Você está na página 1de 30

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

27/10/2021

Número: 0737900-69.2021.8.07.0001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 16ª Vara Cível de Brasília
Última distribuição : 27/10/2021
Valor da causa: R$ 100.000,00
Assuntos: Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
FABIANO CONTARATO (REQUERENTE)
ROBERTA ARRECHEA (ADVOGADO)
OTAVIO OSCAR FAKHOURY (REQUERIDO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
107106549 27/10/2021 Petição Inicial Petição Inicial
15:14
107106552 27/10/2021 1. Pet Inicial Petição
15:14
107106553 27/10/2021 2. Procuração Procuração/Substabelecimento
15:14
107106555 27/10/2021 2.2 RG - Autor Documento de Identificação
15:14
107106556 27/10/2021 3. GuiaInicial0101446353 Guia
15:14
107106558 27/10/2021 4. Comprovante_2021-10-26 Comprovante de Pagamento de Custas
15:14
107106564 27/10/2021 5. CPI da Pandemia - 61ª audiência Vídeo
15:14
107106570 27/10/2021 6. CPI da Pandemia - 61ª audiência - cont. Vídeo
15:14
107106572 27/10/2021 7. Despacho 29892-2021 Outros Documentos
15:14
Em anexo.

Número do documento: 21102715140726100000099675428


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140726100000099675428
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106549 - Pág. 1
Excelentíssimo Juízo da _ª Vara Cível da Circunscrição Judiciária de Brasília, DF

Fabiano Contarato (“Requerente”), brasileiro, casado, Senador da República,


portador da Cédula de Identidade n.º 682.250 SSP/ES, regularmente inscrito no CPF/MF
sob o n.º 863.645.617-72, com endereço profissional em Praça dos Três Poderes, Palácio
do Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2, Ala Afonso Arinos, Gabinete 6,
Brasília/DF, CEP 70165-900, endereço eletrônico sen.fabianocontarato@senado.leg.br,
vem, por sua advogada signatária, com fundamento nos arts. 186, 187 e 927 da Lei n.º
10.406, de 10 de janeiro de 2002, e no art. 5º, inc. X, da Constituição Federal de 1988,
propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

contra Otávio Oscar Fakhoury (“Requerido”), brasileiro, casado, administrador de


empresas, portador da Cédula de Identidade nº 18.885.859-3 SSP/SP, regularmente
inscrito no CPF/MF sob o nº 112.009.508-52, residente e domiciliado na Rua Campos
Bicudo, nº 140, apto. 181, Jardim Europa, São Paulo/SP, CEP 04536-010, pelas razões
de fato e de direito a seguir aduzidas.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 1
I. CONTEXTO FÁTICO

1. O Requerente é Senador da República, de reputação ilibada, com atuação


destacada em prol dos Direitos Humanos, Sociais e, recentemente, na Comissão
Parlamentar de Inquérito da Pandemia (“CPI da Pandemia”), mesmo sem integrar na
qualidade de titular ou suplente aquele colegiado.

2. No dia 12/05/2021, o Requerente publicou em seu perfil na rede social Twitter


manifestação sobre o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência
Fábio Wajngarten, um dos primeiros a serem ouvidos na referida comissão, que
investiga ações e omissões do governo federal e a destinação de verbas da União para
Estados e Municípios na pandemia.

3. Na postagem, ao digitar a palavra “flagrancial”, relativa à flagrante, o Requerente


escreveu “fragrancial”, palavra que não existe. Esse mero erro material inspirou o
Requerido a compartilhar comentário homofóbico, alusivo à ideia de fragrância,
conforme imagem reproduzida abaixo:

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 2
4. Como se observa, o Requerente escreveu que Wajngarten deveria ser preso e que,
no depoimento, configurou-se “estado fragrancial”. Aproveitando-se do erro de
ortografia cometido, o Requerido retuitou a postagem com o seguinte comentário: “O
delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma
pessoa ali daquele plenário... Quem seria o ‘perfumado’ que lhe (sic) cativou?”

5. A declaração homofóbica promovida pelo Requerido foi utilizada para difamar o


Requerente, como se a orientação sexual depreciasse sua imagem e reputação.

6. Importante salientar que o Requerido é investigado no Inquérito 4.781 do


Supremo Tribunal Federal, conhecido como inquérito das fake news, o qual apura a
divulgação de informações falsas e ameaças contra integrantes da Corte. Por ser
apontado como financiador dos canais de disseminação de notícias falsas, a CPI da
Covid convocou-o para prestar depoimento em 30/09/2021.

7. Durante a sessão em que o Requerido foi o depoente, o Requerente revelou ter


sofrido o ataque homofóbico retratado nesta ação.

8. Ao pedir para falar sobre o ocorrido, o Requerente foi convidado pelo senador
Omar Aziz a ocupar interinamente o cargo de presidente da comissão. Foi concedido
ao Requerente tal lugar temporário justamente para dar destaque à fala, diante da
importância da questão.

9. Neste sentido, convém transcrever as notas taquigráficas da 61ª Reunião, com o


discurso do Requerente contra a frase homofóbica postada pelo Requerido, feito a partir
da cadeira da presidência da referida CPI, com a voz embargada:

“O SR. PRESIDENTE (Fabiano Contarato.


PDT/CIDADANIA/REDE/REDE - ES) – Senhoras e senhores, colegas,
muitas pessoas quando eu tomei posse como Senador da República me
perguntavam se esta Casa me respeitava, se os meus colegas me respeitavam,
e eu nunca titubeei, eu sempre falei: todos têm um respeito, um carinho,

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 3
admiração e deferência por mim, como devem ter por qualquer pessoa.
Mas eu queria falar para o depoente – eu não posso perder esta oportunidade
–, porque, Sr. Otávio, dinheiro não compra dignidade, dinheiro não compra
caráter, cursos não compram humildade, compaixão, caridade. Dinheiro? Eu
sempre pergunto qual o tipo de imagem que eu vou deixar para os meus filhos,
qual o tipo de pai que eu vou deixar para os meus filhos. Eu amo a Mariana,
que Deus me deu, Deus nos deu, a mim e ao meu esposo, com muito orgulho.
E não pense que para mim é fácil falar isso aqui, me expor; não é fácil. Hoje
eu sei muito bem o que é o local de fala. Mas que tipo de imagem eu deixo
para os meus filhos? Que tipo de imagem, enquanto pai – o senhor é pai? O
senhor é casado? –, o senhor deixa pros seus filhos?
O senhor vem aqui a esta Comissão e fala que pauta sua vida observando os
princípios da legalidade e da moralidade – aliás, isso é uma premissa do art.
37 –, e eu queria que a Secretaria exibisse duas manifestações do senhor. Por
gentileza.
A primeira...
Antes, por favor... (Pausa.)
Eu vou ler aqui então, por gentileza.
O senhor tuitou o seguinte: "Recebi com naturalidade e tranquilidade a
convocação para depor na CPI da covid na próxima quinta-feira [..].
Reafirmarei aos Senadores o que amigos e ex-colegas de mercado financeiro
já sabem: que minha conduta sempre foi e continuará sendo pautada pela
transparência, legalidade e moralidade" – fala essa que o senhor hoje
reproduziu aqui ipsis litteris.
E aí o senhor pegou um Twitter meu que, por um erro de grafia, de rede social,
o senhor fala isso. E aí é o que mais me admira, porque o senhor não é um
adolescente – o senhor não é um adolescente –, o senhor é casado, o senhor
tem filhos. A sua família não é melhor do que a minha. E o senhor diz o
seguinte: "O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no
perfume de alguma pessoa ali daquele plenário...".
Exiba, exiba, por favor: "O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse
pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário... Quem seria o
"perfumado" que lhe cativou?".
Eu, sinceramente, Sr. Presidente... E me perdoe, Senador Omar, mas eu não
consigo entender o que leva um ser humano que tem maioridade – e a
maioridade é de 18 anos –, o que leva o senhor...? O senhor tem filhos! Qual
imagem enquanto pai, enquanto esposo, enquanto cidadão o senhor vai passar
para os seus filhos? É essa? Isso é obedecer ao princípio da legalidade? Porque
o Supremo Tribunal Federal, tardiamente, o mesmo Supremo que o senhor
defende para extinguir, criminalizou a homofobia, equiparando-a ao crime de
racismo, aliás um dos poucos crimes que são considerados inafiançáveis e
imprescritíveis. O senhor está obedecendo ao princípio da moralidade? Qual
o conceito de moralidade do senhor? Qual o conceito de legalidade? Qual a
imagem que o senhor vai deixar para os seus filhos?
O senhor pode ter todo o dinheiro do mundo... Eu tenho minha vida modesta
e com muito orgulho, cuidando da minha família, com orgulho, com meu
esposo e com os meus dois filhos – Gabriel, de sete anos, e Mariana, que fez

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 4
dois –, mas eu quero que eles tenham a certeza de que eu lutei e vou continuar
lutando para reduzir essa desigualdade que há no Brasil. Porque, se o senhor
obedecesse ao princípio da legalidade, o senhor saberia que no art. 3º, inciso
IV, da Constituição Federal está expresso que um dos princípios, que um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil é promover o bem-estar de
todos e abolir toda e qualquer forma de descriminação – toda e qualquer forma
de discriminação!
O senhor não é um adolescente, então eu não poderia deixar de me pronunciar.
O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar
PODEMOS/PSDB/PSL/PODEMOS - ES) – Senador Contarato...
O SR. PRESIDENTE (Fabiano Contarato. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE
- ES) – Por gentileza.
O SR. MARCOS DO VAL (Bloco Parlamentar
PODEMOS/PSDB/PSL/PODEMOS - ES. Pela ordem.) – Desculpa o
desabafo, mas lamentável ler isso. Lamentável.
E digo para o senhor que está aí à frente, que disse que tinha orgulho de ser
brasileiro: eu falo que eu tenho vergonha de ter você como brasileiro depois
disso daí.
Senador Contarato, meus sentimentos e conte comigo sempre na luta contra
pessoas que agem com esse princípio baixo e vergonhoso.
O SR. PRESIDENTE (Fabiano Contarato. PDT/CIDADANIA/REDE/REDE
- ES) – Obrigado.
E desculpa mais uma vez estar aqui, Sr. Presidente Omar; perdão. E obrigado
pela oportunidade de estar falando, Senador Renan. Eu só queria falar para
vocês que é muito difícil a gente ter...
E eu queria que o depoente prestasse um pouco de atenção, por gentileza,
porque eu tenho todo o respeito ao senhor, porque aprendi pelos meus pais –
que era um motorista de ônibus, e minha mãe, semianalfabeta – que a gente
tem que respeitar as pessoas. Eu aprendi, Sr. Otávio, que a orientação sexual
não define o caráter, que a cor da pele não define o caráter, que o pode
aquisitivo não define o caráter. Eu aprendi isso. E eu fico muito triste, sabe
por quê? Porque o senhor é o típico ser humano que passa uma imagem... E
eu fico me colocando no lugar dos seus filhos; isso vai ficar registrado aqui
no Senado Federal ad infinitum. E o senhor não sabe como é difícil para
mim expor a mim, a minha família e meus filhos aqui num momento tão
delicado como esse, mas é necessário isso para que outros não sofram o
que eu estou sofrendo, porque, se o senhor faz isso comigo, como Senador
da República, imagine num Brasil que mais mata a população
LGBTQIA+. Então o mínimo que o senhor deveria fazer era pedir desculpas
não só a mim, mas a toda a população LGBTQIA+; a toda a população.
Assim como Martin Luther King teve um sonho, eu também tenho um
sonho. Eu sonho com um dia em que eu não vou ser julgado por minha
orientação sexual. Eu sonho com um dia em que meus filhos não serão
julgados por serem negros. Eu sonho com um dia em que minha irmã não vai
ser julgada por ser mulher e que o meu pai não será o julgado por ser idoso.
Esse dia ainda não chegou, porque o senhor é o típico da pessoa que retrata
muito bem esse Presidente da República, que fala na família, na família

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 5
tradicional, mas a minha família não é pior do que a sua, porque a mesma
certidão de casamento que o senhor tem eu também tenho; que fala na Pátria,
que fala na legalidade, que fala na moralidade, mas o senhor é o principal
violador dessa legalidade e moralidade; que fala em Deus acima de todos.
Deus está no meio de nós.
Então, eu fico assim... Eu não poderia deixar de fazer esse registro e de
requerer à Presidência que seja remetida cópia dessas postagens, cópias dessas
postagens, Sr. Senador Omar, à Polícia Legislativa para que apure o crime de
homofobia praticado por esse depoente aqui, na certeza de que nada... Não
vai ser a responsabilidade penal, não vai ser responsabilidade civil, não
vai ser nenhuma responsabilidade administrativa que vai tirar a dor que
o senhor me causa, que o senhor me ocasionou. O senhor nunca me viu, o
senhor nunca conheceu minha família, o senhor não conhece meus filhos,
mas nada lhe dá direito de fazer o que o senhor fez, porque essa dor é
incomensurável. Não tem dinheiro que pague isso.
Mas eu espero... Eu estou expondo mais uma vez minha família, meus
filhos, meu esposo para que outros não passem pelo que eu passei.
Muito obrigado, Sr. Presidente”.

10. Anexo o vídeo do momento descrito acima.

11. Findo o discurso, o Requerente recebeu apoio de senadores de amplo espectro


ideológico, do governo à oposição. O Requerido, então, pediu desculpas “a quem se
sentiu ofendido”.

12. Na ocasião, o Requerente pediu que a polícia legislativa investigue o Requerido


por homofobia. O vice-presidente da comissão, Senador Ranfolfe Rodrigues, requereu
que o Ministério Público Federal seja informado sobre ocorrência de eventual crime.
Cabe destacar que o Requerido possui quase 150 mil seguidores na rede social Twitter,
em que foi veiculada a imagem objeto da presente demanda.

13. Diante da grande repercussão nacional em torno do ocorrido, foi publicada uma
matéria pelo portal G1, sob o título: “Fabiano Contarato recebe o Fantástico e fala com
orgulho da família: ‘A minha vida toda me senti culpado”1.

1
Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/10/03/fabiano-contarato-recebe-o-fantastico-e-fala-
com-orgulho-da-familia-a-minha-vida-toda-me-senti-culpado.ghtml.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 6
14. Em seu teor, a matéria apresenta um pouco da vida em família do Requerente,
que possui um esposo, com quem é casado há 10 anos, e dois filhos: Gabriel, adotado
em 2017, e Mariana, adotada em 2020.

15. O Requerente conta que, quando chegou ao Senado naquela quinta-feira, ainda
não sabia ao certo se deveria ou não expor a si mesmo e a sua família. Contudo, ressalta
que, se tiver conseguido, com sua fala, mudar o comportamento de qualquer pessoa que
tem qualquer tipo de preconceito, ficará mais feliz – não só como parlamentar, mas
como ser humano.

16. Em sua entrevista, o Requerente afirmou que, quando bem mais jovem, chegou
a duvidar que pudesse ser feliz assim algum dia. Seguiu em frente, compreendeu-se mais
e viu que não havia nada para Deus mudar. Mas essa trajetória foi dolorosa, foi
necessário romper diversas barreiras, barreiras que são reforçadas com comentários
como os do Requerido.

17. Ainda na entrevista concedida, cita uma fala que demonstra a busca da tutela da
dignidade pelos homossexuais: “as pessoas perguntam quem somos nós. Nós somos
seus jornalistas, seus médicos, seus fisioterapeutas, seus políticos, seus professores, seus
pedreiros. Nós vivemos com vocês, nós cuidamos de vocês, nós amamos vocês. Apenas
pedimos que nos deixem viver com dignidade”.

18. Assim, o que se busca é a efetivação deste fundamento da República Federativa


do Brasil: a dignidade do ser humano, independentemente da forma como cada um
expresse a sua sexualidade.

19. A postagem do Requerido revela, em pleno século XXI, uma repugnante forma
de discriminação, qual seja, o preconceito quanto à orientação sexual do ser humano.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 7
20. Desafortunadamente, em 2020, o Brasil registrou 237 (duzentos e trinta e sete)
mortes violentas relacionadas à sua orientação sexual ou identidade de gênero, segundo
dados do Grupo Gay da Bahia – GGB, que há 41 anos divulga o Relatório Anual de
Mortes Violentas de LGBTI no Brasil.

21. Tal grupo social segue sofrendo agressões na sociedade, nas ruas e nos locais de
trabalho, sob diversas formas (moral, social, religiosa, física, entre outras), sendo que o
Brasil integra o triste ranking dos campeões mundiais de assassinatos motivados por
homofobia.

22. Ora, o Requerido, ao dispor sobre a condição sexual do Requerente, fá-lo de


forma pejorativa. Profere palavras com a finalidade de atingir a honra do Requerente,
com o nítido propósito de difamação. Tal fato é lamentável.

23. No caso em tela, conforme narrado, a agressão moral cometida pelo Requerido
foi reconhecida nacionalmente e representa hipótese de violação de direito de
personalidade. Obviamente, seu comportamento retrógrado é incompatível com as
balizas constitucionais de proteção à dignidade e à honra, bem como dos mandamentos
de não discriminação.

24. Todavia, em que pese a notoriedade do fato, a retratação do Requerido se limitou


a um pedido de desculpas, proferido ao final do discurso do Requerente na comissão,
sem o condão de reparar devidamente o dano à personalidade, à dignidade e à honra do
Requerente.

25. Assim, constatado o dano cometido pelo Requerido, é decorrência lógica o


reconhecimento do dever de indenização dentro do contexto narrado, o que justifica o
ajuizamento da presente medida, a fim de que o dano moral perpetrado seja devidamente
compensado e o Requerido, devidamente punido e advertido de seu comportamento.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 8
II. DA COMPETÊNCIA

26. Cumpre ao Requerente destacar a competência deste Tribunal de Justiça para


processamento e julgamento do presente feito.

27. O entendimento firmado pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça reconhece


que a competência para apurar a ocorrência de atos ou fatos ilícitos praticados através
da internet é do foro do ofendido. Veja-se:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE


INCOMPETÊNCIA. USO NÃO AUTORIZADO DO NOME.
DIVULGAÇÃO DO EVENTO NA 'INTERNET'. FORO
COMPETENTE. DOMICÍLIO DO TITULAR DO DIREITO
VIOLADO. PRECEDENTES. 1. Utilização do nome "Maria Bonita"
em evento com fins comerciais por Shopping Center localizado no
Município de Vila Velha/ES, com divulgação pela Internet. 2. Fixação
da competência no domicílio do titular do direito violado. 3.
Precedentes do STJ. 4. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp
1.347.097/SE, Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
julgado em 03/04/2014, DJe de 10/04/2014)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. OFENSAS REALIZADA EM
REDE SOCIAL. FACEBOOK. FORO DO LOCAL DA
REPERCUSSÃO DAS OFENSAS. LOCAL DO ILÍCITO OU DO
DOMICÍLIO DO AUTOR. PRECEDENTES.1. É firme a
jurisprudência desta Corte no sentido de que, em hipóteses de
ampla divulgação do ato, inclusive pela internet, como no caso, a
competência é do foro do domicílio da vítima do ato ilícito, que é a
pessoa que teve o seu direito violado2.

28. Destarte, não restam dúvidas acerca da competência deste r. Juízo para processar
e julgar a presente demanda.

2
(AgRg no AREsp 775.948/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 26/04/2016, DJe 29/04/2016). 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito de Aiuruica
- MG. (CC 154.928/SP, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, DJe 10/09/2019).

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 9
III. MÉRITO

III.1. RESPONSABILIDADE CIVIL. REPARAÇÃO DE DANOS.

29. Delineados os contornos fáticos da demanda, demonstram-se a seguir os


fundamentos jurídicos que ensejam a inequívoca ocorrência de dano moral proveniente
do ato discriminatório do Requerido.

30. De início, importante destacar que, apesar de ser enquadrado como crime de
racismo, em virtude da criminalização da homofobia e da transfobia reconhecida pelo
Supremo Tribunal Federal em decisão de junho de 2019 no âmbito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão nº 26, o ato preconceituoso também é passível de
responsabilização no campo civil.

31. A obrigação de não causar danos a outrem – seja de ordem patrimonial, seja de
ordem extrapatrimonial – decorre das relações civis de uma forma geral, sendo certo
que o dano causado por ato ilícito dá ensejo a um dever jurídico sucessivo, qual seja, de
reparar o dano causado. Nesse sentido, preconizam o art. 5º, V e X, da Constituição da
República3, e, como maior referência infraconstitucional, os arts. 186, 187 e 927 do
diploma civilista pátrio4.

32. A referida legislação civil considera ato ilícito aquele praticado em desacordo

3
Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 5º […] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
4
Código Civil (Lei n. 10.406, de 2002)
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
[...]
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 10
com a norma, de modo a violar direito subjetivo alheio, causando-lhe prejuízo e o
consequente dever de reparar.

33. Conforme demonstrado pelos fatos narrados, o dano moral fica perfeitamente
caracterizado pelo dano sofrido pelo Requerido ao ter sofrido grave constrangimento
discriminatório, em ambiente virtual, gerando o dever de indenização.

34. No presente caso, o Requerido, numa postagem em sua rede social, praticou uma
invasão indevida na privacidade inerente à orientação sexual do Requerente, com
evidente propósito de exposição de sua sexualidade, de forma jocosa, a pessoas que têm
preconceitos.

35. No campo “Bio” da rede social Twitter, destinado a descrever o perfil do usuário,
o Requerido declara: “Deus, Família, Pátria! Perfil do empresário e investidor Otávio
Fakhoury. Conservador, antiglobalista, anticomunista. Presidente do @ptb14 no Estado
de SP”5.

36. Por óbvio, grande parte de seus seguidores nessa rede social partilham de valores
conservadores, como ele mesmo se denomina.

37. Com efeito, embora seja livre a manifestação de pensamento, o Requerido


certamente ultrapassou os limites razoáveis e constitucionais do exercício de seu direito
ao externalizar conteúdo nitidamente homofóbico, afetando significativamente a
dignidade do Requerente.

38. Nesses casos, não há que se falar em liberdade de expressão, diante da clara
incitação, induzimento ou prática de discriminação ou preconceito. A liberdade de
expressão e manifestação conferida pelo texto constitucional certamente encontra limite

5
https://twitter.com/opropriofaka. Acesso em 21.10.2021.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 11
na ofensa a outros direitos fundamentais igualmente assegurados, como é o caso da
dignidade e da honra.

39. Conforme anotado pelo Min. Dias Toffoli, por ocasião do julgamento da Ação
Originária n. 1390, “de fato, é livre a manifestação do pensamento. No entanto, essa
liberdade não é ilimitada nem absoluta, devendo observar os demais direitos
fundamentais, como a honra, a intimidade e a privacidade”.

40. Assim, a situação gerada pela ação do Requerido foi extremamente


constrangedora para o Requerente, pois todas as palavras ditas tinham uma intenção:
depreciar a imagem e a reputação do autor a partir de declarações homofóbicas.

41. O Requerido se valeu de um erro ortográfico com alegado intuito jocoso, no


evidente afã de atacar a opção sexual do Requerente, como se isso lhe tornasse uma
pessoa pior, perante os outros e perante a si mesmo. Vale observar que a declaração tem
o condão exclusivamente ofensivo: nada agrega ao exercício da atividade parlamentar,
uma vez que pretende unicamente diminuí-lo enquanto pessoa.

42. É odiosa a discriminação por orientação sexual. A conduta de chacota e


constrangimento infringe direitos da personalidade do Requerente e transgride direitos
fundamentais previstos na Constituição Federal, como a violação da honra e da imagem,
além de ferir o princípio da dignidade da pessoa humana.

43. Não sem razão, a ampla e pacífica jurisprudência das cortes superiores do país
reconhece o direito à igualdade e dignidade dos casais homoafetivos. Recentemente, o
Supremo Tribunal Federal reconheceu que homofobia e transfobia constituem espécies
do gênero racismo, na medida em que racismo é toda ideologia que pregue a
superioridade/inferioridade de um grupo relativamente a outro (e a homofobia e a
transfobia implicam necessariamente na inferiorização da população LGBT

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 12
relativamente a pessoas heterossexuais cisgêneras – que se identificam com o próprio
gênero), consoante reconhecido por esta Suprema Corte no HC n.º 82.424-4/RS.

44. Em que pese os avanços oriundos dos entendimentos jurisprudenciais, a


sociedade brasileira ainda adota, infelizmente, postura discriminatória em face das
populações homoafetivas, como gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros.
Neste sentido, a doutrina, ao lecionar sobre o dano moral, destaca:

“Assim como o homem tem direito à integridade de seu corpo e de seu


patrimônio econômico, tem-no igualmente à indenidade do seu amor-
próprio (consciência do próprio valor moral e social, ou da própria
dignidade ou decoro) e do seu patrimônio moral” (CAHALI, Yussef Said.
Dano Moral. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 288)

45. O princípio da dignidade humana refere-se a aspecto de ordem interna do ser


humano cuja violação é capaz de afetar seu estado psicológico, pela dor, sentimento de
humilhação ou qualquer outro constrangimento capaz de repercutir na esfera da sua
honra subjetiva ou subjetiva.

46. O Requerente não tem receio de seu posicionamento em relação à sexualidade,


sendo, conforme destacado pelo Requerido, um “homossexual assumido”, porque hoje
sabe que não existem diferenças entre as pessoas.

47. Contudo, ninguém possui o direito de dar conotação à orientação sexual de uma
pessoa como se fosse um fato negativo, abominável, ainda mais utilizando essa prática
para constranger uma figura política no cenário nacional frente a conservadores e
cristãos que partilham de suas ideias preconceituosas.

48. Assim, o Requerido proferiu palavras ofensivas e homofóbicas, invadindo e


expondo indevidamente a intimidade e a honra do autor, direitos protegidos pelo inciso
X, art. 5º, da Constituição Federal.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 13
49. O Judiciário tem-se posicionado de forma vanguardista contra o conservadorismo
ao assegurar igualdade substantiva aos que adotam orientação sexual diversa do “padrão
modelar”, cumprindo a promessa constitucional de igualdade e de organização da
sociedade com vistas à felicidade. Foi o caso do reconhecimento das famílias
homoafetivas, há 10 anos, e do fim da restrição à doação de sangue por homens gays,
no ano passado.

50. Aliás, importante ainda consignar que, em casos análogos, a jurisprudência pátria
tem sido pacífica quanto à configuração do dano moral em virtude de constrangimento
homofóbico:

RECURSO ORDINÁRIO. DANO MORAL. HOMOFOBIA.


CONFIGURAÇÃO. O dano moral é aquele que causa lesão à esfera
íntima da pessoa, aos seus valores, suas concepções e crenças, a sua
integridade como ser humano. A conduta homofóbica é ato atentatório
ao art. 3º, IV da Carta Política, o qual descreve como objetivo
fundamental da República Federativa do Brasil: promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação. Acrescento que atualmente a homofobia -
preconceito contra os homossexuais - está equiparada às demais
discriminações tuteladas pela Lei nº 7.716/89, que define o crime de racismo.
A prova testemunhal produzida nos autos evidenciou o comportamento
homofóbico do Gerente, consubstanciado em brincadeiras e comentários de
mau gosto, atitudes suficientes à comprovação das alegações obreiras e ao
deferimento da indenização perseguida. Recurso provido, no aspecto.
(Processo: RO - 0001230-63.2011.5.06.0143 (01428-2009-001-06-00-0),
Redator: Eneida Melo Correia de Araújo, Data de julgamento: 20/06/2012,
Segunda Turma, Data de publicação: 28/06/2012) (TRT-6 - RO:
00012306320115060143, Data de Julgamento: 20/06/2012, Segunda Turma,
Data de Publicação: 28/06/2012)

51. Pelo exposto, resta cristalino que o caso em tela releva um ato ofensivo à
dignidade do Requerente, o que enseja a reparação por danos morais.

III.2. DO QUANTUM DEVIDO

52. Demonstrado que o fato praticado pelo Requerido configura dano moral, pois se
tratou de preconceito em razão de orientação sexual, a indenização por dano moral deve

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 14
representar-se para a vítima capaz de amenizar o abalo sofrido e de infligir ao causador
sanção e alerta, para que não volte a repetir o ato.

53. Assim, deverá ser arbitrado valor que atenda ao binômio pedagógico-punitivo e
que seja capaz de compensar a situação constrangedora vivida pelo Requerente, de
modo que não seja tamanho que o enriqueça ou que impeça o pagamento e não seja
mínimo a ponto de não surtir qualquer dos efeitos relativos ao instituto do dano moral.

54. Na quantificação do valor a ser arbitrado, as peculiaridades do caso concreto


devem ser observadas.

55. Trata-se de questão que envolve homofobia, figura política, empresário


conhecido nacionalmente e publicação em rede social de ampla divulgação. Assim,
deve-se levar em consideração a gravidade do fato, a dor da vítima, os reflexos pessoais
e sociais do ato, a extensão das ofensas, as condições dos envolvidos, os meios utilizados
etc.

56. Em primeiro lugar, a homofobia deve ser amplamente combatida em nosso país.
Atualmente, o preconceito contra os homossexuais está equiparado às demais
discriminações tuteladas pela Lei nº 7.716/89, que define o crime de racismo.

57. Com a decisão do STF de 2019, o Brasil se tornou o 43º país a criminalizar a
homofobia, segundo o relatório “Homofobia Patrocinada pelo Estado”, elaborado pela
Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais
(Ilga).

58. Assim, se na seara penal, norteada pelos princípios da intervenção mínima e da


ultima ratio, a conduta de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em
razão da orientação da pessoa configura crime, na seara civil tal ação, sem dúvidas,

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 15
representa um ato ilícito que deve ser repreendido, merecendo reprovação rigorosa.

59. Tratando-se de dano considerado grave por nosso ordenamento jurídico, cuja
tutela envolve diversos campos do direito, a quantia deve ser fixada proporcionalmente
à ofensa sofrida.

60. Ademais, deve ser ponderado que o Requerente, como parlamentar, é figura
pública cujas atuações, em virtude do cargo que ocupa, só são passíveis de desaceitação
e críticas, desde que, frise-se, não firam direitos fundamentais.

61. Oportuno destacar também a vulnerabilidade da vítima no caso, em virtude da


ampla visibilidade da declaração homofóbica, feita por meio de postagem no Twitter –
onde só o perfil do Requerido conta com mais de 148 mil seguidores.

62. A própria criminalização da homofobia prevê que, se houver divulgação ampla


de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena
será majorada. Isso porque o potencial lesivo da conduta aumenta exponencialmente
nesses casos, já que a vítima passa a ser alvo de outras inúmeras pessoas.

63. Deve-se levar em conta, ainda, a situação econômica do Requerido, que dispõe
de boa situação financeira. É empresário, vice-presidente do Instituto Força Brasil,
presidente do diretório do PTB em São Paulo, além de já ter sido gestor do banco
Lehman Brothers, nos Estados Unidos.

64. Ademais, a conduta do Requerido não foi a primeira em que extrapolou os seus
direitos nas redes sociais. Conforme narrado, ele é investigado no inquérito do STF que
apura a propagação de fake news, já tendo o Min. Alexandre de Morais, inclusive,
determinado o bloqueio de sua conta no Twitter. Esse comportamento lesivo é reiterado
e deve ser combatido.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 16
65. Atendendo a tais critérios, a fim de atender o caráter punitivo e pedagógico da
condenação, o Requerido deve ser condenado ao pagamento de uma indenização por
danos morais, em importe mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

IV. CONCLUSÃO E PEDIDOS

66. Por essas razões, pleiteia:

a) A citação do Requerido para, querendo, apresentar contestação no prazo legal,


sob pena de aplicação dos efeitos da revelia, nos termos do art. 344 do Código de
Processo Civil;

b) No mérito, seja a presente ação julgada totalmente procedente, condenando o


Requerido a indenizar o Requerente, a título de danos morais, no importe de R$
100.000,00 (cem mil reais), tendo em vista a demonstração do alcance da ofensa, o
intuito exclusivo de promover discriminação e a fim de que haja a devida compensação
do Requerente e a devida punição do Requerido, além de ser medida que visa a não
reiteração da conduta;

c) Ainda, requer seja determinado ao Requerido obrigação de fazer consistente na


publicação em seu perfil na rede social Twitter (URL: https://twitter.com/opropriofaka),
do inteiro teor da sentença de procedência a ser proferida no presente feito, de modo a
reparar publicamente o dano causado para o mesmo público que foi exposto à ofensa;

d) A condenação do Requerido ao pagamento das custas processuais e dos


honorários advocatícios de sucumbência, fixados nos termos do art. 85, § 2º, do Código
de Processo Civil.

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 17
e) Requer-se, por fim, que todas as publicações e comunicações referentes aos
presentes autos sejam realizadas em nome da advogada Roberta Arrechea,
regularmente inscrita na OAB/DF sob o n. 63.264, sob pena de nulidade, nos termos
do art. 272, §§ 2º e 5º, da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Manifesta o interesse na audiência conciliatória, nos termos do art. 319, VII, do


CPC.

Nestes termos, pede deferimento.


Brasília - DF, terça-feira, 26 de outubro de 2021

Roberta Arrechea
OAB/DF n. 63.264

Número do documento: 21102715140733600000099675430


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140733600000099675430
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106552 - Pág. 18
Número do documento: 21102715140743800000099675431
https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140743800000099675431
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106553 - Pág. 1
Número do documento: 21102715140757500000099675433
https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140757500000099675433
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106555 - Pág. 1
O pagamento desta GRU Cobrança poderá ser efetuado em qualquer banco.
Para pagamento via Internet banking ou caixa eletrônico, utilize a oção pagamento de títulos.
Instruções:
1. Imprima em impressora jato de tinta ou laser em qualidade normal ou alta. Não use modo econômico.
2. Utilize papel A4 (210 x 297 mm) e margens mínimas à esquerda e à direita do formulário.
3. Corte na linha indicada. Não rasure, não risque, não fure e não dobre a região onde se encontra o código de barras.
4. Para pagamento via Internet banking ou caixa eletrônico, utilize a opção pagamento de títulos.
Via do Processo
Guia de Custas e Emolumentos / Guia Inicial - 1ª Instância
001-9 00190.00009 02941.725018 01446.353177 1 87930000057503
Cedente Vencimento Valor do documento
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios 03/11/2021 R$ 575,03
Processo Data do documento Número da Guia
25/10/2021 29417250101446353
Competência/Juízo
Cível
Circunscrição / Forum
BRASÍLIA / Fórum Des. Milton Sebastião Barbosa e Palácio da Justiça
Nome da Petição
8154 - PROCEDIMENTO COMUM
Polo Ativo
FABIANO CONTARATO
Polo Passivo
OTÁVIO OSCAR FAKHOURY
Valor da Causa
R$ 100.000,00
Distribuidor:8,74 / Mandados:7,20 / Ofícios:7,20 / Contador:10,76 / Custas:541,13
Válida até 03/11/2021 ressalvados os prazos recursais.
Os itens cobrados estão de acordo com as tabelas do Decreto-Lei nº 115/67 e do § 2º do artigo 191 do 04008593195 18:34
Provimento Geral da Corregedoria.
VALOR MÁXIMO DE CUSTAS INICIAIS ATINGIDO.
* 1 RUF
Sacado / Pago Por
FABIANO CONTARATO - CPF/CNPJ: 86364561772

corte na linha pontilhada

Ficha de Compensação
Guia de Custas e Emolumentos / Guia Inicial - 1ª Instância
001-9 00190.00009 02941.725018 01446.353177 1 87930000057503
Local do pagamento Vencimento
Pagável em qualquer banco. 03/11/2021
Cedente Agência/Código do cendente
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios 4200/333050
Praça municipal, Lote 01 - CEP 70094-900 - Brasília/DF CNPJ: 00531954/0001-20
Data do documento Número do documento Espécie DOC Aceite Data process. Nosso Número
25/10/2021 29417250101446353 N 25/10/2021 29417250101446353
Uso do Banco Carteira Espécie Quantidade x Valor (=) Valor do documento
17 R$ R$ 575,03
Instruções (-) Desconto/Abatimento
********************
1. Senhor(a) caixa, por favor não receba este documento após a data de
********************
vencimento. (+) Juros/Multa
2. Não receber por depósito. ********************
3. SR. CAIXA: NÃO RECEBER EM CHEQUE.
4. Verifique se o pagamento do Preparo Recursal foi efetuado. ********************
(=) Valor Cobrado
R$ 575,03
Sacado
FABIANO CONTARATO - CPF/CNPJ: 86364561772
Sacador/Avalista Autenticação mecânica - Ficha de compensação

Número do documento: 21102715140768600000099675434


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140768600000099675434
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106556 - Pág. 1
Número do documento: 21102715140777600000099677636
https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140777600000099677636
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:07
Num. 107106558 - Pág. 1
27/10/2021 15:09
5. CPI da Pandemia - 61ª audiência

Tipo de documento: Vídeo


Descrição do documento: 5. CPI da Pandemia - 61ª audiência
Id: 107106564
Data da assinatura: 27/10/2021

Atenção

Por motivo técnico, este documento não pode ser adicionado à compilação selecionada pelo usuário. Todavia, seu conteúdo pode
ser acessado na página 'Detalhes do processo' na aba 'Processos', agrupador 'Documentos'.

Motivo: O formato do arquivo é incompatível com PDF. Formato do arquivo: video/mp4

Número do documento: 21102715140786100000099677640


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140786100000099677640
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:08
Num. 107106564 - Pág. 1
27/10/2021 15:09
6. CPI da Pandemia - 61ª audiência - cont.

Tipo de documento: Vídeo


Descrição do documento: 6. CPI da Pandemia - 61ª audiência - cont.
Id: 107106570
Data da assinatura: 27/10/2021

Atenção

Por motivo técnico, este documento não pode ser adicionado à compilação selecionada pelo usuário. Todavia, seu conteúdo pode
ser acessado na página 'Detalhes do processo' na aba 'Processos', agrupador 'Documentos'.

Motivo: O formato do arquivo é incompatível com PDF. Formato do arquivo: video/mp4

Número do documento: 21102715140884200000099677645


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140884200000099677645
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:09
Num. 107106570 - Pág. 1
PR-DF-00095779/2021

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA - DISTRITO FEDERAL

Despacho nº 29892/2021

Assinado com login e senha por MARINA SELOS FERREIRA, em 07/10/2021 21:18. Para verificar a autenticidade acesse
Referência: NF 1.16.000.002698/2021-15

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave F6157988.0B4E4A69.86A1A757.6EA34E8F


Cuida-se de Notícia de Fato autuada a partir do Ofício nº 2614/2021
encaminhado pelo Exmo. Senador Omar Aziz, Presidente da CPI da Pandemia, dando
conhecimento a este Parquet de possível prática de crime de homofobia ou preconceito
homofóbico, em razão de post de autoria de Otávio Oscar Fakhoury.
Do que consta, após postagem realizada pelo Senador Fabiano Contarato,
trocando "estado flagrancial" por "estado fragrancial", Otávio Oscaar Fakhoury teria feito o
seguinte comentário:

O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume


de alguma pessoa ali daquele plenário...
Quem seria o 'perfumado' que lhe cativou?

Quando do depoimento de Otávio Oscar Fakhoury na CPI da Pandemia, no


último 30.09.2021, ele não negou a autoria do post.
Ainda, do que consta, o post dataria de 12.5.2021.
É o que cumpre relatar.
De início, entendo imprescindível que se solicite à SPPEA que adote as
medidas cabíveis, inclusive no que se refere à cadeia de custódia, para se comprovar e
preservar o referido post atribuído a Otávio Oscar Fakhoury, caso ainda possível, vez que
data de maio de 2021.

Sgas, Q. 603/604, Lote 23, Asa Sul - Cep 70200640 -


PROCURADORIA DA Brasília-DF
REPÚBLICA -
Telefone: (61)33135115
DISTRITO FEDERAL
www.mpf.mp.br/mpfservicos

Página 1 de 4

Número do documento: 21102715140950700000099677647


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140950700000099677647
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:09
Num. 107106572 - Pág. 1
Ademais, não é demais o registro de que, ao fim da apuração, pode vir a ser
dada aos fatos capitulação diversa da inicialmente imaginada. Dito em outras palavras,
é possível que, finda a investigação, os fatos configurem o crime de injúria qualificada por
preconceito homofóbico (art. 140, § 3º, do Código Penal), que depende de representação, e
não o crime de homofobia (Lei 7.716/1989).
No ponto, sobre a possibilidade de o preconceito homofóbico
constituir qualificadora do crime de injúria, veja-se o seguinte precente do Supremo Tribunal
Federal, por seu Ministro Ricardo Lewandowski:

Assinado com login e senha por MARINA SELOS FERREIRA, em 07/10/2021 21:18. Para verificar a autenticidade acesse
Rcl 39093
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI
Julgamento: 23/04/2020
Publicação: 28/04/2020

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave F6157988.0B4E4A69.86A1A757.6EA34E8F


Decisão
registrado o Termo Circunstanciado nº. 009-09100/2019 (DOC. 03) dos
fatos praticados por Wellington Lemos Guedes“ (pág. 14 da petição inicial).
Anota, na sequência, que, “a partir dos fatos relatados em sede policial, a
autoridade policial adequou a conduta de Wellington aos tipos penais dos
artigos 129 e 140 do CP” (pág. 15 da petição inicial). Entende, no entanto,
que “a adequação típica da conduta do suposto autor do fato ao crime
de injúria simples (artigo 140, caput, CP) apresenta-se equivocada”, pois “o
fato praticado por Wellington possui uma circunstância que qualifica o
crime de injúria, fazendo com que ele seja investigado e processado pelo
tipo derivado previsto no artigo 140, § 3º, do CP, intitulado
doutrinariamente de injúria qualificada pelo preconceito” (pág. 16 da
petição inicial). Isso porque o Supremo Tribunal Federal, no julgamento
conjunto da ADO 26/DF e do MI 4.733/DF, “reconheceu a mora do
Congresso Nacional para incriminar atos atentatórios a direitos
fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT e decidiu, por maioria,
pelo enquadramento da homofobia e da transfobia como tipo penal definido
na Lei do Racismo (Lei 7.716/1989), até que o Congresso Nacional

Da íntegra de referida decisão, colhem-se ainda os seguintes excertos:

Conforme decidiu esta Suprema Corte nas ações invocadas como


paradigmas, “as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que
envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de

Sgas, Q. 603/604, Lote 23, Asa Sul - Cep 70200640 -


PROCURADORIA DA Brasília-DF
REPÚBLICA -
Telefone: (61)33135115
DISTRITO FEDERAL
www.mpf.mp.br/mpfservicos

Página 2 de 4

Número do documento: 21102715140950700000099677647


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140950700000099677647
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:09
Num. 107106572 - Pág. 2
alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua
dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação
típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de
08/01/1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal,
art. 121, § 2º, I, ‘in fine’)”.
...
Nessa mesma linha de orientação, é possível que, pelo menos em tese, a
conduta imputada ao suposto autor do fato seja enquadrada como injúria
qualificada, prevista no § 3º do art. 140 do Código Penal, a exemplo do que
ficou definido em relação ao crime de homicídio qualificado pelo motivo
torpe, referido na tese paradigma.

Assinado com login e senha por MARINA SELOS FERREIRA, em 07/10/2021 21:18. Para verificar a autenticidade acesse
Foi no mesmo sentido a manifestação da Procuradoria-Geral da República
ao manifestar-se pela procedência da reclamação:

“[...] 9. Não obstante o procedimento criminal se encontre em fase inicial,

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave F6157988.0B4E4A69.86A1A757.6EA34E8F


mostra-se evidente que a discussão sobre a subsunção normativa da
conduta penalmente punível está restrita à incidência ou não da
qualificadora prevista pelo art. 140, § 3º, do CP, em razão da abrangência
do conceito de ‘homofobia’ pelo conceito legal de racismo.
10. Ao contrário do entendimento adotado pela autoridade reclamada, não
se pode concluir que essa Suprema Corte, decidindo que ‘as condutas
homofóbicas e transfóbicas (...) ajustam-se, por identidade de razão e
mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação
definidos na Lei nº 7.716, de 08/01/1989, constituindo, também, na hipótese
de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo
torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, ‘in fine’)’, quis excluir a hipótese da
injúria racial, que traz em suas elementares os mesmos preceitos primários
dos tipos penais previstos pela Lei nº 7.716/89. Plenamente aplicável,
portanto, ao dispositivo do art. 140, § 3º, do CP, a conclusão de que a
‘aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém’
traduz expressões de racismo, ‘compreendido este em sua dimensão social’.
11. Nesse contexto, faz-se necessário reconhecer que, em tese, a conduta
imputada ao suposto autor do fato deve ser enquadrada como injúria
qualificada, prevista no § 3º do art. 140 do Código Penal, e não como
injúria simples, sob pena de desrespeito ao entendimento firmados pelos
acórdãos paradigmas” (págs. 5-6 do doc. eletrônico 19; grifos no original).

Assim, embora esta Suprema Corte não possa antecipar-se ao mérito da ação
penal proposta pelo reclamante, sobre a correta tipificação das condutas
narradas na inicial acusatória, sob pena de violação do princípio do juiz
natural, nada impede que seja determinada a sua remessa a uma das varas
criminais da comarca da Capital, para que o juízo ao qual o processo for
Sgas, Q. 603/604, Lote 23, Asa Sul - Cep 70200640 -
PROCURADORIA DA Brasília-DF
REPÚBLICA -
Telefone: (61)33135115
DISTRITO FEDERAL
www.mpf.mp.br/mpfservicos

Página 3 de 4

Número do documento: 21102715140950700000099677647


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140950700000099677647
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:09
Num. 107106572 - Pág. 3
distribuído dê, segundo a sua convicção, o enquadramento penal mais
adequado aos fatos que forem apurados durante a instrução criminal.

Nesse contexto, entendo ser necessário que se expeça ofício ao Exmo. Senador
Fabiano Contarato, via Procurador-Geral da República, para lhe indagar se, após a postagem
de Otávio Oscar Fakhoury em comentário ao "estado fragrancial", representou à Polícia
Legislativa ou a outro órgão para apuração dos fatos, em especial, sob a ótica de crime contra
a honra.
Registro que a medida acima é imprescindível a se evitar investigações

Assinado com login e senha por MARINA SELOS FERREIRA, em 07/10/2021 21:18. Para verificar a autenticidade acesse
duplicadas sobre os mesmos fatos, mas também serve a cientificar a possível vítima de que,
ao fim da investigação, caso haja capitulação dos fatos como crime contra a honra, em
especial, injúria, a persecução criminal dependerá de representação.
Do exposto, determino, antes mesmo de se requisitar a instauração de Inquérito

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave F6157988.0B4E4A69.86A1A757.6EA34E8F


Policial:
(a) que se solicite à SPPEA a adoção das medidas cabíveis, inclusive no que se
refere à cadeia de custódia, para se comprovar e preservar o referido post atribuído a Otávio
Oscar Fakhoury, caso ainda possível, vez que data de maio de 2021, devendo, para tanto, ser
encaminhada ou disponibilizada cópia integral dos autos;
(b) que se expeça ofício ao Exmo. Senador Fabiano Contarato, via Procurador-
Geral da República, com cópia da Notícia de Fato e do presente despacho, indagando-lhe: (i)
se, após a postagem de Otávio Oscar Fakhoury em comentário ao "estado fragrancial",
representou à Polícia Legislativa ou a outro órgão para apuração dos fatos, em especial, sob a
ótica de crime contra a honra, encaminhando cópia; e (ii) caso não tenha representado, se tem
interesse em representar, formalmente, vez que ainda não decaído o prazo a tanto.

Brasília, 7 de outubro de 2021.

MARINA SELOS FERREIRA


PROCURADORA DA REPÚBLICA

Sgas, Q. 603/604, Lote 23, Asa Sul - Cep 70200640 -


PROCURADORIA DA Brasília-DF
REPÚBLICA -
Telefone: (61)33135115
DISTRITO FEDERAL
www.mpf.mp.br/mpfservicos

Página 4 de 4

Número do documento: 21102715140950700000099677647


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21102715140950700000099677647
Assinado eletronicamente por: ROBERTA ARRECHEA - 27/10/2021 15:14:09
Num. 107106572 - Pág. 4

Você também pode gostar