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XIV CONGRESO INTERNACIONAL DE HISTORIA


AGRARIA
(Badajoz, 7-9 de noviembre de 2013)
Quem eram os militantes comunistas do meio rural campista?
Partido político, mediadores e movimentos rurais
em Campos dos Goytacazes (1928-1964)1

Leonardo Soares dos Santos2

Seción C.1

Resúmen
Em este trabajo efectuo una analisis de la actuación de los membros del Partido
Comunista del Brasil (PCB) en la ciudad de Campos do Goytacazes (estado de Rio de
Janeiro) durante los anõs 1928 y 1964. Campos fuera por esta época la principal fuerza
política y economica de toda región fluminense. Su economía era en gran parte
sostenida en la produccion de los ingenios de caña. En mediados del siglo XX tenía
alrededor de 40-50 mil trabajadores de este segmento. La inserción de los comunistas en
la ciudad és indisociable de la relación del PCB con este tipo de trabajadores. Tal és el
principal punto de esta investigación.

Abstract
In this paper I analyse action of members of Brazilian Communist Party in Campos dos
Goytacazes city (state of Rio de Janeiro) between 1928 and 1964. Campos has been in
this period the principal political and economic force in the fluminense region. Your
economy was sustained by the sugar factories production. In the middle of 20th century
there was 40-50 thousand workers of this category. The entrance of communists in the
city is associated to relations between PCB and that kind of workers. That’s the
principal issue of this research.

1
A pesquisa que tornou possível a elaboração desse artigo contou com financiamento da FAPERJ e da
PROPPI/UFF. Agradeço também o levantamento de documentação de época realizado pelas bolsistas
Gisele Lima (UFF) e Kesia Porto Linhares (CNPQ/PIBIC/UFF).
2
Professor Adjunto de História da Universidade Federal Fluminense, coordenador do NEPETS e
pesquisador do IHJA.
2

O início de tudo, naquele 1928...

Os primeros passos dos comunistas em Campos consistiriam no fortalecimento da rede

de organismos do partido assim como a ampliação de seus quadros na cidade. Para tanto um

dos seus alvos favoritos seria o meio estudantil, em especial as principais instituições de

ensino campista: o Liceu e a Escola Normal. Do primeiro surgiria Adão Pereira Nunes, do

segundo viria Nina Arueira. Mas isso já era a década de 30.

As sementes dos “agentes de Moscou” haviam sido lançadas na planície goytacá um

pouco antes, em fins da década de 1920. E parece ter sido com a visita de Octavio Brandão a

cidade em 21 de maio de 1928. Surgia então o Centro Político Proletário de Campos.3

Espécie de comitê de campanha do Bloco Operário Camponês (organismo eleitoral do

PCB), a partir do qual algumas figuras de primeira proa do Partido disputavam cargos

eletivos nas eleições daquele ano. Sendo o marmorista Minervino de Oliveira e o linotipista

e “redactor do Classe Operária” Octávio Brandão os candidatos ao cargo de intendente

municipal (hoje chamado de vereador) pela então Distrito Federal. E os dois são eleitos. Pela

primeira vez em sua curta história, o partido vislumbrava alguma possibilidade de sucesso e

crescimento pelas vias eleitorais da democracia liberal. E esse aspecto seria crucial para o

nascimento do PCB em Campos.

A visita de Octávio à cidade é considerada por alguns memorialistas o marco de

fundação do PCB na cidade.4 Assim o próprio Brandão comenta o fato em suas Memórias:

A 21 de maio de 1926, sob o estado de sítio, a Federação Operária do Estado do


Rio enviou uma delegação à cidade de Campos. Era, de fato, uma delegação do
PCB. Formaram-na: João Menezes e Octavio Brandão. Menezes era o
Cunhabebe (seu nome de guerra), operário de construção civil, mulato escuro,
bem vivo, camarada fiel e dedicado meu aluno do curso em Niterói.

3
A Classe Operária, 25 de agosto de 1928, p. 1.
4
Gomes (2000) e Peçanha (1999).
3

O município de Campos em destaque no mapa do estado do Rio de Janeiro. Fonte: CIDE/RJ.

Embora divirja no tocante a data exata do evento da vinda de Octávio a Campos – que a

seu ver teria ocorrido em 2 de março e não em 21 de maio – Delso Gomes também acentua

a preocupação desses militantes com a estruturação do partido na cidade. O que de certa

forma coadunava com a essência do projeto sancionado pelo III Congresso do Partido, que

visava exatamente a “expansão das atividades e estruturas do PCB”. A vitória de Minervino

e Octávio no pleito carioca do ano anterior realmente deu um novo ânimo ao partido. Além

dos sindicatos, os comunistas começaram a almejar as ruas e, claro, o seu povo.

Para tanto era fundamental a realização de conferências e palestras, quer fosse em

espaços públicos e a céu aberto como em praças ou em recintos fechados, como cinemas,

teatros ou residências mesmo.5 E ainda cumpria um papel fundamental os órgão de imprensa

do partido. Na época só havia um, o Classe Operária. E A Nação, apesar de não ser ligado

oficialmente ao Partido, tinha com ele estreitas relações. E os jornais tinham relevância não

apenas pelo conteúdo dos seus textos (altamente apologéticos), mas pelo que a prática de

distribuição e difusão material proporcionava. Ele poderia ser distribuido em diversos

lugares, e a distribuição implicava em contatos, na possibilidade de dialogar – mesmo que

5
Octávio lembra que tal prática era exaustivamente realizada pelos anarquistas em sua atuação política no
espaço público (Brandão, 1977: 27).
4

brevemente – com potenciais membros e, assim, apresentar de maneira sintética e resumida

as propostas do partido e da causa (Brandão, 1977: 51).

E as circunstância em que tal jornada campista teria se desenrolado parecem atestar os

anseios de Octávio em deixar fincados em território campista sólidos alicerces, ou seja,

organizações, militantes engajados e – principalmente – filiados. “À noite”, informa Delso,

Octávio realizaria uma conferência no Cine Coliseu. Talvez Octávio já soubesse que em

poucos lugares de todo o estado do Rio de Janeiro, ele teria a oportunidade de implantar seu

partido num espaço que reunia uma economia de considerável diversidade, uma imprensa

consolidada (o que implicava aspectos importantes que iam desde a existência de uma

opinião pública significativa como a existência de categorias importantes como a dos

gráficos e jornaleiros), uma cultura urbana vigorosa (a existência de cinemas e de “alguns

intelectuais” são indícios expressivos). Embora fosse um dos mais importantes do país, o

estado fluminense não era pródigo em exemplos como o de Campos. Muito pelo contrário.

Com esse perfil tão variado e diverso, nem Petrópolis e Niterói (a capital) se assemelhava ao

exemplo campista. Octávio tinha motivos suficientes para sua indisfarçável empolgação.

Mas não só ele.6

Dias depois outros líderes visitariam Campos, numa prova da importância estrágica da

cidade, centro nervoso de uma micro-região que envolvia o norte e noroeste fluminenses, o

sul do Espírito Santo e a zona da mata mineira. Depois de Octávio, ainda em março,

chegaria João da Costa Pimenta, presidente da União dos Trabalhadores Gerais e da

Federação dos Trabalhadores Gráficos do Rio de Janeiro. Segundo Delso Gomes, João era

também redator d’A Plebe e presidente do Bloco Operário Camponês (Gomes, 2000: 19).

6
Décadas mais tarde, ao ser perguntado sobre onde o PCB havia conseguido criar “bases” para além dos
limites da cidade do Rio, o comunista responderia: “Pernambuco, um pouquinho São Paulo, interior de
São Paulo, Campos, Niterói.” (Brandão, 1977: 125)
5

Depois seria a vez de Minervino de Oliveira7, que chegaria a Campos no dia 18 de abril. A

tarefa de consolidar uma rede de instituições e apoio ao PCB local prosseguia. Assim,

Minervino junto com Duvitiliano Ramos, Timóteo Barbosa, Hilton Cantarino, Elísio,

Constâncio Dulci e Onofre Caetano organizariam a “Aliança dos Trabalhadores de Campos”

e um Comitê pró-CGT, “como uma seção do município, visando o V Congresso Operário

Nacional”, programado para se reunir no dia 26 de abril daquele ano.

Nos meses seguintes a rede já parecia dar frutos concretos, mesmo que possivelmente

irrisórios. Mas o objetivo do Partido em consolidar instâncias locais que fornecessem apoio

(material ou não) para as causas mais “geraes” (entenda-se por isso aquelas mais associadas

aos centros de poder localizados na então ensolarada capital da Repúlica) começavam a ser

configuradas. Com esse intuito “a Aliança dos Trabalhadores envia auxílio em dinheiro,

obtido de festival realizado no Cine Capitólio, para os operários gráficos de São Paulo, que

7
Minervino era então intendente pelo Distrito Federal. Em 1930, ainda pelo Bloco Operário Camponês,
tornaria-se o primeiro candidato comunista à Presidência da República. (A Classe Operária, 22 de
fevereiro de 1930: 1)
6

ficaram em greve durante três meses. A doação foi remetida através do intendente

Minervino de Oliveira” (idem).

No final de 1929 seria a vez de Astrojildo Pereira, que também se dirigiria ao Cine

Coliseu para proferir uma pelestra, que “empolgou a todos os presentes, despertando-os para

o ingresso e militância no Partido”, segundo Delso Gomes. Durante a sua estadia, Astrojildo

ainda iria “a Fábrica de Tecidos, no bairro da Lapa”, visitaria “a Usina do Queimado e a

Oficina Carangola da Estrada de Ferro Leopoldina, sempre fazendo contado direto com os

trabalhadores” (idem). Ainda segundo Delso, como prova da comoção causada pela

passagem de Astrojildo, em especial sua conferência no Coliseu, muita gente teria

formalizado seu ingresso no Partido, como Duvitiliano Ramos8, Constancio Dulci e Onofre

Caetano.

Com o desmantelamento do Bloco Operário Camponês pela Direção Nacional do

Partido em 1930, os comunistas campistas iriam se concentrar no fortalecimento do Centro

Político Proletário. Além dele, na mesma época, é instalada o Socorro Vermelho, “com

objetivo de praticar a solidariedade”, e que era uma seção municipal da entidade de âmbito

internacional. Em Campos a entidade seria secretariada por Roberto Melo. O Socorro

Vermelho era um importante braço político dos comunistas na área da saúde, extremamente

estratégica, em vários sentidos, em face das inúmeras categorias profissionais envolvidas, os

próprios pacientes e o simbolismo de um ofício cuja abnegação maior seria salvar vidas.9

8
O gráfico, ou melhor, o “operário gráphico” Duvitiliano era originário de Campos e acabou se tornando uma
das figuras de maior renome do PCB. Atuou em Campos até a Intentona de 35. Depois disso muda-se
definitivamente para a cidade do Rio, onde continuou atuando como uma das principais lideranças do Sindicato
dos Gráficos. Chegou a ser secretário-geral do PCB por dois meses (novembro-dezembro de 1932), no auge da
linha obreirista do Partido. Em 1930, tornaria-se candidato a deputado federal pelo antigo estado do Rio de
Janeiro pelo Bloco Operário Camponês. Verdadeiro intelectual, Duvitiliano se entregava com ardor ao trabalho
junto aos órgãos de imprensa ligado ao Partido e ao seu sindicato em particular. Foi um dos fundadores do
Notícias Gráficas e colaborador do Voz do Gráfico. Thiago (2010: 3)
9
É bastante escasso ainda o número de trabalhos sobre a militância comunista na área da saúde nas primeiras
décadas de vida do PCB. Cabe destacar que no Rio de Janeiro ele foi considerável, envolvendo figuras de
renome como Nise da Silveira. Era tão amplo o trabalho dos comunistas nessa área que o PCB montaria uma
7

Além dessas entidades, os comunistas desde então já instalavam as primeiras células

(organismos de base). Uma das primeiras foi a do Turf Club, bairro tradicional da cidade.

Seu organizador seria Onofre Caetano. Muita coisa se aprendia nessas células, desde

elementos da doutrina comunista, como estratégias de propaganda e agitação e, até,

elementos mais pitorescos como “fazer bandeirolas [...] nas comemorações das datas

históricas dos comunistas, como os aniversários de Stalin, de Prestes, da Revolução Russa,

do 1º de maio, e outros” (Gomes, 2000: 20).

Anos 30, os primeiros sindicatos...

Além disso, os comunistas buscaram criar sindicatos. E em tal senda as batalhas com os

anarquistas pela hegemonia do movimento operário já vinha de anos. Dessa forma surgiram

os sindicatos dos Trabalhadores das usinas, dos Metalúrgicos, dos Ferroviários, dos

Comerciários, dos Urbanitários, do Pessoal da construção civil, dos Tecelãos, dos Alfaiates,

dos Padeiros e dos Gráficos, dos trabalhadores em Hotéis.10 Mas, talvez, o mais atuante

fosse o Sindicato dos Estudantes. Ele reuniria figuras de proa do PCB campista, como Nina,

Clóvis Tavares e Adão.11

Mas é preciso destacar que a busca pela formalização de sindicatos não é obra pura e

exclusiva dos “vermelhos”. Como se verá em outras situações, todo um acúmulo de

disputas, práticas, discursos e lutas que fermetam desde o início da década de XX vai de

certa maneira contribuir para sedimentar algumas insituições na década de 1930 em diante,

Os sindicatos são um exemplo parcial. Alguns já pipocavam em época anterior, como o

Syndicato Agrícola, que depois passa a se chamar Sindicato Campista dos Usineiros. E a

partir de 1934, outra mudança de nome: Sindicato da Indústria e Refinação do Açúcar,

célula até na longínqua Colônia Juliano Moreira, sob coordenação do médico Jacinto Luciano Moreira,
membro do Socorro Vermelho carioca. A esse respeito indico a leitura de Renato Dória e Leonardo Santos
(2013)
10
Pessanha (1999: 127).
11
Ver Carneiro (1999: nota 233)
8

representando os usineiros dos estados do Rio e do Espírito Santo, mas com sede em

Campos. Os grandes proprietários de terra, mais ligados diretamente ao cultivo da cana

criariam a Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (anos depois passaria a se

chamar ASFLUCAN), que se notabilizaria pelo seu amplo departamento de “assistência

social” e pela construção de ambulatório e de um enorme Hospital Central na cidade, até

hoje em funcionamento.

Mas aqui se tratava de organizações de cunho patronal, tendo os sindicatos acima

filiação com a veneranda e oligárquica Sociedade Nacional de Agricultura (Mendonça,

1998). Desde os primeiros anos do século XX tais entidades, em especial o Syndicato

Agrícola, travaria um duro combate pela regulação dos preços do açúcar, propugnando

energicamente pela baixa ou pela alta (de acordo com a conveniência) do “ouro branco”.

E havia também – importa frisar - outras formas de organização classista que buscavam

exatamente driblar os impasses oferecidos pela diminuta legislação sindical. Caso da União

dos Padeiros de Campos e o Clube da Lavoura Campista.12 Mais tarde, na década de 30, a

cidade iria testemunhar o surgimento de associações de caráter mutualista, como as Uniões

Beneficentes, reunindo empregados de algumas usinas, como a Cambahyba.

Mas a centralidade da economia açucareira no conjunto da vida enconômica de Campos

foi um grande motivo para que até os comunistas dos “primeiros tempos” dessem prioridade

a atuação junto aos “camponeses” do lugar.

É realmente expressivo o número de ocasiões em que os próprios militantes do PCB

reconhecem ter sido de extrema relevância o contato do ainda insipiente quadro local do

Partido com os trabalhadores das lavouras canavieiras e das usinas a elas ligadas. A reunião

12
Era bastante comum nessa época os trabalhadores se organizarem não apenas nas chamadas Uniões, como
também em Ligas, Associações Beneficentes, Clubes e Caixas de Auxílio-mútuo. Muitas dessas organizações
buscavam oferecer algum tipo de cobertura social aos seus associados, coisa ainda negada pelo poder público
da época.
9

com vários deles foi a primeira iniciativa de Octávio Brandão quando lá chegou, pela

primeira vez, com o intuito de mobilizar o maior número possível de campistas para

construir uma base do Partido na cidade. O plano de Brandão era divulgar um manifesto

sobre a mulher, o jovem e a Aliança Libertadora (Carneiro, 1999: 89). E para tanto Octávio

se encontraria e discursaria para uma série de pessoas, das mais diferentes ocupações

urbanas. Mas eram determinadas categorias que lhe suscitavam especial interesse: os

“camponeses” e os “operários agrícolas”.

O comunista alagoano era uma das principais lideranças do partido, o posto de redator

do órgão oficial dos comunistas – A Classe Operária, já dizia tudo. E assim que pisou em

terra goytacá, este homem de “propensão irresistível para as causas geraes” não pensou duas

vezes: ocupou a maior parte do tempo na cidade palestrando nas usinas de cana com alguns

dos seus trabalhadores e visitando alguns sindicatos, como o dos padeiros.

A historiadora Juliana Carneiro comenta que a própria Juventude Comunista lideraria o

movimento de fundação do Sindicato dos Trabalhadores de Usinas de Açúcar, “que

denunciava a penosa vida dos trabalhadores que amargavam a existência no plantio da cana

e na cristalização do açúcar.” (Carneiro, 1999: 93).

Astrojildo visitaria fábricas e oficinas, mas não deixaria de visitar a Usina do

Queimado. Contudo, passado esse primeiro impulso, os articuladores comunistas de Campos

tenderiam a se concentrar junto às categorias do meio urbano. Sintomático disso é o grande

crescimento de adesões ao Partido junto a operários da Fábrica de Tecidos, de ferroviários,

de eletricitários, da construção civil, de estudantes etc. O mesmo já não ocorreria quanto aos

trabalhadores de usinas. O afastamento de Octávio Brandão e Astrojildo Pereira da direção

nacional do Partido só acentuaria tal tendência. A linha obreirista então implantada


10

privilegiava os setores do proletariado industrial e urbano.13 As “massas camponezas”

ficariam em segundo plano. Mas em Campos isso duraria por muito pouco tempo.

É nessa época que começam a estourar as primeiras greves. Algumas das mais

marcantes são as dos trabalhadores das oficinas da Leopoldina em Carangola e a dos

padeiros.14 As categorias urbanas cresciam e a influência comunista se expandia, para o

temor da imprensa conservadora, de Campos e de fora dele. Num sugestivo editorial

intitulado “A actividade communista e a repressão conservadora: enquanto é tempo...”, o

reacionário A Noite – de grande circulação em todo o estado - expressava seu visceral anti-

comunismo num tom nada comedido. Ainda ao tempo de Brandão e Minervino, via com

bastante temor a propagação dos ideais comunistas - no seu dizer um “credo repugnante” -

no interior fluminense, em especial na planície goytacá (A Noite, 5 de agosto de 1930: 1)

A repressão era só uma das dificuldades que os comunistas enfrentavam na tentativa de

difundir sua doutrina e bandeiras junto aos segmentos populares da sociedade. Havia ainda a

forte repressão policial. Tudo isso tornava muito difícil o trabalho de seus militantes.

Octávio Brandão, na entrevista de 1977, fala de algumas estratégias para driblar o cerco anti-

comunista de todos os dias: “Conversávamos na hora do almoço, conversávamos outras

vezes e fazíamos comícios...” (Brandão, 1977: 39). Tudo muito rápido para evitar prisões.

Se no meio urbano eram enormes as dificuldades, o que dizer do interior, do trabalho

junto aos trabalhadores rurais: colonos, meeiros, posseiros, assalariados agrícolas, operários

de usinas etc.? Ninguém melhor para ter noção desses obstáculos do que os próprios

13
A linha obreirista foi obra de uma intervenção da Internacional Comunista. Ela suprimia a linha de frente
ampla dos anos anteriores – que alianças com a pequena burguesia e outros setores como o campesinato - e
implantava uma perspectiva considerada por muitos como sendo mais “sectária e estreita”. Em tal linha os
chamados intelectuais (considerados não-trabalhadores) também passavam a ser marginalizados. Tal linha
vigoraria até 1934.
14
Segundo Delso Gomes, um dos fatos mais pitorescos da greve dos padeiros de 34 foi de autoria do então
“franzino e sardento” médico Adão Pereira Nunes. Este que “fazia discursos inflamados que tocavam o
coração do povo”, parece ter levado esse seu dom às últimas consequências. Delso afirma que ele escondeu
uma granada dentro de um frango e mando colocá-lo dentro do forno de uma padaria, causando enorme
explosão.
11

comunistas campistas. Juliana Carneiro (1999: 93-4) lembra que era “nas reuniões ‘nos

fundos da Igreja Santo Antônio’”, que o grupo de “Nina traçava planos para expansão de

células comunistas para a fundação de novos sindicatos e a cooptação de outros filiados.”15

Mas em que pese as dificuldades acarretadas pela forte pressão repressiva, alguns

membros do PCB alegam que havia por parte do próprio partido um certo desinteresse em

relação aos “trabalhadores do campo”. Octavio diz que uma das principais falhas do partido

nas primeiras décadas do partido foi não dar atenção aos “camponeses”. Mesmo assim, cita

algumas iniciativas dos comunistas nesse setor:

“Houve o seguinte... Eu me esqueci; Laura é que sabia. Aí no estado do Rio,


numa zona, ela sempre ia bater lá - levava não sei quantas horas de viagem -, falar
com aqueles camponeses. E houve em Sertãozinho, Ribeirão Preto, naquela zona
toda, um camarada, Teotônio de Souza Lima. Uma maravilha. Era um fogueteiro,
fabricava foguetes. O homem era uma dedicação extraordinária.
Tinha um sindicato em Sertãozinho, estado de São Paulo e organizou esta coisa
extraordinária: marcha de verdadeiros camponeses, colonos das fazendas de café, em
direção à cidade de Sertãozinho para fraternizar com os operários. Uma coisa
extraordinária. A outra coisa foi em Juiz de Fora. Reuni um grupo de operários e
fomos aos arredores de Juiz de Fora, uma zona de fazenda de café. Penetramos lá.
Fizemos comícios dentro da fazenda de café, e aqueles colonos assinaram um
abaixo-assinado ao ministro da Justiça, protestando contra o fechamento do nosso
jornal A Classe Operária,” (Brandão, 1977: 117)

Sobre o trabalho em Campos, Brandão não deixaria de lembrar, apontando inclusive

para importantes peculiaridades da região:

- Bem, Campos... Aí não são camponeses, são operários agrícolas das usinas.
Penetramos nas usinas, viu? Eu mesmo penetrei e levei os amigos, os
companheiros de Campos, José Marcílio e outros. Fomos lá dentro das usinas. Mas
eles eram trabalhadores urbanos, não fizeram trabalho no meio dos camponeses.
Uma subestimação da importância do camponês. De modo que foi um trabalho não
sistemático, não metódico. (idem: 117).

15
Tomo a liberdade de citar aqui uma situação pitoresca vivida a muitos quilometros de Campos mas que
ilustra bem algo que parece ter ocorrido em inúmeros lugares do país afora: Pedro Coutinho Filho, engenheiro,
professor e militante cearense do PCB que passaria a atuar na zona rural do Distrito Federal a partir de meados
da década de 1930, chegou a se “disfarçar” de vendedor de caldo de cana para poder manter contatos mais
próximos e regulares com a população da localidade de Jacarépaguá.
12

Não obstante o diagnóstico negativo de Octávio, a semente plantada por ele e outros

camaradas começaria a dar frutos poucos anos depois. Segundo Juliana Carneiro, “na

movimentação pela fundação do sindicato classista dos trabalhadores de usinas de açúcar,

participa ativamente o advogado Valdir da Rocha Faria e o líder operário Antônio João

Farias”. Segundo Delso Gomes (2000: 23), além do dr. Valdir (de tendência socialista) e de

Antônio (da usina de Santo Antônio e um dos maiores quadros do PCB na região), a luta

pela criação do sindicato também contou com os esforços de Antonio Cabral, funcionário da

Usina de Tocos.

Yvan Pessanha (2001: 115) reconhece que o Sindicato dos Trabalhadores de Usinas de

Açúcar foi realmente criado sob uma “orientação esquerdista”. E Juliana Carneiro acrescenta

que atuando a partir da Juventude Comunista, “Adão Pereira Nunes e Nina Arueira tiveram

papel importante na organização e mobilização dessa categoria, muitas vezes tendo que se

reunir com os operários dentro dos canaviais das usinas, devido às perseguições dos

patrões....”. Nos seus primeiros passos, o sindicato tinha como grande objetivo denunciar a

penosa vida dos trabalhadores que amargavam a existência no plantio da cana e na

cristalização do açúcar” (CARNEIRO, 1999: 94).16 Após a fundação do Sindicato dos

Trabalhadores de Usinas de Açucar17 em janeiro de 1933 surgiria três anos depois o

Sindicato dos Empregados Rurais, mais ligado aos trabalhadores e plantadores de cana, ou

seja, aqueles que lidavam mais diretamente com as lavouras que alimentavam as usinas

açucareiras campistas.

***

16
J. Carneiro (104) chega a citar um depoimento de um antigo militante comunista, contemporâneo de Nina,
que demonstra o quanto ela atuava próximo aos trabalhadores rurais, chegando a “comer e beber com eles”, o
que teria a levado a constrair tifo, doença que a matou em 1935.
17
Na Imprensa era comum esse organismo ser também chamado de Sindicato dos Operários do Açúcar.
13

Apesar do fraco desempenho do Partido nas eleições legislativas (das esferas federal,

estadual e municipal) daquele início de década, os comunistas não esmoreciam. Na verdade,

se no cenário político institucional os resultados ainda eram pífios,18 no plano da sociedade

civil organizada, os resultados eram bastante alentadores. E na década de 30, o PCB ainda

contaria com o início do crescimento bastante vigoroso da categoria dos ferroviários. Em

1934, os operários das Oficinas Carangola Leopoldina ensaiavam a primeira greve.

Liderados por Cirico e Benedito Marques reivindicavam “aumentos salariais e melhores

condições de trabalho” (GOMES, 2000: 22). O Partido montaria as suas primeiras células

em empresas de grande importância estratégica como a Força e Luz (raíz da CERJ) e no

numeroso setor da Construção Civil. Roberto Melo, secretário do Socorro Vermelho, passa a

coordenar a formação de células nas Fundições Barbirato e Goitacaz.

É nessa época também que na Fábrica de Tecidos se forma uma bem estruturada célula

comunista, “com participação dos operários Antônio Carlos de Andrade, José Alves, Jaime

Borges, Ângelo Goiaba, Lília Carneiro [...], Maria Cunha e outros” (Gomes, 2000: 24). Por

seu turno,´o pedreiro João Bento Leite, que já atuava como militante junto aos operários da

construção civil, passa a atuar no bairro onde morava, no Caju, mais precisamente na fábrica

de Curtumes da Coroa, “onde ajuda os operários a realizarem greve e se mobilizarem por

melhores condições salariais e de trabalho.” (ibidem).

Na zona rural do município, mais precisamente nas localidades de Mineiros e Saturnino

Brito, o pequeno lavrador Leonel Teixeira, após ingressar no PCB, parte para a construção

de uma célula na Usina Mineiros, junto aos operários agrícolas.

Com a adesão de Luis Carlos Prestes ao PCB em 1934, o Partido também passa a atrair

muitos dos “tenentes” que se lançaram em vários movimentos de contestação pelo país.

18
Juliana Carneiro (1999: 94) lembra que a União Operário Camponesa - coligação criada pelos comunistas –
recebeu apenas 172 votos nas eleições para a Assembléia Constituinte de 1932. Das 10 agremiações partidárias
que disputaram o pleito em Campos, a liderada pelo Partido foi disparada a que menos recebeu votos. Para se
ter uma idéia do fracasso, o Partido Popular Radical conseguiu obter 13. 270 votos.
14

Além disso, o Partido passa a adotar uma postura mais agressiva quanto a busca de

hegemonia junto aos sindicatos, entrando em choque direto com o sindicalismo oficial e

paternalista do governo Vargas. Com esse fim, o Partido lança o Movimento Sindical

Revolucionário.

Os reflexos desse intenso apetite sindical dos comunistas logo se fazem presentes no

cenário campista. O Partido segue com seu ímpeto em implantar novas células em empresas

e bairros do município, chegando até mesmo em Guarus. Ali, com a liderança do médico e

grande proprietário Custódio Siqueira e do pedreiro João Barros o Partido vê “aumentada

sua influência” junto às pessoas humildes do lugar (Gomes, 2000: 26).

Com a criação da Aliança Nacional Libertadora (que propugnava inclusive por uma

reforma agrária radical), agrupamento político-ideológico majoritariamente comunista, o

Partido vislumbra de maneira concreta e pela primeira vez em sua história a possibilidade de

se tornar um partido de massas. As adesões a ele – muito por conta do prestígio nacional e

popular de Prestes, o “Cavaleiro da Esperança” – são enormes.

E nesse processo de expansão do Partido em Campos a “questão agrária” sempre se faz

presente nos debates e nas pautas das manifestações. Um exemplo é o Comício do 1º de

Maio de 1935 (Carneiro, 1999: 95). Para tal evento seria formado um comitê e dele fariam

parte vários quadros do PCB, como o padeiro Timóteo Barbosa, o pedreiro João Bento, o

tecelão José Alves, o alfaiate Amaro Soares e o “trabalhador de usina” João Boa Ventura.

Duvitiliano também faria parte. Mas nessa época já era um quadro nacional, atuando a partir

da capital do país no setor dos gráficos. O que demonstra a importância de Campos para os

comunistas. E entre as consignas aprovadas pelo comitê, figurava: abolição dos

fornecimentos e cartões-vales nas usinas.

Contudo, o evento ficaria marcado por distúrbios envolvendo a utilização de adereços e

símbolos nacionais (bandeira) e comunistas (retrato de Lênin e panos vermelhos). E, fato


15

curioso, o conflito teria começado exatamente pela tentativa por parte de Anorelino dos

Santos, da Liga dos Padeiros, em retirar à força das mãos de Timóteo Barbosa, do Sindicato

dos Trabalhadores de Usinas, o pavilhão nacional. As brigas se sucederiam a partir de então,

com intervenção até da polícia. O ápice seria a destruição da bandeira nacional: ela acabaria

sendo “dilacerada parcialmente” (Carneiro, 1999: 97). Timóteo (acusado de denegrir o

símbolo pátreo, pois iniciou o “dilaceramento”, tudo leva a crer que acidentalmente...),

Clóvis Tavares e até Nina Aureira seriam detidos.

O evento do Rasga-Bandeira (assim ficaria conhecido o episódio) também é

interessante, pois os conflitos revelam uma característica que marcaria as disputas políticas e

ideológicas na cidade: o alto grau de violência entre os adeversários. O que ganharia

contornos extremados com a ascenção dos integralistas na cidade. As brigas entre vermelhos

e camisas-verdes chegariam a compor as manchetes de jornais de fora do estado do Rio.19

Chegando a ser citado por Getúlio Vargas em seu pronunciamento à Nação por ocasião da

decretação do Estado Novo. Para o então recém-auto-empossado ditador, os lamentáveis

fatos ocorridos em Campos justificariam a suspensão de alguns direitos.

A primeira visita dos Integralistas a Campos se daria em 1933, com a vinda de uma

comitiva capitaneada por Plínio, Thiers Martins Moreira e Gustavo Barroso (Pessanha,

2001: 163). Plínio faria uma palestra no Liceu de Humanidades. “Com sua oratória, do que

até então se conhecia, poemática, mística e alcantadorada, os tocou a sensibilidade dos

liceístas, levando-os ao delírio.” (Carneiro, 1999: 20)

Se por um lado o vigor com que os militantes do Partido se entregavam às pugnas nos

numerosos conflitos contra os “galinhas-verdes” (como os comunistas denominavam os

19
Em entrevista do final da década de 88, o antigo líder dos Ferroviários, Demisthócles Batistia, o Batistinha,
lembraria esse aspecto bem próprio do cenário campista, chegando a exagerar na afirmação de que em
“Campos havia mais comunistas do que em Moscou”.
16

integralistas)20, era alardeado como expressão de força e solidez do PCB na região, por

outro, parece inegável que tais disputas tenham contribuído para o aperto da repressão das

forças policiais locais e até nacionais.

Para agravar o quadro do Partido, a ALN seria fechada e brutalmente reprimida. O PCB

é severamente desarticulado. As principais lideranças de Campos, as que não são presas,

teriam que fugir. Caso de Adão Pereira Nunes que vai para o Mato Grosso.

O Partido passaria pela sua primeira grande crise, encontrando-se praticamente

destivado. Algumas poucas iniciativas eram quase que pessoais, sem o suporte da estrutura

partidária, esta praticamente inexistente e o pouco que ainda restava na mais absoluta

clandestinidade. E tal quadro vigoraria até praticamente até meados da década de 1940. A

debandada de militantes seria enorme nesse período.

Anos 40, os anos da retomada. De ilusões e desilusões....

A reestruturação do Partido seria iniciada em 1945 com a liderança do Dr. Custódio

Siqueira e de diversos militantes “externos” enviados pelo Comitê Central à cidade como

Edgar Leite e Adão Voloch. Um intenso trabalho de constituição de células em bairros e

empresas toma curso (Gomes, 2000: 47). É nesse momento que os comunistas iniciam sua

incursão pelo mundo das usinas para implantar tais células, casos de Queimados, Mineiros,

Cupim e São José. Vários Comitês Democráticos Progressistas são fundados, o que

contribui para a expansão da capilaridade do Partido junto a sociedade civil não-

sindicalizada, como as donas de casa e os cidadãos mais engajados em causas de caráter

mais “comunitário” ou de bairro.

20
Ivan de Martins (1994: 152 e ss) em suas memórias sobre a campanha da ALN pelo Brasil lembra o quanto
lhe impressionou os violentos conflitos entre “aliancistas” e “camisas-verdes”, algo que não tinha visto em
nenhum outro ponto de uma “caravana” que teria percorrido boa parte das grandes cidades do sudeste. Além de
destacar o caráter “turbulento” da população campista, Ivan nota que, até por conta disso, os integralistas eram
violentamente reprimidos, como em nenhuma cidade do país. Algo que o teria impressionado.
17

O Partido volta a ter atuação contundente junto aos Sindicatos, em especial o da

Leopoldina (ferroviários), Fábrica de Tecidos, Companhia de Luz, de Água etc. Adão

Voloch, em nome do PCB, promove a articulação necessária para a criação da União

Sindical de Campos (Gomes, 2000: 50). O trabalho parece ser tão promissor que Prestes

decide fazer uma visita à cidade em setembro de 1945, indo a várias empresas,

principalmente a algumas usinas (Cupim e Mineiros). E o crescimento dos comunistas se vê

consolidado nas eleições de fim deste ano: o PCB se constitue como a 3ª força política da

cidade

Mas a “lua-de-mel” com a democracia liberal teria vida curta. O crescimento do Partido

(tinha uma grande bancada no Congresso, a maior bancada nos legislativos municipais do

Rio de Janeiro e Santos e uma enorme bancada em São Paulo) passam a incomodar as

“classes retrógradas”. A pressão contra o PCB a partir de 1946 é muito intenso e desleal. E

será coroada pela cassação do registro do Partido pelo Tribunal Superior Eleitoral em maio

de 1947. E os efeitos sobre os comunistas campistas seriam quase imediatos.

A repressão desencadeada pelo governo Dutra contra os comunistas seria brutal. Ela foi

meticulosamente preparada. A decisão do TSE de 7 de maio de 1947 (por 3 votos a 2) de

suspender o registro do Partido - com a alegação de que ele era na verdade uma filial do

Internacional Comunista (leia-se: Moscou) – foi apenas a cereja do bolo. Meses antes Dutra

já havia suspendido as atividades da Juventude Comunista: num primeiro momento por

apenas 6 meses; logo depois baixaria um decreto extinguindo-a. E no 1º de maio o mesmo

simplesmente proibiria qualquer tipo de manifestações em praça pública. A medida tolhia o

PCB de seu principal meio de expressão e pressão, exaustivamente praticado junto aos

segmentos da sociedade civil (organizada ou não).


18

A repressão que se seguiu (prisões, empastelamentos, torturas, fechamento e destruição

de sedes, demissões, cassação de direitos políticos) foi um duro golpe nas ilusões

constitucionalistas do PCB. Uma “nova noite sombria se abate sobre o movimento sindical”

(Gomes, 2000: 68). Assim como em todo o Brasil, os comunistas de Campos teriam suas

células, sindicatos, ligas e comitês progressistas e demais associações fechadas ou sob

intervenção do governo federal. E criava-se, além de tudo isso, um outro impasse: como

disputar as eleições municipais de setembro daquele mesmo ano? A saída seria buscar o

abrigo de outras legendas. Em Campos, os candidatos do agora ilegal PCB buscaram o

Partido Libertador. A campanha só se inicia faltando um mês para o pleito. Tendo os

comunistas escolhido lançar o antigo militante Custódio Siqueira como candidato à prefeito

e para vereadores teríamos: Délio Lemos (comerciante), Barreto Gomes (ferroviário),

Valduvino Loureiro (marceneiro), Olavo Marins (metalúrgico), Alberto Harmelli (médico),

Henrique Betancourt (funcionário público municipal), Adão Voloch (jornalista), Francisco

Ramos (dentista) e José Jorge de Oliveira (Cia. de Energia) - (Gomes, 2000: 69).

Para reforçar as candidaturas comunistas o Comitê Central reativa uma antiga prática na

sua relação com o Comitê Municipal de Campos: envia numerosos quadros do “1º escalão”

para o reforço da mobilização e engajamento dos membros locais. Com esse fim José Maria

Crispim, Lincoln Oeste, o verador pelo D.F. Agildo Barata e o deputado federal Pedro

Pomar chegam à cidade para participar “da campanha eleitoral em diversos atos públicos

(corpo a corpo, comícios relâmpagos nos bairros e portas de empresas, panfletagens,

palestras etc.)” (Gomes, 2000: 70).

Faltando 4 dias para a eleição, quando mal havia iniciada o comício de encerramento de

sua campanha, o Dr. Custódio sofre um infarto fulminante e cai morto. O Partido decide

apoiar o também médico Manoel Ferreira Paes. Este acabaria eleito. O comunista Barreto

Gomes é o único eleito com 624 votos. O PL, isto é, o PCB ganharia apenas 2.108 votos de
19

um universo de 28.300 votos apurados, ficando em 5º lugar entre todos os partidos. Não era

boa a situação dos comunistas, apesar da eleição de Gomes. Até porque, entre 19 eleitos, ele

havia sido o 15º. Aliás, Barreto teria vida curta no Partido por conta de um desentendimento

com a direção. Esta buscaria imprimir uma linha programática sectária, o que se chocava em

parte com a própria característica pluralista do Partido em Campos. Este podia padecer de

incontáveis problemas, mas o sectarismo não era um deles, como comprova a composição

do Comitê Municipal em fins de 47. Seu primeiro-secretário era Luis Limonge (funcionário

público) e os demais membros eram: os tecelões Antônio Carlos, Ângelo Goiaba e Jaime

Borges; o gráfico Renan Armond; a professora Geni Ferreira; o ferroviário Gualter

Francisco dos Santos; os metalúrgicos Aguinaldo, Olavo Marins e Agassis Silva; os

trabalhadores de usina Adão Voloch e Ernesto Silva; o trabalhador dos carris Luiz Peçanha;

o marceneiro Valduvino Loureiro; o dentista Francisco Ramos e o funcionário público José

Jorge.

Em seu escalão dirigente tínhamos um Partido que reunia profissionais liberais,

funcionários públicos, operários e trabalhadores artesanais. Gomes avalia que a pluralidade

verificada em tal composição é bem expressiva do caráter de partido de massa, algo bastante

almejado pela cúpula pecebista desde a redemocratização e alinhavado na linha da União

Nacional.

Contudo, a escalada repressiva contra o PCB ganharia novo capítulo no início de 1948,

com a cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas em todo o Brasil. Esse seria o

estopim para a mudança radical de linha programática do Partido com sua adesão a

perspectiva inssurrecional naquele ano. Os comunistas deixavam claro que haviam desistido

de promover reformas pela via da democracia institucionalizada, vislumbrando apenas o

caminho da luta armada. “As eleições não resolvem nada” – era uma das teses do Manifesto

de janeiro de 1948. Delso Gomes entende que a partir daí o sectarismo e o aventureirismo
20

tomariam conta do Partido, inclusive em Campos. Como consequencia haveria uma grande

debandada de membros. No dizer de Delso Gomes, “a mudança de linha política neste ano

de 1948 vai trazer um retrocesso e esvaziamento de seus quadros de massas; vai levar o

Partido a se desvincular da classe operária – sua fonte de vida, sua razão de existir.” (ibidem,

75)

Fim dos 40 e início dos 50. O Partido sob o peso dos “Manifestos”....

O primeiro rebatimento teria sido exatamente a renúncia de Barreto Gomes do cargo de

vereador. O vereador comunista não concordava de maneira nenhuma com a perspectiva

sectária e rígida que o Partido passaria a vislumbrar com a perda dos seus mandatos. A

descrença quanto á ordem constitucional e legal é quase total. Em janeiro de 1948, Prestes

redige uma declaração oficial onde procura sintetizar o quadro político daquela conjuntura.

Um quadro sombrio, diga-se de passagem. A antes festejada idéia de União Nacional se

esboroa nos duros termos usados pelo “Cavaleiro da Esperança” para caracterizar a

administração Dutra: “um governo de traição nacional”, onde as conquistas democráticas

são “sucessivamente golpeadas de maneira cada vez mais séria e profunda”, seguindo o

caminho de um “processo reacionário crescente”, onde “todas conquistas democráticas vão

sendo pouco a pouco abolidas e a Constiuição sistematicamente violada”. Diante de um

governo que solapava o “direito de reunião”, que tornava a “liberdade de imprensa reduzida

a farrapos”, em que a “liberdade sindical foi praticamente anulada”, onde até o “direito de

propriedade e a inviolabilidade do domicílio inexistem” e vários outros atos ilegais, como

não enxergar que tal “democracia brasileira” não passasse “na verdade [de] simples ditadura

das classes dominantes de um país semi-feudal e semi-colonial, ditadura dos senhores de

terras, grandes industriais e banqueiros e de agentes do imperialismo estrangeiro,

particularmente o norte-americano.”(idem: 77)


21

Não é difícil deduzir a partir disso o sentimento de profunda repulsa do Partido em

prosseguir com sua atuação política nos marcos da democracia liberal e da ordem

constitucional sancionada por ela. O PCB começa a sinalizar então para a consagração da

linha insurrecional como eixo da sua linha doutrinária. Essa era a principal mensagem do

manifesto de Prestes de janeiro de 1948. Por seu intermédio o partido e seus militantes eram

instados a abandonar a atuação no meio sindical, as disputas eleitorais e qualquer tipo de

conciliação com grupos da burguesia nacional. Era a luta armada ou nada. Não haveria meio

termo.

Manifesto este que deveria ser lido por Barreto Gomes no púlpito da Câmara Municipal

de Campos. Mas ele terioa se negado a fazê-lo. Delso Gomes argumenta que foi um protesto

contra o caráter sectário do texto. Isso o teria levado a entrar em choque com os comitês

municipal e nacional. Em julho do mesmo ano, Barreto pediria renúncia do cargo de

vereador. Pouco depois seria expulso do partido. Em seu lugar na Câmara assumiria

Valduvino Loureiro.

Muito se tem escrito sobre esse período do PCB, como de grande isolamento e

debandada de militantes por conta do sectarismo que passa a dominar a vida interna do

Partido. A firme atitude em repudiar qualquer compromisso com a ordem democrática de

cunho liberal corresponderia a um recrudescimento do autoritarismo nas relações internas do

Partido. No entanto, debitar tudo isso a um suposto ranço autoritário da cúpula dirigente (o

que deixa sempre em aberto uma sutil indagação: por que ele não se manifestou antes?) ou

ao sectarismo da linha política, por mais pertinente que seja essa abordagem, parece deixar

de lado a dura conjuntura política no qual o PCB foi empurrado e obrigado a tentar

sobreviver. Ou seja, passa-se por cima do que chamamos de aspectos externos desse

processo. Não é meu objetivo aprofundar o tema nesse artigo, mas uma ponderação se faz

necessária. A despeito de todos os vícios anti-democráticos próprios do Partido e de seus


22

dirigentes, há que se considerar o impressionante nível repressivo adotado contra os

comunistas, empurrando o Partido para a vida ilegal, clandestina e subterrânea. Era

praticamente impossível que isso não tivesse rebatimentos sobre a vida interna do Partido.

O relatório produzido por um agente a serviço da Polícia Política de Campos é bem

emblemático. Nele, o agente “alerta” sobre um conclave organizado por comunistas em 7 de

abril de 1948. A naturalidade com que o agente fala da necessidade de reprimir o evento me

dispensa de maiores comentários:

Como se vê nos exemplares juntos, o agitador cripto-comunista, João Rodrigues


de Oliveira, vulgo João “Grilo”, pelo seu pasquim, achincalha os que têm
sentimento anti-comunista e coloca em destaque, na primeira página, um
convite de propaganda vermelha.
Seria de conveniência, para enfreiar[sic] a insolência dos inimigos da Patria,
que a Policia federal, agisse conjuntamente com a fluminense e cercasse o local
da conferencia quando a mesma já fosse em meio a fim de deter todos os maus
elementos que a ela comparecessem.21

Na virada da década de 40 para 50, dois movimentos de grande importância vão ser

encabeçados pelo PCB em Campos: o da nacionalização do Petróleo e o da “Paz e contra a

guerra atômica”. Este é instalado primeiro, por meio da criação do Conselho Municipal dos

Partidários da Paz em setembro de 1949. Quanto ao primeiro movimento, os comunistas não

criariam nenhum organismo em particular, por outro lado, investinham na atuação de seus

quadros numa entidade suprapartidária, o Centro Municipal de Defesa do Petróleo (CEDP),

que também reunia quadros do PSB e UDN.

Tal como nas campanhas para seus candidatos na década de 40 e no próprio esforço de

expansão e consolidação do partido nas décadas de 20 e 30, o Partido buscaria promover

iniciativas em prol daquelas campanhas junto aos trabalhadores agrícolas, em especial

aqueles pertencentes ao segmento das usinas canavieiras. Vários comunistas membros do

CEDP, como o agrônomo Edilberto do Amaral, o professor Tupinanbá e o estudante

21
Comitê Municipal de Campos, 590, DPS/APERJ.
23

Lizandro de Albernaz vão ao bairro do Queimado para promover uma palestra aos operários

da usina da localidade, cujo tema é o petróleo e a “importância de se derrotar o projeto do

Governo Dutra e estabelecer o monopólio estatal.” (idem: 81) Em julho de 1951, a célula

comunista da usina de açúcar em Ururaí seria a principal responsável pela confecção de um

abaixo-assinado enviado à Câmara de Vereadores, contendo 300 assinaturas de moradores

da localidade contra o envio de tropas à Guerra da Coréia (idem: 99-100).

O PCB voltava a se aproximar do segmento de operarios do setor açucareiro, levando

para o espaço da opinião pública a discussão sobre a penúria em termos de condições de

trabalho e de vida dessa categoria. Tal trânsito, que consistia fundamentalmente na

transformação dos problemas vividos no âmbito das usinas numa categoria pública, apoiou-

se principalmente na imprensa comunista e nos discursos efetuados nas sessões do

legislativo campista. (idem: 83)

No dia 19 de julho, por exemplo, Valduvino, “exercendo a vereança”, abordaria no

plenário da Câmara a terrível situação pela qual passavam os “os trabalhadores de usinas de

açúcar e das lavouras de canas do município de Campos, com seus salários defasados,

reclamando ajustes” (ibidem). Delso Gomes chega a afirmar que tais categorias de

trabalhadores eram o “centro das atenções políticas do Partido Comunista na região”. É bem

provável, já que havia cerca de 40 mil trabalhadores deste setor por aquelas bandas. Um

número bastante expressivo, de longe a maior categoria profissional em termos

quantitativos.

E é nesse momento que começa a ganhar maior vulto a figura de Adão Voloch. Gaúcho

de origem, Adão já vivia na cidade do Rio quando foi recrutado pelo PCB por volta de

meados da década de 40 para atuar em Campos, onde conseguiria um emprego na Usina

Novo Horizonte. Ali, Adão procuraria criar uma célula do Partido e extrairia valiosas
24

informações sobre as condições de trabalho dos operários. Muitos desses dados alimentavam

os relatos e discursos de Valduvino da Câmara assim como as reportagens da imprensa

comunista sobre a vida de “explorações e violências” dos trabalhadores de usinas de

Campos.

Tal atuação de Adão em pouco tempo obrigaria os aparelhos policiais da cidade

(político, militar, civil) a reforçar a vigilância sobre os seus passos. Mas se ele já suscitava

toda essa apreensão sendo um simples militante, o que imaginar quando a direção municipal

do PCB decidiu substituir Valduvino pelo judeu-gaúcho para ocupar a cadeira de vereador?

Apaziguar os ânimos dos edis conservadores e reacionários que dominavam o

legislativo campista não era certamente uma preocupação que tirasse o sono de Adão

Voloch. Logo em seu discurso de posse no início de outubro, portanto, no auge da repressão

aos membros do PCB, ele declararia ser “um vereador de Prestes e comunista”. Não

satisfeito faria um discurso sobre a Revolução Russa, que completava 32 anos, para horror

de muita gente. Não é preciso um grande exercício de imaginação para vislumbrar qual deve

ter sido o tom do discurso. Nem havia começado a pronunciar as primeiras frases da sua

fala, “os vereadores do PSD retiram-se do plenário, em protesto contra o pronunciamento”.

(idem: 84)

Após haver conseguido ver aprovar um requerimento seu contra os projetos de lei de

segurança e imprensa, que tramitavam no Congresso Federal, Adão procuraria testar até

onde iria a paciência de seus colegas e então decide protestar “contra as usinas que não

descontam a taxa de 2% sobre o produto, para a assistência social dos trabalhadores, como

manda a lei”. Esses e outros temas abordados nas sessões por Adão deixariam “perplexos

seus colegas da Câmara”. Em 16 de novembro ele apresenta um projeto de abono de natal

para os servidores públicos da prefeitura. O projeto é reprovado e Adão ainda é tachado por

alguns colegas de “demagogo”. (ibidem)


25

Entretanto, por mais que seus projetos e propostas fossem constestadas e combatidas na

Câmara, Adão sabia que a única alternativa seria contrabalançar o desnível de poder que o

inferiorizava no interior do legislativo, com uma ampla rede de apoio e pressão junto às

categorias de trabalhadores que buscava representar. Daí que fosse de suma importância o

anteparo proporcionado pela rede de organizações comunistas (sindicatos e células) que

atuavam junto a setores da sociedade civil campista. Rede essa (e há que se incluir aqui a

imprensa comunista) que funcionava mesmo com todos os percalços e limites impostos pela

grande repressão e que também padecia em função das deficiências e conflitos no interior do

próprio Partido.

Com e apesar de tudo isso, Adão lograva transformar a questão das agruras e reclamos

dos operários e lavradores das usinas numa categoria pública, a ser discutida e abordada nos

espaços públicos (imprensa e legislativo), contribuindo assim para legitimá-la e torná-la

reconhecível como uma questão própria da esfera dos direitos, retirando-a definitivamente

(ao menos em boa parte) da árida esfera criminal da polícia.

Um fato protagonizado por Adão na Câmara na última semana de 1949, além de

bastante emblemático, acaba por condensar em seu desenrolar alguns aspectos apontados

acima. Adão conseguiria pôr na ordem do dia da Câmara um debate sobre um abaixo

assinado de trabalhadores rurais. As discussões que se seguiram foram bastante acaloradas.

O que era bem sintomático dos interesses que predominavam naquele recinto. Não obstante,

tal situação serve de ensejo para Adão fazer “uma análise profunda e crítica das condições

de trabalho e de vida dos mesmos, com baixos salários e moradias precárias e sujeitos à

exploração nos armazéns das usinas de açúcar”. E aqui nos deparamos com um outro efeito

da atuação de uma figura como a dele, ao mesmo tempo um militante e uma autoridade

política: por mais que suscitasse resistencias e contrariedades, ele tornava possível com sua

fala autorizada, de um político investido de autoridade pública, a desnaturalização de


26

fenômenos vistos ao longo de décadas como algo natural e inquestionável, como a

exploração cotidiana e indiscriminada dos donos de usinas sobre seus trabalhadores. Prática

tão naturalizada e recorrente que nunca era vista e nem percebida como exploração, ou

simplesmente como uma relação de poder.

É por essa época que também começaria a sobressair a figura – já citada anteriormente -

de João Antônio Faria, que de início contribui para a criação do STIAC em 1933 e, logo

depois, atuaria decisivamente para o surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais

(STR) em 1938.

O historiador Vanderlei Vaselesk num bem documentado trabalho comparativo sobre a

questão agrária do Brasil e da Argentina nos governos Getúlio Dorneles Vargas e Juan

Domingo Perón, respectivamente, acaba por nos oferecer um registro precioso envolvendo

Antônio Faria. Trata-se de um telegrama enviado ao Presidente Getúlio Vargas. Nele, a

liderança campista reivindica a extensão das leis trabalhistas ao “meio agrário”, o que

possibilitaria, entre outras coisas, o direito de greve e a regulamentação dos contratos de

trabalho, o que estaria ainda atrelado aos desígios dos donos de usina (2006: 208-9).

Vaselesk nota ainda que o estilo em que é escrito o telegrama expressa uma adesão integral

do presidente do Sindicato à linha doutrinária do PCB, utilizando-se, inclusive, de frases de

Stálin para criticar parte da burocracia estado-novista, em especial a que transformava a sua

“energia em papelório”. Entretanto, em meados da década seguinte, conforme veremos mais

adiante, o próprio Faria entraria em choque com a direção local do Partido, ou seja, a

burocracia do PCB.

Se o Partido começava a fincar firmes raízes no segmento de trabalhadores de usinas e

de lavouras de cana de açúcar, há que se reconhecer, por outro lado, que os comunistas viam

sua influência minguar no conjunto das outras categorias, ou seja, ele perdia campo no setor

urbano.
27

A composição da delegação campista que participa do Congresso Sindical Nacional de

maio de 1950 no Rio é bem ilustrativo: dos 26 delegados enviados de Campos, apenas 2 são

do PCB: Jair Lima, presidente do Sindicato dos Padeiros e Sebastião Rocha, dos

Metalúrgicos. Um estudo mais aprofundado sobre a evolução do partido e sobre a trajetória

de um conjunto mais amplo de militantes (em especial os envolvidos exclusivamente com

categorias urbanas) – o que não é assunto principal desse artigo – poderia nos fornecer

indícios mais detalhados sobre essa perda de espaço dos comunistas na cidade. Mas

observando muito rapidamente o contexto campista é possível identificar alguns elementos

que faziam de Campos um lugar bastante peculiar. Em primeiro lugar há que se destacar o

amplo crescimento de legendas como PSB, PTB e PSP (este a partir da metade da década de

1950), que atraiu vários militantes comunistas assim como significativa parcela da

população não organizada ou vinculada a partidos. Fato que se revelava principalmente nas

eleições municipais (e aqui a ilegalidade imposta ao PCB desde 1947 não deixa de ter um

peso decisivo). Em segundo, o PCB local era alvo de uma política determinada pelas

instâncias mais centrais (leia-se Comitê Nacional) de constantes recrutamentos de lideranças

comunistas da cidade para atuar em outros lugares (exemplo de Duvitiliano e, em parte, de

Adão). Em terceiro, há um detalhe estrutural que diz respeito à dinâmica econômica de

Campos que não pode deixar de ser ressaltado: ao contrário do Rio e de São Paulo, Campos

não atraía mão-de-obra, muito pelo contrário. A cidade passaria a experimentar uma certa

retração do mercado de trabalho a partir de meados do século XX, o que motivava muita

gente a se buscar emprego em cidades como Niterói e Rio de Janeiro. Delso Gomes (idem:

89 e ss) relata que esse teria sido o caso de muitos militantes do PCB conterrâneos seus.

Até para contornar essas dificuldades, o Partido procura destacar militantes para atuar

em diversas frentes. Adão Voloch é um deles; e isso desde o final da década de 40. Aliás,

Adão é um dos vários exemplos de militantes vindos de fora que são destacados para atuar
28

em Campos, geralmente por um breve período. Outro exemplo seria o dos irmãos Barbeto

(Jacy e Jamir). Os dois eram ferroviários da Leopoldina e oriundos de Porto Novo do Cunha

(MG). Jacy atuaria não apenas entre os ferroviários, como também junto à Prefeitura, Cedae,

trabalhadores de usinas e trabalhadores rurais (não à toa seria o vereador mais votado das

eleições municipais de 1962). (idem: 87)

Além disso, o Partido passa a precisar melhor as frentes a serem abertas e exploradas

por seus militantes e os grupos e categorias alvo de cada uma delas. Ao longo da década de

50 seriam inauguradas – algumas por mais de uma vez – as frentes da carestia (donas de

casa), a da diminuição do preço da passagem de ônibus (categorias urbanas e estudantes) e

aumento do salário mínimo (operários, traballhadores urbanos e agrícolas).

Haveria em paralelo a isso um reforço da ação de propaganda junto aos operários das

empresas, que seria feita através da venda de jornais, pichações, panfletos partidários,

“enfocando suas reivindicações imediatas, com entrega na saída das empresas, ou na hora do

almoço”. Como se pode notar as mesmas práticas experimentadas por Otávio Brandão na

década de 20 ainda demonstravam ser de grande eficácia (Gomes, 2000: 119) “Outra técnica

utilizada e mais eficiente era a conquista de postos nas diretorias sindicais por militantes do

Partido”, acrescenta Delso.

Mas o trabalho de propaganda, mobilização e organização continuava sendo muito

dificultado pela repressão, especialmente nas usinas. Que o diga o vereador Adão Voloch,

que a despeito de sua posição, seria preso por desacato à autoridade quando fazia um

discurso junto a trabalhadores em Macaé. Que o diga também Elias Calejo, condenado por

mais de um ano pela Justiça, após ser preso na usina do Outeiro, acusado de “fazer

propaganda comunista”; como comprovação de tal ato criminoso foi encontrado em seu

poder “material de proganda”: folhetos, cadernos, livros etc. Calejo, segundo a polícia um
29

“distribuidor de boletins e agitador perigoso”,22 seria simplesmente enquadrado na Lei de

Segurança Nacional e trancafiado no presídio da Corôa, em Campos.

Delso Gomes fora companheiro de Calejo e lembra que “Elias foi trabalhar em Outeiro

com a tarefa de construir uma base do Partido na empresa. Não conseguiu e acabou sendo

identificado e preso quando tentava articular uma greve para receber salários atrasados”

(idem: 100).

Além dele, a polícia apertava o cerco contra Orcilino Ribeiro dos Santos, segundo ela,

um “sabotador, expulso da Uzina de Outeiro por atos de sabotagem praticados na

turbinada[sic] referida Uzina[sic]” (idem).

As preocupações da polícia aumentariam enormemente com a deflagração de inúmeras

greves a partir dos primeiros anos da década de 50. Mas o curioso é que não há elementos

suficientes que comprovem que elas tenham sido resultado direto da ação do PCB. Na

verdade, o Partido estava longe de exercer a hegemonia no meio sindical da catetegoria dos

trabalhadores de usina, embora promovesse um persistente trabalho junto às células desse

tipo de empresa, mas que só parecia prosperar nas Usinas de Queimado, Cupim e Mineiro. É

significativo que Delso Gomes classifique uma série de “paralisações” de trabalhadores de

usinas de açúcar em março de 1952 como “espontâneas”. As quais se voltavam em grande

parte contra o “desconto de 27% dos salários a título de moradia”. Mas na Usina Santana,

pior do que isso, o pagamento estava em atraso. Como esperado a polícia reprimiu

duramente os trabalhadores das usinas de Queimado e Poço Gordo. Na Usina Sapucaia “a

greve toma aspecto violento com a invasão do escritório e paralisação da lavoura”. Várias

pessoas são presas. O detalhe é que a usina era de propriedade de João Cleofas, ministro da

Agricultura. Não se sabe bem porque seria chamada a polícia florestal para reprimir a greve

22
“Comitê Municipal de Campos”, 589, DPS/APERJ.
30

– sim, a greve de trabalhadores ainda era frequentemente reprimida durante o governo de

Getúlio Vargas, o “Pai dos pobres”... – com a preciosa ajuda da polícia local. Cabe destacar

que, coincidentemente, a polícia florestal era subordinada ao ministério comandado pelo

deputado-usineiro Cleofas. (Gomes, 2000: 103-4)

Não obstante, para além da recorrente violência da repressão, das arbitrariedades e da

constatação da mistura de interesses públicos e privados na condução desse processo, o que

salta aos olhos nesse episódio é a insistência de Delso Gomes, já então um militante do

PCB, em frisar que “o Sindicato [o STIAC), dirigido por reformistas, procura intermediar o

conflito, embora as greves tenham sido espontâneas, fruto das revoltas dos operários contra

as injustiças dos descontos”. Além do caráter espontâneo sugerido por Delso, que já seria

interessante por si só, o antigo militante deixa entrever com o seu “Sindicato, dirigido por

reformistas” que havia outras forças políticas atuando no seio do sindicalismo campista, e

agrário, em particular. Lembremos que um militante histórico, João Antônio Faria, do STR,

havia rompido com o PCB já por esses tempos. Além disso, quadros do PSB e PTB parecem

ter exercido considerável influência nesse meio. E demoraria ainda mais algum tempo até

que os comunistas conseguissem encabeçar uma chapa na diretoria do STIAC. Portanto, é

possível que ao qualificar tais movimentos como “espontâneos”, o militantte do PCB

quisesse minimizar o trabalho de base feito por quadros de outros partidos.

De qualquer modo Delso reconhece que o trabalho do Partido junto às usinas é lento e

diminuto: “está[va] sem estrutura nas usinas; ficou a reboque dos acontecimentos” -

lamenta. Tanto que por essa época o Partido decidiria traçar “tarefas de construção

partidária” (implantação de células) nas Usinas de São José, Outeiro, Baixa Grande e São

João, como que para recuperar o terreno perdido.


31

Outro aspecto relevante presente na ação dos comunistas no episódio da greve da Usina

Sapucaia seria a realização de iniciativas no sentido de configurar uma rede de apoio ao

movimento grevista com a ida de comissões às redações de jornais da cidade para apresentar

a pauta dos grevistas, denúncias de violência e prisões arbitrárias. Além dos jornais algumas

comissões (como a dos diretores do sindicato dos padeiros) buscariam fortalecer a greve

indo a outras categorias profissionais pedir solidariedade. A construção de tais redes de

apoio ou “trabalho de solidariedade” - como gostavam de chamar os membros do PCB -

estariam na raíz de muitas greves de solidariedade das décadas de 50 e 60 e estavam

inseridas num objetivo mais amplo de unificação das pautas dos diferentes segmentos do

movimento dos trabalhadores da época.23 E a greve da Usina Sapucaia parece ter sido o

momento em que tal iniciativa começou a ser difundida.

No ano seguinte, em junho, seria a vez dos trabalhadores da Usina Cupim entrarem em

greve para exigir “o pagamento dos salários atrasados” e protestar “contra os altos preços

dos produtos em sua cooperativa de consumo”. Testemunha do evento, Delso Gomes declara

que os operários da usina, “agitados, invadem-na, exigindo menores preços. Em pânico, a

gerência chama a polícia e promete colocar os salários em dia”. E ele acrescenta um detalhe

bastante interessante: “a greve é[foi] feita à revelia do sindicato, e a diretoria comparece

para conciliar, como sempre”. Ao que parece, as bases sindicais estavam longe de serem

totalmente controladas pelas cúpulas dirigentes (ibidem: 106). Vemos se expressar em

Campos uma marca genuinamente nacional do chamado “velho sindicalismo”.

Seria também por volta de 1954 que o Partido começaria a dar maior atenção aos

trabalhadores rurais assalariados e não-assalariados como os posseiros e meeiros

(arrendatários). Talvez por conta do rompimento de Antonio Faria com o PCB, os

23
Marcelo Badaró Mattos (1998) cita uma série de exemplos de greves “por solidariedade” nas décadas de
1950 e 1960.
32

comunistas começariam a ensaiar um trabalho de mobilização e coordenação já em

andamento há alguns anos em empresas como a Fábrica de Tecidos, a Fundição Goytacaz, e

as Empresas de Água e Luz.

***

Além das usinas, a vigilância da polícia política apertava também nas ruas e esquinas do

perímetro urbano. E é curioso constatar que invariavelmente o crime atribuído a esses

militantes era o de fazer “propaganda bolchevique”. Em dois dias a polcía registrava esses

dois casos: o primeiro dizia respeito ao trio Ivan Tavares, Giuseppe Carielo e Jayme

Sampaio Soares, presos em 18 de setembro de 51 na Tipografia Soares, pegos em plena ação

criminosa que consistia no empacotamento de “boletins comunistas para serem distribuídos

na Cidade”. No dia seguinte, Eguiberto Amaral seria pego e preso, porque além de dar

“abrigo ao agitador comunista Wilson Carvalho”, tinha a audácia de guardar “em sua

residência inúmeros jornais e propaganda comunista”.24

Na mesma época, ficamos sabendo que a doméstica Olinda Gomes tinha “cor branca” e

olhos e cabelos igualmente “castanhos”. Além de ser “natural” de Campos. Sabemos de tudo

isso porque estava registrado em seu prontuário. Aquele documento policial que sempre era

preenchido assim que um infrator fosse detido e preso. Mas qual teria sido a infração da

doméstica Olinda? O delegado secamente indica a razão: estava “FAZENDO

PROPAGANDA COMUNISTA”.25

24
Idem.
25
Idem.
33

Uma das formas encontrada pelo Partido para tentar driblar o cerco policial passou a ser

a realização de encontros e reuniões em residências, principalmente em chácaras afastadas

do centro urbano.26

Esse parece ter sido o caso do Conselho de Paz instalado na residência do Sr. Antônio

Pavoni, “antigo operário da Fábrica de Tecidos”, que morava na rua da Conceição, “antigo

bairro da fazendinha, próximo ao Turf Club”. As iniciativas patrocinadas pelo Conselho são

bastante instrutivas sobre os expedientes comumentes acionados pelos comunistas com o

fim de enraizarem suas bandeiras junto à população.

O Conselho tinha como presidente um comerciante do bairro e uma programação

pautada em coleta de assinaturas, palestras, festas com números musicais e artísticos e um

concurso de Rainha do Conselho, que foi um dos pontos altos e que mobilizou todo o bairro,

“principalmente a juventude” – proposto pelo diretor artístico Moacir Gomes, que era ativo e

um amador de rádio e gráfico de profissão. (Gomes, 2000: 100)

Mas a vida do PCB segue sendo muito difícil. Com exceção dos bairros do Turf, Guarús

e Caju, todo o trabalho fomentado pelo Partido na década de 30 e, principalmente, na de 40

tinha se perdido. Mesmo nos bairros acima o trabalho se resumia a ação de “comandos”

formados para operar a arrecadação de finanças por intermédio da venda de jornais nas

esquinas e portas de empresas.

Fim dos 50 e início dos 60. A repressão afrouxa e deixa respirar...

Com a chegada do fim da década de 50, já no contexto do governo presidencial de

Juscelino Kubitchek, o Partido gozaria de uma espécie de trégua por parte da repressão

oficial. Os comunistas veriam aumentadas uma certa margem segura de manobras no meio

26
Que se registre que tal alternativa não era completamente eficaz, já que pude verificar vários registros nos
papéis da polícia dando conta do monitoramento de alguns desses encontros. Mas parece que não foi o caso de
todos, havia exceções.
34

sindical e entre a sociedade civil como um todo. Até mesmo a legalização do PCB seria

novamente tentada – mas sem sucesso. De certa maneira alguns efeitos dessa conjuntura

maior são sentidos em Campos. E os comunistas a experimentam em seu favor. É bastante

significativo que seja exatamente nessa época que eles consigam a direção do poderoso

sindicato dos ferroviários da Leopoldina, elegendo a Chapa “Pau Puro”, formada pelo

capixaba Batistinha, o macaense Aristóteles de Miranda Melo e o campista Antônio Joaquim

Magalhães. O Partido só perderia a hegemonia na categoria com o golpe de 64. Na mesma

época o Partido obtinha a direção do sindicato da construção civil.

O fôlego conseguido com o governo JK estava fazendo muito bem ao Partido. Tanto

assim que não demoraria muito para que também conseguisse conquistar a direção do

sindicato dos trabalhadores de usinas em 62, com a eleição de Almirante Costa como seu

presidente. E ligado a essas “conquistas”, os comunistas ainda conseguiriam eleger Jacy

Barbeto com o maior número de votos nas eleições municipais deste ano.

No início dos anos 60 a situação do Partido junto às bases de trabalhadores de usinas já

era bem melhor do que na década anterior. Em que pese o prosseguimento da repressão

violenta não só por parte da polícia local como por obra de alguns usineiros (como a

ocorrida contra a paralisação de fins de fevereiro de 1964 na Usina de Santa Cruz), as greves

mostram ser o principal instrumento de pressão e negociação dos operários das usinas. Não

obstante tal quadro, o STIAC consegue promover campanhas salariais bem sucedidas,

abarcando os filiados de todas as usinas, como em 1963, quando consegue obter a assinatura

de acordo salarial e a garantia de funcionamento dos conselhos de empresas, férias de 30

dias, aquisição do açucar pelo preço de custo para os associados, moradias e “outras
35

vantagens”. Pode-se indagar: e tudo isso foi efetivamente implementado? Mas essa

representava uma outra etapa de lutas, certamente.27

Mas o maior feito dos comunistas entre os trabalhadores “rurais” se daria não entre o

segmento assalariado, mas entre arrendatários e posseiros. Uma maior atuação do Partido

junto a eles começaria em 1953, com a expulsão violenta de posseiros numa fazenda em São

João da Barra. Uma série de prisões e torturas seria praticada. Comissões de posseiros se

dirigiriam às redações de jornais em Campos. Uma primeira medida do Partido foi

encaminhar uma avalanche de denúncias ao Imprensa Popular, órgão do PCB sediado no

Rio. A segunda foi acionar sua assessoria jurídica em favor dos posseiros. E claro, os

comunistas começariam a realizar o trabalho de fixação de suas células entre eles.

Boa parte desse trabalho iria frutificar anos depois no rumoroso caso do Imbé – cujo

ruído ecoaria até em Brasília, já capital da República. Uma área de terra devoluta que seria

alvo de uma ocupação encabeçada por elementos “camponeses” ligados ao Partido na

região. Tal ocupação reuniria em seu início cerca de 200 famílias. Número que só cresceria

com o correr das disputas. Em junho de 1963 a fazenda seria desapropriada pelo governo

federal. Uma vitória não só para os posseiros como para a estratégia de inserção do Partido

junto aos “camponeses”. Mas isso já é um capítulo de uma impressionante história a ser

contado num outro momento.

Primeiras considerações.

Ao contrário do que se supoem lendo alguns textos sobre a história dos comunistas no

Brasil, o caso da atuação do PCB em Campos demonstra que remonta há vários anos antes

de 1945 uma preocupação com a questão agrária: os esforços de Octávio Brandão (um dos

27
Tal ponto será detalhadamente por mim examinado num texto à parte. Embora para décadas posteriores ele
já tenha sido exaustivamente analisado por Motta (1987) e Neves (1997).
36

dirigentes do Partido) e a atuação de figuras como Nina Arueira e Adão Pereira Nunes

constituem evidências significativas.

A própria atuação do PCB em Campos já na década de 20 indica que o Partido, mesmo

antes de ter se constituído em “partido de massas” na decada de 40, possuia enorme

capilaridade nos grandes e médios centros urbanos. E boa parte desse trabalho frutificaria

décadas depois na estrutura de um vigoroso movimento de base a partir dos bairros (Turf,

Guarus, Centro, Caju e Parque Rosário) e empresas (Fábrica de Tecidos, SAEC, Fundição

Goytacaz, Usinas de Queimado e Mineiros) e a direção de alguns sindicatos (Trabalhadores

de Usinas, Ferroviário, Padeiros e Construção Civil).

Mas é preciso destacar que a trajetória é marcada também por muitas “derrotas” e

“fracassos”. Muitos deles podendo ser atribuídos a uma forte repressão anti-comunista, de

intensidade bastante peculiar em Campos. Além da forte repressão, o Partido sofre com uma

característica estrutural de Campos: vários militantes saíram da cidade, não apenas por

perseguição política, mas pela própria necessidade de procurar emprego em outros lugares.

Trata-se aqui de um fluxo emigratório que tem como principal destino o Rio de Janeiro.

Nesse sentido, a retração crônica do mercado de trabalho a partir da década de 50 deixaria

marcas importantes na estruturação do Partido na região.

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