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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA


COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1045647-58.2019.8.26.0576 e código 697C751.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DANIEL GALTER VIEIRA, protocolado em 11/04/2021 às 21:39 , sob o número WSRP21701444240 .
Autos n. 1045647-58.2019.8.26.0576

DEBORA DE OLIVEIRA LEMOS SILVA, por seu


advogado e bastante procurador ao final assinado, vem mui respeitosamente à
presença de V.Exª para, nos autos da AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA
DE DÉBITO c/c TUTELA PROVISÓRIA E DANO MORAL, que move contra FUNDO
DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS NÃO PADRONIZADOS – NPL I
e SERASA EXPERIAN, inconformada com a r. sentença de (fls.437/444)
apresentar RECURSO DE APELAÇÃO pelos motivos e fundamentos que passa a
expor.

Que não houve o recolhimento do preparo recursal


tendo em vista ser o apelante beneficiário da gratuidade da justiça.

Termos em que
Pede o deferimento
S.J.R Preto-SP, 11 de abril de 2021

DANIEL GALTER VIEIRA


OAB/SP - 380.260
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

RAZÕES DE APELAÇÃO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1045647-58.2019.8.26.0576 e código 697C751.
Apelante: DEBORA DE OLIVEIRA LEMOS SILVA

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Apelado: FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS NÃO
PADRONIZADOS - NPLI e SERASA EXPERIAN

Origem: 3º VARA CÍVEL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP

EGREGIO TRIBUNAL!
COLENDA CÂMARA!
INCLITOS JULGADORES!

DOS FATOS

A parte autora recebeu várias ligações de cobrança


referente a dívidas em seu nome.

Desta forma, buscando saber mais a fundo sobre o


motivo do débito veio a se cadastrar no site da SERASA (LIMPA NOME) e se
deparou com uma aba nomeada de OFERTAS e lá notou que existiam
informações relativas a débitos com a apelada:

a) Contrato 42938635619001, no valor de R$ 2.403,15, vencido em 01/02/2010;


b) Contrato 7097008546170-00-1287, no valor de R$ 2.498,06, vencida em 29/01/2010;
c) Contrato 0004006890177440716, no valor de R$ 3.434,28, vencida em 27/11/2009.

Desta forma sentindo se lesada por apontamentos


de dívidas desconhecidas e pior, PRESCRITAS, buscou tutela neste poder
judiciário.

Devidamente citada, aduziu a ré que os débitos


decorrem de dívidas cedidas.

Por fim, alega ausência de dano moral pelo


exercício regular de direito.
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Houve réplica (fls.112/121 e 259/286).

Após, o juiz de primeira instância, entendeu por


julgar o feito PARCIAMENTE PROCEDENTE reconhecendo a prescrição do débito,

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todavia, com relação ao dano moral, entendeu que não houve tal ocorrência:

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Com todo o respeito devido, o nobre magistrado
não foi certeiro ao entendimento referente ao dano moral conforme as razões a
frete serão expostas.

RAZÕES DA APELAÇÃO

A SERASA LIMPA NOME É UM BUREAU (BIRÔ) DE CRÉDITO:

Nobres Desembargadores, o juiz de origem


entendeu que no presente caso não houve apontamento dos débitos no cadastro
de proteção ao crédito (SERASA/SCPC) e que dívida apontada na SERASA LIMPA
NOME não ofende a dignidade na medida que não houve divulgação pública do
nome do consumidor como devedora na praça pois a LIMPA NOME é de acesso
somente da autora e credor mediante senha e login, todavia, se faz necessário
pormenorizar algumas peculiaridades desta nova modalidade de cadastro.

Segundo a Associação Nacional de Bureaus de Crédito


(ANBC), “os birôs de crédito são empresas de alta tecnologia, que analisam dados
históricos de crédito, relacionam análises e geram estudos precisos sobre o
comportamento de crédito de pessoas e empresas.”

Para facilitar a compreensão do consumidor sobre a


dinâmica de trabalho dos birôs de crédito, a ANBC lançou um vídeo utilizando o
método “Draw my life” (tradução: desenhe minha vida), o qual propõe que as pessoas
(física ou jurídica) descrevam sua vida ou um aspecto dela, através de desenhos em
um quadro.

Veja um print do mencionado vídeo:


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Dados disponíveis em: https://anbc.org.br/o-que-e-um-biro-de-credito/. Acesso: 24-03-2021.

O vídeo conta a história fictícia dos personagens “Pedro


Afonso” e dona “Jacira”, com o intuído de ilustrar o funcionamento dos birôs de
crédito. Peço licença para transcrever o trecho desta história:

“Pedro Afonso ganha R$ 20.000,00 por mês e quer financiar um carro com
parcelas de 2 mil.
Dona Jacira ganha R$ 3.000,00 e quer financiar uma geladeira por R$
600,00 por mês.
Sabe onde os birôs entram?
Eles mostram à concessionária de veículos ou à loja de eletrodomésticos o
comportamento de crédito do Pedro Afonso e da Dona Jacira, e com isso
ajudam ambas as partes a tomar a melhor decisão sobre as condições do
crédito oferecido e contratado. É fácil perceber qual dos dois está mais
sólido financeiramente.
O birô de crédito faz com que o histórico de crédito de uma pessoa fique
mais visível para o mercado e assim, propostas de financiamento a
melhores condições serão feitas.
Para o birô não importa quanto a pessoa tem de renda e sim, seu
comportamento de crédito. O importante é ter informações de crédito
atualizadas, corretas e de qualidade para gerar boas análises e tornar a
relação de crédito mais justa.”

E mais adiante prossegue apresentando outras formas de


conhecer a atuação dos birôs de crédito:
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“Outra forma para conhecer melhor as atividades dos birôs de crédito, é


buscar pelas diversas opções de produtos e iniciativas em educação
financeira que eles oferecem”.

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Nesse ponto do vídeo, é feito o desenho de um sujeito
envolto das mais diversas áreas de atuação dos birôs de crédito, estando entre eles o
“FEIRÃO LIMPA NOME”, veja:

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O vídeo conclui dizendo:

“Isso tudo vai ajudar você a usar seu histórico de crédito a seu favor,
fazendo a economia girar e seus sonhos acontecerem. E tem muito mais.
Até a próxima”.

À toda evidência, a SERASA LIMPA NOME pertence a


SERASA EXPERIAN que, por sua vez, é uma marca administrada pela SERASA S/A,
que fornece apoio às companhias em suas análises de crédito.

O principal serviço prestado pela SERASA, atualmente, é o


de “soluções voltadas para gestão de risco de crédito”. Essa conclusão não é da
autora. É pública e notória.

À proposito, retira-se do ‘item 1’ dos “Termos de Uso e


Política de Privacidade do Serasa”, a corroboração de tal assertiva:

“1. Quem somos


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A Serasa é parte da Serasa Experian, uma empresa de banco de


dados que reúne e presta informações sobre pessoas e empresas
para apoiar clientes, parceiros e consumidores por meio de
soluções voltadas para a gestão de risco de crédito, prevenção a

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fraudes, educação financeira, qualidade de dados, marketing e
certificação digital. (...) (Grifei)”

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Não é à toa que a SERASA possui aquele que é considerado
o maior banco de dados do mercado brasileiro a respeito do consumidor
inadimplente. Para tanto, ela desenvolveu diversas frentes de trabalho, visando a
prestação de um serviço (“para gestão de risco de crédito”) mais abrangente,
dinâmico e eficiente.

Veja algumas dessas frentes de trabalho:

É certo que todas as frentes de trabalho do SERASA,


incluindo a SERASA LIMPA NOME, servem como coletores de informações para a
atualização da sua base de dados, e também como insumos para fomentar a
atividade empresarial (“gestão de risco de crédito”).

Pois bem, seguindo o raciocínio de que a SERASA é um birô


de crédito, extrai-se do site da própria (https://www.serasa.com.br/ensina/seu-
nome-limpo/como-serasa-funciona/), a seguinte informação:
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Bem, se a própria SERASA se reconhece como um birô de
crédito, não há quem possa dizer o contrário. Contra fatos não há argumentos.

Outro ponto que não cabe discussão é o de que,


informações de dívidas vencidas e não pagas, compõem a base de dados da SERASA
– a mesma base de dados utilizada para a utilizada para prestar os serviços de
“gestão de risco de crédito.

O ponto alto da questão é que A BASE DE DADOS DA


SERASA É UMA SÓ! Não existem múltiplas bases de dados. O que existe são
múltiplas frentes de trabalho, por meio das quais é feita a captação de
informações relativas ao histórico de crédito do consumidor, e que por
conseguinte, são utilizadas para a atualização periódica da ÚNICA BASE DE
DADOS DA SERASA.

Para melhor compreensão, veja o organograma abaixo:


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Desse modo, é cristalino e reluzente que a LIMPA NOME


constitui importante insumo para o exercício da principal atividade empresária da
SERASA EXPERIAN, pois através daquela frente de trabalho a empresa reúne maior
número de informações com a finalidade de traçar um perfil analítico do consumidor

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e posteriormente vender essas informações aos fornecedores de produtos e serviços.

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Nesse contexto, outra não é a conclusão que se retira do
item “3. Finalidades do tratamento dos Dados Pessoais coletados na Serasa” da já
citada política de privacidade, que assim dispõe:

3. Finalidades do tratamento dos Dados Pessoais coletados na


Serasa·
“Os Dados Pessoais coletados durante a autenticação, por
meio das soluções da Serasa e do nosso aplicativo, se
utilizados para atualização da nossa base de dados e como
insumos para nossas soluções, terão as seguintes
finalidades:
- Proteção do crédito, a fim de apoiar os clientes que contratam
as soluções da Serasa Experian a realizar negócios e análises
de risco de crédito, administrar a carteira de clientes e
gerenciar cobranças;
O e-mail e/ou telefone celular fornecido por Você poderá ser
utilizado para o envio de qualquer comunicado nosso,
incluindo, mas não se limitando, para informar a abertura de
cadastro ou inclusão de informações de inadimplência (dívidas
não pagas) em atendimento à legislação em vigor, seja por
meio de SMS, WhatsApp ou qualquer mensagem telefônica ou
eletrônica.·
O cálculo periódico e automático do seu Serasa Score
poderá ser armazenado para a formação do seu histórico
de scores e alertas de monitoramento poderão ser enviados
para a sua visualização, com a finalidade exclusiva de permitir
que Você acompanhe a evolução do seu risco de crédito.

E mais adiante prossegue no item “7. Condições específica


das soluções Serasa eCred, Serasa Antifraude, Serasa Limpa Nome, Trilha Financeira
e Conta Digital”, especificamente o subtítulo “Serasa Limpa Nome”:

7. Condições específicas das soluções Serasa eCred, Serasa


Antifraude, Serasa Limpa Nome, Trilha Financeira e Conta Digital (...)
- Serasa Limpa Nome (...)
Você tem ciência e concorda que a Serasa Experian pode utilizar a
informação de pagamento de acordos negociados por meio da
plataforma do Serasa Limpa Nome, nos termos da legislação vigente,
no cálculo do seu Serasa Score com a finalidade de proteção ao
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crédito a fim de apoiar os clientes que contratam as soluções da


Serasa Experian a realizar negócios e análises de risco de crédito,
administrar a carteira de clientes e gerenciar cobranças

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Posta assim a questão, não pode prevalecer a alegação de
que o serviço denominado “LIMPA NOME” oferecido pela SERASA objetiva apenas

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intermediar a renegociação de dívidas entre fornecedores e consumidores e seus
credores e, portanto, não geraria dano moral indenizável já que não implica em
inscrição no cadastro de inadimplentes.

Frise-se, para que não haja entendimento diverso, que não


estamos buscando o reconhecimento público de que a SERASA LIMPA NOME é um
cadastro de negativados, tal como o SCPC, SERASA e CCF. Sabemos que não é.

O cadastro de negativados é uma frente de trabalho e a


LIMPA NOME é outra. Entretanto, ambas convergem para a mesma finalidade,
recolher dados de consumidores que serão, posteriormente, utilizadas
para traçar um perfil econômico do consumidor, ou seja, classificá-lo
como bom ou mau pagador (análise de risco de crédito).

Há que se ter em mente que a inclusão do nome do


consumidor na plataforma da “SERASA LIMPA NOME” é desabonadora, pois, embora
não trate de cadastro restritivo de crédito, impacta negativamente a análise de risco
de crédito daquele consumidor e, consequentemente, prejudica o seu acesso ao
crédito no mercado.

Quando ao ponto, acrescente-se que SERASA já reconheceu


publicamente tudo o quanto foi dito até aqui. Veja, por exemplo, o que foi publicado
no Instagram da empresa:
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E NÃO É SÓ! Vejamos o que foi dito pelo gerente de


produtos da Serasa LUCAS LOPES, em reportagem concedida ao portal eletrônico da
Revista Exame em 09/09/2020:

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Oportuno ressaltar que o requerido não impugnou a


autenticidade do documento supra colacionado (copiado às fls. 222/226), em sua
contestação, momento adequado para tanto, nos termos do art. 437 do CPC.

Assim, não contrapondo a prova documental trazida


pelo autor, a ré acabou por tornar incontroversa essa prova.
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Numa análise perfunctória da situação não parece que as


requeridas tenham cometido nenhuma ilegalidade ou abuso de direito. Mas não se
engane, pois a partir de uma análise pormenorizada do conjunto fático-probatório do
caso concreto, é possível identificar os abusos praticados pela SERASA e as

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empresas conveniadas a ela.

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E não precisa de muito esforço intelectual, quiçá dose
elevada de boa-fé, para perceber que a SERASA está burlando a lei, e pelo visto com
alguma habilidade ou sutileza capaz de iludir até os mais intelectualizados.

Não é admissível que o Poder Judiciário encare tal situação


com indiferença ou menosprezo, quase querendo culpar os consumidores por uma
“indústria do dano moral”, ou melhor, por seu empenho em defender os seus direitos
violados em massa, requerendo ressarcimento.

Sendo a SERASA um birô de crédito, esta submete-se ao


regime jurídico instituído pelo art. 43, § 1º do Código de Defesa do Consumidor, no
qual foram enunciados importantes direitos, como o de limitação temporal para a
permanência de informações negativas referente à período superior a cinco anos,
nos cadastros e dados de consumidores.

Felizmente, começa a surgir aquele facho de luz da


esperança na jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo, que já se
sensibilizou com a questão, de modo que há diversas jurisprudências no sentido do
acima exposto:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C.C.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL, FUNDADA EM CONTRATO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. DEMONSTRAÇÃO
DA INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO POR MEIO DA APRESENTAÇÃO DO
COMPROVANTE DE PAGAMENTO DA FATURA VENCIDA EM JULHO DE
2019, REFERENTE AOS SERVIÇOS UTILIZADOS PELA AUTORA ATÉ O
PEDIDO DE CANCELAMENTO. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO DA
RÉ AO PAGAMENTO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL
PORQUE É DESABONADORA A INCLUSÃO INDEVIDA DO NOME DA
AUTORA NO CADASTRO "LIMPA NOME" DA SERASA, TENDO EM
VISTA QUE IMPACTA NEGATIVAMENTE O "SCORE" DA
CONSUMIDORA E, CONSEQUENTEMENTE, PREJUDICA O SEU
ACESSO AO CRÉDITO NO MERCADO. DESCABIMENTO DO PEDIDO
DE REDUÇÃO DA COMPENSAÇÃO ARBITRADA PELA SENTENÇA, UMA
VEZ QUE A QUANTIA DE R$ 10.000,00 SE AFIGURA RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL, LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO OS EFEITOS
COMPENSATÓRIO E PEDAGÓGICO. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS PARA 15% DO VALOR ATUALIZADO DA
CONDENAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 85, § 11, DO CPC. RECURSO
DESPROVIDO.
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(TJSP; Apelação Cível 1041278-21.2019.8.26.0576; Relator (a): Alberto


Gosson; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro de São José
do Rio Preto - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/05/2020; Data de
Registro: 12/05/2020)

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AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C.C. DANO
MORAL. Telefonia. Dívida prescrita. Manutenção do nome no cadastro

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de inadimplentes denominado "Serasa Limpa Nome". Manutenção
indevida. Dano moral configurado. Caracterização do ilícito. Dano in re
ipsa. Quantum indenizatório. Valor fixado que atende aos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade. Sentença mantida. RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1032351-22.2018.8.26.0602; Relator
(a): Fernando Sastre Redondo; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Sorocaba - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento:
03/07/2020; Data de Registro: 03/07/2020)

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C.C.


REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. DÍVIDAS PRESCRITAS. Legitimidade
da corré que efetua cobranças em nome da cessionária do crédito.
Reconhecimento. Dívidas prescritas. Impossibilidade de cobrança por
qualquer meio judicial ou extrajudicial. Inscrição indevida do nome do
autor em cadastro denominado "Limpa Nome" da Serasa. Natureza
restritiva do banco de dados. DANO MORAL. Inscrições preexistentes.
Aplicação da Súmula nº 385 do Superior Tribunal de Justiça. Sentença
reformada. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1010646-77.2019.8.26.0037; Relator (a): Fernando Sastre Redondo; Órgão
Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro de Araraquara - 1ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 03/04/2020; Data de Registro: 03/04/2020)

DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA CUMULADA COM


INDENIZATÓRIA. Cobrança extrajudicial de dívida prescrita. Extinta a
pretensão creditória pelo decurso do prazo prescricional, é ilícita a
cobrança pelos meios judiciais e administrativos. Constrangimento
reparável pela via dos danos morais. Sentença reformada. Recurso
provido para declarar a inexigibilidade da dívida e fixar o quantum
indenizatório em R$ 5.000,00. (TJSP; Apelação Cível 1001473-
81.2019.8.26.0634; Relator (a): Régis Rodrigues Bonvicino; Órgão Julgador:
21ª Câmara de Direito Privado; Foro de Tremembé - 2ª Vara; Data do
Julgamento: 30/01/2020; Data de Registro: 30/01/2020)

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. REPARAÇÃO DE DANOS


MORAIS. DÍVIDAS PRESCRITAS. Impossibilidade de cobrança por
qualquer meio judicial ou extrajudicial. Inscrição indevida do nome do
autor em cadastro denominado "Limpa Nome" da Serasa. Natureza
restritiva do banco de dados. DANO MORAL. Inscrições preexistentes.
Aplicação da Súmula nº 385 do Superior Tribunal de Justiça. Sentença
reformada. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1001307-41.2020.8.26.0011; Relator (a): Fernando Sastre Redondo; Órgão
Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional XI - Pinheiros - 4ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 29/06/2020; Data de Registro: 29/06/2020)
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Enfim, estando prescrita a dívida, o credor, ou qualquer


mandatário em seu nome, não pode demandar, judicial e extrajudicialmente pelo
débito. Com este ato de oferecer proposta de negociação de dívida prescrita, a
requerida comeu ilícito gerador de dano moral indenizável.

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Diante desse contexto fático, impõe-se o reconhecimento da

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ilicitude decorrente do abuso de direito praticado pela requerida, com a
correspondente aptidão para configurar um acidente de consumo, a impor sua
responsabilização, com culpa presumida, por eventuais danos causados ao
consumidor, conforme prescreve o art. 14 do CDC.

DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS:

Cumpre observar, por oportuno, não haver nos autos


informação da ocorrência de qualquer fato impeditivo ou suspensivo da prescrição,
no caso da segunda, o qual, aliás, se existente, deveria ter sido provado pelas
requeridas em razão da regra de distribuição do ônus probatório, previsto no art.
373, inc. II, do CPC.

Assim, prescrita a dívida, todos os efeitos a ela inerentes


desaparecem, inclusive a possibilidade de cobrança extrajudicial do crédito.

Vale ressaltar que a prescrição é medida de estabilização


das relações jurídicas e sociais, de forma a evitar que se perpetue a conflituosidade,
especialmente quando a parte interessada permanece inerte para a persecução de
seu crédito.

A situação enseja a responsabilidade civil dos integrantes


da cadeia de consumo, pois o compartilhamento de informações sobre dívidas
prescritas, em qualquer banco de dados de consumo, constitui ato ilícito e, como tal,
enseja a condenação por danos morais.

Nesse passo, é cristalino e evidente que o consumidor se viu


obrigado a desviar um tempo útil e produtivo de sua vida para fazer cessar o ilícito
decorrente do abuso de direito praticado pelas requeridas.

E antes que cogite dizer que o autor não empreendeu


esforço significativo para resolver a questão administrativamente, há que se ter em
mente que a contratação de advogado também lhe custou uma parcela do seu tempo,
que nunca mais será recuperado.

E mesmo que a autora estivesse desempregada –


hipoteticamente falando -, ainda assim teria perdido uma parcela do seu tempo útil
para a contratação de advogados, já que todo tempo é útil.
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A utilidade/produtividade do tempo é uma questão


subjetiva de cada indivíduo. O que é útil para um pode não ser para o outro. Só
quem pode classificar o grau de utilidade/produtividade do tempo é o próprio
indivíduo e mais ninguém.

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Cada ser humano tem o direito e a liberdade de utilizar o

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seu tempo da maneira que quiser. Não são os poderes Executivo, Legislativo ou
Judiciário que vão delimitar a utilização do tempo. É tão somente o indivíduo quem
decide como vai usar o tempo que Deus (criador do universo, reconhecido também
por outros nomes a depender da cultura) lhe deu.

In casu, a autora não queria ter utilizado do seu tempo


contratando advogados para fazer cessar a cobrança administrativa de dívida
prescrita. Pouco importa o que ela gostaria de ter feito com aquele tempo. O que
importa é que ela não queria ter dedicado aquele tempo para essa finalidade.

Vale acrescentar que a pessoa humana tem o direito


constitucionalmente tutelado de estudar, trabalhar, descansar, dedicar-se ao lazer,
conviver socialmente, cuidar de si, consumir e inclusive de não fazer nada!

Por mais que a autora esteja devedora do réu, este teve 5


(cinco) longos anos para perseguir o crédito e tornar incômoda a vida daquela, seja
por meio das formas pragmáticas de cobrança extrajudicial, seja por meio das formas
pragmáticas de cobrança judicial.

Se falhou na persecução do crédito, não é lícito ao credor


continuar perturbando o sossego que a lei confere ao devedor depois de alcançada a
prescrição da dívida.

Essa perturbação do sossego configura danos morais, não


sendo possível admitir que o Poder Judiciário encare tal situação com indiferença ou
menosprezo, ao ponto de considerá-la como “mero aborrecimento”.

Sabe-se que nas relações consumeristas, o dano moral


resultante de ato ilícito se dá de forma presumida (in re ipsa), ou seja, aquele que
decorre inexoravelmente do fato ofensivo, dispensando-se a necessidade de provar a
sua efetiva ocorrência.

Existe uma natural lógica para assim proceder, porquanto,


se o dano moral existe a partir da lesão a um daqueles direitos íntimos da pessoa
humana, tal qual a incolumidade física e psíquica, a honra, a intimidade, a imagem e
a vida, somente para citar alguns, não há nenhuma lógica exigir-se a prova da
repercussão no íntimo do ofendido dos efeitos de tais violações.
fls. 460

15

O ordenamento jurídico há que se conformar com a


presunção de que, em razão de máximas de experiências, qualquer indivíduo de
mediana sensibilidade se sentiria ofendido e agredido em seus valores anímicos,
diante de determinados procedimentos ilícitos.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1045647-58.2019.8.26.0576 e código 697C751.
Nessa direção, aresto do Tribunal de Justiça de São Paulo –

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DANIEL GALTER VIEIRA, protocolado em 11/04/2021 às 21:39 , sob o número WSRP21701444240 .
que demonstra esse ímpeto de mudança no ônus da prova, de modo a se facilitar ao
máximo a atuação do hipossuficiente, mormente quando o dano resulta de atuação
odontológica gravíssima.

APELAÇÃO CÍVEL INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS INSCRIÇÃO


INDEVIDA NO SPC SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO
INICIAL ATO ILÍCITO CONFIGURADO DANO MORAL QUE NÃO
NECESSITA DE PROVA INDENIZAÇÃO DEVIDA MANUTENÇÃO DO
QUANTUM AOS PARÂMETROS JURISPRUDENCIAIS RECURSO
DESPROVIDO POR UNANIMIDADE. 1. "Em outras palavras, o dano
moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato
ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está
demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma
presunção hominis ou facti que decorre das regras de experiência
comum". (in Sergio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade Civil) 2.
"Conclui-se que o valor fixado pela sentença no patamar de R$ 10.000,00
(dez mil reais) atende de forma satisfatória o dano causado a autora, bem
como ao seu fim pedagógico de impedir que o réu reincida na prática
abusiva de inscrições indevidas".(TJ-PR 8759759 PR 875975-9 (Acórdão),
Relator: José Laurindo de Souza Netto, Data de Julgamento: 26/04/2012, 8ª
Câmara Cível) (Grifei)

A estipulação do quantum indenizatório deve ser suficiente


para amenizar o abado sofrido e para inibir a repetição da conduta danosa.

Apesar de ser reconhecida a natureza satisfativa da


indenização por dano moral, é necessário considerar que existe inequívoca função
punitiva, para que a condenação iniba condutas ilícitas, que são praticadas
indistintamente contra diversas pessoas, uma vez que a empresa parece considerar
mais lucrativo pagar indenizações judiciais do que melhorar a segurança de seu
cadastro.

Se o custo da indenização se mantém baixo, ocorre


verdadeiro enriquecimento sem causa da empresa que presta o serviço deficiente,
sem se preocupar em melhorá-lo, aumentando seus lucros mediante pagamento de
indenizações irrisórias.

Desse modo, considerando as circunstâncias do presente


caso, e tendo em vista os padrões de quantificação de ressarcimento reiteradamente
adotados pelo colendo Superior Tribunal de Justiça, tem-se que o valor de R$
10.000,00, revela-se adequado aos fins colimados.
fls. 461

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O PEDIDO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1045647-58.2019.8.26.0576 e código 697C751.
Por todo o exposto, requer total PROVIMENTO ao
recurso a fim de reformar a r. sentença nos seguintes termos para CONDENAR

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DANIEL GALTER VIEIRA, protocolado em 11/04/2021 às 21:39 , sob o número WSRP21701444240 .
ré/apelada no valor de R$ 10.000,00 a título de dano moral suportado pelo autor
em decorrência de lançamento de débitos inexistentes e prescritos na
plataforma SERASA LIMPA NOME;

Termos em que,
P. Deferimento.
São José do Rio Preto (SP), 11 de abril de 2021.

DANIEL GALTER VIEIRA


OAB/SP 380.260

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