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Seción C.1
Resúmen
Em este trabajo efectuo una analisis de la actuación de los membros del Partido
Comunista del Brasil (PCB) en la ciudad de Campos do Goytacazes (estado de Rio de
Janeiro) durante los anõs 1928 y 1964. Campos fuera por esta época la principal fuerza
política y economica de toda región fluminense. Su economía era en gran parte
sostenida en la produccion de los ingenios de caña. En mediados del siglo XX tenía
alrededor de 40-50 mil trabajadores de este segmento. La inserción de los comunistas en
la ciudad és indisociable de la relación del PCB con este tipo de trabajadores. Tal és el
principal punto de esta investigación.
Abstract
In this paper I analyse action of members of Brazilian Communist Party in Campos dos
Goytacazes city (state of Rio de Janeiro) between 1928 and 1964. Campos has been in
this period the principal political and economic force in the fluminense region. Your
economy was sustained by the sugar factories production. In the middle of 20th century
there was 40-50 thousand workers of this category. The entrance of communists in the
city is associated to relations between PCB and that kind of workers. That’s the
principal issue of this research.
1
A pesquisa que tornou possível a elaboração desse artigo contou com financiamento da FAPERJ e da
PROPPI/UFF. Agradeço também o levantamento de documentação de época realizado pelas bolsistas
Gisele Lima (UFF) e Kesia Porto Linhares (CNPQ/PIBIC/UFF).
2
Professor Adjunto de História da Universidade Federal Fluminense, coordenador do NEPETS e
pesquisador do IHJA.
2
de organismos do partido assim como a ampliação de seus quadros na cidade. Para tanto um
dos seus alvos favoritos seria o meio estudantil, em especial as principais instituições de
ensino campista: o Liceu e a Escola Normal. Do primeiro surgiria Adão Pereira Nunes, do
pouco antes, em fins da década de 1920. E parece ter sido com a visita de Octavio Brandão a
PCB), a partir do qual algumas figuras de primeira proa do Partido disputavam cargos
eletivos nas eleições daquele ano. Sendo o marmorista Minervino de Oliveira e o linotipista
municipal (hoje chamado de vereador) pela então Distrito Federal. E os dois são eleitos. Pela
primeira vez em sua curta história, o partido vislumbrava alguma possibilidade de sucesso e
crescimento pelas vias eleitorais da democracia liberal. E esse aspecto seria crucial para o
fundação do PCB na cidade.4 Assim o próprio Brandão comenta o fato em suas Memórias:
3
A Classe Operária, 25 de agosto de 1928, p. 1.
4
Gomes (2000) e Peçanha (1999).
3
Embora divirja no tocante a data exata do evento da vinda de Octávio a Campos – que a
seu ver teria ocorrido em 2 de março e não em 21 de maio – Delso Gomes também acentua
forma coadunava com a essência do projeto sancionado pelo III Congresso do Partido, que
e Octávio no pleito carioca do ano anterior realmente deu um novo ânimo ao partido. Além
espaços públicos e a céu aberto como em praças ou em recintos fechados, como cinemas,
do partido. Na época só havia um, o Classe Operária. E A Nação, apesar de não ser ligado
oficialmente ao Partido, tinha com ele estreitas relações. E os jornais tinham relevância não
apenas pelo conteúdo dos seus textos (altamente apologéticos), mas pelo que a prática de
5
Octávio lembra que tal prática era exaustivamente realizada pelos anarquistas em sua atuação política no
espaço público (Brandão, 1977: 27).
4
Octávio realizaria uma conferência no Cine Coliseu. Talvez Octávio já soubesse que em
poucos lugares de todo o estado do Rio de Janeiro, ele teria a oportunidade de implantar seu
partido num espaço que reunia uma economia de considerável diversidade, uma imprensa
consolidada (o que implicava aspectos importantes que iam desde a existência de uma
intelectuais” são indícios expressivos). Embora fosse um dos mais importantes do país, o
estado fluminense não era pródigo em exemplos como o de Campos. Muito pelo contrário.
Com esse perfil tão variado e diverso, nem Petrópolis e Niterói (a capital) se assemelhava ao
exemplo campista. Octávio tinha motivos suficientes para sua indisfarçável empolgação.
Dias depois outros líderes visitariam Campos, numa prova da importância estrágica da
cidade, centro nervoso de uma micro-região que envolvia o norte e noroeste fluminenses, o
sul do Espírito Santo e a zona da mata mineira. Depois de Octávio, ainda em março,
Federação dos Trabalhadores Gráficos do Rio de Janeiro. Segundo Delso Gomes, João era
também redator d’A Plebe e presidente do Bloco Operário Camponês (Gomes, 2000: 19).
6
Décadas mais tarde, ao ser perguntado sobre onde o PCB havia conseguido criar “bases” para além dos
limites da cidade do Rio, o comunista responderia: “Pernambuco, um pouquinho São Paulo, interior de
São Paulo, Campos, Niterói.” (Brandão, 1977: 125)
5
Depois seria a vez de Minervino de Oliveira7, que chegaria a Campos no dia 18 de abril. A
tarefa de consolidar uma rede de instituições e apoio ao PCB local prosseguia. Assim,
Minervino junto com Duvitiliano Ramos, Timóteo Barbosa, Hilton Cantarino, Elísio,
Nos meses seguintes a rede já parecia dar frutos concretos, mesmo que possivelmente
irrisórios. Mas o objetivo do Partido em consolidar instâncias locais que fornecessem apoio
(material ou não) para as causas mais “geraes” (entenda-se por isso aquelas mais associadas
aos centros de poder localizados na então ensolarada capital da Repúlica) começavam a ser
configuradas. Com esse intuito “a Aliança dos Trabalhadores envia auxílio em dinheiro,
obtido de festival realizado no Cine Capitólio, para os operários gráficos de São Paulo, que
7
Minervino era então intendente pelo Distrito Federal. Em 1930, ainda pelo Bloco Operário Camponês,
tornaria-se o primeiro candidato comunista à Presidência da República. (A Classe Operária, 22 de
fevereiro de 1930: 1)
6
ficaram em greve durante três meses. A doação foi remetida através do intendente
No final de 1929 seria a vez de Astrojildo Pereira, que também se dirigiria ao Cine
Coliseu para proferir uma pelestra, que “empolgou a todos os presentes, despertando-os para
o ingresso e militância no Partido”, segundo Delso Gomes. Durante a sua estadia, Astrojildo
Oficina Carangola da Estrada de Ferro Leopoldina, sempre fazendo contado direto com os
trabalhadores” (idem). Ainda segundo Delso, como prova da comoção causada pela
formalizado seu ingresso no Partido, como Duvitiliano Ramos8, Constancio Dulci e Onofre
Caetano.
Político Proletário. Além dele, na mesma época, é instalada o Socorro Vermelho, “com
objetivo de praticar a solidariedade”, e que era uma seção municipal da entidade de âmbito
Vermelho era um importante braço político dos comunistas na área da saúde, extremamente
próprios pacientes e o simbolismo de um ofício cuja abnegação maior seria salvar vidas.9
8
O gráfico, ou melhor, o “operário gráphico” Duvitiliano era originário de Campos e acabou se tornando uma
das figuras de maior renome do PCB. Atuou em Campos até a Intentona de 35. Depois disso muda-se
definitivamente para a cidade do Rio, onde continuou atuando como uma das principais lideranças do Sindicato
dos Gráficos. Chegou a ser secretário-geral do PCB por dois meses (novembro-dezembro de 1932), no auge da
linha obreirista do Partido. Em 1930, tornaria-se candidato a deputado federal pelo antigo estado do Rio de
Janeiro pelo Bloco Operário Camponês. Verdadeiro intelectual, Duvitiliano se entregava com ardor ao trabalho
junto aos órgãos de imprensa ligado ao Partido e ao seu sindicato em particular. Foi um dos fundadores do
Notícias Gráficas e colaborador do Voz do Gráfico. Thiago (2010: 3)
9
É bastante escasso ainda o número de trabalhos sobre a militância comunista na área da saúde nas primeiras
décadas de vida do PCB. Cabe destacar que no Rio de Janeiro ele foi considerável, envolvendo figuras de
renome como Nise da Silveira. Era tão amplo o trabalho dos comunistas nessa área que o PCB montaria uma
7
(organismos de base). Uma das primeiras foi a do Turf Club, bairro tradicional da cidade.
Seu organizador seria Onofre Caetano. Muita coisa se aprendia nessas células, desde
elementos mais pitorescos como “fazer bandeirolas [...] nas comemorações das datas
Além disso, os comunistas buscaram criar sindicatos. E em tal senda as batalhas com os
anarquistas pela hegemonia do movimento operário já vinha de anos. Dessa forma surgiram
os sindicatos dos Trabalhadores das usinas, dos Metalúrgicos, dos Ferroviários, dos
Comerciários, dos Urbanitários, do Pessoal da construção civil, dos Tecelãos, dos Alfaiates,
dos Padeiros e dos Gráficos, dos trabalhadores em Hotéis.10 Mas, talvez, o mais atuante
fosse o Sindicato dos Estudantes. Ele reuniria figuras de proa do PCB campista, como Nina,
Mas é preciso destacar que a busca pela formalização de sindicatos não é obra pura e
disputas, práticas, discursos e lutas que fermetam desde o início da década de XX vai de
certa maneira contribuir para sedimentar algumas insituições na década de 1930 em diante,
Syndicato Agrícola, que depois passa a se chamar Sindicato Campista dos Usineiros. E a
célula até na longínqua Colônia Juliano Moreira, sob coordenação do médico Jacinto Luciano Moreira,
membro do Socorro Vermelho carioca. A esse respeito indico a leitura de Renato Dória e Leonardo Santos
(2013)
10
Pessanha (1999: 127).
11
Ver Carneiro (1999: nota 233)
8
representando os usineiros dos estados do Rio e do Espírito Santo, mas com sede em
hoje em funcionamento.
Agrícola, travaria um duro combate pela regulação dos preços do açúcar, propugnando
energicamente pela baixa ou pela alta (de acordo com a conveniência) do “ouro branco”.
E havia também – importa frisar - outras formas de organização classista que buscavam
exatamente driblar os impasses oferecidos pela diminuta legislação sindical. Caso da União
dos Padeiros de Campos e o Clube da Lavoura Campista.12 Mais tarde, na década de 30, a
foi um grande motivo para que até os comunistas dos “primeiros tempos” dessem prioridade
reconhecem ter sido de extrema relevância o contato do ainda insipiente quadro local do
Partido com os trabalhadores das lavouras canavieiras e das usinas a elas ligadas. A reunião
12
Era bastante comum nessa época os trabalhadores se organizarem não apenas nas chamadas Uniões, como
também em Ligas, Associações Beneficentes, Clubes e Caixas de Auxílio-mútuo. Muitas dessas organizações
buscavam oferecer algum tipo de cobertura social aos seus associados, coisa ainda negada pelo poder público
da época.
9
com vários deles foi a primeira iniciativa de Octávio Brandão quando lá chegou, pela
primeira vez, com o intuito de mobilizar o maior número possível de campistas para
construir uma base do Partido na cidade. O plano de Brandão era divulgar um manifesto
sobre a mulher, o jovem e a Aliança Libertadora (Carneiro, 1999: 89). E para tanto Octávio
se encontraria e discursaria para uma série de pessoas, das mais diferentes ocupações
urbanas. Mas eram determinadas categorias que lhe suscitavam especial interesse: os
O comunista alagoano era uma das principais lideranças do partido, o posto de redator
do órgão oficial dos comunistas – A Classe Operária, já dizia tudo. E assim que pisou em
terra goytacá, este homem de “propensão irresistível para as causas geraes” não pensou duas
vezes: ocupou a maior parte do tempo na cidade palestrando nas usinas de cana com alguns
denunciava a penosa vida dos trabalhadores que amargavam a existência no plantio da cana
de eletricitários, da construção civil, de estudantes etc. O mesmo já não ocorreria quanto aos
ficariam em segundo plano. Mas em Campos isso duraria por muito pouco tempo.
É nessa época que começam a estourar as primeiras greves. Algumas das mais
reacionário A Noite – de grande circulação em todo o estado - expressava seu visceral anti-
comunismo num tom nada comedido. Ainda ao tempo de Brandão e Minervino, via com
bastante temor a propagação dos ideais comunistas - no seu dizer um “credo repugnante” -
difundir sua doutrina e bandeiras junto aos segmentos populares da sociedade. Havia ainda a
forte repressão policial. Tudo isso tornava muito difícil o trabalho de seus militantes.
Octávio Brandão, na entrevista de 1977, fala de algumas estratégias para driblar o cerco anti-
vezes e fazíamos comícios...” (Brandão, 1977: 39). Tudo muito rápido para evitar prisões.
junto aos trabalhadores rurais: colonos, meeiros, posseiros, assalariados agrícolas, operários
de usinas etc.? Ninguém melhor para ter noção desses obstáculos do que os próprios
13
A linha obreirista foi obra de uma intervenção da Internacional Comunista. Ela suprimia a linha de frente
ampla dos anos anteriores – que alianças com a pequena burguesia e outros setores como o campesinato - e
implantava uma perspectiva considerada por muitos como sendo mais “sectária e estreita”. Em tal linha os
chamados intelectuais (considerados não-trabalhadores) também passavam a ser marginalizados. Tal linha
vigoraria até 1934.
14
Segundo Delso Gomes, um dos fatos mais pitorescos da greve dos padeiros de 34 foi de autoria do então
“franzino e sardento” médico Adão Pereira Nunes. Este que “fazia discursos inflamados que tocavam o
coração do povo”, parece ter levado esse seu dom às últimas consequências. Delso afirma que ele escondeu
uma granada dentro de um frango e mando colocá-lo dentro do forno de uma padaria, causando enorme
explosão.
11
comunistas campistas. Juliana Carneiro (1999: 93-4) lembra que era “nas reuniões ‘nos
fundos da Igreja Santo Antônio’”, que o grupo de “Nina traçava planos para expansão de
Mas em que pese as dificuldades acarretadas pela forte pressão repressiva, alguns
membros do PCB alegam que havia por parte do próprio partido um certo desinteresse em
relação aos “trabalhadores do campo”. Octavio diz que uma das principais falhas do partido
nas primeiras décadas do partido foi não dar atenção aos “camponeses”. Mesmo assim, cita
- Bem, Campos... Aí não são camponeses, são operários agrícolas das usinas.
Penetramos nas usinas, viu? Eu mesmo penetrei e levei os amigos, os
companheiros de Campos, José Marcílio e outros. Fomos lá dentro das usinas. Mas
eles eram trabalhadores urbanos, não fizeram trabalho no meio dos camponeses.
Uma subestimação da importância do camponês. De modo que foi um trabalho não
sistemático, não metódico. (idem: 117).
15
Tomo a liberdade de citar aqui uma situação pitoresca vivida a muitos quilometros de Campos mas que
ilustra bem algo que parece ter ocorrido em inúmeros lugares do país afora: Pedro Coutinho Filho, engenheiro,
professor e militante cearense do PCB que passaria a atuar na zona rural do Distrito Federal a partir de meados
da década de 1930, chegou a se “disfarçar” de vendedor de caldo de cana para poder manter contatos mais
próximos e regulares com a população da localidade de Jacarépaguá.
12
Não obstante o diagnóstico negativo de Octávio, a semente plantada por ele e outros
camaradas começaria a dar frutos poucos anos depois. Segundo Juliana Carneiro, “na
participa ativamente o advogado Valdir da Rocha Faria e o líder operário Antônio João
Farias”. Segundo Delso Gomes (2000: 23), além do dr. Valdir (de tendência socialista) e de
Antônio (da usina de Santo Antônio e um dos maiores quadros do PCB na região), a luta
pela criação do sindicato também contou com os esforços de Antonio Cabral, funcionário da
Usina de Tocos.
Yvan Pessanha (2001: 115) reconhece que o Sindicato dos Trabalhadores de Usinas de
Açúcar foi realmente criado sob uma “orientação esquerdista”. E Juliana Carneiro acrescenta
que atuando a partir da Juventude Comunista, “Adão Pereira Nunes e Nina Arueira tiveram
papel importante na organização e mobilização dessa categoria, muitas vezes tendo que se
reunir com os operários dentro dos canaviais das usinas, devido às perseguições dos
patrões....”. Nos seus primeiros passos, o sindicato tinha como grande objetivo denunciar a
Sindicato dos Empregados Rurais, mais ligado aos trabalhadores e plantadores de cana, ou
seja, aqueles que lidavam mais diretamente com as lavouras que alimentavam as usinas
açucareiras campistas.
***
16
J. Carneiro (104) chega a citar um depoimento de um antigo militante comunista, contemporâneo de Nina,
que demonstra o quanto ela atuava próximo aos trabalhadores rurais, chegando a “comer e beber com eles”, o
que teria a levado a constrair tifo, doença que a matou em 1935.
17
Na Imprensa era comum esse organismo ser também chamado de Sindicato dos Operários do Açúcar.
13
Apesar do fraco desempenho do Partido nas eleições legislativas (das esferas federal,
civil organizada, os resultados eram bastante alentadores. E na década de 30, o PCB ainda
condições de trabalho” (GOMES, 2000: 22). O Partido montaria as suas primeiras células
numeroso setor da Construção Civil. Roberto Melo, secretário do Socorro Vermelho, passa a
É nessa época também que na Fábrica de Tecidos se forma uma bem estruturada célula
comunista, “com participação dos operários Antônio Carlos de Andrade, José Alves, Jaime
Borges, Ângelo Goiaba, Lília Carneiro [...], Maria Cunha e outros” (Gomes, 2000: 24). Por
seu turno,´o pedreiro João Bento Leite, que já atuava como militante junto aos operários da
construção civil, passa a atuar no bairro onde morava, no Caju, mais precisamente na fábrica
Brito, o pequeno lavrador Leonel Teixeira, após ingressar no PCB, parte para a construção
Com a adesão de Luis Carlos Prestes ao PCB em 1934, o Partido também passa a atrair
muitos dos “tenentes” que se lançaram em vários movimentos de contestação pelo país.
18
Juliana Carneiro (1999: 94) lembra que a União Operário Camponesa - coligação criada pelos comunistas –
recebeu apenas 172 votos nas eleições para a Assembléia Constituinte de 1932. Das 10 agremiações partidárias
que disputaram o pleito em Campos, a liderada pelo Partido foi disparada a que menos recebeu votos. Para se
ter uma idéia do fracasso, o Partido Popular Radical conseguiu obter 13. 270 votos.
14
Além disso, o Partido passa a adotar uma postura mais agressiva quanto a busca de
hegemonia junto aos sindicatos, entrando em choque direto com o sindicalismo oficial e
paternalista do governo Vargas. Com esse fim, o Partido lança o Movimento Sindical
Revolucionário.
Os reflexos desse intenso apetite sindical dos comunistas logo se fazem presentes no
cenário campista. O Partido segue com seu ímpeto em implantar novas células em empresas
e bairros do município, chegando até mesmo em Guarus. Ali, com a liderança do médico e
Com a criação da Aliança Nacional Libertadora (que propugnava inclusive por uma
Partido vislumbra de maneira concreta e pela primeira vez em sua história a possibilidade de
se tornar um partido de massas. As adesões a ele – muito por conta do prestígio nacional e
Maio de 1935 (Carneiro, 1999: 95). Para tal evento seria formado um comitê e dele fariam
parte vários quadros do PCB, como o padeiro Timóteo Barbosa, o pedreiro João Bento, o
tecelão José Alves, o alfaiate Amaro Soares e o “trabalhador de usina” João Boa Ventura.
Duvitiliano também faria parte. Mas nessa época já era um quadro nacional, atuando a partir
da capital do país no setor dos gráficos. O que demonstra a importância de Campos para os
curioso, o conflito teria começado exatamente pela tentativa por parte de Anorelino dos
Santos, da Liga dos Padeiros, em retirar à força das mãos de Timóteo Barbosa, do Sindicato
com intervenção até da polícia. O ápice seria a destruição da bandeira nacional: ela acabaria
símbolo pátreo, pois iniciou o “dilaceramento”, tudo leva a crer que acidentalmente...),
interessante, pois os conflitos revelam uma característica que marcaria as disputas políticas e
contornos extremados com a ascenção dos integralistas na cidade. As brigas entre vermelhos
Chegando a ser citado por Getúlio Vargas em seu pronunciamento à Nação por ocasião da
A primeira visita dos Integralistas a Campos se daria em 1933, com a vinda de uma
comitiva capitaneada por Plínio, Thiers Martins Moreira e Gustavo Barroso (Pessanha,
2001: 163). Plínio faria uma palestra no Liceu de Humanidades. “Com sua oratória, do que
Se por um lado o vigor com que os militantes do Partido se entregavam às pugnas nos
19
Em entrevista do final da década de 88, o antigo líder dos Ferroviários, Demisthócles Batistia, o Batistinha,
lembraria esse aspecto bem próprio do cenário campista, chegando a exagerar na afirmação de que em
“Campos havia mais comunistas do que em Moscou”.
16
integralistas)20, era alardeado como expressão de força e solidez do PCB na região, por
outro, parece inegável que tais disputas tenham contribuído para o aperto da repressão das
Para agravar o quadro do Partido, a ALN seria fechada e brutalmente reprimida. O PCB
teriam que fugir. Caso de Adão Pereira Nunes que vai para o Mato Grosso.
destivado. Algumas poucas iniciativas eram quase que pessoais, sem o suporte da estrutura
partidária, esta praticamente inexistente e o pouco que ainda restava na mais absoluta
clandestinidade. E tal quadro vigoraria até praticamente até meados da década de 1940. A
Siqueira e de diversos militantes “externos” enviados pelo Comitê Central à cidade como
empresas toma curso (Gomes, 2000: 47). É nesse momento que os comunistas iniciam sua
incursão pelo mundo das usinas para implantar tais células, casos de Queimados, Mineiros,
Cupim e São José. Vários Comitês Democráticos Progressistas são fundados, o que
20
Ivan de Martins (1994: 152 e ss) em suas memórias sobre a campanha da ALN pelo Brasil lembra o quanto
lhe impressionou os violentos conflitos entre “aliancistas” e “camisas-verdes”, algo que não tinha visto em
nenhum outro ponto de uma “caravana” que teria percorrido boa parte das grandes cidades do sudeste. Além de
destacar o caráter “turbulento” da população campista, Ivan nota que, até por conta disso, os integralistas eram
violentamente reprimidos, como em nenhuma cidade do país. Algo que o teria impressionado.
17
Sindical de Campos (Gomes, 2000: 50). O trabalho parece ser tão promissor que Prestes
decide fazer uma visita à cidade em setembro de 1945, indo a várias empresas,
consolidado nas eleições de fim deste ano: o PCB se constitue como a 3ª força política da
cidade
Mas a “lua-de-mel” com a democracia liberal teria vida curta. O crescimento do Partido
(tinha uma grande bancada no Congresso, a maior bancada nos legislativos municipais do
Rio de Janeiro e Santos e uma enorme bancada em São Paulo) passam a incomodar as
“classes retrógradas”. A pressão contra o PCB a partir de 1946 é muito intenso e desleal. E
será coroada pela cassação do registro do Partido pelo Tribunal Superior Eleitoral em maio
A repressão desencadeada pelo governo Dutra contra os comunistas seria brutal. Ela foi
suspender o registro do Partido - com a alegação de que ele era na verdade uma filial do
Internacional Comunista (leia-se: Moscou) – foi apenas a cereja do bolo. Meses antes Dutra
PCB de seu principal meio de expressão e pressão, exaustivamente praticado junto aos
de sedes, demissões, cassação de direitos políticos) foi um duro golpe nas ilusões
constitucionalistas do PCB. Uma “nova noite sombria se abate sobre o movimento sindical”
(Gomes, 2000: 68). Assim como em todo o Brasil, os comunistas de Campos teriam suas
intervenção do governo federal. E criava-se, além de tudo isso, um outro impasse: como
disputar as eleições municipais de setembro daquele mesmo ano? A saída seria buscar o
comunistas escolhido lançar o antigo militante Custódio Siqueira como candidato à prefeito
Ramos (dentista) e José Jorge de Oliveira (Cia. de Energia) - (Gomes, 2000: 69).
Para reforçar as candidaturas comunistas o Comitê Central reativa uma antiga prática na
sua relação com o Comitê Municipal de Campos: envia numerosos quadros do “1º escalão”
para o reforço da mobilização e engajamento dos membros locais. Com esse fim José Maria
Crispim, Lincoln Oeste, o verador pelo D.F. Agildo Barata e o deputado federal Pedro
Pomar chegam à cidade para participar “da campanha eleitoral em diversos atos públicos
Faltando 4 dias para a eleição, quando mal havia iniciada o comício de encerramento de
sua campanha, o Dr. Custódio sofre um infarto fulminante e cai morto. O Partido decide
apoiar o também médico Manoel Ferreira Paes. Este acabaria eleito. O comunista Barreto
Gomes é o único eleito com 624 votos. O PL, isto é, o PCB ganharia apenas 2.108 votos de
19
um universo de 28.300 votos apurados, ficando em 5º lugar entre todos os partidos. Não era
boa a situação dos comunistas, apesar da eleição de Gomes. Até porque, entre 19 eleitos, ele
havia sido o 15º. Aliás, Barreto teria vida curta no Partido por conta de um desentendimento
com a direção. Esta buscaria imprimir uma linha programática sectária, o que se chocava em
parte com a própria característica pluralista do Partido em Campos. Este podia padecer de
incontáveis problemas, mas o sectarismo não era um deles, como comprova a composição
do Comitê Municipal em fins de 47. Seu primeiro-secretário era Luis Limonge (funcionário
público) e os demais membros eram: os tecelões Antônio Carlos, Ângelo Goiaba e Jaime
trabalhadores de usina Adão Voloch e Ernesto Silva; o trabalhador dos carris Luiz Peçanha;
Jorge.
verificada em tal composição é bem expressiva do caráter de partido de massa, algo bastante
Nacional.
Contudo, a escalada repressiva contra o PCB ganharia novo capítulo no início de 1948,
com a cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas em todo o Brasil. Esse seria o
estopim para a mudança radical de linha programática do Partido com sua adesão a
perspectiva inssurrecional naquele ano. Os comunistas deixavam claro que haviam desistido
caminho da luta armada. “As eleições não resolvem nada” – era uma das teses do Manifesto
de janeiro de 1948. Delso Gomes entende que a partir daí o sectarismo e o aventureirismo
20
tomariam conta do Partido, inclusive em Campos. Como consequencia haveria uma grande
debandada de membros. No dizer de Delso Gomes, “a mudança de linha política neste ano
de 1948 vai trazer um retrocesso e esvaziamento de seus quadros de massas; vai levar o
Partido a se desvincular da classe operária – sua fonte de vida, sua razão de existir.” (ibidem,
75)
Fim dos 40 e início dos 50. O Partido sob o peso dos “Manifestos”....
sectária e rígida que o Partido passaria a vislumbrar com a perda dos seus mandatos. A
descrença quanto á ordem constitucional e legal é quase total. Em janeiro de 1948, Prestes
redige uma declaração oficial onde procura sintetizar o quadro político daquela conjuntura.
esboroa nos duros termos usados pelo “Cavaleiro da Esperança” para caracterizar a
são “sucessivamente golpeadas de maneira cada vez mais séria e profunda”, seguindo o
governo que solapava o “direito de reunião”, que tornava a “liberdade de imprensa reduzida
a farrapos”, em que a “liberdade sindical foi praticamente anulada”, onde até o “direito de
não enxergar que tal “democracia brasileira” não passasse “na verdade [de] simples ditadura
prosseguir com sua atuação política nos marcos da democracia liberal e da ordem
constitucional sancionada por ela. O PCB começa a sinalizar então para a consagração da
linha insurrecional como eixo da sua linha doutrinária. Essa era a principal mensagem do
manifesto de Prestes de janeiro de 1948. Por seu intermédio o partido e seus militantes eram
conciliação com grupos da burguesia nacional. Era a luta armada ou nada. Não haveria meio
termo.
Manifesto este que deveria ser lido por Barreto Gomes no púlpito da Câmara Municipal
de Campos. Mas ele terioa se negado a fazê-lo. Delso Gomes argumenta que foi um protesto
contra o caráter sectário do texto. Isso o teria levado a entrar em choque com os comitês
vereador. Pouco depois seria expulso do partido. Em seu lugar na Câmara assumiria
Valduvino Loureiro.
Muito se tem escrito sobre esse período do PCB, como de grande isolamento e
debandada de militantes por conta do sectarismo que passa a dominar a vida interna do
Partido. No entanto, debitar tudo isso a um suposto ranço autoritário da cúpula dirigente (o
que deixa sempre em aberto uma sutil indagação: por que ele não se manifestou antes?) ou
ao sectarismo da linha política, por mais pertinente que seja essa abordagem, parece deixar
de lado a dura conjuntura política no qual o PCB foi empurrado e obrigado a tentar
sobreviver. Ou seja, passa-se por cima do que chamamos de aspectos externos desse
processo. Não é meu objetivo aprofundar o tema nesse artigo, mas uma ponderação se faz
praticamente impossível que isso não tivesse rebatimentos sobre a vida interna do Partido.
abril de 1948. A naturalidade com que o agente fala da necessidade de reprimir o evento me
Na virada da década de 40 para 50, dois movimentos de grande importância vão ser
guerra atômica”. Este é instalado primeiro, por meio da criação do Conselho Municipal dos
criariam nenhum organismo em particular, por outro lado, investinham na atuação de seus
Tal como nas campanhas para seus candidatos na década de 40 e no próprio esforço de
21
Comitê Municipal de Campos, 590, DPS/APERJ.
23
Lizandro de Albernaz vão ao bairro do Queimado para promover uma palestra aos operários
Governo Dutra e estabelecer o monopólio estatal.” (idem: 81) Em julho de 1951, a célula
transformação dos problemas vividos no âmbito das usinas numa categoria pública, apoiou-
plenário da Câmara a terrível situação pela qual passavam os “os trabalhadores de usinas de
açúcar e das lavouras de canas do município de Campos, com seus salários defasados,
reclamando ajustes” (ibidem). Delso Gomes chega a afirmar que tais categorias de
trabalhadores eram o “centro das atenções políticas do Partido Comunista na região”. É bem
provável, já que havia cerca de 40 mil trabalhadores deste setor por aquelas bandas. Um
quantitativos.
E é nesse momento que começa a ganhar maior vulto a figura de Adão Voloch. Gaúcho
de origem, Adão já vivia na cidade do Rio quando foi recrutado pelo PCB por volta de
Novo Horizonte. Ali, Adão procuraria criar uma célula do Partido e extrairia valiosas
24
informações sobre as condições de trabalho dos operários. Muitos desses dados alimentavam
Campos.
(político, militar, civil) a reforçar a vigilância sobre os seus passos. Mas se ele já suscitava
toda essa apreensão sendo um simples militante, o que imaginar quando a direção municipal
do PCB decidiu substituir Valduvino pelo judeu-gaúcho para ocupar a cadeira de vereador?
legislativo campista não era certamente uma preocupação que tirasse o sono de Adão
Voloch. Logo em seu discurso de posse no início de outubro, portanto, no auge da repressão
aos membros do PCB, ele declararia ser “um vereador de Prestes e comunista”. Não
satisfeito faria um discurso sobre a Revolução Russa, que completava 32 anos, para horror
de muita gente. Não é preciso um grande exercício de imaginação para vislumbrar qual deve
ter sido o tom do discurso. Nem havia começado a pronunciar as primeiras frases da sua
(idem: 84)
Após haver conseguido ver aprovar um requerimento seu contra os projetos de lei de
segurança e imprensa, que tramitavam no Congresso Federal, Adão procuraria testar até
onde iria a paciência de seus colegas e então decide protestar “contra as usinas que não
descontam a taxa de 2% sobre o produto, para a assistência social dos trabalhadores, como
manda a lei”. Esses e outros temas abordados nas sessões por Adão deixariam “perplexos
para os servidores públicos da prefeitura. O projeto é reprovado e Adão ainda é tachado por
Entretanto, por mais que seus projetos e propostas fossem constestadas e combatidas na
Câmara, Adão sabia que a única alternativa seria contrabalançar o desnível de poder que o
inferiorizava no interior do legislativo, com uma ampla rede de apoio e pressão junto às
categorias de trabalhadores que buscava representar. Daí que fosse de suma importância o
atuavam junto a setores da sociedade civil campista. Rede essa (e há que se incluir aqui a
imprensa comunista) que funcionava mesmo com todos os percalços e limites impostos pela
grande repressão e que também padecia em função das deficiências e conflitos no interior do
próprio Partido.
Com e apesar de tudo isso, Adão lograva transformar a questão das agruras e reclamos
dos operários e lavradores das usinas numa categoria pública, a ser discutida e abordada nos
reconhecível como uma questão própria da esfera dos direitos, retirando-a definitivamente
bastante emblemático, acaba por condensar em seu desenrolar alguns aspectos apontados
acima. Adão conseguiria pôr na ordem do dia da Câmara um debate sobre um abaixo
O que era bem sintomático dos interesses que predominavam naquele recinto. Não obstante,
tal situação serve de ensejo para Adão fazer “uma análise profunda e crítica das condições
de trabalho e de vida dos mesmos, com baixos salários e moradias precárias e sujeitos à
exploração nos armazéns das usinas de açúcar”. E aqui nos deparamos com um outro efeito
da atuação de uma figura como a dele, ao mesmo tempo um militante e uma autoridade
política: por mais que suscitasse resistencias e contrariedades, ele tornava possível com sua
exploração cotidiana e indiscriminada dos donos de usinas sobre seus trabalhadores. Prática
tão naturalizada e recorrente que nunca era vista e nem percebida como exploração, ou
É por essa época que também começaria a sobressair a figura – já citada anteriormente -
de João Antônio Faria, que de início contribui para a criação do STIAC em 1933 e, logo
(STR) em 1938.
questão agrária do Brasil e da Argentina nos governos Getúlio Dorneles Vargas e Juan
Domingo Perón, respectivamente, acaba por nos oferecer um registro precioso envolvendo
liderança campista reivindica a extensão das leis trabalhistas ao “meio agrário”, o que
trabalho, o que estaria ainda atrelado aos desígios dos donos de usina (2006: 208-9).
Vaselesk nota ainda que o estilo em que é escrito o telegrama expressa uma adesão integral
Stálin para criticar parte da burocracia estado-novista, em especial a que transformava a sua
adiante, o próprio Faria entraria em choque com a direção local do Partido, ou seja, a
burocracia do PCB.
de lavouras de cana de açúcar, há que se reconhecer, por outro lado, que os comunistas viam
sua influência minguar no conjunto das outras categorias, ou seja, ele perdia campo no setor
urbano.
27
maio de 1950 no Rio é bem ilustrativo: dos 26 delegados enviados de Campos, apenas 2 são
do PCB: Jair Lima, presidente do Sindicato dos Padeiros e Sebastião Rocha, dos
categorias urbanas) – o que não é assunto principal desse artigo – poderia nos fornecer
indícios mais detalhados sobre essa perda de espaço dos comunistas na cidade. Mas
que faziam de Campos um lugar bastante peculiar. Em primeiro lugar há que se destacar o
amplo crescimento de legendas como PSB, PTB e PSP (este a partir da metade da década de
1950), que atraiu vários militantes comunistas assim como significativa parcela da
população não organizada ou vinculada a partidos. Fato que se revelava principalmente nas
eleições municipais (e aqui a ilegalidade imposta ao PCB desde 1947 não deixa de ter um
peso decisivo). Em segundo, o PCB local era alvo de uma política determinada pelas
Campos que não pode deixar de ser ressaltado: ao contrário do Rio e de São Paulo, Campos
não atraía mão-de-obra, muito pelo contrário. A cidade passaria a experimentar uma certa
retração do mercado de trabalho a partir de meados do século XX, o que motivava muita
gente a se buscar emprego em cidades como Niterói e Rio de Janeiro. Delso Gomes (idem:
89 e ss) relata que esse teria sido o caso de muitos militantes do PCB conterrâneos seus.
Até para contornar essas dificuldades, o Partido procura destacar militantes para atuar
em diversas frentes. Adão Voloch é um deles; e isso desde o final da década de 40. Aliás,
Adão é um dos vários exemplos de militantes vindos de fora que são destacados para atuar
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em Campos, geralmente por um breve período. Outro exemplo seria o dos irmãos Barbeto
(Jacy e Jamir). Os dois eram ferroviários da Leopoldina e oriundos de Porto Novo do Cunha
(MG). Jacy atuaria não apenas entre os ferroviários, como também junto à Prefeitura, Cedae,
trabalhadores de usinas e trabalhadores rurais (não à toa seria o vereador mais votado das
Além disso, o Partido passa a precisar melhor as frentes a serem abertas e exploradas
por seus militantes e os grupos e categorias alvo de cada uma delas. Ao longo da década de
50 seriam inauguradas – algumas por mais de uma vez – as frentes da carestia (donas de
Haveria em paralelo a isso um reforço da ação de propaganda junto aos operários das
empresas, que seria feita através da venda de jornais, pichações, panfletos partidários,
“enfocando suas reivindicações imediatas, com entrega na saída das empresas, ou na hora do
almoço”. Como se pode notar as mesmas práticas experimentadas por Otávio Brandão na
década de 20 ainda demonstravam ser de grande eficácia (Gomes, 2000: 119) “Outra técnica
utilizada e mais eficiente era a conquista de postos nas diretorias sindicais por militantes do
dificultado pela repressão, especialmente nas usinas. Que o diga o vereador Adão Voloch,
que a despeito de sua posição, seria preso por desacato à autoridade quando fazia um
discurso junto a trabalhadores em Macaé. Que o diga também Elias Calejo, condenado por
mais de um ano pela Justiça, após ser preso na usina do Outeiro, acusado de “fazer
propaganda comunista”; como comprovação de tal ato criminoso foi encontrado em seu
poder “material de proganda”: folhetos, cadernos, livros etc. Calejo, segundo a polícia um
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Delso Gomes fora companheiro de Calejo e lembra que “Elias foi trabalhar em Outeiro
com a tarefa de construir uma base do Partido na empresa. Não conseguiu e acabou sendo
identificado e preso quando tentava articular uma greve para receber salários atrasados”
(idem: 100).
Além dele, a polícia apertava o cerco contra Orcilino Ribeiro dos Santos, segundo ela,
greves a partir dos primeiros anos da década de 50. Mas o curioso é que não há elementos
suficientes que comprovem que elas tenham sido resultado direto da ação do PCB. Na
verdade, o Partido estava longe de exercer a hegemonia no meio sindical da catetegoria dos
tipo de empresa, mas que só parecia prosperar nas Usinas de Queimado, Cupim e Mineiro. É
parte contra o “desconto de 27% dos salários a título de moradia”. Mas na Usina Santana,
pior do que isso, o pagamento estava em atraso. Como esperado a polícia reprimiu
greve toma aspecto violento com a invasão do escritório e paralisação da lavoura”. Várias
pessoas são presas. O detalhe é que a usina era de propriedade de João Cleofas, ministro da
Agricultura. Não se sabe bem porque seria chamada a polícia florestal para reprimir a greve
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“Comitê Municipal de Campos”, 589, DPS/APERJ.
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Getúlio Vargas, o “Pai dos pobres”... – com a preciosa ajuda da polícia local. Cabe destacar
salta aos olhos nesse episódio é a insistência de Delso Gomes, já então um militante do
PCB, em frisar que “o Sindicato [o STIAC), dirigido por reformistas, procura intermediar o
conflito, embora as greves tenham sido espontâneas, fruto das revoltas dos operários contra
as injustiças dos descontos”. Além do caráter espontâneo sugerido por Delso, que já seria
interessante por si só, o antigo militante deixa entrever com o seu “Sindicato, dirigido por
reformistas” que havia outras forças políticas atuando no seio do sindicalismo campista, e
agrário, em particular. Lembremos que um militante histórico, João Antônio Faria, do STR,
havia rompido com o PCB já por esses tempos. Além disso, quadros do PSB e PTB parecem
ter exercido considerável influência nesse meio. E demoraria ainda mais algum tempo até
De qualquer modo Delso reconhece que o trabalho do Partido junto às usinas é lento e
diminuto: “está[va] sem estrutura nas usinas; ficou a reboque dos acontecimentos” -
lamenta. Tanto que por essa época o Partido decidiria traçar “tarefas de construção
partidária” (implantação de células) nas Usinas de São José, Outeiro, Baixa Grande e São
Outro aspecto relevante presente na ação dos comunistas no episódio da greve da Usina
movimento grevista com a ida de comissões às redações de jornais da cidade para apresentar
a pauta dos grevistas, denúncias de violência e prisões arbitrárias. Além dos jornais algumas
comissões (como a dos diretores do sindicato dos padeiros) buscariam fortalecer a greve
inseridas num objetivo mais amplo de unificação das pautas dos diferentes segmentos do
movimento dos trabalhadores da época.23 E a greve da Usina Sapucaia parece ter sido o
No ano seguinte, em junho, seria a vez dos trabalhadores da Usina Cupim entrarem em
greve para exigir “o pagamento dos salários atrasados” e protestar “contra os altos preços
dos produtos em sua cooperativa de consumo”. Testemunha do evento, Delso Gomes declara
gerência chama a polícia e promete colocar os salários em dia”. E ele acrescenta um detalhe
para conciliar, como sempre”. Ao que parece, as bases sindicais estavam longe de serem
Seria também por volta de 1954 que o Partido começaria a dar maior atenção aos
23
Marcelo Badaró Mattos (1998) cita uma série de exemplos de greves “por solidariedade” nas décadas de
1950 e 1960.
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***
Além das usinas, a vigilância da polícia política apertava também nas ruas e esquinas do
militantes era o de fazer “propaganda bolchevique”. Em dois dias a polcía registrava esses
dois casos: o primeiro dizia respeito ao trio Ivan Tavares, Giuseppe Carielo e Jayme
na Cidade”. No dia seguinte, Eguiberto Amaral seria pego e preso, porque além de dar
“abrigo ao agitador comunista Wilson Carvalho”, tinha a audácia de guardar “em sua
Na mesma época, ficamos sabendo que a doméstica Olinda Gomes tinha “cor branca” e
olhos e cabelos igualmente “castanhos”. Além de ser “natural” de Campos. Sabemos de tudo
isso porque estava registrado em seu prontuário. Aquele documento policial que sempre era
preenchido assim que um infrator fosse detido e preso. Mas qual teria sido a infração da
PROPAGANDA COMUNISTA”.25
24
Idem.
25
Idem.
33
Uma das formas encontrada pelo Partido para tentar driblar o cerco policial passou a ser
do centro urbano.26
Esse parece ter sido o caso do Conselho de Paz instalado na residência do Sr. Antônio
Pavoni, “antigo operário da Fábrica de Tecidos”, que morava na rua da Conceição, “antigo
bairro da fazendinha, próximo ao Turf Club”. As iniciativas patrocinadas pelo Conselho são
concurso de Rainha do Conselho, que foi um dos pontos altos e que mobilizou todo o bairro,
“principalmente a juventude” – proposto pelo diretor artístico Moacir Gomes, que era ativo e
Mas a vida do PCB segue sendo muito difícil. Com exceção dos bairros do Turf, Guarús
tinha se perdido. Mesmo nos bairros acima o trabalho se resumia a ação de “comandos”
formados para operar a arrecadação de finanças por intermédio da venda de jornais nas
Juscelino Kubitchek, o Partido gozaria de uma espécie de trégua por parte da repressão
oficial. Os comunistas veriam aumentadas uma certa margem segura de manobras no meio
26
Que se registre que tal alternativa não era completamente eficaz, já que pude verificar vários registros nos
papéis da polícia dando conta do monitoramento de alguns desses encontros. Mas parece que não foi o caso de
todos, havia exceções.
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sindical e entre a sociedade civil como um todo. Até mesmo a legalização do PCB seria
novamente tentada – mas sem sucesso. De certa maneira alguns efeitos dessa conjuntura
significativo que seja exatamente nessa época que eles consigam a direção do poderoso
sindicato dos ferroviários da Leopoldina, elegendo a Chapa “Pau Puro”, formada pelo
O fôlego conseguido com o governo JK estava fazendo muito bem ao Partido. Tanto
assim que não demoraria muito para que também conseguisse conquistar a direção do
sindicato dos trabalhadores de usinas em 62, com a eleição de Almirante Costa como seu
Barbeto com o maior número de votos nas eleições municipais deste ano.
era bem melhor do que na década anterior. Em que pese o prosseguimento da repressão
violenta não só por parte da polícia local como por obra de alguns usineiros (como a
ocorrida contra a paralisação de fins de fevereiro de 1964 na Usina de Santa Cruz), as greves
mostram ser o principal instrumento de pressão e negociação dos operários das usinas. Não
obstante tal quadro, o STIAC consegue promover campanhas salariais bem sucedidas,
abarcando os filiados de todas as usinas, como em 1963, quando consegue obter a assinatura
dias, aquisição do açucar pelo preço de custo para os associados, moradias e “outras
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vantagens”. Pode-se indagar: e tudo isso foi efetivamente implementado? Mas essa
Mas o maior feito dos comunistas entre os trabalhadores “rurais” se daria não entre o
segmento assalariado, mas entre arrendatários e posseiros. Uma maior atuação do Partido
junto a eles começaria em 1953, com a expulsão violenta de posseiros numa fazenda em São
João da Barra. Uma série de prisões e torturas seria praticada. Comissões de posseiros se
Rio. A segunda foi acionar sua assessoria jurídica em favor dos posseiros. E claro, os
Boa parte desse trabalho iria frutificar anos depois no rumoroso caso do Imbé – cujo
ruído ecoaria até em Brasília, já capital da República. Uma área de terra devoluta que seria
região. Tal ocupação reuniria em seu início cerca de 200 famílias. Número que só cresceria
com o correr das disputas. Em junho de 1963 a fazenda seria desapropriada pelo governo
federal. Uma vitória não só para os posseiros como para a estratégia de inserção do Partido
junto aos “camponeses”. Mas isso já é um capítulo de uma impressionante história a ser
Primeiras considerações.
Ao contrário do que se supoem lendo alguns textos sobre a história dos comunistas no
Brasil, o caso da atuação do PCB em Campos demonstra que remonta há vários anos antes
de 1945 uma preocupação com a questão agrária: os esforços de Octávio Brandão (um dos
27
Tal ponto será detalhadamente por mim examinado num texto à parte. Embora para décadas posteriores ele
já tenha sido exaustivamente analisado por Motta (1987) e Neves (1997).
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dirigentes do Partido) e a atuação de figuras como Nina Arueira e Adão Pereira Nunes
capilaridade nos grandes e médios centros urbanos. E boa parte desse trabalho frutificaria
décadas depois na estrutura de um vigoroso movimento de base a partir dos bairros (Turf,
Guarus, Centro, Caju e Parque Rosário) e empresas (Fábrica de Tecidos, SAEC, Fundição
Mas é preciso destacar que a trajetória é marcada também por muitas “derrotas” e
“fracassos”. Muitos deles podendo ser atribuídos a uma forte repressão anti-comunista, de
intensidade bastante peculiar em Campos. Além da forte repressão, o Partido sofre com uma
característica estrutural de Campos: vários militantes saíram da cidade, não apenas por
perseguição política, mas pela própria necessidade de procurar emprego em outros lugares.
Trata-se aqui de um fluxo emigratório que tem como principal destino o Rio de Janeiro.
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