiterado por Octavio Brandão,
quando assim caracterizava Raposo:
93
- Octavio Brandão. O Brasil burguês e revolucionário: Relatório trimestral do P.C.B. ao
C.E.I.C. - Janeiro a março - 1924. Rio de Janeiro, 10-04-1924, p. 5 (RGASPI).
94
- Fritz Mayer (pseudônimo de Octavio Brandão). Agrarismo e industrialismo, p. 40.
67
95
- Astrojildo Pereira. El camino de la unidad sindical em Brasil. La Correspondência
Sudamericana. Buenos Aires, nº 20, 15/03/1927, p. 30.
96
- No relatório de Astrojildo Pereira ao CEIC, datado de 06-01-1924, já mencionado, na
página 5, seu autor anexa um recorte de O Paiz, no qual estão relacionados militantes e entidades
68
LARGADA QUEIMADA
98
- A primeira menção, no âmbito da Internacional Comunista, da expressão “Bloco Operário”
foi feita por Leon Trotsky. Em uma reunião do Comitê Executivo da IC em que se discutia a respeito
do partido francês e sobre sua participação no bloco das esquerdas, Trotsky, em discurso feito na
sessão de 08/06/1922, afirmou que se deveria opor àquele um Bloco Operário. Na resolução sobre o
PCF, também redigida por Trotsky, afirmava-se que, embora sedutora, à idéia de Bloco das Esquerdas
deveria se opor a de “Bloco de todos os operários contra a burguesia” (Leon Trotsky. Le mouvement
communiste en France (1919-1939), p. 191). Posteriormente, a idéia foi retomada pelo PCF, que, em
15 de outubro de 1923, propôs ao Partido Socialista a constituição de um “Bloco Operário e
Camponês”, que acabou disputando as eleições de maio de 1924, sem a presença dos socialistas (cf.
Idem. Ibidem, p. 659-660).
70
“A C.C.E. não podia reunir-se por não ter local. Quando pôde, foi tarde
demais para tomar deliberações, visto a situação anormal do P.C.B. Apenas
determinou o voto facultativo, com o fim de facilitar futuramente o alistamento
101
eleitoral, coisa que não é nada fácil no Brasil.”
O secretário geral do PCB, Astrojildo Pereira, por sua vez, assim avaliou o
episódio em um questionário ao qual respondera logo após sua chegada a
Moscou, em fevereiro de 1924:
99
- PCB. As tarefas da C.C.E. até ao 2º Congresso do P.C.B. Rio de Janeiro, 23-01-1924, p. 2-
3 (RGASPI).
100
- Octavio Brandão. O Brasil burguês e revolucionário: Relatório trimestral do P.C.B. ao
C.E.I.C. - Janeiro a março - 1924. Rio de Janeiro, 10-04-1924, p. 5-6 (RGASPI).
101
- Idem, p. 6.
72
Nas outras regiões o partido não se engajou na luta eleitoral. Isto não quer
dizer que as palavras de ordem não tenham sido lançadas e que não se trabalhe
para executá-las.
Nossas campanhas eleitorais deverão nos servir como um instrumento de
propaganda no seio das massas operárias e camponesas. Nós sempre
apresentaremos candidatos delas oriundas, e nós as ligaremos à execução de
tarefas dizendo respeito às massas, aos seus interesses, às suas reivindicações.
Para a agitação eleitoral o partido espera estimular as massas politicamente
102
amorfas do país.”
Apesar disso, algum tempo depois ainda a herança anarquista era algo
que ainda pesava na vida dos comunistas:
“Temos sido, até agora, uma agrupação de mais ou menos bons militantes
operários, em sua maioria provindos das fileiras anarquistas, sinceramente
revolucionários e devotados ao comunismo, porém muitos ainda imbuídos de vícios
e defeitos adquiridos anteriormente nas fileiras libertárias. Daí, em parte, o
102
- Astrojildo Pereira. Tableau general. Moscou, [fev.] 1924, p. 15-16 (RGASPI).
103
- Astrojildo Pereira. Réponse du questionnaire de la Comintern. Moscou, fev. [1924], p. 6
(RGASPI).
73
“... que este Partido não é ainda um verdadeiro Partido Comunista. Ele
conserva restos da ideologia burguesa, sustentados pela presença de elementos
da Maçonaria e influenciados por preconceitos anarquistas, o que explica a
estrutura [des]centralizada do Partido e a confusão reinante sobre a teoria e a
105
tática comunistas.”
104
- PCB. Teses e resoluções adotadas na Conferência dos delegados de células e de núcleos do
Rio e Niterói, realizada em conjunto com CCE em 22-2-25. Rio de Janeiro, s.c.p., 1925, p. 1
(RGASPI).
105
- Apud Carone. Op. cit., p. 32 e 33. O texto original, como informa Carone, possuía um
evidente erro tipográfico: “centralizada” ao invés de “descentralizada”.
74
106
- PCB. O processo de um traidor (O caso do ex-comunista A. B. Canellas), p.84-86.
75
que concebiam a política como o campo de ação de uma elite, que deram a sua
marca. Há uma desalentadora unanimidade no que se refere a considerar a
República Velha como uma época em que, no campo eleitoral, predominou a
fraude e a violência. Embora no período imperial estas também fossem
exercitadas com desenvoltura, os requintes e a amplitude de sua prática no
primeiro período republicano fizeram com que este estigma ficasse, com justiça,
fortemente colado na imagem da República Velha.
107
- Veja-se este trecho de um manifesto do Partido Republicano Paulista publicado em 18 de
janeiro de 1872: “A verdadeira democracia não crê na infalibilidade de nem um homem, de nem um
76
partido para impor leis a uma sociedade, de onde ela tira toda a sua força e legitimidade. O sistema
contrário só se acomoda com as escolas autocráticas.” (Américo Brasiliense. Os programas dos
partidos e o 2º Império, p. 108.)
108
- As eleições municipais. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30/10/1928, p. 4.
77
109
- Antônio Bernardo Canellas. Quelques aspects de la vie politique ao Brésil. Moscou, 09-
10-1922, p. 2 (RGASPI).
110
- Decreto nº 6, de 19 de novembro de 1889.
111
- Decreto nº 200-A, de 8 de fevereiro de 1890.
78
Foi mantida a divisão distrital112 - que, como no Império, era o modo pelo
qual se viabilizaram praticamente mecanismos de controle e delimitação de
“currais” eleitorais - , embora houvesse particularidades nos Estados, em
decorrência da autonomia legislativa concedida em vários aspectos às unidades
da Federação. No caso de São Paulo, por exemplo, havia duas divisões: a
federal, que repartiu o Estado em sete distritos, depois reduzidos a quatro, e a
estadual, que o dividiu em dez distritos eleitorais e foi somente regulamentada em
1906, quando foram criados dez distritos113.
Outra novidade foi a definição de um poder legislativo bicameral em alguns
Estados114. Foi o caso de São Paulo, onde a Constituinte estadual instaurou o
Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, dividido em Câmara dos
Deputados e Senado. Os trabalhos constituintes de 1891 foram realizados por 20
senadores e 40 deputados. Após sua promulgação, com a confirmação do
bicameralismo, mantiveram-se no Congresso Legislativo do Estado de São Paulo
40 deputados (com mandatos de 3 anos) e 20 senadores (com mandatos de 6
anos, renovando-se a metade trienalmente), números estes que estavam
vinculados aos habitantes do Estado. Assim, poderia haver um máximo de 50
deputados, na proporção de um para 40 mil habitantes, enquanto os senadores
deveriam ser metade dos deputados. Com a reforma constitucional de 1905, o
número de senadores aumentou para 24 e o seu mandato foi aumentado para 9
anos, com a renovação pelo terço trienalmente. Através da Lei nº 956, de 26 de
setembro de 1905, regulamentada pelo Decreto nº 1.411, de 10 de outubro de
112
- Lei nº 35, de 26 de janeiro de 1892.
113
- Decreto Federal nº 153, de 03/08/1893, que dividiu os Estados da União em distritos
eleitorais, de acordo com o art. 36 da Lei nº 35, de 26/01/1892. Os sete distritos tinham como
municípios-sede: 1º - São Paulo, 2º - São José dos Campos, 3º - Guaratinguetá, 4º - Sorocaba, 5º -
Campinas, 6º - Rio Claro e 7º - Ribeirão Preto. Nova divisão foi estabelecida pela Lei nº 1.269, de
15/11/1904, sendo regulamentada pelo Decreto Federal nº 1.425, de 27/11/1905, que dividiu o Estado
de São Paulo em quatro distritos, divisão esta que permaneceu até 1930 e que tinha os seguintes
municípios-sede: 1º - São Paulo, 2º - Campinas, 3º Ribeirão Preto e 4º Guaratinguetá. Lei Estadual nº
956, de 26 de setembro de 1905, regulamentada pelo Decreto Estadual nº 1.411, de 10 de outubro de
1906. Os dez distritos tinham os seguintes municípios-sede: 1º - Capital, 2º - Taubaté, 3º -
Guaratinguetá, 4º - Itu, 5º - Botucatu, 6º - Campinas, 7º - Mogi-Mirim, 8º - Limeira, 9º - São Carlos e
10º - Ribeirão Preto.
79
1906, foi estabelecido o sistema distrital no Estado de São Paulo, que funcionaria
apenas para a eleição dos deputados estaduais, enquanto na eleição para
presidente e vice-presidente e senadores o Estado continuava a ser circunscrição
única. Em cada um dos 10 distritos em que foi divido o Estado seriam eleitos 5
deputados, aumentando-se, conseqüentemente, o número de deputados
estaduais de 40 para 50. A reforma constitucional paulista de 1921 alterou a
proporção entre número de habitantes e parlamentares, definindo um máximo de
60 deputados, sendo um para 70 mil habitantes, e 30 senadores, um para 140 mil
habitantes. A Lei Estadual nº 1.842, de 27 de dezembro de 1921 alterou o número
de deputados e senadores estaduais, adotando o máximo permitido pela
Constituição estadual. Esta lei, buscando acatar observações no sentido de que a
distribuição regional deveria andar a par do número de eleitores, também
introduziu alterações no que se refere aos distritos: o 1º distrito passaria a eleger
9 deputados, o 2º elegeria 8, o 5º distrito 7 e o 9º indicaria 6 deputados. Os
demais continuariam com os cinco anteriormente existentes, mantendo-se uma
circunscrição para senadores, governador e vice-governador115.
Já para as eleições a deputados federais os Estados brasileiros foram
divididos, em 1892, em distritos eleitorais de três deputados, isto é, de cada um
deles sairiam ao menos três parlamentares para a Câmara Federal. Em 1905, o
número de deputados eleitos por distrito aumentou para cinco, diminuindo-se, no
entanto, o número de distritos. Na constituição de tais distritos buscou-se fazer
com que cada um tivesse, dentro de um Estado, aproximadamente a mesma
população total. No caso dos Estados que tivessem uma representação igual ou
inferior a cinco, e posteriormente a sete deputados, estes seriam “unidistritais”116.
114
- Apenas sete estados adotaram o bicameralismo durante a República Velha: Alagoas,
Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e São Paulo.
115
- Para estes dados e outros referentes às atribuições e competências da Câmara, do Senado e
do Congresso estabelecidas na Constituição de 1891 e nas reformas subseqüentes ver as Tabelas 1 e 2.
116
- O Decreto Federal nº 153, de 03/08/1893 regulamentou o artigo nº 36 da Lei nº 35, de
26/01/1892, dividindo-se desta forma os distritos eleitorais por Estado: com um distrito: Amazonas,
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e
Sergipe; com dois distritos: Alagoas, Maranhão e Pará; com três distritos: Ceará e Distrito Federal;
com cinco distritos: Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro; com sete distritos: Bahia e São
Paulo; e com doze distritos: Minas Gerais. O Decreto Federal nº 1.425, de 27/11/1905 regulamentou
80
a artigo 58 da Lei nº 1.269, de 15/11/1904. Pelo decreto de 1905 os seguintes Estados ficaram com
um distrito: Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba,
Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Sergipe; com dois distritos: Ceará e o Distrito
Federal; com três distritos: Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro; com quatro Distritos:
Bahia e São Paulo; e com sete distritos: Minas Gerais.
81
117
- Os dados foram retirados de Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.
Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de Setembro de 1920, Vol.
IV – População (5 partes em 7 volumes), passim.
82
pessoas nestas condições, ou seja, 19, 61% da população total do País. Destes
poucos mais de seis milhões devemos retirar aqueles homens de nacionalidade
brasileira e maiores de 21 anos qualificados como mendigos (172.927), praças de
pré (que compreendiam 33.967 pertencentes ao Exército, 8.113 da Marinha,
25.760 da Polícia 1.295 dos Bombeiros, o que totalizava 69.135) e os religiosos
(que totalizavam 2.923), que totalizavam 244.985 habitantes. Restavam, portanto,
5.763.433 homens brasileiros com mais de 21 anos.
Resta aqui um último e relevante quesito de exclusão: o dos analfabetos.
Historicamente o Brasil sempre possuiu elevadas taxas de analfabetismo. Nas
quatro primeiras décadas do século XX elas eram aterradoras, como se pode ver
da tabela abaixo, que apresenta os dados globais da população com quinze ou
mais anos de idade:
Com a lei não escrita de exclusão das mulheres este era o critério que mais
contribuía para cercear o exercício da cidadania política pelo processo eleitoral. O
Censo de 1920 havia registrado 4.721.055 homens de nacionalidade brasileira,
com quinze ou mais anos, que não sabiam ler ou escrever. Os dados censitários
de 1920 tinham, fundamentalmente, três grupos nos quais se dividia o fator idade.
Na maioria dos seus dados eles se dividiam em 24 faixas de idade, indo do item
“Dias” até o “100 e mais anos”, passando pelas faixas de 15 a 20 e 21 a 24 – aqui
citadas por conta da questão da idade mínima para ser eleitor. Outro grupo era o
que abrangia as profissões, o qual possuía apenas duas faixas: com menos ou
mais de 21 anos de idade; muito provavelmente assim dividido para mascarar o
trabalho de menores. E, por fim, o grupo do grau de instrução, que possuía três
faixas: 0 a 6 anos, 7 a 14 anos e, finalmente, 15 ou mais anos. A fim de
83
buscarmos um número mais próximo possível do real para que possamos estimar
o número de brasileiros que possuíam o direito de ser eleitores. No entanto, se
supormos que as taxas de analfabetismo se distribuíssem homogeneamente em
todas as faixas de idade, poderíamos subtrair deste total um número equivalente
à porcentagem correspondente dos brasileiros com idade entre 15 e 20 anos na
somatória das faixas acima de 15 anos existente na tabela com 24 faixas. Embora
não seja possível assegurar sua correção, em razão de falta de conhecimentos na
área de demografia, acreditamos estar próximos do real número. Assim, se
população masculina de nacionalidade brasileira com idade superior a 15 anos
totalizava 7.939.298, os que tinham idade entre 15 e 20 anos (1.930.880)
correspondiam a 24,32% desse valor. Esta porcentagem, aplicada ao total de
homens brasileiros analfabetos com 15 ou mais anos, equivalia a 1.148.161
habitantes. Subtraindo-se este número daquele total, teremos 3.572.894 homens
de nacionalidade brasileira com mais de 21 anos que tinham o direito de ser
eleitores. Este número equivalia a 11,66 % da população brasileira de 1920. Esta
era, todavia, a população que potencialmente tinha este direito. A que
efetivamente o exercia era muito menor, pois o alistamento e o voto, como
colocava o artigo 70 da Constituição brasileira, não eram obrigatórios, como
veremos a seguir.
O voto durante a República Velha não era obrigatório. Portanto, o primeiro
passo para o cidadão poder exercer seu direito de votar era o seu alistamento.
Ele o deveria requerer em sua comarca perante uma comissão de alistamento,
composta do juiz de direito ou equivalente, como presidente, dos quatro maiores
contribuintes domiciliados no município, sendo dois do imposto predial e dois dos
impostos sobre a propriedade rural (nas capitais e onde não houvesse
contribuintes sobre a propriedade rural, estes eram substituídos pelos dois
maiores contribuintes do imposto de indústrias e profissões) – marcando
explicitamente a influência do poder econômico no processo eleitoral -, “e de três
cidadãos eleitos pelos membros efetivos do governo municipal e seus imediatos
84
118
- Art. 9º da Lei 1.269, de 15-11-1904. Este dispositivo deste diploma legal que ficou
conhecido como Lei Rosa e Silva (embora seu autor fosse o deputado Anísio de Abreu, foi graças ao
empenho daquele senador que a lei foi aprovada) foi criticado ao seu tempo por Borges de Medeiros,
pelo fato de excluir os pequenos proprietários e contribuintes (apud Walter Costa Porto. O voto no
Brasil: Da Colônia à Quinta República, p. 171.)
119
- Art. 18 da Lei 1.269, de 1904.
120
- Inciso “b” do § 2º do art. 5º da Lei 3.139, de 2-8-1916.
121
- “Um eleitor paulistano, por exemplo, em outubro de 1928 escrevia ao partido
[Democrático, dk] afirmando que havia se alistado nele em março daquele ano, e dera aos
responsáveis todos os documentos, além de ter assinado vários requerimentos. Fora ao Fórum em
junho, e depois de um mês informaram-lhe que faltava um recibo de aluguel; não tendo recebido o
título de eleitor até aquela data, dizia que desistira de tudo, pois ‘(...) comunico que vivo da minha
85
UF 1926 %26 1927 %27 1928 %28 1930 %30 1933 %33
AL 21.883 1,959 23.303 2,043 28.303 2,434 35.893 3,018 23.742 1,955
AM 9.326 2,276 9.451 2,263 11.268 2,647 19.350 4,460 4.380 0,991
BA 95.842 2,483 111.581 2,825 144.748 3,581 227.694 5,505 91.118 2,153
CE 54.823 3,606 58.397 3,756 66.154 4,166 124.835 7,677 30.478 1,833
DF 61.139 4,499 68.177 4,885 85.711 5,986 144.744 9,855 84.756 5,626
profissão, não tendo tempo para dispersar em andar de aqui para ali assinando, requerendo, etc., sem
ter, com tudo isso, interesse algum a meu favor’.” (Maria Lígia Coelho Prado. A democracia
ilustrada (O Partido Democrático de São Paulo, 1926-1934), p. 60.)
86
UF 1926 %26 1927 %27 1928 %28 1930 %30 1933 %33
ES 11.759 2,017 14.151 2,315 19.989 3,144 48.708 7,364 28.474 4,138
GO 14.269 2,228 16.264 2,454 17.171 2,498 34.893 3,356 16.114 2,184
MA 25.543 2,43 25.953 2,408 32.988 2,975 61.311 5,375 12.432 1,059
MG 280.705 4,066 297.889 4,208 319.709 4,405 645.251 8,673 311.374 4,08
MT 10.704 3,423 11.262 3,469 13.989 4,151 21.900 5,259 8.788 2,42
PA 51.671 4,07 54.273 4,106 57.679 4,192 91.838 6,411 29.990 1,944
PB 21.385 1,793 25.584 2,072 34.620 2,709 61.969 4,687 29.664 2,168
PE 66.371 2,536 68.943 2,554 84.666 3,042 117.171 4,082 69.318 2,342
PI 15.307 2,072 16.315 2,142 22.262 2,835 33.124 4,091 10.462 1,254
PR 32.730 3,76 34.486 3,816 42.711 4,552 100.496 10,314 34.120 3,373
RJ 73.866 4,005 81.432 4,294 84.941 4,368 167.999 8,412 69.522 3,39
RN 16.103 2,414 17.116 2,48 18.944 2,652 26.810 4,687 18.959 2,48
RS 186.122 6,93 196.143 7,074 214.976 7,504 367.782 12,426 231.194 7,561
SC 25.544 3,367 33.195 3,772 44.454 4,866 75.351 7,945 36.187 3,675
SE 17.292 3,209 17.965 3,377 18.839 3,489 28.725 5,242 23.460 4,218
SP 179.380 3,118 193.527 3,247 298.736 4,803 516.651 8,073 273.251 4,121
Ter AC 0 0 0 0 0 0 0 0 1.946 1,674
Total BR 1.271.764 3,467 1.375.407 3,621 1.662.858 4,264 2.952.495 6,519 1.439.729 3,469
FONTES: BRASIL. Instituto Nacional de Estatística. Anuário Estatístico do Brasil – II. Rio de Janeiro, Tip. do Depto. de Estatística e
Publicidade, 1936; BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Instituto de Expansão Comercial. O Brasil atual. Forças
econômicas – Progressos. Rio de Janeiro, Lit. Typ. Fluminense, 1930; BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Serviços Comerciais.
Brasil. Estatísticas e diagramas. Rio de Janeiro, s.c.p., 1933; Correio do Povo. Porto Alegre, 01-03-1930, p. 12; Diário do Congresso
Nacional. Rio de Janeiro, 21/05/1930, p. 544-546.
* Não estão incluídos os votos recebidos por outros candidatos, que, somados, variaram de 1.000 a 2.000 no total.
De posse de seu título, o eleitor estava apto a votar. Munido do título poderia
comparecer à sua seção eleitoral, que deveria estar limitada ao máximo de 250
eleitores, situada em um prédio público designado pela Câmara Municipal ou, na
falta de número suficiente destes, em edifícios particulares122. Tal exceção
permitia que a eleição, por exemplo, se realizasse na casa do chefe político local,
o que certamente era um constrangimento para eleitores oposicionistas. Os
trabalhos deveriam iniciar-se às 10 horas e encerrar-se, no máximo, às 19 horas e
seriam dirigidos por mesas eleitorais compostas pelo juiz de paz mais votado no
distrito, como presidente, e outros quatro membros (o segundo e o terceiro juízes
de paz e os dois primeiros suplentes). O local destinado ao processo eleitoral
deveria possuir uma divisão, que não impedisse a fiscalização, separando a mesa
do espaço onde deveriam ficar os eleitores, os quais eram chamados a votar na
122
- Ver § 3º do art. 21 do Decreto 1.411, de 10-10-1906.
88
entanto, “votar a descoberto”, devendo, neste caso, o eleitor trazer duas cédulas,
uma das quais depositava na urna e a outra guardava para si como prova. Seus
defensores acreditavam que o voto secreto dificultava a educação das massas e
justificavam sua posição afirmando se tratar de uma prova da evolução das
instituições:
123
- Themistocles Brandão Cavalcanti et alii. O voto distrital no Brasil, p. 261, n. 138.
90
“E não são só os vivos que votam: votam também os mortos... E é por isso
que alguém já disse que, geralmente em S. Paulo, no calendário paulista existem
tantos dias de finados quantos são os dias de eleições, com esta diferença, porém:
é que nos dias de finados nós levamos o preito da nossa homenagem aos que
desapareceram e, nos dias de eleições, o governo faz com que os mortos rendam
também a ele, governo, um preito de homenagem, dando-lhes os seus votos!”126
124
- João Sampaio. O voto secreto, in Partido Democrático. O voto secreto: Coletânea de
opiniões, discursos e documentos sobre o assunto, p. 60-62. Trata-se de conferência proferida pelo
autor em 11-6-1922.
125
- Maurício de Lacerda. Projeto do Senado federal instituindo o voto secreto: Discurso
pronunciado em 30 de outubro de 1920, na Câmara dos Deputados, in Partido Democrático. O voto
secreto: Coletânea de opiniões, discursos e documentos sobre o assunto, p. 233.
126
- São Paulo. Congresso. Câmara dos Deputados. Anais da sessão ordinária de 1929 (vol.
II), p. 2.611.
91
127
- A respeito do voto secreto, dentre a vasta literatura da época, destacam-se as obras de A.
de Sampaio Doria, O que o cidadão deve saber (Manual de instrução cívica), de Mario Pinto Serva,
O voto secreto ou a organização de partidos nacionais e a do Partido Democrático, O voto secreto:
Coletânea de opiniões, discursos e documentos sobre o assunto, que enfocam mais de perto a questão
do ponto de vista do Estado de São Paulo.
92
“A grande maioria do eleitorado está toda segura e ligada por intermédio dos
cabos eleitorais que são ao mesmo tempo os chefes das empresas onde o eleitor
128
- Liga Nacionalista de São Paulo. Representação da Liga Nacionalista ao Sr. Presidente da
República. São Paulo, dezembro de 1922, in Partido Democrático. O voto secreto: Coletânea de
opiniões, discursos e documentos sobre o assunto, p. 215-217.
93
129
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório da Comissão Executiva da
Coligação Operária, sobre o pleito de outubro de 1928 – Diretriz futura – Conclusão. Santos, 10 de
novembro de 1928, p. 2.
94
130
- Ver Decreto 1.4111, de 10-10-1906.
95
Encerrada a votação, a urna era aberta pela mesa, que procedia ali mesmo
à contagem dos votos. O resultado era afixado na porta da seção e inscrito em um
livro de atas, onde também se registravam as ocorrências havidas durante a
eleição, que era assinado pelos membros da mesa, fiscais e eleitores que o
desejassem fazer. Feito isso, as cédulas eram incineradas. O desaparecimento
dos votos transformava a ata final de apuração em um documento de grande
importância, em torno do qual travavam-se intensas disputas, envolvendo a
confecção de atas falsas. Tal processo era conhecido como “bico-de-pena”.
Narrado ao historiador Roberto Telarolli por um antigo chefe da política local, há
um episódio exemplar de tal procedimento ocorrido em Itajobi, por ocasião das
eleições presidenciais de 1º de março de 1930 e que vale a pena aqui citar:
131
- Rodolfo Telarolli. A organização municipal e o poder local no Estado de São Paulo, na
Primeira República, p. 560.
132
- No Anexo I transcrevemos um relatório de um delegado do Partido Democrático. Nele se
descrevem os acontecimentos ocorridos em um dia de eleição. Fraude e violência, em que pese o fato
de ser este um relato feito por um oposicionista ao situacionismo perrepista, são a tônica de tais fatos,
que ocorrem, ressalte-se, na Capital e não em uma longínqua seção do Interior do Estado. Também
julgamos relevante transcrever, no Anexo II, parte de um relatório da Comissão Executiva da
Coligação Operária de Santos, onde se retrata todo o processo eleitoral, desde o alistamento, sob o
ponto de vista dos comunistas.
97
A verdade eleitoral. A moralidade política não permitirá que a Verdade saia nua das urnas.
(K. Lixto. D. Quixote20/01/1918)
133
- Veja-se, nesse sentido, um impressionante relato do processo de degolas feito no âmbito
da Câmara Federal durante a República Velha na obra de Assis Cintra Os escândalos da 1ª
República, p. 146-192.
134
- Através de uma mudança no Regimento Interno da Câmara Federal, em que a presidência
das sessões preparatórias passou do mais idoso entre os presentes para um dos membros da Mesa que
encerrava seu mandato, garantiu-se que um representante do poder central comandaria o processo de
“degola” que atingiria eventuais opositores que tivessem sido eleitos no âmbito estadual, selando
assim o acordo entre governos central e estaduais.
135
- Themistocles Brandão Cavalcanti et alii. O voto distrital no Brasil, p.217.
99
Capital, e não tendo promovido a necessária transferência, julguei defeso o direito de voto,
não entendendo assim a mesa por se tratar eleições federais.
Com relação a este caso peço à Junta de Processos informar se realmente foi
qualificado em S. Manoel o contestado eleitor ou se o mesmo ainda vive.
O pleito foi constantemente tumultuado com a presença do snr. José Molinaro e seus
apaniguados, que traziam armas à mostra.
De momento a momento aparecia no recinto um italiano baixo e gordo, e perguntava
ao italiano José Barone, presidente da mesa: Você não precisa de mim?
Registro estes pequenos incidentes para mostrar o criminoso indiferentismo dos
brasileiros e a triste situação em que estamos, dominados pelo arrogante estrangeiro [o
trecho “e analfabeto” foi suprimido pelo autor]
Afinal, às 16 horas e meia, depois de muito insistir, consegui o encerramento da
votação, dando-se início à apuração que constatou o comparecimento de 328 eleitores,
sendo os mais votados os snrs. Alexandre Marcondes Filho com 200 e Júlio Prestes com
190 votos, cabendo 99 cédulas aos drs. Marrey Júnior e Gama Cerqueira, ou sejam, 495
votos com a multiplicação ao nosso candidato a deputado federal. Em seguida foi a ata
lavrada pelo secretário dr. Tolosa, escrivão do fórum cível. Concluídos os trabalhos estava
eu assinando-a quando notei a retirada estratégica dos snrs. Presidente e mesários, para
assim evitar a entrega do boletim por mim reclamado ao secretário.
Não tendo outro recurso, prendi a ata e lavrava meu protesto junto ao secretário,
quando surgiu de novo o snr. Molinaro, perquirindo o ocorrido, ao que lhe respondi,
reclamando o boletim assinado pela mesa, ao mesmo tempo que oferecia os do Partido
Democrático, por ele recusados.
Ordenou então o válido do situacionismo que se expedisse o resultado no boletim do
P.R.P. com 99 votos ao candidato oposicionista sem a multiplicação de direito, boletim que
desapareceu da mesa na grande confusão que em seguida se estabeleceu num dos
compartimentos contíguos.
Foi um pugilato rápido, provocado por partidários e capangas do P.R.P., do qual
resultou a morte do conhecido boxeur italiano Furriel, assassinado por um seu patrício,
ambos eleitores, companheiros e amigos do snr. Molinaro.
Aqui deixo em rápidos traços, o triste quadro das eleições deste ano da graça de 1927.
Sendo a primeira vez que votei, e tendo como fiscal, presenciado de perto a extensão do mal
que nos aflige, não devo entretanto calar a impressão de revolta que me produziu o
aviltamento da consciências, postas a soldo na mão dos novos escravocratas. Dou-me,
porém, por bem pago de todos os sacrifícios e canseiras, na certeza de estar lutando nesta
santa cruzada, pela regeneração dos nossos costumes e pela reivindicação dos nossos
direitos.
Espero em Deus a próxima realização dos meus sonhos: - Um Brasil belo, grande e
forte, governado exclusivamente com a inteligência e o coração dos seus filhos.
(a) Godofredo de Ulhôa Canto.”
ANEXO II
“Relatório da Comissão Executiva da Coligação Operária de Santos, sobre o pleito de
outubro de 1928
“[...]
AS DIFICULDADES DO ALISTAMENTO
Ficou agora provadíssimo, que só vencerá o partido que possuir máquina eleitoral
melhor. A grande maioria do eleitorado está toda segura e ligada por intermédio dos cabos
eleitorais que são ao mesmo tempo os chefes das empresas onde o eleitor trabalha. Não
existe eleitorado livre e independente. Os políticos, quer do P.R.P., quer do P. Democrático,
exercem sobre o eleitorado severa vigilância e controle, por intermédio dos chefes das
diversas seções, de cujas empresas são diretores e donos.
Os partidos, muito a propósito, já colocam no diretório ou na chapa de candidatos os
diretores e donos dessas empresas, para assim melhor influírem nos eleitores seus
empregados. Citemos um fato: Belmiro Ribeiro, despeitado com o Partido Municipal, aliou-
se ao P. D. em 1927, arrastando consigo os eleitores trabalhadores em café, cerca de 180,
que trabalham na sua empresa e da qual é diretor – Companhia Central de Armazéns Gerais.
Passando-se agora para o P. R. P., esses eleitores tiveram que votar no seu partido, tendo
sido despedido um operário que fez declaração em contrário.
103
À porta de cada seção eleitoral fica um indivíduo com a lista dos eleitores que votam
naquela seção, assinalando com uma marca a lápis os que votam neste ou naquele partido.
Dessa forma sabem os partidos em que candidato o leitor votou, e os eleitores sabem
perfeitamente que se votarem contra seus chefes virão a saber, e estará ele despedido no dia
seguinte, na certa. Podíamos citar dezenas de casos em que os nossos propagandistas ao
fazerem propaganda dos nossos candidatos recebiam de operários a seguinte resposta: ‘Sei o
que é a Coligação Operária, acompanho a sua propaganda, estou de coração com os seus
candidatos e programa, mas, se votar contra o partido (tal) meu chefe me põe na rua, e eu
tenho família e já estou muito endividado porque já se ganha pouco. Sei que cometo um
crime, mas que vou fazer?’. Outros mais fortes e decididos conseguiram assim mesmo votar
em nossos candidatos, usando para isso de hábeis atos de mágica.
Enfim, em Santos as cédulas eleitorais são distribuídas na boca da urna pelos
encarregados dos respectivos partidos que, com o auxílio dos fiscais, ou chefes políticos,
antes de terminar a hora da votação, já sabem quantos votos tem este ou aquele candidato,
manobrando, assim, o chamado rodízio, isto é, a distribuição das cédulas de acordo com os
interesses eleitorais do partido. As cédulas são fechadas e ao eleitor não é permitido saber
em quem vota.
Mas a máquina eleitoral não é só coercitiva. Ela é também corruptiva. O P.R.P., por
exemplo, tem um departamento de colocações, defesa jurídica etc., além das promessas de
emprego público, concessões de serviço do Estado e do município, e a compra descarada e
sem vergonha do voto, no dia das eleições. Nestas eleições então “o mercado de votos”
atingiu o mais alto grau de degenerescência burguesa. Houve eleitores a todo preço, desde
os que se venderam a 500$000, a 200$000, a 80$000, a 30$000, um terno de roupa de brim,
um par de botinas, um almoço com meia de vinho, um almoço sem vinho, um chope ou
mesmo uma simples promessa de emprego, ou ainda porque um parente seja empregado
público e para que este não venha sofrer represálias em seu emprego. Mas não foi só P.R.P.,
por sua caixa, que comprou votos. Os monopolizadores do jogo de azar nesta cidade, V.
Fernandes & Cia. (Empresa Miramar) e Fracaroli & Cia. (Hotel Parque Balneário)
despenderam centenas de contos para bajular o P.R.P., a fim de que este permita novamente
a liberdade do jogo em seus cassinos, ultimamente fechados por ordem do governo.
Ora, este meio de corrupção numa cidade como Santos, onde impera a falta de
trabalho, a desorganização operária, o terror policial, a inconsciência, tinha que por força ser
um meio mais eficaz de conquistar eleitores. Assim mesmo a Coligação Operária
desempenhou sua missão, alcançando um número de votos significativos, tendo ainda que
considerar que forçamos os políticos e partidos burgueses a reconhecer a força futura do
proletariado, obrigando-os a reconhecerem como capazes de constituírem-se em partido e
elegerem seus próprios candidatos, tal aparelhamento com que nos apresentamos. Obra
profundamente revolucionária que a burguesia nunca imaginou. Hoje todos os políticos e
partidos namoram o proletariado, porém, nós aqui estamos vigilantes.
Operária, tudo segue um serviço regular, metodizado e prático em livros diversos, que
facilitam a consulta rápida e segura, do mínimo detalhe do eleitor – nome, profissão, local de
trabalho, de moradia, pessoas conhecidas, número do título, seção onde vota, aderente ou
não da Coligação, cota que paga, seus antepassados, etc., etc. Não se alegue, pois, a falta de
organização o motivo do resultado eleitoral. Igualmente no dia do pleito não faltaram os
distribuidores de chapas, fiscais e chefes de setor (grupo de seções), fiscalizando os fiscais
com cinco autos, para buscar em casa os eleitores que até o meio dia não haviam
comparecido às seções para votar. Aparelho completo, portanto, como qualquer outro
partido, com 140 e tantos homens trabalhando, com cargos definidos, além de muitos outros
operários por iniciativa própria. Apenas deve-se dizer que eram estreantes e tímidos, e por
isso seu trabalho pouco rendoso. Igualmente a propaganda obedeceu a um método
estudado, regular, começando de menor para maior, num crescente contínuo de agitação.
Fizemos em toda a campanha 89.800 impressos de propaganda e alistamento assim
discriminados: - circulares diversas de instrução, 3.000; - avisos e convocações, 5.600; -
para organização interna e secretaria, 4800; - manifestos de propaganda dos grupos
eleitorais, 19.000; - manifestos da comissão executiva, 7.000; - avulsos de propaganda,
26.000; - cartazes, 3.600; - programas, 8.000; - cartas particulares, 1.000; - cadernetas, 400;
- artigos publicados na “Praça de Santos”, 360; - 17 números do “Solidário”, num total de
1.900 exemplares; - “A Classe Operária”, 8.500 exemplares; - gastamos durante o ano de
propaganda, Rs. 14:850$000.
O RESULTADO DO PLEITO
Podemos resumir nas seguintes cifras: alistados por nós, 300; - adesões, 200; - total,
500; - votaram, 270; - abstenções, 180; - traições, 50; - total, 500. Pelo exposto acima,
verifica-se que as traições foram de 10%, enquanto que as abstenções foram de 35%. Com
um alistamento já por si exíguo como o nosso, as abstenções foram a morte. Expliquemos
porém os motivos de tão vultuosa abstenção: prisão do companheiro Antônio Duarte no dia
do comício de Azevedo Lima em 18 de Outubro de 1926; prisão de cinco membros da
Coligação Operária no dia 5 de Junho de 1927; as deportações de Madureira, Bernardino,
Perdigão, Alvarez e Esteves em 2 de Fevereiro de 1927; a vigilância da polícia sobre os
nossos elementos mais ativos; ameaça da vinda de Ibrahim Nobre para Santos no dia das
eleições; os boatos de chegada de esquadrões de cavalaria, de terror policial, de brigas,
mortes, prisões, etc., que no final nada sucedeu. Pura encenação para desbaratar nossos
eleitores.
A COAÇÃO – Avisos das empresas não permitindo a falta ao serviço sob a ameaça
de serem despedidos no dia das eleições; os chefes de seções das empresas não permitindo
que os seus subalternos votassem em nossos candidatos; o receio de desagradar a um e a
outro; a descrença nos efeitos do voto e nos políticos (há eleitores que nos igualam aos
demais políticos); a incompreensão do mal que faziam em não comparecerem às urnas; o
comodismo de uns e a covardia de outros; e os “só voto se me derem xepa”.
A TRAIÇÃO – As traições, relativamente às eleições de 1925, foram menores, 10%
apenas. E, nos eleitores somente por nós alistados, ainda foram menores, não alcançando um
total de 15. Desafiamos que essa porcentagem tenha sido observada pelos outros partidos, o
que prova que a nossa propaganda atuou entrementes na consciência dos nossos eleitores
105
que resistiram assim tão honrosamente à corrupção e à coação dos partidos inimigos. Aos
desgraçados traidores que assim tão covardemente venderam a honra do proletariado de
Santos, saberemos um dia pagar com juros o seu ato indigno e miserável.
[...].
1
- Os dados divulgados do censo paulista de 1934 (São Paulo. Secretaria de Estado dos
Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio e Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e
Saúde Pública. Comissão Central de Recenseamento. Recenseamento demográfico escolar e
agrícola-zootécnico do Estado de São Paulo (20 de Setembro de 1934)) não discriminaram as
nacionalidades que compunham a população estrangeira que vivia no Estado, apenas o seu total.
107
2
- Os dados foram retirados de Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.
Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de Setembro de 1920, Vol.
IV – População (5 partes), passim; de José Francisco de Camargo. Crescimento da população no
Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos (Ensaio sobre as relações entre a Demografia e a
Economia), passim; e de São Paulo. Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e
Comércio e Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Comissão Central de
Recenseamento. Op. cit., passim.
108
a 21 anos, que não sabiam ler nem escrever. Logo, pode-se supor que havia
3.140 analfabetos com idade superior a 21 anos em Santos.
Portanto, o número estimado dos homens santistas com mais de 21 anos
que não tinham condição de ser eleitores era de 4.398, o que resultava na
condição de eleitor ser dada a apenas 8.628 santistas, o que significava 8,4% da
população total. O número dos eleitores que efetivamente se alistavam - sabendo-
se, de um lado, não ser o voto obrigatório e, de outro, que as fraudes perpetradas
no alistamento, quando, por exemplo, vivos votavam por mortos, serviam para
fazer crescer o pequeno número dos que efetivamente se alistavam - era muito
inferior. Tanto é assim que, para as eleições presidenciais de 1922, se
qualificaram em Santos, até 31 de dezembro de 1921, 2.585 eleitores3, ou seja,
algo perto de 2,5% da população total. Alguns anos depois, em 1925, o quadro
existente era assim apresentado pelos comunistas de Santos:
3
- Correio Paulistano. São Paulo, 28/03/1922 apud José Ênio Casalecchi. O Partido
Republicano Paulista (1889-1926), p. 265.
4
- Operariado de Santos. O Internacional. São Paulo, nº 99, 2ª Quinzena de Outubro de 1925,
p. 3
5
- Fernando Teixeira da Silva. Op. cit., p. 230-235.
109
de que maneira estava organizada a classe trabalhadora santista6. Por tais dados,
os 42.250 trabalhadores existentes na cidade dividir-se-iam em 25 categorias
profissionais, das quais apenas oito estavam organizadas, mesmo assim com um
baixo índice de filiação (6.040 trabalhadores sindicalizados, ou seja, 14,2%).
Entre estas oito categorias, os comunistas tinham uma influência relevante e
militantes entre os trabalhadores de hotéis e restaurantes e simpatizantes entre
os comerciários, condutores de veículos (carroceiros), trabalhadores em café
(carregadores ensacadores), padeiros, trabalhadores da construção civil e
trabalhadores de carga e descarga do porto. Apenas na entidade dos pescadores
não havia manifestação da presença de simpatizantes do PCB.
6
- João Freire de Oliveira. A situação sindical em Santos. Reorganização e organização. O
Solidário. Santos, nº 39, 25/02/1926, p. 1. Alguns meses antes, em agosto de 1925 (ver artigo do
próprio João Freire de Oliveira. Duas palavras. Commercio de Santos. Santos, 25/08/1925, p. 4), os
comunistas trabalhavam com um dado de 16.000 trabalhadores sindicalizados. No entanto, em
outubro de 1926, o Comitê de Zona de Santos, apresentou outros números em um relatório enviado à
Internacional Comunista. Nele informava que Santos possuía “36.390 trabalhadores, dos quais,
apenas, 3.530 organizados. Temos, pois, uma média de 93% da massa desorganizada” (Comitê de
Zona (Rayon) de Santos. Movimento sindical em Santos (Brasil). Santos, outubro de 1926, p. 4. Este
relatório acabou sendo publicado posteriormente no órgão do Secretariado Sul-Americano da
Internacional Comunista, a revista La Correspondencia Sudamericana, em seus números 16
(30/11/1926, p. 26-29) e 19 (15/01/1927, p. 31-32).
110
A situação política em Santos em 1925, por sua vez, não diferia muito do
panorama político existente em todo o País durante a República Velha, ou seja, a
hegemonia absoluta da corrente situacionista agrupada dentro dos partidos
republicanos e suas variantes municipais. No caso santista, esta hegemonia já
vinha sendo exercida desde 1910 pelo Partido Republicano Municipal (PRM) -
filiado ao Partido Republicano Paulista7 -, que tinha a esmagadora maioria dos
vereadores da Câmara Municipal da cidade, dado o absoluto controle sobre a
máquina administrativa municipal. Esta preponderância já era objeto de críticas de
diversos setores locais, que invocavam uma série de contratações duvidosas,
aumentos de tarifas públicas (contas de telefonia, transporte de bondes) e a
multiplicação por dezesseis vezes da dívida do município nos últimos onze anos8.
Em 1925, embora houvesse três novos nomes na chapa e a incorporação de um
vereador eleito anteriormente como avulso, o PRM apresentou sua lista de
candidatos para as doze vagas com o perfil de reeleição, portanto, de
continuidade da política vigente, a fim de “manter, sem solução de continuidade, a
orientação administrativa do Município, com cujos máximos problemas,
sobrelevando dentre eles o financeiro, estão já familiarizados os atuais
representantes, o que lhes assegura mais fácil, pronta e adequada solução”9. Em
7
- João Freire de Oliveira. A cidade de Santos. A política – Os partidos da burguesia e o
partido do proletariado. A Nação. Rio de Janeiro, 28/06/1927, p. 2.
8
- O pleito de hoje. Commercio de Santos. Santos, 29/11/1925, p. 1. Com referência à dívida
da cidade, alguns anos depois, eis o quadro traçado por Moacyr Marques: “A Municipalidade de
Santos arrecada anualmente 17.000 contos. Dessa importância, 12.000 contos são empregados no
serviço de sua dívida. O resto é utilizado no município. Isto sem falar nas mil coisas essenciais cujo
produto vai para a América do Norte ou para a Inglaterra: a água, luz, o carvão,o gás, o bonde, a
estrada de ferro, etc. Entretanto, há de existir em Santos muito brasileiro que julgue estar trabalhando
para si próprio e para este querido Brasil...”(Moacyr Marques. A revolução brasileira, p. 18.)
9
- Partido Republicano Municipal. Ao eleitorado. A Tribuna. Santos, 27/11/1925, p. 2.
111
10
- Américo Martins dos Santos et alii. Ao eleitorado. Commercio de Santos. Santos,
25/11/1925, p. 1.
11
- Antônio Ezequiel Feliciano da Silva. Ao povo. A Tribuna. Santos, 17/11/1925, p. 6.
12
- Fernando Teixeira da Silva. Op. Cit., p. 325-328.
112
O PCB EM SANTOS
13
- Em um texto de Rodolfo Coutinho existente nos arquivos da IC, provavelmente de
setembro de 1923, assinala-se que os únicos lugares onde os anarquistas ainda detinham influência
era Rio de Janeiro, São Paulo e Santos (cf. Rodolfo Coutinho. Quelques notes sur la situation du Parti
communiste brésilien. S.l., s.d., p. 2 (RGASPI).)
113
14
- Abílio de Nequete e Astrojildo Pereira. Relatório dos trabalhos de preparação e realização
do Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, 29-03-1922. p. 2-3
(RGASPI).
15
- Astrojildo Pereira. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do
Brasil e sobre a situação do P. C. Brasileiro ao Comitê Executivo da I. C. Rio de Janeiro, 01-10-1923,
114
“Há quase três anos que existe o P.C. Há quase três anos que ele é ilegal,
apesar de seus estatutos legalizados. Nunca até hoje pôde anunciar nos jornais
uma só reunião. Esta situação ilegalizada ainda se torna pior com a censura na
imprensa, com a censura aos correios e com os estados de sítio em que temos
vivido: o primeiro, de julho de 1922 até dezembro de 1923, e o segundo, de julho
de 1924, até não sabemos quando...
Muito nos pesa não podermos transformar o nosso em um partido de massa.
Mas que fazer? À primeira tentativa de pormos a cabeça de fora, logo surge a
reação e destrói em dias o que levamos meses a fazer.
O P.C. é o espectro que tira o sono dos agentes da burguesia. E ela quer
destruí-lo antes que ele tome pé.
18
- João Freire de Oliveira. A Cidade de Santos. Sua tradição revolucionária – Ligeiro
histórico do proletariado – Suas derrotas e suas vitórias – A resistência de sua vanguarda. A Nação.
Rio de Janeiro, 15/05/1927, p. 2.
19
- Carta de Octavio Brandão a Stirner. Rio de Janeiro, 30-09-1924, p. 2.
116
20
- Secretariado Internacional do Partido Comunista do Brasil. A reação no Brasil. Apelo aos
trabalhadores de todos os países. Rio de Janeiro, 08-10-1924, p. 1-2 (RGASPI). Extratos deste
manifesto foram publicados no número 77, de 1924, de La Correspondance Internationale.
21
- Presidium do CEIC. Résolution du Présidium de l’Exécutif de l’I.C. sur les Cellules
d’Entreprises (adoptée em janvier 1924) In IC. Les questions d’organisation au V Congrès de l’I.C.,
p.71.
22
- Astrojildo Pereira e Rodolfo Coutinho. Au Comitê Executif de l´I.C. Note sur l’elaboration
du programme d’ action du P.C. brésilien, par les delegués du parti brésilien à Moscou. Moscou, s.d.,
p. 2-3 (RGASPI).
117
23
- A própria IC, como resultado do processo de controle do Partido Comunista da União
Soviética e da IC por parte da facção de J. Stalin, sofreu mudanças que marcaram uma nova fase em
sua vida, como assinala Pierre Broué: “A partir de 1924, o Comintern está, pois, dotado de um
aparelho único de militantes profissionais, centralizado e disciplinado, fundado no modelo do partido
soviético, dirigido de Moscou e em conformidade com a política externa soviética. Esta coorte de
ferro tem como primeira missão assegurar a defesa do ‘país do socialismo’. A teoria da ‘construção
do socialismo em um só país’ e o novo regime interno dos partido sufocando toda democracia são
duas mamas do stalinismo.” (Cf. Pierre Broué. Op. cit., p. 384-385.)
24
- Teses e resoluções adotadas na Conferência dos delegados de células e de núcleos do Rio e
Niterói, realizada em conjunto com C.C.E. em 22-2-25.Rio de Janeiro, s.d., p. 3 (RGASPI).
25
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1)., p. 304.
118
1925, dos ferroviários da São Paulo Railway. Novamente o barbeiro Júlio Cezar
Leitão foi preso26.
Ao II Congresso do PCB, realizado no Rio de Janeiro, de 15 a 18 de maio de
1925, o Centro de Santos enviou dois delegados, que apresentaram o relatório de
atividades locais, as quais foram duramente avaliadas pelo conclave:
26
- Carta de Luiz Gonzaga Madureira a Caros c. Santos, 05-04-1925 (RGASPI).
27
- Partido Comunista do Brasil. II Congresso do P.C.B. (Seção Brasileira da Internacional
Comunista). Teses e resoluções, p. 3.
119
“Em face da pequena burguesia, o P.C.B. deve, sem alimentar suas ilusões
democráticas e suas confusões ideológicas, antes combatendo-as decididamente,
esforçar-se por conquistar ou pelo menos neutralizar seus elementos em vias de
proletarização e em luta contra a grande burguesia industrial ou agrária. Numa
palavra: o P.C.B., partido da classe operária, deve conduzir a pequena burguesia e
não ser conduzido por ela.”29
28
- Rapport sur la situation au Brésil au VI Congrès de l’I.C. Moscou, 1928, p. 64 (RGASPI).
29
- Idem. Ibidem, p. 7.
120
30
- O Encarregado do Serviço de Organização. Recrutamento e organização. Balanço do que
se fez durante o ano de 1925, o que é preciso fazer daqui por diante. Programa para 1926. S.l., s.d., p.
1 (RGASPI).
31
- Comitê de Zona (Rayon) de Santos. Movimento sindical em Santos (Brasil). Santos,
outubro de 1926, p. 5 (RGASPI). Octavio Brandão. El Partido Comunista del Brasil. La
Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 1, 15/04/1926, p. 21-22.
32
- A. R. (Delegado ao 3º Congresso do PCB). Relatório da Zona de Santos. S.l., s.d., p. 1
(RGASPI). A irradiação referida provavelmente foi a que ocorreu no dia 9 de Julho de 1928, que
atingiu 12 militantes (Agripino Nunes, Henry Green, Antônio Luiz Ramos, Domingos Palla, Amador
José Thadeu, Albino Duarte, João Sanches, Antônio Ferreira Lima, Dante Fantauzzi, José Barta Cea
e Manoel Alonso Delgado, mais Silvério Martins Fontes, este por falecimento), “por não estarem de
acordo com o regulamento do P.C., faltando o cumprimento do dever e não estando em contato com
os demais membros” (cf. uma carta sem assinatura, local e data, existente no Fundo de Astrojildo
Pereira (ASMOB, A 2, 16 (4)-5).
33
- João Freire de Oliveira. A Cidade de Santos. Sua tradição revolucionária – Ligeiro
histórico do proletariado – Suas derrotas e suas vitórias – A resistência de sua vanguarda. A Nação.
Rio de Janeiro, 15/05/1927, p. 2. Este quadro desolador também se deve em boa parte ao fracassado
121
“Pois então, se nos falta a liberdade para reclamar por meio do protesto
coletivo, por que não devemos aproveitar os restos da democracia burguesa?
Muito embora na última hora anulem esse esforço por meio da fraude, restar-nos-á
a certeza de que nada valem os direitos que a democracia burguesa faculta aos
cidadãos e então procuraremos novas formas de luta para alcançarmos nossos
legítimos direitos.”36
movimento grevista por aumento de salários dos trabalhadores em café (carregadores e ensacadores)
ocorrido em maio de 1925 e que durou 18 dias. Nesta greve a direção da Sociedade dos Trabalhadores
em Café, ligada ao “sindicalismo amarelo” e contrária ao movimento, chegou a entregar as chaves da
entidade ao delegado de polícia e os patrões contrataram um enorme contingente de trabalhadores
para furar a parede. Para maiores detalhes ver Fernando Teixeira da Silva. Op. cit., p. 342-344.
34
- João Freire de Oliveira. Coligação Operária. Sua fundação. Motivos do fracasso. Como
triunfaremos. Venceremos um dia. O Solidário. Santos, nº 37, 20/01/1926, p. 2.
35
- Um operário santista. O proletariado santista e a Coligação Operária. Commercio de
Santos. Santos, 22/08/1925, p. 4.
122
conquista do poder político, mas até o instante em que isso ocorresse tinha de se
valer dos mais variados recursos “para poderem penetrar na engrenagem social,
a fim de ir influenciando a evolução do aparelho político e econômico do país”37.
Ou seja, os militantes do PCB de Santos afirmavam que o caminho da conquista
da hegemonia na sociedade passava pela via da disputa eleitoral, mas não se
daria por ela. Este discurso, que tinha como base a organização e a coesão dos
trabalhadores, e ainda fundado na política de frente única, evidentemente, era
feito de modo cuidadoso no sentido de pôr-se de lado o debate sobre a questão
da via insurrecional, fórmula básica do receituário bolchevique.
Para isso, logo após o II Congresso do PCB, os comunistas de Santos, por
meio de reuniões de entidades de classe da cidade, participaram da criação do
Partido Trabalhista de Santos, em 29 de junho de 1925, com vistas à disputa
eleitoral para renovação da Câmara Municipal, a realizar-se em novembro
daquele ano. O novo partido não era composto apenas por aderentes individuais,
mas a ele também se filiaram organizações de caráter sindical. Assim foi narrada
a sua reunião de fundação:
36
- Ziul. A questão eleitoral e o operariado do Brasil. O Internacional. São Paulo, nº 96, 1ª
quinzena de setembro de 1925, p. 3.
37
- Junqueira. Política proletária. Commercio de Santos. Santos, 09/09/1925, p. 5 (este mesmo
texto foi republicado, sem assinatura, em O Internacional, em seu número 97, da 2ª quinzena de
setembro de 1925. à página. 3); Um Leitor Proletário. A Coligação Operária. Commercio de Santos.
Santos, 13/09/1925, p. 4.
123
intelectuais no seio do Partido, sendo por fim aprovado que todos aqueles que,
animados de boa vontade e de atestados vivos de abnegação pela causa
proletária, desejarem apoiar com firmeza e convicção o programa do Partido
Trabalhista serão aceitos em suas fileiras. Em virtude desta deliberação é dada a
palavra ao prof. Carlos Escobar, que declara ser portador da adesão ao partido em
formação do sr. Júlio Conceição. Demora-se ainda com a palavra o prof. Carlos
Escobar, com o fim de expor as suas idéias e as do sr. Júlio Conceição com
referência ao programa do partido, citando fatos históricos e práticos, e apontando
bases para organização e solidificação da idéia da organização das massas
trabalhistas num partido político legalmente arregimentado, que represente ‘de fato’
as idéias e os interesses dos proletários locais.
As conclusões a que chegou o orador agradaram profundamente, não
obstante os apartes dados por diversos delegados de sindicatos.
Ficou encarregada a Comissão Executiva da elaboração da plataforma do
partido, trabalho que deve ser discutido na próxima reunião geral das Comissões
Executivas de Fomento Eleitoral, título esse que serve para designar os
representantes das associações operárias aderentes ao Partido Trabalhista de
Santos.
Depois de discutidas outras normas de ação partidária, assim como a que diz
respeito à qualificação de novos eleitores, e organização do Partido, foi encerrada
a sessão num ambiente da mais perfeita harmonia e unidade de vistas.”38
38
- Secretaria do Partido Trabalhista de Santos. Partido Trabalhista de Santos. A sua fundação
oficial. Comércio de Santos. Santos, 02/07/1925, p. 2. Ressalte-se que Carlos Escobar foi um dos
fundadores, em dezembro de 1889, juntamente com Silvério Martins Fontes e Sóter de Araújo, do
Círculo Socialista de Santos, uma das primeiras organizações políticas de inspiração marxista no
Brasil.
124
39
- Relatório lido pelo camarada J. Barboza em reunião da C.C.E. realizada em 20/08/1925.
Rio de Janeiro, 20/08/1928, p. 1 (ASMOB).
40
- Ver as matérias pagas publicadas pela Liga dos Empregados no Comércio de Santos em
Commercio de Santos. Santos, 16/10/1925 e A Tribuna. Santos, 17/10/1925 e 28/11/1925; João Freire
de Oliveira. Liga dos Empregados no Comércio de Santos. Commercio de Santos. Santos,
03/10/1925, p. 4.
125
41
- Vida Operária. Commercio de Santos. Santos, 30/08/1925, p. 2.
42
- Comunicação de Serviço de Orestes Lascala ao delegado Andrelino de Assis. São Paulo,
17/11/1925 (AE-D).
43
- Um operário santista. O proletariado santista e a Coligação Operária. Commercio de
Santos. Santos, 22/08/1925, p. 4.
126
O PROGRAMA
44
- Ziul. A Coligação Operária e o seu programa. Commercio de Santos. Santos, 25/08/1925,
p. 4.
45
- Publicado em O Internacional. São Paulo, nº 99, 2ª quinzena de outubro de 1925, p. 3 e,
parcialmente, em Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 68, 04/11/1925, p. 2. A íntegra do programa
está no Anexo III.
127
46
- Com respeito à extensão do programa, Friedrich Engels afirmava: “Em minha opinião, o
programa deve ser tão curto e preciso quanto possível. Pouco importa que se encontre, por acaso, uma
palavra ou uma frase cujo alcance seja impossível apreender à primeira vista. Nesse caso, a leitura
pública nas reuniões e a explicação escrita na imprensa farão o necessário; e, então, a frase curta e
incisiva, uma vez compreendida, fixa-se na memória e torna-se uma palavra de ordem, o que não
acontece com uma explicação mais longa. É preciso não fazer demasiadas concessões à preocupação
da popularidade: não se devem subestimar as faculdades intelectuais e o grau de cultura de nossos
operários.” (Friedrich Engels et alii. Crítica do Programa de Erfurt, p. 41-42.)
128
47
- Fernando Teixeira da Silva. Op. cit., passim.
129
48
- Apesar disso, os comunistas de Santos publicavam em seus jornais artigos nos quais se
expunham mudanças de costumes na URSS, como “O ciúme é considerado uma paixão burguesa” (O
Solidário. Santos, nº 36, 11/04/1925, p. 2.). Com o anarquismo, de sua parte, pode-se ver o
tratamento dado a tais questões através das páginas, por exemplo, de A Voz do Trabalhador, órgão da
Confederação Operária Brasileira, de 1908 a 1915.
49
- Embora seja importante destacar que o PCB, por ocasião da comemoração do 1º de Maio,
divulgou um programa de reivindicações, entre as quais, no campo político, estava o voto secreto e
obrigatório (cf. Seção de Agitação e Propaganda do Partido Comunista do Brasil. Teses para o 1º de
Maio. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 56, 15/04/1925, p. 2.)
130
Era uma plataforma dirigida para amplos setores populares, que, embora
tivesse seu foco em Santos, sintetizava um grande número de reivindicações
históricas do movimento operário brasileiro. Se compulsarmos, por exemplo, a
coleção de A Voz do Trabalhador, órgão oficial da anarcossindicalista
Confederação Operária Brasileira, que circulou de 1908 a 1915, é imediata a
constatação de que, em seu conjunto, as reivindicações apresentadas em 1925
pela Coligação Operária não são novas. O que é novo aqui é o fato de que estas
reivindicações de longa data, o que significa ainda não terem sido conquistadas,
são colocadas na arena política, e não mais apenas na sindical, demonstrando
um novo campo de ação a ser utilizado pelos trabalhadores brasileiros, em um
combate que parte do econômico e o transcende indo até a busca de direitos
sociais e políticos. Estes, no entanto, estavam limitados àqueles que podiam ser
apenas vislumbrados pelo prisma do mundo do trabalho, não alcançando, porém,
neste momento, questões como, por exemplo, o voto feminino ou do analfabeto.
O que se pretendia com tal plataforma era, a partir dela, dar coesão e buscar
conquistar a hegemonia dentro do movimento operário santista, pois, do frio ponto
de vista do jogo eleitoral, tal conjunto de propostas era quase que inócuo, pois
parte significativa dos cidadãos que poderia ser beneficiada com a efetivação de
tais iniciativas não tinha direito de cidadania: simplesmente não podia votar, como
se pôde ver pelos números da classe operária santista. É fácil deduzir, também,
que, naquele momento, tal panorama poderia ser estendido para todo o País.
Destaque-se, também, que algumas dessas reivindicações já tinham uma tal
amplitude social, que nem mesmo a um presidente da República, em sua
plataforma eleitoral, era possível deixar de evocá-las. É o caso de Arthur
Bernardes, em manifesto lido no banquete oferecido aos candidatos escolhidos
pela Convenção Nacional, reunida em 8 de junho de 1921:
50
- Homero Barbosa Filho. Porque combatemos o Partido Democrático. Praça de Santos.
Santos, 08/05/1928, p. 4.
131
É claro que, neste e em muitos outros casos, a sua efetiva aplicação já era
outra questão, porque, em boa parte, tais intentos nunca deixavam o papel onde
eram impressas.
Uma outra questão referente ao programa dos comunistas de Santos foi a da
interferência da CCE do PCB em sua elaboração. Embora não nos tenham
chegado traços de alguma discussão travada entre a direção e o Centro de
Santos a respeito da questão do programa da Coligação Operária, é fácil
evidenciar que isso ocorreu.
O deputado federal pelo Distrito Federal, João Batista de Azevedo Lima, leu
no plenário da Câmara dos Deputados um manifesto, datado de 21 de setembro
de 1925, e assinado pela redação do órgão oficial do PCB, A Classe Operária -
ou seja, era um documento da CCE -, no qual se justificava a ausência do partido
nas eleições municipais do Rio de Janeiro, previstas para fevereiro de 192652. De
tal texto, para demarcar o campo do PCB com relação a uma “candidatura
operária”, fazia parte a plataforma que seria apresentada pelo Bloco Operário em
tais eleições. É um texto curto, de apenas nove pontos, cujos primeiros tópicos
eram uma espécie de enunciação genérica de princípios, que enfocavam a
51
- Plataforma. Minas Gerais. Belo Horizonte, 20-10-1921, p. 1-6 apud Norma de Góes
Monteiro (org.). Idéias políticas de Arthur Bernardes (vol. 1), p. 210.
52
- Veja a íntegra do texto mais adiante, no Anexo IV.
132
OS RESULTADOS
dos pleitos53. Era um prazo muito curto, sobretudo para um agrupamento que não
possuía experiência no assunto e, claro, não tinha a máquina pública a seu favor.
A partir das Comissões de Fomento Eleitoral, criadas, já na época do Partido
Trabalhista, dentro dos sindicatos que apoiavam a Coligação Operária, deu-se o
processo de alistamento. Estas receberam as seguintes orientações:
Ao mesmo tempo - por meio dos sindicatos e seus órgãos que a apoiavam e
do espaço de divulgação que obtivera na coluna “Vida Operária” do diário
Commercio de Santos55 - a Coligação Operária forjara alguns meios de
comunicação para propagar suas idéias. O próprio PCB contribuíra com a
publicação de uma folha volante com o programa da Coligação Operária, embora
com modestíssima tiragem de 1.000 exemplares56. Os textos publicados pela
Coligação Operária e seus simpatizantes, tendo como objetivo a arregimentação
eleitoral, procuravam enfatizar que a Coligação Operária era a única organização
53
- As eleições municipais de São Paulo foram regulamentadas pelo decreto estadual nº 3.939,
de 04/11/1925, e o alistamento estava definido pelo decreto federal nº 4.226, de 30/12/1920.
Posteriormente, por uma decisão judicial, o prazo foi prorrogado para 14 de outubro (As próximas
eleições municipais. Poderão votar os eleitores que se alistaram até 14 de outubro. Commercio de
Santos. Santos, 12/11/1925, p. 2).
54
- Vida Operária. Coligação Operária – Às comissões de fomento eleitoral. Commercio de
Santos. Santos, 02/09/1925, p. 4.
55
- “Em 1920 surgia o ‘Commercio de Santos’, resultado da iniciativa de uma comandita em
que apareciam: Nilo Costa, Dr. De Jorge, Lincoln Feliciano, Virgílio dos Santos Magano, e
Christovam Prates da Fonseca. O Dr. Nilo Costa era então advogado da Municipalidade e não podia
figurar na direção do jornal, ocupando-a, pois, Simões Coelho em seus primeiros tempos. Pouco mais
tarde assumia a direção do jornal o Dr. Nilo Costa, figurando como secretário o poeta Paulo
Gonçalves. Em 1922, aparecia como redator-secretário o Dr. Bruno Barbosa, e em seguida,
sucessivamente, Ayres dos Reis, Álvaro Augusto Lopes e José do Patrocínio Filho, até 1926, quando
assumiu a direção do jornal o escritor e poeta Affonso Schmidt.” (Francisco Martins dos Santos.
História de Santos, 1532-1936. Vol. II, p. 96). O Commercio de Santos desapareceu em 1932.
134
56
- O Encarregado do Serviço de Agitprop do P.C.B. O Serviço de Agitprop do P.C.B. em
1925. Rio de Janeiro, 22/01/1926, p. 3.
57
- Um Leitor Proletário. A Coligação Operária. Commercio de Santos. Santos, 13/09/1925,
p.4.
58
- Affonso Schmidt. Um santista a todos os santistas. Commercio de Santos. Santos,
20/11/1925, p. 2.
59
- Política e politicalha. Commercio de Santos. Santos, 25/11/1925, p. 1. Ironicamente, pouco
antes de tomar posse como deputado estadual pelo Partido Democrático, ao qual se filiara após a
criação deste em 1926, o vereador Antônio Feliciano apresentou um projeto de lei concedendo a
Browne o “título de cidadão santista pelos grandes serviços prestados à cidade”. Curiosamente, o
vereador Samuel Baccarat pôs em dúvida a constitucionalidade da iniciativa... (Em Santos. Na sessão
ordinária da Câmara Municipal de Santos, o vereador Antônio Feliciano justificou um projeto de lei
concedendo o título de cidadão santista ao dr. Bernardo Brown, gerente da City. O Combate. São
Paulo, 11/04/1928, p. 6).
135
60
- As eleições municipais de ontem. A Tribuna. Santos, 30/11/1925, p. 1; Ecos do pleito
municipal. A Tribuna. Santos, 01/12/1925, p. 1. Depois de julgados os recursos, quando da posse dos
vereadores, o número de votos da Coligação Operária caiu ainda mais, pois foram anulados os votos
de várias seções, ficando João Freire de Oliveira com apenas 21 votos, como oitavo suplente (cf. A
Câmara Municipal e os suplentes de vereadores. Praça de Santos. Santos, 28/10/1928, p. 16.)
136
61
- Astrogildo Pereira. O Partido da Mocidade e a Coligação Operária. Commercio de Santos.
Santos, 06/03/1926, p. 2.
62
- João Freire de Oliveira. A Coligação Operária ao proletariado do Brasil. Voz Cosmopolita.
Rio de Janeiro, nº 74, 06/02/1926, p. 6.
137
63
- Partido da Mocidade. Manifesto do Partido da Mocidade: À Nação. Folha da Manhã. São
Paulo, 20/11/1925, p. 8. Cf. também John W. Foster Dulles. Anarquistas e comunistas no Brasil
(1900-1935), p. 250 (nota 102). O programa dos “tenentes” foi assim sintetizado em Maria Cecília
Spina Forjaz (Tenentismo e aliança liberal (1927-1930), p. 27-28): a) voto secreto; b) combate à
corrupção administrativa e à fraude eleitoral; c) verdade de representação política; d) liberdade de
138
literatismo, filosofismo, Partido da Mocidade, etc., tudo é uma coisa só: histeria
pequeno-burguesa. Apenas os matizes é que variam.”64
“Ele supõe – se é que o supõe – poder agrupar em seu seio, sem contradição
nem antagonismo, a mocidade ‘burguesa’ e a mocidade ‘proletária’. Ilusão
perigosa. Toda colaboração de classe resulta sempre, efetivamente, em ‘sujeição’
da classe operária à classe burguesa. Pois os seus ‘interesses’ são antagônicos. A
ideologia? Mas a ideologia é, em seu mais íntimo substrato, ditada pelo interesse
de classe. Isto é elementar e só os inimigos – fracos ou disfarçados – do
proletariado procuram negá-lo. Mas sem êxito.”
64
- João Garroeira. Em S. Paulo: A histeria pequeno-burguesa. Voz Cosmopolita. Rio de
Janeiro, nº 70, 09/12/1925, p. 3.
65
- Astrojildo Pereira. O Partido da Mocidade e a Coligação Operária. Commercio de Santos.
Santos, 06/03/1926, p. 2. O mesmo artigo também foi publicado em O Solidário. Santos, nº 39,
24/02/1926.
66
- José Ênio Casalecchi. Op. cit., p. 173 (nota 95). Eis os principais pontos do programa do
Partido Democrático: “1º) Defender os princípios liberais consagrados na Constituição [...] ; 2º)
Pugnar pela reforma da lei eleitoral, no sentido de garantir a verdade de voto, reclamando, para isso,
o voto secreto e medidas asseguradoras do alistamento, do escrutínio, da apuração e do
reconhecimento; 3º) Vindicar para a lavoura, para o comércio e para a indústria a influência a que
têm direito, por sua importância, na direção dos negócios públicos; 4º) Suscitar e defender todas as
medidas que interessam à questão social; 5º) Pugnar pela independência econômica da magistratura
nacional [...]; 6º) Pugnar pela independência econômica do magistério público [...].” Partido
140
Democrático. Manifesto à Nação. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 22/03/1926 apud Nazareth Prado.
Antônio Prado no Império e na República, p. 391-392.
67
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Razões principais porque combatemos o
Partido da Mocidade. O Solidário. Santos, nº 42, 05/04/1926, p. 2. O mesmo texto, sob o título “A
Coligação Operária e o Partido da Mocidade”, foi também publicado em Commercio de Santos em
sua edição de 13/04/1926, à página 2.
68
- A reorganização da Coligação Operária. O Solidário. Santos, nº 37, 20/02/1926, p. 2.
141
69
- Fernando Teixeira da Silva. Op. cit., p. 387.
70
- A. R. (Delegado ao 3º Congresso do PCB). Relatório da Zona de Santos. S.l., s.d., p. 1
(RGASPI).
142
71
- Vida Operária. A Coligação Operária é o verdadeiro Partido dos pequenos funcionários e
operários municipais, estaduais ou federais. Praça de Santos. Santos, 27-01-1928, p.3.
Resultado da eleição realizada em Santos em 29 de novembro de 1925
PROGRAMA
Atuação política
A DEFESA DO TRABALHO
CARESTIA DA VIDA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A esta leitura sobre o País, o II Congresso do PCB agregou o que ali foi
chamado de “fator imperialista”: a vinculação das lutas políticas nacionais, “não
raro determinantemente”, às disputas econômicas entre os imperialismos inglês e
norte-americano. Cada um dos imperialismos, resultando em uma visão
mecanicista que perdurou durante muitos anos, acabava sendo vinculado a uma
das frações da burguesia nacional: “agraristas” e “industrialistas”,
respectivamente. Nesse contexto, a rebelião “tenentista” de 1924, definida “como
um movimento essencialmente pequeno burguês”, era assim vista:
1
- Astrojildo Pereira. Relatório geral sobre as condições econômicas, políticas e sociais do
Brasil e sobre a situação do P. C. Brasileiro ao Comitê Executivo da I. C. Rio de Janeiro, 01-10-1923,
p. 3 (RGASPI).
2
- Partido Comunista do Brasil. II Congresso do P.C.B. (Seção Brasileira da Internacional
Comunista). Teses e resoluções, p. 5.
151
o seu programa, pois este deveria não apenas conter “uma indicação geral das
tarefas do partido, mas também precisar as palavras de ordem políticas pelas
quais luta o partido, os objetivos que almeja e pelos quais chama as massas a
lutar com ele”. Assim, ante as perspectivas de exacerbação da conjuntura política,
tal carência provocava o temor de que o partido não fosse capaz de ter um papel
considerável neste quadro bem como não permitiria que o partido aparecesse
com sua própria fisionomia diante das massas e aos seus adversários. Com isso,
o italiano apresentou as seguintes “diretivas e sugestões”:
Até uma definição, que ocorrerá mais tarde, em fins de 1927, no contato com
os remanescentes da Coluna Prestes, as relações dos comunistas com a
pequena burguesia foram confusas. Ora eram de choque, em parte significativa,
aliás, das situações, como em relação aos socialistas do PSB, ora de
aproximação, como nas relações com alguns parlamentares, como o deputado
Azevedo Lima, ou na adoção de palavras de ordem oriundas daquele setor. As
relações com a pequena burguesia acabaram sendo mais conflituosas, talvez em
razão da assimilação ao campo político da orientação, preconizada pelo II
Congresso, para o campo sindical em relação ao sindicalismo “amarelo ou
reformista”:
3
- Ercoli a Au C.C. du P. C. du Brésil. Moscou, 02/07/1926, p. 4-5 (RGASPI).
153
4
- Partido Comunista do Brasil. II Congresso do P.C.B. (Seção Brasileira da Internacional
Comunista). Teses e resoluções, p. 18.
5
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 304. A citação foi extraída
de: O 1º de Maio. As comemorações de ontem aqui e no estrangeiro. O Paiz. Rio de Janeiro,
02/05/1925, p. 4. O jornal publicou doze números até 18 de julho de 1925. No dia 23 foi fechado por
ordem de Pena Júnior. O fechamento foi atribuído como resultado imediato de sua campanha de
denúncias contra o representante do Bureau Internacional do Trabalho, o socialista francês Albert
Thomas, então em visita ao País. “Mas os motivos da suspensão do nosso jornal”, afirmava um
documento comunista, “são mais profundos. A burguesia teme o despertar dos escravos. Ora, A
CLASSE OPERÁRIA batia-se exatamente por essa obra grandiosa: organizar os trabalhadores,
prepará-los para a libertação integral. Incorruptível, todas as tentativas para comprar a consciência do
jornal falhariam. A censura e a lei de imprensa eram impotentes contra um jornal que desenvolvia
uma documentação riquíssima e uma argumentação cerrada. Não havia por onde pegá-lo. Não existia,
portanto, outro recurso a não ser a suspensão” (A redação e a administração da A Classe Operária.
Carta aos amigos, assinantes e leitores da “A Classe Operária”. Rio de Janeiro, outubro de 1925, p.
1.).
154
6
- Manifesto do Partido Socialista Brasileiro (1925) in Evaristo de Moraes Filho (org.). O
socialismo brasileiro, p. 258-259.
7
- Pouco antes das eleições de 1º de março de 1926, Moraes seria “escorraçado” do PSB, com
o “aplauso” de Nazareth (cf. A C.C.E. do P.C.B. 0 + 0 + 0. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 76,
01/03/1926, p. 3). Ver também o artigo A obra do Partido Socialista do Brasil julgada por um antigo
militante operário. A Manhã. Rio de Janeiro, 25/12/1926, p. 4.
8
- O Dia. Rio de Janeiro, 01/05/1925 apud Edgard Carone. Classes sociais e movimento
operário, p. 138.
156
9
- Júlio Bartaline. Intermédio. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 9, 27/06/1925, p. 2;
Mário Pedrosa. P.S.B.. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 12, 18/07/1925, p. 3.
10
- A C.C.E. do P.C.B. 0 + 0 + 0. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 76, 01/03/1926, p. 3.
157
11
- Cláudio H. de Moraes Batalha. Op. cit., p. 366-367. Com respeito à polêmica travada com
o PSB, sobretudo com Agripino Nazareth, ver John W. Foster Dulles. Op. cit., p. 231-232, e os
seguintes artigos: Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil. Aos trabalhadores da
Bahia. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 72, 01/01/1926, p. 1-2; Comissão Central Executiva do
Partido Comunista do Brasil. O social-confusionismo. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 73,
19/01/1926, p. 2-3; Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil. O socialismo
geraldista. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 74, 06/02/1926, p. 9-10; Boris Ivanovitch. Socialismo
de alto coturno. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 75, 22/02/1926, p. 2; Comissão Central
Executiva do Partido Comunista do Brasil. 0 + 0 + 0. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 76,
01/03/1926, p. 3; Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil. Contra o caos
socialista. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 77, 15/03/1926, p. 3; Comissão Central Executiva do
Partido Comunista do Brasil. A NEP. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 78, 01/04/1926, p. 3;
Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil. Ofensiva e defensiva. Voz Cosmopolita.
Rio de Janeiro, nº 79, 15/04/1926, p. 3; Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil.
Delenda Socialismus!. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 80, 01/05/1926, p. 2; Fackel. Quatro que
são dois. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 81, 15/05/1926, p. 1; S.A. Amaro de Araújo & C. Voz
Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 81, 15/05/1926, p. 2-3; M. B. A frente única multicor. Voz
Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 82, 01/06/1926, p. 4.
12
- O 1º de Maio. As comemorações de ontem aqui e no estrangeiro. O Paiz. Rio de Janeiro,
02/05/1925, p. 4.
13
- Novo horizontes. O Trabalho. Rio de Janeiro, 07/03/1925 apud John W. Foster Dulles.
Anarquistas e comunistas no Brasil, p. 226.
158
14
- Vida Proletária. O manifesto de 19 associações operárias conjugadas, no próximo pleito
municipal – A Candidatura de Luís de Oliveira. O Brasil. Rio de Janeiro, 02/09/1925, p. 4 apud
Michel Zaidan Filho. Pão-e-pau: Política de governo e sindicalismo reformista no Rio de Janeiro
(1923-1926), p. 194-195.
15
- Cláudio H. de Moraes Batalha. Op. cit., p. 369-370.
159
Por fim, para não restar qualquer dúvida a respeito dos limites desse
movimento, a “Convenção Operária de 1º de Maio” aprovou uma moção de
“confiança e aplausos” ao “benemérito governo” do “doutor Arthur Bernardes”,
que foi, mais tarde, entregue pessoalmente ao Presidente da República, quando
lhe foi pedido o seu apoio à candidatura Luís de Oliveira. Os termos da resposta
de Bernardes, pela meridiana clareza com que retratam o processo de cooptação
dos trabalhadores por parte do Governo, valem a pena ser reproduzidos:
16
- O que foi a Convenção das Classes Operárias. Luís de Oliveira, candidato indicado pelos
convencionais. O Brasil. Rio de Janeiro, 02/05/1925, p. 8 apud Michel Zaidan Filho. Pão-e-pau:
Política de governo e sindicalismo reformista no Rio de Janeiro (1923-1926), p. 178-179.
160
Pensou-se, assim, em preparar uma base política legal para o PCB, criando-
se, desse modo, uma organização que pudesse agregar aqueles que
simpatizassem com as idéias do PCB, mas não estivessem dispostos, sobretudo
17
- O momento político operário. A entrega ao Presidente da República da mensagem da
Convenção de Maio. O Brasil. Rio de Janeiro, 14/07/1925, p. 4 apud Michel Zaidan Filho. Pão-e-
pau: Política de governo e sindicalismo reformista no Rio de Janeiro (1923-1926), p. 197-198.
18
- A formação do Bloco Operário. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 9, 27/06/1925, p. 1.
161
19
- S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 1.
20
- A redação da A Classe Operária. O Bloco Operário e as próximas eleições municipais. Rio
de Janeiro, 21/09/1925 apud Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 28/09/1925, p. 3872-
3873 (ver o texto integral no Anexo IV).
162
21
- A Redação da A Classe Operária. Em torno de “Bloco Operário”. Rio de Janeiro,
18/10/1925.
22
- Cf. Artigo 1º das Instruções do Decreto Federal nº 17.192, de 15/01/1926, que dá
instruções para a eleição de intendentes municipais no Distrito Federal. Walter Costa Porto informa à
página 350 do seu Dicionário do voto: “Quando o eleitor, em uma escolha plurinominal, pode dispor
de todos ou de parte de seus votos para a escolha de um só candidato. Exemplo: em um determinado
distrito, 3.000 eleitores têm três representantes a eleger; cada um pode ou votar em três nomes ou
mais de um ou dar todos os seus votos a um só candidato.” (Walter Costa Porto. Dicionário do voto,
p. 350.) Naquela época tinha-se o entendimento do voto cumulativo como sendo um voto pessoal, pois
o eleitor costumava votar tantas vezes no mesmo candidato conforme a legislação permitisse. No caso
da cidade do Rio de Janeiro permitia-se oito vezes. No entanto, nas eleições de 1º de Março de 1926
estabeleceu-se que o eleitor votaria em oito nomes diferentes, só se apurando, para cada candidato,
um voto em cada cédula. Assim, optando o eleitor dar seu voto a mais de um candidato ou a uma
chapa, não se saberia em quem efetivamente o eleitor quis votar, já que não havia a tradição do voto
em listas de candidatos.
23
- S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 1
(RGASPI).
24
- Os candidatos apresentados pelos três parlamentares eram os seguintes: Para o 1º Distrito:
Augusto Pinto Lima, Belisário Augusto de Oliveira Penna, Joaquim Barboza de Souza, Bartlett
James, Raul Paranhos Pederneiras, Antônio Evaristo de Moraes, Jorge Santos e Brenno dos Santos;
Para o 2º Distrito: Maurício Paiva de Lacerda, Miguel de Oliveira Monteiro, Mário Ferreira Piragibe,
Edgard Fontes Romero, Oswaldo de Moura Nobre, Bruno Álvares da Silva Lobo, Mário Júlio dos
Santos e Alfredo Muniz Peixoto. Destes, apenas foram diplomados, pelo 2º Distrito, Maurício de
Lacerda, com 5.689 votos, e Mario Piragibe, com 4.203 (cf. Apuração das eleições municipais. O
Paiz. Rio de Janeiro, 23/03/1926, p. 4). Este último, apesar de diplomado, não foi empossado, tendo
164
Dias mais tarde, outro manifesto no mesmo estilo era publicado. Aludindo à
iniciativa dos três deputados, desta vez era dirigido à “mocidade carioca” e
assinado por 37 estudantes apoiando os mesmos dezesseis nomes. Em ambos os
textos não se abordavam questões específicas do mundo do trabalho e não
existia nada que se aproximasse de um conjunto de propostas. Faziam-se,
apenas, apelos grandiloqüentes e vazios, que serviam apenas para louvar os
componentes da chapa, “esses vultos de democratas, cuja palavra é sempre o
hino que canta e soluça, invocando, em anseios, a liberdade da Pátria, [os quais]
valem por um magnífico programa”26. Apesar disso, este grupo de candidatos foi
cognominado pela imprensa governista de “Chapa Vermelha”27.
sido “degolado” na verificação de poderes (Cf. Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados.
Anais da Câmara dos Deputados de 1926. Volume I, p. 303).
25
- Azevedo Lima, Adolpho Bergamini e Vicente Piragibe. Ao eleitorado do Distrito Federal.
Rio de Janeiro, 01/02/1926.
26
- Ruy Barbosa dos Santos et alii. Manifesto cívico à invicta mocidade carioca. Rio de
Janeiro, 06/02/1926.
27
- Apuração das eleições municipais. O Paiz. Rio de Janeiro, 23/03/1926, p. 4.
165
28
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 142-143.
166
A campanha aludida aqui por Oliveira foi a divulgação, feita através das
páginas do jornal A Manhã, com base em informações obtidas pelos comunistas,
de que o chefe da polícia, marechal Manuel Lopes Carneiro da Fontoura31,
29
- N. A. O novo Conselho Municipal: Descrenças que podem ser transformadas em
esperanças. O Paiz. Rio de Janeiro, 07/03/1926, p. 3 e Eleições Municipais: Confrontos edificantes. O
Barbeiro. Rio de Janeiro, nº 19, 06/05/1926, p. 3-4.
30
- Como se definiu, no Conselho Municipal, o primeiro intendente operário. Vanguarda. Rio
de Janeiro, 14/06/1926 apud John W. Foster Dulles. Op. cit., p. 238.
31
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 326-327. O marechal
Fontoura também agira durante as eleições no 2º Distrito, no qual disputava uma vaga de intendente
Maurício de Lacerda, que se encontrava preso em razão de seus contatos com os “revolucionários” de
1924 e assim fora mantido por exigência pessoal do presidente Bernardes. Azevedo Lima, um dos
patronos da “Chapa Vermelha” e cuja principal base eleitoral situava-se no Distrito de São Cristóvão,
relata em suas memórias que, na véspera das eleições, à noite, oitenta por cento dos mesários desse
distrito foram presos – dois anos depois da época dos fatos, Azevedo Lima falava em “mais de
cinqüenta por cento dos meus amigos, mesários em São Cristóvão” (cf. As arbitrariedades do 4º
delegado auxiliar. Um discurso de sr. Azevedo Lima, ontem, na Câmara. Correio da Manhã. Rio de
Janeiro, 27/10/1928, p. 3) , e, no dia 1º de março, agentes ligados à polícia atacaram as poucas seções
que conseguiram instalar-se, praticamente impedindo ali a realização de eleições. Além de tentar
167
“Noutro jornal burguês, o intendente protetor de Luís Oliveira diz que este só
tivera 72 eleitores seus, próprios; que Luís Oliveira só fora eleito porque ele, líder
da chapa, desviara votos de seus amigos para o tal ‘candidato operário’; e que Luís
Oliveira ‘tinha ligações com o Corpo de segurança’ (polícia secreta). Era um golpe
mortal, descarregado por um burguês insuspeito, e que vinha comprovar o que ‘A
Classe Operária’ dissera a respeito de tal candidatura desde 21 de setembro de
1925. Esperamos 9 meses; e, ponto por ponto, os fatos vieram comprovar as
nossas palavras. Outros jornais burgueses, isto é, anticomunistas, portanto,
insuspeitos, como ‘A Tribuna’, dizem com todas as letras: ‘Luís Oliveira, em vez de
ser o representante dos operários, foi apenas o enviado do Marechal Fontoura’ (o
chefe da polícia, nosso perseguidor). No ‘Jornal do Commercio”, o próprio Luís
Oliveira diz que as reuniões da chapa de que ele fazia parte se realizavam no
gabinete do Marechal Fontoura; e confessa que o presidente da república de
fazendeiros recebera em audiência especial a comissão encarregada da
propaganda de sua candidatura. [...] A 30 [de junho], Luís Oliveira, desmoralizado
e desesperado, quase transforma o Conselho Municipal num campo de luta
romana; um seu capanga, contra os dispositivos do Conselho, injuria o intendente
que desmascarara Luís Oliveira.”33
dificultar a eleição de Lacerda, Azevedo atribuiu a ação também como um gesto de vingança pessoal.
Ela resultou do fato de que há algum tempo vinha denunciando da tribuna da Câmara dos Deputados,
com farta documentação, o enriquecimento ilícito do próprio chefe da polícia, bem como o uso de
recursos públicos para o pagamento de informantes, suborno etc., episódios estes que levaram à sua
demissão do cargo (cf. Azevedo Lima. Reminiscências de um carcomido, p. 131-134). Sobre este
episódio, ver também os Anais da Câmara dos Deputados de 1926. Volume I, p. 295-305.
32
- John W. Foster Dulles. Op. cit., p. 238. Ver também Octavio Brandão. Otávio Brandão
(Depoimento, 1977), p. 17-18.
33
- Octavio Brandão. O “P.C.B.” em junho de 1926. Rio de Janeiro, 12/07/1926, p. 4-5
(RGASPI).
34
- M. B. A frente única multicor. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 82, 01/06/1926, p. 4.
Um relato do acirramento desse confronto, que chegou a ponto de Amaro de Araújo, presidente da
União dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, comandar pessoalmente uma invasão ao Sindicato dos
Alfaiates, de influência comunista, juntamente com policiais, pode ser visto em três relatórios de
168
OBS. A falta dos votos das seções da Ilha do Governador e Ilha de Paquetá não causou grandes discrepâncias nos resultados finais divulgados
no dia 23 de março.
Por estes dados, Luís de Oliveira obteve 4.737 votos.
170
OBS.: Ao contrário do que ocorreu com os dados do 1º Distrito, no caso do 2º Distrito a ausência dos votos obtidos pelos candidatos nas
seções de São Cristóvão e Engenho Novo causou discrepâncias nos resultados finais apresentados em 23 de março pelo mesmo jornal. Por
estes dados, Maurício de Lacerda obteve 5.689 votos e Mário Piragibe 4.203 sufrágios.
171
36
- Walter Costa Porto. Op. cit., p.145-146; O Paiz. Rio de Janeiro, 03/03/1926; Joseph Love.
A locomotiva. São Paulo na Federação Brasileira 1889-1937, p. 193; John D. Wirth. O fiel da
balança. Minas Gerais na Federação Brasileira 1889-1937, p. 195; Brasil. Ministério das Relações
Exteriores. Serviços Comerciais. Brasil – Estatísticas e diagramas, p. 4.
172
37
- O dever mais urgente. Movimento Communista. Rio de Janeiro, nº 2, fev. 1922, p. 37-38.
38
- B. D. [Octavio Brandão]. Lettre du Brésil. La Correspondance Internationale. Paris, nº 43,
1926, p. 417-418. O mesmo texto também foi publicado em La Correspondencia Sudamericana.
Buenos Aires, nº 3, 15/05/1926, p. 10-11.
39
- A Coligação Operária ao seu eleitorado. O Solidário. Santos, nº 39, 25/02/1926, p. 1.
173
40
- Ercoli a Au C.C. du P. C. du Brésil. Moscou, 02/07/1926, p. 5 (RGASPI).
41
- A C.C.E. do P.C.B. Para o 1º de Maio de 1926. Reivindicações e palavras de ordem. Voz
Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 79, 15/04/1926, p. 2. Este mesmo texto foi reproduzido em um jornal
especial, de único número, intitulado 1º de Maio, e que foi lançado pelo Comitê Nacional do Socorro
Operário Internacional. Praticamente idêntico, com algumas atualizações, foi repetido no número de
1º de Maio de 1927 de A Nação. O texto completo deste documento, bem como as modificações de
1927, podem aqui ser vistos no Anexo V. A frase citada foi extraída de El 1º de Mayo y el Partido
Comunista del Brasil. La Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 2, 30/04/1926, p. 2.
174
“Temos que elaborar um plano, teórico e prático, para penetração eficaz nos
centros agrícolas. E para isso, é mister estudar minuciosamente o meio em que
vamos operar. Nesse sentido, teremos necessidade de lançar mão de abundante
material, como sejam, estatísticas rurais, sistemas de explorações agrícolas,
condições de trabalho e as múltiplas feições que os proprietários de terra
emprestam à exploração do braço nas suas fazendas, nos seus engenhos e nos
seus campos de criação. [...] Só agora, orientados pelo que interessa
objetivamente à nossa atuação no meio nacional, eu e o camarada Octavio
Brandão, o encarregado da Agit-Prop., [pudemos] traçar um plano seguro de
atividade revolucionária e de organização, a fim de darmos início à penetração no
campo – uma das tarefas mais importantes de todo Partido Comunista do Brasil,
que visa ter a necessária eficiência. Sem o apoio das grandes massas
camponesas do Brasil, que se podem tornar, pelo seu atraso, reservas contra-
revolucionárias, utilizáveis pela burguesia para a reação contra o proletariado das
cidades, não poderemos vencer.”42
42
- P. Lacerda. Relatório do Encarregado da “Seção Camponesa”. S.l., s.d (RGASPI).
43
- Cf. carta de Astrojildo Pereira a Camarada Humbert-Droz. Rio de Janeiro, 04/04/1926
(RGASPI).
175
44
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 139.
ANEXO IV
Plataforma do Bloco Operário (1925)
ANEXO V
Programa de Reivindicações do PCB (1926)
Contra o pacto de segurança, que visa a intervenção na Rússia. Contra a Liga das
Nações, esteio da Inglaterra contra-revolucionária (imperialista). Contra a reação mundial.
Contra o imperialismo. Contra a 2ª Internacional – esteio do imperialismo. Vitória completa
da Rússia (dos trabalhadores russos) sobre todos os seus inimigos. Independência dos
povos coloniais. A China liberta dos caudilhos e imperialistas. Frente única de todos os
trabalhadores das três Américas contra o imperialismo anglo-americano. Unidade sindical
internacional. Bloco mundial das massas operárias e camponesas em torno da União
Sovietista (da obra dos trabalhadores russos).
I – GERAIS
II – PARTICULARES
181
18/3/1926
A C.C.E. do P.C.B.”
(FONTES: Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 79, 15/04/1926, p.2 e A Nação. Rio de
Janeiro, 01/05/1927, p. 1)
183
1
- A idéia de terceira revolta, rebelião ou revolução como a definitiva ação para a conquista do
poder era uma expressão corrente entre os meios de oposição ao governo, veja-se, por exemplo, em
Maurício de Lacerda, na sua obra Entre duas revoluções, às páginas 188-189. Para um exame mais
detalhado e bem fundamentado de Agrarismo e industrialismo ver Ângelo José da Silva. Crítica
operária à Revolução de 1930: Comunistas e trotskistas, p. 72-87. Uma curiosidade apontada por
Silva: no subtítulo da obra de Brandão - “Ensaio marxista-leninista sobre a revolta de S. Paulo e a
guerra de classes no Brasil” – foi, ao que consta, a primeira vez em que se usou a expressão
“marxista-leninista” em um documento de um partido comunista. Até então se julgava que a
expressão havia sido lançada em março de 1928 na URSS (cf. p. 76).
185
2
- Fritz Mayer (pseudônimo de Octavio Brandão). Agrarismo e industrialismo, p. 17.
186
3
- Idem. Ibidem, p. 59.
4
- Síntese nacional. Os problemas nacionais. A Nação. Rio de Janeiro, 09/05/1927, p. 2.
5
- Entrevista com Octavio Brandão.Aparte. Rio de Janeiro, nº 1, jun. 1979, p. 15.
187
6
- Edgard Carone. A República Velha (Evolução política), p. 391.
188
7
- Edgard Carone. Op. cit., p. 392; Hélio Silva. Washington Luís. Revolução de 30,1926-
1930, p. 19.
8
- Carta de Astrojildo Pereira a Camarada V[ictorio]. C[odovilla]. Rio de Janeiro, 21/08/1926,
p. 2 (RGASPI).
189
9
- Maurício Paiva de Lacerda, filho de Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, ministro do
Supremo Tribunal Federal, e irmão do médico Fernando e do advogado Paulo, ambos militantes do
PCB, nasceu em 1888 na cidade de Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro, e era também formado
em Direito. Após trabalhar para a eleição presidencial de Hermes Rodrigues da Fonseca para o
quatriênio 1910-1914, Maurício de Lacerda obteve um mandato de deputado federal no ano de 1912,
mesmo ano em que seu pai fora nomeado pelo Presidente da República para o Supremo Tribunal
Federal. Reeleito sucessivamente até 1921, quando perdeu o mandato em razão de sua oposição ao
governo de Epitácio Pessoa, Lacerda foi, na Câmara dos Deputados, um defensor de causas relativas
ao mundo do trabalho e um dos patrocinadores da chamada legislação social, que buscava
regulamentar as relações entre patrões e empregados. Desenvolvera por isso uma polêmica atuação,
sendo classificado tanto de demagogo como criara fama de ser “bolchevista”. Envolvendo-se nas
conspirações “tenentistas” acabou sendo preso em 5 de julho de 1924. Na prisão, como vimos,
resolveu aceitar o lançamento de sua candidatura a intendente no Distrito Federal nas eleições de 1º
de março de 1926, na “Chapa Vermelha”, sendo o segundo mais votado no 2º Distrito.
190
10
- John W. Foster Dulles. Carlos Lacerda: a vida de um lutador.Vol. 1: 1914-1960, p. 5-21.
191
Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 36. Maurício de Lacerda. Entre duas
revoluções, p. 190-192. Como o livro de Lacerda foi publicado após a eleição, na qual, como
veremos, não teve sucesso, é justo avaliar-se que talvez sua informação de que o PCB o preferia como
candidato do Bloco Operário ao invés de Azevedo Lima fosse uma maneira de tentar indispor este
com os comunistas.
11
- Maurício de Lacerda contra o Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 26/01/1927, p. 5.
192
Azevedo Lima.
(A Classe Operária, APERJ)
12
- João Batista de Azevedo Lima nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, em
1889. Filho de pai médico e neto, por parte de mãe, do Visconde de Ibituruna, formou-se em
medicina, profissão à qual se dedicou, mesmo quando ingressou para a política, o que ocorreu em
1917, quando se elegeu intendente do Distrito Federal. Novamente eleito em 1920, não chegou a
concluir seu mandato em razão de ter sido eleito deputado federal pelo Distrito Federal em 1921,
reelegendo-se sucessivamente até 1930.
13
- Maurício de Lacerda contra o Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 26/01/1927, p. 5.
193
“A esses [Azevedo Lima refere-se aos “trabalhadores mais cultos da cidade”, dk]
não terá já passado desapercebida a pertinácia com que, de cabo a cabo, do meu último
triênio [1924-1926 dk] de atividade parlamentar, adotei, segundo orientação por assim
dizer quase uniforme, os conceitos marxistas sobre a supremacia política do
proletariado, a teoria do antagonismo de classes, a idéia da conquista da democracia
pelos trabalhadores organizados em classe diretora, o princípio da ruptura dos moldes
tradicionais em matéria de relações da propriedade e posse dos instrumentos de
produção.”14
14
- O Bloco Operário triunfará!. A Nação. Rio de Janeiro, 07/01/1927, p. 1.
194
nela também defende que o governo brasileiro faça o mesmo16. Ao mesmo tempo
participava de comemorações e atos promovidos pelo PCB:
Tais atitudes fizeram com que o PSB chegasse a acusá-lo de ser militante
comunista, o que levou o PCB a pronunciar-se formalmente, afirmando que
Azevedo Lima não era “líder do comunismo, nem membro do P.C.”18.
Em suas memórias, Azevedo Lima assim narrou, com uma cronologia um
pouco distinta da que vimos acima, este momento:
15
- Carta de Azevedo Lima a M. Zinovieff. Rio de Janeiro, 17/08/1924 (RGASPI); Carta do
Sekretariat der Kommunistisch International a Deputiern Azevedo Lima. Moscou, 23/10/1924
(RGASPI).
16
- Seção de Informação do C.C. do P.C.B. A questão do reconhecimento do governo
sovietista. Como repercutiu na imprensa burguesa do Brasil o ato do governo uruguaio reconhecendo
“de jure” a U.R.S.S. Carta de Informação. Rio de Janeiro, nº 1, 26-10-1926, p. 2.
17
- Seção de Informação do C.C. do P.C.B. A comemoração do 7 de Novembro no Brasil.
Carta de Informação. Rio de Janeiro, nº 2, 30-11-1926, p. 1-2.
18
- C.C.E. do P.C.B. O socialismo geraldista. Voz Cosmopolita. Rio de Janeiro, nº 74,
06/02/1926, p. 10.
195
19
- Azevedo Lima. Reminiscências de um carcomido, p. 167-171.
20
- S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 1
(RGASPI). O candidato em questão era o médico Oswaldo de Moura Nobre, “prestigioso chefe
196
político do 2º Distrito” (cf. O Dr. Moura Nobre apóia os candidatos do Bloco Operário. A Nação. Rio
de Janeiro, 23/02/1927, p. 1.).
21
- Astrojildo Pereira. Formação do PCB, p. 75.
22
- Resposta a um fantoche-confusionista. A Nação. Rio de Janeiro, 12/02/1927, p. 1 e 6.
23
- Carta de Astrojildo Pereira a Caro Codo [Victorio Codovilla]. Rio de Janeiro, 02/09/1926,
p. 1-2 (RGASPI).
197
Foi basicamente este formato exposto por Astrojildo Pereira que acabou
sendo acordado, com apenas algumas formalidade legais: o título foi doado ao
PCB, bem como o “uso e gozo de suas máquinas e contratos, sem qualquer lucro
ou benefício individual sobre um capital avaliado em 700 contos de réis”, sendo
transformado em propriedade de uma “Sociedade Cooperativa Proletária
organizada pelo P.C.B.”24. Com o acordo selado, o breve lançamento de A Nação
foi tornado público, em 8 de novembro de 192625; dada a expectativa de que, tão
logo tomasse posse em 15 de novembro, o presidente Washington Luís
revogasse o decreto do estado de sítio. No entanto, o decreto vigorou até o final
do ano, não sendo mais renovado. Com isso, A Nação acabou saindo a público
somente em 1927.
Ao findar-se o estado de sítio, em 31 de dezembro de 1926, o PCB já tinha
articulada sua estrutura básica para participar das eleições no Distrito Federal
para escolha de seus deputados federais: um candidato com expressão eleitoral
própria disposto a apoiar a plataforma do Bloco Operário e um jornal diário para
levar seus pontos de vista a uma grande parcela da população carioca, muito
além da atingida até então pelo partido.
Assim, no dia 3 de janeiro de 1927 aparece o primeiro número de A Nação.
No cabeçalho, do lado esquerdo do título, havia o símbolo comunista da foice e
do martelo, ao qual era sobreposto o dístico do Manifesto Comunista, “Proletários
de todos os países, uni-vos!”, encimava-o um trecho do hino “A Internacional”,
“Não há direitos para o pobre, ao rico tudo é permitido” e do lado direito havia
uma frase de um expoente do socialismo internacional, como Marx, Lênin, Bebel
etc., que era diariamente renovada. Inicialmente publicado com seis páginas, que
foram reduzidas a quatro a partir de 16 de fevereiro, era, como não poderia deixar
de ser, um jornal predominantemente político, com artigos sobre questões locais,
24
- Presidium do PCB. “A Nação”, Leônidas de Rezende e o Partido Comunista do Brasil. A
Nação. Rio de Janeiro, 01/02/1927, p. 1.
25
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 23/07/1927, p. 2.259; Edgard Carone.
Classes sociais e movimento operário, p. 174.
198
26
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 331-333; John W. Foster
Dulles. Anarquistas e comunistas, p. 254-255. Ver também Leandro Konder. A derrota da dialética,
p. 152-154.
199
movimento político nacional. O P.C.B. é o órgão natural por onde se exprime esta
palavra de classe do proletariado. E esta palavra há de ser dita e ouvida.
Valha esta declaração como o intróito do que temos de dizer de agora em
diante.”27
27
- Comissão Central Executiva do P.C.B. Novo fator na política nacional. Uma declaração do
Partido Comunista do Brasil. O proletariado clama pela legalidade de seu partido de classe. A Nação.
Rio de Janeiro, 04/01/1927, p. 2.
28
- O proletariado intervirá nas próximas eleições federais. O Partido Comunista do Brasil
promove a formação de um Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 04/01/1927, p. 3.
29
- Ver a transcrição da Carta Aberta no Anexo VI.
200
30
- Centro Político Proletário da Gávea. 1º de Maio. Rio de Janeiro, 01/05/1926, p. 2.
202
criticados por servirem aos inimigos da classe operária e que, por isso, deles
desconfiava o PCB. Os comunistas afirmavam que a única maneira de mudar seu
ponto de vista a respeito de ambos seria o “compromisso de defender e submeter-
se à plataforma proletária do Bloco Operário”. Quanto a Azevedo Lima, que tinha
um eleitorado próprio, este era classificado como ideologicamente contraditório,
mas o PCB lhe propunha uma aliança “lógica”, pela proximidade de suas posições
e que traria vantagens mútuas. Aos demais os comunistas estendem o “convite”,
afirmando, no entanto, não saber como se posicionarão, com exceção do Centro
Político Proletário da Gávea e do Centro Político Proletário de Niterói, que,
acreditavam, iriam acabar aderindo por suas afinidades programáticas.
A estes interlocutores o PCB propunha a criação do Bloco Operário e
afirmava não pretender concorrer com candidatos próprios. O Bloco seria fundado
nos marcos de uma política de “frente única”, a qual tinha por objetivo unificar e
juntar os esforços de todos eles, em razão de sua “afinidade básica de
interesses”, para a disputa eleitoral. Este agrupamento teria como base as idéias
apresentadas na Carta Aberta e uma plataforma ali também exposta. Realizada a
frente única, pretendiam iniciar o que chamavam de “saneamento da política”:
combater “sem tréguas a política personalista, individualista e irresponsável dos
cabos eleitorais sem princípio, sem programa e sem finalidade” e garantir, assim,
o compromisso dos políticos com as massas.
O caráter dessa frente única, dessa coligação de grupos políticos e
indivíduos que tinham em comum determinadas idéias e sua defesa em nome das
massas, tinha características que a definiam e a delimitavam: ela era eleitoral e
parlamentar. A “tarefa” da revolução, na concepção de seu proponente,
permanecia na esfera do PCB. Ao Bloco Operário ficava o uso de certos
instrumentos, como a campanha e o alistamento de eleitores, e de um espaço, o
parlamento. No entanto, esta distinção nunca ficaria muito clara. No entanto,
neste primeiro momento ela tinha sua orientação mais especificamente voltada
para as eleições de fevereiro, pois o PCB, através de sua própria estrutura e da
propaganda e agitação levadas a cabo por meio das páginas de A Nação tinha
203
naquele instante um amplo espectro de ação e a atuação eleitoral era uma das
suas possibilidades de intervenção dos comunistas no panorama político do País.
Todos, ao final da Carta Aberta, receberam o prazo de uma semana para se
posicionar.
Quanto à plataforma em si ela foi, em linhas gerais, uma consolidação dos
programas apresentados pela Coligação Operária de Santos, pelo Bloco
Operário, em 1925, e o do PCB, apresentado para o 1º de maio de 1926. O
programa da Carta Aberta possuía um melhor detalhamento de palavras de ordem
anteriormente existentes. Como foi destacado durante a campanha, o programa
do Bloco Operário firmou um trabalho que refletia anos de experiência do
movimento dos trabalhadores:
31
- Nas vésperas do grande pleito. Porque os trabalhadores devem votar só nos candidatos do
Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 22/02/1927, p. 1.
32
- Na questão do voto feminino os comunistas destacavam que esta conquista seria inócua se
não viesse acompanhada da aquisição de uma consciência de classe. A propósito do 10º Congresso da
Aliança Internacional pelo Sufrágio das Mulheres, A Nação fez o seguinte comentário: “Seu
programa se reduz na verdade a esta reivindicação única: ‘O direito de sufrágio para as mulheres e a
igualdade dos sexos perante a lei’. É um programa pouco assustador, pouco perigoso, pois não atinge
propriamente a organização da atual sociedade: não toca nem nos privilégios dos grandes, nem na
miséria dos humildes. [...] O direito de voto, o reconhecimento dos direitos civis e políticos da mulher
não a libertará enquanto pesarem sobre ela, como sobre o conjunto da classe trabalhadora, a
exploração do capital e o domínio da burguesia” (A mulher em ação. O que o comunismo fará por
ela. A Nação. Rio de Janeiro, 05/01/1927, p. 5).
33
- Maria Lígia Coelho Prado. A democracia ilustrada (O Partido Democrático de São Paulo,
1926-1934), p. 35.
205
34
- Aqui vale a pena mencionar a reaparição da palavra de ordem existente no programa da
Coligação Operária, de “enérgica repressão ao jogo e ao alcoolismo”. Curiosamente, quando da
passagem de Astrojildo Pereira pelo anarquismo, no II Congresso da anarcossindicalista
Confederação Operária Brasileira, realizado em 1913, Pereira nele aprovara uma moção relativa ao
tema “Meios de extensificar e intensificar a propaganda contra o alcoolismo” (cf. A Voz do
Trabalhador. Rio de Janeiro, nº 39-40, 01/10/1913, p. 4). No único artigo encontrado em A Nação
com respeito a esta questão, em que, ao mesmo tempo se louva a proibição do álcool e afirma-se que a
burguesia americana proibiu o álcool para forçar o proletariado a gastar menos, para poder rebaixar
os salários, e para poder exigir-lhe mais trabalho, assevera-se que se deve deixar o álcool para melhor
combater a burguesia (Por que a burguesia americana instituiu a campanha contra o álcool?. A
Nação. Rio de Janeiro, 21/06/1927, p. 4). Essa postura moralista, sob outro ângulo, reaparece em A
Nação por ocasião do Carnaval, que é assim “politicamente” definido: “O carnaval é uma invenção
dos antigos exploradores para satisfazer com mais liberdade seus desejos libidinosos com as
conquistadas durante o ano e para ter ocasião de fazer novas vítimas com a ajuda dos líquidos e
206
Dos treze pontos em que o programa do Bloco Operário foi dividido, três
deles surgem aqui formulados pela primeira vez. O primeiro destes novos pontos,
a anistia aos presos políticos, que fundamentalmente se dirigia aos revoltosos de
1922 e 1924, já era então uma questão corrente na sociedade e que capitalizava
setores da pequena burguesia, aos quais o PCB pretendia aliar-se, como
resultado da política do seu II Congresso, e já se percebia, naquele momento, a
tendência de o governo Washington Luís manter-se leal ao governo anterior nesta
questão e não enfrentar as resistências do Exército à reintegração dos rebeldes.
Esta questão, aliás, era quase que diariamente abordada nas páginas de A
Nação. Já o segundo novo ponto, que tratava da questão específica da autonomia
do Distrito Federal, o qual tinha seu prefeito nomeado pelo presidente da
República e seus atos legais revisados pelo Senado federal, era uma questão
muita debatida e que possuía ampla adesão nos mesmos setores que levantavam
a questão da anistia. O próprio Azevedo Lima defendia publicamente a completa
autonomia do Distrito Federal frente ao governo federal e não será de todo ocioso
imaginar se a entrada deste ponto no programa do Bloco Operário não se deu por
influência direta do parlamentar37. Por fim o terceiro e último ponto era o que
tratava da questão da reforma monetária, pela qual o presidente Washington Luís
pretendia fazer da estabilidade cambial e de preços a principal medida econômica
de seu governo. Destaque-se que - além de ser inspirada em modelo francês -,
como usualmente ocorre nestes casos, teve efeitos perversos sobre a população
brasileira, especialmente encarecimento do custo de vida e redução de salários38,
o que, obviamente, não poderia deixar de se refletir em uma plataforma política.
37
- Veja-se, sobre este ponto, a entrevista de Azevedo Lima concedida ao jornal carioca A
Prensa, em sua edição de 27/10/1926 (cf. recorte existente no Arquivo de Astrojildo Pereira).
38
- “Em dezembro de 1926, foi decretada nova reforma monetária. Pretendia-se um retorno ao
padrão ouro, pelo qual a moeda em circulação seria conversível em ouro a 2000 miligramas por mil
réis. Para isso seriam utilizados o estoque de ouro disponível, saldos orçamentários, operações de
crédito, etc. Foi criado um novo fundo de estabilização cambial – a Caixa de Estabilização, que mais
tarde seria incorporada ao Banco do Brasil. Nela seria acumulado o estoque de ouro, o qual seria
comprado com emissões de suas próprias notas. [...] Estabeleceu-se, assim, uma taxa de 40 mil réis
por libra, o que causou forte reação negativa, por parte do comércio, que a chamou de ‘taxa vil’. A
contenção monetária e a estabilização cambial [...] foram complementadas por uma política de
equilíbrio orçamentário. [...] A Caixa de Estabilização foi bem sucedida no seu objetivo de causar
um impacto inicial através de pequena depreciação e subseqüente estabilização. Foi grande o influxo
208
de divisas atraído até a crise no setor cafeeiro em 1929 [...]. Em 1929, com a política de procurar
manter a estabilidade cambial durante a crise do café, o País terminou perdendo suas reservas de ouro
e divisas com as saídas de capital.” (Annibal Villanova Villela e Wilson Suzigan. Política do governo
e crescimento da economia brasileira,1889-1945, p. 136-137.) Ver também Edgard Carone. A
República Velha - 1.Instituições e classes sociais, p. 128-129. Segundo artigo publicado em A Nação,
em sua edição de 07/01/1927, os gêneros de primeira necessidade, logo após a aprovação da reforma
no Congresso Nacional, subiram mais de cem por cento (Cf. o artigo assinado por Um Grupo de
Operários e Empregados Públicos: O projeto de estabilização e os operários e empregados públicos, p.
3). Ver também carta, datada de 25/06/1928, de Roberto Morena, em nome da Federação Sindical
Regional do Rio de Janeiro, ao deputado Azevedo Lima. Diário do Congresso Nacional. Rio de
Janeiro, 27/06/1928, p. 959-960.
39
- Astrojildo Pereira. Formação do PCB, p. 100.
209
40
- Kazumi Munakata. Algumas cenas brasileiras, p. 74-75. Para um exame mais detalhado e
interessante da estrutura argumentativa da Carta Aberta veja-se, também em Munakata, às páginas
106-118.
41
- Carta de José Marcílio a Astrojildo Pereira. Juiz de Fora, 12/01/1927 (ASMOB).
210
Algum tempo depois o jornalista Everardo Dias afirmava não haver mais
tempo para o lançamento de uma candidatura e julgava melhor preparar-se para
futuras eleições, pois naquele momento seria uma temeridade que poderia levar o
PCB ao ridículo43. Na cidade de Santos, os comunistas locais também tomaram
uma resolução de não apresentar candidaturas44.
Já em Recife, os comunistas decidiram fundar o Bloco Operário, mas não
lançar candidaturas, pois estas seriam um fiasco: “Não estamos preparados, nem
mesmo para a derrota”. Eles se propuseram a fazer reuniões de formação do
Bloco Operário, usando a idéia da frente única, com todas as organizações. Além
disso, surpreendentemente, ressaltaram uma grande dificuldade que havia entre
os comunistas de Pernambuco:
42
- Carta de Everardo [Dias] a Meu caro Gildo [Astrojildo Pereira]. São Paulo, 16/01/1927
(ASMOB).
43
- Carta de Everardo a Gildo. São Paulo, 27/01/1927 (ASMOB).
44
- Carta de Hygino Alonso Delgado a Camaradas da C.C.E. Santos, 01/02/1927 (ASMOB).
45
- Carta de Souza Barros a C. Astrojildo. Recife, 20/01/1927 (ASMOB).
46
- Carta de Souza Barros a Cam. Astper [Astrojildo Pereira]. S.l., s.d. (ASMOB) .
211
47
- Carta de Alberto a Cam. O. Brandão. S. l., 17/01/1927 (ASMOB). Carta de João Borges a
Prezados camaradas da C.C.E. Bahia, 06/02/1927 (ASMOB). Carta de Alberto Campos a Astrojildo.
Bahia, 14/02/1927 (ASMOB).
48
- Como a campanha do Bloco Operário repercutiu no Estados. A vanguarda proletária de
Sertãozinho concorreu ao pleito de 24 de fevereiro com 4 candidatos. A Nação. Rio de Janeiro,
09/03/1927, p. 2.
212
PRIMEIROS MOVIMENTOS
49
- O Bloco Operário triunfará!. A Nação. Rio de Janeiro, 07/01/1927, p. 2. No próprio dia 6
de janeiro A Nação, um jornal vespertino, anunciava a existência da carta, cf. A intervenção
proletária nas próximas eleições. Causou sensação a plataforma do Bloco Operário. Publicaremos
amanhã declarações de Azevedo Lima respondendo à Carta aberta da P.C.B. A Nação. Rio de
Janeiro, 06/01/1927, p. 3.
213
“Mas o próprio Azevedo Lima foi um tanto imposto, porque o pessoal de base
não o queria, queria candidatos operários típicos. O Azevedo Lima já representava,
como dizia o Octavio Brandão, o início da aliança do proletariado com a pequena-
burguesia, a caminho da aliança com a burguesia nacional.”50
“Os dirigentes do P.S.B. desejariam primeiro tramar as coisas por trás dos
bastidores, fazendo diplomacia barata, marchas e contramarchas, à revelia das
massas, isto é, dos interessados. Mas isto, precisamente, é o que nós não
queremos – e o dizemos na carta aberta. A política proletária tem de ser, por sua
própria natureza, uma política ‘feita de verdade, nitidez e firmeza’, política feita à
luz do sol, sem rebuços nem dissimulações. O contrário da política burguesa e...
social-reformista.”55
54
- O Bloco Operário contra os blocos burgueses. A Nação. Rio de Janeiro, 14/01/1927, p. 3.
55
- O Bloco Operário ganha terreno entre as massas. A Nação. Rio de Janeiro, 08/01/1927, p.
1.
215
56
- O Bloco Operário tem o apoio das massas. A Nação. Rio de Janeiro, 11/01/1927, p. 3.
57
- O Bloco Operário ganha terreno entre as massas. A Nação. Rio de Janeiro, 08/01/1927, p.
2.
58
- Citemos algumas: As declarações de Danton Jobim. A Nação. Rio de Janeiro,
13/01/11927, p. 1 e 4; Os chefes do P.S.B. repudiados e abandonados pelos trabalhadores sinceros
[carta do gráfico Francisco José de Oliveira]. A Nação. Rio de Janeiro, 10/01/1927, p. 2; Outro
216
de modo incisivo, mais uma vez, as contradições nas atitudes que Lacerda vinha
tomando após sua libertação, fazia-se ainda um apelo a que apoiasse o Bloco
Operário, sendo isto feito por meio de um texto assinado por seus irmãos
Fernando e Paulo. No entanto, tal procedimento não durou um dia sequer. A carta
de seus irmãos, que acabou restando como documento de uma vã tentativa, fora
redigida antes de uma atitude tomada por Maurício de Lacerda que modificou
definitivamente a situação. No dia seguinte ao anúncio da segunda candidatura
do Bloco Operário, Lacerda lançou, através de um manifesto, sob a forma de
entrevista, o nome de Luiz Carlos Prestes como candidato pelo 1º Distrito, o que
foi interpretado pelos comunistas como uma explícita tentativa de jogar Prestes
contra o candidato do Bloco e retirar os votos deste59. A partir de então,
desenrolou-se uma virulenta disputa entre os comunistas e Maurício de Lacerda
durante toda a campanha eleitoral, chegando a confronto físico, além da
publicação de outras cartas de seus irmãos, numa desconfortável situação em
que o público e o privado perdiam seus limites60.
membro do P.S.B. que adere ao Bloco Operário [sobre o operário Balthazar Mendonça]. A Nação. Rio
de Janeiro, 28/01/1927, p. 6.
59
- Fernando Paiva de Lacerda e Paulo Paiva de Lacerda. Pelo Bloco Operário contra os
mistificadores.: Um enérgico apelo dos irmãos de Maurício de Lacerda. A Nação. Rio de Janeiro,
18/01/1927, p. 2-3; Da “Coluna” à “Comuna” é uma questão de passo. A Nação. Rio de Janeiro,
18/01/1927, p. 1. Fackel. A política da pequena burguesia confusionista. O proletariado não deve
iludi-se com essa política!. Rio de Janeiro, 12/01/1928.
60
- Fernando Paiva de Lacerda. Maurício de Lacerda e o operariado e pequeno funcionalismo
municipal. A Nação. Rio de Janeiro, 27/01/1927, p. 2; Fernando Paiva de Lacerda. Carta aberta a
Maurício de Lacerda. A Nação. Rio de Janeiro, 21/02/1927, p. 2; Paulo Lacerda. Um paralelo,
Maurício. A Nação. Rio de Janeiro, 16/02/1927, p. 2. Ver também a série “Bilhetes a Maurício de
Lacerda”, assinada por Paulo Lacerda (25/01/1927, p. 2; 29/01/1927, p. 2; 10/02/1927, p. 2).
217
COMEÇA A CAMPANHA
61
- A Direção do Bloco Operário. Os candidatos do Bloco Operário nesta Capital. A Nação.
Rio de Janeiro, 16/01/1927, p. 3. João Jorge da Costa Pimenta, nasceu em 1890, em Campos, Estado
do Rio de Janeiro, onde cursou a escola primária, terminando seus estudos no Liceu de Artes e
Ofícios, no Rio de Janeiro. Não chegou a cursar o ginásio. Começou a trabalhar em um escritório de
advocacia, depois exercendo as profissões de garçom, pintor de carros, jornalista e gráfico. Por sua
atividade sindical no Centro Cosmopolita, quando chegou a representá-lo no 2º Congresso Operário
do Brasil, de 1913, acabou perseguido pela polícia, mudando-se, em 1918, para São Paulo, onde
trabalhou como gráfico e foi um dos fundadores da União dos Trabalhadores Gráficos de São Paulo,
sendo, por esta entidade, delegado ao 3º Congresso Operário do Brasil, em 1920. Chegou a ser
secretário da Federação Operária de São Paulo, de orientação anarcossindicalista. Após a Revolução
Russa aproximou-se do comunismo, sendo um dos fundadores do PCB. Em 1924 voltou ao Rio de
Janeiro, onde também participou da fundação da União dos Trabalhadores Gráficos do Rio de Janeiro,
sendo, na época do lançamento de sua candidatura, seu secretário geral (Quem são os candidatos do
Bloco Operário. João Jorge da Costa Pimenta, 47 anos de luta. A Nação. Rio de Janeiro, 25/01/1927,
p. 2; Os candidatos do Bloco Operário. A vida heróica de João da Costa Pimenta. A Nação. Rio de
Janeiro, 28/01/1927, p. 4.).
218
62
- Artigos 16 a 21 do Decreto federal nº 14.631, de 19/02/1921.
63
- Política Burguesa. As mesas eleitorais. A Nação. Rio de Janeiro, 26/01/1927, p. 6. Dias
depois, o diário comunista denunciou a ocorrência de fraudes no processo de formação das mesas (Cf.
A avacalhação política do Distrito. Dizem que para a formação das mesas eleitorais houve indicações
falsas em quantidade. A Nação. Rio de Janeiro, 10/02/1928, p. 6.).
219
O PAPEL DE A NAÇÃO
64
- Veja-se, por exemplo, que a publicação de uma matéria sobre as oficinas ferroviárias do
Engenho de Dentro (Na Bastilha de Engenho de Dentro. A Nação. Rio de Janeiro, 16/02/1927, p. 1-
2) foi publicada no dois dias depois de um comício ali realizado. No sentido oposto pode-se ver o caso
da matéria sobre a fábrica de tecidos Corcovado, publicada na edição de 27 de janeiro, enquanto o
comício aconteceu no dia 11 de fevereiro.
221
65
- Com respeito a ponto do programa do Bloco Operário especificamente enfocado enquanto
tal veja-se O programa do Bloco Operário. Política independente de classe. A Nação. Rio de Janeiro,
17/02/1927, p. 3 e também O programa do Bloco Operário. Luta sem tréguas contra o imperialismo.
A Nação. Rio de Janeiro, 18/02/1927, p. 4. Sobre ponto do programa do Bloco Operário que recebeu
um tratamento jornalístico, citemos, entre muitos, o texto, acompanhado de fotos, “Comparai!... Onde
se refestela Epitácio Pessoa, Onde o proletariado curte a sua miséria. A Nação. Rio de Janeiro,
15/02/1927, p. 1.
66
- Uma síntese de tais interpretações pode ser vista no artigo A classe que oscila e o homem-
pêndulo. A Nação. Rio de Janeiro, 23/02/1927, p. 2.
222
polêmica pública, que, não raro, envolvia questões como o respeito à memória de
seu pai ou acusações de caráter pecuniário.
Neste mesmo campo, outro alvo que aparentava que iria tomar corpo e
acabou se esvaecendo foi o PSB. A Nação chegou a polemizar contra
candidaturas socialistas que acabaram não empolgando, o que foi o caso das de
Maurício de Lacerda e de Carlos Dias. O primeiro em razão de uma rejeição
formal por parte de Lacerda ao apoio que os socialistas pretendiam lhe dar67 e o
segundo, ex-anarquista que fora indicado pelo governo para representar os
trabalhadores do Brasil na Conferência de Genebra da Organização Internacional
do Trabalho e que foi violentamente atacado pelo PCB em 192568, pelo fato de
simplesmente sua candidatura não ter “decolado”. Houve, no entanto, duas
candidaturas à reeleição, de Adolpho Bergamini e Nicanor do Nascimento, que
foram alvos de pesadas críticas por parte dos comunistas. O primeiro -
apresentado como aliado do diário Correio da Manhã -, sobretudo por ter
realizado uma composição com Maurício de Lacerda, uma “dobradinha”, como
chamaríamos hoje, e o segundo – acusado pelos comunistas de ter votado
favoravelmente a favor do estado de sítio no Distrito Federal em 192469 - por ter
polemizado diretamente, por meio de carta, com o Bloco Operário. Ambos, com
um perfil mais conservador, mas que tinham em sua atuação parlamentar anterior
sustentado atitudes de oposição ao governo, foram qualificados por A Nação,
embora com menor intensidade e volume, com os mesmos epítetos concedidos a
Maurício de Lacerda.
Já com relação aos demais candidatos situacionistas, A Nação, por meio de
uma coluna dedicada às questões políticas do Distrito Federal, inicialmente
chamada de “Política do Distrito Federal”, depois “Política do Distrito”, “A
politiquice carioca” e, finalmente, “A avacalhação política do Distrito”,
acompanhava suas ações e propostas, fazendo-o por meio de um tom jocoso e
67
- A causa do Bloco Operário é a boa causa. A Nação. Rio de Janeiro, 20/01/1927, p. 3.
68
- O renegado Carlos Dias, candidato do Partido Socialista. A Nação. Rio de Janeiro,
15/01/1927, p. 6.
69
- O Bloco Operário contra os blocos burgueses. Uma carta de Nicanor Nascimento. A
Nação. Rio de Janeiro, 14/01/1927, p. 3 e 6.
223
70
- Política do Distrito Federal. No meio da “bagunçada” geral, há um homem: Azevedo
Lima. A Nação. Rio de Janeiro, 14/01/1927, p. 6; A politiquice carioca. Nem Sampaio nem Irineu
representam o interesse d classe pobre!. A Nação. Rio de Janeiro, 28/01/1928, p. 6; A avacalhação
política do Distrito. Ninguém quer descobrir as baterias... – Existe muita “trancinha” por aí... – O
lema é este: salve-se que puder... . A Nação. Rio de Janeiro, 05/02/1927, p. 6.
71
- Como goiabas comidas de “bicho”, os políticos burgueses estão caindo de podres!!!. A
comédia dos Endiabrados de Ramos. Nem Irineu nem Sampaio! Nem Maurício nem Bergamini! Só
João Pimenta e Azevedo Lima!. A Nação. Rio de Janeiro, 09/02/1927, p. 2.
224
Silveira como “genro do jogador Antônio Azeredo, senador feudal por Mato
Grosso, instrumento de Epitácio e Bernardes”72. E assim por diante.
Um dos poucos a receber um tratamento “neutro”, o que valeu aos
comunistas estocadas de Maurício de Lacerda, foi o jornalista Mário Rodrigues,
diretor do diário carioca A Manhã. O Bloco Operário, que o qualificava de liberal,
reconheceu que, durante o governo Bernardes, Rodrigues sempre deu espaço
nas páginas de seu jornal à “vanguarda operária, que através delas travou rudes
batalhas contra os agentes da burguesia e, ainda agora, conseqüente com seu
ponto de vista liberal, tem A Manhã combatido ao nosso lado contra os botes da
imprensa da direita”. Porém, deixou claro que, naquele instante, estavam
colocados em campos distintos73.
Nessa campanha, e mesmo depois, por fim, merece destaque ainda um
ponto abordado por A Nação. É o que se refere ao Poder Legislativo. Desde a
fundação do PCB, foi esta, efetivamente, a primeira oportunidade que os
comunistas tiveram, de modo ainda um tanto confuso, é verdade, de expor
publicamente algumas das concepções que possuíam a respeito do tema. Talvez
até movidos por uma necessidade de propiciar melhor coesão interna a respeito
do assunto – recorde-se o comentário do dirigente da seção regional de
Pernambuco acima registrado -, os comunistas aproveitaram-se de uma carta
enviada por “Um acadêmico comunista”, na qual, revoltado com mais um aumento
que os membros do Congresso Nacional deram a si mesmos, este sugeriu que A
Nação propusesse um inquérito sobre o que a população pensava a respeito do
Congresso Nacional, e lançaram a questão aos leitores74.
No entanto, as coisas não saíram como se imaginou. Acabaram sendo
publicadas somente duas cartas: Uma desejando que os trezentos membros do
72
- A avacalhação política do Distrito. Ninguém quer descobrir as baterias... – Existe muita
“trancinha” por aí... – O lema é este: salve-se quem puder... A Nação. Rio de Janeiro, 05/02/1927, p.
6; É dever de todo operário só votar nos seus candidatos. Abaixo os candidatos da burguesia!. A
Nação. Rio de Janeiro, 19/02/1927, p. 2.
73
- Política do Distrito. A candidatura-bomba. A Nação. Rio de Janeiro,03/02/1927, p. 6.
74
- A palavra da grande massa. Um estudante comunista propõe-nos o seguinte inquérito: Que
pensam a mocidade, os operários, empregados do comércio e funcionários sobre o Congresso? Que
todos no-lo respondam. A Nação. Rio de Janeiro, 10/01/1927, p. 3.
225
A proposição deixava explícito que o fim último dos comunistas, com relação
ao Parlamento, era a sua destruição, embora não deixasse claro o que seria
colocado em seu lugar, exceto, como ficou dito em outro lugar, a vaga noção de
um “governo da vanguarda operária, apoiado pela maioria da população em
75
- A palavra da grande massa. Que pensam a mocidade, os operários, empregados no
comércio e funcionários pobres sobre o Congresso? Um esclarecimento necessário. A Nação. Rio de
Janeiro, 13/01/1927, p. 2.
226
proveito desta mesma maioria”76. Mas isto, de qualquer modo, prosseguia o texto,
era uma tarefa que se concluiria ao final de um “longo, penoso, rude, trabalho de
anos inteiros, de organização e agitação” a que se dedicariam os comunistas, que
não eram “sectários, nem idealistas, e sim políticos realistas”. Naquele instante
era preciso fazer uso de todos os meios possíveis de combate para se chegar ao
objetivo final. Um deles era justamente a participação em eleições:
“No parlamento, os deputados pelo Bloco não irão fazer a colaboração entre
opressores e oprimidos, em benefício daqueles e prejuízo destes. Pelo contrário,
eles declararão guerra, guerra de morte aos exploradores, em nome dos interesses
da classe proletária! Não irão também republicanizar a República, isto é, consolidar
o regime de exploração das largas massas operárias por uma insignificante minoria
de capitalistas. Eles irão, sim, preparar a destruição do regime capitalista para no
lugar dele instituir o nosso regime, o regime dos pobres e oprimidos!”78
76
- Confrontemos as duas! A “democracia” burguesa no Brasil e a “democracia proletária” na
Rússia. A Nação. Rio de Janeiro, 12/02/1927, p. 3.
77
- A palavra da grande massa. Que pensam a mocidade, os operários, empregados no
comércio e funcionários pobres sobre o Congresso? Um esclarecimento necessário. A Nação. Rio de
Janeiro, 13/01/1927, p. 2.
78
- Bernardo Braúna. Candidatos do Bloco Operário. A classe operária deve estar a postos. A
Nação. Rio de Janeiro, 23/02/1927, p. 3.
227
Em outro lugar, mais outra faceta deste mesmo objeto foi explicitada: as leis.
Em uma polêmica com o candidato Henrique Dodsworth, autor da chamada “lei de
férias”, declarava-se que as leis que beneficiavam a classe operária eram, na
verdade, instrumentos utilizados pelos liberais para manter os trabalhadores em
“escravidão eterna”, evitando, também, que estes se revoltassem contra o “jugo
capitalista”. Afirmava-se, no entanto, que o Bloco Operário não era contrário a leis
que beneficiavam a classe operária - e aqui se introduzia a mesma estrutura
argumentativa empregada com relação ao Parlamento - apenas buscava
transformar a luta por melhorias imediatas, personificada aqui na chamada
“legislação social”, em “uma arma para a organização dos trabalhadores, para a
luta contra o regime da brutal e desumana exploração capitalista”79. Era, enfim,
mais um meio para se chegar ao ponto final.
Este conjunto de idéias, porém, era assimilado de modo desigual. Assim, por
exemplo, em sua primeira intervenção como aderente do Bloco Operário, falando
à assembléia do Centro Político Proletário da Gávea, Azevedo Lima afirmou que,
se o Parlamento se mostrava incapaz de resolver o problema social, mesmo
assim era necessário que o proletariado para ali mandasse os seus
representantes para mostrar a responsabilidade da burguesia pelos “graves
problemas sociais que atormentam a hora atual do mundo”80, revelando muito
mais uma compreensão moral que política a respeito do tema
Mas também ocorria o extremo oposto, onde, sob um tom mais de esquerda
acabava-se criando uma verdadeira confusão. Em um texto sem assinatura, que
manifestava revolta frente a uma proposta de aumento do número de deputados
na Câmara Federal, afirmava-se que se travava no mundo uma luta entre duas
ditaduras, a da minoria, capitalista, e a da maioria, trabalhista, como a
inusitadamente tratava o artigo. E que ambas, por serem ditaduras, eram “contra
os congressos, contra o regime do palavrório”, que não passavam de dispendiosa
inutilidade e nada mais faziam que “obedecer cegamente à vontade do executivo”.
79
- A campanha eleitoral. Um meeting pró-Dodsworth, na Gávea, transformado em meeting
pró-Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 31/01/1927, p. 2.
80
- O Bloco Operário marcha para a vitória! A Nação. Rio de Janeiro, 10/01/1927, p. 3.
228
OS COMÍCIOS
81
- Por toda parte, vai sendo reconhecido que os congressos são verdadeiras inutilidades. A
Nação. Rio de Janeiro, 31/01/1927, p. 2.
229
82
- O Bloco Operário marcha para a vitória! A Nação. Rio de Janeiro, 10/01/1927, p. 3.
230
83
- A conferência de hoje do deputado Azevedo Lima no C.A. Operários em Calçados. A
Nação. Rio de Janeiro, 15/01/1927, p. 6. A próxima conferência de Azevedo Lima, em Niterói. A
Nação. Rio de Janeiro, 19/01/1927, p. 6. Federação Operária do E. do Rio: Azevedo Lima falará no
festival do próximo dia 22. A Nação. Rio de Janeiro, 20/01/1927, p. 3. O brilhante festival da
Federação Operária em Niterói. Falam Azevedo Lima e diversos camaradas comunistas. A Nação.
Rio de Janeiro, 24/01/1927, p. 3.
84
- O Bloco Operário e Maurício de Lacerda. A Nação. Rio de Janeiro, 24/10/1927, p. 3.
85
- A campanha eleitoral. Um meeting pró-Doodsworth, na Gávea, transformado em meeting
pró-Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 31/01/1927, p. 2.
86
- Repercussão, em Campos, da candidatura de J. C. Pimenta. A Nação. Rio de Janeiro,
01/02/1927, p. 2.
87
- A assembléia de domingo da União dos Trabalhadores Gráficos. A Nação. Rio de Janeiro,
02/02/1927, p. 4.
231
88
- Grupo gráfico pró-Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 23/03/1927, p. 3.
89
- Grande festival da “Voz Cosmopolita”. Falarão Azevedo Lima e João da Costa Pimenta. A
Nação. Rio de Janeiro, 05/02/1927, p. 2.
232
90
- Joaquim Barbosa. Relatório (Seção Sindical do P.C.B.) (Julho de 26 a Janeiro de 27).
Campanha contra o bando composto por Luiz de Oliveira, Amaro de Araújo, José Soutello, Pereira de
Oliveira e outros. Rio de Janeiro, 16/01/1927, p. 2-3.
91
- Ângela de Castro Gomes (Org.). Velhos militantes, depoimentos, p. 160.
233
“[Os] ‘meetings’ serão feitos por oradores escalados pelo Bloco, nos locais de
trabalho, de forma a que os trabalhadores ouçam a palavra de sua vanguarda,
numa afirmação nítida de sua consciência de classe, de sua política proletária,
desfazendo a confusão reinante nos meios operários, confusão provocada pela
ingerência de políticos profissionais burgueses no seio da massa trabalhadora.”92
92
- As eleições fluminenses de 10 de abril. A Nação. Rio de Janeiro, 30/03/1927, p. 4.
234
93
- O grande meeting na fábrica de tecidos Confiança foi uma verdadeira vitória! A Nação.
Rio de Janeiro, 10/02/1927, p. 6. Na Gávea Proletária. O grande meeting de ontem, na Ponte das
235
Tábuas, foi uma grane demonstração. O proletariado da Gávea apóia, firmemente, o Bloco Operário.
A Nação. Rio de Janeiro, 12/02/1927, p. 6.
94
- Pela vitória do Bloco Operário! Pimenta no seio dos tecelões e tecelãs. A Nação. Rio de
Janeiro, 16/02/1927, p. 4.
236
uma novidade no cenário político brasileiro e que, pelo seu caráter independente,
propiciava uma obra de “saneamento político do país e de concentração das
forças proletárias para o embate das pugnas eleitorais”. Enfatizando que esta
novidade era o resultado de uma política impessoal de partido e de programas,
que se contrapunha ao verbalismo e ao personalismo tão em voga entre os
políticos, o dirigente gráfico afirmou que a batalha eleitoral era um episódio da
luta de classes ao qual se seguiria uma intensa luta, que contaria com a
participação dos trabalhadores, na defesa de seus interesses, fazendo da tribuna
parlamentar uma “trincheira de combate contra o capitalismo e de defesa dos
interesses proletários”. Por fim, concluiu seu discurso mostrando que o programa
do Bloco Operário era o resultado da experiência e das tradições do movimento
operário brasileiro:
95
- A campanha do Bloco Operário. Os gráficos da Imprensa Nacional e os tecelões da fábrica
Cruzeiro aplaudem calorosamente os nossos candidatos. A Nação. Rio de Janeiro, 17/02/1927, p. 4.
238
96
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 137.
97
- A campanha do Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 12/02/1927, p. 1. Os ingressos
foram vendidos no Centro Cosmopolita, União dos Operários em Fábricas de Tecidos, União dos
Trabalhadores Gráficos, Associação dos Marinheiros e Remadores, Resistência dos Cocheiros, C. A.
dos Operários em Calçado e Federação Operária do Estado do Rio de Janeiro, esta em Niterói e os
demais no Rio de Janeiro.
239
98
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 25-26. A vitória do comício do
Engenho de Dentro ontem. A Nação. Rio de Janeiro, 23/02/1927, p. 4. Maurício fascista. Como ele
prova ser inimigo da Rússia dos trabalhadores!. A Nação. Rio e Janeiro, 25/02/1927, p. 2.
240
99
- Eulália Maria Lahmeyer Lobo (coord.). Rio de Janeiro operário, p. 21.
241
100
- Eulália Maria Lahmeyer Lobo (coord.). Idem, p. 20-21.
101
- A eleição de hoje na U. O. em Fábricas de Tecidos. Votai na chapa do Bloco Têxtil. Cerca
de 300 operários e operárias têxteis recomendam aos 30.000 tecelões do Rio a chapa e o programa da
vanguarda organizadora da União!. A Manhã. Rio de Janeiro, 18/12/1926. Joaquim Barbosa.
Relatório (Seção Sindical do P.C.B.) (Julho de 26 a Janeiro de 27). Campanha contra o bando
composto por Luiz de Oliveira, Amaro de Araújo, José Soutello, Pereira de Oliveira e outros. Rio de
Janeiro, 16/01/1927, p. 2-3. O Bloco Têxtil. Consolidemos a vitória! Uma eleição operária que foi
uma luta política!. A Manhã. Rio de janeiro, 22/12/1926.
242
102
- Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral de Estatística.
Recenseamento do Brasil realizado em 1º de Setembro de 1920, Vol. II – População do Rio de
Janeiro, p. 415 e 514; O Paiz. Rio de Janeiro, 25/02/1927, p. 5.
243
O PRIMEIRO SUCESSO
103
- Aos choferes aderentes do P. C.. A Nação. Rio de Janeiro, 22/02/1927, p. 3.
104
- Daniel. Cerremos fileiras em torno do “Bloco Operário”. Voz do Gráfico. Rio de Janeiro,
nº 7, 19;/08/1927, p. 3.
105
- Os choferes oprimidos. Todos para dentro da União!. Aderi ao Congresso Sindical!. A
Nação. Rio de Janeiro, 07/04/1927, p. 2.
106
- Os dados a seguir provêm de Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.
Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de Setembro de 1920, Vol. II
– População do Rio de Janeiro, passim.
244
107
- Aqui reproduzimos o modo de cálculo que empregamos para obter o número de
analfabetos com mais de 21 anos no Brasil.
245
Estes números podem ser cotejados com estimativas e dados oficiais que
encontramos para os anos de 1926 e 1927. Estes apresentavam, para o ano de
1926, uma população de 1.360.586 habitantes para o Distrito Federal e, para o
ano de 1927, informavam que o número de eleitores existentes seria de 68.177,
isto é, cerca de 5% da população108. Assim, pode-se crer que pouco mais da
metade da população potencialmente alistável do Distrito Federal efetivamente o
fazia.
108
- Dados retirados, respectivamente, de Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e
Comércio. Instituto de Expansão Comercial. O Brasil atual, p. 11 e Brasil. Ministério das Relações
Exteriores. Serviços Comerciais. Brasil, estatísticas e diagramas, p. 4. A Nação, em uma nota
informou aos seus leitores que o número de eleitores alistados era superior a setenta mil no Distrito
Federal (As eleições de ontem. Formidável abstenção. A Nação. Rio de Janeiro, 04/07/1927, p. 4.).
109
- Centro Político Proletário da Gávea. Todo operário, empregado, lavrador pobre ou
pequeno funcionário deve ser eleitor! Eleitor do Bloco Operário e Camponês! Proletários, alistai-vos
no 1º Distrito!. A Esquerda. Rio de Janeiro, 28/02/1928, p. 4. Brasil. Congresso Nacional. Câmara
dos Deputados. Anais da Câmara dos Deputados 1927, vol. I, p. 177. O jornal governista O Paiz, em
editorial comentando o que foram as eleições pelo País afora, informava que no Distrito Federal
houvera uma abstenção de mais de 60% dos eleitores (O pleito eleitoral de 24. Como ele transcorreu e
qual será o seu resultado. O Paiz. Rio de Janeiro, 27/02/1927, p.5).
247
110
- O pleito eleitoral de 24. Como ele transcorreu e qual será o seu resultado. O Paiz. Rio de
Janeiro, 27/02/1927, p. 5. Entre os seis reeleitos O Paiz também incluía o nome de Francisco Antônio
Rodrigues de Salles, que fora deputado de 1912 a 1914 e de 1918 a 1923. Embora tecnicamente não
fosse correto considerá-lo como reeleito, a sua passagem anterior, não tão afastada, como fora a de
Flávio Amaro da Silveira, este considerado como novo eleito, embora tivesse sido deputado de 1915 a
1917, e a sua ação política fizeram com que O Paiz o considerasse reeleito.
111
- Os resultados do pleito de ontem. A grande vitória do Bloco Operário. A Nação. Rio de
Janeiro, 25/02/1927, p. 1.
248
112
- Ainda depois da derrota, Maurício continua a mistificar a opinião pública. A Nação. Rio
de Janeiro, 26/02/1927, p. 2.
113
- Está provado que o PSB não existe. O julgamento implacável das eleições de 24 de
fevereiro. A Nação. Rio de Janeiro, 02/03/1927, p. 1.
249
114
- Adotamos aqui os números apresentados, seção a seção, por O Paiz em suas edições de 25
e 26 de fevereiro, os únicos que encontramos com este nível de detalhe, pois os demais órgãos de
imprensa pesquisados, inclusive A Nação, apresentavam apenas totalizações. Isto levava a que às
vezes um mesmo órgão apresentasse dois números diferentes para um mesmo candidato, sem que
isso, no entanto, alterasse sua colocação na ordem dos candidatos.
115
- Ainda as eleições de 24 de fevereiro. Significativas revelações que os algarismos nos
fornecem. Porque o comunismo há de triunfar. A Nação. Rio de Janeiro, 05/03/1927, p. 1.
250
defecções da base anterior à alteração. Isto nos permite dizer que não somente o
Bloco Operário recompôs como aumentou sua votação.
Já com relação a João da Costa Pimenta, a avaliação era de que sua
votação fora além da expectativa, sendo a maior surpresa das eleições:
Mesmo frente a uma irada carta de um gráfico, que dizia que sentia
desprezo por pertencer à corporação gráfica porque os seus seis mil
companheiros de categoria, por “falta de consciência”, deixaram de eleger
Pimenta, A Nação respondia que não se devia confundir quantidade com
qualidade, pois, apesar de somente uma minoria de operários estar qualificada
para votar nas eleições, a votação de Pimenta significou a ação de eleitores
livres, que sufragaram o nome de Pimenta “por opinião, por convicção, por
partidarismo”, o que, assegurava A Nação, nenhum outro candidato tivera117.
Na distribuição dos votos do 1º Distrito, na apreciação feita pelo Bloco
Operário em relação à votação de João da Costa Pimenta, chamava-se a atenção
para certas votações como sendo o resultado de um trabalho feito em
determinadas categorias de trabalhadores. Assim ocorrera na Gávea e nas
Laranjeiras, locais de concentração de fábricas, sobretudo têxteis, em
Sacramento, cuja votação era atribuída aos “eleitores sócios” do Centro
Cosmopolita, e em Santana, onde predominava o “eleitorado operário”.
116
- A oposição em marcha. A Nação. Rio de Janeiro, 25/02/1927, p. 1.
117
- Euclydes D. A. Pessoa. Carta aberta ao amigo e colega João Jorge da Costa Pimenta. A
Nação. Rio de Janeiro, 17/03/1927, p. 2.
251
118
- Ainda as eleições de 24 de fevereiro. Significativas revelações que os algarismos nos
fornecem. Porque o comunismo há de triunfar. A Nação. Rio de Janeiro, 05/03/1927, p. 1.
252
Barboza teve uma votação menor que a do gráfico, ficando, porém, ressalvado
que não se pode determinar com precisão se isto de fato ocorreu.
Por fim, havia um último ponto da avaliação feita pelo Bloco Operário que o
fazia, de certo modo, comungar com o ponto de vista expresso pelo O Paiz, o qual
dizia que os resultados da eleição mantinham o perfil conservador do Congresso
Nacional. A Nação afirmava que havia uma tal situação de ódio da população
contra o governo que muitos dos deputados eleitos o foram pela etiqueta que se
punham de oposicionistas, sem que, na verdade, o fossem. O maior exemplo
253
119
- A oposição em marcha. A Nação. Rio de Janeiro, 25/02/1927, p. 1.
120
- Palavras de Azevedo Lima. A Nação. Rio de Janeiro, 01/03/1927, p. 2. Grupo gráfico
pró-Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 23/03/1927, p. 3. Ver também A bandeira vermelha
tremulará pela primeira vez no Congresso Nacional! A Nação. Rio de Janeiro, 26/02/1927, p. 1 e 4.
121
- Vida do Partido: C.C.E. A Nação. Rio de Janeiro, 18/03/1927, p. 2.
254
122
- As eleições municipais de amanhã. Declaração do Bloco Operário. A Nação. Rio de
Janeiro, 02/07/1927, p. 1. No espaço de tempo decorrido entre a decisão (18 de março) e a publicação
da nota decorreu o processo de aprovação da “Lei Celerada”, o que ajuda a compreender o tom mais
sectário da nota do Bloco Operário.
255
caso de Niterói, houve uma ênfase na categoria dos marítimos124. E, por fim,
embora em menor volume, também as páginas de A Nação cobriram a campanha.
123
- As próximas eleições fluminenses. Manifesto do Bloco Operário ao proletariado do Estado
do Rio. A Nação. Rio de Janeiro, 29/03/1927, p. 2.
124
- De acordo com os dados do Censo de 1920, em Petrópolis, cuja população era de 65.574
habitantes, havia 1.000 tecelões do sexo masculino, maiores de 21 anos. Era a quarta categoria da
cidade. Antes dos tecelões estavam os trabalhadores agrícolas, com 5.291, os comerciários, com
1.310, e os trabalhadores da construção civil, com 1.119. Já em Niterói, com 86.238 habitantes, o
maior contingente profissional era o dos marítimos e fluviais, com 3.228 trabalhadores do sexo
masculino, maiores de 21 anos. O segundo era o dos comerciários, com 2.832 (Cf. Brasil. Ministério
da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil
realizado em 1º de Setembro de 1920. Vol. IV - População (5ª parte) Tomo II, p. 444-445 e 448-449).
125
- As “eleições” no E. do Rio. Apesar da compressão e da fraude, os candidatos do Bloco
Operário apareceram com votação que seria vitoriosa, se o pleito fosse verdadeiro. A experiência, no
entanto, foi ótima. A Nação. Rio de janeiro, 12/04/1927, p. 1 e 4; Ainda as “eleições” no e. do Rio.
As manobras de Norival Penna Mallat. Os 2.209 votos de Raphael não aparecem nas estatísticas do
Ingá. A Nação. Rio de janeiro, 14/04/1927, p. 1; Ecos do pleito fluminense. Como ocorreram as
coisas na 13º seção de Niterói. Conta de chegar: 321 eleitores, 301 para o governo, 20 para a
oposição. A Nação, 16/04/1927, p. 1 e 4; As eleições de 10 de Abril em Petrópolis. Impressões do
candidato do Bloco Operário. A Nação. Rio de Janeiro, 18/04/1927, p. 2.
257
Mas mesmo assim, sob nossos olhos, houve fraude na apuração dos votos
para presidente, vice-presidente e prefeito.
Passava já de duas horas da madrugada. Norival, que estava presente,
mandou Esteves perguntar-nos se exigíamos a apuração daqueles votos. Nós, de
cálculo pensado, dissemos que não, que aquela apuração não nos interessava.
Vimos então, com os nossos próprios olhos, Norival, Supremo Eleitor, eleger o
presidente, o vice-presidente e o prefeito...
Ele apanhou uma folha de papel e fez a... apuração. Eram 321 eleitores, os
que haviam comparecido na 13ª seção. Norival dividiu-os assim: 301 para o
governo e 20 para a oposição...
Tínhamos, pois, a prova testemunhal da fraude. Tínhamos a certeza de que
nas outras seções, que não pudemos fiscalizar pessoalmente, os votos que
tivemos foram ‘atribuídos’ pelo supremo Eleitor Norival. Queríamos uma prova de
que havíamos sido roubados. Estávamos satisfeitos.”126
126
- Ecos do pleito fluminense. Como ocorreram as coisas na 13º seção de Niterói. Conta de
chegar: 321 eleitores, 301 para o governo, 20 para a oposição. A Nação, 16/04/1927, p. 1 e 4.
127
- Homero Barbosa dos Santos. A Coligação Operária e a mentalidade proletária atual.
Praça de Santos. Santos, 09/12/1927, p. 3.
259
Enfim, os comunistas começavam a se dar conta que era preciso mais que o
debate ideológico, a conquista das mentes. Era preciso disputar com a burguesia
o espaço no campo político-eleitoral. Para isso, se fazia necessário constituir
estruturas organizativas que tanto superassem o problema da arregimentação de
eleitores - pois o alistamento, ou seja, a obtenção do título de eleitor, era uma
operação propositadamente complexa, como vimos acima, que, para uma parte
significativa dos trabalhadores, requeria auxílio – como o da pouca participação
ativa no processo eleitoral por parte dos trabalhadores. Particularmente neste
último ponto, a longa citação acima é exemplar, pois, além da denúncia da fraude,
ela mostrou que uma presença ativa no processo eleitoral poderia muito bem
garantir a expressão da vontade dos interesses dos trabalhadores nas urnas.
No entanto, neste campo permanecia intocado um fundamento de ação, que
era o enfoque da questão político-eleitoral feito a partir da visão sindical. Houve,
como vimos, no caso do Distrito Federal e do Estado do Rio de Janeiro, uma
condução de campanha feita a partir da ótica de que ela deveria ser conduzida
privilegiando-se as categorias profissionais, com maior ênfase nos têxteis nestas
duas eleições. Isto se casava com o destaque dado a questões afetas ao mundo
sindical no programa apresentado e também tinha reflexos na formulação aí
existente de “direitos políticos de classe”. No entanto, isto acabava chocando-se
com a proposta de aliança com a pequena burguesia urbana, embora tal conflito
acabasse atenuado pelo emprego de reivindicações como anistia, voto secreto.
Esta visão do ângulo sindical acabou dificultando uma ação mais abrangente nas
campanhas eleitorais. Com exceção dos gráficos, levando-se em conta as
categorias nas quais os comunistas tinham influência e militância, havia
importantes índices de analfabetismo e um considerável número de estrangeiros
entre os trabalhadores dos grandes centros urbanos, o que reduzia
128
- As “eleições” no E. do Rio. Apesar da compressão e da fraude, os candidatos do Bloco
Operário apareceram com votação que seria vitoriosa, se o pleito fosse verdadeiro. A experiência, no
entanto, foi ótima. A Nação. Rio de janeiro, 12/04/1927, p. 4.
260
CANDIDATURAS DE CLASSE
A INTERVENÇÃO DO P.C.B.
socialistas, que se apresentam aos sufrágios proletários. O P.C. quer unir, reunir numa frente
única todas as forças proletárias que se aprestam para o próximo combate eleitoral. É o
próprio interesse proletário – que o P.C. põe acima de tudo, visto como o interesse
proletário é o próprio interesse do comunismo – que comanda, em momentos tais, a coesão
e a unificação das forças diante do inimigo comum. E como nós não fazemos questão de
nomes pessoais – guardadas, é claro, certas exigências mínimas – porém, sim, de programa,
de compromisso coletivo, convidamos o P.S.B. a integrar-se na formação do Bloco
Operário, sob cuja bandeira comum, batalhando sobre a mesma comum plataforma
proletária, se apresentarão seus candidatos, no Distrito Federal e nos Estados. Falando claro
e franco, nós não acreditamos na sinceridade dos chefes do P.S.B. nem dos seus candidatos,
e muito menos em sua influência ou força eleitoral, mas estamos prontos a apóia-los, desde
que assumam publicamente, perante o proletariado, o compromisso de defender e submeter-
se à plataforma proletária do Bloco Operário.
Não sabemos ainda que atitude vão tomar, com relação às próximas eleições, o Centro
Político Operário, o Centro Político dos Choferes, o Partido Unionista dos Empregados no
Comércio, o Centro Político Proletário da Gávea e o Centro Político Proletário de Niterói.
Quanto a estes dois últimos, não temos dúvida de que formarão ao nosso lado, dadas as
afinidades entre o seu programa e o nosso. Quanto aos outros três, não sabemos se
pretendem apresentar candidatos próprios ou apoiar eventualmente tais ou quais candidatos.
Seja como for, tornamos extensivo a essas organizações políticas operárias este convite para
sua adesão ao Bloco Operário, na base dos princípios e reivindicações mais adiante
expostas.
É isto precisamente que nós vimos propor. O Partido Comunista, cônscio de que os
interesses supremos do proletariado devem ser postos acima das tendências desta ou
daquela facção política, propõe a formação de uma frente única, de um bloco operário de
todos os candidatos, partidos e grupos que vão disputar as próximas eleições alegando ou
pleiteando representação das classes laboriosas. O Partido Comunista não pretende
concorrer com candidatos próprios e de tal sorte dividir as forças operárias. O Partido
Comunista, que pleiteia a vitória da política proletária independente, propõe, portanto, a
concentração de todas as forças operárias. O Partido Comunista está disposto a apoiar a
campanha eleitoral dos candidatos e demais grupos e partidos que aceitem travar a batalha
na base em comum na base de uma plataforma comum, segundo um plano comum.
Demais disso, o Partido Comunista, interpretando o verdadeiro e instintivo
pensamento de classe das massas trabalhadoras, pretende por este meio iniciar uma vasta
campanha de saneamento do meio político nacional, combatendo sem tréguas a política
personalista, individualista e irresponsável dos cabos eleitorais sem princípio, sem programa,
sem finalidade. É preciso sanear a política e para isto é preciso intervir nela e não afastar-se
dela, deixando-a entregue aos manejos imorais de ambiciosos e negocistas sem escrúpulo. E
o primeiro passo a dar no sentido do saneamento da política está em exigir a
responsabilidade dos políticos perante as massas. Queremos uma política de princípios,
de programas, de responsabilidades.
O Partido Comunista, partido do proletariado, tem responsabilidades, defende
princípios e bate-se por um programa. Daí, sua atitude presente, saltando na arena do
combate eleitoral e convocando para a defesa em comum dos interesses do proletariado
todos aqueles que se apresentam como partidários do proletariado.
interesses da plutocracia, não poupando a crítica aos seus crimes, desmandos, abusos,
hipocrisias, explorações. Os candidatos do Bloco Operário bater-se-ão incessantemente por
uma política de responsabilidades perante as massas populares, contra a política personalista
dos conchavos e arranjos tramados à revelia do povo contribuinte.
Contra o imperialismo – Na política exterior do país, os candidatos do Bloco
Operário orientarão sua atividade no sentido da luta mais encarniçada contra o imperialismo
das grandes potências financeiras. Dentro desta orientação, os seguintes pontos serão
particularmente visados: a) oposição a todo novo empréstimo externo; b) revisão dos
contratos das empresas capitalistas estrangeiras concessionárias de serviços no Brasil; c)
nacionalização das estradas de ferro, das minas e das usinas de energia elétrica; d) extinção
das missões militar e naval estrangeiras; e) aliança com os países irmãos da América Latina,
com os países coloniais e oprimidos (as Índias, a China etc.) que lutam contra os opressores
imperialistas.
Reconhecimento “de jure” da U.R.S.S. – A União das Repúblicas Socialistas dos
Sovietes, imensa federação de povos, com cerca de 20 milhões de quilômetros quadrados e
140 milhões de habitantes é hoje uma grande potência econômica e política mundial que os
Estados mais reacionários (como a Itália, a Inglaterra, o Japão, etc.) não podem
desconhecer e cujas relações comerciais não podem dispensar. A U.R.S.S. é a aliada natural
e a esperança suprema das classes laboriosas e oprimidas do mundo inteiro, que nela têm o
exemplo prático da constituição e funcionamento da verdadeira democracia proletária, do
governo do trabalho. Ela é ainda o baluarte irredutível, o ponto de apoio principal dos povos
que lutam contra o imperialismo. Por tudo isso, os candidatos do Bloco Operário
preconizarão o reconhecimento “de jure”, pelo Brasil, do governo da U.R.S.S. e pelo
restabelecimento das relações diplomáticas, comerciais e culturais entre os dois países.
Anistia aos presos políticos – Somos partidários da mais ampla anistia aos presos
políticos de toda natureza, processados ou não, civis e militares. Pior, porém, que as prisões
sofridas pelas vítimas do sítio foram as deportações de operários para a Clevelândia, no
Oiapoque. Todos esses trabalhadores e suas famílias ficaram com a vida completamente
arruinada. Muitos deles morreram devorados pelas febres e pelas misérias daquelas regiões.
Os candidatos do Bloco Operário, representantes dos trabalhadores oprimidos, pensam em
primeiro lugar nas vítimas operárias da repressão policial. E, assim, bater-se-ão para que os
operários sobreviventes, ou as famílias dos que morreram no desterro do Oiapoque, sejam
devidamente indenizados pelo Estado, calculando-se a indenização de cada caso segundo os
salários que respectivamente ganhavam, acumulados durante o tempo decorrido, desde o dia
da prisão ao da libertação ou morte de cada qual. Esta medida justíssima de indenização
deve ser aplicada em todos os casos semelhantes aos dos vitimados no Oiapoque.
Autonomia do Distrito Federal – Entendemos que a administração do Distrito
Federal – o maior centro de trabalho do país – deve estar liberta da tutela e da opressiva
influência da política federal. Para isto preconizamos principalmente: a) a eleição do
prefeito, que deve ser responsável de sua gestão perante o Conselho Municipal; b) aumento
das cadeiras do Conselho Municipal, sendo as eleições feitas segundo o sistema da
representação proporcional (como em Buenos Aires); c) nenhuma subordinação da
administração local ao Senado Federal ou qualquer outro organismo do governo federal; d)
municipalização completa da polícia e do corpo de bombeiros, sendo os respectivos
comandantes de nomeação do prefeito.
267
A Comissão Central
Executiva do P.C.B.”
DE VOLTA À CLANDESTINIDADE
1
- Edgard Carone. A República Velha (Evolução política), p. 396.
272
“Sr. [Heráclito Fontoura] Sobral Pinto, revista por dois ministros do Supremo,
srs. [Antônio Joaquim] Pires [de Carvalho] e Albuquerque e Heitor de Souza. Isto
significa o seguinte: Washington e [Augusto] Vianna do Castello [ministro da
Justiça e Negócios Interiores] chamaram o procurador Sobral Pinto e os ministros
2
- A esquerda parlamentar se agita. O discurso de ontem do sr. Bergamini. O Combate. São
Paulo, 19/08/1927, p. 6.
3
- Paulo Sérgio Pinheiro. Estratégias da ilusão, p. 122.
273
“Na parte referente ao Brasil, o ‘Livro Branco’ – assim se chama o livro das
explicações sobre este ato violento e insidioso da diplomacia britânica – declara,
como prova dessa alegação, que no próprio Rio de Janeiro certos agentes da
espionagem russa exercem o trabalho de demolição do regime e de hostilidade à
República. Aduzindo fatos concretos, o ‘Livro Branco’ cita até nomes e endereços
de alguns desse espiões. [...]
Ora, o Partido Comunista Brasileiro, para se furtar a essa bisbilhotice
criminosa, ignóbil e inócua, para não dizer imbecil, do Governo passado [Azevedo
Lima alude à censura postal durante o estado de sítio, dk], houve por bem adotar,
a fim de receber a correspondência impressa que lhe era endereçada, constituída
por jornais, revistas, ‘magazines’, um certo número de endereços artificiais, que
pusessem os seus destinatários ao abrigo da imediata perseguição da polícia. Daí
o ter essa penetrante e perspicaz polícia inglesa descoberto os nomes de certos
destinatários que recebiam, não só da Inglaterra, mas ainda de Paris, de Amsterdã,
de Roma, de Madrid e outras grande metrópoles européias, a correspondência
relativa ao movimento social do planeta [...]
O assalto, a invasão, a busca, a depredação perpetrada pela polícia inglesa,
contra todos os princípios do liberalismo britânico, no interior de um departamento
anexo à embaixada russa, a Arcos, é bem o indício de que a Inglaterra desejava
4
- Ditadura da classe capitalista. A Nação. Rio de Janeiro, 23/07/1927, p. 1.
5
- Arcos era sigla para All Russian Cooperative Society, empresa criada em Londres em 1922,
que tinha como objetivo fomentar o comércio anglo-russo e que foi apresentada pelo governo
britânico como um reduto de espionagem e uma frente de subversão na Grã-Bretanha. Louis Fischer
informou que vários documentos dados como apreendidos na Arcos foram, na verdade, inseridos pelo
governo britânico. O secretário de estado de negócios externos Sir Joseph Austen Chamberlain
negou-se a explicar ao Parlamento a origem destes “novos” documentos (cf. Louis Fischer. Les
Soviets dans les affaires mondiales, p. 626)
274
6
- Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Anais da Câmara dos Deputados
1927. Vol. III (De 3 a 31 de Maio), p. 393 e 394. O pronunciamento foi reproduzido em A Nação em
sua edição de 28 de maio.
7
- En Brasil se prepara um proceso monstruo contra los comunistas. La Correspondência
Sudamericana. Buenos Aires, nº 28, 31/07/1927, p. 25-27. Ver também O comunismo no Brasil.
Preparava-se um movimento geral? Commercio de Santos. Santos, 07-06-1927, p. 1.
8
- John W. Foster Dulles. Anarquistas e comunistas no Brasil, p. 273. A serviço do
capitalismo estrangeiro. O governo expulsa trabalhadores do território nacional. A Nação. Rio de
Janeiro, 01/07/1927, p. 1. Continuam as deportações!. A Nação. Rio de Janeiro, 19/07/1927, p. 1.
9
- Presidium do PCB. Pela defesa do direito de greve! A Light contra as leis brasileiras. Os
acontecimentos da madrugada de sábado. Espionagem e provocação. A polícia ao serviço do
imperialismo estrangeiro. Desmascarando planos maquiavélicos. Declaração do Presidium do Partido
Comunista. A Nação. Rio de Janeiro, 06/06/1927, p. 1.
275
10
- Levantemo-nos contra os fazendeiros de café que estão vendendo o país aos banqueiros de
Londres! Abaixo o estado de sítio contra o proletariado! A Nação. Rio de Janeiro,08/06/1927, p. 1-2.
11
- Pequenos burgueses oprimidos, olhai a realidade brasileira!! Como “A Noite” e a
“Vanguarda”, o “Correio da Manhã” é um [sic] instrumento do imperialismo estrangeiro! Quem não
estiver com o proletariado e o seu partido, há de estar com Londres e Nova York!. A Nação. Rio de
Janeiro, 15/06/1927, p. 4. Ver também os artigos Proletários e pequenos burgueses oprimidos!! “A
Noite” prepara o caminho para a reação imperialista estrangeira. Defendei-vos e defendei-nos contra
276
as leis celeradas impostas por Londres e Nova York!. A Nação. Rio de Janeiro, 14/06/1927, p. 1 e 4 e
Frente única!. A Nação. Rio de Janeiro, 16/06/1927, p. 1.
12
- Stanley E. Hilton. Brazil and the soviet challenge, 1917-1947, p. 17-18; Paulo Sérgio
Pinheiro. Op. cit., p. 128-129; Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 23/07/1927, p. 2262; a
definição da “Entente” foi retirada de um pronunciamento de Toledo, visivelmente redigido por um
“ghost writer”, e publicado em Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 28/07/1927, p. 2398;
O espernear dos boiadeiros! Refutando o pai do monstrengo... A Nação. Rio de Janeiro, 19/07/19278,
p. 1; Resposta aos aleives da direita! Mais um discurso de Azevedo Lima. O silêncio bovino da
277
“Não posso, assim, sob pena de transigir com a minha própria honra, fazer
obra para o País, mediante a exibição, mais ou menos clandestina e reservada, de
documentos cuja autenticidade desde já contesto, porque se verdadeiros, se são
legítimos, se são fidedignos, não devem deixar de vir à luz da publicidade. Se são
falsos, mentirosos, encomendados, nunca deverão servir para levar o Congresso
Federal à aprovação de mediadas como esse, contrárias à própria índole de nosso
regime, ao decoro do nosso país e ao respeito que devemos aos nossos
concidadãos.”13
Esta questão levou a uma crítica formulada com muita ênfase naquele
momento, qual seja, a da subordinação do Poder Legislativo ao Executivo, o qual,
Câmara diante das duras verdades proferidas pelo deputado do Bloco Operário. A Nação. Rio de
Janeiro, 28/07/1927, p. 1 e 2.
13
- Quem é subornado pelo ouro estrangeiro?. A Nação. Rio de Janeiro, 26/07/1927, p. 1-2.
278
desse modo, dava mostras de uma completa ausência de zelo pela sua
independência.
Enquanto isso, os deputados Azevedo Lima, Adolpho Bergamini, Batista
Luzardo, Marrey Júnior, Maurício de Medeiros e os senadores Irineu Machado,
Antônio Moniz e Soares dos Santos buscaram desenvolver no Congresso
Nacional, tanto por meios suasórios como através de recursos regimentais, uma
atividade de bloqueio e retardamento da tramitação do substitutivo de Annibal de
Toledo.
Ao mesmo tempo, em uma antevisão do que ocorreria após a aprovação do
substitutivo proposto por Annibal de Toledo, vários militantes comunistas foram
vitimados pela repressão do governo: dois militantes estrangeiros, um russo, o
metalúrgico Hermann Berezin, e outro português, o padeiro José Maria de
Carvalho, foram presos e expulsos do País, também sendo aprisionados
Fernando Alô, por ter criticado o regime, Arthur Basbaum, Júlio Kengen,
Estanislau Guimarães, César Leitão, Hygino Alonso, Aristides Lobo, além de João
Freire de Oliveira, gerente de A Nação, ter sofrido uma tentativa de assassinato14.
Com o vulto das discussões chegou a ser constituída, a partir de uma
iniciativa liderada por um grupo de pessoas composto essencialmente por
jornalistas, uma organização sem caráter partidário denominada “Núcleo de
Defesa dos Direitos Constitucionais”, criada para a “manutenção do sistema
constitucional que tem permitido a formação da consciência democrata brasileira,
assegurando-nos os direitos de propriedade, de associação, de reunião e de
pensamento”15. O PCB aderiu a esta organização, ressalvando que não era
“partidário” da Constituição em vigor, mas que naquele momento julgava
necessário apoiar e aliar-se a “todos os elementos sinceros que pretendem opor
14
- Abaixo as hienas da contra-revolução! Liberdade para o jovem estudante mineiro Aristides
Lobo!. A Nação. Rio de Janeiro, 05/08/1927, p. 3.
15
- Eloy Pontes (O Globo), Rodolpho Motta Lima (Correio da Manhã), Severino Barbosa
Correia (O Globo), Barreto Leite Filho (A Manhã), Miguel Costa Filho (Jornal do Brasil), Balthazar
de Oliveira (A Esquerda), Heitor Moniz (Correio da Manhã), Carlos Maul (escritor e jornalista),
Aurélio Brito (jornalista) e João Pecegueiro do Amaral (médico). Pelas liberdades constitucionais!
Contra as leis celeradas! A Nação. Rio de Janeiro, 03/08/1927, p. 1.
279
16
- O Presidium do PCB. Porque aderimos ao Núcleo de Defesa dos Direitos Constitucionais.
A Nação. Rio de Janeiro, 04/08/1927, p. 1.
17
- Núcleo de Defesa dos Direitos Constitucionais. Manifesto à Nação Brasileira. O Combate.
São Paulo, 09/08/1927, p. 1.
18
- Entre os que votaram contra a “Lei Celerada” estavam os deputados do Partido
Democrático de São Paulo, que, no entanto, apoiavam a repressão ao comunismo, como declarara o
deputado Francisco Morato, em pronunciamento feito no dia 26 de julho de 1927: “Não podemos
deixar de conceder nosso apoio aos poderes públicos na vigilância contra o perigo dessa onda que, lá
das eminências do Kremlin, assopra o anarquismo eslavo pela superfície de toda a terra e, por outro
lado, que não queremos também deixar de salientar a repulsa que causam em nós as doutrinas e os
intentos da chamada Terceira Internacional de Moscou” (Diário do Congresso Nacional. Rio de
Janeiro, 30/07/1927 apud Maria Lígia Coelho Prado. A democracia ilustrada (O Partido
Democrático de São Paulo, 1926-1934), p. 166).
19
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondencia Sudamericana. Buenos
Aires, nº 4 (2ª Época), 15/09/1928, p. 11-15.
280
20
- Abaixo a reação imperialista!!!. A Nação. Rio de Janeiro, 11/08/1927, p. 1-3.
281
Janeiro, oitenta em São Paulo, o mesmo número no Rio Grande do Sul, sessenta
em Pernambuco e os oitenta filiados restantes divididos entre Salvador, Vitória
(12 militantes), Campos, Juiz de Fora e outras cidades22.
O PCB, em seu manifesto de encerramento de A Nação, destacou a
realização de atividades de massa (como a comemoração do 1º de Maio, a
realização do ato comemorativo do aniversário da morte de Lênin – que chegou a
ser impedido pela polícia, mas aconteceu por garantia da justiça), lutas
ideológicas (combates aos adversários da direita e da “esquerda”, luta contra o
imperialismo, campanha contra a reação e defesa da URSS) e a fundação da
Federação Sindical Regional do Rio de Janeiro.
21
- O Organizador do C.R. Circular a todos os camaradas. S.l., [mar. 1928], p. 2 (ASMOB)
22
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondencia Sudamericana. Buenos
Aires, nº 4 (2ª Época), 15/09/1928, p. 13. Le travail du P. C. brésilien (Lettre du Brésil).
L’Internationale Communiste. Paris, nº 12, jun. 1928, p. 805. La situación actual de Partido. La
Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 5 (2ª Época), 30/09/1928, p. 13. Os dados sobre
282
Vitória estão em Carta de Carlos Vilanova a Astper [Astrojildo Pereira]. Vitória, 16/05/1928
(ASMOB).
23
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondencia Sudamericana. Buenos
Aires, nº 4 (2ª Época), 15/09/1928, p. 11-15. Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol.
1), p. 338. Astrojildo Pereira. Op. cit., p. 106.
24
- Joaquim Barboza. Carta aberta aos membros do Partido Comunista do Brasil, p. 6.
283
25
- Astrojildo Pereira. Op. cit., p. 108.
26
- Paulo Sérgio Pinheiro. Op. cit., p. 210.
284
“O chefe dos ‘revoltosos’ Luis Prestes, disse que ele sabia muito bem quem
eram estes partidos ‘democráticos’ e que, por isso, seus partidários neles não
entravam, mas que no momento ele não aceitava a formação de um partido, como
lhe propunha o P.C. Dizendo-se simpatizante da União Soviética e do movimento
operário, dispunha-se a armar os operários no momento da revolução e de dar-lhe
a liberdade. Quanto à formação de um novo partido, esta questão somente poderia
se colocar após a tomada do poder. No que concerne ao imperialismo, ele estava
disposto a aliar-se a um dos grupos, inglês ou americano, se isto fosse necessário,
para destruir o atual governo. Isto quer dizer que ele queria dar um novo golpe,
como o de São Paulo.”29
27
- Leôncio Basbaum. Uma vida em seis tempos (memórias), p. 50.
28
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondencia Sudamericana. Buenos
Aires, nº 4 (2ª Época), 15/09/1928, p. 11-15.
29
- Rapport sur la situation au Brésil au VI Congrès de l’I.C.. Moscou, 1928, p. 68 (RGASPI).
Ver também Le travail du P. C. brésilien (Lettre du Brésil). L’Internationale Communiste. Paris, nº
12, jun. 1928, p. 807.
285
30
- Octavio Brandão. Op. cit., p. 338. Leôncio Basbaum. Op. cit., p. 50.
286
31
- Entrevista de Octavio Brandão a John W. Foster Dulles. Rio de Janeiro, 14/12/1968 citada
em John W. Foster Dulles. Op. cit., p. 282. Octavio Brandão. Op.cit., p. 338.
32
- Internacional Comunista. Los cuatro primeros congresos de la Internacional Comunista.
Primera parte, p.156.
33
- Leon Trotsky. A revolução permanente, p. 8.
287
E a Mukden:
34
- Pierre Broué. Histoire de l’Internationale communiste, 1919-1943, p. 425-444. José
Castilho Marques Neto. Solidão revolucionária. Mário Pedrosa e as origens do trotskismo no Brasil,
p. 70-87.
289
35
- Marcos Del Roio. A classe operária na revolução burguesa. A política de alianças do
PCB: 1928-1935, p. 43.
36
- Aliança do proletariado com a pequena burguesia oprimida!! Na China heróica, os
trabalhadores manuais e intelectuais unem-se contra os imperialismos estrangeiros e os proprietários
de terra. O Brasil deve seguir o exemplo da China heróica!. A Nação. Rio de Janeiro, 13/06/1927, p.
1.
290
Enfim, com a decisão de aproximação com Luiz Carlos Prestes, o PCB levou
definitivamente a proposta de aliança com a pequena burguesia ao seu limite, o
que o fez travar relações mais próximas com alguns setores de oposição ao
regime, fazendo com que ganhasse espaços de intervenção e exposição de suas
idéias em órgãos que repercutiam as posições da Aliança Libertadora do Rio
Grande do Sul, do Partido Democrático de São Paulo e do Partido Democrático
Nacional do Distrito Federal e defendiam os posicionamentos dos “tenentes”,
como O Combate, de São Paulo, e A Esquerda, no Rio de Janeiro. Aliás, foi com
credenciais deste que Astrojildo Pereira reuniu-se com Prestes, publicando,
posteriormente, material sobre o encontro em suas páginas. Fato, aliás, que não
passou desapercebido àqueles que tinham uma leitura mais fina da situação
política: o que estaria fazendo o secretário geral do PCB com Prestes?
Certamente não era apenas trabalho jornalístico...
37
- Ver a íntegra dos Estatutos do BOC no Anexo VII.
292
38
- Veja-se, no Anexo VIII, o programa do Grupo Gráfico Pró-Bloco Operário.
39
- Bloco Operário e Camponês. Programa e estatutos, passim.
40
- Astrojildo Pereira. Formação do PCB, p. 102.
293
Nos primeiros dias de outubro de 1927 Azevedo Lima, depois de fazer uma
palestra na União dos Trabalhadores Gráficos de São Paulo sobre a
reorganização e a atuação dos trabalhadores do Distrito Federal, deu uma longa
entrevista ao diário paulistano O Combate 42. Nela o deputado do BOC afirmava
que voltava ao Rio de Janeiro com uma impressão desagradável do proletariado
de São Paulo. Azevedo Lima declarou que esta sua opinião decorria da quase
completa desorganização da classe trabalhadora, que, naquele momento, apesar
de contar com mais de duzentos mil trabalhadores, possuía atuantes “apenas três
ou quatro associações sindicais”43. Categorias antes fortes e organizadas, como
metalúrgicos, trabalhadores da construção civil, trabalhadores em transporte,
naquele momento viviam em um “marasmo criminoso, acovardadas diante dos
arreganhos policiais e juguladas miseravelmente ao carro de ouro da burguesia”.
O deputado do BOC concluiu sua entrevista afirmando que, apesar disso, tinha a
esperança de que os trabalhadores de São Paulo imitassem o exemplo dos
trabalhadores cariocas e se organizassem sindical e politicamente. Apesar
dessas críticas, uma nova visita foi demandada pelos comunistas de São Paulo,
41
- Rapport sur la situation au Brésil au VI Congrès de l’I.C.. Moscou, 1928, p. 67 (RGASPI).
42
- É preciso organizar o proletariado de S. Paulo. Fala-nos o deputado Azevedo Lima. O
Combate. São Paulo, 10/10/1927, p. 3.
43
- Em outro lugar eram citadas, além da UTG, a União dos Artífices em Calçados e Classes
Anexas, a União dos Canteiros e “A Internacional”, entidade esta que agrupava os empregados em
hotéis, restaurantes, cafés, bares e similares (O proletariado de S. Paulo agita-se para a conquista do
benefício da Lei de Férias. Fala-nos o sr. Ísis de Sílvio, membro da comissão que esteve no Rio de
Janeiro. O Combate. São Paulo, 23/01/1928, p. 1). Já outro militante do PCB, o gráfico Mário
Grazzini, apresentou à imprensa carioca um panorama mais pessimista, indicando apenas três
entidades: a UTG, a União dos Canteiros e A Internacional (cf. A polícia de Santos vai deportar
dezenas de operários! A Esquerda. Rio de Janeiro, 07/02/1928, p. 6.).
294
pois era inegável que a sua presença era fundamental para agregar maior
militância em torno da criação do BOC de São Paulo.
As críticas de Azevedo Lima à falta de organização ao movimento operário
de São Paulo, na verdade, refletiam apreciações de há muito existentes dentro
das fileiras comunistas. Tais apreciações apontavam para vários fatores,
passando desde a influência por parte dos anarquistas sobre o movimento
operário paulista até a existência de uma forte repressão, mas, em nosso caso,
também para uma fraca implantação dos comunistas. São Paulo sempre foi
considerado um dos pontos fracos da implantação do PCB pelo País, desde sua
fundação. Era, como afirmou um de seus dirigentes, “a vergonha, a imoralidade, é
o terror, da obra revolucionária do P.C.B.”44. Embora seu crescente
desenvolvimento industrial estivesse na base de um importante segmento da
classe operária brasileira – pois, desde 1910, o Estado de São Paulo ocupava o
primeiro lugar na produção industrial do País -, as idéias do PCB não se
conseguiam fazer ouvir na cidade. Octavio Brandão apontava como causa
principal o fato de a direção do partido não ter se empenhado nunca em enviar
quadros qualificados para realizar este trabalho. Na época, os militantes
paulistas, por sua vez, queixavam-se com freqüência da falta de atenção e
recursos colocados à disposição e também pelo fato de, ao invés de investir em
recursos humanos, a direção do PCB deslocava militantes que se destacavam em
São Paulo para outras regiões:
Tal situação era tão evidente que no III Congresso do PCB, realizado em
dezembro 1928 / janeiro 1929, houve um ponto específico de sua ordem do dia
dedicado à questão paulista, mas que, mesmo assim, apesar de ter-se aí lançado
44
- Aristides Lobo. Carta particular à CCE do PCB. São Paulo, 26/06/1928 (TSN).
295
45
- Heitor Ferreira Lima. Evolução industrial de São Paulo, p. 86. Octavio Brandão. Otávio
Brandão (Depoimento, 1977), p. 38. Aristides Lobo. Carta particular à CCE do PCB. São Paulo,
26/06/1928 (TSN). A citação foi extraída de Carta de Everardo [Dias] a Gildo [Astrojildo Pereira].
São Paulo 12/08/1928 (ASMOB). Astrojildo Pereira. Formação do PCB, p. 133.
46
- A citação é de Plínio Mello. A questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo,
21/04/1928, p. 1 (AE-D). As demais informações provém de: CCE do PCB. O BOC de S. Paulo e as
eleições de 24 de fevereiro. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 3, s.d., p. 13 e Comitê Regional. O Bloco
Operário e Camponês e o seu apoio ao Partido Democrático nas eleições de Fevereiro. São Paulo,
03/03/1928.
296
47
- No país das leis celeradas o operariado não tem direitos! A Esquerda. Rio de Janeiro,
18/01/1928, p. 1 e 6; O proletariado de S. Paulo agita-se para a conquista do benefício da Lei de
Férias. O Combate. São Paulo, 23/01/1928, p. 1; Movimento Operário. O Conselho Nacional do
Trabalho enviou aos membros da delegação dos operários paulistas, um ofício, confirmando a vitória
obtida. O Combate. São Paulo, 31/01/1928, p. 3.
297
48
- Zarabatana. O proletariado e as eleições. O Combate. São Paulo, 24/01/1928, p. 6.
49
- Zarabatana. O proletariado e as eleições. O Combate. São Paulo, 31/01/1928, p. 3;
Zarabatana. O proletariado e as eleições. O Combate. São Paulo, 01/02/1928, p. 6; Zarabatana. A luta
298
Este enfoque incomum, como se verá mais adiante, pode ser relacionado
com a particular visão que parte dos comunistas de São Paulo possuíam a
respeito da questão da aliança com a pequena burguesia e o ponto de vista que
estes tinham a respeito do partido que em São Paulo se dizia vinculado a este
setor, o Partido Democrático de São Paulo.
de classes no campo eleitoral. O Combate. São Paulo, 06/02/1928, p. 6; e Zarabatana. A luta eleitoral
das classes. O Combate. São Paulo, 09/02/1928, p. 6. A citação foi extraída do primeiro texto.
50
- O proletariado intervirá nas próximas eleições. A fundação do Bloco Operário e Camponês
em São Paulo. O Combate. São Paulo, 26/01/1928, p. 3.
299
51
- Nas eleições de 1928 para vagas a deputados e senadores, sessenta e dez, respectivamente,
no Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, o Estado estava dividido em dez distritos. O
primeiro era composto pelos seguintes municípios: Cananéia, Capital (sede), Cotia, Guarulhos,
Iguape, Iporanga, Itanhaém, Itapecerica, Juqueri, Parnaíba, Santo Amaro, Santos, São Bernardo, São
Vicente e Xiririca (cf. § 2º do art. 3º do Decreto nº 4.341, de 12/01/1928).
300
52
- Homero Barboza Jr. Nestor Pereira Júnior, candidato do povo trabalhador. Praça de
Santos. Santos, 14/02/1928, p. 4. A frase citada é de João Freire de Oliveira. Os empregados no
comércio e a Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 28/04/1928, p. 3.
53
- Comitê Regional do Bloco Operário e Camponês de S. Paulo. Apelo aos operários da
cidade e do campo, aos empregados no comércio, aos trabalhadores em transporte, aos pequenos
funcionários públicos, aos eleitores pobres em geral do Primeiro Distrito. O Combate. São Paulo,
02/02/1928, p. 6. O manifesto também foi publicado em Praça de Santos. Santos, 04/02/1928, p. 3 e
301
55
- Homero Barboza Jr. O deputado Azevedo Lima e o candidato do Bloco Operário e
Camponês de São Paulo. Praça de Santos. Santos, 16/02/1928, p. 3.
56
- Ver Prospero Ottaiano. Aos gráficos de São Paulo. O Combate. São Paulo, 13/02/1928, p.
6.
304
57
- Comitê Regional. O Bloco Operário e Camponês e o seu apoio ao Partido Democrático nas
305
61
- Comitê Gráfico Pró-Bloco Operário. Aos gráficos paulistas. O Combate. São Paulo,
18/02/1928, p. 6.
307
62
- Os trabalhadores da Paulicéia não podem ser votados! A Esquerda. Rio de Janeiro,
22/02/1928, p. 6.
63
- As caravanas democráticas e o sr. Júlio Prestes. O falso liberalismo do “futuro” presidente
da República. A Esquerda. Rio de Janeiro, 14/02/1928, p. 2. A nota do chefe de polícia está transcrita
em As eleições estaduais em S. Paulo. Circular do chefe de polícia do Estado. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 11/02/1928, p. 3.
64
- Manoel Nestor Pereira Júnior, Ísis de Sílvio e Plínio Mello. Carta aberta ao chefe de
polícia de São Paulo. O Combate. São Paulo, 18/02/1928, p. 2. As eleições de 14 do corrente. O que
disse o sr. Secretário da Justiça a um jornal carioca. A atitude que manterá, no pleito, o sr. Júlio
Prestes. Assim seja!. O Combate. São Paulo, 18/02/1928, p. 1. A propaganda eleitoral. Belemzinho
vibrou, ontem, ouvindo os oradores do Partido Democrático. O indescritível entusiasmo popular.
Maurício de Lacerda eletrizou o auditório enorme, presa de sua palavra fluente. O Combate. São
Paulo, 17/01/1928, p. 1.
308
BOC e de quatro anarquistas, feitas alguns dias antes, não pretendia seguir o
mesmo caminho. No dia 17, pouco antes da libertação dos dois militantes do
BOC, foi preso o presidente da “A Internacional”, João Nunes65. Logo depois, a
polícia invadiu algumas entidades sindicais. Tal quadro fez com que, no dia 20 de
fevereiro, a direção do BOC-SP avaliasse que este conjunto de episódios,
interpretado como o desencadeamento do terror no seio da classe operária,
significava a negação do direito à sua representação política. Frente a isso,
sentia-se obrigada a retirar a candidatura do Manoel Nestor Pereira Júnior. Com
sua retirada do pleito restavam dois partidos “não proletários, um, governamental,
oligárquico, conservador e reacionário” e outro, na oposição, popular,
democrático e liberal, que promete ao proletariado liberdade de reunião e
associação, defendendo-o nas ocasiões precisas”, frente aos quais era
necessário se posicionar, já que a abstenção seria um modo indireto de proteger
os que oprimiam os trabalhadores. Assim, ressalvando que sua decisão não
importava em adesão, recomendava aos trabalhadores de São Paulo que
votassem nos candidatos do Partido Democrático de São Paulo66.
No dia seguinte à divulgação da retirada da candidatura, Nestor Pereira
Júnior concedeu uma longa entrevista a O Combate. Nela reiterava os
65
- No Rio, o assassinato premeditado; aqui, as prisões arbitrárias. O que nos disse Maurício
de Lacerda. O Combate. São Paulo, 17/02/1928, p. 1; Movimento Operário. Os nossos irmãos do Rio
estão sendo assassinados e os daqui recolhidos na enxovia. Ísis de Sílvio, Plínio de Mello e Costa
Pimenta foram presos, ontem, no comício do Cambuci. O Combate. São Paulo, 17/02/1928, p. 6;
Manoel Nestor Pereira Júnior, Ísis de Sílvio e Plínio Mello. Carta aberta ao chefe de polícia de São
Paulo. O Combate. São Paulo, 18/02/1928, p. 2; Movimento Operário. Continua em S. Paulo e no Rio
a perseguição aos operários. João Nunes, presidente da Internacional, foi preso ontem. Domingos
Passos, Affonso Festa, Pedro Catallo e Paschoal Martinez continuam presos. O Combate. São Paulo,
18/02/1928, p. 6; Imitando a polícia do tempo do Czar. Praça de Santos. Santos, 20/02/1928, p. 1.
Plínio Mello, indignado com a falta de solidariedade da direção do jornal em que trabalhava, a Folha
da Noite, com relação à sua prisão, dele afastou-se publicamente, classificando-o de “jornal
baixamente policial” (Plínio Mello. Carta Aberta aos srs. Olival Costa e Pedro Cunha, diretores da
“Folha da Noite”. O Combate. São Paulo, 23/02/1928, p. 3). Embora O Combate tenha noticiado a
prisão de João da Costa Pimenta, este conseguiu se evadir durante o comício. Isto foi posteriormente
confirmado na Carta Aberta de Manoel Nestor Pereira Filho, Ísis de Silvio e Plínio Mello, citada
acima. Sobre isto ver também a chamada A reação policial. A Esquerda. Rio de Janeiro, 17-02-1928,
p. 1.
66
- Comitê Regional Provisório do Bloco Operário e Camponês. O Bloco Operário e
Camponês e o Partido Democrático. A participação dos trabalhadores nas próximas eleições. O
Combate. São Paulo, 22/02/1928, p. 6.
309
67
- A frente única liberal contra o Perrepismo dominante. O apoio do B.O.C. ao P.D. nas
eleições de amanhã. O que nos diz a respeito o ex-candidato trabalhista. O Combate. São Paulo,
23/02/1928, p. 6.
68
- O situacionismo paulista quer vencer pela fraude e pela violência! Delegados militares
espalhados pelo Estado exercem compressão sobre o eleitorado. Uma representação do P.D. ao
310
presidente do Estado. Maurício de Lacerda fala a “A Esquerda” sobre a sua excursão a S. Paulo. A
Esquerda. Rio de Janeiro, 22/02/1928, p. 1 e 6.
69
- Tangapema. Apelo aos trabalhadores de S. Paulo. O Combate. São Paulo, 18/04/1928, p.
4.
70
- São Paulo. Congresso Legislativo. Câmara dos Deputados. Anais da Sessão Ordinária de
1928 da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, p. 27.
311
valor mínimo da votação a ser obtida para o candidato ser eleito em 1º turno –, no
caso do 1º Distrito, foi de 3.916, número que Feliciano superou apenas por 103
votos, o que tornava plausível a afirmativa do BOC-SP – que afirmava possuir
entre 300 e 400 eleitores certos -, embora esta não fosse de fácil comprovação.
71
- Comissão Executiva da Coligação Operária. A Coligação Operária ao proletariado. Praça
de Santos. Santos, 23/02/1928, p. 1 (grifo nosso, dk); Um velho operário. O proletariado e o Partido
Democrático. Praça de Santos. Santos, 25/02/1928, p. 3.
72
- Os camaradas de Santos obedeceram, mas protestaram. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 3,
s.d., p. 11.
313
73
- A CCE somente tomou conhecimento da decisão por meio da imprensa carioca, que
publicou o manifesto de retirada da candidatura no dia 22 de fevereiro (Cf. Os trabalhadores da
Paulicéia não podem ser votados!. A Esquerda. Rio de Janeiro, 22/02/1928, p. 6).
314
Além disso, não fazia parte da reflexão do CR-SP sobre este “gesto
altamente político” se ele havia sido realmente compreendido desse modo pelo
seu eleitorado. A julgar por um comentário posterior, inserido em um relatório
sobre as eleições de outubro de 1928, dizendo que a situação política havia caíra
em inércia, fazendo com que o BOC-SP desaparecesse da cena política, a
resposta seria negativa. Acreditamos, do mesmo modo, que os resultados das
eleições municipais de outubro de 1928 na cidade de São Paulo, quando a
candidatura do BOC-SP obteve 82 votos, são uma resposta muito clara de que
não houve esse entendimento. Afinal, é lícito supor-se que não foi muito fácil aos
cerca de 300 ou 400 eleitores – estimativa apresentada à época como o número
dos que sufragariam Nestor Pereira Júnior75 -, mesmo aos militantes, ver todos os
argumentos apresentados até o dia 20 de fevereiro em favor da sua candidatura
sendo simplesmente postos de lado em favor de uma demonstração de
“sinceridade de propósitos” aos liberais.
Além deste relatório do CR-SP, a CCE também se valeu de uma série de
cartas e de um relatório de Plínio Mello – relatório este que não foi aprovado pelo
CR-SP, “por ter sido julgado inconsistente em seus argumentos e por defender
um ponto de vista pessoal (o do acordo com o P.D.) com o que não concordava,
como não concorda, o C.R. nem a totalidade dos aderentes do P.C. em S.
Paulo”76 -, dos quais não restaram cópia, para examinar a posição dos comunistas
de São Paulo na eleição de 24 de fevereiro. Em uma longa resposta, com data de
74
- Comitê Regional. O Bloco Operário e Camponês e o seu apoio ao Partido Democrático nas
eleições de Fevereiro. São Paulo, 03/03/1928.
75
- A citação e o número de votos obtidos provêm de: Comitê Regional. As eleições paulistas e
o B.O.C. São Paulo, 18/11/1928, p. 1 (ASMOB). A estimativa dos eleitores está em Plínio Mello. A
questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo, 21/04/1928, p. 2 (AE-D).
76
- CCE do PCB. Ainda as eleições de fevereiro em S. Paulo. Tréplica final da C.C.E. Auto-
Crítica. Rio de Janeiro, nº 6, s.d., p. 16.
315
77
- CCE do PCB. O B.O.C. de S. Paulo e as eleições de 24 de fevereiro. Auto-Crítica. Rio de
Janeiro, nº 3, s.d., p. 11-16. Os grifos desta citação, extraída da página 15 do texto, são do original.
78
- CC do BOC. O BOC e as eleições paulistas de 24 de fevereiro. Manifesto do Comitê
Central condenando a atitude assumida naquelas eleições pelo Comitê Regional de S. Paulo. O
Combate. São Paulo, 23/03/1928, p. 6. O manifesto também foi publicado na edição 26 de março da
Praça de Santos, à página 4 , no nº 131, de 1º de abril, de O Internacional, à página 4,e na edição de
11 de abril de A Esquerda, à página 4.
79
- Plínio Mello. A questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo, 21/04/1928, p. 3
(AE-D).
318
80
- Plínio Mello. A questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo, 21/04/1928, p. 4
(AE-D).
319
81
- Plínio Mello. A questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo, 21/04/1928, p. 7
(AE-D). Grifos do original.
320
que a revolução já estava vencida, não tendo conseguido pelas armas os objetivos
da burguesia liberal, resolveram, obrigados por esse fato, agir dentro das normas
legais. É claro que, vencida a revolução, os liberais não podiam e não deviam ficar
de braços cruzados. O que fizeram, fundando, o P. D. logo após o 5 de Julho não
foi senão apoiar, dentro da lei, o que não conseguiram pelas armas, por terem sido
vencido. Demais, é sabido que o P.D. é constituído, em sua maioria, de
revolucionários de 1924. Que esses revolucionários não são os que nos servem,
bem o sabemos nós! Concluindo: os democráticos são contra-revolucionários no
sentido proletário, mas revolucionários no sentido burguês-liberal da palavra. Não
são revolucionários ‘russos’ de 1917, mas são revolucionários ‘franceses’ de 1789,
embora o sejam em miniatura.”82
82
- CCE do PCB. Ainda as eleições de fevereiro em S. Paulo. Tréplica final da C.C.E. Auto-
Crítica. Rio de Janeiro, nº 6, s.d., p. 17.
321
83
- Ver, por exemplo, Horácio Ramos. A base fundamental de um partido é o princípio que
defende e a sua disciplina. Praça de Santos. Santos, 01/12/1927, p. 3.
84
- Calimério dos Anjos. O ponto de vista de um guarda-livros. Praça de Santos. Santos,
17/04/1928, p. 4; João Freire de Oliveira. Rebatendo os confusionistas encapuzados. Praça de Santos.
Santos, 18/04/1928, p. 4; Calimério dos Anjos. O Partido Democrático e o proletariado. Praça de
Santos. Santos, 26/04/1928, p. 4; Homero Barbosa Júnior. O parto da montanha... Praça de Santos.
Santos, 29/04/1928, p. 4; Antônio de Miranda Henriques. A Coligação Operária é o partido da grande
massa operária. Sua política, portanto, deve ser exclusivamente proletária. Nada temos com os
Partidos Democráticos e outros. Praça de Santos. Santos, 04/05/1928, p. 3; Jota. Liberais, o vosso
partido é a Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 06/05/1928, p. 4; Homero Barbosa Júnior.
Porque os operários devem votar nos candidatos operários. Praça de Santos. Santos, 08/05/1928, p. 4;
Homero Barbosa Júnior. Porque combatemos o Partido Democrático. Praça de Santos. Santos,
09/05/1928, p. 4; Calimério dos Anjos. O Partido Democrático e o operariado. Praça de Santos.
Santos, 29/05/1928, p. 4.
323
responsável por isso em razão de ter sido ela quem determinou a permanência do
PCC, contra a vontade de seu Comitê Central, no Kuomintang. Frente a isso, a
CCE deixou seu alerta:
“Quem?, perguntou Stalin. Nós responderíamos, meses atrás: aqui está um,
no Brasil, o camarada P.M.! Estamos certos, porém, de que, a estas horas, o
camarada P.M. tenha já saído do buraco em que se meteu, cavado pelas próprias
mãos, e, reconhecendo como insubsistentes as tolices que escreveu, deixe a
pergunta sem resposta...”85
85
- CCE do PCB. Ainda as eleições de fevereiro em S. Paulo. Tréplica final da C.C.E. Auto-
Crítica. Rio de Janeiro, nº 6, s.d., p. 19.
324
86
- A idéia de “dique” foi tomada em Maria Lígia Coelho Prado. A democracia ilustrada (O
Partido Democrático de São Paulo, 1926-1934), p. 158.
87
- Rapport sur la situation au Brésil au VI Congrès de l’I.C.. Moscou, 1928, p. 68 (RGASPI).
ANEXO VII
ANEXO VIII
ANEXO IX
Candidato dum partido, ligado a este partido por laços de disciplina, o candidato
operário não vai fazer na Câmara Municipal uma política pessoal de arranjos e cambalachos
mais ou menos inconfessáveis. Eleito, sujeito ao controle do partido, ele só poderá fazer, na
C. M., a política impessoal do partido a que pertence e que nele deposita sua confiança. Isto
quer dizer que ele vai fazer a política do proletariado, política de classe, de franco e
desassombrado combate em prol da classe operária.
Para isto, ele estará sempre em contato direto e cotidiano com a massa proletária. A
esta prestará ele contas, em assembléias públicas, de seu mandato, de sua atividade na C. M.
Por sua vez a massa proletária estará sempre ao seu lado, prestando-lhe todo o apoio
necessário nas campanhas empreendidas.
Por exemplo. Agita-se, na C. M., em dado momento, uma questão de interessa para a
massa laboriosa. Que faz o representante operário? Ele irá ouvir diretamente a opinião da
massa interessada, Irá aos sindicatos e sociedades de resistência, e em assembléias
especialmente convocadas debaterá o assunto, assentando, combinando e coordenando as
medidas que devem ser tomadas. Irá aos lugares mesmos de trabalho, às oficinas, aos
armazéns, ao cais, às obras em construção, etc., etc., e convocará os trabalhadores aos
meetings da praça pública, onde a questão em foco sofrerá a discussão requerida. Ele será
assim, na C.M., um verdadeiro representante das massas laboriosas, com as quais estará em
contato permanente. Não a sua opinião pessoal, mas a opinião e a política da própria massa:
eis o que sua voz exprimirá na C.M. Ele será, na C.M., verdadeiramente, o porta-voz
autêntico da massa trabalhadora.
E é assim que o candidato da Coligação Operária contribuirá, de modo efetivo, para a
educação política das largas massas operárias. Obra primordial, só por si merecedora dos
mais decidido apoio.
Amigos ursos do proletariado dizem que este último não deve “meter-se política”. É
precisamente isto o que melhor convém à burguesia capitalista. O alheamento político do
proletariado quer dizer – o que tem sucedido até aqui – alheamento do governo e da
administração da coisa pública, isto é, daquilo exatamente que acima de tudo interessa à
maioria da população, formada pela massa trabalhadora. Alhear-se o proletariado da política
quer dizer ainda, em sentido inverso, reconhecer praticamente o privilégio da minoria
burguesa e capitalista no exercício do poder.
Não; muito ao contrário disso, o proletariado deve “meter-se” o mais ativamente
possível na política – justamente para fazer sua política própria de classe
independentemente, consultando, apenas – o que é tudo – os interesses da população
laboriosa, isto é, da maioria da população.
A Coligação Operária nasceu dessa aspiração da consciência de classe do proletariado.
Seu candidato no próximo pleito municipal, sustentando as reivindicações de seu programa e
tornando-se, na C. M., o legítimo intérprete das massas obreiras, muito contribuirá, por sua
atividade prática, para essa obra necessária de alevantamento político. Só esta consideração
330
bastaria, se não houvera outras, para que em seu nome se concentrassem todos os votos de
todos os operários, de todos os oprimidos, de todos os explorados, de todos os pobres.
Astrojildo Pereira.”
(FONTE: Praça de Santos. Santos, 30-01-1928, p. 3. Este artigo também foi publicado,
sem assinatura, sob o título “O candidato da Coligação Operária e sua obra primordial” e
com algumas alterações que refletiam a mudança de título, em O Solidário. Santos, nº 49,
31/01/1928, p. 1)
f) No Topo: As Eleições Municipais de 1928
1
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires,
nº 4 (2ª Época), 15/09/1928, p. 15.
332
repressão, já eram mais difíceis de serem realizadas. Esta opção teve suas
conseqüências, pois a lógica de ação do Bloco Operário conduzia-se, sobretudo,
pelo espectro eleitoral e parlamentar, que recobria zonas de ação de um partido
político, mas estava muito longe de abranger a totalidade de suas ações, em
especial a de um partido comunista. Isto propiciava a que parte da militância
comunista acabasse por adaptar suas ações à lógica do Bloco Operário, assim
como, ao contrário, fazia com que outro segmento da militância tentasse fazer do
Bloco um partido comunista.
Além disso, isso também tendia a gerar tensões nas relações com Azevedo
Lima, pois as ações do PCB a partir de então se fizeram sentir diretamente dentro
do BOC, o que, em termos práticos, significou a busca de um maior controle sobre
seu mandato e suas posturas.
Ao mesmo tempo em que se constituíram os núcleos organizativos no
Distrito Federal, apareceram também alguns organismos filiados ao Bloco,
majoritariamente, até março de 1928, no eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Além dos
já existentes em Niterói (RJ) e Petrópolis (RJ) e da Coligação Operária de Santos
(SP), surgiram os centros políticos proletários de Campos (RJ) e de Sertãozinho
(SP), bem como as seções do BOC de São Paulo (SP) e de Cubatão (SP)3.
Note-se a ausência do Bloco Operário de Pernambuco nesta relação.
Somente em uma Conferência Regional, realizada em fins de março de 1928,
decidiu-se, a partir de orientação da CCE, e com base em explicações dadas por
Christiano Cordeiro, reestruturar a organização eleitoral, além de determinar-se a
organização de Comitês Eleitorais nas entidades operárias e do serviço de
alistamento, iniciando-se este pelos próprios militantes comunistas, demonstrando
tais diretivas que o BOC criado em 1927 até ali apenas hibernara. Mesmo assim,
as coisas não se deram tão imediatamente. No dia 17 de agosto de 1928 foi
2
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 139.
3
- Bloco Operário e Camponês. Programa e estatutos, p. 16. Sobre o BOC de Cubatão veja-se:
Antônio Simões de Almeida. Cubatão. Proletários e camponeses!. O Solidário. Santos, nº 49,
31/01/1928, p. 2. Também encontramos, fora do Distrito Federal, menção à criação do Comitê
Eleitoral na Estação de Estrella, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 31 de março de 1928 (Cf.
333
Comitê Eleitoral com sede na Estação de Estrella, E. do Rio de Janeiro. A Esquerda. Rio de Janeiro,
14/04/1928, p. 4).
4
- Comitê Regional de Pernambuco do PCB. Resoluções da Conferência de Região. Recife,
abril de 1928. (ASMOB). Souza Barros à CCE. Recife, 10/07/1928 (ASMOB). Carta de Souza Barros
à C.C.E. Recife, 20/08/1928 (ASMOB).
5
- Circular do CR-PE. Recife, 24/09/1928 (ASMOB).
334
6
- Comitê Regional de Pernambuco do PCB. Relatório do C. R. de Pernambuco ao III
Congresso do P.C.B. Recife, dez. 1929, p. 2. (RGASPI)
7
- Duvitiliano Ramos. A organização do Partido em Campos. Campos, [dezembro de 1928]
(RGASPI).
8
- Relatório da célula de Sertãozinho. Sertãozinho, [dezembro de 1928], p. 1 (RGASPI). Vida
Operária. Vinte candidaturas operárias disputarão as próximas eleições no Distrito Federal e Estado
do Rio [há aqui um evidente erro, pois se trata do Distrito Federal e do Estado de São Paulo, dk].
Praça de Santos. Santos, 10/10/1928, p. 4; S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de
Janeiro, dezembro de 1928], p. 5 (RGASPI).
335
Guilherme Milani.
(AESP)
9
- Lílian Rodrigues de Oliveira Rosa. Comunistas em Ribeirão Preto (1922-1947), p, 40;
Relatório do Comitê de Zona de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, [dezembro de 1928] (RGASPI); Carta
de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 16/09/1928 (ASMOB); Vida
Operária. Vinte candidaturas operárias disputarão as próximas eleições no Distrito Federal e Estado
do Rio. Praça de Santos. Santos, 10/10/1928, p. 4; PCB. Teses & resoluções adotadas pelo III
Congresso do Partido Comunista do Brasil, p. 15.
336
gaúchos afirmavam que era mais fácil propagar a plataforma do BOC que a
comunista entre os pequenos lavradores e arrendatários de terra, atribuindo-se
isto ao fato destes tomarem “muito a sério as questões parlamentares” 11.
Em abril de 1928 já havia se organizado um Bloco Operário e Camponês em
Porto Alegre, o qual, como uma de suas primeiras atividades, organizou
comemorações do 1º de maio na capital gaúcha. Na cidade de Rio Grande
fundou-se em 1928 um núcleo do BOC, o qual conseguiu alistar, em um só dia,
sem preparação ou propaganda, 31 membros, mas que não conseguiu prosseguir
em suas atividades12.
Em maio de 1928 também foi fundado um núcleo do BOC em Santana do
Livramento, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai. No entanto, de
acordo com Luiz Gonzaga Madureira (um comunista de origem portuguesa que
fora dirigente do Comitê Local de Santos e que ali se encontrava fugindo da
polícia, em razão de um processo de expulsão contra ele decretado13), o seu
principal dirigente, Satyro Lacerda, orientava o BOC local a tentar se compor com
a oposição para fazer parte de sua chapa de candidatos a intendente para as
eleições que ocorreriam em julho. Temeroso com relação a este
encaminhamento, Madureira recomendava que a CCE interviesse rapidamente, a
fim de que “o mesmo caso que se deu com a formação do Partido Trabalhista” de
Santos não se repetisse14. Quase um mês depois novos detalhes aumentaram a
confusão: descobriu-se que Satyro Lacerda fora membro do Partido Comunista do
10
- Carta de Hugo Hungaretti a Camarada dr. Azevedo Lima. Porto Alegre, 27/02/1928, p. 2
(ASMOB); Carta de Hugo Hungaretti a Ilustre Camarada Astrogildo Pereira. Porto Alegre,
12/05/1928, p. 1 (ASMOB).
11
- No relatório do CR-RS apresentado ao III Congresso do PCB menciona-se o caso de um
pequeno lavrador e militante do PCB, Hyppolito da Silva, que chegou a promover “uma viagem de
propaganda do Bloco Operário Camponês ao interior do Estado”. Relatório do Comitê Regional do
R. G. do Sul. Porto Alegre, [dezembro 1928], p. 2 (RGASPI).
12
- Bloco Operário e Camponês. Ao proletariado de Porto Alegre: 1º de maio de 1928. Porto
Alegre [abril 1928] (ASMOB). Relatório do Comitê Regional do R. G. do Sul. Porto Alegre,
[dezembro 1928], p. 1 (RGASPI).
13
- O ”espantalho do comunismo”. O Combate. São Paulo, 04/02/1928, p. 1; A polícia de
Santos vai deportar dezenas de operários! A Esquerda. Rio de Janeiro, 06/02/1928, p. 2; A polícia de
Santos vai deportar dezenas de operários! A Esquerda. Rio de Janeiro, 07/02/1928, p. 6; Responda o
proletariado!. A Esquerda. Rio de Janeiro, 08/02/1928, p. 2.
337
Uruguai e deste fora expulso. Decidiu-se fundar um novo BOC na cidade, mas a
iniciativa revelou-se inócua, pois a maioria dos aderentes era estrangeira15, pouco
podendo fazer com relação à sua principal função: atuar no processo eleitoral.
Houve uma reorganização do partido no Rio Grande do Sul, tendo-se
constituído um Comitê Regional provisório em 05/07/1928, contando nesta época
com 34 membros, que aumentaram para 48 em fins de setembro, quando se
realizou a 1ª Conferência Regional. Nesta mesma época fundou-se o BOC,
impulsionado pela nova direção do CR-RS, e que não possuía nenhum vínculo
com os anteriormente organizados e que nos seus primeiros meses de existência
não conseguiu empreender nenhuma atividade de peso. Seu lançamento teve
alguma repercussão entre os sindicatos, especialmente entre os gráficos. Nestes
meses iniciais tentou estabelecer conexões com os núcleos regionais do PCB
para a expansão de suas atividades, mas sem sucesso e sem se dedicar a
disputas eleitorais16. O elevado número de militantes estrangeiros, como em
Livramento, também era um problema que ocorria em Porto Alegre, tendo a CCE
recomendado que nos seus comícios falassem preferencialmente brasileiros, “só
em último caso, poderão fazê-lo os estrangeiros”17.
A direção do BOC, a fim de estimular a criação de novos núcleos, fazia uso
da presença de Azevedo Lima em comícios, debates e palestras. Tal presença
tinha duas dimensões complementares. A primeira, de caráter mais prático,
referia-se ao fato de Azevedo Lima poder circular livremente pelo País para
“transmitir notícias e orientações”18 valendo-se de sua imunidade parlamentar. O
segundo aspecto era sua popularidade, decorrente de sua atuação como
deputado do BOC, que também auxiliava na adesão à organização. Um trecho de
14
- Carta de Luiz Gonzaga Madureira a Camarada Astper [Astrojildo Pereira]. Santana do
Livramento, 20/05/1928. (ASMOB)
15
- Carta de Luiz Gonzaga Madureira a Camarada Astp. [Astrojildo Pereira]. Rivera,
21/06/1928 (ASMOB)
16
- Relatório do Comitê Regional do R. G. do Sul. Porto Alegre, [dezembro 1928], p. 4
(RGASPI).
17
- Carta a C.C.E. ao C.R. de Porto Alegre. Rio de Janeiro, 04/10/1928 (ASMOB).
18
- Carta de Everardo [Dias] a Gildo [Astrojildo Pereira]. [São Paulo], fev. de 1928, p. 3.
(ASMOB)
338
“E, para cúmulo de tudo, a C.C.E. procura esquecer-se de que nos havia
prometido, por intermédio de Astrojildo, a vinda de Azevedo Lima a S. Paulo.
Tendo sido esse um dos motivos mais preponderantes da fundação do B.O.C. em
véspera do pleito de fevereiro (Everardo só se decidiu a respeito depois da
promessa de Astrojildo), por conseguinte sem o tempo necessário para uma séria
arregimentação eleitoral. A C.C.E. bem poderia ter se lembrado dessa promessa
antes de formular as suas críticas à nossa atitude. A vinda de Azevedo Lima era
absolutamente imprescindível. Essa foi uma das causas que mais contribuiu para o
recuo a que fomos obrigados. Não é necessário relembrar aqui os motivos que
justificavam a nossa exigência. Eles são bem intuitivos.”19
19
- Plínio Mello. A questão das eleições estaduais. Carta à C.C.E. São Paulo, 21/04/1928, p. 2.
(AE-D)
20
- Benedicto Seraphico Mimoso. Porque voto na Coligação Operária. Praça de Santos.
Santos, 23/05/1928, p. 3.
339
21
- Azevedo Lima e a imprensa burguesa. O Internacional. São Paulo, nº 121, 01/11/1927, p.
1.
340
22
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 139.
23
- Operários e lavradores. Comitê Eleitoral dos Ferroviários. A Esquerda. Rio de Janeiro,
20/08/1928, p. 4.
24
- Bloco Operário e Camponês. Programa e estatutos, p. 16. Sobre a fundação do Centro de
Espírito Santo ver: O Centro Político da Paróquia do Espírito Santo. Sua adesão ao Bloco Operário e
Camponês. A Esquerda. Rio de Janeiro, 13/02/1928, p. 5.
25
- Operários e Lavradores. Comitê Eleitoral da C. Civil filiado ao Bloco Operário e
Camponês. A Esquerda. Rio de Janeiro, 28/02/1928, p. 4; Operários e Lavradores. Comitê Gráfico
Eleitoral (Filiado ao Bloco Operário e Camponês). A Esquerda. Rio de Janeiro, 10/03/1928, p. 4;
Operários e Lavradores. Comitê Eleitoral Ferroviário, filiado ao Bloco Operário e Camponês. A
Esquerda. Rio de Janeiro, 03/04/1928, p. 4.
341
26
- Operários e Lavradores. Comitê Eleitoral das Mulheres Trabalhadoras. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 25/07/1928, p. 4; Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 348-349;
Cinco moças do Comitê Eleitoral das Mulheres Trabalhadoras, detidas pela polícia. A polícia anda
com medo das mulheres comunistas. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 10/11/1928, p. 6; Octavio
Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 109; Diário do Congresso Nacional. Rio de
Janeiro, 14/11/1928, p. 5.406. Para ver as finalidades do Comitê Eleitoral das Mulheres
Trabalhadoras ver o Anexo X.
342
27
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 34. A apuração do último pleito
carioca. Comunismo a granel... Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18/11/1928, p. 2.
28
- Daniel. Cerremos fileiras em torno do “Bloco Operário”. Voz do Gráfico. Rio de Janeiro,
nº 7, 19;/08/1927, p. 3.
343
“Um dia se reúne a direção do partido. [...] . E eu disse: ‘Já uma ou duas
vezes tentamos eleger alguém, não conseguimos porque não temos eleitorado
próprio, precisa eleitorado próprio. [...] Bem, se o partido me encarrega, eu vou
fazer esse trabalho, com uma característica: o partido não assume nenhuma
responsabilidade a respeito da escolha dos candidatos.’ Sem compreender que eu
iria levar um ano, um ano e meio, dois anos, a preparar eleitores, eleitores fiéis e
que, na hora, o partido iria naturalmente escolher o que estava acostumado.
Aqueles eleitores estavam acostumados com a minha propaganda cada dia. Bem,
o partido decidiu sem nenhum compromisso relativamente à escolha dos
candidatos, e eu fui fazer o trabalho. [...] Todo dia fazíamos propaganda pela
esquina, não conseguíamos nada, nada; mas quando nos mudamos para a praça
da República, esquina da rua da Constituição, aí começou a aparecer gente.
Aquela massa das fábricas que ia pela rua Larga, por aquela zona toda, dava
meia-volta e entreva na sede do Bloco. E eu, toda tarde, fazendo propaganda,
dando manifesto, explicações e tudo, e procurando alistar. [...] Bem, eu, todo dia,
às quatro horas da tarde, chego lá na praça da República, esquina com rua da
Constituição. Abro a porta e fico ali esperando. Chegava um e outro, às vezes
verdes, verdes, verdes e eu começava a erva brava na cabeça dessa gente,
explicando: ‘O Bloco Operário é isso, está aqui o programa. O Bloco Operário é
isso, lugar de camponês é isso e aquilo outro e tal, tal’. Creio que todo o ano de
1928 foi assim.”29
Cumpre ressaltar que, apesar do acima relatado por Brandão, sua presença
em atos públicos, comícios, debates, festivais, onde era apresentado como
“representante do BOC”, é um seguro indício de que o PCB o promovia a um
processo de exposição pública tendo em vista a apresentação de seu nome como
candidato às futuras eleições de outubro de 1928.
A partir das orientações veiculadas aos militantes para realizar sua tarefa de
“alistadores” e de propagandistas é possível ter-se uma dimensão do exaustivo
trabalho cotidiano a que se dedicaram durante este período que antecedeu as
eleições municipais de outubro de 1928:
29
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 34 e 35.
344
30
- Fackel. Contra o voto mercenário, pelo voto de classe! O Bloco Operário e Camponês é a
organização dos que votam por consciência de classe! A Esquerda. Rio de Janeiro, 29/02/1929, p. 4.
O mesmo artigo, assinado aí por Orlando Paiva, foi publicada na seção “Vida Operária” da Praça de
Santos, em sua edição de 03/03/1928.
345
Assim, depois de afirmar que mais importante que esta era a luta
extraparlamentar e ilegal, deixava-se claro que não se poderia cair no
abstencionismo, que simplesmente reforçava a burguesia. Esta, por meio de
candidatos que se faziam de “amigos das classes menos favorecidas da sorte”,
buscavam iludir os trabalhadores, para arrastá-los às urnas:
Era necessário fazer das eleições um episódio a mais da luta de classes, por
meio das quais se daria a entrada do proletariado na cena política, nela
manifestando seus pontos de vista e sua independência de classe por meio dos
346
representantes que ele próprio escolhia. Criavam-se, desse modo, “novas bases
para um mais largo movimento de massas capaz de derrubar definitivamente os
seus exploradores e levá-los à definitiva vitória contra os seus inimigos
seculares”.
Ao mesmo tempo, várias outras questões foram enfatizadas neste trabalho
“positivo”. Assim, por exemplo, foram tratadas questões como a relevância de
levar-se de modo simultâneo o trabalho eleitoral e o trabalho sindical32, o
compromisso dos representantes do BOC com seu programa, a importância da
criação de uma consciência de classe e de uma educação política dos
trabalhadores, bem como a exposição de uma série de pontos da plataforma
eleitoral do Bloco33.
Já um exemplo de subsídio ao trabalho “negativo”, posteriormente difundido
por meio de panfletos, era o que tratava sobre a política e as formas de se fazê-
la34. A política recebia uma definição extremamente utilitária e prática, sendo
considerada como uma atividade por meio da qual classes, partidos,
agrupamentos e indivíduos, valendo-se de elementos conjunturais, buscavam a
conquista do poder político e da máquina do Estado. Para tanto, explicava o BOC,
31
- P. Lavinsky. Todo operário, empregado, lavrador pobre ou pequeno funcionário deve ser
eleitor! Eleitor do Bloco Operário e Camponês! Proletários, alistai-vos no 1º Distrito!. A Esquerda.
Rio de Janeiro, 16/02/1928, p. 4.
32
- Esta questão era o reflexo da cisão que ocorrera nas fileiras do PCB em torno da Oposição
Sindical e que trataremos mais adiante. Tal tema, embora não se abordasse a questão da cisão de
maneira direta, foi tratado em artigos assinados por Tob. Guarany e publicados na coluna “Operários
e Lavradores” de A Esquerda em suas edições de 21/07/1928, 30/07/1928, 31/07/1928 e 15/08/1928.
33
- Veja-se, por exemplo, Centro Político Proletário da Gávea. Todo operário, empregado,
lavrador pobre ou pequeno funcionário deve ser eleitor! Eleitor do Bloco Operário e Camponês!
Proletários, alistai-vos no 1º Distrito!. A Esquerda. Rio de Janeiro, 17/02/1928, p. 4; Centro Político
Proletário da Gávea. Todo operário, empregado, lavrador pobre ou pequeno funcionário deve ser
eleitor! Eleitor do Bloco Operário e Camponês! Proletários, alistai-vos no 1º Distrito!. A Esquerda.
Rio de Janeiro, 23/02/1928, p. 4; Fackel. O povo brasileiro não escolhe os seus dirigentes! O Bloco
Operário e Camponês combate essa política errada. A Esquerda. Rio de Janeiro, 28/02/1928, p. 4;
Fackel. Contra o voto mercenário, pelo voto de classe!! O Bloco Operário e Camponês é a
organização dos que votam por consciência de classe! A Esquerda. Rio de Janeiro, 29/02/1928, p. 4;
Fackel. As três classes e as três políticas. Só o Bloco Operário e Camponês representa os interesses
das massas laboriosas. A Esquerda. Rio de Janeiro, 03/04/1928, p. 4.
34
- Fackel. As três classes e as três políticas. Só o Bloco Operário e Camponês representa os
interesses das massas laboriosas. A Esquerda. Rio de Janeiro, 03/04/1928, p. 4. O texto de Fackel foi
reproduzido no seguintes panfletos: Comitê Eleitoral dos Ferroviários. As três classes e as três
347
políticas. Rio de Janeiro, 1928 (RGASPI) e Comitê Central do Bloco Operário e Camponês. Votai no
Bloco Operário e Camponês. Rio de Janeiro, 1928 (RGASPI).
348
Adolpho Bergamini, Salles Filho e Irineu Machado), e, como foi dito em outro
lugar:
35
- Fackel. A política da pequena burguesia confusionista. O proletariado não deve iludir-se
com essa política!. Rio de Janeiro, 12-10-1928 (RGASPI).
36
- Fackel. Os chefes atuais do 1º distrito são instrumentos da grande burguesia conservadora.
Operários, empregados, lavradores pobres e pequenos funcionários, nem um voto sequer para esses
reacionários!!. Apoiai o Bloco Operário e Camponês. A Esquerda. Rio de Janeiro, 04/04/1928, p. 4.
350
37
- Atividade partidária. Como o Partido Democrático comemorará as datas de 1º e 3 de maio.
A Esquerda. Rio de Janeiro, 26/04/1928, p. 2; Comitê Eleitoral dos Tecelões. Operários! Cuidado
com o partido democrático – o partido da grande burguesia tapeadora. Voz Cosmopolita. Rio de
Janeiro, nº 127, 01/05/1928, p. 4; Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 346.
38
- Fackel. O partido “democrático” do Rio é um partido de grandes exploradores. Só o Bloco
Operário e Camponês defende as aspirações das massas laboriosas. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, nº 2 (2ª fase), 05/05/1928, p. 2; Lloyd George e o “Partido Democrático” do Rio. Tal partido
é dirigido por instrumentos da finança estrangeira! Só Bloco Operário e Camponês combate a finança
estrangeira, base do imperialismo! A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 4 (2ª fase), 19/05/1928, p. 1
e 2; Antônio Corrêa. O partido democrático é um instrumento dos senhores feudais. A Classe
Operária. Rio de Janeiro, nº 4 (2ª fase), 19/05/1928, p. 2.
352
Esta temática, em especial, foi abordada por se dirigir àqueles setores que
simpatizavam com o “tenentismo”, pois, quando de seus contatos com Prestes,
Astrojildo Pereira enfatizou a simpatia dos revolucionários “com nossa luta contra
o imperialismo, embora sua simpatia parta de um ponto de vista patriótico e
nacionalista”41, ênfase esta que também pesou na decisão de criação de
organizações antiimperialistas tomada nas reuniões da CCE de outubro de 1927,
questão esta que foi retomada no III Congresso do PCB. Assim, quando os
comunistas abordavam a questão do imperialismo tencionavam fazer confrontar
os tenentistas, que tinham algum posicionamento sobre o tema, e os
democráticos, que o tergiversavam.
Outro destes temas era o referente à questão do campo. Os comunistas
acreditavam que não havia chance de vitória de um movimento democrático
nacional que se limitasse às cidades, que não arrastasse o assalariado agrícola,
o pequeno lavrador sem terras e o pequeno proprietário à luta política e não
39
- Fackel. O partido “democrático” do Rio é um partido de grandes exploradores. Só o Bloco
Operário e Camponês defende as aspirações das massas laboriosas. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, nº 2 (2ª fase), 05/05/1928, p. 2.
40
- Salomão. Democracia é combate ao imperialismo. A Esquerda. Rio de Janeiro,
30/06/1928, p. 4. Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 347.
41
- Astrojildo Pereira. La situación política. La Correspondência Sudamericana. Buenos
Aires, nº 4 (2ª época), 15/09/1928, p. 14.
353
O alistamento no 1º e no 2º Distritos
42
- Salomão. O futuro democrático e o problema rural. A Esquerda. Rio de Janeiro,
09/07/1928, p. 4. Ver também outro texto de Salomão sobre o mesmo tema: Salomão. A república
democrática brasileira. Só o proletariado e a classe média poderão realizá-la. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 10/07/1928, p. 4.
354
distrito, como se recorda, era a base eleitoral de Azevedo Lima e este possuía um
candidato próprio a intendente43. A operacionalização deste acordo também podia
ser vista através de algumas notas publicadas na coluna “Operários e
Lavradores” de A Esquerda, pela qual se publicavam textos, avisos etc., do BOC,
ao lado de noticiário de entidades sindicais. Estas notas eram convocações, em
nome do BOC, solicitando o comparecimento de uma série de pessoas cujos
nomes vinham neles publicados. Estas pessoas eram chamadas a buscar seus
títulos eleitorais ou para resolver questões a eles atinentes na sede do BOC, no
caso de pertencerem ao 1º Distrito, ou na residência de Azevedo Lima, à rua de
São Christóvão, número 502, entre as 19 e 22 horas, no caso de serem eleitores
do 2º Distrito44. No entanto, surgiram sinais de que os comunistas pretendiam
alterar de algum modo o acordo de 1927. Assim, no início do ano, a imprensa
divulgou que o BOC conseguiria eleger três candidatos a intendente no Conselho
Municipal do Distrito Federal: um pelo 1º Distrito (Octavio Brandão) e dois pelo 2º
Distrito (Oswaldo de Moura Nobre, o candidato apoiado por Azevedo Lima, e João
da Costa Pimenta)45. Esta projeção, na verdade, avançava a intenção dos
comunistas de também apresentar um candidato pelo 2º Distrito, coisa que
originalmente, em 1927, parece não ter sido prevista.
43
- Operários e Lavradores. Todo operário, empregado, lavrador pobre ou pequeno funcionário
deve ser eleitor! Eleitor do Bloco Operário e Camponês! Proletários, alistai-vos no 1º distrito!. A
Esquerda. Rio de Janeiro, 16/02/1928, p. 4.
44
- Como exemplo para o 1º Distrito ver Operários e Lavradores. Compareçam ao Bloco
Operário e Camponês. A Esquerda. Rio de Janeiro, 19/03/1928, p. 4; para o 2º Distrito ver Operários
e Lavradores. Bloco Operário e Camponês. A Esquerda. Rio de Janeiro, 09/04/1928, p. 4.
45
- Vida Operária. O Bloco Operário e Camponês no Rio, provavelmente elegerá 3 intendentes
em Outubro. O despertar da consciência operária. Praça de Santos. Santos, 01/03/1928, p. 4. A
intenção de lançar três candidatos também foi anunciada na imprensa comunista internacional (Le
355
travail du P. C. brésilien (Lettre du Brésil). L’Internationale Communiste. Paris, nº 12, jun. 1928, p.
805).
46
- Operários e Lavradores. Aos eleitores do B.O.C.. A Esquerda. Rio de Janeiro, 25/07/1928,
p. 4.
47
- Ao final da assembléia solicitaram sua adesão ao BOC o Centro Político Proletário dos
Subúrbios da Leopoldina e o Comitê Eleitoral dos Marmoristas.
48
- Na verdade, embora o BOC divulgasse, na contracapa de seus Estatutos, a existência de
uma seção em Vitória (ES) e sua fundação houvesse sido comunicada à CCE em março de 1928 (Cf.
Carta de Carlos Vilanova a Camaradas. Vitória, 11/03/1928 (ASMOB)) este não teve existência real,
tanto é que, em seu relatório ao III Congresso do PCB, o Comitê Regional de Vitória afirmava que a
sua fundação era “uma das obras que pretendemos empreender o mais depressa que for possível”
(Relatório apresentado ao III Congresso do P.C.B. pelo Comitê Regional de Vitória. Vitória,
27/12/1928, p. 6 (RGASPI)).
356
Minervino de Oliveira.
49
- As próximas eleições municipais. Em reunião de ontem, os delegados do Bloco Operário e
Camponês escolheram os seus candidatos a intendente pelo 1º e 2º Distrito. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 20/08/1928, p. 6; Octavio Brandão e Minervino de Oliveira são os candidatos do Bloco
Operário. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 18 (2ª fase), 25/08/1928, p. 1; Como o parlamentar
carioca explica, definitivamente, em carta ao eleitorado, os motivos do seu gesto rompendo com os
comunistas. A Manhã. Rio de Janeiro, 13/03/1929.
357
terreno de classe pelo BOC. Isto ficava claro pelo fato de terem sido escolhidos
dois candidatos operários, que representavam uma organização operária e um
programa de reivindicações do proletariado, marcando, assim, um claro caráter de
classe. Para o PCB a escolha destes dois nomes delimitou os campos: com ou
contra o proletariado50.
Octavio Brandão.
50
- Batalha de classe. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 18 (2ª fase), 25/08/1928, p. 1 e 4.
358
“A suposta censura que fiz não é censura coisa nenhuma. Foi tudo motivado
pela surpresa que causou o ato de demissão: vocês deram uma solução rápida
demais à crise. Se bem que o ato final deveria ser esse mesmo – em todo caso
acho que vocês o precipitaram. Menosprezaram o valor de algumas formalidades,
quando mais não fosse para facilitar a justificação da atitude de vocês perante a IC
e sobretudo mostrar aos fanáticos da disciplina (que é a maioria) a sinceridade da
51
- Resolução da Conferência Regional de Organização do Rio de Janeiro apud Marcos Del
Roio. A classe operária na revolução burguesa. A política de alianças do PCB: 1928-1935, p. 48.
360
A campanha eleitoral
52
- Carta de Mário Pedrosa a Livio Xavier. Berlim, 24 de agosto de 1928.
361
Os comícios
eram previamente
preparados. Eles eram
antecedidos por uma
ou mais visitas de
militantes ou dos
próprios candidatos,
que iam aos locais de
trabalho para levantar as condições de vida e de trabalho específicas de cada um.
53
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 29/09/1928, p. 3.800. A informação sobre
os comícios do Partido Democrático está em Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro,
27/10/1928, p. 5.038.
54
- As eleições municipais de Outubro. A propaganda do B.O.C. A Esquerda. Rio de Janeiro,
22/09/1928, p. 2.
362
Quando ocorria o comício, parte dos discursos era especificamente dirigida para
aquele local de trabalho, o que auxiliava em muito na conquista da audiência55.
Octavio Brandão, mais tarde, deixou um vívido depoimento sobre estes comícios:
“Fizemos uma lista das grandes empresas do Rio de Janeiro. E, uma por
uma, na hora do almoço, ou às quatro horas, fomos para a porta, abrimos um
pano, um pano vermelho com letras brancas: ‘Parai! Assisti ao comício do Bloco
Operário’. Ele [Minervino de Oliveira] de um lado, e eu do outro. E aquela massa
parava. Nós subíamos numa pedra, num banco, num caixão, em qualquer coisa. E
começávamos: ‘pá, pá...’. Explicando. Fizemos cerca de sessenta comícios nas
grandes empresas. Imaginem vocês! Comício nas três grandes fábricas da Gávea.
Comício nas Laranjeiras, que era uma fábrica de tecidos muito importante, grande.
[...] Comícios lá no Moinho Inglês, na Saúde. Comícios lá em Deodoro. Comícios
no Engenho de Dentro. Nas grandes empresas. Falando assim diretamente,
virando a cabeça dos operários. Eram massas completamente..., que não sabiam
nada de nada. E distribuindo o programa do Bloco Operário e Camponês e o
manifesto especial e tudo mais. Esses comícios e manifestos foram decisivos.”56
55
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 39.
56
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 35; Octavio Brandão. Combates
e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 345.
57
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 144-145.
58
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 50; Octavio Brandão. Combates
e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 345.
363
de convidados, como Azevedo Lima e Castro Rebello, com teatro e “baile familiar,
acompanhado por uma excelente jazz-band”59.
Apesar de a campanha vir se desenvolvendo com intensidade, ela não
recebia espaço na imprensa, recusando-se os principais jornais a até pequenas
notas, por mais inócuas que fossem. No entanto, ela ganhou maior amplitude
após um incidente ocorrido em um comício realizado defronte o Arsenal da
Marinha no dia 27 de setembro. Com a presença de Octavio Brandão e Minervino
de Oliveira, realizava-se um comício dirigido aos trabalhadores civis e militares
das oficinas do Arsenal de Guerra e do Dique Fluminense da Ilha das Cobras,
que reuniu, segundo informações da Polícia, cerca de 500 pessoas60. Durante seu
andamento surgiu uma viatura oficial a serviço da delegacia de ordem política e
seus ocupantes prenderam os dois candidatos. A massa que assistia ao comício
cercou o carro e um dos policiais disparou contra a multidão, ferindo mortalmente
um dos assistentes, o trabalhador da Marinha Raymundo de Souza Moraes. O
acontecimento gerou um intenso debate no Congresso Nacional e repercutiu na
imprensa durante dias, permitindo ao BOC fazer uma grande agitação em torno
do assassinato de Moraes. Por outro lado, isto também provocou um
recrudescimento das ações da polícia política, que chegou a ponto de intimar
trabalhadores a comparecer à 4ª delegacia Auxiliar para prestar depoimentos a
fim de explicar por que apoiavam a campanha do Bloco Operário e Camponês61.
É possível conjeturar que à agitação promovida em torno da plataforma do
BOC tais violências e arbitrariedades também tenham se somado no sentido de
propiciar mais votos aos candidatos do Bloco Operário e Camponês.
59
- Operários e Lavradores. Grandioso festival. A Esquerda. Rio de Janeiro, 15/09/1928, p. 4.
60
- Boletim da Seção de Ordem Política e Social de 4ª Delegacia Auxiliar. Rio de Janeiro,
27/09/1929 apud Luitgarde Oliveira Cavalcanti de Barros (org.). Octavio Brandão: Centenário de
um militante na memória do Rio de Janeiro, p. 179-180.
61
- A polícia do Rio não fica atrás. O Combate. São Paulo, 29/09/1928, p. 2; Octavio Brandão.
Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 351-352; S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês.
[Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 4 (RGASPI); Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro,
27/10/1928, p. 5.037.
364
62
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 351; S. A. A vida do Bloco
Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 4 (RGASPI). Os dados deste último
documento são apontados, equivocadamente, pelo historiador russo Boris Koval como sendo
referentes às eleições de fevereiro de 1927, sendo que os assistentes aos comícios aí citados foram
transformados em militantes na sua obra (Cf. Boris Koval. História do proletariado brasileiro: 1857
a 1967, p. 215).
365
63
- Ata da reunião da C.C.E. do P.C.B., em 7 de outubro de 1928 (RGASPI).
64
- Leôncio Basbaum. Um vida em seis tempos (memórias), p. 62-63.
65
- S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 4
(RGASPI).
366
A eleição
66
- S. A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 4
(RGASPI).
67
- Brasil. Ministério das Relações Exteriores. Serviços Comerciais. Brasil, estatísticas e
diagramas, p. 4.
367
voto, desta vez ele poderia “votar em oito nomes diferentes, ou acumular todos os
seus votos, ou parte deles, em um só candidato, escrevendo o nome do mesmo,
tantas vezes quantos votos lhe quiser dar”68.
No Rio de Janeiro os agrupamentos políticos davam-se em torno das
lideranças políticas locais, tanto que a imprensa reunia os candidatos em chapas
que tinham os nomes desses chefes. Assim, para as eleições de 28 de outubro,
as cadeiras de intendentes municipais foram disputadas por 76 candidatos, cuja
maioria se reunia nas chapas Frontin-Mendes (11), Penido-Irineu Marinho (8
candidatos), Bloco Cesário de Mello (4), Grupo Bergamini (3), Grupo Salles Filho
(2), Grupo Mário Piragibe (2) e, como já vimos, Grupo Azevedo Lima (1). Também
já apareciam as formações partidárias clássicas como, além do BOC (com seus
dois candidatos), o Partido Democrático (2) e o Partido Trabalhista (1). Além
disso, havia um candidato que era ligado à poderosa concessionária anglo-
americana-canadense Light and Power, o intendente Baptista Pereira. Mas o
maior grupo de candidatos era o dos avulsos, entre os quais estavam Maurício de
Lacerda e o “intendente operário” Luiz de Oliveira, que juntava 39 nomes – dos
quais muitos também se apresentavam como vinculados a lideranças políticas,
segmentos sociais e organizações as mais variadas69.
A imprensa carioca, mesmo a mais conservadora, tinha a expectativa de que
o aumento verificado no alistamento eleitoral mostrasse um interesse maior por
parte da população no pleito e, particularmente, dele participasse para promover
uma renovação no Conselho Municipal, a fim de apagar a “penosa impressão”
deixada pelos intendentes que encerravam seu mandato. Outro diário, este de
oposição, afirmava que “desacreditado e desmoralizado, esse Conselho estava a
70
exigir uma limpeza em regra” . Enfim, havia uma unanimidade na cidade em
torno do tema.
68
- Artigo 2º do Decreto Federal nº 18.345, de 13/08/1928, que dá instruções para a eleição de
intendentes municipais no Distrito Federal.
69
- As eleições municipais. Uma lista completa dos candidatos ao pleito de domingo. Correio
da Manhã, 26/10/1928, p. 3.
70
- Eleições municipais. O Paiz. Rio de Janeiro, 28/10/1928, p. 6; As eleições municipais.
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30/10/1928, p. 4.
368
71
- As eleições municipais. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30/10/1928, p. 4. As razões
para a abstenção foram apontadas em As eleições de domingo. Os eleitos – A abstenção do eleitorado.
O Paiz. Rio de Janeiro, 29-30/10/1928, p. 2.
72
- Terminada a apuração do último pleito carioca. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
20/11/1928, p. 2.
369
Brandão, que tivera uma maior “exposição” eleitoral durante praticamente todo o
ano de 1928 – e a surda disputa eleitoral travada com a candidatura Moura
Nobre, pode ser considerada muito boa. Mais que isso, sua votação demonstra
que o BOC conseguira alguma implantação no 2º Distrito, que, conforme se
recorda, abrigava os bairros periféricos cariocas, onde havia uma grande
concentração de trabalhadores. Obviamente, não se pretende aqui negar que
houve transferência da votação de Azevedo Lima para a de Minervino de Oliveira.
No entanto, a aberta preferência dada a Moura Nobre, pois apesar de Azevedo
Lima ter anunciado seu apoio a ambos, sabemos que pendeu ele em honrar sua
palavra empenhada desde 1927, permite aventar a hipótese de um certo
descolamento em relação à votação de Azevedo Lima e, portanto, o
estabelecimento embrionário de um eleitorado próprio do BOC73.
73
- Nesta tabela apresentamos os números finais anunciados nos boletins eleitorais, constando
entre parênteses o número aproximado de eleitores que votaram em cada candidato, pois as eleições
371
A apuração e o reconhecimento
de 1927 permitiam até quatro votos em um mesmo candidato e as de 1928 permitiam ao eleitor dar
até oito sufrágios em um mesmo candidato. Os números sublinhados indicam a maior votação.
74
- Reconhecimento dos intendentes. Correio da Manhã, 02/11/1928, p. 4.
372
75
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., em 02/11/1928 (RGASPI).
76
- Publicações a pedido. As eleições municipais. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
04/11/1928, p. 6. Um relato das visitas de delegações de trabalhadores aos jornais pode ser visto em
Reconhecimento de poderes do Conselho Municipal. O que dispõe o regimento Interno dessa casa.
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 07/11/1928, p. 2 e em Eleitorado vigilante. Correio da Manhã.
Rio de Janeiro, 07/11/1928, p. 4.
373
com uma delas, a detenção teria ocorrido a pedido do intendente Clapp Filho, que
negou o fato. Levadas à 4ª Delegacia, foram interrogadas e libertadas77.
Uma tentativa de incêndio na sede do BOC e as prisões do trabalhador da
Light Antônio Cavaco e do operário da indústria de comestíveis Amaro Ribeiro em
razão de sua atuação no reconhecimento dos candidatos foram episódios que
ocorreram também naquele momento e mostravam o ambiente tenso que cercou a
apuração e o reconhecimento78.
No dia 13 de novembro foram encerrados os trabalhos de apuração do 1º
Distrito, confirmando a eleição de Octavio Brandão e iniciados os relativos ao 2º
Distrito. Na apuração destas atas, embora tivesse também feito o mesmo nas do
1º Distrito, a atuação de Edgardo de Castro Rebello foi decisiva, discutindo ata a
ata para que muitos dos votos de Minervino de Oliveira não fossem anulados e
levassem, como resultado final, no dia 18, à sua diplomação como o 12º
intendente do 2º Distrito, à frente de Carreiro de Oliveira79. Enquanto a atuação de
Castro Rebello teve um aspecto mais jurídico e formal, a qual, em razão de a
mesa diretora dos trabalhos ser formada por membros do Poder Judiciário, foi
determinante, mas nem por isso deve deixar-se de destacar, na defesa dos votos
dados ao candidato do BOC no 2º Distrito, o papel de Azevedo Lima, que, em
razão de sua experiência eleitoral, atuou de maneira complementar, e mais
voltada às questões políticas.
Ao final dos trabalhos, vinte e duas atas de seções, das quais oito
pertenciam ao 2º Distrito, não foram apuradas por terem sido lavradas em livros
distintos dos determinados em lei; por falta ou irregularidades do reconhecimento
de votos começado pelo atraso de entrega de livros pelo correio, às 10 horas e 50
77
- A apuração do último pleito carioca. O comunismo no “sexo frágil”. Lede três vezes e
passai adiante.... Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 10/11/1928, p. 6; A apuração do último pleito.
Bloco Operário e Camponês. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 10/11/1928, p. 6; Cinco moças do
Comitê Eleitoral das Mulheres Trabalhadoras detidas pela Polícia. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
10/11/1928, p. 6; A apuração do último pleito. O sr. Clapp Filho e os comunistas do “belo sexo”.
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 11/11/1928, p. 2.
78
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 14/11/1928, p. 5.406.
79
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 352. Para um
acompanhamento mais detalhado da atuação de Castro Rebello e de Azevedo Lima consulte-se o
374
“Fique sossegado. Você terá o diploma. Se não o tiver, não custará o Poder
Verificador reconstituir uma ata...”81
noticiário relativo às apurações, particularmente o do Correio da Manhã, que dedicou uma coluna
diária, “A Apuração do Último Pleito Carioca”, onde noticiava fartamente os acontecimentos.
80
- Conselho Municipal do Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões
preparatórias de 23 de Novembro a 21 de dezembro, p. 4.
81
- A apuração do último pleito carioca. O sr. Minervino será depurado? Correio da Manhã.
Rio de Janeiro, 14/11/1928, p. 6.
375
proletária; 3º) tardar o mais possível a resposta a P[enido].; 4º) continuar com a
agitação entre as massas, em favor do reconhecimento dos diplomados pelos
jornais, por comissões operárias aos jornais e aos chefes políticos, por manifestos
distribuídos, etc.”84
84
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., em 20 de Novembro de 1928 (RGASPI).
377
85
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 140. Octavio Brandão.
Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 352-353.
86
- Comissão Central da Campanha Eleitoral do Bloco Operário e Camponês. O
descarrilamento do sr. Carreiro. Correio da Manhã. Rio de janeiro, 30/11/1928, p. 7; Comissão
Central da Campanha Eleitoral do Bloco Operário e Camponês. Minervino foi o eleito! Correio da
Manhã. Rio de janeiro, 01/12/1928, p. 7; o texto integral da contestação de Carreiro de Oliveira está
em Conselho Municipal do Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões preparatórias de
23 de Novembro a 21 de dezembro, p. 303-309; o texto integral da contracontestação de Minervino
de Oliveira está em Conselho Municipal do Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões
preparatórias de 23 de Novembro a 21 de dezembro, p. 310-320 e também em O reconhecimento dos
intendentes cariocas. A contracontestação do intendente operário. O novo relator. Correio da Manhã.
Rio de Janeiro, 05/12/1928, p. 2 e 7;
378
87
- A cidade, que se engalanara para acolher um filho glorioso, recebeu-o com as suas
bandeiras em funeral. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 04/12/1928, p. 1, 3 e 7; Pela qualidade das
vítimas, a horrível catástrofe de ontem foi a de maior proporção registrada na história da aviação
mundial. O Combate. São Paulo, 04/12/1928, p. 1 e 5.
379
“degola de um morto” e nem que fossem eleitos vinte e dois intendentes com
diplomas e um portador de uma certidão de óbito, referindo-se a Carreiro de
Oliveira. Ao lado do autor deste voto em separado figuraram as assinaturas de
Raul Leitão da Cunha (do Partido Democrático), Jeronymo Penido e Lourenço
Méga (da “Chapa Penido”), Dormund Martins (da “Chapa Adolpho Bergamini”),
Octavio Brandão e Minervino de Oliveira (do BOC, que votaram apenas pelas
conclusões) e J. J. Seabra (também da “Chapa Penido”, mas com voto de
restrições).
Apesar de ter havido protestos encabeçados pelo Partido Democrático do
Rio de Janeiro – nos quais Octavio Brandão fez uso da palavra em nome do BOC
e no qual afirmara que, apesar de convidado, recusara-se à “consecução de uma
indecência com o seu colega de ideais e também ambos vinham pela sua voz
protestar contra o esbulho e o esfacelamento do diploma de Ferdinando
Labouriau, hipotecando a sua solidariedade e com ela a de seu partido ao Partido
Democrático do Distrito Federal”89 - contra o texto de Cardoso, que foi classificado
de monstruoso pela imprensa, nada pôde impedir sua apreciação, que aconteceu
no dia 21 de dezembro de 1928. Na votação do parecer de Cardoso este obteve
doze votos. O de Lacerda obteve dez votos, sete dos que o assinaram
originalmente (pois Lourenço Méga não compareceu à sessão) mais Vieira de
Moura e Costa Pinto (da “Chapa Penido”) e Moura Nobre (da “Chapa Azevedo
Lima”). Apenas Carreiro de Oliveira não votou. Uma votação apertada, a qual
indicava que a atuação dos intendentes do BOC não teria caminhos fáceis a
trilhar.
Logo após o reconhecimento, os intendentes assumiram seus cargos como
de praxe. O Regimento Interno do Conselho Municipal do Distrito Federal
dispunha o seguinte compromisso:
88
- Ata de reunião da C.C.E. do P.C.B., em 5 de dezembro de 1928 (ASMOB). O
reconhecimento dos intendentes cariocas. Um acordo impossível. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
07/12/1928, p. 7.
89
- Um parecer monstruoso. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 21/12/1928, p. 3.
380
Ele foi lido e cada intendente disse “Assim o prometo”. A este juramento os
intendentes do BOC acrescentaram a frase “submetendo, porém, essas
disposições aos interesses do operariado”, o que gerou protestos de alguns dos
intendentes empossados90.
Pela primeira vez, ao fim de um processo de intensivo trabalho que durara
cerca de um ano, os comunistas conseguiram fazer-se representar diretamente
em uma casa de leis no Brasil.
90
- Para o texto completo do parecer de Cardoso ver Conselho Municipal do Distrito Federal.
Anais do Conselho Municipal. Sessões preparatórias de 23 de Novembro a 21 de dezembro, p. 35-46.
Para o texto completo do voto em separado de Maurício de Cardoso ver Conselho Municipal do
Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões preparatórias de 23 de Novembro a 21 de
dezembro, p. 46-55 e também em O reconhecimento dos intendentes cariocas. O sr. Maurício de
Lacerda declara, da tribuna, que vão ser reconhecidos vinte e dois intendentes, mediante diplomas, e
um portador de certidão de óbito!. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 19/12/1928, p. 7; Um parecer
monstruoso. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 20-12;1928, p. 4; Um parecer monstruoso. O que foi
o grande comício popular de ontem, contra a politicagem do Conselho Municipal. Correio da Manhã.
Rio de Janeiro, 21/12/1928, p. 3; O novo Conselho Municipal. Depois de “degolarem” um morto, os
Intendentes se reconheceram e prestaram compromisso, alta noite, à hora do crime!... Correio da
Manhã. Rio de Janeiro, 22/12/1928, p. 4.
381
SANTOS
91
- Coligação Operária. Normas de propaganda e divulgação. O Internacional. São Paulo, nº
122, 15/11/1927, p. 3.
92
- O deputado Azevedo Lima vigiado pela polícia paulista. Um “baratino” infantil. O
Combate. São Paulo, 07/10/1927, p. 1. Relatório da Comissão Executiva da Coligação Operária de
Santos, sobre o pleito de outubro de 1928. Diretriz futura. Conclusão. Praça de Santos. Santos,
27/11/1928, p. 3. Vida Operária. A Coligação Operária de Santos adere ao Bloco Operário e
Camponês, com sede no Rio de Janeiro. Praça de Santos. Santos, 21/11/1927, p. 3.
93
- “Em 1923 surgia a ‘Praça de Santos’, jornal valente e de muita força, fundado por Antonio
de Araújo Cunha e Raphael Corrêa de Oliveira, redacionado por este, com o concurso ainda de Reis
Perdigão e Ayres dos Reis, jornalistas que secundaram o trabalho brilhante de Raphael Corrêa, e por
fim Brasil Gerson. Realizou esse jornal uma das mais violentas e destemerosas campanhas políticas
que Santos assistiu nos últimos trinta anos, arrostando Leis de Imprensa e outros arrochos e medidas
de compressão adotadas e criadas pelo governo Bernardes sob a repulsa geral do povo brasileiro.”
(Francisco Martins dos Santos. História de Santos 1932-1936. Vol. II, p. 97.)
94
- Vida Operária. Coligação Operária (Chamado). Praça de Santos. Santos, 17/02/1928, p. 3.
Bloco Têxtil Pró-Coligação Operária. O proletariado têxtil de Santos e a “Coligação Operária”. Praça
de Santos. Santos, 29/02/1928, p. 4. O grupo da construção civil foi criado no dia 12/01/1928 (cf. ;
Odilon Lima. Operários e empregados de todas as profissões e categorias, da cidade e da lavoura!
Votai somente nos nossos companheiros de trabalho, de luta e de classe. Viva a Coligação Operária!.
Praça de Santos. Santos, 22/10/1928, p. 5.).
95
- Silva. A Coligação Operária precisa do esforço de todos os seus simpatizantes. Praça de
Santos. Santos, 26/05/1928, p. 4.
384
“É preciso, porém, não dispersar as forças, rolar cada vez mais para a
esquerda, abandonar o falso democratismo, cuidar mais dos problemas
econômicos das massas e veremos então, todos, o despertar do povo sofredor,
para a conquista de seus direitos políticos até aqui postergados, e vendidos ao
ouro dos banqueiros de Londres e Nova York.”99
96
- Vida Operária. A Coligação Operária é o verdadeiro Partido dos pequenos funcionários e
operários municipais, estaduais ou federais. Praça de Santos. Santos, 27/01/1928, p. 3.
97
- Vida Operária. O proletariado é a única classe com capacidade de lutar e vencer. Praça de
Santos. Santos, 28/10/1928, p. 5.
98
- Marcos Del Roio. A classe operária na revolução burguesa. A política de alianças do
PCB: 1928-1935, p. 45.
99
- João Freire de Oliveira. Aliança necessária. O Solidário. Santos, nº 47, 29/12/1927, p. 2.
100
- A. R.. Relatório da Zona de Santos. Santos, [dezembro de 1928], p.1.
386
101
- Carta de João Freire de Oliveira a Camarada Astrojildo [Pereira]. Santos 25/03/1928
(ASMOB).
387
O programa
102
- Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 20/05/1928
(ASMOB).
103
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório sobre o pleito de outubro de 1928.
Diretriz Futura. Conclusão. Santos, 10/10/1928, p. 1.
388
104
- O programa da Coligação Operária será a expressão real da reivindicação do proletariado
de Santos. Uma “enquête” popular. Praça de Santos. Santos, 15/06/1928, p. 4. Carlos Mário de
Andrade. A “enquête” sobre o programa da Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 16/05
/1928, p. 4. Vida Operária.
105
- Carlos Mário de Andrade. A “enquête” sobre o programa da Coligação Operária. Praça
de Santos. Santos, 16/05 /1928, p. 4. Vida Operária. Américo Ratto. A “enquête” sobre o programa
da Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 21/06 /1928, p. 3; Sylvio Gonçalves. A “enquête”
sobre o programa da Coligação Operária. Têm a palavra os gráficos. Praça de Santos. Santos, 23/06
/1928, p. 4.
389
106
- Vida Operária. Programa da Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 24/09/1928, p.
4. Para a íntegra do programa ver o Anexo XI.
390
107
- De Santos. A questão dos Chalets de Madeira. A Nação. Rio de Janeiro, 21/07/1927, p. 3.
391
Em campanha
108
- O delegado de Santos descobriu uma conspiração comunista... O olho do “argus” de
Santos e o “olho de Moscou”. Fechando o dito ao jogo, ao vício e abrindo-o para as perseguições ao
operariado. O Combate. São Paulo, 07/06/1928, p. 1.
393
109
- A invasão da Coligação Operária de Santos teve um objetivo político. Praça de Santos.
Santos, 09/06/1928, p. 1; C. E. da Coligação Operária. A Coligação Operária ao Eleitorado de
Santos. Explicação necessária. O Combate. São Paulo, 12/06/1928, p. 6; Homero Barbosa Júnior. A
polícia do dr. Ferreira da Rosa. Praça de Santos. Santos, 12/06/1928, p. 7.
110
- A Coligação Operária, os seus objetivos políticos e a polícia. O que nos disse o “leader”
operário João F. de Oliveira. Praça de Santos. Santos, 13/07/1928, p. 6.
394
111
- Amaro Corrêa. Os candidatos da Coligação Operária e os eleitores proletários. Praça de
Santos. Santos, 23/08/1928, p. 5.
395
“Têm razão. Havemos de ser sempre contra a ‘frente única’ multicor e incolor
que procura unir elementos heterogêneos, de interesses opostos e contraditórios,
em cujo ‘saco de gatos’ os operários levariam na cabeça, na certa. Querem o
cordeiro operário submetido ao lobo capitalista. Não concordam que o proletariado
tenha seu partido e seus candidatos. Operário, na frase de um dos chefes
democráticos santistas, é para trabalhar, ser pago e nada mais. Frente única assim
nós não apoiaremos nunca. Nosso dever é guiar o proletariado, e defender-lhe o
interesse de classe a todo o custo. E não poderemos concordar em pôr a classe do
futuro atada de pés e mãos ao carro-chefe do cordão democrático.”112
112
- João Freire de Oliveira. O Partido Democrático e seus candidatos nada podem esperar do
proletariado. Praça de Santos. Santos, 28/08/1928, p. 4.
113
- Antônio de Moura. O proletariado santista forma na vanguarda da organização político-
econômica do Brasil. O Internacional. São Paulo, nº 143, 01/10/1928, p. 1.
114
- No início de 1928, quando da preparação para as eleições de fevereiro de 1928, o PRM
rompeu com o PRP em razão de seu candidato a deputado estadual ter sido preterido na chapa oficial
do PRP em favor de um candidato (Alberto Cintra) que tinha o apoio do governador Júlio Prestes,
pois este pretendia “premiá-lo” por ter deixado as fileiras do Partido Democrático de São Paulo (cf.
Ferve a panela do P.R.P. O Partido Municipal de Santos desligou-se do partido governista e o sr.
Samuel Baccarat renunciou da sua candidatura a deputado estadual. O Combate. São Paulo,
14/02/1928, p. 1; O Perrepismo em bancarrota. A crise de Santos e o sr. Júlio Prestes. A Esquerda.
Rio de Janeiro, 17/02/1928, p. 1).
396
115
- Bernardino Marques do Valle. Ao operariado santista. Votar nos candidatos da Coligação
Operária é concorrer para a vitória da causa dos oprimidos. Praça de Santos. Santos, 14/09/1928, p.
4.
116
- Antônio de Moura. O proletariado santista forma na vanguarda da organização político-
econômica do Brasil. O Internacional. São Paulo, nº 143, 01/10/1928, p. 1.
397
117
- Vida Operária. Em plena batalha eleitoral. O entusiasmo pelas candidaturas da Coligação
Operária. Quem são os nossos candidatos. Praça de Santos. Santos, 01/10/1928, p. 4; Antônio
Fernandes. Aos trabalhadores em café. O candidato operário Antônio Fernandes lança um apelo
fraternal aos seus companheiros. Votai na Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 03/10/1928,
p. 4; Vida Operária. Os chauffeurs e as próximas eleições. O candidato Maurício Pereira Barros
expõe a sua opinião. Praça de Santos. Santos, 06/10/1928, p. 4; Vida Operária. O candidato da
Coligação Operária sr. Antônio Bento de Menezes faz revelações importantes sobre as causas da crise
de trabalho atual. Praça de Santos. Santos, 08/10/1928, p. 5; Vida Operária. Só os ricos devem pagar
impostos – disse-nos, ontem, o candidato operário Mário de Castro. Vida Operária. Praça de Santos.
Santos, 11/10/1928, p. 4; Odilon Lima. Operários e empregados de todas as profissões e categorias,
da cidade e da lavoura! Votai somente nos nossos companheiros de trabalho, de luta e de classe. Viva
a Coligação Operária!. Praça de Santos. Santos, 22/10/1928, p. 5.
118
- Lucas Rubens. Ofício. Praça de Santos. Santos, 03/10/1928, p. 4. De acordo com a
Gazeta do Povo, em sua edição de 18/10/1928, houve um discussão familiar, na qual tentou ferir sua
esposa a navalha, tendo sido preso e libertado sob fiança, paga pela Coligação Operária. Depois da
retirada de sua candidatura, Rubens, que possuía doze passagens pela polícia, transformou-se em cabo
eleitoral do PRP. Suas atitudes o levaram a ser expulso da União Beneficente dos Oficiais de
Barbeiros de Santos (Cf. Vida. Operária. Como o P.R.P. sabe premiar os seus serviçais. O traidor
Lucas Rubens abandonado. A explicação do caso pela Coligação Operária. Praça de Santos. Santos,
25/12/1928, p. 5).
398
Por fim, outro espaço utilizado pela Coligação foi o da imprensa. Além dos
artigos publicados em O Solidário e na A Classe Operária, fez-se uso da coluna
”Vida Operária” do diário Praça de Santos, na qual foram publicados, como vimos,
360 artigos. Por seu intermédio foram apresentados seus candidatos, discutidos
os pontos da sua plataforma e também foi travada a polêmica com democráticos e
119
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório sobre o pleito de outubro de 1928.
Diretriz Futura. Conclusão. Santos, 10/10/1928, p. 3.
399
Mas sem dúvida a polêmica com o PRP que mais chamou a atenção foi a
questão da ocupação de uma vaga de vereador na Câmara Municipal por parte
da Coligação Operária. Nas eleições de 1925, embora tivesse uma diminuta
votação, João Freire de Oliveira foi declarado como sexto suplente de vereador.
No correr da legislatura vários suplentes deixaram de possuir tal condição, por
120
- Vida Operária. De que forma o P.R.P. pretende vencer as eleições. Suborno direto e
indireto. Os fiscais da Câmara, pagos pelo povo, transformados em “cabos” eleitorais. Praça de
Santos. Santos, 15/10/1928, p. 5.
400
uma série de razões. Ao mesmo tempo em que isto ocorria, no último ano da
legislatura abriram-se três vagas na Câmara Municipal de Santos, combinação
que fez com que fosse atingida a colocação do candidato da Coligação Operária,
o que aconteceu em meados de outubro de 1928, às vésperas do pleito. Como se
tratava do último ano da legislatura, não se fariam eleições suplementares para
preenchimento dos cargos vagos, mas, sim, seriam chamados os suplentes para
preenchimento das vagas. A partir de então, os vereadores do PRP passaram a
não mais se reunir para que Oliveira não pudesse tomar posse do cargo.
Pretextando que a presença de um trabalhador não era compatível na Câmara
Municipal, na verdade, não queriam dar a oportunidade, por mais exíguo que
fosse o tempo que Oliveira ocupasse o cargo, para que a Coligação Operária
tivesse a oportunidade de fazer uso do espaço do Legislativo municipal.
Por conta deste episódio, uma das lideranças perrepistas locais, o vereador
Albertino Moreira, acabou sendo obrigado a comentá-lo. Depois de afirmar que
Oliveira não assumiria em razão de o número de vagas existentes na Câmara não
atingir sua colocação – o que Oliveira em sua petição demonstra, pelos
impedimentos legais existentes para vários suplentes, ser infundado -, Moreira diz
que, de qualquer maneira, a Câmara Municipal poderia funcionar mesmo com
nove de seus doze vereadores. Para Moreira pouco importava sequer a
formalidade de o corpo legislativo santista funcionar em sua integridade,
ignorando o fato de a Câmara Municipal ser o lugar onde deveriam se reunir os
representantes dos cidadãos, sejam de quais partidos fossem. Ou seja, o PRP
não admitia a hipótese de empossar Oliveira. Além disso, Moreira não perdeu a
oportunidade para tripudiar sobre a Coligação Operária:
de Santos, que eu pugnarei pela vitória dessa idéia, como pugnarei pela realização
de todas as idéias de utilidade geral.”121
121
- A questão dos suplentes. Uma palestra com o dr. Albertino Moreira. A Tribuna. Santos,
21/10/1928, p. 2.
122
- Albertino Moreira. A orientação do Partido Democrático em face da educação política do
povo brasileiro. A Tribuna. Santos, 26-10-1928, p. 2.
123
- O P.R.P. contra o operariado. Praça de Santos. Santos, 16,10/1928, p. 16; Humilhando o
operariado. Porque o suplente de vereador João Freire de Oliveira não é convidado a preencher uma
das vagas existentes na Câmara. Praça de Santos. Santos, 17/10/1928, p. 1; Continuam as
hostilidades ao operariado. Uma nota de “O Estado de S. Paulo” sobre o suplente João F. de Oliveira.
Praça de Santos. Santos, 18/10/1928, p. 16; Humilhando o operariado. O caso do suplente João
402
A eleição
título eleitoral. Em 1928, por sua vez, votaram 5.620 eleitores, ou seja, 63,43% do
total de eleitores inscritos.Tais números mostram que houve, entre um pleito e
outro, 3.707 eleitores a mais, mostrando este dado um crescimento de 193,7% no
período, superior, portanto, em 44,7% ao número de novos eleitores inscritos.
Enquanto a imprensa situacionista informou que o pleito se dera em “um
ambiente de inteira ordem e de rigorosa obediência à vontade eleitoral”, a
oposição classificou-o de um “mercado de votos”, onde se presenciou o
“espetáculo infeliz do suborno em grande escala. Até estrangeiros, que não
exerciam profissão regular, compravam a consciência dos brasileiros
degenerados, cuja opinião se modifica conforme o preço maior ou menor da
recompensa”125. O diário Praça de Santos, o qual afirmou que os recursos eram
oriundos das “bancas de ‘bicho’ da cidade”, chegou a publicar em primeira
página, de sua edição de 2 de novembro, fotos mostrando agrupamentos onde se
estariam mercadejando votos.
Os 5.620 eleitores que compareceram às eleições deram 3.264 votos ao
PRP, 1.968 ao Partido Democrático, 270 à Coligação Operária e 118 a um
candidato avulso. Este total de eleitores fez com que o quociente para a eleição
de um vereador em 1º turno fosse de 468 votos. Assim, os perrepistas
conseguiram fazer nove e os democráticos três vereadores. A votação da
Coligação Operária propiciou que ela tivesse os cinco mais votados para a
constituição do quadro de suplentes. Este foi o quadro de votos da Coligação:
125
- As eleições de ontem. O pleito decorreu animado e na melhor ordem. O Partido
Republicano Paulista conquistou mais uma brilhante vitória, elegendo nove vereadores.
Compareceram às urnas, no município, 5.260 eleitores. A Tribuna. Santos, 31/10/1928, p. 16; As
eleições de ontem, em meio de violências, de fraudes vergonhosas. Em Santos. Um mercado de votos.
O Combate. São Paulo, 31/10/1928, p. 2; O pleito de ontem. Aspectos interessantes e considerações
oportunas. Praça de Santos. Santos, 31/10/1928, p. 1 e 6.
404
126
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório sobre o pleito de outubro de 1928.
Diretriz Futura. Conclusão. Santos, 10/10/1928, p. 3 (RGASPI). Este mesmo relatório foi publicado
405
127
- Carta de João F[reire de]. O[liveira]. a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 01/11/1928
(ASMOB); Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 04/11/1928
(ASMOB).
128
- Comissão Executiva. A Coligação Operária ao proletariado de Santos. A explicação do
resultado do pleito de ontem. Praça de Santos. Santos, 01/11/1928, p. 2. A mesma afirmativa pode
ser encontrada em Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório sobre o pleito de outubro de
1928. Diretriz Futura. Conclusão. Santos, 10/10/1928, p. 1.
407
SÃO PAULO
129
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Relatório sobre o pleito de outubro de 1928.
Diretriz Futura. Conclusão. Santos, 10/10/1928, p. 2.
408
130
- Aristides Lobo. Carta particular à CCE do PCB. São Paulo, 26/061928, p. 3 (TSN).
409
Em um relato sobre a situação em São Paulo, Plínio Mello, sob seu ângulo,
também traçava um quadro desalentador:
131
- Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 20/05/1928
(ASMOB). Plínio Mello justificava sua entrada no Diário Nacional “por excesso de miséria”, mas ali
se submetia a uma jornada de trabalho estafante, que não raro ia das 15 às 2 horas da manhã seguinte
(Cf. Carta de Plínio [Gomes de Mello] a Astrojildo [Pereira]. São Paulo, 27/05/1928, p. 2-3
(ASMOB)).
410
“Mas isto aqui continua a ser um caso sério!... Tenho culpa nisso; mas, penso
que a maior culpa deverá recair sobre os próprios camaradas que não me auxiliam
na obra de reorganização do Partido. Não falo nos membros do C. R., que estes
têm feito sempre alguma coisa, bastando dizer que vem se reunindo
semanalmente, com regularidade. Mas, as resoluções que tomamos não
encontram o necessário apoio dos membros do P[artido]., em sua maioria bastante
negligentes demais, o acúmulo de obrigações em que estão sobrecarregados
acarreta uma desorientação verdadeiramente lastimável. Todos os meses temos
realizado assembléias de zona; entretanto nessas reuniões outra coisa não temos
feito do que nos criticar pessoalmente... Essa é a dolorosa verdade! Por isso não
me animei de relatar isso...”132
132
- Carta de Plínio [Gomes de Mello] a Astrojildo [Pereira]. São Paulo, 27/05/1928, p. 2-3
(ASMOB).
133
- Aristides Lobo. Carta particular à CCE do PCB. São Paulo, 26/06/1928, p. 3 (TSN).
Movimento Operário. Foi eleito, ontem, o novo Comitê Executivo do Bloco Operário e Camponês. O
Combate. São Paulo, 19/04/1928, p. 3. No dia 30 de julho houve alterações na diretoria do BOC:
Manoel Nestor Pereira Júnior deixou a presidência, sendo substituído por Everardo Dias, e José
Salvador retornou às suas funções de arquivista (cf. Comitê Regional. O Bloco Operário e Camponês.
A direção atual do partido dos trabalhadores em São Paulo. O Combate. São Paulo, 31/07/1928, p. 3).
411
134
- Atas da I e II Conferência de Agit-Prop da Zona de São Paulo (ASMOB).
135
- Carta de Plínio [Mello] a Astrojildo [Pereira]. São Paulo, 13/08/1928 (ASMOB). Em
anexo a proposta de “Concurso Eleitoral”, datada de 20 de agosto (ASMOB).
412
136
- N. Jimenez. Nos arraiais da política proletária. O Combate. São Paulo, 23/05/1928, p. 2.
413
Em campanha
137
- Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 01/09/1928
(ASMOB).
138
- Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 08/09/1928
(ASMOB); Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 10/09/1928
(ASMOB); Carta de Plínio [Mello] a Astrojildo [Pereira]. São Paulo 14/09/1928; Moacyr Nogueira.
Em torno das eleições municipais. A propósito de uma carta...falsa. O Combate. São Paulo,
06/11/1928, p. 5.
139
- Carta de João [Freire de Oliveira] a Cam. Astrojildo [Pereira]. Santos, 16/09/1928
(ASMOB);
414
Everardo Dias.
140
- Relatório de Everardo Dias a Camaradas da C.C.E. do B.O.C.. São Paulo, 04/11/1928, p.
1 (ASMOB).
415
141
- Moacyr Nogueira. Como escolher nossos candidatos?. O Combate. São Paulo,
24/09/1928, p. 2; Moacyr Nogueira. Nosso programa. O Combate. São Paulo, 26/09/1928, p. 3.
142
- Moacyr Nogueira. O que o operariado precisa saber. O Combate. São Paulo, 18/09/1928,
p. 3; Moacyr Nogueira. O partido dos trabalhadores. O Combate. São Paulo, 19/09/1928, p. 2;
Moacyr Nogueira. Política independente de classe. O Combate. São Paulo, 20/09/1928, p. 3; Moacyr
Nogueira. Contra a mistificação. O Combate. São Paulo, 21/09/1928, p. 2; Moacyr Nogueira. Como
escolher nossos candidatos?. O Combate. São Paulo, 24/09/1928, p. 2.
143
- C.R. do B.O.C.. Manifesto aos trabalhadores de São Paulo. O Combate. São Paulo,
26/09/1928, p. 3. Ele também foi duas vezes reproduzido na Praça de Santos em suas edições de
04/10/1928, à página 5, e 30/10/1928, à página 4.
416
144
- Ata da reunião da C.C.E. do P.C.B., de 30/09/1928 (RGASPI).
145
- Moacyr Nogueira. Em torno das eleições municipais. A propósito de uma carta...falsa. O
Combate. São Paulo, 06/11/1928, p. 5; Carta de Everardo Dias a Camaradas do C.C.E. do B.O.C..
São Paulo, 04/11/1928, p. 1 (ASMOB); Aristides Lobo. O empastelamento de “Il Piccolo”. O
Combate. São Paulo, 27/09/1928, p. 2.
418
146
- Bloco Operário e Camponês. O que foram os comícios de ontem. O Combate. São Paulo,
15/10/1928, p. 6.
147
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 38.
148
- Moacyr Nogueira. Educação proletária. O Combate. São Paulo, 03/10/1928, p. 2; Moacyr
Nogueira. Salário mínimo. O Combate. São Paulo, 09/10/1928, p. 3; Moacyr Nogueira. Aumento de
salários. O Combate. São Paulo, 10/10/1928, p. 5; Moacyr Nogueira. Habitação operária. O Combate.
São Paulo, 13/10/1928, p. 3; Moacyr Nogueira. Higiene. O Combate. São Paulo, 16/10/1928, p. 3;
Moacyr Nogueira. Luta de classes. O Combate. São Paulo, 19/10/1928, p. 5;
419
“Os partidos políticos no Brasil sempre foram partidos sem princípios e sem
programas. Movimentam-se, apenas, em torno de interesses e compromissos
pessoais, numa política de pacotilha indesejável e indecorosa.
A Coligação Operária em Santos, e os Blocos Operário e Camponeses hoje
instalados por quase todo o país, é que vieram romper com essa rotina hereditária,
inaugurando no Brasil a política em torno de partidos de programas e princípios.
420
O pleito
149
- Vida Operária. Só os ricos devem pagar impostos – disse-nos, ontem, o candidato operário
Mário de Castro. Vida Operária. Praça de Santos. Santos, 11/10/1928, p. 4.
150
- Moacyr Nogueira. Em torno das eleições municipais. A propósito de uma carta...falsa. O
Combate. São Paulo, 06/11/1928, p. 5.
421
Como nos outros casos que já examinamos, não temos números exatos
sobre o eleitorado da cidade de São Paulo, embora os dados acima apresentados
151
- As próximas eleições municipais e o proletariado. “O Combate” entrevista o candidato
operário Everardo Dias. O Combate. São Paulo, 2910/1928, p. 3. A entrevista ao Diário da Noite está
na página do BOC-SP de O Combate, chamada Folha do Bloco Operário e Camponês: O que disse
ao “Diário da Noite” o candidato operário Everardo Dias. O Combate. São Paulo, 20/10/1925, p. 5.
152
- Plínio Mello. Em torno das eleições municipais. Rebatendo as pretensões de um lacaio da
burguesia. O Combate. São Paulo, 13/11/1928, p. 5.
422
153
- Os dados foram retirados de Brasil. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.
Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil realizado em 1º de Setembro de 1920, Vol.
IV – População (5 partes), passim; de José Francisco de Camargo. Crescimento da população no
Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos (Ensaio sobre as relações entre a Demografia e a
Economia), passim; e de São Paulo. Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e
Comércio e Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Comissão Central de
Recenseamento. Op. cit., passim. Os dados divulgados do censo paulista de 1934 (São Paulo.
Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio e Secretaria de Estado dos
Negócios da Educação e Saúde Pública. Comissão Central de Recenseamento. Recenseamento
demográfico escolar e agrícola-zootécnico do Estado de São Paulo (20 de Setembro de 1934)) não
discriminaram as nacionalidades que compunham a população estrangeira que vivia no Estado,
apenas o seu total.
423
154
- Correio Paulistano. São Paulo, 28/03/1922 apud José Ênio Casalecchi. O Partido
Republicano Paulista (1889-1926), p. 265.
155
- Eram os seguintes os distritos de paz da Capital e suas respectivas seções: Belenzinho (10
seções), Bela Vista (18), Bom Retiro (29), Brás (15), Butantã (2), Cambuci (6), Cantareira (4),
Consolação (13), Ipiranga (8), Itaquera (4), Jardim América (9), Lapa (14), Liberdade (10), Mooca
(12), Nossa Senhora do Ó (5), Osasco (6), Penha de França (6), Perdizes (12), Santana (10), Santa
Cecília (19), Santa Efigênia (10), São Miguel (2), Saúde (4), Sé (14) e Vila Mariana (8) (Cf. Em todo
424
o Estado realizam-se hoje, com animação, eleições municipais. A luta na Capital. As ocorrências em
Piracicaba. O Combate. São Paulo, 30/10/1928, p. 1).
156
- A vergonheira das eleições. A ciência da fraude, o requinte da fraude, numa lição que S.
Paulo político dá ao Brasil. O Combate. São Paulo, 01/11/1928, p. 1.
157
- Comentário do “Diário Carioca” em torno do pleito paulista. O Combate. São Paulo,
01/11/1928, p. 1.
425
158
- Ecos da vergonheira de 30 de outubro. Os estudantes de Direito dirigem-se ao povo
brasileiro. O pleito da Capital. Pela contagem verificada, não foi eleito nenhum dos candidatos
democráticos. As eleições realizadas em diversos distritos da Capital. O Combate. São Paulo,
13/11/1928, p. 6.
159
- Bloco Operário e Camponês. O Combate. São Paulo, 31/10/1928, p. 5. Os mesmos
argumentos estão na carta de Plínio Mello a Astrojildo Pereira. São Paulo, 05/11/1928 (ASMOB).
426
Além disso, houve neste segundo relatório um aspecto incomum, que foi o
reconhecimento da responsabilidade da militância comunista nos resultados:
160
- As eleições paulistas. Um dos principais órgãos da imprensa local assevera que houve as
mais reprováveis irregularidades. Palavras de um candidato. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
01/11/1928, p. 2.
161
- Comitê Regional do BOC. As eleições paulistas e o B.O.C.. São Paulo, 18/11/1928, p. 2.
427
162
- Aristides Lobo. Verdade que se confirma. O Combate. São Paulo, 03/11/1928, p. 2.
163
- R. L.. Em torno das eleições municipais. A falência do Bloco Operário e Camponês. Ou
isso, ou então Everardo Dias não é da simpatia do operariado paulista. O Combate. São Paulo,
05/11/1928, p. 4 [Em razão de um erro tipográfico o artigo saiu com a identificação aqui assinalada,
ao invés de R.M..]; Moacyr Nogueira. Em torno das eleições municipais. A propósito de uma carta ...
falsa. O Combate. São Paulo, 06/11/1928, p. 5; A. Paulino. Em torno das eleições municipais. A
falência do Bloco Operário e Camponês. Ou isso, ou então Everardo Dias não é da simpatia do
operariado paulista. O Combate. São Paulo, 08/11/1928, p. 6; R. M. Em torno das eleições
municipais. A falência do Bloco Operário e Camponês. Ou isso, ou então Everardo Dias não é da
simpatia do operariado paulista. O Combate. São Paulo, 10/11/1928, p. 4; Plínio Mello. Em torno das
eleições municipais. Rebatendo as pretensões de um lacaio da burguesia. O Combate. São Paulo,
13/11/1928, p. 5; Robespierre Mello. Em torno das eleições municipais. A falência do Bloco Operário
e Camponês. Ou isso, ou então Everardo Dias não é da simpatia do operariado paulista. O Combate.
São Paulo, 22/11/1928, p. 2; Aristides Lobo. Em torno das eleições municipais. As bobagens do
Robespierre... O Combate. São Paulo, 26/11/1928, p. 4; Everardo Dias. Ainda as eleições de 30 de
Outubro e o sr. R. M.. O Combate. São Paulo, 29/11/1928, p. 5; Robespierre de Mello. Em torno das
428
eleições municipais. A falência do Bloco Operário e Camponês. Ou isso, ou então Everardo Dias não
é da simpatia do operariado paulista. O Combate. São Paulo, 08/12/1928, p. 4.
164
- R. M. Em torno das eleições municipais. A falência do Bloco Operário e Camponês. Ou
isso, ou então Everardo Dias não é da simpatia do operariado paulista. O Combate. São Paulo,
22/11/1928, p. 2.
429
165
- Everardo Dias. Ainda as eleições de 30 de outubro e o sr. R. M.. O Combate. São Paulo,
29/11/1928, p. 5.
166
- PCB. Teses & resoluções adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p.
23.
430
ANEXO XI
“Programa da Coligação Operária para as eleições municipais de 1928
ATUAÇÃO POLÍTICA
PROGRAMA NACIONAL
CONTRA O IMPERIALISMO
LEGISLAÇÃO SOCIAL
433
19º) Fiscalização e distribuição das tarefas nos locais de trabalho pelos sindicatos e
comitês constituídos e dirigidos por operários, a fim de evitar que trabalhadores sejam
empregados por tempo indeterminado em certos serviços prejudiciais à saúde;
20º) Saneamento rural sistemático, visando a regeneração física e moral dos
trabalhadores agrícolas, a higienização das condições de trabalho e habitação na lavoura,
assistência médica gratuita aos pobres;
21º) Fomento e facilidade às cooperativas operárias do consumo e às cooperativas de
produção na pequena lavoura. Com relação aos pequenos lavradores, além de medidas que
os isentem de encargos fiscais mais pesados, estabelecer principalmente:
a) A isenção de quaisquer impostos municipais ou taxas de qualquer natureza sobre os
veículos de toda a espécie, destinados ao transporte dos produtos;
b) Fornecimento de utensílios, sementes e adubos aos lavradores pobres e às
cooperativas agrícolas;
c) Auxiliar às caixas rurais de pequenos lavradores estabelecidas no município;
d) Fornecimento à pequena lavoura pela municipalidade, a crédito ou por aluguel, de
animais e máquinas agrícolas;
e) Extensão à lavoura de 8 horas de trabalho;
22º) Arejamento e desinfecção geral das habitações proletárias;
23º) No que concerne à rigorosa aplicação a dar e aos melhoramentos a serem
introduzidos na chamada de legislação social, preconizamos como medida preliminar
indispensável que sua fiscalização e controle sejam confiados aos comitês operários eleitos
nos próprios locais de trabalho e nos sindicatos;
24º) Intervenção da mulher proletária em todos os atos da vida municipal e nas
empresas públicas e privadas com iguais direitos que o homem e ainda com iguais salários,
aplicando-se o princípio: PARA TRABALHO IGUAL SALÁRIO IGUAL;
25º) Construção de creches ao lado de cada fábrica, oficina, armazéns e nas povoações
rurais, para abrigar os filhos das mães operárias, durante as horas em que estas trabalhem;
26º) Garantia da lei de férias extensivas aos operários em transportes e na lavoura, e às
mulheres operárias;
27º) Estabelecimento de 2 horas para almoço, durante o dia, aos trabalhadores,
carroceiros, estivadores, ternos em café, manobristas de estrada, choferes de carga,
construção civil, Companhia Docas etc., sendo uma hora integralmente paga pelo patronato
e absoluta proibição de pagamento dos salários em gêneros de consumo.
CARESTIA DE VIDA
HABITAÇÕES PROLETÁRIAS
Revogação pura e simples da lei dos chalés de madeira como medida de garantia da
pequena propriedade.
TRANSPORTES
Estabelecimento de bondes a 100 réis destinados aos operários, mas, com todas as
comodidades dos bondes ordinários e linhas de ônibus a preço reduzido, para os bairros
onde habita o proletariado. Os representantes da Coligação Operária na Câmara Municipal
pugnarão pela revisão do regulamento geral dos veículos a fim de competir somente a
fiscalização e cobranças de multas à inspetoria da prefeitura municipal.
ENSINO E EDUCAÇÃO
A) A questão do ensino público é, por sua própria natureza, dos mais importantes: a
Coligação Operária, pela voz de seus representantes na Câmara Municipal, lança a seguinte
palavra de ordem:
Escolas para os filhos dos operários! Para isto, preconiza, entre outras medidas:
a) Criação de um conselho popular de instrução pública, do qual devem participar
todos quantos, mestres e pais de famílias, se interessam diretamente pelos problemas
escolares, e que será órgão técnico, livre do burocratismo destinado a promover e sugerir
medidas que possam prática e prontamente intensificar a alfabetização, quer às crianças, que
à mocidade em geral;
b) Tornar obrigatório o ensino, facilitar a freqüência às aulas com o fornecimento às
crianças pobres em idade escolar, além do material escolar, roupa, calçado, refeições e
meios gratuitos de transporte;
c) Promover a criação de escolas profissionais para ambos os sexos, gratuitas, como
uma continuação necessária e natural das escolas primárias;
d) Assistência médica, dentária e farmacêutica gratuita aos professores e alunos;
e) Os representantes da Coligação Operária, na Câmara Municipal, pugnarão para que
seja concedida uma subvenção aos cursos escolares mantidos pelas associações operárias;
f) Melhoria nas condições de vida do professorado primário cuja dedicação à causa do
ensino público deve ser melhor compreendida e compensada;
g) Subvenção às bibliotecas populares e operárias.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FUNCIONALISMO
Para que o funcionalismo seja de fato executor útil e fiel dos serviços necessários à
administração pública e não um instrumento eleiçoeiro, é preciso libertá-lo do regime do
burocratismo, sujeito aos caprichos dos políticos que periodicamente transitam pelas
posições de dominação governamental. Para isto, mediadas várias serão apontadas, tais
como:
a) O princípio de serem criados somente os cargos estritamente exigidos pelas
necessidades públicas, bem assim o princípio, não menos salutar, do concurso regular para
nomeação de funcionários;
437
CULTOS
ESPORTE OPERÁRIO
Para os clubes operários pugnaremos para que sejam facilitados todos os meios de
desenvolvimento, auxiliando-os na aquisição de todo material, terrenos, praias etc..
1
- A bandeira vermelha tremulará pela primeira vez no Congresso Nacional! “Todas as
atitudes que assumir, diz-nos o Snr. Azevedo Lima, serão assumidas de acordo com os ‘leaders’ da
vanguarda proletária”. A “extrema esquerda parlamentar”. A Nação. Rio de Janeiro, 26/02/1927, p. 1
e 2. Esta entrevista, na verdade, foi originalmente publicada na edição do mesmo dia de A Manhã.
440
sem dúvida, a maior ênfase que Azevedo Lima punha, inclusive objeto de outra
entrevista, era no primeiro ponto:
O clima de vitória talvez não deixasse claro aos comunistas que estas
palavras de Azevedo Lima não significavam a construção de um partido político,
quanto mais do tipo bolchevique; significavam para o deputado reeleito apenas
uma máquina eleitoral melhor estruturada. Este era seu horizonte para o Bloco
Operário. Somente ao longo do desenvolvimento do mandato de Azevedo Lima
esta e outras diferenças irão avultar, sobretudo em razão de sua resistência a “ser
orientado pelos chefes”.
Nas sessões preparatórias ao início da sessão legislativa, que ocorreram de
25 de abril a 2 de maio de 1927, a “degola” de Júlio Cesário de Mello fez com que
ao final, computadas as seções anuladas, Azevedo Lima acabasse como o
deputado mais votado de 2º Distrito, com 11.456 votos. Além disso, durante estas
sessões Azevedo Lima integrou a Quinta Comissão de Inquérito, a quem coube
apreciar as eleições do 6º Distrito de Minas Gerais, que abrangia os municípios
da região conhecida como Triângulo Mineiro e que tinha como município-sede
Uberaba. Nas eleições ali realizadas as fraudes impediram a reeleição de
Leopoldino de Oliveira, um deputado oposicionista que, como Azevedo Lima,
combatera o governo de Arthur Bernardes na legislatura anterior. Discordando da
opinião da Comissão, que validou os resultados da diplomação, Azevedo Lima
preparou um voto em separado. Sabendo de antemão da ineficácia de seu gesto,
mesmo assim o deputado do Bloco deixou registradas as denúncias das fraudes
ocorridas durante o pleito, em particular a prática do “esguicho” – acréscimo de
2
- Palavras de Azevedo Lima. A Nação. Rio de Janeiro, 01/03/1927, p. 2.
441
3
- Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Anais da Câmara dos
Deputados(1927), vol. II, p. 358-359.
442
razão de julgar que tal ato seria uma violação em face da autonomia das unidades
da Federação brasileira. Mas, em seguida, depois de reafirmar o ponto da
plataforma do Bloco no qual se dizia que o voto secreto não poderia ser julgado
como uma panacéia geral para a democracia brasileira, foi ao ponto: atacou
Antônio Carlos, afirmando que quando das eleições de fevereiro nada fez para
garantir a “verdade das urnas” e que só adotou a lei do voto secreto para “cortejar
a opinião pública” 5. A polêmica com o governador mineiro teve ainda outra
importante manifestação, como veremos mais adiante.
Após as sessões preparatórias, iniciaram-se, com a posse do novo
Congresso Nacional, suas sessões ordinárias em 3 de maio de 1927. De maio até
o início de agosto a atuação de Azevedo Lima se centrou fundamentalmente na
questão do combate à aprovação da “Lei Celerada”, cujo processo já vimos mais
acima, tornando-se aqui desnecessária a sua repetição. Cumpre aqui destacar
que Azevedo Lima levou ao plenário da Câmara dos Deputados o protesto contra
aquela proposta por parte de dezenas de entidades representativas dos
trabalhadores de todo o Brasil lendo as cartas que lhe eram dirigidas, marcando o
que o próprio parlamentar do Bloco chamou de “início de uma fase de
independência proletária”. Evidentemente, grande parte de tais entidades era
influenciada pelos comunistas, mas esta forma de ação serviu para mostrar que
estas fizeram naquele instante do parlamento um lugar para a disputa política e
que se integrou embrionariamente ao processo de erosão social e política da
República Velha que culminaria na chamada “Revolução de 1930”. Talvez se
pudesse objetar a forma pela qual se fez isso, por via de cartas de protesto ao
invés de alguma forma de pressão mais direta, mas, de qualquer maneira, ela é
notável porque mostrou que um segmento da sociedade brasileira, através de
suas entidades representativas, começava a se articular politicamente e de forma
nacional.
4
- Azevedo Lima. Reminiscências de um carcomido, p. 113-124. O sr. Azevedo Lima rompeu
com os bolchevistas. A Manhã. Rio de Janeiro, 12/03/1929.
5
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 30/09/1927, p. 4.235-4.236.
443
Uma última questão neste episódio que vale a pena ser aqui destacada, e
também reiterada, é a referente à da insistência quase solitária de Azevedo Lima
na exibição dos documentos que supostamente legitimariam a necessidade da
“Lei Celerada” e que eram sabidamente um embuste. De um lado, seus reclamos
chamavam a atenção para uma situação paradoxal: todos os parlamentares
teriam de votar uma lei que se justificava com base em uma documentação que
apenas uns poucos deputados e senadores tinham conhecimento. Situação, aliás,
6
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 22/07/1927, p. 2.211-2.212.
444
que se repetiu dez anos mais tarde por ocasião do famigerado “Plano Cohen”. De
outro, fazia avultar algo ainda mais absurdo: o fato de que a documentação era
tratada como se fosse propriedade privada de Annibal de Toledo, a dele
depender sua publicidade ou não. Na verdade, o que o deputado do Bloco punha
a nu era a histórica sujeição do Poder Legislativo frente ao Poder Executivo, em
relação ao qual não se fazia capaz de sequer de simular sua autonomia e
independência. A esse propósito afirmou Azevedo Lima:
7
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 26/07/1927, p. 2.325.
445
8
- A lei de férias burlada. A Nação. Rio de Janeiro, 09/06/1927, p. 1 e 4; Brasil. Congresso
Nacional. Câmara dos Deputados. Anais da Câmara dos Deputados(1927), vol. IV, p. 405-408.
9
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 22/11/1928, p. 5.736-5.5.737.
446
10
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 12/11/1927, p. 5.816.
11
- Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Anais da Câmara dos
Deputados(1927), vol. IV, p. 406.
447
13
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 27/12/1927, p. 8.357-8.359.
14
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 28/07/1928, p. 1.753-1.755.
449
15
- A lei de férias burlada. A Nação. Rio de Janeiro, 09/06/1927, p. 4.
450
disso, seja nas análises que procedia aos mais variados projetos de
suplementação de verbas seja no exame das dotações previstas na peça
orçamentária, o parlamentar do BOC em várias oportunidades mostrou uma
análise extremamente competente na detecção e na denúncia do uso ineficiente e
incorreto de recursos públicos em favor de terceiros.
Cumpre aqui também destacar um dos pontos aos quais Azevedo Lima fez
referência nas suas entrevistas logo após a vitória nas urnas nas eleições de
fevereiro. Trata-se da questão do reconhecimento da URSS pelo governo
brasileiro. Exceção feita a uma série de pronunciamentos nos quais exibiu as
conquistas da Revolução Russa por ocasião do seu 10º aniversário e em alguns
outros nos quais defendeu sua política externa quando do episódio que deu
origem à aprovação da “Lei Celerada”, Azevedo Lima não adotou nenhuma
postura mais efetiva em direção a esta questão, a qual, recorde-se, integrava a
plataforma do Bloco Operário.
Em uma das últimas sessões do ano de 1927, Azevedo Lima pronunciou um
discurso que foi uma espécie de balanço de sua atividade no parlamento. Tal
pronunciamento iniciou-se, aliás, com uma irritada cobrança pública em relação à
atitude de vários elementos de oposição, em especial os democráticos de São
Paulo – a quem Azevedo Lima mais de uma vez denunciara por “seus laços com
a grande burguesia dos fazendeiros de São Paulo” e por sua participação na
nefasta “política de valorização do café” - e seus aliados gaúchos, que
simplesmente haviam abandonado os trabalhos parlamentares - pois o orçamento
ainda se encontrava sob discussão e não fora votado - para “espairecer na sua
terra”, o que foi por ele classificado de “um gesto suicida” e do qual iriam se
penitenciar por meio de um “platônico protesto”. Depois de destacar uma série de
pontos relativos à sua atuação, Azevedo Lima encerrou seu pronunciamento com
um incisivo, rebuscado e, ao mesmo tempo, fastidioso julgamento sobre o
Legislativo:
16
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 24/12/1927, p. 8. 177. Este julgamento, de
certo modo, foi repetido em relação à legislatura de 1928 que Azevedo Lima fez por meio de
declarações publicadas pela imprensa carioca (cf. A pasmosa esterilidade do Legislativo. Notou-se,
até, em 1928, no Congresso, a ausência dos verdadeiros cânones da elegância e da eloqüência
tribunícia. Uma crítica causticante do deputado Azevedo Lima. O Globo. Rio de Janeiro,
02/01/1929.).
17
- Lenine, homem de ação. Discurso proferido pelo deputado Azevedo Lima na sessão
consagrada à memória de Lênin, realizada no dia 13 do corrente. A Nação. Rio de Janeiro,
17/05/1927, p. 1-2 e 6; Protestando contra a sanguinária reação fascista! Operários de todos os
credos, fazendo frente única, comemoraram ontem o aniversário da morte de Matteoti, a vítima do
tirano Mussolini. O vibrante discurso de Azevedo Lima: Abaixo a democracia burguesa! Viva a
democracia proletária!. A Nação. Rio de Janeiro, 11/06/1927, p. 1 e 3; O deputado Azevedo Lima
falará hoje em S. Paulo. O Combate. São Paulo, 06/10/1928, p. 1.
452
18
- A polícia de Santos vai deportar dezenas de operários! Um deles é alcançado pela violência
por haver batizado um filho com o nome de Lenine. O deputado Azevedo Lima vai requerer hábeas
corpus ao Supremo Tribunal. A Esquerda. Rio de Janeiro, 06/02/1928, p. 2; Os operários santistas
expulsos pelo delegado Ferreira da Rosa. O deputado Azevedo Lima intervirá. O Combate. São Paulo,
07/02/1928, p. 1; A expulsão de operários pela polícia de Santos. A deputado Azevedo Lima, em seu
pedido de “habeas corpus”, esmaga alegações do delegado regional. O Combate. São Paulo,
10/02/1928, p. 6.
19
- John W. Foster Dulles. Anarquistas e comunistas no Brasil, p. 284; Um momento
sensacional no seio do operariado!Hoje às 18 horas, na sede da União dos Gráficos, o deputado
Azevedo Lima documentará as acusações que levantou a 18 próximo passado, na U. O. F. T., contra o
conhecido “tira” Pereira de Oliveira. A Esquerda. Rio de Janeiro, 14/02/1928, p. 1; O conflito da U.
T. G. está servindo de pretexto à polícia para a mais torpe perseguição ao operariado. Foi sepultado
ontem o operário Damião, uma das vítimas dos esbirros da 4ª delegacia auxiliar. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 16/02/1928, p. 1 e 6; Começaram as perseguições ao operariado, ao mesmo tempo no Rio e
S. Paulo! Por causa de um conflito provocado pela polícia.... O ministro da Justiça fechou a União dos
Trabalhadores Gráficos. A Esquerda. Rio de Janeiro, 17/02/1928, p. 1 e 6; No Rio, o assassinato
premeditado; aqui, as prisões arbitrárias. O Combate. São Paulo, 17/02/1928, p. 1; Movimento
Operário. Os nossos irmãos do Rio estão sendo assassinados e os daqui recolhidos na enxovia. O
Combate. São Paulo, 17/02/1928, p. 3; Ecos do conflito na U. T. G. O deputado Azevedo Lima
censura o ato do governo fechando o sindicato que lhe emprestou a sala para a conferência de terça-
feira. A Esquerda. Rio de Janeiro, 18/02/1928, p. 2; Ecos do comício da U. T. G. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 18/02/1928, p. 6; C. os acontecimentos de terça-feira na U. T. G. carioca. O Combate. São
Paulo, 18/02/1928, p. 6; Imitando a polícia do tempo do Czar. Espiões e agentes provocadores. O
grave conflito na sede da U. T. G. “Inomináveis e indescritíveis violências”. Conclusões indicadas
pelo delegado Ferreira da Rosa. Praça de Santos. Santos, 20/02/1928, p. 1; O conflito da União dos
Trabalhadores Gráficos. Alguns operários continuam presos e ameaçados de deportação. A Esquerda.
453
deste episódio Azevedo Lima teve contra si uma forte campanha de imprensa, na
qual foi acusado como um dos responsáveis pelo episódio. Embora tivesse
reagido com vigor em relação às acusações, e procurasse eximir a
responsabilidade da UTG, chamando-a para si, aparentemente o episódio
incomodou Azevedo Lima, talvez em razão da demora de uma defesa pública do
BOC em seu favor, que só foi ocorrer por meio de um manifesto datado de 11 de
março20. Um indício desse incômodo foi que Azevedo Lima teria evitado desde
então o “convívio dos sindicatos”21. Outro seguro indício disso foi uma entrevista
concedida ao matutino carioca A Esquerda, na qual o deputado do BOC abriu
suas declarações com a afirmativa de que não tinha programa e que sua ação
parlamentar seria resultado da conjuntura política:
23
- Refazendo as energias para a luta. “Na Câmara, continuarei a fazer a política proletária, a
cumprir o programa do Bloco Operário e Camponês”, diz-nos o deputado Azevedo Lima,ao embarcar
para uma estação de repouso. Como o representante dos trabalhadores cariocas apoiará a ação da
bancada oposicionista. A Esquerda. Rio de Janeiro, 25/04/1928, p. 1.
24
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 29/05/1928, p. 350-351.
455
25
- Confirma-se o rompimento do deputado Azevedo Lima com o Bloco Operário e Camponês.
A Esquerda. Rio de Janeiro, 11/03/1929, p. 3.
26
- A pasmosa esterilidade do Legislativo. Notou-se, até, em 1928, no Congresso, a ausência
dos verdadeiros cânones da elegância e da eloqüência tribunícia. Uma crítica causticante do deputado
Azevedo Lima. O Globo. Rio de Janeiro, 02/01/1929.
456
27
- O inquilinato. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18/12/1928, p. 4.
457
“Quer isto dizer que, justamente na ocasião menos oportuna, isto é, quando
mais úteis se tornavam as medidas de coerção da lei do inquilinato contra a
especulação dos proprietários desta Capital, é que a Câmara dos Deputados, com
a obstinação dos que advogam em causa própria, se dispõe a consultar os
interesses dos ricaços senhorios, para quem jamais a vida sorriu como agora,
segundo se pode depreender do discurso do próprio líder da maioria, Sr. Villaboim,
a quem se obedece, com raras e honrosas exceções .”29
Afora isso, embora, reitere-se, com menos volume do que ocorrera em 1927,
Azevedo Lima continuou a veicular em plenário as denúncias que recebia a
respeito da ação da polícia contra o movimento operário, nas quais destacou,
especialmente, as prisões e expulsões de militantes estrangeiros, as brutalidades
praticadas por policiais, em particular as torturas30, as invasões das sedes da
Federação dos Trabalhadores de Natal (Rio Grande do Norte) e da Coligação
Operária de Santos e a repressão desencadeada contra o BOC durante a
campanha eleitoral no Distrito Federal. Neste caso, especificamente, foi muito
enfático em denunciar a ação da polícia política e de seu delegado Pedro de
Oliveira Sobrinho, do qual solicitou a demissão do cargo, em razão da sua
atuação e de seus subordinados nos episódios que resultaram na morte de um
trabalhador no comício do BOC realizado no Arsenal de Marinha.
Outros temas dos quais Azevedo Lima se ocupou em plenário com mais
ênfase durante o ano de 1928 eram referentes a questões conjunturais e que não
tinham reflexo imediato nas principais preocupações do BOC. Tais
pronunciamentos foram relativos a denúncias de irregularidades e desmandos
ocorridos no Colégio Militar e na Escola Militar; ao desconto em folha para
pagamento de dívidas contraídas com associações de classe ou
estabelecimentos bancários da Capital ou dos Estados pelo funcionalismo federal;
e as contas dos militares referentes aos adiantamentos que receberam para o
serviço de repressão aos movimentos de revolta de 1922 e 1924. Azevedo Lima
também se dedicou a discutir alguns projetos de lei referentes a questões
28
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 05/06/1928, p. 445.
29
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 03/10/1928, p. 4.050.
458
30
- Azevedo Lima leu em plenário as denúncias formuladas por um escritor de origem
portuguesa Antônio Narciso Rôças, de pseudônimo Amadeu Santelmo, sobre as brutais torturas de
que foram vítimas ele e outro prisioneiro na 4ª Delegacia Auxiliar.
459
Por fim, apesar de, durante o ano de 1928, ainda ser possível mencionar
outras questões nas quais Azevedo Lima fez parte do debate, como, por exemplo,
no caso do projeto de lei regulava a questão da radiodifusão no Brasil, o qual,
diga-se de passagem, foi por ele competente e minuciosamente examinado,
julgamos que sua postura de “franco-atirador”, de alguém que precisa deixar sua
opinião consignada, em boa parte das discussões que aqui não mencionaremos
acaba, no fundo, demonstrando um processo de descolamento do BOC e de
perda de referência política. Isto, por exemplo, é visível no caso de uma
discussão da que tomou parte referente a um projeto de lei que modificou tarifas
aduaneiras, especificamente aumentando as tarifas sobre o tecido de algodão.
Tal iniciativa teria reflexos sobre os trabalhadores têxteis, provocando
desemprego entre eles. Azevedo Lima acabou, no entanto, fazendo a este
propósito um confuso pronunciamento no qual pretendia mostrar a necessidade
de uma política industrial e a importância do monopólio do comércio exterior,
citando em ambos os casos o exemplo da URSS, sem, no entanto, conseguir
fazer o devido contraponto com a situação brasileira, e acabou enveredando em
comentários sobre a saúde pública, fisiologia, instrução pública, cinema, o caso
de Trotsky e regime penitenciário na URSS e concluindo que a salvação estava
na revolução social31. Enfim, como se diria anos mais tarde, Azevedo Lima
perdera o eixo.
31
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 27/12/1928, p. 7.366-7.369.
460
BOC, onde ocupou o cargo de arquivista em seu Comitê Central, bem como na
criação do Centro Político Proletário do Espírito Santo.
A proeminência e o destaque dados às atividades de Azevedo Lima como
deputado e presidente do Bloco fizeram com que os críticos do BOC começassem
a apresentá-lo como “chefe político”, ou “coronel do comunismo”, modo pelo qual
o classificava Maurício de Lacerda, justificando tais assertivas em razão de o
pagamento o aluguel da sede e das despesas de alistamento de eleitores serem
de sua responsabilidade32. Esta observação, referida mais de uma vez em artigos
de militantes do BOC, parecia incomodar os comunistas. Não se sabe se fazendo
uso deste pretexto ou não, mas o fato é que a opção tomada pela Assembléia de
Delegados, no dia 19 de agosto de 1928, em favor das candidaturas de Minervino
de Oliveira e Octavio Brandão, e, conseqüentemente, em favor de “candidaturas
operárias”, fez com que o nome de Moura Nobre fosse excluído da chapa do
BOC, afastando-se, portanto, o candidato de Azevedo Lima. Como resultado da
decisão, Moura Nobre acabou saindo como candidato avulso a intendente pelo 2º
Distrito. Os dirigentes do BOC procuraram Azevedo Lima e pediram que
intercedesse junto a Nobre a fim de que ele se demitisse do Bloco, pois
consideravam que esta situação, além de ser um exemplo de indisciplina, criava
confusão entre os filiados e simpatizantes. Finalmente, Moura Nobre demitiu-se
no dia 8 de setembro, continuando, porém com o apoio público do deputado do
BOC e sendo apresentado até pela imprensa como candidato da “Chapa Azevedo
Lima”33. Mesmo assim firmou-se um compromisso “operacional” em que os votos
32
- Tob. Guarany. O B.O.C. é uma autêntica organização de trabalhadores. A Esquerda, Rio
de Janeiro, 11/08/1928, p. 4; A apuração do último pleito carioca. Comunismo a granel... Correio da
Manhã. Rio de Janeiro, 18/11/1928, p. 2.
33
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
junho a 31 de julho de 1929, p. 560; Ata da reunião da C.C.E. do P.C.B., de 30 de setembro de 1928
(RGASPI); As próximas eleições municipais. Em reunião de ontem, os delegados do Bloco Operário e
Camponês escolheram os seus candidatos a intendente pelo 1º e 2º Distrito. A Esquerda. Rio de
Janeiro, 20/08/1928, p. 6; Sr. Azevedo Lima e as próximas eleições. Serão apoiados pelo deputado
carioca apenas os candidatos Octavio Brandão, pelo 1º distrito, Minervino de Oliveira e Moura
Nobre, pelo 2º distrito. A Esquerda. Rio de Janeiro, 22/09/1928, p. 6; A apuração do último pleito
carioca. Um comunista nobre.... Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 08/11/1928, p. 6; As eleições
municipais. Uma lista completa dos candidatos de pleito de domingo. Correio da Manhã. Rio de
Janeiro, 26/10/1928, p. 3.
461
34
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., de 14 de outubro de 1928 (RGASPI). Ata da Reunião
da C.C.E. do P.C.B., de 21 de outubro de 1928 (RGASPI).
35
- S.A. A vida do Bloco Operário e Camponês. [Rio de Janeiro, dezembro de 1928], p. 1
(RGASPI).
462
“Divinizou-se Azevedo Lima, que era recebido sempre com grande uníssonos
onde aparecia. Tática antimarxista, porque não teve em conta não só a influência
dos interesses econômicos de Azevedo Lima, com o jogo das suas forças
eleitorais. Mais uma vez houve uma superestimação dos fatores subjetivos e um
absoluto desprezo pelos objetivos. Não será demais repetir, nós temos sido vítimas
de um mal de ordem psicológica, o subjetivismo, a crença em resolver por meio
apenas de palavras, sob a forma de apelos, elogios, ataques e ameaças.”36
36
- Manoel Karacik. Para o III Congresso do Partido. Rio de Janeiro, [dezembro de 1928], p. 4
(RGASPI).
37
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., de 2 de novembro de 1928 (RGASPI).
463
38
- PCB. Teses e resoluções adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p.
15-16. Para a íntegra da resolução ver o Anexo XV.
464
39
- Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 2 (RGASPI);
Como o parlamentar carioca explica, definitivamente, em carta ao eleitorado, os motivos do seu gesto
rompendo com os comunistas. A Manhã. Rio de Janeiro, 13/03/1929. Sobre a documentação relativa à
saída de Azevedo Lima do BOC ver o Anexo XII.
465
40
- Confirma-se o rompimento do deputado Azevedo Lima com o Bloco Operário e Camponês.
A Esquerda. Rio de Janeiro, 11/03/1929, p. 1 e 3; O sr. Azevedo Lima rompeu com os bolchevistas. A
Manhã. Rio de Janeiro, 12/03/1929, p. 1 e 12; O sr. Azevedo Lima e a política proletária. Diário
Carioca. Rio de Janeiro, 12/03/1929; Como o parlamentar carioca explica, definitivamente, em carta
ao eleitorado, os motivos do seu gesto rompendo com os comunistas. A Manhã. Rio de Janeiro,
13/03/1929; Este, em vez de marchar para a esquerda proletária, rola para direita burguesa.
Publicamos a crítica aprovada unanimemente na assembléia dos delegados a 10 de março. A Classe
Operária. Rio de Janeiro, 16/03/1929, p. 1 e 4.
466
41
- Leônidas do Amaral. Os pródromos da campanha presidencial, p. 268. Trata-se da
transcrição de pronunciamento feito por Azevedo Lima no plenário da Câmara dos Deputados em sua
sessão de 28 de agosto de 1929.
467
42
- O deputado Azevedo Lima expulso do Bloco Operário e Camponês. A Esquerda. Rio de
janeiro, 06/04/1929; O Deputado Azevedo Lima foi expulso do Bloco Operário e Camponês. A Classe
Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929.
43
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro 12/11/1927, p. 5.816; Leônidas do Amaral.
Os pródromos da campanha presidencial, p. 277. Trata-se da transcrição de pronunciamento feito
por Azevedo Lima no plenário da Câmara dos Deputados em sua sessão de 28 de agosto de 1929.
468
44
- Ver o relato sobre este momento na obra de Azevedo Lima. Da caserna ao cárcere.
45
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
agosto e 30 de setembro de 1929, p. 877.
469
46
- M. Paulo Filho. O outro comunismo. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30/11/1928, p. 4.
47
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., em 20 de novembro de 1928 (RGASPI). Em um dos
seus primeiros pronunciamentos, em 11 de junho de 1929, Minervino de Oliveira foi aparteado por
Moura Nobre, que lhe indagou se era membro do PCB. A resposta foi clara: fazia parte do BOC (Cf.
Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de junho a 31 de
julho de 1929, p. 492). Em pronuncimento feito pelo próprio Minervino de Oliveira, em 14 de
outubro, admitiu-se o vínculo do BOC com o PCB: “Porque já temos declarado inúmeras vezes, que a
opinião de Octavio Brandão aqui dentro, é a minha opinião; e a nossa opinião, aqui dentro, não é
nossa, pertence ao Bloco Operário e Camponês, dirigido pelo Partido Comunista, é a opinião do
470
Marcas do mandato
49
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
junho a 31 de julho de 1929, p. 386.
472
50
- A apuração do último pleito carioca. Seções doentes. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
14/11/1928, p. 6.
51
- A palavra do intendente do Bloco Camponês. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
30/10/1928, p. 1.
473
52
- PCB. Teses & resoluções adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p.
22.
53
- Ata nº 1 do Presidium do P.C.B. de 11 de janeiro de 1929, p. 2 (RGASPI),
54
- Bloco Operário e Camponês. O Internacional. São Paulo, nº 159, 01/07/1929, p. 2.
474
de Janeiro Light and Power” para poder circular pela cidade em seus coletivos.
De acordo com a resolução que definiu a devolução, os passes não eram objeto
de qualquer contrato entre a Light e a Prefeitura ou o Conselho Municipal, sendo,
portanto, apenas um processo de conquista dos políticos. Além disso, o BOC
julgava que os seus representantes não poderiam receber favores de quaisquer
empresas capitalistas. Por fim, lembrava a resolução, a Light sempre impediu a
organização dos trabalhadores dentro da empresa e não cumpria a Lei de
Férias55.
Uma importante questão que perpassou os mandatos de Minervino de
Oliveira e de Octavio Brandão foi a da conexão da atuação “extraparlamentar”
com a propriamente parlamentar. Já na carta aberta de 1927 os comunistas
inseriram a questão da “responsabilidade dos políticos perante as massas”, que
algum tempo depois teve alguns de seus aspectos assim ressaltados por
Astrojildo Pereira:
55
- Os intendentes operários e os passes da Light. O Internacional. São Paulo, nº 153,
01/03/1929, p. 1.
475
56
- Astrojildo Pereira. O candidato operário e sua obra primordial. Praça de Santos,
30/01/1928, p. 3 (A íntegra deste artigo está reproduzido no Anexo IX).
57
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 144.
58
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 354-355.
59
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.157.
60
- Idem. Ibidem, p. 1.198-2.001.
476
não cumprimento da legislação do trabalho por elas61; o que também servia para
que fossem desfechadas críticas à ineficiência do Governo e do Conselho
Nacional do Trabalho em sua função fiscalizadora, os quais, assim, eram
acusados de agir em defesa da classe capitalista. Em alguns casos, com a
repercussão obtida pela denúncia, os diretores de tais empresas acabavam sendo
obrigados a se dirigir aos intendentes do BOC para apresentar suas versões dos
fatos.
A presença de ambos nestes lugares, inclusive, foi atestada pela polícia
política carioca, que enviava seus investigadores para acompanhar as idas de
Minervino de Oliveira e de Octavio Brandão “ao seio do proletariado” e que
produziram uma grande série de relatórios a seu respeito62.
Embora o Supremo Tribunal Federal considerasse que os intendentes
cariocas fossem equiparados aos deputados estaduais - o que significava que
eles não poderiam ser presos, como esclareceram Maurício de Lacerda e Moura
Nobre63 -, a polícia política ignorava esta interpretação e por várias vezes
encarcerou os intendentes do BOC. Sua atividade “extraparlamentar” os fazia
participar freqüentemente de comícios públicos, o que levou a que em uma das
altercações no plenário do Conselho Municipal fossem, pejorativamente,
chamados de “meetingueiros”. Em vários deles, como resultado da atitude hostil
da polícia em relação às manifestações públicas nas quais se criticava o governo,
61
- Veja-se, por exemplo, os relatos sobre a falta de pagamentos de férias na Companhia
Industrial Silveira Martins (cf. Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal.
Sessões de 1º de Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 729-731); sobre a exploração do trabalho de
menores na Fábrica de Tecidos de Bangu, na Fábrica de Tecidos Sarmento, em São João Nepomuceno
(MG), e na Fábrica dos Ingleses, em Juiz de Fora (MG) (cf. Distrito Federal. Conselho Municipal.
Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 1.479-1.481);
sobre as condições de trabalho nas empresas de marinha mercante (cf. Distrito Federal. Conselho
Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Outubro a 30 de Novembro de 1929, p.
43-46); os baixos salários da Fabrica de Tecidos Maria Cândida, em Paracambi (RJ) (cf. Distrito
Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Outubro a 30 de
Novembro de 1929, p. 100-101); o trabalho escravo existente nas empresas Dolabella Portella & Cia.
Ltda. (cf. Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 256-257).
62
- Esther Kuperman. De olho em Octavio Brandão In Luitgarde Oliveira Cavalcanti de
Barros (org.). Octavio Brandão: Centenário de um militante na memória do Rio de Janeiro, p. 153-
154.
477
63
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 60.
478
“Na Polícia Central fomos metidos num xadrez, sem colarinho, sem gravata,
sem o cinturão. As grades do presídio davam para um corredor estreito. Estiramo-
nos sobre uma tarimba suja. A água de beber era servida, num balde exposto, com
uma caneca única para todos os presos. [...] Entre o mau cheiro das úlceras dos
presos e o mau cheiro da privada cheia e sem água para lavá-la, a cabeça tonta,
ficamos perto de 11 horas estirados na tarimba. Minervino, Morena e eu.
Repelente promiscuidade. Poças de urina no cubículo. 11 horas nesse
ambiente pestífero!... [...] Qual a alimentação dos presos, à sombra do pretenso
liberalismo do Sr. Manuel Duarte [presidente do Estado do Rio de Janeiro, dk]? Um
café pela manhã e uma refeição única às três horas da tarde. À hora da refeição,
vimos os ladrões e os vagabundos, famintos, devorarem a comida. De que
constava a refeição? De uns pedacinhos de carne, um pouco de arroz com
repolho, um pouco de farinha e nada mais. Eis a alimentação de um homem
durante 24 horas! Os cães rejeitariam essa alimentação, servida em latas de
banha, sujas, imundas. Pobres camaradas Grazzini, Caetano e Morena! O primeiro
dia de prisão é verdadeiramente de fome. De acordo com o regulamento, o preso
não tem direito à alimentação no primeiro dia e assim ficamos 11 horas sem
alimento. [...] Grazzini e Caetano, desde o dia 2, estão em outro cubículo, famintos
e seminus, na maior promiscuidade com ladrões e vagabundos. Entretanto, são
presos políticos!
Em outro cubículo estava um louco, que fazia um barulho ensurdecedor. Este
louco foi conduzido, não sabemos para onde, num carro aberto, ao passo que nós,
considerados pela grande burguesia fluminense mais perigosos que os loucos,
fomos conduzidos num carro forte. Quer dizer: os proletários, no Estado do Rio,
têm menos direito que os loucos.
A minha companheira passou por todos os vexames. Foi metida em outro
xadrez com uma semilouca. Posteriormente foi ali introduzida uma menina de 13
anos, acusada de roubo. Nenhum respeito à mulher à mulher proletária.
Fotografada, identificada como uma criminosa. Interrogada, prestou depoimento
perante o escrivão. A grande burguesia em geral e a fluminense em particular não
têm o mínimo respeito à mulher proletária.” 65
64
- Idem. Ibidem, p. 100.
479
mesmas medidas a todos aqueles que tentassem repetir nas fronteiras do Rio de
Janeiro, como afirmou Maurício de Lacerda, “as idéias condenadas pelo Santo
Ofício do Ingá”66. Enfim, as violências cometidas, a arrogância dos políticos
fluminenses e também as relações políticas de alguns intendentes cariocas com a
oposição fluminense conduziram a esta raríssima unanimidade na condenação do
Conselho Municipal do Distrito Federal à prisão dos dois intendentes do BOC,
coisa que não se repetiu em nenhuma das outras prisões e detenções sofridas
por ambos.
Na questão da atuação “extraparlamentar” pode-se notar uma relevante
distinção entre os mandatos de Azevedo Lima e dos intendentes. Para estes a
presença nos bairros e nas fábricas era uma prática cotidiana, que se refletia
tanto nos pronunciamentos como nas propostas legislativas. Eram os
representantes que se dirigiam aos representados. Para Azevedo Lima, que era
tratado e cortejado como uma “personalidade” pelos próprios comunistas67, tais
visitas eram escassas, além de restringirem-se a empresas estatais. A via,
portanto, processava-se em sentido contrário: era o cidadão quem tinha de ir ao
escritório político ou ao gabinete do parlamentar para fazer denúncias ou solicitar
favores, eram as entidades, como recomendava A Nação durante a campanha
contra a “Lei Celerada”, que deveriam escrever-lhe seus protestos contra o
substitutivo de Annibal de Toledo. Azevedo Lima, enfim, tinha uma postura,
apesar do discurso diferenciado, mais conforme a de um político tradicional, ao
passo que os intendentes comunistas tinham uma atitude bem diversa neste
campo.
A atuação dos dois intendentes em plenário, de modo geral, obedecia a uma
espécie de “divisão de trabalho” entre Minervino de Oliveira e Octavio Brandão,
embora este último tenha feito um maior volume de pronunciamentos, resultado,
inclusive, do fato de que Minervino de Oliveira, exercendo também as funções de
65
- Idem. Ibidem, p. 96.
66
- Idem. Ibidem, p. 60.
67
- Manoel Karacik. Para o III Congresso do Partido. Rio de Janeiro, [dezembro de 1928], p. 4
(RGASPI).
480
68
- Veja-se, particularmente, os pronunciamentos de Octavio Brandão feitos nas sessões de 16
e 17 de julho de 1929 (Cf. Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal.
Sessões de 1º de Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.477-1.491 e 1.518-1.523).
69
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., em 20 de novembro de 1928 (RGASPI).
481
70
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 366.
482
71
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., em 20 de novembro de 1928 (RGASPI).
72
- Em junho de 1929 foram eleitos para a Mesa Diretora do Conselho Municipal do Rio de
Janeiro: Henrique Maggiolli (presidente), Floriano de Góes (vice-presidente), Edgar Romeiro (1º
Secretário) e Corrêa Dutra (2º Secretário).
73
- Octavio Brandão e Minervino de Oliveira. A luta das classes no Conselho Municipal. A
Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 63 (2ª fase), 06/07/1929, p. 4.
483
74
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 495-496.
484
“O Sr. Dormund Martins: - O comunismo é uma blague: V. Ex. tem uma ‘idéia
fixa’ e eu não sigo a máxima da psiquiatria de que não se deve alimentar o delírio
de um alienado; pelo contrário, alimento, irrito o alienado...
O Sr. Floriano de Góes: - Isso é esquizofrenia...
O Sr. Dormund Martins: - O Sr. Octavio Brandão é um paralítico geral.
O Sr. Minervino de Oliveira: - O Hospício tem muita gente boa...
75
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 1.008-1.009.
485
76
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 579.
77
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.160-1.161.
78
- Idem. Ibidem, p. 480. Esta forma de Brandão usar freqüentemente dados numéricos foi
criticada por Astrojildo Pereira: “Nos seus discursos – como em muita coisa do que escreve –
O[ctavio]. é por vezes prolixo, provando ‘demasiado’. Tais discursos ganhariam em clareza e vigor se
fossem mais condensados. Menos detalhes. Menos miudezas. Há um detalhe, por exemplo, que é
típico, repetido a cada momento. É o da referência aos ‘206’ grandes fazendeiros de S. Paulo e Minas.
Estes ‘206’ são da estatística de 1920. Num trabalho de estatística estaria bem apontá-los assim
numericamente exatos. Mas em discursos e artigos de agitação, não me parece. Por que 206 e não
207, ou 209, ou 208? De resto, de 1920 para cá talvez esses 206 tenham diminuído (com a
486
concenração). Seria preferível dizer, de um modo geral: os 200 grandes fazendeiros, etc. E assim,
noutros pontos. O. desce a detalhes que obscurecem e enfraquecem em vez de esclarecer e reforçar”
(Carta de Américo [Astrojildo Pereira] a Camaradas. Moscou, 15/10/1929, p. 2 (RGASPI); esta carta,
em conjunto com outras de Astrojildo, foi publicada na imprensa comunista brasileira: Cartas
políticas de Américo Ledo. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p. 14-18).
487
79
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
junho a 31 de Julho de 1929, p. 686.
80
- Idem. Ibidem, p. 1.474.
81
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 918.
488
82
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de
junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.511.
83
- Idem. Ibidem, p. 1.886.
489
Maurício de Lacerda
84
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.620.
85
- Maurício de Lacerda. Segunda República, p. 157.
490
86
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.895-1.896.
491
87
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 480.
492
diferença alguma entre os três nomes, pois todos pertenciam à classe capitalista,
aos partidos republicanos de seus estados e defendiam a política de valorização
do café, além de serem inimigos do proletariado e da classe média. Para estes
últimos o BOC propunha nem situação nem oposição liberal: “A nossa viagem far-
se-á por um terceiro caminho...”89. Quando Brandão indicou pontos desfavoráveis
aos três nomes (a repressão à greve dos gráficos paulistas para Júlio Prestes, a
liderança de governo de Arthur Bernardes para Antônio Carlos e a perseguição
ao BOC no Rio Grande do Sul para Getúlio Vargas) a cada um deles era
aparteado por Maurício de Lacerda por um “apoiado”, exceto no momento em que
Brandão qualificou Vargas, quando Lacerda permaneceu calado.
Sintomaticamente, como assinalou Luiz Carlos Prestes anos depois, justamente
nesta época Getúlio Vargas começou a conquistar o apoio dos “tenentes” para
sua candidatura90.
No dia 4 de setembro, Octavio Brandão abordou novamente a questão da
sucessão presidencial. Com os nomes Júlio Prestes e Getulio Vargas já definidos
– ambos seriam oficializados em convenções que se realizaram nos dias 12 e 20
de setembro, respectivamente -, reiterou a caracterização de que as duas
candidaturas representavam os imperialismos inglês e americano em disputa.
Além disso, em relação a Vargas, chamou a atenção para suas manifestas
simpatias em relação ao fascismo de Mussolini91 e arrolou seus atos, enquanto
governador do Rio Grande do Sul, de perseguição ao movimento operário
gaúcho. Concluiu seu pronunciamento afirmando que somente uma insurreição
dirigida pelo proletariado e pela classe média contra a classe capitalista seria
88
- Idem. Ibidem, p. 389.
89
- Idem. Ibidem, p. 1.896. Note-se que o nome de Antônio Carlos aqui ainda aparecia na
condição de “tertius”, pois, embora já tivesse anunciado a Wahington Luís sua condição de candidato,
Vargas se dispunha a retirar seu nome caso o Presidente abrisse mão da candidatura de Júlio Prestes.
90
- Denis de Moraes e Francisco Viana. Prestes: Lutas e autocríticas, p. 66.
91
- Octavio Brandão leu em plenário o seguinte trecho das declarações de Getulio Vargas
publicadas no diário carioca O Jornal em sua edição de 13 de agosto de 1929: “Outra não tem sido,
como se sabe, a minha diretriz no governo do Rio Grande, onde o que se tem feito assemelha-se ao
direito corporativo ou organização de classes promovido pelo regime fascista no período de renovação
criadora que a Itália atravessa. Não será diferente, é claro, na administração suprema da República, se
até lá me elevar o voto dos meus concidadãos, observadas as exigências e necessidades de um meio
maior e as peculiaridades de cada Estado”.
493
92
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 917-926. Sobre o encontro de Prestes e Vargas ver Denis de
Moraes e Francisco Viana. Op. cit., p. 66.
494
tropas federais do Rio Grande do Sul93 e preferiu apelar à “boa fé” de Brandão a
fim de evitar que a polêmica fosse explorada pela imprensa. No entanto, pouco
antes de se calar definitivamente naquele dia, Lacerda deixou escapar uma frase
que mostrava sua aproximação com a Aliança Liberal e a razão pela qual o fazia:
“Adotar um terceiro candidato é fazer o jogo do Catete”94. Para o intendente
carioca o lançamento de mais uma candidatura, dividindo a oposição, facilitaria a
vitória de Júlio Prestes. Posteriormente, Octavio Brandão colocou o ponto de vista
do BOC, rebatendo a argumentação de Lacerda:
“O nosso combate a Getúlio Vargas não favorece Júlio Prestes. Basta ver
como este e Washington nos perseguem. O nosso combate visa impedir que o
país estacione no segundo caminho, à sombra do fascismo de Wall Street,
julgando ter dado um passo à frente. Visa preparar o terceiro caminho, o caminho
da revolução agrária e antiimperialista.
Apoiar Getúlio Vargas é fazer o jogo do fascismo, é fazer o povo estacionar
no segundo, dificultando o terceiro caminho. A verdadeira tática é combater Júlio e
Getúlio, combater Júlio sem fazer o jogo de Getúlio e ice-versa, apontando às
massas o 3º caminho.”95
93
- Mais tarde Lacerda aduziu razões de ordem tática a essa explicação: “O motivo era porque
nós diante da ameaça de invasão militar no Rio Grande e querendo sublevá-lo ao mesmo tempo que
visávamos evitar o acordo que o general Paim, segundo fôramos informados, viera para fazer entre a
política dividida, aconselhávamos o povo a votar em Getúlio Vargas, sem abandonar a bandeira de
julho, mas como um simples protesto que impedisse os conchevos e propelisse a Aliança Liberal para
o terreno da luta de que refugiam alguns elementos dela” (Maurício de Lacerda. Segunda República,
p. 148).
94
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 139.
495
Três dias depois, frente às críticas que fez a imprensa carioca aos
intendentes do BOC por sua “ingratidão” no ataque a Maurício de Lacerda,
Octavio Brandão esclareceu que as divergências eram de caráter político e não
pessoal. Buscando reforçar sua argumentação, o intendente do BOC arrolou uma
série de discordâncias com Lacerda:
95
- Idem. Ibidem, p. 422. Grifos do original.
96
- Miguel Costa Filho. Os farsantes da revolução, p. 56-57. A linha de conduta a que o autor
se refere é que Prestes não apoiaria candidatos da oligarquia.
97
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 198-199.
496
entanto, sem tê-las feito a Lacerda na época das votações – coisa que ocorrera
com os outros intendentes -, as críticas de Brandão acima arroladas apareciam
naquele momento como se fossem exigências feitas a um militante do BOC que
não cumprira suas obrigações. Ou seja, em uma inábil manobra, o BOC acabou
aqui igualando Lacerda aos outros intendentes e ajudando a obscurecer a
principal diferença, que era a questão da sucessão presidencial. Este
obscurecimento acabou facilitando, como veremos adiante, a tarefa de isolamento
que os intendentes contrários ao BOC vinham promovendo.
O debate, no entanto, acabou arrefecendo em razão do engajamento dos
intendentes do BOC nos preparativos para a realização do III Pleno do CC do
PCB e do I Congresso do BOC, o qual definiu a candidatura de Minervino de
Oliveira à Presidência da República. No III Pleno os intendentes do BOC foram
censurados por não terem feito “nenhuma crítica às atitudes oportunistas de
Maurício de Lacerda”98.
Designado pela direção do PCB para atacar Lacerda99, Brandão retomou,
em 28 de novembro, as acusações que lançara no início de outubro. Já no
contexto de campanha presidencial, Octavio Brandão fez um discurso no qual
criticava a hesitação dos “tenentes” entre o proletariado e a burguesia:
98
- Resolução sobre a linha política do B.O.C. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p.
19.
99
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 31.
100
- Idem. Ibidem, p. 1.829.
497
“fazer discurso como o Sr. Maurício de Lacerda” nem ter receio de “’espantar’ a
burguesia, como o Sr. Maurício receia”, Octavio Brandão passou a reiterar os
ataques anteriormente feitos a Lacerda. Este imediatamente retrucou e entrou em
polêmica, refutando as acusações de Brandão e quando se tocou na questão de
suas declarações de apoio à Aliança Liberal, Lacerda, blefando, afirmou que o
fizera “perfeitamente autorizado pelos meus chefes”101. Esta afirmativa não
correspondia aos fatos, pois se tinha conhecimento das posições contrárias de
Prestes à candidatura de Getúlio Vargas, e isto acabou sendo mais um dos
elementos do rompimento de Luiz Carlos Prestes e Lacerda. Este afastamento já
fora iniciado através de uma carta de Prestes enviada aos “tenentes” Cordeiro de
Farias e Silo Meirelles, datada de 22 de novembro, na qual pedia que se
desautorizasse as “explorações de Maurício”102.
No dia seguinte, Lacerda fez um pronunciamento respondendo a cada uma
das acusações a ele feitas, justificando seus posicionamentos, e afirmando que
deixaria de apoiar os intendentes do BOC, passando a agir por si mesmo. Por fim,
reiterou seu apoio à Aliança Liberal, com a qual já estava em negociações:
“Que pensem, que reflitam ainda. É uma causa que merece que os homens
sacrifiquem melindres e transijam ante as suas questões pessoais mais graves. No
caso o que está em balança, é a hora, hora em que Luiz Carlos Prestes precisa ser
o homem mais prestigiado do país. Se a Aliança Liberal tenta uma pequena
revolução fascista para evitar uma ditadura washingtoniana, com o seu fascismo
sem idéias, quem poderá colocar dentro do país, quem poderá deter dentro do país
a investidura fascista, torcer as duas correntes, pelo menos uma, superintendendo
como técnico o comando militar e como político orientando o golpe, senão Luiz
Carlos Prestes, esse escudo, esse quebra-mar, essa garantia da liberdade nova e
da sociedade nova que se atacou ontem aqui através de seu humilde e obscuro
soldado civil? Não o conseguirão desprestigiar. Nós estamos a postos e vigilantes.
Não confundimos os erros de tática do comando bloquista com as necessidades da
massa operária. A massa operária há de vir conosco na hora da reação, porque
somos no país os primeiros a dar o primeiro passo de suas reclamações de
justiça.”103
101
- Idem. Ibidem, p. 1.836.
102
- Anita L. Prestes. A Coluna Prestes, p. 380.
103
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.900.
498
A resposta do BOC à ruptura de relações feita por Lacerda foi a leitura, por
Minervino de Oliveira, de algumas cartas em plenário na sessão de 5 de
dezembro. Em uma delas, de autoria do jornalista e militante comunista Josias
Carneiro Leão, um “tenente civil”, tornaram-se públicas as críticas de Luiz Carlos
Prestes às “explorações” de Lacerda. As outras, de autoria de seus irmãos Paulo
e Fernando, atacavam Maurício de Lacerda. No entanto, por ação de um grupo de
intendentes que propusera dias antes uma medida a fim de evitar a publicação
dos pronunciamentos dos intendentes comunistas, como veremos adiante, o
pronunciamento de Oliveira foi censurado e as cartas acabaram não sendo
publicadas. Quando se esperava uma resposta por parte de Lacerda, este
silenciou, atendendo a um pedido pessoal de Juarez Távora para que adiasse
sua resposta, “a fim de não prejudicar a causa”. Ao mesmo tempo, os “tenentes”
buscaram apaziguar Luiz Carlos Prestes, pedindo que este não polemizasse
publicamente com Lacerda, “pois este tinha prestado e vinha prestando bons
serviços à causa de julho” 104. E assim se encerrou a polêmica dos intendentes do
BOC com Maurício de Lacerda.
104
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 192-199; Maurício de Lacerda. Segunda República, p. 153-163; Miguel Costa
Filho. Os farsantes da revolução, p. 41.
499
105
- João Freire de Oliveira. Atitudes claras. O Combate. São Paulo, 19/01/1929, p. 2.
106
- Idem. Ibidem, p. 489. Episódios semelhantes aos ocorridos com Azevedo Sodré e Antônio
Prado repetiram-se por ocasião das homenagens prestadas a Adolpho Gordo, no caso deste por duas
vezes, ao jornal A Noite - de propriedade de Geraldo Rocha -, a Epitácio Pessoa e aos candidatos da
Aliança Liberal.
107
- Homenagens à memória do Conselheiro Antônio Prado no Conselho Municipal. Como o
intendente do Bloco Operário, Octavio Brandão, justificou o seu voto em separado. O Internacional.
São Paulo, nº 159, 01/07/1929, p. 5.
108
- Os intendentes que fizeram uso da palavra nesta ocasião foram: Antônio Dormund
Martins (eleito pela “Chapa Adolpho Bergamini”), Oswaldo de Moura Nobre (“Azevedo Lima”),
500
Francisco Vieira de Moura (“Penido-Irineu” + “Azurém Furtado”), João da Costa Pache de Faria
(“Frontin-Mendes”) e Sisínio Carreiro de Oliveira (“Cesário de Mello” + “Abelardo Reis”).
Posteriormente integraram-se ao grupo que atacava os comunistas em plenário os intendentes
Floriano de Araújo Góes (“Frontin-Mendes” + “Cândido Pessoa”), Mário Monteiro Alves Barbosa
(“Cesário de Mello”), João Baptista Pereira (“Light”), João da Costa Pinto (“Penido-Irineu”) e
Ataliba Corrêa Dutra (Avulso).
501
109
- Veja-se, espalhadas ao longo dos Anais de 1929, as intervenções de Minervino de Oliveira
e de Octavio Brandão feitas nas sessões de 11, 14 e 28 de junho; 3, 6, 19, 24 e 25 de julho; 23 de
agosto, 21 de setembro; 2, 9, 15, 18, 21 e 25 de outubro; e 14 e 18 de novembro de 1929.
110
- Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de junho a 31 de julho de
1929, p. 1.213. Neste mesmo pronunciamento Brandão relacionou as invasões ocorridas entre 7 de
junho e 5 de julho de 1929 no Distrito Federal: a redação da Classe Operária, a sede do BOC (2
vezes), o Centro Cosmopolita (2 vezes), a União dos Trabalhadores em Padarias, a União dos
Metalúrgicos (3 vezes), o Centro dos Jovens Proletários (3 vezes), o Comitê das Mulheres
Trabalhadoras (3 vezes), a Federação dos Esportes Proletários (3 vezes), a União Regional dos
Operários em Construção Civil (3 vezes), a União dos Trabalhadores da Indústria de Bebidas, o
Centro Auxiliador dos Operários em Calçados, a Associação dos Trabalhadores da Indústria
Mobiliária (2 vezes), a Federação dos Trabalhadores Gráficos do Brasil (2 vezes), a União dos
Alfaiates, o Centro União dos Confeiteiros e a União dos Trabalhadores em Transportes Marítimos e
Portuários do Brasil. Brandão chegou a estimar o tempo de prisão das 800 pessoas: dois anos e meio
(Idem. Ibidem, p. 1.210-1.211).
502
111
- Distrito Federal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1 de junho a 31 de julho de
1929, p. 1.159.
112
- Em pronunciamento feito em sessão ocorrida no dia 28 de junho de 1929, Octavio
Brandão assinalou: “Todos os dias, vemos aqui os intendentes partirem de um assunto em discussão e
deslizarem para outros assuntos, tão diferentes na aparência. Ninguém pensou em obrigá-los a calar-
se. Por que, então, o super-rigorismo só existe para nós, proletários?! Vivemos, lá fora, sob um
regime de terror policial e, aqui dentro, procuram suprimir-nos o direito de denunciar as
perseguições” (Cf. Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de
1º de Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.080).
503
113
- Ver a íntegra da Indicação nº 180, de 1929, no Anexo XIV.
114
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 395.
504
115
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 407. O artigo 134 do Regimento Interno do Conselho Municipal do Distrito
Federal rezava: “A Comissão de Polícia poderá requisitar força armada e fazer uso dela, todas as
vezes que julgar necessária para fazer respeitar, no edifício do Conselho, a Constituição e a Lei
Orgânica do Distrito ou executar este Regimento e manter a ordem” (Cf. Distrito Federal. Conselho
Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de Dezembro de 1929, p. 401).
505
116
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.898-1.899. O bloco aludido por Maurício de Lacerda foi
proposto por Octavio Brandão em pronunciamento realizado em 28 de novembro e recebeu o nome de
“Comitê de Luta contra a Reação”.
117
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 32.
506
seguinte, Oliveira consegue fazer o discurso, no qual lera cartas de Josias Leão e
dos irmãos Paulo e Fernando de Lacerda atacando Maurício de Lacerda. A
censura a esta fala acabou sendo o teste para a medição de forças que aqueles
que apoiavam a Indicação nº 180, de 1929 necessitavam. Alegando que o ataque
a Maurício de Lacerda fora “insultuoso aos senhores Intendentes e ofensivo à
dignidade dos nossos homens públicos”, Baptista Pereira apresentou um
requerimento verbal solicitando a sua não publicação na página oficial do
Conselho Municipal, que era publicada no Diario do Commercio, e nos Anais.
Apesar de ter havido uma resistência inicial por parte do presidente, o intendente
Henrique Maggioli, a pressão de vários intendentes o fez pôr a votos a
proposição. Por 12 votos contra três, o requerimento de Baptista Pereira foi
aprovado. Após o encerramento da votação, Maurício de Lacerda, que se retirara
durante o pronunciamento de Minervino de Oliveira, retornou ao plenário, numa
clara indicação de que os intendentes do BOC realmente estavam desamparados.
Finalmente, no dia 11 de dezembro a Indicação nº 180, de 1929, foi posta a
votos. No encaminhamento da votação quatro intendentes (Maurício de Lacerda,
Vieira de Moura, Dormund Martins e Minervino de Oliveira) usaram da palavra
contra a indicação. O essencial da argumentação contrária desenvolvida pelos
quatro intendentes foi feito por Lacerda. Para este a indicação em si carecia de
razão, pois, a rigor, como as providências solicitadas estavam previstas no
Regimento Interno, simplesmente cabia ao presidente da Mesa aplicá-las. No
entanto, esclarecia, a questão principal, que o levava a dar seu voto contrário, era
o fato de que o objetivo da indicação era introduzir a “repressão à propaganda de
doutrinas”. Lacerda mostrou que, apesar de citados pelos autores da Indicação nº
180, de 1929, tanto o Regimento Interno como a Constituição do Brasil não se
referiam à “propaganda de idéias” mas apenas sancionavam a falta de decoro, os
excessos e matéria estranha ao debate; sendo que, ainda assim, durante o
expediente, o orador tinha ampla liberdade na escolha de seu tema. Por fim,
quanto ao uso de força policial para reprimir o uso da palavra, invocado através
do artigo 134 do Regimento Interno, Lacerda, recorrendo à história parlamentar
507
Por outro lado, apenas dois intendentes (Costa Pinto e Baptista Pereira)
encaminharam a votação favoravelmente à Indicação nº 180, de 1929. O
intendente Costa Pinto, mesmo avaliando, equivocadamente, que tal indicação
não seria posta em prática, afirmou que votaria favoravelmente por que, em sua
opinião, a indicação impedia apenas a propaganda comunista no recinto do
Conselho Municipal e não cercearia a “liberdade de tribuna” e nem diminuiria a
“autoridade outorgada pelo povo aos dois intendentes comunistas do Bloco
Operário e Camponês”119. Obviamente esta última razão ficava condicionada, de
acordo com o raciocínio de Costa Pinto, a que ambos se dedicassem a fazer uso
118
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 2 a 31 de
Dezembro de 1929, p. 403.
119
- Idem. Ibidem, p. 405.
508
120
- Em junho de 1930 foram eleitos para a Mesa Diretora do Conselho Municipal do Rio de
Janeiro: Pache de Faria (presidente), Felippe Cardoso (vice-presidente), João Clapp (1º Secretário) e
Costa Pinto (2º Secretário).
509
121
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 376-381.
511
Uma das formas de atuação dos intendentes do BOC foi a exercida por
intermédio da ação propriamente legislativa. Ambos procuraram sempre deixar
claro que sua presença e sua ação no Conselho Municipal do Distrito Federal
eram decorrentes de um projeto político, o comunista, distinto do defendido pela
maioria dos intendentes e que estavam ali falando em nome dos trabalhadores
cariocas e do Brasil. Dentro destes marcos também estava inserida a atuação
característica exercida por meio dos instrumentos específicos reservados aos
parlamentares: projetos de lei, requerimentos, indicações etc. Fundamentalmente
122
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1930, p. 1.338.
512
a ação parlamentar, tendo por base as proposições legislativas, visava seu uso
como instrumento de agitação e propaganda das propostas comunistas, como
deliberara o II Congresso da IC em 1920. Tal uso se via reforçado em razão de
alguns elementos. Antes de tudo, o fato de estarem em minoria no Conselho
Municipal já colocava, de antemão, como exíguas as chances de aprovação de
qualquer proposta legislativa oriunda do BOC. Em combinação com esta situação
havia o fato de a bancada do BOC ter tido uma atuação que dificultava a
obtenção de acordos políticos, seja pelo seu crescente sectarismo e
inflexibilidade – que, como veremos adiante, foi influenciado pela mudança de
orientação na IC operada após o 10º Pleno do CEIC -, seja, até como decorrência
deste, pelo temor de que qualquer composição ou acordo pudesse significar um
compromisso que afetasse sua condição de representantes da classe operária ou
sua independência. Assim, as propostas legislativas dos intendentes do BOC
acabaram sendo quase que exclusivamente utilizadas como instrumento de
agitação e propaganda.
A produção propriamente legislativa de Minervino de Oliveira e Octavio
Brandão limitou-se fundamentalmente a projetos de lei e indicações. Também
aqui é relevante destacar o conjunto de emendas apresentadas ao Orçamento
para 1930. Toda esta produção foi assinada por ambos, exceto um projeto de lei,
e parte dela, em especial todas as emendas ao Orçamento, foi também subscrita
por Maurício de Lacerda, como apoio a fim de garantir sua tramitação, em razão
de questões regimentais.
A produção legislativa dos intendentes do BOC ocorreu basicamente
durante o ano de 1929. Depois da aprovação, em dezembro de 1929, da
indicação que impediu a publicação de seus pronunciamentos em plenário, os
intendentes do BOC pouco compareceram ao Conselho Municipal. Com o reinício
da sessão legislativa, em junho de 1930, houve um acirramento da censura a
eles, o que, em combinação com o ambiente político que antecedeu o
desencadeamento da chamada “Revolução de 1930”, fez com que, até o
fechamento do Conselho Municipal, nada houvesse em termos de produção
513
123
- Ver a ementa dos projetos de lei apresentados pelos intendentes do BOC no Anexo XIV.
514
124
- Antônio Prado Júnior. Mensagem ao Conselho Municipal, 1º de Junho de 1929, p. 11-12.
125
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 683-684.
515
126
- Ver no Anexo XIV a ementa das indicações dos intendentes do BOC.
127
- Saïd Farhat. Dicionário parlamentar e político. O processo político e legislativo no
Brasil, p. 528.
516
128
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.437.
129
- A justificativa da Indicação nº 61/1929 era a seguinte: “O Bloco Operário e Camponês
glorifica os lutadores proletários. Neno Vasco lutou muitos anos pela educação de classe do
proletariado do Brasil; morreu tuberculoso, vitimado pelas privações e perseguições. Paulo Berthelot
escreveu o impressionante ‘Evangelho da Hora’ e faleceu tuberculoso no Araguaia, para onde fora
civilizar os índios. José Francisco de Barros morreu no combate do povoado Topadas em
Pernambuco, ao lado das tropas de Cleto Campelo. Manoel Cendón militou muitos anos na União dos
Alfaiates e em prol do proletariado. Antonino de Carvalho e Abelardo Nogueira aliaram a firmeza de
caráter ao devotamento à causa dos trabalhadores. Todos eles, durante longos anos de luta e
sofrimento, dedicaram o maior entusiasmo à obra de organização e educação de classe das massas
laboriosas do Brasil. E morreram em conseqüência dessas lutas e sofrimentos. Heróis e mártires
anônimos da grande obra de emancipação social.” (Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do
Conselho Municipal. Sessões de 1º de Agosto a 30 de Setembro de 1929, p. 773.)
518
130
- A obra dos nossos intendentes. A Verdade. Rio de Janeiro, nº 1 (2a fase), novembro de
1929, p. 8.
131
- Leôncio Basbaum. Uma vida em seis tempos (memórias), p. 63-64. Basbaum comete um
equívoco ao situar esta discussão durante o III Congresso do PCB. Nesta ocasião, apesar de eleitos,
não haviam sido iniciados os trabalhos parlamentares, o que ocorreria apenas em meados de 1929.
132
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.895-1.896. As emendas estão publicadas em Distrito
Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Agosto a 30 de
Setembro de 1929, p. 1.831-2.022.
519
“[...] uma crítica à política municipal, que tem sido toda ela favorável aos ricos
e potentados em prejuízo dos pobres.
A política do Bloco Operário e Camponês, entretanto, é exatamente em
sentido contrário: favorável aos pobres e contrária aos ricos. [...] A idéia
fundamental que brota das 400 páginas da ‘Mensagem’ do Prefeito é esta: a
política municipal tem sido, até hoje, uma política para os ricos em prejuízo dos
pobres. Política para turistas, ociosos, parasitas – apuizeiros sociais, verdadeiros
enxertos de passarinho.
Nestas condições, é impossível a nossa colaboração. Nenhuma conciliação
das classes antagônicas. Luta, mais luta, sempre luta. Só através da luta das
classes é que o proletariado se emancipará.
A política municipal tem sido a dos ricos contra os pobres. E continuará assim
enquanto durar o atual regime capitalista. Ela não poderia ser de outra forma,
porque o poder do Estado foi absorvido pela burguesia.”135
133
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.837.
134
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 1.994-2.004.
135
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 680-681.
520
“E como nesta Casa ainda não foi compreendida a nossa intenção era
precisamente o que eu tinha em vista: mostrar que nós não pretendemos
transformar a classe média em nossa adversária, e sim conquistar-lhe pelo menos
a sua neutralidade, provar à classe média, à classe intermediária, que ela, sob o
regime capitalista, só pode esperar a miséria, a opressão, a fome e todas as
modalidade de opressão.”137
136
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 2.000.
137
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Junho a 31 de Julho de 1929, p. 480.
521
138
- Cf. § 3º do art. 28 do Decreto nº 5.160, de 08/03/1904.
522
139
- A obra dos nossos intendentes. A Verdade. Rio de Janeiro, nº1 (2ª fase), novembro de
1929, p. 8.
523
140
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
524
“Parágrafo único: São proletários para os fins desta lei: os operários das
fábricas, usinas e oficinas; os trabalhadores em transportes; os operários do
Estado, abarcando naturalmente os da Prefeitura; os trabalhadores a domicílio,
que não são donos dos meios de produção; os menores e as mulheres
trabalhadoras, inclusive as domésticas; os empregados no comércio, e, na
indústria; os soldados do Exército, da Polícia e do Corpo de Bombeiros e da
Marinha; os guardas-civis; os assalariados agrícolas; os rendeiros ou arrendatários,
os meeiros e os terceiros; e todos os elementos correlativos: carreiros, tiradores de
madeira, pescadores, vaqueiros.”
Aqui, o modo encontrado para fazer justiça social foi simplesmente tosco,
buscando criar por lei a categoria de “proletário”, definindo-a por meio das
profissões que a integrariam – mas que acabavam refletindo, na verdade, mais o
conhecimento que detinham os comunistas da estrutura do trabalho do Distrito
Federal do que as categorias profissionais que realmente existiam -, mas, por
exemplo, ignorando a figura do trabalhador sem emprego, ou incluindo aqui a
figura do menor, o qual faz parte da estrutura produtiva, mas não integra, de
modo geral, as estruturas de propriedade.
Os intendentes do BOC apresentaram várias emendas ao Orçamento
reduzindo ou suprimindo o valor de impostos, multas e licenças incidentes sobre
as atividades de ambulantes, cocheiros, carroceiros, choferes, proprietários de
pequenas embarcações, carregadores, pequenos comerciantes e lavradores
pobres, alegando que os valores existentes na proposta original acabavam, por
serem elevados, dificultando o exercício de tais funções.
Outras emendas do BOC serviram para fazer avultar a resistência de
determinados segmentos à maneira pela qual as elites políticas brasileiras
buscavam resolver questões sociais. Neste caso são dignas de registro as
emendas supressivas às determinações existentes na peça orçamentária de
estabelecimento de multas para quem infringisse a proibição de trânsito sem
calçados ou usando tamancos no centro comercial, do trabalho do engraxador
ambulante na zona urbana do Distrito Federal – que, na verdade, punha em jogo
a questão do trabalho dos menores, “sacrificados em casa pela insuficiência do
salário paterno e que são obrigados a trabalhar para, de algum modo, compensar
essa insuficiência”141 - e do trânsito, no prazo de 6 meses, de carroças ou
caminhões de tração animal e eixo fixo na zona urbana. A todas elas, próprias de
uma elite que acreditava que a exclusão do espaço urbano das manifestações
das chamadas questões sociais era a sua solução, o BOC procurou demonstrar
os problemas sociais decorrentes da aplicação de tais diretivas e da
responsabilidade do poder público tanto na origem como na sua solução de tais
problemas. Outra questão social tratada por meio de duas emendas supressivas
dos intendentes do BOC foi a dos obstáculos impostos pelo governo do Distrito
Federal aos trabalhadores analfabetos. A prefeitura pretendia que não se
concedesse mais licenças de ambulantes a analfabetos e que as empresas do
Distrito Federal pagassem um conto de réis (1:000$000) por trabalhador
141
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Agosto a 31 de Setembro de 1929, p. 1.862.
526
ficou claro que a conjuntura política daquele momento e o modo dicotômico como
o BOC tratou a questão também restringiram em muito as possibilidades de
sucesso e de uma mais ampla interlocução. No entanto, não se pode pôr de lado
o fato de que pela primeira vez na história do Brasil um partido de esquerda teve
diante de si a tarefa de colocar para a sociedade uma outra proposta de
organização da sociedade em seus múltiplos aspectos e uma delas foi a de como
fazer uso dos recursos públicos e de que modo se poderia disponibilizá-los de
maneira menos desigual.
Com relação ao conjunto da produção legislativa dos intendentes do BOC
cumpre destacar que se ele acabou tendo quase que exclusivamente um uso para
fins de agitação e propaganda, ainda assim ele foi limitado pelas orientações do
VI Congresso da IC e do 10º Pleno do CEIC. A crítica feita por Basbaum, acima
citada, como ele mesmo reconheceu, embora décadas depois, padecia do
radicalismo produto do curso esquerdista da IC, resultante da teoria do chamado
“Terceiro Período”, pela qual se colocava na ordem do dia a revolução e não
havia mais espaço para outra coisa que não a sua preparação e mostrava uma
evidente incapacidade em lidar com outra forma de fazer política que não fosse a
da preparação do confronto revolucionário.
Influenciado pelo discurso de Basbaum e de outros membros da ala mais
radical da direção do PCB, o III Pleno aprovou uma resolução que, embora
julgasse “justas” as linhas parlamentar e extraparlamentar do BOC, acabou
criticando a atuação dos dois intendentes e sua produção legislativa:
142
- Resolução sobre a linha política do B.O.C. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p.
18-19.
528
143
- A Eleição Presidencial de 1930. A Plataforma da Aliança Liberal. A Revolução Nacional.
Documentos para a História, p. 7.
529
144
- Astrojildo Pereira. Formação do PCB, p. 100.
ANEXO XII
Saudações.
O Comitê Central do Bloco Operário e Camponês convida-o a comparecer à reunião
que se realizará domingo próximo, 10 de março, às duas da tarde, à Praça da República, 40,
sobrado.
Nesta reunião, os delegados irão resolver sobre as divergências existentes entre a
atuação do camarada e a linha política do Bloco, divergências que acentuamos por ocasião
da visita que lhe fizemos semanas atrás.
a) O 1º Secretário.”
(FONTE: O Deputado Azevedo Lima foi expulso do Bloco Operário e Camponês. Porque o
B. O. C. expulsou o Deputado Azevedo Lima. As cartas trocadas entre o C. C. e o ex-
representante do proletariado. A Classe Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929.)
“7 – III – 929.
Saudações.
No curso da última visita que me fizeram os membros do Comitê Central do Bloco
Operário, há cerca de um mês, convencendo-me da impossibilidade de continuar a bem
cumprir, como membro do mesmo, as determinações integrais de seus estatutos, atentas
ocupações de minha vida profissional e, em parte, também política, por motivo das quais
não sou pontual às reuniões do Bloco; convencendo-me mais de que dessa impontualidade
poderiam resultar males graves, de alguns dos quais já havia sido acusado, apresentei aos
que me visitaram um categórico pedido de renúncia de delegado ou membro do Bloco.
Recebo agora um convite para participar de uma reunião destinada a tratar de assuntos
já debatidos em minha residência e determinantes do pedido de renúncia. Nestas condições
531
reitero, por escrito, o pedido que acreditava houvesse sido, desde o mês passado,
transmitido à direção do Bloco, mas reafirmo que, embora desligado do compromisso de
observar formalidades dos estatutos com os quais, segundo verifico, ainda que tarde, não se
coaduna a natureza de minhas obrigações profissionais e particulares, sempre porei à
disposição do operariado, na atividade parlamentar ou outra, o escasso, mas espontâneo
valor de minha colaboração, se for ela pelo Bloco considerada útil à causa do proletariado.
a) Azevedo Lima.”
(FONTE: O Deputado Azevedo Lima foi expulso do Bloco Operário e Camponês. Porque o
B. O. C. expulsou o Deputado Azevedo Lima. As cartas trocadas entre o C. C. e o ex-
representante do proletariado. A Classe Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929.)
O PROGRAMA DO B.O.C.
Esse artigo do programa do Bloco tem sido cumprido à risca por nosso representante
na Câmara?
- Não.
Durante o ano de 1927, nosso representante teve cetro contato com a massa e com a
vanguarda proletárias. Em 1928, porém, seu contato foi mínimo.
Começou a evitar o convívio dos sindicatos, separando-se pouco a pouco da massa.
De março de 1928 até janeiro de 1929 compareceu à sede do B.O.C. uma única vez, quando
o Bloco ia escolher os seus candidatos às eleições municipais.
Deixou de visitar os locais de trabalho, não continuando com as visitas que fez às
oficinas de São Diogo e do Engenho de Dentro.
Durante as eleições, limitou-se a comparecer a três comícios – em S. Diogo, em
Bangu e em Bonsucesso -, enquanto os candidatos do Bloco, expondo-se aos maiores
532
perigos e sem imunidades, chegaram a realizar 59 comícios; e mais não realizaram porque o
curto espaço de tempo da campanha (1 ½ mês), a espionagem e o terror policiais não o
permitiram.
Antes dessa campanha, nosso representante na Câmara realizou, apenas, um comício à
porta de uma fábrica na Gávea.
O CONTROLE
Nestas condições, sem contato com a massa e com a vanguarda proletária, fugindo ao
controle efetivo das mesmas, era fatal que se acentuassem os seus desvios da linha
proletária.
Esses desvios culminaram na sua atitude por ocasião do conflito entre a Bolívia e o
Paraguai.
No discurso que fez na Câmara, e que teve larga repercussão nos países do Prata,
provocando até críticas de militantes proletários daqueles países, nosso representante
acentuou ‘a ausência total, entre os países de raça hispano-americana, de coligações
profundas geradas pelo conflito de interesses mercantis’. Semelhante afirmação nega a
existência do imperialismo como fator de guerras e dos choques tão comuns, provocados
pelo mesmo, na América Latina. No entanto, dias antes, A CLASSE OPERÁRIA de 15 de
dezembro de 1928 explicava a verdadeira origem do conflito, dizendo: ‘No petróleo do
Chaco encontra-se a causa da briga e, por trás dos dois países vizinhos, escondem-se os
rivais de fato: o imperialismo ianque e o imperialismo britânico’.
Nosso representante, em se discurso, nega o imperialismo, como fator de guerras,
admitindo-o, porém, como fator econômico em prol do maior progresso dos países da
América Latina, ‘para a obra de organização de suas nacionalidades’, diz ele. Justifica o
desenvolvimento industrial desses países, embora tal desenvolvimento acarrete a colonização
dos mesmos e conseqüente escravização cada vez maior das massas laboriosas.
Preconiza ‘formas conciliatórias’ entre os governos da Bolívia e do Paraguai, sem
explicar que essa conciliação só poderá realizar-se à custa das massas oprimidas e em
benefício de um dos imperialismos em luta, e sem explicar o caráter de classe desses
governos e a subordinação destes ao imperialismo internacional.
533
Nega o caráter semicolonial dos países da América do Sul. Nega a luta de classe
nesses países, dizendo: ‘Não atormentam, ainda, a América do Sul os grandes problemas
que turvam a paz da Europa, bem como a das nações semicoloniais e coloniais dos
continentes retardatários’. Acha, pois, que esses problemas turvam a paz social das colônias
e semicolônias, merecendo, portanto, sua condenação os movimentos libertadores da China,
da Nicarágua etc. Outra coisa não pensam o social-pacifismo e o social-reformismo
internacionais.
Nosso representante descobriu que ‘a paz sul-americana é, por assim dizer, fenômeno
puramente natural’. Quando os canhões bombardeiam os pequenos burgueses da Nicarágua,
os trabalhadores dos bananais da Colômbia, os índios do Equador, a população indefesa de
São Paulo, quando metralhadoras são enviadas contra os escravos de Ford no Tapajós,
quando os Estados Unidos realizam dezenas de intervenções militares na América Latina e
mandam construir 36 cruzadores para ‘multiplicar os laços de amizade comercial’ com os
países latino-americanos, pode-se falar em ‘paz natural’ na América do Sul ou na América
Latina?
Nosso representante afirma: ‘Faltam, de fato, às Repúblicas da América do Sul os
germens específicos das discórdias internacionais’. E a borracha da Amazônia? E o ferro de
Minas Gerais? E o mercado brasileiro de querosene, gasolina e derivados? E o monopólio
do café? E o salitre do Chile? E Tacna e Arica, formidável posição estratégica? E o petróleo
da Venezuela? E o petróleo do Chaco?
Para resumir: seu discurso é retintamente pacifista pequeno-burguês, reformista,
confusionista. E só assim se compreende o fato de seu requerimento ter sido aprovado
‘unanimemente’ pela Câmara super-reacionária da burguesia nacional, a mesma Câmara que
votou a ‘lei celerada’. Esse requerimento, conseqüência lógica de todos os desvios,
existentes em seu discurso, abstrai-se do caráter de classe das Câmaras do Brasil, do
Paraguai e da Bolívia, e preconiza uma harmonia social impossível.
Que abismo entre as suas palavras e os artigos, publicados pela CLASSE OPERÁRIA
e por um dos intendentes do B. O. C., sobre Hoover e sobre o próprio conflito paraguaio-
boliviano!
Não foi por acaso que um dos órgãos mais autorizados da imprensa burguesa, ‘O
Jornal’ de 19 de dezembro, comentou o seu discurso nos termos seguintes: ‘O deputado
comunista disse palavras de fraternidade e concórdia’. ‘A iniciativa do representante carioca
não oferecia inconvenientes. O pensamento, que a presidiu, foi o que percorre, neste
momento, o espírito dos povos: - o de levar uma palavra de amizade às duas nações irmãs.
Foi bom que a Câmara debatesse a proposição do Sr. Azevedo Lima, restringindo-se a
apoiar, com o seu voto, a nobre intenção que ela encerra’.
Sua defesa das conquistas da revolução russa limita-se quase ao terreno cultural,
deixando de lado a essência do regime.
Em várias questões de interesse para as massas, como o da lei do inquilinato, sua
atividade foi insuficiente.
Não soube aproveitar a epopéia do navio ‘Krassine’, para uma larga propaganda em
favor do reconhecimento da Rússia dos Sovietes, um dos pontos básicos do programa do
B.O.C.
Não protestou contra a reação na China, lendo os documentos que lhe foram
endereçados.
Não soube aproveitar, em benefício do B.O.C., sua campanha contra a falta de higiene
na Repartição dos Correios.
Faz uma propaganda abstrata da ditadura do proletariado.
Usa e abusa do verbalismo revolucionário. Emprega uma linguagem inacessível às
massas.
Respeita demasiadamente as velhas praxes parlamentares, tratando os lacaios da
burguesia com luvas de pelica, e; por vezes, glorificando-os como fez com o conselheiro
monarquista Antônio Prado e outros.
Durante a última campanha eleitoral do B.O.C., tomou uma atitude indefinida: fez
discursos, apoiando os nossos candidatos e, dias depois, ouvintes desses discursos recebiam
uma circular de sua autoria, solicitando votação para outro candidato.
PARA FINALIZAR
Durante a viagem de Hoover à América Latina, não pronunciou uma única palavra,
denunciando às massas a significação dessa viagem, enquanto a CLASSE OPERÁRIA e,
posteriormente, um dos intendentes do B.O.C. denunciou, com toda a firmeza, a obra de
escravização das massas laboriosas, planejada por Wall Street e seus agentes como Hoover.
E esta falha ainda mais grave se torna, porquanto nossos intendentes, por ocasião da
chegada de Hoover, estavam impedidos, de fato, de esclarecer o verdadeiro objetivo dessa
viagem e, os jornais burgueses realizavam uma perigosa mistificação em torno daquele
político imperialista e sua democracia de tapeação.
QUAL A SOLUÇÃO?
(FONTE: Este, em vez de marchar para a esquerda proletária, rola para a direita burguesa.
Publicamos a crítica aprovada unanimemente na assembléia dos delegados a 10 de março. A
Classe Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929, p. 1 e 4.)
Saudações.
A assembléia de delegados – a mais alta autoridade do Bloco Operário e Camponês –
encarregou o Comitê Central de transmitir-lhe a seguinte resposta a seu pedido de renúncia
do Bloco, expresso em sua carta de 7 de março:
1º - Nos estatutos do Bloco não existe o direito, por parte dos representantes nas
Câmaras, de pedir demissão do Bloco, principalmente quando tal demissão tem em vista
deixar de cumprir o programa e os estatutos, não reparando os erros cometidos.
2º - Estipula o artigo X dos estatutos:
‘Os representantes do Bloco Operário e Camponês, nas casas legislativas, toda vez
que for necessário, serão chamados a prestar contas de sua atividade política, perante a
assembléia dos delegados, e submeter-se-ão às deliberações adotadas pela mesma. Em caso
de inobservância, serão passíveis das seguintes penas: a) repreensão; b) perda do mandato.’
Ora, o camarada nem mesmo aceitou a crítica fraternal que lhe fizemos quando o
visitamos semanas atrás, e muito menos aceitaria uma repreensão. Convidado, recusou-se a
comparecer a assembléia de delegados para prestar contas de sua atividade política,
desrespeitando os estatutos.
Sendo assim, a assembléia de delegados votou, por unanimidade, que o camarada tem
o dever de cumprir o artigo X dos estatutos, renunciando ao seu mandato de deputado.
a) Pelo Comitê Central – O 1º secretário.”
(FONTE: O Deputado Azevedo Lima foi expulso do Bloco Operário e Camponês. Porque o
B. O. C. expulsou o Deputado Azevedo Lima. As cartas trocadas entre o C. C. e o ex-
representante do proletariado. A Classe Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929. Também
publicado em: O deputado Azevedo Lima expulso do Bloco Operário e Camponês. A
Esquerda. Rio de Janeiro, 06/04/1929.)
“Sr. redator: A exploração que se começa a fazer em torno de minha renúncia ao lugar
de delegado do Comitê Político de São Cristóvão, junto ao Bloco Operário e Camponês,
536
exige de mim uma explicação definitiva aos que represento e, particularmente, aos adeptos
do citado Bloco, únicas forças a que, em rigor, pode interessar aquela renúncia.
O programa do Bloco Operário e Camponês data de janeiro de 1927. Sua aceitação
por mim verificou-se às vésperas das eleições de deputados federais de Fevereiro seguinte,
às quais, como era notório, já concorria eu como candidato à renovação do mandato que,
duas vezes antes me havia sido conferido. Para bem calcular a contribuição dos sufrágios
que obtive em conseqüência de minha adesão aquele programa, é mister consignar que o
total dos votos por mim obtidos montou a cerca de 12.500, tendo o último dos eleitos
alcançado menos de 9.000 votos.
Isto em um pleito, onde a cada eleitor era dado acumular, apenas, 4 votos. Nas últimas
eleições municipais, realizadas depois de organizado definitivamente o Bloco, quando já lhe
havia eu trazido o meu apoio, em seguida ao alistamento de eleitores filiados à mesma
agremiação, após intensíssima propaganda, o candidato Minervino de Oliveira não logrou
obter, no 2o distrito, mais de 8.500 votos, sendo de notar que, nesse pleito, era permitido a
cada eleitor, acumular 8 votos em um só nome. Mais não é preciso para demonstrar que,
sem o contingente eleitoral do Bloco, ao tempo de minha eleição, ter-se-ia esta igualmente
verificado, tanto mais, quanto relativamente maiores tinham sido as vitórias alcançadas por
mim nos dois pleitos anteriores. Se de minha adesão ao Bloco me advieram sufrágios novos,
não deve ter sido diminuto o número dos que, por esse fato perdi.
Dessarte, a representação que me foi conferida emana infinitamente menos dos poucos
adeptos com que então contava o Bloco, do que de outros elementos eleitorais.
Cumpre acentuar que, a esse tempo, era simplesmente nominal a existência do Bloco,
cuja organização e cujos estatutos datam de 2 de Novembro de 1927.
De minha fidelidade ao programa do mesmo são provas mais do que suficientes a
harmonia sempre mantida entre mim e seus diretores, desde a minha eleição até o
encerramento da última sessão legislativa, e as repetidas demonstrações da imprensa
proletária.
Basta pôr em relevo que o próprio Comitê Central do Bloco me elegeu seu presidente,
cargo de que só voluntariamente me afastei.
Fiel tenho estado e fiel continuo a todos os princípios contidos no mesmo
programa.
Quanto ao que respeita propriamente à organização do Bloco, adotada cerca de um
ano depois da minha eleição para deputado, jamais pratiquei qualquer ato de desobediência
ou indisciplina.
Ainda depois de minha renúncia ao cargo de presidente compareci à reunião da
assembléia geral convocada para escolha dos candidatos a intendentes municipais, e, apesar
de vencido, submeti-me inteiramente às deliberações da maioria.
Se opinei, então, pela escolha do nome do professor Castro Rebello para candidato
pelo 2o distrito, foi porque entendi vir ao encontro das mais urgentes conveniências do
Bloco, tanto mais quanto o referido candidato, por seu passado de notório amigo da classe
proletária, pelo prestígio de que nela gozava, e ainda pelos relevantes serviços já prestados
ao próprio Bloco, devia inspirar-lhe a mais completa confiança. E por sinal que não me
enganei, pois, pouco mais tarde, o próprio candidato escolhido foi a ele que entregou a
defesa de seus interesses perante a junta apuradora e o poder verificador.
537
“O deputado Azevedo Lima não respondeu a esta carta. Sendo assim, o Comitê
Central resolve aplicar-lhe o artigo X, letra C dos estatutos expulsando-o do Bloco Operário
e Camponês. O Comitê Central, por esta fórmula, cumpre, mais uma vez, as resoluções da
assembléia dos delegados, realizada a 10 de março.
Fiquem, pois, o povo em geral e o proletariado em particular, cientes de que o Bloco
Operário e Camponês expulsa de seu seio o deputado Azevedo Lima. Este não quis cumprir
o programa e os estatutos do Bloco, aceitos e aprovados por ele. Semelhante político foge
aos compromissos partidários que assumiu, abandona os princípios que defendia, larga o
proletariado em plena batalha. Deserta.
Nada mais existe de comum entre o proletariado e o deputado Azevedo Lima. Seu
atual mandato é uma usurpação. Alcançou-o em torno de determinado programa. Renega
esse programa e não quer largar a cadeira inerente a esse programa. Tal cadeira perde todo
o sentido político para transformar-se numa caricatura do passado.
O proletariado confie exclusivamente em suas próprias forças, em suas próprias
organizações políticas, sindicais e de massa como o Bloco Operário e Camponês. E não
conceda a mínima confiança a esses políticos sem linha e sem princípios.
(FONTE: O Deputado Azevedo Lima foi expulso do Bloco Operário e Camponês. Porque o
B. O. C. expulsou o Deputado Azevedo Lima. As cartas trocadas entre o C. C. e o ex-
representante do proletariado. A Classe Operária. Rio de Janeiro, 06/04/1929. Também
publicado em: O deputado Azevedo Lima expulso do Bloco Operário e Camponês. A
Esquerda. Rio de Janeiro, 06/04/1929.)
ANEXO XIII
A – PROJETOS DE LEI
B – INDICAÇÕES
A vitória obtida pelo BOC nas eleições para o Conselho Municipal foi
extremamente alentadora para os comunistas brasileiros, tanto pela forma como
se dera como pelo fato de que ocorrera na Capital do País. Ela foi um
acontecimento no País e no exterior, como assinalou um articulista em São Paulo:
1
- Antônio Moreira. Aos trabalhadores de S.Paulo. O exemplo do Rio. O Combate. São Paulo,
28/01/1929, p. 2.
2
- Carta do ECCI para The CC of the CP of Brazil. Moscou, 19/06/1929, p. 5 (RGASPI).
545
partidos comunistas vinham até então levando. E, no campo nacional, pelo exame
das decisões do III Congresso do PCB, as quais marcam alguns pontos de
inflexão na trajetória dos comunistas brasileiros, e do III Pleno do Comitê Central
do PCB, evento que assinala a assimilação das novas orientações políticas da
Internacional Comunista. A partir destes dois ângulos, é possível perceber seus
efeitos sobre a ação do BOC neste período que seria o final de sua trajetória.
Frente a este quadro, cabia aos partidos comunistas lutar por revoluções de
caráter democrático-burguês, sob a hegemonia do proletariado, e fomentar a
3
- Internacional Comunista. Tesis sobre la situación las tareas de la Internacional Comunista
In Internacional Comunista. VI Congreso de la Internacional Comunista (Primera Parte), p. 96.
4
- Jules Humbert-Droz. Sobre los países de América Latina. In: Internacional Comunista. VI
Congreso de la Internacional Comunista. Segunda Parte - Informes y discusiones , p. 309-310.
547
5
- Idem. Ibidem , p. 319-320.
6
- P.L. e J.C. Relatório dos delegados do P.C.B. ao VI Congresso da I.C. Auto-Crítica. Rio de
Janeiro, nº 6, [1928], p. 10.
548
7
- Pinheiro. Op. cit. p. 173.
8
- Pierre Broué. Histoire de l’Internationale communiste, p. 493.
549
9
- Apud Serge Wolikow. L’Iternationale communiste 1919-1943 In José Gotovitch e Mikhail
Narinski (dirs.) Komintern: L’histoire et les hommes, p. 58.
10
- Xª Sessão do Comitê Executivo da Internacional Comunista. A situação internacional e a
tarefas imediatas da I.C. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº7, [1929], p. 1.
11
- Stephen Cohen. Bukharin, uma biografia política, p. 372
12
- Xª Sessão do Comitê Executivo da Internacional Comunista. A situação internacional e a
tarefas imediatas da I.C. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº7, [1929], p. 6.
550
“Um dos fatos mais marcantes dessa mudança foi que todos os setores de
atividade foram atingidos. Alguns foram vítimas de uma verdadeira liquidação (que
se prolongou ao longo do ‘terceiro período’) dos resíduos da época precedente,
quer fosse de militantes ou de organizações. Freqüentemente, aliás, a depuração,
as condenações, as denúncias, as exclusões revelaram-se remédios piores que o
mal, provocando destruições, dilacerações, rupturas irreparáveis.”13
13
- Pierre Broué. Histoire de l’Internationale communiste, p. 507. Nesta mesma obra, ver das
páginas 493 a 509 a amplitude das conseqüências da luta contra o “desvio de direita” no âmbito das
seções da Internacional Comunista.
14
- Pierre Broué. Op. Cit., p. 499.
551
15
- Ata da Reunião da C.C.E. do P.C.B., de 17/09/1928 (RGASPI).
16
- Carta de Astrojildo Pereira a Camarada Heitor [Ferreira Lima]. Rio de Janeiro, 10/11/1928
(RGASPI).
552
17
- P.L. e J.C. Relatório dos delegados do P.C.B. ao VI Congresso da I.C. Auto-Crítica. Rio de
553
da Coluna Prestes ocorridos em 1925 e 1926. Esta terceira etapa teria tomado um
“sentido cada vez mais popular” em decorrência da tendência de um agrupamento
mais estreito entre a pequena burguesia e a massa trabalhadora que se fazia “em
geral contra a burguesia agrária e industrial”. Este “agrupamento mais estreito”
alude obviamente à política de aproximação do PCB entabulada com a Coluna
Prestes. Na visão dos comunistas a terceira etapa teve como conseqüência a
aliança entre as duas burguesias, “visando dar solução ‘pacífica’ e ‘legal’ aos
problemas nacionais exacerbados pela revolução”. Além disso, esta aliança deu-
se também como resultado da “capitulação da burguesia ‘liberal’ diante do
imperialismo”, visando o reforçamento da exploração dos trabalhadores. A
próxima etapa da revolução tinha, na visão dos comunistas, suas condições de
explosão já postas na conjuntura em razão da “radicalização das massas”.
Esta análise da situação política tem reflexos diretos na avaliação sobre o
Partido Democrático de São Paulo e dos outros partidos democráticos. Como
vimos, ela, na verdade, foi o resultado do processo de discussão ocorrido no
primeiro semestre de 1928 por conta do episódio da retirada da candidatura do
BOC em São Paulo e conformou a visão apresentada pelo III Congresso sobre os
democráticos:
“Não foi por acaso que o Partido Democrático se fundou precisamente depois
da explosão de 1924 e precisamente em São Paulo. Baseado numa plataforma
‘liberal’ e ‘democrática’, de forma superdemagógica, ele atrai para suas fileiras e
procura manter, sob sua influência, largas massas populares da pequena
burguesia e mesmo da classe operária. Mas sua direção está em mãos da grande
burguesia, e toda sua atividade visa a aplicação de soluções pacifistas, por meio
do voto secreto e outras panacéias deste gênero. Seu programa resume-se nisto:
‘representação e justiça’, palavreado arquivago e arquivazio, destinado unicamente
a amortecer o descontentamento da massa popular. Ao mesmo tempo, na sua
qualidade de mão esquerda da burguesia, o Partido Democrático prepara-se para,
a favor das circunstâncias, subir ao poder, como sucessor ‘pacífico’ – por milagre
do voto secreto – da mão direita, conservadora e reacionária, que se acha no
governo.”18
18
- PCB. Teses & resoluções adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p.
6.
555
Aqui se sintetizou e oficializou uma prática política que já fora levada a efeito
durante o segundo semestre de 1928 pelo BOC, onde este buscou disputar as
bases pequeno-burguesas dos democráticos, ao mesmo tempo em que atacava
sua direção, fazendo, desse modo, dos “tenentes” e seus aliados agrupados em
torno de Luiz Carlos Prestes “a” pequena burguesia com a qual se buscavam
aliança, mas que, como vimos, ainda estava um tanto longe de ser concretizada.
Enfim, a visão que o III Congresso do PCB consolidou da situação política
daquele momento foi a de um processo de reagrupamento de forças, em que se
confrontariam, de um lado, uma aliança entre a burguesia agrária e a burguesia
industrial e, de outro, uma aliança entre a pequena burguesia e o proletariado.
Estas alianças também tinham conseqüências na forma como solucionar as
questões nacionais, opondo-se as vias pacífica e revolucionária. A primeira
dessas vias, defendida pelos democráticos, significava a “capitulação da
burguesia nacional perante o imperialismo” e a segunda, defendida pelo PCB,
importava em luta contra o imperialismo e o capitalismo nacional pela implantação
do “governo operário e camponês”.
As resoluções indicavam a provável “perspectiva da terceira revolta”, que
apontava para uma “revolução democrática, agrária e antiimperialista”, mas
deixavam claro que os comunistas teriam um longo caminho para pôr-se à sua
frente. Antes disto era preciso que o PCB fizesse uma “série de manobras
políticas e táticas, estabelecendo alianças com as demais forças revolucionárias
vizinhas do proletariado”. A primeira dessas manobras seria a constituição de um
bloco envolvendo os operários urbanos e rurais e os pequenos lavradores, tarefa
esta que já teria sido iniciada pelo BOC. Na verdade, como sabemos, as
atividades dos BOC encontravam-se restritas ao cenário urbano, sendo
praticamente nulas no meio rural. A segunda seria a aliança entre o PCB e a
Coluna Prestes, “vanguarda revolucionária da pequena burguesia”.
O que é relevante mencionar aqui é que estas conclusões mostravam que o
PCB - ao fazer da condicionante “imperialismo determina as ações da burguesia
nacional” a base de suas diretivas - perdia a capacidade de tentar compreender a
556
19
- Jules Humbert-Droz. Quelques problèmes du mouvement révolutionnaire de l’Amérique
latine. L’Internationale Communiste. Paris, nº 17, 15/08/1928, p. 1.366.
20
- Veja-se as resoluções tomadas sobre o BOC no III Congresso do PCB no Anexo XV.
557
21
- PCB. Teses & resoluções adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p.
7.
22
- Fundação da Liga Antiimperialista. O Internacional. São Paulo, nº153, 01/03/1929, p. 2.
558
O BOC CRESCE
23
- Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 1 (RGASPI).
24
- Ata nº 1 do Presidium do P.C.B. de 11 de Janeiro de 1929, p. 2 (RGASPI).
25
- Bloco Operário e Camponês. O Internacional. São Paulo, nº 159, 01/07/1929, p. 2.
26
- Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 4 (RGASPI).
27
- Pablo Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y la actuación
del P.C.B. en esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 3 (ASMOB).
559
28
- Ata nº 2 do Presidium do P.C.B. de 12 de Janeiro de 1929 (RGASPI); Distrito Federal.
Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de junho a 31 de Julho de 1929, p.
385; Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Agosto a
30 de Setembro de 1929, p. 918; Renata Irene Haas Rosito. O pensamento político de Abílio de
Nequete, p. 17.
29
- Ata nº 5 do Presidium do P.C.B. – de 30-1-1929 (RGASPI).
30
- Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 6 (RGASPI);
Questão de organização das mulheres trabalhadoras. Boletim do Comitê Regional (Rio). S.l., nº 1,
março 1929, p. 9.
31
- Ata nº 3 do Presidium do P.C.B. de 16-1-1929, p. 1 (RGASPI).
560
32
- João Freire de Oliveira. Atitudes claras. O Combate. São Paulo, 19/01/1929, p. 2.
561
33
- Movimento Operário. Uma entrevista com o intendente Octavio Brandão, eleito pelo Bloco
Operário e Camponês. O Combate. São Paulo, 30/01/1929, p. 5.
34
- Vida Operária. Coligação Operária. Praça de Santos. Santos, 12/03/1929, p. 3;
Compareçam à sede do Bloco Operário e Camponês. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 63 (2a
Fase), 06/07/1929, p. 1; Aos eleitores do Bloco Operário e Camponês. Compareçam à Vara Eleitoral
e à sede BOC. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 65 (2a Fase), 20/07/1929, p. 2.
35
- Organização criada em 1927, a fim de aglutinar as oposições nacionais de forma mais
ampla, e que integrava o amplo espectro dos partidos democráticos criados no Brasil no fim dos anos
1920.
562
“A posição do P.C. como guia consciente das massas trabalhadoras deve ser
a de mais e mais aprofundar este rompimento, tornando-o insanável, a fim de
realizar com a vanguarda revolucionária da pequena burguesia uma aliança sólida,
e procurar, no início da luta, se for possível, ou no seu decorrer, assumir a
hegemonia do movimento, colocando o proletariado na vanguarda, porque só ele
será capaz de levar uma luta revolucionária conseqüente contra a burguesia
nacional opressora e contra o seu aliado, o imperialismo anglo-americano.”37
36
- Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 4 (RGASPI).
37
- A situação nacional. Boletim do Comitê Regional (Rio). S.l., nº 1, março 1929, p. 3.
38
- Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro [Astrojildo Pereira]. Rio de Janeiro, 18/04/1929,
p. 1 (RGASPI).
563
“... como está prestes [sic] a eleição para a sucessão presidencial, devemos
nós os proletários apresentar como nosso candidato legítimo o general Luiz Carlos
Prestes. Sabemos perfeitamente que não será eleito, e é por isso mesmo que
merece os nossos sufrágios, pois nós de forma alguma acreditamos nas
promessas açucaradas dos outros candidatos, que prontificam-se a fazer isto e
aquilo com mais rapidez e segurança que os xaropes milagrosos anunciados nos
jornais...
Devemos votar em Prestes só pelo motivo de que não é eleito. A revolução
só a revolução proletária poderá salvar os destinos do país. As duas revoltas
esboçadas fracassaram – como disse Fritz Mayer – mas a terceira virá, fatalmente,
matematicamente.”39
39
- Luiz Carlos Prestes e o proletariado. Praça de Santos. Santos, 11/03/1929, p. 5.
40
- Conversación com los delegados del Brasil sobre el problema de táctica. Buenos Aires,
12/06/1929, p. 3 (RGASPI); Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro Américo [Astrojildo Pereira].
Rio de Janeiro, 23/05/1929, p. 2 (RGASPI).
564
era o que foi apresentado nas “Teses sobre o Movimento Revolucionário nas
Colônias e Semicolônias”, discutidas no VI Congresso da IC, redigidas pelo
finlandês Otto Wilhelm Kuusinen, e que também foi aprovado na Primeira
Conferência Comunista Latino-Americana. O programa apresentado aos
“tenentes”, conforme se pode ver no quadro abaixo, foi calcado no apresentado
no VI Congresso, com algumas adaptações:
41
- Jules Humbert-Droz. Quelques problèmes du mouvement révolutionnaire de l’Amérique
latine. L’Internationale Communiste. Paris, nº 17, 15/08/1928, p. 1.359-1.360.
42
- Tesis sobre el movimiento revolucionario en las colonias y semicolonias. In: Internacional
Comunista. VI Congreso de la Internacional Comunista. Primera Parte – Tesis, manifiestos y
resoluciones, p. 238-239.
43
- Leôncio Basbaum. História sincera da República de 1889 a 1930, p. 311.
565
O movimento sindical
44
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 1.831; Dênis de Moraes e Francisco Viana. Prestes: Lutas e
autocríticas, p. 62-63; Leôncio Basbaum. Uma vida em seis tempos (memórias), p. 69-71; Leôncio
Basbaum. História sincera da República de 1889 a 1930, p. 310-313.
45
- Edgar De Decca. O silêncio dos vencidos, p. 105; John W. Foster Dulles. Anarquistas e
comunistas no Brasil, p. 332.
566
estaduais, como no Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo,
para a constituição de Federações Sindicais Regionais e que desembocaram no
congresso de fundação da Confederação Geral do Trabalho do Brasil, realizado,
de 26 de abril a 1º de maio de 1929, no Rio de Janeiro, na sede da Associação
dos Trabalhadores da Indústria Mobiliária. Para a realização do congresso o BOC
fez uma doação de 18 contos de réis, obtidos através de empréstimo concedido a
Minervino de Oliveira. A ele estiveram presentes delegações dos Estados da
Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande
do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, além de representações
locais de Campos (RJ), Paranaguá (PR), Ribeirão Preto (SP), Santos (SP),
Sertãozinho (SP) e Tabapuã (SP). Ao final dos seus trabalhos, que se encerraram
com um comício comemorativo do 1º de Maio ao qual estiveram presentes entre
15 e 20 mil trabalhadores, o intendente do BOC Minervino de Oliveira foi
escolhido para ser seu secretário geral46. Semanas depois, uma delegação da
CGTB esteve presente ao congresso de fundação da Confederação Sindical
Latino-Americana, realizado em Montevidéu.
O congresso de criação da CGTB também acabou produzindo benefícios ao
próprio BOC, pois fez com que vários dos delegados sindicais, muitos dos quais
militantes comunistas, tivessem contato com a direção nacional e recebessem
diretivas referentes ao Bloco. Isto pode ser constatado particularmente no caso do
Ceará, que contava entre seus delegados com José Joaquim de Lima, conhecido
como Joaquim Pernambuco, que voltou com a missão de organizar o BOC em
Fortaleza e a seção regional do PCB47.
Do ponto de vista das mobilizações sindicais o ano de 1929 também foi
bastante intenso, com a eclosão de várias greves ao longo do ano. Tecelões do
46
- O Congresso Operário Nacional realizou ontem a sua primeira sessão. Crítica. Rio de
Janeiro, 27/04/1929, p. VIII; O Congresso Operário Nacional realizou a sua segunda sessão. Como
transcorreram os trabalhos de ontem do grande certame obreiro. Crítica. Rio de Janeiro, 28/04/1929,
p. II; O Congresso Operário Nacional. Prosseguiram domingo e ontem as sessões do importante
certame proletário. Crítica. Rio de Janeiro, 30/04/1929, p. II; O proletariado do Brasil, pujante, coeso
e disciplinado, viveu ontem um dos seus dias mais gloriosos. Crítica. Rio de Janeiro, 02/05/1929, p. I
e II. Jules Humbert-Droz. Mémoires. De Lénine a Staline. Dix ans au service de l’Internationale
communiste 1921-1931, p. 388.
567
47
- Francisco Moreira Ribeiro. O PCB no Ceará: Ascensão e declínio – 1922-1947, p. 33.
48
- Sobre a greve dos gráficos paulistas de 1929 ver Leila Maria da Silva Blass. Imprimindo a
própria história. A movimento dos trabalhadores gráficos de São Paulo, no final dos anos 20,
especialmente as p. 63-91.
568
49
- Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro Américo [Astrojildo Pereira]. Rio de Janeiro,
23/05/1929 (RGASPI).
50
- Carta do ECCI para The CC of the CP of Brazil. Moscou, 19/06/1929, p. 5 (RGASPI).
51
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário
latino americano. Versiones de la Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de
1929, p. 97 e 221. Frente a estas críticas, o delegado brasileiro Gabrinetti defendeu-se à moda
daqueles que não têm resposta. Afirmou que o PCB havia compreendido que era um movimento que
tinha reivindicações de caráter econômico e também político (“tais como o cumprimento das leis e
códigos do trabalho”) e deu instruções reforçando esta questão, porém os “companheiros prometeram
agitar as consignas entre os operários das outras indústrias, mas o trabalho não foi realizado” (Op.
cit., p. 122).
569
52
- O trabalho sindical do P.C. na Região do Rio. Manobras policiais dos amarelos. Boletim
do Comitê Regional (Rio). S.l., nº 1, março 1929, p. 7.
53
- Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro [Astrojildo Pereira]. Rio de Janeiro, 18/04/1929,
p. 1 (RGASPI).
570
nelas ver o que não tinham: motivações políticas, como o curso esquerdista da
Internacional Comunista imaginava haver54.
Além disso, a combinação da violência policial com a “radicalização das
massas” acabou também gerando reações de caráter terrorista por parte de
alguns militantes comunistas e que acentuaram ainda mais a repressão:
“Os camaradas padeiros, por exemplo, lançaram mão desse processo, contra
um proprietário de padaria, que não respeitara o estabelecido na última greve.
Conseqüência: Caetano [Machado] foi preso, com alguns membros da diretoria, e
estão sendo processados como mandantes.”55
54
- Ver neste sentido uma carta do CEIC ao PCB, na qual se afirmava que as greves que
estavam ocorrendo no Brasil transformavam seu conteúdo inicialmente econômico para tomar um
amplo caráter político e isto, concluía, mostrava que esta onda de greves era um “sintoma evidente da
radicalização das massas de operários e camponeses” (Carta do ECCI para The CC of the CP of
Brazil. Moscou, 19/06/1929, p. 5 (RGASPI)).
55
- Carta de Salviano [Paulo de Lacerda] a Américo [Astrojildo Pereira]. Rio de Janeiro,
05/07/1929, p. 1 (RGASPI).
571
56
- A todos os membros do Partido Comunista do Brasil. A expulsão da Célula 4-R é uma
resultante da intolerância nefasta de alguns intelectuais do C.C. O que de fato ocorreu entre o
Presidium e a 4-R, p. 2; 4-R. O caso da 4-R, à luz dos documentos. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 7,
[1929], p. 19-23; J. A. S. A teoria e a prática no Partido Comunista do Brasil. Auto-Crítica. Rio de
Janeiro, nº 7, [1929], p. 23-24. Sobre o apoio à 4-R ver, por exemplo, a Ata da Reunião do C.C.
Restrito realizada em 24/11/1929 (RGASPI).
57
- Manuel Caballero. La Internacional Comunista y la revolución latianoamericana, p. 97.
572
58
- La importancia de la Primera Conferencia Comunista Latino-Americana. La
Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 15 (2ª Época), agosto 1929, p. 3.
573
59
- Astrojildo Pereira. Informe presentado al Secretariado Sud-Americano de la I.C. por el
delegado del Partido Comunista brasileño. Buenos Aires, 05/07/1928 (RGASPI). As atas
taquigráficas de parte desta reunião, por algum motivo desconhecido, foram acrescentadas a este
informe.
60
- Projet de thèses sur le mouvement révolutionnaire de l’Amérique latine (suite et fin). La
Correspondance Internationale. Paris, nº 11, 05/02/1930, p. 115.
574
“Temos, por fim, outra forma de ligação com as massas e que adotamos
geralmente: o bloco operário e camponês. [...] A vantagem de um tal meio de
ligação com as massas operárias e camponesas é que evita a confusão gerada
pela criação de outro partido diferente do Partido Comunista. A situação recíproca
do bloco e do Partido Comunista é clara. O Partido Comunista participa do bloco,
sendo o único Partido que o faz conjuntamente com outras organizações de
massas. Continua, ante os olhos das massas como o único partido revolucionário,
o único partido do proletariado.
Além disso, não é uma organização tão completa nem tão compacta como
um partido político: é uma forma de organização ocasional, mais flexível que a de
um partido e que dá aos seus componentes liberdade de ação. Pode, portanto,
englobar massas mais amplas, porque tem uma forma de organização que se
presta melhor a uma tal conjunção de forças. Organizações operárias e
camponesas que não adeririam a um partido aderem a um bloco momentâneo,
cujo fim é definido, a um Comitê de ação, a um congresso operário.”
61
- Cf. o informe do delegado argentino Peluffo In: Internacional Comunista. Secretariado
Sul-Americano. El movimiento revolucionário latino americano. Versiones de la Primera
Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de 1929, p.171.
575
62
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário
latino americano. Versiones de la Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de
1929, p. 102-103.
576
Como observou Caballero o arco de alianças aqui proposto era tão reduzido
que o que se acabava sugerindo, na verdade, era quase uma aliança entre os
próprios comunistas64.
Um dos delegados brasileiros, sob o nome de Gabrinetti, fez algumas
observações em relação ao informe de Humbert-Droz. Com respeito à diluição
dos Partidos Comunistas nos Blocos, o delegado brasileiro admitiu que o perigo
fora real no Brasil, mas que no último período o PCB aparecia com face própria
em manifestações que anteriormente somente ocorria a presença do BOC, sendo,
inclusive aclamado em mais de uma oportunidade65, o que indicava que o erro
fora corrigido. Por outro lado, Gabrinetti discordou de Humbert-Droz com relação
à questão de que o PCB deveria aparecer como tal dentro do BOC. Para os
comunistas brasileiros tal atitude servia para preservar ambas organizações da
repressão, além de impedir que houvesse confusão entre o BOC e o PCB nos
meios operários. Isto, inclusive fora objeto de discussão em reunião do Comitê
Central restrito, realizada em 10 e 12 de fevereiro de 1929, a qual decidira que o
PCB não deveria ter um representante oficial junto ao BOC66.
Ao final da Conferência foi aprovada uma resolução referente aos problemas
de organização dos partidos comunistas da América Latina nas qual um dos seus
63
- Idem. Ibidem, p. 189-190.
64
- Manuel Caballero. La Internacional Comunista y la revolución latinoamericana, p. 158-
159.
65
- Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro [Astrojildo Pereira]. Rio de Janeiro, 18/04/1929,
p. 2 (RGASPI); Carta de Saulo [Paulo de Lacerda] a Caro Américo [Astrojildo Pereira]. Rio de
Janeiro, 23/05/1929, p. 1 (RGASPI).
66
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário
latino americano. Versiones de la Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de
1929, p. 124; Ata do C. Central Restrito (Comissões e Presidium) de 10 e 12-2-1929, p. 6 (RGASPI).
577
67
- Resolución sobre los problemas de organización de los Partidos Comunistas de la América
Latina. La Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 15 (2ª Época), agosto 1929, p. 43-44.
68
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. Op. cit., p. 358.
69
- Conversación com los delegados del Brasil sobre el problema de táctica. Buenos Aires,
12/06/1929 (RGASPI); Jules Humbert-Droz. Mémoires. De Lénine a Staline. Dix ans au service de
l’Internationale communiste 1921-1931, p. 381, 390.
578
resolvida por uma “tática mais esquerdista que apenas a participação na lutas
eleitorais” e que, por isso, os comunistas brasileiros achavam “conveniente
consultar Prestes e, se ele estiver disposto a lutar conosco, apoiaremos sua
candidatura à presidência” e, em caso contrário, os comunistas lançariam
candidatos próprios “para demonstrar em toda a campanha eleitoral no que
consiste o revolucionarismo de Prestes”. Humbert-Droz reagiu furiosamente,
dizendo que era inadmissível que o PCB ficasse aguardando uma resposta de
Prestes para decidir que atitude tomar frente à campanha presidencial, no que foi
secundado por Codovilla, o qual afirmou que este posicionamento era uma
“verdadeira submissão do nosso Partido à política da pequena burguesia”. O
representante do CEIC, que durante Conferência já aconselhara o PCB a ser mais
independente com relação à pequena-burguesia revolucionária70, afirmou que os
comunistas deveriam se apresentar com programa e candidatos próprios, pois era
a pequena burguesia quem tinha de se definir e não os comunistas. Insistindo
para que se tivesse menos preocupação com Prestes e “mais fé no espírito de
combatividade das massas”, Humbert-Droz, um ex-seminarista, propôs uma
“manobra”:
70
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário
latino americano. Versiones de la Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de
1929, p. 107.
579
71
- Idem. Ibidem, p. 122.
72
- Reunión del dia 15 de junio de 1929. Ordem del dia: Cuestión brasileña. Buenos Aires,
15/06/1929 (RGASPI).
73
- Casini deveria ter apresentado na Conferência o informe sobre questões de organização,
mas não chegou a tempo. Nas atas foi referido como Castelli (cf. Internacional Comunista.
Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário latino americano. Versiones de la
Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de 1929, p. 355).
74
- José Gotovitch e Mikhail Narinski (dirs.) Komintern: L’histoire et les hommes, p. 340.
75
- Observe-se que, ao contrário do que Basbaum afirmou em suas memórias, que não foi o
redator exclusivo do programa apresentado a Prestes, nem tampouco procede a afirmativa de que o
580
programa refletisse o “espírito que havia guiado o Partido até então” (cf. Leôncio Basbaum. Uma vida
em seis tempos (memórias), p. 70).
76
- Uma nota tragicômica: Mário Grazzini, ao justificar sua adesão aos pontos de vista do
SSA-IC, afirmou que “O pretexto de esconder o Partido por trás do BOC para evitar a reação é um
pretexto fútil. A reação não é tão feroz como dizem alguns companheiros; além disso, o máximo que
pode acontecer é que a polícia persiga a alguns companheiros”.
581
77
- Carta do S.S.A. de la I.C. ao Comitê Central del Partido Comunista del Brasil (carta nº
218). Buenos Aires, Julho de 1929, p. 3 (RGASPI). Esta carta foi também publicada no número 7 de
Auto-Crítica, às páginas 7-10.
78
- Secretariado da América Latina da IC. Question du Brésil (suite de la discussion sur le
rapport de Ledo). Moscou, 24/10/1929, p. 9 (RGASPI).
582
79
- Américo Ledo. Remarques à la lettre. Moscou, 05/09/1929 (RGASPI); Carta de Américo
Ledo [Astrojildo Pereira] a Camarada [Victorio] Codovilla. Moscou, 28/08/1929 (RGASPI).
80
- Conferência Regional de São Paulo, de 17 a 18 de Agosto de 1929, p. 10 (AESP); Pablo
Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y la actuación del P.C.B. en
esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 5 (ASMOB); 3ª Conferência Regional de Pernambuco, em 5
de dezembro de 1929, p. 3 (ASMOB).
583
abertamente ligado -, como Victorio Codovilla, que depois fez carreira como
quadro internacional da IC81, e “Pierre”. Como resultado do expurgo dos
“conciliadores” do aparelho da IC, realizados em fins de 1928 e princípios de
1929, à testa do Secretariado da América Latina da IC foi designado o agrônomo
italiano Ruggero Grieco (Garlandi), que mais tarde foi substituído por um militar
russo, G. B. Skalov, conhecido como Sinani, um profundo conhecedor das
questões chinesas. A Grieco se juntaram outros nomes como o letão Abraham
Iakovlevitch Heifetz (Guralski), os poloneses Mendl Mirochevsky e Stanislaw
Pestkowsky (Banderas) e o austríaco Fritz Glaubauf (Diego)82. Alguns deles
pertenciam a uma nova geração de militantes, cujas características nos descreve
Pierre Broué:
Valendo-se das decisões do 10º Pleno do CEIC, o SSA-IC enviou uma carta
aberta aos partidos comunistas na qual se alertava contra os perigos de direita
81
- De 1932 a 1937 Codovilla foi, na verdade, o dirigente mais importante do Partido
Comunista espanhol (cf. Antonio Elorza e Marta Bizcarrondo. Queridos camaradas. La
Internacional Comunista y Espanã,1919-1939, p. 10).
82
- Pierre Broué. Histoire de l’Internationale communiste 1919-1943, p. 499. Sobre Guralski
(pseudônimo do letão Abraham Iakovlevitch Heifetz), personagem que teria importância na vida
interna do PCB no início dos anos 1930, ver seu perfil biográfico, feito com base em documentação
dos arquivos da IC feito pelo historiador russo Mikhail Panteleiev (Abraham Gouralski, itinéraire
d’um kominternien. Communisme. Paris, nº 53-54, 1998, p. 73-91). A respeito da máquina da IC ver
Peter Huber. L’appareil du Komintern, 1926-1935. Premier aperçu. Communisme. Paris, nº 40-41,
1995, p. 9-35.
83
- Idem, ibidem, p. 495.
584
“Por exemplo, em muitos dos países da América Latina o papel dos partidos
socialistas reformistas é desempenhado pelos partidos ‘democráticos’ burgueses
e pequeno-burgueses (nacional-reformismo), o que constitui uma certa
particularidade na ‘geografia política’. Mesmo onde temos – como na Argentina –
partidos ‘socialistas’, estes se diferenciam muito pouco dos partidos ‘democráticos’
burgueses.
Por conseguinte, as características social-fascistas da social-democracia
internacional são ainda mais claras e precisas em nossos países, já essa
84
- Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista. Carta aberta do Secretariado
Sul-Americano da Internacional Comunista aos partidos comunistas da América Latina. Auto-
Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p. 9-12. Anteriormente esta carta fora publicada no órgão do
SSA-IC (S.S.A. de la I.C. Carta abierta a los Partidos Comunistas de la América Latina sobre los
peligros de derecha. La Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 18 (2ª Época), 20/09/1929,
p. 1-4).
85
- Jules Humbert-Droz. Quelques problèmes du mouvement révolutionnaire de l’Amérique
latine. L’Internationale Communiste. Paris, nº 17, 15/08/1928, p. 1.353; Mário Garlandi
(pseudônimo de Ruggero Grieco). La crise économique dans l’Amérique latine et les tâches des partis
communistes. L’Internationale Communiste. Paris, nº 9, 20/03/1930, p. 519.
585
86
- Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista. Carta aberta do Secretariado
Sul-Americano da Internacional Comunista aos partidos comunistas da América Latina. Auto-
Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p. 10. Os grifos são do original.
87
- Idem. Ibidem, p. 10.
586
Vários dos argumentos aqui apresentados não eram novos e já haviam sido
postos pelo SSA-IC aos comunistas brasileiros com respeito à orientação do
partido e também com relação ao BOC. No entanto, desta vez a eles se juntava o
qualificativo de “direita” a esta política e isto ainda acontecia com o endosso da
Internacional Comunista. A “Carta Aberta”, como assinalou Del Roio90, produziu
imediata reação em vários partidos latino-americanos, como o mexicano, o
argentino e o uruguaio, levando à convocação de reuniões para se adaptarem às
diretrizes traçadas pelo 10º Pleno e pelo SSA-IC.
88
- Idem. Ibidem, p. 10.
89
- Idem. Ibidem, p. 12. Os grifos são do original.
90
- Marcos Del Roio. A classe operária na revolução burguesa. A política de alianças do
PCB: 1928-1935, p. 124-125.
587
91
- As resoluções e outros documentos do 10º Pleno do CEIC começaram a ser publicadas no
órgão oficial da IC – editado em Paris -, La Correspondance Internationale, em seu número de 4 de
agosto, enquanto a “Carta Aberta” foi publicada no número de 20 de setembro de La
Correspondencia Sudamericana.
92
- Saulo [Paulo de Lacerda]. El III Pleno del C.C. del P.C.B. La Correspondencia
Sudamericana. Buenos Aires, nº 21 (2ª Época), 20/11/1929, p. 23-26. Acta n. 37. Reunión del
588
94
- Acta n. 37. Reunión del Secretariado Sudamericano realizada el 26 de Setiembre de 1929,
p. 6 (RGASPI).
95
- A sucessão presidencial e as próximas eleições. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929],
p. 4. Saulo [Paulo de Lacerda]. El III Pleno del C.C. del P.C.B. La Correspondencia Sudamericana.
Buenos Aires, nº 21 (2ª Época), 20/11/1929, p. 23.
590
Apesar de tais censuras, externadas no III Pleno por Leôncio Basbaum, que
foi um dos maiores entusiastas da linha do “Terceiro Período” e, ironicamente,
tornou-se uma das primeiras vítimas de uma de suas manifestações (a
“proletarização”), o BOC, tendo em vista a proximidade das eleições
presidenciais, acabou sendo, de certa forma, preservado, muito embora, como
uma forma de “autocrítica”, Octavio Brandão tenha sido designado para
implementar no Conselho Municipal a nova linha aprovada na reunião.
O III Pleno aprovou uma resolução referente ao BOC na qual, embora
afirmasse ter sido “justa” a sua linha parlamentar e extraparlamentar, teceu-lhe
fortes críticas. De um lado, censurou seu fraco trabalho entre as massas, a
ausência de um trabalho extraparlamentar sistemático por parte de seus
intendentes e a falta de consolidação de seus organismos de base. Já com
respeito à atuação propriamente parlamentar de seus representantes no
Conselho Municipal do Distrito Federal, a resolução apontava como
demonstrações de seus “desvios oportunistas” os seus discursos longos e a
utilização de terminologia difícil, uma certa obediência às “praxes regimentais”, a
96
- Leôncio Basbaum. Uma vida em seis tempos (memórias), p. 63-64. Basbaum comete um
equívoco ao situar esta discussão durante o III Congresso do PCB. No entanto, nesta ocasião ainda,
apesar de eleitos, não haviam sido iniciados os trabalhos parlamentares, o que ocorreria apenas em
junho de 1929.
591
97
- A Situação Política Nacional e Internacional e as Tarefas do P.C.B. Auto-Crítica. Rio de
Janeiro, nº 8, [1929], p. 4.
592
98
- Contra os desvios de direita. Auto-Crítica. Rio de Janeiro, nº 8, [1929], p. 8.
99
- Saulo [Paulo de Lacerda]. El III Pleno del C.C. del P.C.B. La Correspondencia
Sudamericana. Buenos Aires, nº 21 (2ª Época), 20/11/1929, p. 24-25.
100
- José Castilho Marques Neto. Solidão revolucionária. Mário Pedrosa e as origens do
trotskismo no Brasil, p. 123-126. Sobre Pimenta ver Acta nº 5. Reunión del Secretariado
Sudamericano realizada em 6 de noviembre de 1929, p. 4 (RGASPI).
101
- Saulo [Paulo de Lacerda]. El III Pleno del C.C. del P.C.B. La Correspondencia
Sudamericana. Buenos Aires, nº 21 (2ª Época), 20/11/1929, p. 26.
593
103
- Carta de Ledo [Astrojildo Pereira] a Camaradas. Moscou, 18/09/1929 (RGASPI). Grifos
do original.
104
- Octavio Brandão. Combates e batalhas. Memórias (vol. 1), p. 364.
595
105
- As 44 organizações representadas no Congresso eram as seguintes: DO DISTRITO
FEDERAL: 1. Comitê Eleitoral dos Tecelões, 2. Centro Político Proletário de Campo Grande, 3.
Comitê de Alfredo Maia, 4. Comitê da Locomoção, 5. Centro de Jovens Proletários, 6. Centro Político
dos Operários e Lavradores de Bangu, 7. Comitê do Moinho Inglês, 8. Centro Político Proletário dos
Subúrbios da Leopoldina, 9. Federação da Juventude Comunista, 10. Centro Político Proletário da
Gávea, 11. Comitê da Ilha dos Ferreiros; 12. Seção Juvenil da Confederação Geral do Trabalho, 13.
Comitê de São Diogo, 14. Centro Político Proletário de Madureira, 15. Centro Político Proletário de
Sapê, 16. União dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica, 17. Centro Político Proletário do
Engenho da Rainha, 18. Comitê Eleitoral dos Ferroviários, 19. Comitê Eleitoral da Indústria
Alimentícia, 20. Partido Comunista do Brasil, 21. Comitê Eleitoral dos Metalúrgicos e 22. Comitê
Eleitoral dos Marmoristas; DE OUTROS ESTADOS: 1. Centro Político Proletário da Linha do
Centro (RJ), 2. Bloco Operário e Camponês do Espírito Santo, 3. União Operária de Juiz de Fora
(MG), 4. Coligação Operária de Pernambuco, 5. Bloco Operário e Camponês de Sertãozinho (SP), 6.
Associação Operária 23 de Agosto de Cruzeiro (SP), 7. União Operária de São João Nepomuceno
(MG), 8. Centro Político Proletário de Niterói, 9. União Proletária de Minas Gerais, 10. Operários do
Depósito de Valença da Estrada de Ferro Central do Brasil, 11. Bloco Operário e Camponês de
Alagoas, 12. Bloco Operário e Camponês de Campo Grande (MT), 13. Centro Político Proletário de
Campos (RJ), 14. União dos Trabalhadores em Transportes de Campina Grande (PB), 15. Sindicato
dos Trabalhadores de Natal (RN), 16. União Operária e Camponesa de Várzea das Moças (RJ), 17.
Comitê Eleitoral de Muritiba (BA), 18. Bloco Operário e Camponês do Rio Grande do Sul, 19. Bloco
Operário e Camponês de Cubatão (SP), 20. Bloco Operário e Camponês de São Paulo, 21. União
Geral de Campina Grande (PB) e 22. Centro Político Proletário de Ribeirão Preto (SP).
106
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 517.
596
107
- Comissão Executiva da Coligação Operária. Prepara-se um golpe político contra a
Coligação Operária? Praça de Santos. Santos, 30/06/1929, p. 5; O comunismo em Santos. A prisão
de João de Oliveira é explicável e justa. Gazeta do Povo. Santos, 17/07/1929, p. 1; Uma violência da
polícia de Santos. Como se detém um cidadão sem motivo de espécie alguma. Praça de Santos.
Santos, 17/09.1929, p. 12; Combate ao comunismo em Santos. Gazeta do Povo. Santos, 08/11/1929,
p. 1 (Esta matéria noticiava a invasão da sede da Coligação, a apreensão do jornal O Solidário e a
fuga de Santos de João Freire de Oliveira).
597
108
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 938-941.
109
- Secrétariat latino-américain. Questions du Brésil. Séance du 5 Novembre 1929, p. 197
(RGASPI);Telegrama de Garlandi ao SSA. S.d. (RGASPI).
110
- O programa discutido e aprovado no I Congresso do BOCB está reproduzido em: Distrito
Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Outubro a 30 de
Novembro de 1929, p. 516-526. A íntegra do programa pode ser vista no Anexo XVI.
598
mais geral, mais de acordo com a perspectiva de uma luta política profunda e muito
séria. Não são problemas eleitorais simplesmente, que temos de resolver; mas
grandes problemas políticos. A situação é bem clara no que concerne ao
desenvolvimento da crise política em conexão com os acontecimentos ligados à
luta presidencial – de que o 1º de Março marcará apenas o fim de uma etapa, a
etapa propriamente eleitoral. Neste sentido nós devemos fazer o máximo de força
por aprofundar a crise, combatendo o ‘fair play’ desportivo. O programa de ação
elaborado pelo Congresso – claro, preciso, firme, essencial – deve ser um meio
poderoso de ligação do Partido às mais largas massas por meio do B.O.C.”111
111
- Carta de Ledo [Astrojildo Pereira] a Camaradas. Moscou, 18/09/1929 (RGASPI). Grifos
599
do original.
112
- Estas nuanças foram introduzidas com base nas críticas que Astrojildo Pereira, de
Moscou, iniciou em setembro de 1929. ver, por exemplo, as cartas de 18 de setembro e 15 de outubro
de 1929 (RGASPI).
600
“Não para fabricar leis e sim para provar que as Câmaras não passam de
máscaras da ditadura dos capitalistas e que as leis preparadas pelos agentes da
burguesia não podem beneficiar as massas. Tais são verdadeiros engodos.”
113
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
602
114
- Leôncio Basbaum. Uma vida em seis tempos (memórias), p. 64. Reunión del dia 15 de
junio de 1929. Ordem del dia: Cuestión brasileña. Buenos Aires, 15/06/1929, p. 1 (RGASPI). Sobre
as relações do PCB com os militares ver João Quartim de Moraes. A esquerda militar no Brasil.
Volume II: da Coluna à Comuna e Luís Alberto Zimbarg. O cidadão armado. Comunismo e
tenentismo (1927-1945).
604
115
- Internacional Comunista. Secretariado Sul-Americano. El movimiento revolucionário
latino americano. Versiones de la Primera Conferencia Comunista Latino Americana. Junio de
1929, p. 85.
605
“Em resumo, cada luta nacional que se apresente tem sua base agrária; e
somente os pequeno-burgueses antimarxistas o negam, mas seria igualmente um
grave erro reduzir a questão nacional à questão de classe, à questão agrária,
porque isto significaria justamente esquecer as condições históricas da luta contra
os conquistadores etc; peculiaridades que determinaram aos revolucionários
marxistas, a proclamar, ao lado das reivindicações de classe, a consigna,
fundamental para nós, do ’direito dos povos de dispor deles mesmos, até o direito
de separação’. [...] Em todo caso, os partidos revolucionários devem proclamar
energicamente este direito dos trabalhadores indígenas. (A este respeito, a
experiência das insurreições indígenas nos demonstra como, ampliando-se,
ultrapassam as fronteiras dos Estados atuais.)”118
116
- Sobre este posicionamento dos comunistas brasileiros a respeito da não existência de uma
“questão negra” no Brasil, um dirigente da IC, o búlgaro Stoïan Minev, fez o seguinte comentário: “O
camarada Ledo [Astrojildo Pereira] nos disse que os negros podem inclusive tornar-se presidentes da
República, que eles podem ocupar qualquer posto e, entretanto, nós vemos que 7/8 da população do
Brasil é composta de iletrados e que a maioria desses iletrados, se não todos, é de negros e
formalmente os iletrados não possuem direitos políticos. Isto é justo?” (Secrétariat latino-américain.
Question brésilienne. 27 octobre 1929, p. 137 (RGASPI)).
117
- Idem. Ibidem, p. 294-297.
118
- Idem. Ibidem, p. 298-299. Os grifos são do original.
607
econômico não é muito superior aos da maioria das populações indígenas” era
uma clara demonstração de que a palavra de ordem do direito dos povos de
dispor de si mesmo era correta e que também permitiria que se unisse a luta dos
trabalhadores indígenas com os mestiços e os brancos, sendo assim o “único
caminho real do desenvolvimento rápido e verdadeiramente livre dos povos”. Tais
críticas acabaram fazendo com que os comunistas brasileiros incorporassem,
acriticamente, os posicionamentos expostos por “Pierre” relativamente aos índios
no programa do BOCB. Tanto foi assim que, no programa de 1929, não se
percebe, exceto pela menção factual a alguns protestos promovidos por certos
grupos índígenas, a menor evolução no conhecimento sobre o assunto por parte
dos comunistas, que enquadraram o assunto em palavras de ordem genéricas e
que remeteram ao exemplo soviético.
Já com respeito ao item do programa que tratava da classe média, colocou-
se aí em relevo um dos temas fundamentais da política dos comunistas desde
1925 e que já vinha sendo, particularmente no que se refere às suas relações
com os “tenentes”, alvo de críticas tanto da IC como do SSA-IC. Embora sem
detalhes, há no final do programa uma frase em que se afirma o apoio aos
“revoltosos de Copacabana, S. Paulo e Coluna Prestes” mas alude-se a críticas
aos “desvios dos elementos direitistas”. No entanto, o fato de dirigir-se ao
segmento social do qual procediam muitos dos “tenentes” e no qual possuíam um
relevante apoio e simpatia mostra que o PCB ainda manifestava alguma
resistência, embora velada, às observações de seus críticos. Apesar do modo
cuidadoso com que as relações com a classe média são tratadas é possível notar
aqui ao menos um ponto em que mandaram uma mensagem aos “tenentes”.
Depois de afirmar-se que a classe média “rigorosamente não forma uma
classe”, o programa do BOC dedica-se a descrever o perfil profissional de seus
componentes (incluindo, obviamente, tenentes e capitães...) e a enfatizar o
processo de proletarização a que estariam sendo submetidos. Como resultado
dessa visão, o programa do BOCB destacou que a principal luta da classe média
seria contra a classe capitalista, deixando subjacente a questão da aliança com o
608
EM MOSCOU
119
- Veja-se a relação dos candidatos no Anexo XVIII.
120
- Ata da Reunião do C.C. Restrito realizada em 24/11/1929, p. 4 (RGASPI).
121
- Os militantes do PCB que estavam na URSS naquela época eram, além de Astrojildo
Pereira, o metalúrgico russo Hermann Berezin e três estudantes das escolas de formação de quadros
da IC e da ISV: o alfaiate Heitor Ferreira Lima, futuro secretário geral do PCB, Carlos Augusto da
Silva e o trabalhador da construção civil Russildo Magalhães. As atas taquigráficas das reuniões do
Secretariado Latino-Americano da Internacional Comunista informam a presença de 29 pessoas (para
muitas das quais não foi possível estabelecer sua verdadeira identidade): Banderas (o polonês
Stanislaw Pestkowski), Cáceres (a venezuelana Cármen Fortul, aluna da Escola Leninista), Garlandi
(o italiano Ruggero Grieco), Guralski (o letão Abraham Iakovlevitch Heifetz), Grichin (o russo
Hermann Berezin, que militara no PCB), Guillén (o colombiano Guillermo Hernandez Rodriguez,
610
aluno da Escola Leninista), o suíço Jules Humbert-Droz (um dos poucos identificados nas atas
taquigráficas com seu verdadeiro nome), Jakobson, Kraftchinko, Ledo (Astrojildo Pereira), Léon,
Lesov, Loris, Lovera (o italiano Luigi Amadesi), Lunin (Carlos Augusto da Silva), Martinez,
Michard, Orestes, Perez , Ramirez (o americano Charles Shipman Philipps), Rodriguez, Romero,
Silva (Heitor Ferreira Lima), Stepanov (o búlgaro Stoïan Minev), Stirner (o suíço Edgar Woog), a
francesa Suzanne Tilge (que também atuava como secretária na IC), Vidal, Wiesner e Yatchouk.
611
cada dia”122. Já como o ponto mais fraco do PCB, Astrojildo Pereira apontou a
falta de influência do partido entre os camponeses e os trabalhadores agrícolas.
Astrojildo Pereira também tratou da questão da sucessão presidencial em
seu informe sobre a situação do Brasil. Nele apresentou a visão de que as causas
que deram origem às candidaturas de Júlio Prestes, apoiado pelo imperialismo
inglês, e Getúlio Vargas, apoiado pelo imperialismo americano, eram as
diferentes opções de cada grupo na aplicação da política de valorização do café e
da de estabilização monetária. Dentro deste quadro, Pereira informou que a
posição dos “tenentes” era oscilante entre o proletariado e a “Aliança Liberal”,
mostrando a falta de “uma atitude firme e conseqüente”, própria da pequena
burguesia. Quanto ao PCB, este, desde o início, tomou posição contra ambas as
candidaturas por meio da imprensa e de atividades de massa e também por meio
de seus dois intendentes:
122
- Sécretariat Latino-américain. Séance du 22.X.1929. Réunion du Sécretariat Elargi.
Question du Brésil, p. 10 (RGASPI).
123
- Idem. Ibidem, p. 15-16.
612
e o faziam, tanto por meio de negociações secretas com os “chefes” como através
da agitação na imprensa e atividades públicas, levantando a proposta “de uma
aliança, uma colaboração” entre ambos na questão da luta eleitoral e do
desenvolvimento desta luta, que deveria ir além de uma simples campanha
eleitoral. No entanto, os comunistas também haviam, há pouco tempo, começado
a criticar “certas declarações de Prestes”, mostrando que o PCB buscava superar
algumas falhas no que se referia às relações com os “tenentes”. Aqui Pereira
também aproveitou para expor suas divergências com a direção do PCB sobre as
“causas econômicas das lutas políticas em torno da sucessão presidencial”,
mantendo, porém, seu acordo no terreno político. Defendendo a visão que
apresentara em seu informe ao Secretariado da América Latina da IC, Pereira
afirmou que não achava “justa” a caracterização de “agrários” versus “industriais”
e que já havia exposto seu ponto de vista contrário a isto em cartas enviadas ao
Brasil:
“Eu sustento que esta luta tem como causa profunda a diferenciação de
interesses que se verifica na questão da valorização do café e da estabilização
monetária. Estes são, em minha opinião, os dois problemas que se encontram na
base das divergências atuais no seio da burguesia, porque, de ambos os lados, há
fazendeiros e industriais: em São Paulo, os industriais e os grandes fazendeiros
estão absolutamente de acordo e os órgãos representativos dos grandes
industriais e comerciantes de São Paulo e do Rio e Janeiro enviaram uma
delegação ao presidente da República apoiando a candidatura do presidente de
São Paulo. Não há, portanto, esta divisão entre “agrários” e “industriais”. Em minha
opinião, esta diferenciação se produz entre grandes fazendeiros, de um lado, e
médios e pequenos fazendeiros, de outro. Os pequenos fazendeiros têm seus
interesses contrariados pelo atual sistema de valorização do café e de
estabilização monetária. A mesma diferenciação acontece na burguesia industrial e
não é por outra razão que os grandes industriais fazem bloco com os grandes
fazendeiros.”124
124
- Idem. Ibidem, p. 17. As cartas a que Astrojildo Pereira se refere estão em RGASPI e são
datadas de 18 de setembro, 15 e 16/25 de outubro de 1929.
613
125
- Sécretariat latino-américain. Séance du 22/10/1929. Question du Brésil, p. 34 (RGASPI).
615
não estavam entre o proletariado e a burguesia, mas sim “três quartos mais
próximos dos liberais do que de nós”.
Dois dias depois foi a vez do búlgaro Stoïan Minev (Stepanov), figura muito
próxima de J. Stalin, que fez aquela que pode ser considerada a mais dura
intervenção contra o PCB. Admitindo haver no Brasil uma série de elementos e
condições para uma situação revolucionária que poderia se tornar aguda, Minev,
ardoroso defensor da política do “Terceiro Período”, afirmou que reinava a mais
confusão completa nas fileiras do PCB. Para ele os comunistas brasileiros haviam
se deixado “hipnotizar pelos acontecimentos da China”, não conseguindo tirar
todas as conseqüências do que lá acontecera. Para exemplificar tal confusão,
Minev passou a citar vários trechos de textos de Octavio Brandão, “teórico
reconhecido do partido”, como fazia questão, sarcasticamente, de destacar a
cada citação, e de outros documentos do PCB a fim de mostrar, como, nas
relações que dali eram definidas com a pequena burguesia, o proletariado
aparecia como um auxiliar que, a rigor, apoiando ou não a pequena burguesia,
tinha um papel sempre secundário, não passando de uma força auxiliar.
Exemplificando com a questão da “terceira revolta”, na forma como aparecia nas
resoluções do III Congresso do PCB, Minev afirmava:
126
- Sécretariat latino-américain. Séance du 24/10/1929. Question du Brésil, p. 49 (RGASPI).
616
“Vocês se lembram do que Ledo [Astrojildo Pereira] nos disse outro dia: o
congresso operário e camponês [Minev refere-se ao I Congresso do BOC]
convocado irá elaborar uma plataforma para as eleições, ele irá elaborar outros
documentos sobre as tarefas. Sobre todas estas questões que o congresso do
Bloco Operário e Camponês tratará o Partido Comunista brasileiro não tomou
posição. Uma prova indireta da justeza dessa afirmativa é que Ledo PÔDE OBTER
ALGUMAS informações sobre o congresso operário e camponês, sobre sua ordem
do dia, mas NÃO PÔDE ENCONTRAR documentos indicando a posição do PC
brasileiro. Esta é uma prova irrefutável que de que o partido não tem posição.”127
127
- Idem. Ibidem, p. 52 (RGASPI). Grifos do original.
617
agrícolas. Qual é seu ponto de apoio do ponto de vista social nas cidades e no
campo? Existe um ponto de apoio ainda muito falho nas cidades. No campo vocês
não têm nada, nem organizações de operários agrícolas etc. O que aconteceu,
então? Vocês criaram estas organizações do Bloco Operário e Camponês para
servir de cobertura e que servem apenas para fazer eleitoralismo. E toda a
experiência aí de vocês até o momento pertence somente ao domínio eleitoral.
Esta experiência já é conclusiva. O Bloco Operário e Camponês, onde estão
ausentes os camponeses, os impede precisamente de ver a seriedade das tarefas
que vocês tem de cumprir no domínio do campo, no domínio da organização dos
operários agrícolas. Ao invés de ir ao campo para criar sindicatos de operários
agrícolas, comitês de luta, ao invés de lhes mostrar a necessidade da revolução
agrária, ao invés de lhes falar dos SOVIETES OPERÁRIOS E CAMPONESES,
vocês apenas lhes falam do ‘Bloco Operário e Camponês’. E nosso ‘Bloco Operário
e Camponês’ permanece uma formação eleitoral das cidades. Nos últimos
documentos vemos que tudo depende das eleições: se as massas votarem no
Bloco Operário e Camponês, tudo está certo. Seu BOC serve de cobertura a vocês
contra a polícia, mas ele cobre, esconde o Partido Comunista das massas, ele
aprisiona vocês, ele impede vocês de fazer um trabalho sério e efetivo para a
preparação da revolução democrático-burguesa. O Bloco Operário e Camponês
conduz vocês aos ‘salões do eleitoralismo’, ele conduz vocês ao parlamento e
impede vocês de arrastar as massas camponesas, ele impede vocês precisamente
de fazer a preparação política das massas para executar a revolução democrático-
burguesa; ele impede vocês de guiar essa revolução, de obter a hegemonia do
proletariado nessa revolução. Com o Bloco Operário e Camponês vocês praticam
eleitoralismo, travam conversações com Prestes e a tarefa principal, isto é, a
preparação ideológica e política séria das massas operárias e camponesas para
fazer a revolução democrático-burguesa, esta vocês não a realizam.”128
Logo após Minev, teve a palavra o suíço Jules Humbert-Droz. Embora não
tão agressiva como àquela que o antecedeu, a intervenção de Humbert-Droz foi
também bem crítica em relação ao PCB. No entanto, o tom da crítica feita pelo
suíço tinha um caráter mais propositivo. Nesta forma de abordagem mais positiva
é importante se compreender que, por detrás dela, havia uma questão que não
possuía relação diretamente com o debate em questão: Humbert-Droz era um
notório defensor das posições de N. Bukharin e aquelas reuniões sobre a
“questão do Brasil” eram também palco de um combate subterrâneo entre o seu
grupo e o dos apoiadores de J. Stalin, então majoritários, mas ainda não
exclusivamente hegemônicos. Desse modo, Humbert-Droz, por exemplo, deu uma
estocada em Heifetz afirmando que comparar o Brasil e a Rússia era um
equívoco, pois o império russo era um estado imperialista, ao passo que o Brasil
128
- Idem. Ibidem, p. 60-61 (RGASPI). Grifos do original.
618
“Ora, eu disse que eu não via nas informações que possuímos sobre o Brasil
que tenhamos uma grande atividade, um grande impulso destas camadas da
classe operária que são os motores da revolução democrático-burguesa no Brasil.
Pelo contrário, o fato que muitos destes elementos ainda estejam a reboque de
Prestes e agora a reboque da Aliança Liberal, quer dizer, do imperialismo norte-
americano, prova que nosso trabalho é inteiramente insignificante. Não devemos
nos iludir sobre as forças e nem considerar todo ‘movimento revolucionário’, todo
golpe de Estado no Brasil, toda articulação de complôs no Exército etc., como a
eclosão da revolução democrático-burguesa; tenho a impressão, ao contrário, de
que para o que caminhamos no Brasil é muito mais um pronunciamento e um
129
- Sécretariat latino-américain. Séance du 24/10/1929. Question brésilienne, p. 69
(RGASPI).
619
130
- Idem. Ibidem, p. 65-66.
620
manipulado o uso das citações em sua intervenção. Depois de ter feito estas
colocações Lima tratou das questões até então debatidas. Com referência ao
BOC afirmou que, em razão dos aspectos positivos já destacados por Humbert-
Droz, não possível acabar com ele do dia para a noite. Além disso, acreditava
ainda ser possível corrigir a totalidade dos erros apresentados pelo BOC. Em
seguida, Minev pediu a palavra para responder a Lima e, antes de expressar suas
divergências com o estudante brasileiro, ameaçou:
“Estou espantado que, ao invés de tomar a sério as críticas que fizemos aqui,
o camarada Silva [Heitor Ferreira Lima] busca esquivar-se um pouco delas e fazer
um discurso de defesa de uma causa dificilmente defensável, sobretudo quando se
é aluno da Escola Leninista.”132
131
- Secrétariat sud-américain. Question brésilienne, 24/10/1929, p. 75 (RGASPI).
132
- Secrétariat sud-américain. Comission brésilienne, 24/10/1929, p. 80 (RGASPI).
621
Além disso, o italiano afirmava que a hegemonia também era uma questão
de relações entre organizações políticas, mas acreditava que a constituição de
uma organização permanente ou de um partido operário camponês era um erro
em qualquer país e não apenas no Brasil. Para ele deveria haver a organização
de formas particulares articuladas às circunstâncias específicas que
determinavam sua criação, o que permitiria uma ligação entre operários e
camponeses, dando-lhes uma posição ativa de luta, como, por exemplo, para a
eleição presidencial, ao mesmo tempo em que daria ao Partido Comunista a
“possibilidade de manter sua independência e de dirigir independentemente o
movimento das massas camponesas”. Por isso, ele era contrário à formação de
uma organização permanente que acaba negando o partido. Assim, com relação
622
“Neste momento devemos conduzir no Bloco uma política que nos permita
liquidá-lo, em sua forma atual, após as eleições presidenciais e com os melhores
resultados para o nosso partido. Devemos tentar liquidar o Bloco reforçando todas
as posições que temos nas organizações camponeses e nos comitês camponeses
que devemos começar a criar imediatamente.”134
133
- Secrétariat latino-américain. Question brésilienne, 14/11/1929, p. 108 (RGASPI). A data
deste documento está claramente errada, em razão das evidências internas existentes nas outras
intervenções da sessão de 27 de outubro de 1929, que é a data correta para a intervenção de Grieco.
134
- Idem. Ibidem, p. 110 (RGASPI).
623
135
- Idem. Ibidem, p. 112 (RGASPI).
136
- Secretariat Latino-américain. Question brésilienne. Séance du 03/11/1929, p. 207
(RGASPI)
624
137
- Heitor Ferreira Lima. Caminhos percorridos. Memórias de militância, p. 103-104.
138
- Carta de Garlandi [Ruggero Grieco] à la Petite Comission. Moscou, 16/11/1929
(RGASPI).
139
- Protokoll Nr. 74 der Sitzung des Politseckretariats des EKKI am 26/01/1930 (RGASPI);
Secrétariat latino-américain. Comintern. Réunion du 02/02/1920 (RGASPI); Protokoll Nr. 41 der
Sitzung des Politschen Kommission des Politseckretariats des EKKI am 08/02/1930 (RGASPI).
625
140
- Presidium do CC do PCB. Resolução do Presidium do C. C. sobre as diretivas da I.C. Rio
de Janeiro, 07/03/1930, p. 2 (RGASPI).
141
- Ver, no Anexo XVII, o trecho referente ao BOC na Resolução da Internacional
Comunista.
626
142
- A polícia impediu que se realizasse a convenção do partido comunista. Foram efetuadas
cinqüenta e tantas prisões, dentre as quais a de dois jornalistas. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
07/11/1929, p. 6.
143
- Idem. Ibidem.
627
144
- Prossegue a campanha da polícia contra o comunismo. O comício que se pretendia
realizar na praça Marechal Floriano foi violentamente dissolvido. Tiros e bengaladas – Vários
operários feridos. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 08/11/1929, p. 5.
145
- A orientação da campanha policial contra os comunistas. Fala-nos a respeito o sr. Oliveira
Ribeiro, 4º delegado auxiliar. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 09/11/1929, p. 6.
628
146
- Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de
Outubro a 30 de Novembro de 1929, p. 553-555; Prossegue a campanha da polícia contra o
comunismo. O comício que se pretendia realizar na praça Marechal Floriano foi violentamente
dissolvido. Tiros e bengaladas – Vários operários feridos. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
08/11/1929, p. 5; Ofício de Seraphim Soares Braga ao Chefe de Seção de Ordem Política e Social.
Rio de Janeiro, 07/11/1929 (APERJ); A orientação da campanha policial contra os comunistas. Fala-
nos a respeito o sr. Oliveira Ribeiro, 4º delegado auxiliar. Correio da Manhã. Rio de Janeiro,
09/11/1929, p. 6.
629
147
- Ata da Reunião do C.C. Restrito realizada em 24/11/1929, p. 7 (RGASPI).
630
148
- A orientação da campanha policial contra os comunistas. Fala-nos a respeito o sr. Oliveira
Ribeiro, 4º delegado auxiliar. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 09/11/1929, p. 6.
149
- No Conselho Municipal. Vários intendentes em combate ao comunismo. Operários tentam
agredir o intendente Octavio Brandão. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 15/11/1929, p. 6; Distrito
Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho Municipal. Sessões de 1º de Outubro a 30 de
631
Novembro de 1929, p. 1.755, 1.824-1.826; Distrito Federal. Conselho Municipal. Anais do Conselho
Municipal. Sessões de 2 a 31 de Dezembro de 1929, p. 578-617.
150
- O 1º de Maio e a demagogia da direção do P.C. A Luta de Classe. Rio de Janeiro, nº 1,
08/05/1930, p. 1. Os grifos são do original.
632
151
- Comissão de Campanha Eleitoral do BOC. Protestai contra a reação votando nos
candidatos do Bloco Operário e Camponês. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 01/03/1930, p. 7.
Cumpre assinalar que Manoel Karacik acabou saindo com vida da prisão. A esta relação é importante
acrescentar o nome de João Freire de Oliveira. Preso em 22 de fevereiro de 1930, o garçom comunista
foi enviado para São Paulo, onde foi barbaremente torturado sob ordens do delegado Laudelino Freire
(Está em perigo de vida, nas prisões da capital, o sr. João Freire de Oliveira. Praça de Santos. Santos,
06/03/1930, p. 3). Oliveira também sobreviveu às sevícias. Outros nomes que devem ser
acrescentados ao arrolamento acima são os dos dois candidatos do BOCB a deputado federal pelo Rio
Grande do Sul: Adalgiso Py e Plínio Gomes de Mello, ambos presos quinze dias antes das eleições e
deportados do Brasil (Pablo Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y
la actuación del P.C.B. en esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 6 (ASMOB)).
152
- Ver o panfleto BOCB Aos trabalhadores em geral e aos metalúrgicos em particular
(RGASPI).
633
153
- A atuação do P.C. nas eleições. A Luta de Classe. Rio de Janeiro, nº 1, 08/05/1930, p. 3.
634
154
- Beatriz Ana Loner. Construção de classe. Operários de Pelotas e Rio Grande (1888-
1930), p. 379.
155
- Pablo Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y la
actuación del P.C.B. en esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 3 (ASMOB).
156
- Alexandre Fortes. ‘- Nós do Quarto Distrito...’ A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p.466-467.
635
157
- Beatriz Ana Loner. Op. cit., p. 379-380.
158
- Vida Operária. Relatório da situação do proletariado de Caxias apresentado pelo
presidente do BOC. Correio do Povo. Porto Alegre, 14/02/1930, p. 8.
637
159
- A mistificação da Aliança Liberal. Em Porto Alegre, as mulheres proletárias foram
agredidas pelos fascistas “liberais”. A Classe Operária. Rio de Janeiro, nº 86 (2ª fase), 22/02/1930, p.
1-2.
638
160
- Pablo Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y la
actuación del P.C.B. en esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 5-6 (ASMOB).
161
- Vida Operária. Conferência Regional dos Comitês de Operários e Camponeses na luta
contra a Intervenção Federal. Correio do Povo. Porto Alegre, 14/02/1930, p. 8.
639
162
- Depoimento de Plínio Mello apud Edgard Carone. Classes sociais e movimento operário,
p. 304.
163
- Carta de Plínio Gomes de Mello a John W. Foster Dulles In John W. Foster Dulles.
Anarquistas e comunistas no Brasil, p. 434. Sobre a provocação montada pelo governo ver Alexandre
Fortes. Op. cit., p. 462-470.
164
- Carta de Marcos Piatigoski ao Secretariado da Seção Latino-Americana da IC. Paris,
26/07/1930 (RGASPI)
640
165
- Pablo Osório [Plínio Gomes de Mello]. La situación en el Rio Grande do Sul y la
actuación del P.C.B. en esa región. Buenos Aires, maio 1930, p. 6 (ASMOB).
641
OS RESULTADOS
166
- Diário do Congresso Nacional. Rio de Janeiro, 21/05/1930, p. 544-545.
642
167
- A primeira cifra está em Pereyra. Los resultados de las elecciones brasileñas. La
Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nº 26 (2a Época), 01/05/1930, p. 13, e a segunda
encontra-se em Presidium do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil. Porque os comunistas
não triunfaram nas eleições. Rio de Janeiro, 04/03/1930, p. 3 (ASMOB).
643
caso do Rio Grande do Sul, mesmo que nos acautelemos, e talvez com razão,
frente ao número de 400 militantes comunistas apresentados por Plínio Gomes de
Mello, não é possível imaginar-se que o candidato presidencial do BOCB não
tivesse tido ali ao menos alguns poucos votos. No caso do Rio Grande do Sul, a
imprensa local168 noticiou os números finais escrutinados pela Juntas Apuradoras
e que eram praticamente idênticos aos estabelecidos pelo Congresso Nacional e
que deram ao candidato situacionista pouco mais de mil votos, número este, no
entanto, que o bom senso determina que seja creditado a uma fraude
desavergonhada. E, claro, se foi assim com Júlio Prestes, imagine-se com os
pobres Minervino de Oliveira e Gastão Valentim Antunes.
A votação obtida em nível nacional pelo BOCB foi inferior à conseguida pelo
próprio Minervino de Oliveira no 2º Distrito do Distrito Federal nas eleições de
outubro de 1928 (1.011 votos). Se levarmos em conta a votação total obtida nos
dois distritos da Capital pelo Bloco em 1928 naquela eleição (1.922 votos) e a
comparamos com a obtida apenas no Distrito Federal em março de 1930 (534),
veremos que a votação do BOCB caiu 72% nesse curto lapso de tempo.
Tais números evidenciavam o fracasso do BOCB nas eleições. No entanto,
em um primeiro balanço, datado de três dias depois das eleições169, o PCB
preferiu brigar com os fatos e afirmar que os quatro mil votos que teriam sido
dados aos candidatos comunistas poderiam aparentar uma derrota séria, mas não
o eram, já que eles tinham uma significação precisa:
168
- Encerrada apuração no Rio Grande do Sul. Correio do Povo. Porto Alegre, 08/04/1930, p.
7.
645
169
- Presidium do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil. Porque os comunistas não
triunfaram nas eleições. Rio de Janeiro, 04/03/1930 (ASMOB).
170
- Secretariado Político do PCB. Notas sobre a situação atual do Partido Comunista do
Brasil. Rio de Janeiro, 02/04/1930 (RGASPI).
171
- Foram os números 85, de 15 de fevereiro, e 86, de 22 de fevereiro, publicados com duas
páginas cada, em razão de o PCB não ter conseguido gráficas capazes de imprimir em tiragem
suficiente e também, sobretudo, como resultado das condições de repressão a que estava submetido o
partido.
646
Como resultado de tal quadro, o PCB constatou que houve uma “ruptura da
ligação entre o Partido e a massas, debilitando momentaneamente a nossa
influência sobre estas últimas”. Além disso, traçou um quadro de quase completa
paralisia no conjunto do partido:
172
- Porque fomos derrotados nas eleições de 1º de Março. A Classe Operária. Rio de Janeiro,
nº 89 (2ª fase), 17/04/1930, p. 2.
647
ligação do Partido com as massas para a luta revolucionária. Seu objetivo consiste
isolar o Partido da massas. Daí que a reação não seja mera ‘violência policial’
como supõem muitos. A reação é manobra essencialmente política. Precisamos
bem compreendê-la assim para melhor saber combatê-la e vencê-la. É o que não
temos feito e muito contribuiu para a nossa derrota nas eleições de 1º de março.”
173
- Carta de Silva [Heitor Ferreira Lima] a Caro Astr. [Astrojildo Pereira]. Moscou,
10/04/1930 (RGASPI).
174
- Pereyra. Los resultados de las elecciones brasileñas. La Correspondencia Sudamericana.
Buenos Aires, nº 26 (2a Época), 01/05/1930, p. 13-15.
648
175
- Nesta eleição Lacerda obteve 162 votos, o que significou, dado o sistema de votação
carioca, no qual se podia votar até oito vezes em um mesmo candidato, que pouco mais que vinte
eleitores sufragaram seu nome (A eleição de 21 de junho. A Luta de Classe. Rio de Janeiro, nº 3, jul.
1930, p.2).
650
176
- Bloco Operário ou Partido Comunista? A Luta de Classe. Rio de Janeiro, nº 2, jun. 1930,
p. 1.
177
- Octavio Brandão. Otávio Brandão (Depoimento, 1977), p. 43.
651
178
- Heitor Ferreira Lima. Op. cit., p. 106.
652
Enfim, era como se, da posição ereta até ficar estatelado no chão, o PCB
tivesse passado por uma espécie de “corredor polonês” no qual a IC, o SSA-IC e
o governo brasileiro o tivessem surrado até o fim, sendo a cena assistida
passivamente pelos trabalhadores brasileiros.
ANEXO XV
Resoluções do III Congresso do PCB sobre o BOC (1928-1929)
[...]
28 – O Bloco Operário e Camponês, pelo seu próprio desenvolvimento e pela
experiência já adquirida, tende a tornar-se uma grande organização política das mais vastas
massas operárias e camponesas. Organização legal, ele tem aparecido muitas vezes como o
próprio partido do proletariado, sustentando as palavras de ordem específicas da classe
operária. É preciso, porém, que o Partido Comunista mantenha a mais vigilante atenção
sobre a organização e a atividade do Bloco Operário e Camponês, controlando-se
estritamente, de sorte a evitar possíveis desvios eleitoralistas e oportunistas.
Formando o núcleo central e dirigente do Bloco Operário e Camponês, o Partido
Comunista não deve fundir-se nem desaparecer dentro dele, mas, pelo contrário, deve
conservar sempre sua própria fisionomia política, para isto desenvolvendo uma propaganda
ilegal sistemática entre as massas, de sorte a consolidar sua própria organização em
conseqüência mesmo do trabalho realizado no Bloco Operário e Camponês, bem como nas
demais organizações auxiliares de massa.
[...]”
todas as medidas. Para isto, o P.C.B. deve, ao mesmo tempo, desenvolver sua própria
propaganda nas massas, em seu próprio nome, com toda nitidez classista, sem subordinação
às possibilidades legais da luta. Só assim o P.C.B. será cada vez mais o núcleo central do
B.O.C., dirigindo sua atividade com toda a firmeza.
A fim de exercer um controle real sobre o Bloco e este sobre os seus representantes,
subordinando o trabalho nas Câmaras à luta geral das massas, o P.C.B. deve combater a
tendência de certos camaradas que procuravam ocultar o Partido sob o pretexto de que as
massas têm medo da palavra comunismo.
* * *
O Congresso condena a aliança eleitoral que o B.O.C. de S. Paulo fez com o
P[artido]. D[emocrático]. Em fevereiro de 1928, apesar de ter instruções em contrário da
C.C.E. anterior. E bem assim os desvios oportunistas cometidos em Ribeirão Preto, nas
eleições de Outubro do ano passado. Estes desvios mostram que a organização local do
P.C.B. não tinha a necessária eficiência ideológica e orgânica, para opor uma barreira a esses
desvios.
* * *
O B.O.C. precisa evitar todo e qualquer desvio eleitoralista ou oportunista,
compreendendo a sua obra como um ponto de partida para a fermentação e a radicalização
das massas. Precisa criticar severamente a atuação do seu representante na Câmara Federal,
combater os desvios deste último, fazê-lo comparecer às reuniões periódicas, para ouvir e
discutir as críticas. Caso ele não se subordine à linha política firme do B.O.C. e torne
inevitável o rompimento, precisamos fazê-lo com inteligência, realizando um trabalho
preliminar de crítica perante as massas, para que estas o responsabilizem pelo rompimento e
o condenem, deixando-o isolado.
* * *
O B.O.C. precisa organizar, por todo o país, uma rede de Comitês e Centros Políticos
a ele filiados. Precisa estudar a forma de organizar comitês de fábricas, como uma base
orgânica. Centros e Comitês não devem limitar sua atividade ao terreno eleitoral, ampliando-
a, como já ficou explicado atrás. Precisa estudar as formas orgânicas e concretas de sua
ligação com todos os organismos de operários e lavradores pobres, à luz da experiência.
Nos Estados e, principalmente, onde já existe um começo de organização, estas tarefas
devem ser adaptadas às condições locais e realizadas com habilidade, firmeza e tenacidade.
A penetração nos campos deve ser uma das tarefas essenciais.”
(FONTE: Partido Comunista do Brasil. Teses & resoluções adotadas pelo III Congresso do
Partido Comunista do Brasil. Rio de Janeiro, PCB, [1929], p. 8 e p. 15-16,
respectivamente. Este último trecho também foi publicado em: Sobre el Bloque Obrero y
Campesino en el Brasil. La Correspondencia Sudamericana. Buenos Aires, nºs 12-13-14 (2ª
Época), maio 1929, p. 37.)
655
ANEXO XVI
QUE É O B.O.C.B.
AS DUAS CLASSES
CONTRA O IMPERIALISMO
657
PELA ANISTIA
21) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta por uma anistia completa a
quaisquer presos ou perseguidos políticos ou sociais. Luta pela indenização, por parte do
Estado, a todas as vítimas da reação ou às suas famílias, calculando-se a indenização
segundo os salários que respectivamente ganhavam, acumulados durante o tempo decorrido
desde o dia da prisão ao da libertação ou morte de cada um.
22) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta para que os carrascos desses
mártires sejam entregues à justiça de tribunais populares, que não existem, mas precisam ser
criados. A ‘justiça’ atual, tão severa com os proletários e com os revoltosos de 1922-1927 e
tão branda com os carrascos do estado de sítio, faliu totalmente.
23) A anistia deve atingir os revoltosos e todos os proletários deportados por questões
sociais. E todos esses perseguidos voltarão ao Brasil para continuar a batalha.
24) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta para que o Distrito Federal – o
maior centro proletário do Brasil – se liberte da tutela da política do governo federal,
política influenciada pelos grandes fazendeiros de café. Preconiza especialmente: 1º a eleição
do prefeito e a sua subordinação ao Conselho Municipal; 2º o aumento das cadeiras no
Conselho Municipal e as imunidades para os intendentes; 3º as eleições segundo o sistema
de representação proporcional, como em Buenos Aires; 4º nenhuma subordinação do
município ao Senado ou a qualquer outro organismo federal; 5º a subordinação do corpo de
bombeiros e da polícia civil e militar às autoridades municipais, sendo os próprios chefes ou
comandantes nomeados pelo prefeito e responsáveis perante o Conselho Municipal.
CONTRA A REAÇÃO
27) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta pela anulação total de todas as leis
reacionárias: a lei Adolpho Gordo, a lei contra a imprensa, a reforma bernardesca da
Constituição, a lei celerada e a lei da ditadura policial. Foram leis pagas pelos imperialistas
com os empréstimos.
28) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta pela volta ao Brasil de todos os
proletários deportados por questões sociais.
29) Luta contra a intervenção do Estado capitalista e seus órgãos de repressão, nas
greves.
30) Sustenta a luta em prol dos trabalhadores presos ou perseguidos por questões
políticas ou sociais.
31) Luta pela máxima liberdade de associação, reunião e opinião política para todos os
proletários.
659
32) A classe proletária não pagará imposto algum, a classe média terá uma redução de
50% nos impostos atuais e a classe capitalista pagará muito mais.
33) Atualmente é inverso: O imposto sobre a renda – sobre os ricos – produz uma
insignificância: 24 mil contos. Já os impostos sobre o consumo – sobre os pobres –
produzem 12 ½ vezes mais: 300 mil contos.
34) O Bloco Operário e Camponês do Brasil bate-se pela redução enérgica dos
impostos de consumo.
42) O Bloco Operário e Camponês do Brasil luta pelo voto secreto e obrigatório.
Extensivo às mulheres, aos bombeiros, aos soldados, aos marinheiros, aos analfabetos e aos
proletários estrangeiros.
43) O voto secreto e obrigatório não pode resolver os problemas nacionais É apenas
um meio de despertar as massas adormecidas e levá-las a participar da política e da
administração do país.
44) O Bloco Operário e Camponês do Brasil preconiza as seguintes medidas especiais:
1º a máxima simplificação no alistamento; 2º a representação proporcional por quociente
eleitoral para extinguir os “cabos” eleitorais, forçar a criação dos partidos, e a apresentação
dos candidatos em listas coletivas de cada partido.
45) O Bloco Operário e Camponês do Brasil apóia todos os protestos dos soldados e
marinheiros contra a atual opressão capitalista. E luta: 1º pelo aumento do soldo; 2º pelo
aumento da etapa e melhoria do “rancho”, fiscalizado pelas praças; 3º pela supressão dos
castigos físicos e das prisões em células; 4º pela substituição da atual disciplina burguesa por
uma disciplina consciente; 5º por uma completa modificação dos regulamentos; 6º pelo
direito de voto; 7º pelo direito de organização; 8º pelo alargamento radical dos
insignificantes direitos atuais; 9º pela intervenção direta na administração e na política
nacionais.
48) Entre o proletariado e a burguesia existe uma categoria social intermediária que
rigorosamente não forma uma classe. É a chamada classe média, a pequena burguesia.
49) Fazem parte da classe média:
Os artesãos, isto é, os que trabalham a domicílio com os seus próprios meios de
produção. Os pequenos comerciantes e industriais. Os funcionários médios. Os técnicos.
Uma grande parte dos estudantes e intelectuais. Os tenentes e os capitães. Os que vivem das
profissões liberais. Os pequenos lavradores proprietários (os camponeses típicos). Os
pequenos proprietários em geral...
50) - Qual a situação da classe média?
Economia: os vencimentos desvalorizados; os impostos sobrecarregando os pequenos
comerciantes e industriais; as profissões liberais sob os maiores vexames; os pequenos
proprietários em geral vegetando, rolando para um empobrecimento cada vez maior...
Política: a opressão; as leis reacionárias; os tribunais parcialíssimos; a promessa de
uma anistia homeopática...
51) - Que espera a classe média à sombra do atual regime capitalista?
Uma agravação da exploração econômica; maior opressão política; a ditadura da
classe capitalista (o fascismo); violências e arbitrariedades; guerras imperialistas...
52) – No meio de 1.000 membros da classe média, 1 poderá ficar capitalista; 999 terão
de vegetar a vida toda na “pobreza envergonhada”. E quanto mais o Brasil se desenvolver,
menor será o número de capitalistas. O capital concentra-se cada vez mais, espoliando a
massa de proletários e pequenos burgueses. A grande propriedade aniquila a pequena
propriedade.
53) O Bloco Operário e Camponês do Brasil defende as seguintes reivindicações: 1º -
A redução, à metade, de todos os impostos que pesam sobre o pequeno comércio, a
pequena indústria e a pequena lavoura; 2º - A redução, à metade, dos aluguéis, que pesam
sobre a classe média em geral; 3º - A facilidade na construção das habitações de valor abaixo
de 20 contos; 4º - O apoio e a radicalização de todos os protestos da classe média contra a
reação: 5º - O apoio aos intelectuais e aos elementos das profissões liberais todas as vezes
que lutarem contra a exploração e a opressão capitalistas.
54) O governo Operário e Camponês (o governo das massas laboriosas) não
confiscará as casinhas dos subúrbios, o lote do camponês pobre, a lojinha, a quitandinha, a
662
A QUESTÃO AGRÁRIA
56) No Brasil, como nos outros países, existem três categorias rurais oprimidas:
1º - O assalariado agrícola, o proletário rural típico, a parte mais explorada da
população brasileira: o jornaleiro, o ambulante de Minas, o caboclo dos engenhos e das
usinas do Nordeste, o colono assalariado das fazendas.
2º – O pequeno lavrador sem terras: o rendeiro ou arrendatário, o meeiro, o terceiro.
É um semiproletário.
3º - O pequeno proprietário, o camponês típico, o pequeno burguês rural.
57) Essas três categorias vivem oprimidas pelos grandes proprietários, protegidos
pelos imperialistas. Devem ser arrastadas, paralelamente, à luta pelas suas reivindicações
próprias, ao turbilhão da luta do proletariado industrial e, como conseqüência, à revolução
agrária e antiimperialista.
58) O Bloco Operário e Camponês do Brasil apóia os protestos das massas rurais,
principalmente quando esses protestos se fizerem como no Jary em 1928. E luta pelas
seguintes reivindicações:
Para o operário rural:
1º - O aumento dos salários; 2º - a diminuição das horas de trabalho; 3º - a abolição
das multas; 4º – o pagamento em moeda corrente e não em vales falsos, cartões ou moedas
de alumínio; 5º - o pagamento de quaisquer consertos, “limpas”, ou trabalhos semelhantes;
6º - a extinção dos atuais armazéns ou “barracões” ligados aos grandes proprietários, e o
fornecimento dos gêneros de primeira necessidade pelas cooperativas de operários agrícolas;
7º - o combate à sujeição dos grandes proprietários, criadores, usineiros, senhores de
engenho; 8º – a anulação de quaisquer leis que permitam a existência de grupos armados a
serviço dos grandes proprietários e a dissolução dos grupos de “capangas”; 9º - a demissão
dos fiscais e administradores prepotentes; 10º - a liberdade de locomover-se; 11º - a
liberdade de trabalhar para quem entender; 12º - a união com os trabalhadores industriais na
luta contra o inimigo comum – o grande proprietário aliado ao imperialista; 13º - a
liberdade de voto; 14º - a anulação da concessão Ford e das outras semelhantes; 15º - a
formação de sindicatos; 16º - a fiscalização do Patronato Agrícola por esses sindicatos; 17º -
a extensão da legislação social, das leis de férias, acidentes etc., que atualmente estão
limitadas ao proletariado das cidades; 18º - as escolas primárias; 19º - a construção de casas
de taipa em lugar de palhoças; 20º - o médico, o hospital e a farmácia grátis; 21º - o
saneamento rural sistemático, visando a regeneração física e moral do trabalhador agrícola;
22º - a higienização das condições de trabalho e habitação; 23º - o auxílio às cooperativas
operárias de consumo; 24º - a luz elétrica; 25º - a água encanada; 26º - as máquinas que
facilitem o trabalho; 27º - a proibição dos contratos de escravização.
Para o pequeno lavrador sem terras:
1º - a redução do arrendamento; 2º - a facilidade e a barateza dos transportes; 3º - a
conservação e o melhoramento das estradas atuais; 4º - a construção de novas estradas de
rodagem; 5º - a isenção de quaisquer impostos ou taxas de qualquer natureza sobre os
663
terras; 6º - a nacionalização das mesmas, isto é, a apropriação delas pelo governo das
massas laboriosas; 7º - a repartição das terras pelas três categorias rurais especificadas atrás,
especialmente pelas duas primeiras, com a propaganda da lavoura, em comum e não do
trabalho isolado, individualista; 8º - a criação dos organismos armados dos operários
agrícolas; 9º - O desarmamento dos grandes proprietários e de seus grupos de “capangas”.
66) O Bloco Operário e Camponês do Brasil preconiza que os estabelecimentos
agrícolas modernizados com arados, tratores etc. devem continuar a ser cultivados
coletivamente, sem a sua divisão em lotes. A produção deve realizar-se em comum. Os
produtos passarão a pertencer à coletividade dos trabalhadores.
67) Os problemas nacionais e especialmente os problemas da massa trabalhadora, só
poderão ser resolvidos pelo Governo Operário e Camponês do Brasil, unido ao proletariado
internacional. Esse governo realizará as melhorias citadas no programa do Bloco Operário e
Camponês do Brasil. Estendê-los-á aprofundando e radicalizando. Elevará às últimas
conseqüências a revolução agrária e antiimperialista, preparando a revolução proletária – a
instauração do socialismo, do primeiro passo para a sociedade comunista.
68) O Bloco Operário e Camponês do Brasil condena a política do café, que se faz em
proveito da insignificante minoria dos grandes fazendeiros, sacrificando a imensa maioria da
população; e em benefício dos imperialistas que a aproveitam para conquistar novas
posições estratégicas na economia e na política nacionais.
69) O Governo Operário e Camponês procurará valorizar os produtos nacionais em
benefício das vastas multidões laboriosas.
70) Há séculos, os índios vêm protestando contra a usurpação das suas terras. Esse
protesto tem se revestido: 1º - de formas legais, como o dos Coroados do Estado do Rio,
em 1916, e dos Carijós de Pernambuco, em 1928; 2º - de formas semilegais, como o
protesto dos Terenos de Mato Grosso, em 1929; 3º - de formas extralegais, como as lutas
armadas em vários Estados. Os fazendeiros têm sido ferozes espoliadores dos índios.
71) O Bloco Operário e Camponês do Brasil apóia o protesto dos índios contra a
usurpação de suas terras pelos fazendeiros, principalmente quando esse protesto se fizer
pelas armas. E reivindica: 1º - que a Confederação Geral do Trabalho tenha o direito de
fiscalizar o Serviço de Proteção aos Índios; 2º - que na direção desse Serviço existam
representantes dos índios, escolhidos em assembléia dos mesmos; 3º - que os índios tenham
o direito de organização sindical e política; 4º - que gozem dos mesmos benefícios que o
Bloco Operário Camponês do Brasil reivindica para as massas rurais em geral; 5º - que
tenham todas as possibilidades de criar uma civilização própria, como está sucedendo na
União Soviética com as minorias nacionais; administração própria, alfabeto, livros e formas
na própria língua, uma arte, uma cultura e uma indústria indígenas.
72) As palavras de ordem revolucionária como a confiscação de terras dos fazendeiros
pelos índios – o inverso do que se dá atualmente – devem ser lançadas e sustentadas, como
também a favor dos pequenos proprietários do interior de S. Paulo, espoliados pelos
“grileiros”.
73) Que os índios tenham uma vida nacional própria e não vegetem à sombra do
capitalismo, envenenando-se com o álcool, cobrindo-se de todas as gafeiras deste regime.
665
O problema dos índios está ligado à questão agrária e à questão das minorias
nacionais.
OS PARTIDOS POLÍTICOS
A SUCESSÃO PRESIDENCIAL
A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
666
82) Até aqui, a história do Brasil foi um mero reflexo da história universal. Pela
primeira vez, os acontecimentos nacionais vão influenciar sobre a situação internacional.
Chegou a hora da América Latina.
83) Como a França em 1789, a Rússia em 1917, a Finlândia, o Japão, a Áustria e a
Alemanha em 1918, a Hungria, a Coréia e a Baviera em 1919, a Turquia e a Itália em 1920,
a Alemanha em 1921, a Bulgária, a Alemanha e a Estônia em 1923, Marrocos e a Síria em
1925, a Inglaterra em 1926, a Áustria e a China em 1927 – a América Latina vai ser um dos
esteios da revolução social mundial.
84) A revolução brasileira deve ser considerada como sendo a revolução mundial no
setor brasileiro em seu primeiro período de 1917 a 1920, sua base social foi o proletariado.
Esmagado este, a classe média deu um passo à frente. Lutou em 1922 e 1924 para derrubar
a situação dominante. O proletariado, vencido e desorganizado, não pôde auxiliá-la de fato.
Preparam-se, agora, as condições favoráveis a uma nova revolta. Nela poderá realizar-se a
ação paralela do proletariado e da classe média contra o inimigo comum, sob a hegemonia
do proletariado.
85) A nova revolta prolongando-se, transformar-se-á numa revolução agrária e
antiimperialista. Confiscará as terras dos grandes proprietários e as empresas imperialistas.
Terá como base social o proletariado e a classe média, contra a classe capitalista.
Radicalizar-se-á transformando-se numa revolução proletária.
86) O Bloco Operário e Camponês do Brasil apóia os revoltosos de Copacabana, S.
Paulo e da Coluna Prestes, especialmente os seus elementos radicais, criticando, porém, os
desvios dos elementos direitistas. Apoiará a revolução agrária e antiimperialista. E lutará
pela hegemonia do proletariado nessa revolução.
87) O povo brasileiro marcha atualmente para o fascismo ou para a revolução agrária
e antiimperialista, preliminar da revolução proletária. Marcha para uma escravidão maior ou
para a liberdade!
Setembro, 1929.
ANEXO XVII
Resolução da Internacional Comunista sobre a questão brasileira
“[...]
1
- Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa (vol. I), p. 16.
670
este grupo que se encaminhou para o PCB e os anarquistas que, por simpatia à
Revolução Russa, acabaram se aproximando, na verdade, de uma imagem que
eles tinham desse acontecimento. Quando puderam melhor compreendê-la,
abandonaram-na e passaram a criticá-la.
Durante os primeiros tempos de sua existência, o PCB prosseguiu em seu
processo de diferenciação ideológica com o anarquismo, de onde provinha parte
significativa de sua liderança e de sua militância. Neste curso foi necessário, no
que se refere à questão parlamentar, também proceder a uma homogeneização
de sua própria militância. Houve algumas tentativas de participação em eleições e
de formulação de propostas a serem apresentadas à sociedade que se revelaram
infrutíferas por questões conjunturais. A primeira vez em que isso ocorreu foi, em
1925, no município portuário paulista de Santos, onde os comunistas locais,
apresentando-se pela legenda da Coligação Operária, pagaram um tributo à
inexperiência e tiveram um resultado pífio. No entanto, como todos os atos
pioneiros, essa participação deixou uma importante herança: a presença na cena
política brasileira dos trabalhadores e suas reivindicações. Estas, em particular,
expressavam, de um lado, um acúmulo de anos de lutas do movimento operário
brasileiro e, de outro, como não poderia deixar de ser por se tratar de uma eleição
regional, um ponto de vista local.
Quase dois anos depois, no início de 1927, o PCB punha em cena o Bloco
Operário, nome que já havia sido estabelecido desde 1924 para a organização de
fins eleitoral que seria fundada pelos comunistas, mas que somente então pôde
vir a lume e que no final do ano passaria a ser denominado de Bloco Operário e
Camponês (BOC). O que se colocara em termos regionais em 1925 ganhou
projeção nacional em 1927. Foi por intermédio do Bloco Operário que, pela
primeira vez, como observou o dirigente suíço da Internacional Comunista Jules
Humbert-Droz, o pequeno grupo que então eram os comunistas brasileiros pôde
se aproximar das massas operárias e levar-lhes suas propostas2. A partir daquele
momento houve um incremento em suas atividades e em sua influência, que se
2
- Sécretariat latino-américain. Séance du 24/10/1929. Question brésilienne, p. 10 (RGASPI).
671
fez, no entanto, acompanhar de uma das causas que determinou, em 1930, o seu
fim. Tratava-se da superposição da estrutura de uma entidade de caráter eleitoral
legal à de uma organização político-partidária ilegal, o que, por conta da falta de
capacidade dos dirigentes comunistas em lhe dar com este fenômeno, fizeram
com que o Bloco acabasse assumindo muitas das atribuições que seriam próprias
do PCB.
Neste seu processo de expansão o BOC teve o importante papel de tirar as
reivindicações dos trabalhadores do campo onde até então estavam confinadas e,
de certo modo, isto vinha sendo até consentido pelos próprios trabalhadores, que
era o das relações sindicais e trabalhistas, e fazê-las entrar, pela primeira, para
nunca mais dele sair, no espaço político-partidário. E embora apresentasse
muitas delas sob a denominação de “direitos políticos de classe”, denominação
resultante da ótica de então, estas eram reivindicações de cidadania. A presença
de pontos clássicos como o direito de associação, de reunião, de greve, de livre
expressão em combinação com questões como o direito de voto às mulheres e
aos analfabetos, a universalização do ensino fundamental, disseminação de
bibliotecas públicas, legislação trabalhista, previdência pública, ou ainda
reivindicações como licença-maternidade, feiras-livres, saneamento básico,
realização de concursos públicos para admissão ao funcionalismo, mostram o
amplo leque dos temas tratados e que foram sintetizados, elaborados e
defendidos por milhares de trabalhadores e, entre estes, por pouco mais de
setenta candidatos3. Em sua grande maioria não foram conquistados naquele
momento, mas a sua expressão mostrava o que, de um lado, almejavam os
trabalhadores e, de outro, como a elite política brasileira não conseguia, e, para
falar a verdade, não consegue até os nossos dias, estruturar um Estado que
funcione para o conjunto dos cidadãos e que revele alguma preocupação que vá
além dos seus momentâneos interesses.
O PCB, através do Bloco Operário, buscou agrupar os trabalhadores e suas
reivindicações de modo independente, ao mesmo tempo em que buscava alianças
672
3
- Ver no Anexo XVII a relação dos candidatos do BOC e de outras organizações dos anos
673
1920.
ANEXO XVIII
NOME OBS
Adalgiso Py Gráfico. Candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Sul pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Alberto Campos Candidato a deputado federal pelo Estado da Bahia, pela legenda do
Partido Popular da Bahia - impulsionada pelo PCB -, nas eleições de
24/02/1927.
Álvaro Fernandes Caldeireiro de ferro. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio
Lopes de Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Antônio Bento de Carroceiro. Presidente da Sociedade Beneficente dos Condutores de
Menezes Veículos de Santos. Candidato a vereador em Santos pela Coligação
Operária nas eleições de 30/10/1928.
Antônio Farlan Médico. Candidato a deputado federal pelo Partido Operário de
Júnior Sertãozinho nas eleições de 24/02/1927. Obteve 35 votos.
Antônio Fernandes Trabalhador em café. Foi 1º Secretário da Sociedade dos Trabalhadores
em Café de Santos. Candidato a vereador em Santos pela Coligação
Operária nas eleições de 30/10/1928.
Antônio Simões de Comerciário. Fundador do Partido Social Democrata em 1918, em
Almeida Cubatão. Fundador da seção do Partido Operário em Cubatão, em 1922.
Fundador da União dos Operários de Cubatão em 1927. Organizador do
BOC em Cubatão. Candidato a vereador em Santos pela Coligação
Operária nas eleições de 30/10/1928. Candidato a Juiz de Paz no distrito
de Cubatão nas também eleições municipais de Santos de 30/10/1928.
Aristides da Comerciário. Candidato a deputado federal por São Paulo pelo Bloco
Silveira Lobo Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930. Lançado
candidato a deputado federal por São Paulo, pelo Liga Comunista do
Brasil nas eleições de 03/05/1933, teve sua candidatura retirada quando
o PCB apresentou seus candidatos. Candidato a deputado estadual em
São Paulo pela Coligação Proletária nas eleições de 14/10/1934.
Armando Chiaratti Marceneiro. Candidato a vereador em Sertãozinho pela legenda do Bloco
Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Astrojildo Pereira Jornalista. Candidato a deputado estadual pelo 1º Distrito no Estado do
Rio de Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Belmiro Carvalho Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
Bento Aguiar Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
Cândido Joaquim Trabalhador agrícola em São Gonçalo. Candidato a deputado estadual
dos Santos no Estado do Rio de Janeiro, pelo Bloco Operário e Camponês, nas
eleições de 3-8-192.
Carlos Mariz Comerciário. Militante do PCB e candidato a conselheiro municipal do
Recife nas eleições de 30/20/1928, às quais se candidatou como avulso,
não o fazendo, todavia, pela Coligação Operária, organismo equivalente
ao BOC criado pelos comunistas em meados de 1928. Obteve 623 votos
e a 2ª suplência.
Cícero Marques Metalúrgico. Candidato a deputado federal por Pernambuco pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Claudionor Jardim Metalúrgico. Candidato a vereador em Santos pela Coligação Operária
França nas eleições de 30/10/1928.
675
NOME OBS
Duvitiliano José Gráfico. Candidato a deputado federal pelo 2º Distrito do Estado do Rio
Marques Ramos de Janeiro pelo Bloco Operário e Camponês do Brasil nas eleições de
01/03/1930. Candidato a deputado constituinte pelo Distrito Federal, pela
União Operária e Camponesa do Brasil, nas eleições de 03/05/1933.
Eduardo José de Metalúrgico. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de
Freitas Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Everardo Dias Gráfico. Candidato a vereador em São Paulo pelo Bloco Operário e
Camponês, em 30/10/1928. Obteve 82 votos. Candidato a senador por
São Paulo, pelo Bloco Operário e Camponês do Brasil, nas eleições de
01/03/1930.
Felipe Garcia Candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Sul pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Gastão Valentim Ferroviário. Candidato a vice-presidente pelo Bloco Operário e
Antunes Camponês do Brasil na chapa encabeça por Minervino de Oliveira nas
eleições de 01/03/1930.
Guilherme Milani Ferroviário e Metalúrgico. Presidente da União Geral dos Trabalhadores
de Ribeirão Preto. Candidato a vereador em Ribeirão Preto pela legenda
do Bloco Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Gumercindo Paes Pedreiro. Candidato a vereador em Sertãozinho pela legenda do Bloco
Vidal Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Henrique Aguiar Farmacêutico. Candidato a deputado federal pelo Partido Operário de
Sertãozinho nas eleições de 24/02/1927. Obteve 35 votos.
Henrique Peixoto Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
João Batista de Médico. Candidato a deputado federal no Rio de Janeiro no 2º distrito
Azevedo Lima pelo Bloco Operário, nas eleições de 24/02/1927. Foi eleito. Em abril de
1929 foi expulso do Bloco Operário e Camponês.
João Freire de Garçom e Jornalista. Secretário do Centro Internacional de Santos, de
Oliveira 1918 a 1920. Reorganizou "A Internacional", de São Paulo, em 1920-
1923. Ajuda a organizar vários sindicatos em Santos. Gerente de "A
Nação" em 1927. Candidato a vereador em Santos pela Coligação
Operária, nas eleições de 29/11/1925. Novamente candidato a vereador
em Santos nas eleições de 30/10/1928.
João Jorge da Gráfico. Candidato a deputado federal no Rio de Janeiro no 1º Distrito
Costa Pimenta pelo Bloco Operário, nas eleições de 24/02/1927. Candidato a deputado
estadual e federal, em São Paulo, pela Coligação Proletária, nas eleições
de 14/10/1934.
João Menezes Operário estucador. Membro da Liga da Construção Civil de Niterói.
Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, pelo
Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Joaquim Antônio Metalúrgico. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de
da Cunha Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Joaquim Barbosa Alfaiate. Candidato a intendente (vereador) pelo 1º Distrito do Distrito
de Souza Federal, como avulso, nas eleições de 01/03/1926.
Joaquim de Freitas Comerciário. Candidato a vereador em Sertãozinho pela legenda do
Bloco Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Joaquim Gomes Metalúrgico. Candidato a Juiz de Paz no distrito de Cubatão nas eleições
Euzebio municipais de Santos de 30/10/1928.
José Annibal Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
José Francisco da Comerciário. Candidato a prefeito de Niterói, pelo BOC, nas eleições de
Silva 01/09/1929. Candidato a senador federal pelo Rio de Janeiro, pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil, nas eleições de 01/03/1930.
676
NOME OBS
José Ignácio da Pedreiro. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro,
Silva pelo Bloco Operário, nas eleições de 01/04/1927.
José Izaltino da Trabalhador da Construção Civil. Candidato a vereador em Niterói, pelo
Costa BOC, nas eleições de 01/09/1929.
José Joaquim de Pedreiro. Conhecido como Joaquim Pernambuco, este sindicalista, que
Lima esteve presente no congresso de fundação da Confederação Geral do
Trabalho do Brasil, foi candidato a deputado federal pelo Ceará pelo
Bloco Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
José Lopes Vidal Remador. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro,
Filho pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
José Ribeiro dos Ferroviário. Candidato a Juiz de Paz no distrito de Cubatão nas eleições
Santos municipais de Santos de 30/10/1928.
Juvenal Ferreira Eletricista. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de
Torres Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Lauro de Castro Barbeiro. Candidato a deputado pelo Partido Operário de Sertãozinho
nas eleições de 24/02/1927. Obteve 35 votos.
Lourenço Justino Pintor. Candidato a deputado federal por Pernambuco pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Lucas Rubens Barbeiro. Candidato a vereador em Santos pela Coligação Operária nas
eleições de outubro de 1928. Retirou sua candidatura em 2 de outubro
alegando razões pessoais.
Lúcio Sotero de Alfaiate. Candidato ao Senado no Ceará pelo Bloco Operário e
Moura Camponês nas eleições de 01/03/1930.
Manoel Costa Operário em bananal. Presidente da Sociedade dos Operários em
Bananais de Santos. Candidato a vereador em Santos pela Coligação
Operária nas eleições de 30/10/1928.
Manoel Nestor Comerciário. Não era membro do PCB. Candidato a deputado estadual
Pereira Júnior em São Paulo pelo Bloco Operário e Camponês, nas eleições de
24/02/1928, cuja candidatura foi posteriormente retirada.
Mário Cursino de Gráfico. Candidato a vereador em Santos pela Coligação Operária nas
Castro eleições de 30/10/1928.
Mário Grazzini Gráfico. Candidato a deputado federal pelo Distrito Federal pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Maurício Pereira Chofer. Candidato a vereador em Santos pela Coligação Operária nas
Barros eleições de 30/10/1928.
Maximino Piobelli Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
Miguel Archanjo Padeiro. Candidato a deputado federal em Pernambuco pelo Bloco
Operário e Camponês do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Minervino de Marmorista. Candidato a intendente pelo 2º Distrito da cidade do Rio de
Oliveira Janeiro, pelo Bloco Operário e Camponês, nas eleições de 28/10/1928.
Candidato a presidente da República pelo Bloco Operário e Camponês
do Brasil nas eleições de 01/03/1930.
Octavio Rego Farmacêutico. Candidato a intendente pelo 1º Distrito da cidade do Rio
Brandão de Janeiro, pelo Bloco Operário e Camponês, nas eleições de
28/10/1928.
Octávio Soares Tecelão. Candidato a vereador pelo 1º Distrito de Petrópolis, no Estado
do Rio de Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Odilon Lima Trabalhador da construção civil. Candidato a vereador em Santos pela
Coligação Operária nas eleições de 30/10/1928.
Olyntho Pereira de Chofer. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro,
Araújo pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
677
NOME OBS
Orobino dos Candidato a vereador em Niterói, pelo BOC, nas eleições de 01/09/1929.
Santos
Osório José de Sapateiro. Candidato a vereador em Niterói, no Estado do Rio de
Menezes Janeiro, pelo Bloco Operário, nas eleições de 10/04/1927.
Ovidio Matrangolo Sapateiro. Candidato a vereador em Sertãozinho pela legenda do Bloco
Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Paulo de Lacerda Advogado e Jornalista. Candidato a deputado federal pelo Distrito
Federal pelo Bloco Operário e Camponês do Brasil nas eleições de
01/03/1930. Candidato a intendente do Conselho Municipal do Distrito
Federal pelo Bloco Operário e Camponês do Brasil nas eleições de
21/06/1930.
Phenelon José Estivador. Candidato ao Senado pelo Distrito Federal, pelo Bloco
Ribeiro Martins Operário e Camponês do Brasil, nas eleições de 01/03/1930.
Plínio Gomes de Jornalista. Candidato a deputado estadual no Rio Grande do Sul pelo
Mello Bloco Operário e Camponês nas eleições de março de 1929. Candidato a
deputado federal no Rio Grande do Sul pelo Bloco Operário e Camponês
do Brasil nas eleições de 01/03/1930. Candidato, pelo Partido Socialista
Proletário - do qual era secretário -, a deputado federal e a vereador pelo
Distrito Federal na União Operária e Camponesa do Brasil, nas eleições
de 14/10/1934.
Raphael Garcia Tecelão. Membro do Centro Político Proletário de Petrópolis. Candidato a
Gonzalez deputado estadual no Estado do Rio de Janeiro no 4º distrito pelo Bloco
Operário nas eleições de 10/04/1927.
Raymundo Professor. Candidato a deputado estadual no Rio Grande do Norte, nas
Reginaldo da eleições de 1927.
Rocha
Roldão José Trabalhador da Companhia Docas de Santos. Candidato a vereador em
Sant'Anna Santos pela Coligação Operária nas eleições de 30/10/1928.
Sebastião de Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Oliveira Mello Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
Sigismundo Barbeiro. Candidato a deputado federal pelo Partido Operário de
Sandoval Sertãozinho nas eleições de 24/02/1927. Obteve 35 votos.
Theotonio Souza Pirotécnico. Candidato a vereador em Sertãozinho pela legenda do Bloco
Lima Operário e Camponês nas eleições municipais de 30/10/1928.
Tolentino Marques Trabalhador em charqueada. Candidato a senador pelo Rio Grande do
Cardoso Sul pelo Bloco Operário e Camponês do Brasil nas eleições de
01/03/1930.
Victorio Padovani Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
Virgílio Prata Tecelão. Candidato a vereador, pelo Bloco Operário, em Petrópolis, no
Estado do Rio de Janeiro, nas eleições de 10/04/1927.
FONTES
INSTITUIÇÕES
ANAIS
PERIÓDICOS
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