Você está na página 1de 15

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado

de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.


fls. 208

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA TURMA DE


UNIFORMIZAÇÃO DO SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO
ESTADO DE SÃO PAULO.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
Processo originário nº 1032056-75.2021.8.26.0053

EDUARDA VIDAL ROLLEMBERG, brasileira, casada, médica, portadora do RG nº


2.510.104 SSP/DF, inscrita no CPF sob o nº 014.477.551-46, residente e domiciliada
em Estrada de Itapecerica, 1528, Vila Prel, São Paulo/SP, CEP nº 05835-004, telefone
para contato (61) 99239-3997, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, com fundamento na Lei Complementar nº 1.337/2018 de São Paulo,
apresentar

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI

em face do acórdão proferido nos autos do recurso inominado nº 1032056-


75.2021.8.26.0053, julgado pela 6ª Turma (Fazenda Pública) do Colégio Recursal
Central da Capital, em que figura como recorrido o MUNICÍPIO DE SÃO PAULO/SP,
representado por sua procuradoria, com sede na R. General Jardim, 36, Vila Buarque,
São Paulo/SP, inscrita no CNPJ sob o n° 46.395.000/0001-39, CEP n. 01223-010,
consubstanciado nas razões anexas.

O presente pedido de uniformização é instruído com cópia integral dos autos do


processo principal.

Considerando a ausência de regulamentação sobre o recolhimento do preparo do


pedido previsto no art. 16, §1º, da Lei Complementar nº 1.337/2018, do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), e inclusive a falta de opção para recolhimento
no Portal de Custas, requer seja a Requerente dispensada de recolher o preparo do
presente Incidente. Se entender esta e. Turma pelo cabimento de eventuais custas,
requer a Peticionária lhe seja concedido prazo para tal recolhimento.

1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 209

Para fins do §2º do art. 16 da LC nº 1.337/2018, indica o nome e endereço completo


dos advogados constantes do processo:

a) Pela requerente: JOÃO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA,

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
advogado inscrito na OAB/DF 50.673, com endereço profissional na SHIS QI
3, CL, Bloco K, Sala 104 – Lago Sul – Brasília – CEP nº 71.605-495.

b) Pela requerida: a PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO,


sendo atuante no presente feito o Procuradores Municipais Dr. Paulo Eduardo
Rodrigues Neto (OAB/SP 289.892) e Dr. Marcelo Patrício de Figueiredo
(OAB/SP 415.653), com endereço na Avenida Liberdade, 103, 4º andar –
Centro – São Paulo – SP – CEP 01503-000, Telefone (11) 3397-7129.

Requer que todas as publicações e intimações relacionadas ao presente feito sejam


feitas em nome de JOÃO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA – OAB/DF
50.673, sob pena de nulidade.

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 24 de agosto de 2022.

João Roberto Machado


OAB/DF 50.673

2
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 210

RAZÕES DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI

Requerente: Eduarda Vidal Rollemberg


Requerido: Município de São Paulo (Fazenda Pública Municipal)
Processo originário nº 1032056-75.2021.8.26.0053

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
Egrégia Turma,

O presente pedido de uniformização de interpretação de lei visa consolidar tese


jurídica sobre a seguinte discussão:

No caso de descumprimento da obrigação “in natura” em oferecer moradia aos


médicos residentes no decorrer da residência médica, conforme previsto no art. 4º, §5º,
III, da Lei nº 6.932/1981, é possível converter a obrigação “in natura” para obrigação
em pecúnia (perdas e danos)?

Dispõe o dispositivo legal:

Art. 4º Ao médico-residente é assegurado bolsa no valor de R$ 2.384,82 (dois mil,


trezentos e oitenta e quatro reais e oitenta e dois centavos), em regime especial de
treinamento em serviço de 60 (sessenta) horas semanais.
§ 5º A instituição de saúde responsável por programas de residência médica
oferecerá ao médico-residente, durante todo o período de residência:
III - moradia, conforme estabelecido em regulamento.

Conforme será demonstrado a seguir, a consolidação sobre o entendimento do art.


4º, §5º, III, da Lei nº 6.932/1981 se faz necessária, considerando a divergência entre
as Turmas Recursais dos Juizados Especiais do Tribunal de Justiça de São Paulo, na
medida em que no caso concreto o pedido foi julgado improcedente, mas há
acórdãos contemporâneos da 4ª Turma Recursal (Fazenda Pública) do Colégio
Recursal Central da Capital que julgaram procedentes os pedidos de conversão para
pagamento em pecúnia, seguindo a ampla jurisprudência do c. STJ e a da TNU sobre
o tema.

Como se observa, trata-se de matéria exclusivamente de direito uma vez que envolve
a interpretação do art. 4º, §5º, III, da Lei nº 6.932/1981 para os residentes médicos,
bastando que a pessoa física esteja enquadrada nesta situação para que se submeta
à tese a ser consolidada.

3
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 211

— DA NECESSÁRIA PACIFICAÇÃO DO TEMA NOS JUIZADOS DO TJSP—


Violação ao art. 4º, §5º, III, da Lei nº 6.932/1981.
Possibilidade de pagamento em pecúnia do auxílio-moradia.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
Conforme se extrai do acórdão proferido pela 6ª Turma da Fazenda Pública do
Colégio Recursal Central da Capital, a sentença recorrida foi mantida por seus
próprios fundamentos, por entender, em síntese, que a conversão da obrigação in
natura para pagamento em pecúnia extrapola o previsto na legislação federal que
regulamenta o tema, inclusive sob pena de afronta ao enunciado de Súmula 37/STF.
Veja trecho do voto:

A sentença julgou o pedido improcedente utilizando-se dos seguintes argumentos:


(i) a parte autora participou voluntariamente da seleção pública e o item 15.3 do
edital do certame previa que os residentes receberiam bolsa de acordo com a
legislação em vigor, ao passo que o regimento interno previa que a instituição não
forneceria moradia aos residentes por ausência de instalações, salvo alojamento para
repouso; (ii) aceitação do edital pela autora; (iii) violação à regra do art. 37, XIII, da
Constituição da República, segundo a qual é vedada a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
serviço público; (iv) ausência de fonte de custeio para a verba; (v) necessidade de
correção da questão mediante lei e não por decisão judicial, sob pena de afronta à
Súmula Vinculante nº 37; (vi) violação ao pacto federativo por ausência de norma
municipal a regular o tema; (vii) ausência de demonstração, pela parte autora, de
gastos para custeio de moradia.
O julgado citou, ainda, diversas decisões dos Colégios Recursais julgando
improcedentes pedidos da mesma natureza.
Nesse sentido, entendo que a sentença deu correta solução à lide.
Aponto, ainda, que a legislação federal que regulamenta o tema afirma que deve ser
dada moradia ao médico residente, ou seja, a prestação deveria ser cumprida in
natura e não em pecúnia.
Sua conversão em pecúnia, por decisão judicial, sem que se tenha sequer um critério
objetivo para definição do valor é algo que extrapola o previsto na legislação.
[...]
Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

Pois bem, a Lei nº 6.932/81 dispõe sobre as atividades do médico, prevendo que “a
Residência Médica constitui modalidade de ensino de pós-graduação, destinada a
médicos, sob a forma de cursos de especialização, caracterizada por treinamento em
serviço, funcionando sob a responsabilidade de instituições de saúde, universitárias ou
não, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e
profissional.”.

Na hipótese em discussão, o art. 4º, §5º, III, da referida Lei prevê que a instituição de
saúde responsável por programas de residência médica oferecerá moradia ao
médico residente, durante todo o período de residência:

Art. 4º Ao médico-residente é assegurado bolsa no valor de R$ 2.384,82 (dois mil,


trezentos e oitenta e quatro reais e oitenta e dois centavos), em regime especial de
treinamento em serviço de 60 (sessenta) horas semanais.

4
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 212

[...]
§ 5º A instituição de saúde responsável por programas de residência médica
oferecerá ao médico-residente, durante todo o período de residência:
I - condições adequadas para repouso e higiene pessoal durante os plantões;
II - alimentação; e

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
III - moradia, conforme estabelecido em regulamento.

A controvérsia reside no fato de que quase a totalidade dos programas de residência


médica não oferecerem moradia, conforme determinado em lei, e tampouco
realizam o pagamento de indenização substitutiva, o que levou a uma grande busca
do referido direito no Poder Judiciário principalmente em razão do baixo valor pago
a título de bolsa acadêmica.

A controvérsia já foi levada a diversas jurisdições, considerando:

(i) A existência de residências médicas em âmbito federal (hospitais federais)


e âmbito estadual (hospitais estaduais/municipais);
(ii) A existência de demandas na justiça comum e nos juizados especiais,
sendo neste caso tanto nos Juizados Especiais da Fazenda Pública como
nos Juizados Especiais Federais.

As variáveis acima permitem aferir que diversos órgãos jurisdicionais já se


posicionaram sobre a matéria, o que já foi alçado inclusive à Turma Nacional de
Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) e ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ), quando estamos falando no âmbito dos Juizados Federais e da Justiça
Comum.

Contudo, estando o presente caso no âmbito dos Juizado Fazendário do Estado de


São Paulo, não há decisão de órgão superior (alcançável pelo rito aqui seguido) que
tenha se manifestado sobre a matéria, o que ocasiona decisões divergentes entre as
turmas recursais deste eg. Tribunal. Em pesquisa jurisprudencial no site do TJSP ainda
é possível verificar a existência de diversas decisões divergentes sobre o mesmo
assunto, de modo que no presente incidente serão apresentados apenas dois
paradigmas que abrangem a matéria de maneira suficiente.

Sem prejuízo, verifica-se que quando a matéria foi levada ao Superior Tribunal de
Justiça, este apresentou entendimento no sentido de ser possível o pagamento de
indenização substitutiva da obrigação de fornecer moradia ao médico residente.
Nesse sentido, veja julgados

ADMINISTRATIVO. MÉDICO RESIDENTE. AUXÍLIO-MORADIA. LEI 6.932/1981. TUTELA


ESPECÍFICA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. ADMISSIBILIDADE. PRECEDENTE.
1. Trata-se, originariamente, de Ação Ordinária que debate a concessão de auxílio
moradia a médicos residentes. Houve denunciação da lide à União. A sentença de
improcedência de ambas as pretensões foi mantida pelo Tribunal de origem.
2. Precedente do STJ, na interpretação do art. 4º, §4º, da Lei 6.932/1981, impõe às
instituições de saúde responsáveis por programas de residência médica o dever de

5
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 213

oferecer aos residentes alimentação e moradia no decorrer do período de residência.


A impossibilidade da prestação da tutela específica autoriza medidas que assegurem
o resultado prático equivalente ou a conversão em perdas e danos - CPC, art. 461
(REsp 813.408/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
15.6.2009). 3. A fixação de valores do auxílio pretendido demanda investigação de

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
elementos fático-probatórios.
4. Recurso Especial provido, determinando o retorno dos autos à origem a fim de
que estabeleça valor razoável que garanta resultado prático equivalente ao que
dispõe o art. 4º, § 4º, da Lei 6.932/81.
(REsp 1339798/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 21/02/2013, DJe 07/03/2013)

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS


EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. MÉDICOS-RESIDENTES.
DIREITO A ALIMENTAÇÃO E ALOJAMENTO/MORADIA. INÉRCIA ADMINISTRATIVA.
POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO EM PECÚNIA. DIVERGÊNCIA QUE NÃO SUBSISTE.
AUSÊNCIA DE CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. SÚMULA 168 DO STJ.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O art. 4º. da Lei 6.932/81 assegura que as instituições de saúde responsáveis por
programas de residência médica tem o dever legal de oferecer aos residentes
alimentação e moradia no decorrer do período de residência. Assim existindo
dispositivo legal peremptório acerca da obrigatoriedade no fornecimento de
alojamento e alimentação, não pode tal vantagem submeter-se exclusivamente à
discricionariedade administrativa, permitindo a intervenção do Poder Judiciário a
partir do momento em que a Administração opta pela inércia não autorizada
legalmente.
2. Ancorada nesses princípios, esta Corte reformou sua orientação jurisprudencial
consolidando a orientação de que a simples inexistência de previsão legal para
conversão de auxílios, que deveriam ser fornecidos in natura, em pecúnia não é
suficiente para obstaculizar o pleito recursal. Precedente: REsp. 1339798/RS, Rel. Min.
HERMAN BENJAMIN, 2T, DJe 07.03.2013.
3. Se não mais subsiste a alegada divergência jurisprudencial, revelam incabíveis os
Embargos de Divergência, a teor da Súmula 168 do STJ, segundo a qual não cabem
Embargos de Divergência quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo
sentido do acórdão embargado. [...]
(AgRg nos EREsp n. 813.408/RS, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
Primeira Seção, julgado em 14/10/2015, DJe de 22/10/2015.)

Merece destaque o trecho do acórdão acima, proferido pela Primeira Seção do


Superior Tribunal de Justiça, consignando que não subsiste mais divergência
jurisprudencial sobre o assunto uma vez que o STJ reformou sua orientação
jurisprudencial para admitir a conversão de auxílio in natura para pagamento em
pecúnia.

No mesmo sentido restou decidido pela Turma Nacional de Uniformização, a qual


consolidou a tese no Tema 77, segundo o qual é cabível a indenização substitutiva
em pecúnia pelo descumprimento do direito à prestação in natura. Veja o enunciado:

O direito à prestação "in natura" de alimentação, moradia e alojamento aos médicos


residentes não foi revogado pela Lei n. 10.405/2002, sendo cabível em caso de
descumprimento a indenização substitutiva em pecúnia a ser fixada por
arbitramento.

6
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 214

Resta nítido, portanto, que o acórdão que negou o direito à indenização substitutiva
à autora diverge de amplo entendimento jurisprudencial sobre a matéria, os quais
garante a conversão da obrigação in natura para obrigação em pecúnia.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
Desta forma, a fim de viabilizar a uniformização da interpretação do art. 4º, §5º, III,
da Lei nº 6.932/1981 no âmbito dos Colégios Recursais do Estado de São Paulo,
acerca da possibilidade (ou não) da conversão da obrigação de oferecer moradia aos
residentes médicos para obrigação pecuniária, principalmente diante da existência
de entendimento sumulado pela Turma Nacional de Uniformização e jurisprudência
pacífica do STJ, faz-se necessária a admissibilidade do presente feito.

— DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL ENTRE COLÉGIOS RECURSAIS —

Colégio Recursal de Catanduva


(paradigma - 1008139-81.2021.8.26.0132)1
x
6ª Turma – Fazenda Pública do Colégio Recursal Central
(caso concreto)

Em atenção a exigência do art. 16, §1º da LC 1.337/2018, passa a demonstrar a


divergência jurisprudencial entre julgados dos Colégios Recursais do Tribunal de
Justiça de São Paulo.

No caso, verifica-se que o Colégio Recursal de Catanduva/SP analisou no processo


nº 1008139-81.2021.8.26.0132 a mesma matéria proposta pela autora perante a 6ª
Turma da Fazenda Pública do Colégio Recursal Central. Contudo, verifica-se que
naquele caso o entendimento foi diverso, uma vez que restou por manter a sentença
de procedência do pedido. Veja o confronto de ementas:

6ª Turma Fazenda Pública


Colégio Recursal de Catanduva
Colégio Recursal Central

COBRANÇA - Residência médica - RECURSO INOMINADO. AUXÍLIO


Auxílio moradia assegurado pelo artigo MORADIA. RESIDÊNCIA MÉDICA.
4º, §5º, inciso III da Lei nº 6932/81 - CONVERSÃO DE PRESTAÇÃO IN
Norma de eficácia plena - Não NATURA NÃO CUMPRIDA EM PECÚNIA.
fornecimento de moradia in natura - VIOLAÇÃO AO PACTO FEDERATIVO E À
Conversão em pecúnia - Sentença de SÚMULA Nº 37 DO STF. SENTENÇA
procedência mantida pelos próprios MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
fundamentos - Recurso a que se nega FUNDAMENTOS. RECURSO
provimento. DESPROVIDO.

1
Íntegra disponível em https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=1427989&cdForo=9024

7
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 215

Nesse sentido, relevante transcrever o trecho dos votos a fim de realizar o cotejo
analítico e comprovar que se trata da mesma circunstância fática, mas com
interpretações jurídicas diferentes. Veja:

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
6ª Turma Fazenda Pública
Colégio Recursal de Catanduva
Colégio Recursal Central
A r. sentença de primeiro grau bem apreciou
Cuida-se de demanda em que a ora apelante
a lide, em todos os seus aspectos, concedendo
requereu a condenação da Fazenda Municipal
a tutela jurisdicional adequada no caso
de São Paulo ao pagamento, em pecúnia, de
concreto, devendo ser mantida pelos próprios
auxílio moradia, que deveria ser calculado no
fundamentos, nos termos do artigo 46 da Lei
percentual de 30% sobre o valor pago pela
nº 9.099/95.
bolsa recebida durante o programa de
Destaco:
residência médica, nos termos do previso na
“A Lei Federal nº 6.932, de 07 de julho de 1981,
Lei nº 6.932/81, com redação dada pela Lei nº
que dispõe sobre as atividades do médico
12.514/11.
residente, preceitua, em seu artigo 1º, que “a
A sentença julgou o pedido improcedente
Residência Médica constitui modalidade de
utilizando-se dos seguintes argumentos: (i) a
ensino de pós-graduação, destinada a
parte autora participou voluntariamente da
médicos, sob a forma de cursos de
seleção pública e o item 15.3 do edital do
especialização, caracterizada por treinamento
certame previa que os residentes receberiam
em serviço, funcionando sob a
bolsa de acordo com a legislação em vigor, ao
responsabilidade de instituições de saúde,
passo que o regimento interno previa que a
universitárias ou não, sob a orientação de
instituição não forneceria moradia aos
profissionais médicos de elevada qualificação
residentes por ausência de instalações, salvo
ética e profissional.”
alojamento para repouso; (ii) aceitação do
O caput e o § 5º do artigo 4º da sobredita lei,
edital pela autora; (iii) violação à regra do art.
cuja redação foi dada pela Lei nº 12.514, de
37, XIII, da Constituição da República,
2011, regulamenta o direito dos médicos
segundo a qual é vedada a vinculação ou
residentes à bolsa-auxílio, a ter condições
equiparação de quaisquer espécies
adequadas para repouso e higiene pessoal
remuneratórias para o efeito de remuneração
durante os plantões, à alimentação e à
de pessoal do serviço público; (iv) ausência de
moradia:
fonte de custeio para a verba; (v) necessidade
[...]
de correção da questão mediante lei e não por
Neste ponto, cabe esclarecer que a moradia
decisão judicial, sob pena de afronta à Súmula
mencionada no inciso III não se confunde com
Vinculante nº 37; (vi) violação ao pacto
“alojamento” (local de repouso) durante os
federativo por ausência de norma municipal a
plantões, já que este último direito já está
regular o tema; (vii) ausência de
assegurado pelo que dispõe o inciso I do
demonstração, pela parte autora, de gastos
dispositivo legal acima.
para custeio de moradia.
Aliás, ao contrário do que pretende fazer crer
O julgado citou, ainda, diversas decisões dos
a requerida, o “regulamento” mencionado no
Colégios Recursais julgando improcedentes
final do já citado inciso III deveria ter sido
pedidos da mesma natureza.
editado pela ré, que é a instituição de saúde
Nesse sentido, entendo que a sentença deu
responsável pelo programa de residência
correta solução à lide.
médica oferecido ao autor, e não pela
Aponto, ainda, que a legislação federal que
Comissão Nacional de Residência Médica
regulamenta o tema afirma que deve ser
(CNRM).
dada moradia ao médico residente, ou seja,
E a ausência de regulamentação não obsta
a prestação deveria ser cumprida in natura
o direito do médico residente.
e não em pecúnia.
(...)
Sua conversão em pecúnia, por decisão
No caso em tela, considerando-se que a
judicial, sem que se tenha sequer um critério
própria requerida declarou que o autor iniciou

8
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 216

o programa de residência médica em 1º de objetivo para definição do valor é algo que


março de 2018, com término em 28 de extrapola o previsto na legislação.
fevereiro de 2021 (fls. 16), não há dúvidas de Eventualmente a discussão em via judicial
que a norma de regência assegura tal direito acerca do cumprimento de obrigação de fazer
ao requerente. no sentido de concessão de moradia poderia

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
E não tendo sido demonstrado (e nem ter sido providência adotada, vez que seria
mesmo alegado pela ré) o fornecimento da viável ao Poder Judiciário dar eficácia plena à
moradia in natura, cabível a sua reversão legislação.
em pecúnia”. Contudo, a conversão em pecúnia, sem um
critério legal, após o período da residência
parece ser, como bem colocado na
sentença, providência que extrapola o
previsto na legislação federal e cuja
exigência só poderia ser realizada acaso
houvesse legislação municipal sobre o
tema ou previsão em edital, o que não é a
hipótese dos autos.

Do cotejo entre os julgados é possível identificar a divergência de entendimentos:

Interpretou o art. 4º, §5º, III, da Lei nº Interpretou o art. 4º, §5º, III, da Lei nº
6.932/1981. 6.932/1981.

Entendeu que a falta de regulamentação Entendeu que a falta de regulamentação


local não obsta o direito à indenização para definição do valor impede a concessão
substitutiva. do benefício em pecúnia.

Não sendo fornecida a moradia, cabível a Só seria possível pedido de concessão da


reversão em pecúnia. moradia.

Pedido de cobrança procedente Pedido de cobrança improcedente.

Resta comprovado, portanto, a existência de entendimento em sentido contrário ao


que restou decidido no acórdão objeto do presente Incidente, corroborando a
pretensão da ora Requerente de ver conhecido seu Pedido de Uniformização de
Interpretação de Lei, para a pacificação do tema e prevalência do entendimento que
autoriza a conversão da obrigação in natura para pagamento de indenização
substitutiva.

9
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 217

4ª Turma – Fazenda Pública do Colégio Recursal Central


(paradigma - 1007890-42.2022.8.26.0053)2
x
6ª Turma – Fazenda Pública do Colégio Recursal Central
(caso concreto)

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
No caso, verifica-se que a 4ª Turma do Colégio Recursal Central analisou no processo
nº 1007890-42.2022.8.26.0053 a mesma matéria proposta pela autora perante a 6ª
Turma do Colégio Recursal Central. Contudo, verifica-se que naquele caso o
entendimento foi diverso, uma vez que deu provimento ao recurso para reformar a
sentença e conceder a conversão do benefício para pagamento em pecúnia. Veja o
confronto de ementas:

4ª Turma Fazenda Pública 6ª Turma Fazenda Pública


Colégio Recursal Central Colégio Recursal Central
ADMINISTRATIVO. COBRANÇA.
Residência médica – Direito à moradia –
Não oferecimento 'in natura' – Pedido
de conversão em pecúnia – Cabimento
- Valores retroativos ao período do
curso, para indenização mensal, no
equivalente a 30% sobre o valor da
bolsa recebida, que se mostra razoável
– Legitimidade passiva da Fazenda -
Responsabilidade do Estado para a
bolsa instituída em lei, inclusive porque RECURSO INOMINADO. AUXÍLIO
a fonte pagadora é a Secretaria Estadual MORADIA. RESIDÊNCIA MÉDICA.
da Saúde; ausência de pedido formal do CONVERSÃO DE PRESTAÇÃO IN
médico residente ou de NATURA NÃO CUMPRIDA EM PECÚNIA.
regulamentação que não impede a VIOLAÇÃO AO PACTO FEDERATIVO E À
concessão do benefício – Art. 4º, Lei SÚMULA Nº 37 DO STF. SENTENÇA
6.932/1981, com sua redação dada pela MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
Lei 12.514/2011, determina o FUNDAMENTOS. RECURSO
oferecimento de moradia pela DESPROVIDO.
instituição de ensino ao médico-
residente – Possibilidade já reconhecida
no âmbito do E. Superior Tribunal de
Justiça: [...] – Conversão em 30% sobre o
valor da bolsa mensal, que se mostra
razoável - Precedentes – Juros de mora
a contar da citação e não do vencimento
de cada parcela - Sentença de
improcedência reformada – Recurso do
autor em parte provido”.

2
Íntegra disponível em https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=1423398&cdForo=9000

10
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 218

Nesse sentido, relevante transcrever o trecho dos votos a fim de realizar o cotejo
analítico e comprovar que se trata da mesma circunstância fática, mas com
interpretações jurídicas diferentes. Veja:

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
4ª Turma Fazenda Pública 6ª Turma Fazenda Pública
Colégio Recursal Central Colégio Recursal Central
Restou ainda demonstrado que a parte Cuida-se de demanda em que a ora apelante
autora não recebeu verba correspondente requereu a condenação da Fazenda
a auxílio-moradia, tampouco o benefício in Municipal de São Paulo ao pagamento, em
natura, não havendo que se falar em pecúnia, de auxílio moradia, que deveria
quaisquer exigências específicas, ser calculado no percentual de 30% sobre o
tampouco em necessidade de valor pago pela bolsa recebida durante o
requerimento administrativo, daí pretender programa de residência médica, nos
a conversão em pecúnia, na ordem de 30% do termos do previso na Lei nº 6.932/81, com
valor da bolsa (ou seja, R$ 999,19 mensais). redação dada pela Lei nº 12.514/11.
Não sendo exigível do autor prova de fato A sentença julgou o pedido improcedente
negativo. utilizando-se dos seguintes argumentos: (i) a
A Lei Federal nº 6.932/1981, que dispõe sobre parte autora participou voluntariamente da
as atividades do médico residente e dá outras seleção pública e o item 15.3 do edital do
providências, enuncia que: [...] certame previa que os residentes receberiam
Decerto, em que pese a versão defensiva, bolsa de acordo com a legislação em vigor, ao
considerando ser a parte requerida passo que o regimento interno previa que a
responsável pelo programa de residência instituição não forneceria moradia aos
médica oferecido à parte autora (fls. 13/15), residentes por ausência de instalações, salvo
ainda que ligado ao IAMSPE, o “regulamento” alojamento para repouso; (ii) aceitação do
indicado no art. 4º, § 5°, inciso III, da supra edital pela autora; (iii) violação à regra do art.
referida lei, deveria ter sido editado pela ré, 37, XIII, da Constituição da República,
sendo que a ausência da norma não pode segundo a qual é vedada a vinculação ou
obstar o direito da médica residente. equiparação de quaisquer espécies
Aliás, insta salientar que o direito à moradia remuneratórias para o efeito de remuneração
era inicialmente garantido pelo art. 4º da Lei de pessoal do serviço público; (iv) ausência de
n. 6.932/1981, o qual foi revogado pela Lei nº fonte de custeio para a verba; (v) necessidade
10.405/2002. E, somente com a edição da de correção da questão mediante lei e não por
Medida Provisória nº 5.236, de 24 de junho de decisão judicial, sob pena de afronta à Súmula
2011, posteriormente convertida na Lei de n° Vinculante nº 37; (vi) violação ao pacto
12.514/2011, foi restabelecido aos médicos federativo por ausência de norma municipal a
residentes tal direito. regular o tema; (vii) ausência de
Assim, no caso em tela, não há dúvidas de demonstração, pela parte autora, de gastos
que o direito ao auxílio moradia é para custeio de moradia.
garantido à parte autora e, ausente O julgado citou, ainda, diversas decisões dos
demonstração pela ré de que houve o Colégios Recursais julgando improcedentes
fornecimento de moradia in natura, é pedidos da mesma natureza.
cabível a sua conversão em pecúnia. Nesse sentido, entendo que a sentença deu
Nesse sentido, o entendimento do C. correta solução à lide.
Superior Tribunal de Justiça: [...] Aponto, ainda, que a legislação federal que
Quanto ao valor do auxílio-moradia, a parte regulamenta o tema afirma que deve ser
autora pleiteou o pagamento de 30% sobre o dada moradia ao médico residente, ou seja,
valor da bolsa-auxílio, o que corresponde à a prestação deveria ser cumprida in natura
quantia razoável (R$ 999,12) e que, portanto, e não em pecúnia.
deve ser adotada. Sua conversão em pecúnia, por decisão
[...] judicial, sem que se tenha sequer um critério

11
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 219

No caso em tela, considerando que o início da objetivo para definição do valor é algo que
residência se deu em 01/03/2018 e o término extrapola o previsto na legislação.
em 28/02/2021, faz jus a parte autora ao Eventualmente a discussão em via judicial
pagamento do valor retroativo, com base no acerca do cumprimento de obrigação de fazer
valor da bolsa então vigente, mês a mês, com no sentido de concessão de moradia poderia

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
correção monetária desde o vencimento de ter sido providência adotada, vez que seria
cada parcela e juros de mora a contar da viável ao Poder Judiciário dar eficácia plena à
citação nestes autos, e não do vencimento das legislação.
parcelas. Contudo, a conversão em pecúnia, sem um
Logo, a procedência em parte do pedido é critério legal, após o período da residência
medida de rigor, certo que na fase de parece ser, como bem colocado na
cumprimento/liquidação deverão ser sentença, providência que extrapola o
juntados os comprovantes/demonstrativos, previsto na legislação federal e cuja
realizada a conferência dos cálculos, certo que exigência só poderia ser realizada acaso
eventual erro material não preclui. houvesse legislação municipal sobre o
Ante o exposto, VOTO PARA DAR PARCIAL tema ou previsão em edital, o que não é a
PROVIMENTO ao recurso e assim JULGAR hipótese dos autos.
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para:
I) converter em pecúnia o direito da parte
autora à moradia in natura, no valor mensal
equivalente a 30% da bolsa-auxílio; e II)
condenar a parte ré a pagar à autora o valor
retroativo durante todo o período, com
correção monetária a contar do vencimento
decada prestação e juros de mora de 1% ao
mês desde a citação.

Do cotejo entre os julgados é possível identificar a divergência de entendimentos:

Interpretou o art. 4º, §5º, III, da Lei nº Interpretou o art. 4º, §5º, III, da Lei nº
6.932/1981. 6.932/1981.

Entendeu que a falta de regulamentação Entendeu que a falta de regulamentação


local não obsta o direito à indenização para definição do valor impede a concessão
substitutiva. do benefício em pecúnia.

Não sendo fornecida a moradia, cabível a Só seria possível pedido de concessão da


reversão em pecúnia. moradia.

Pedido de cobrança procedente Pedido de cobrança improcedente.

Resta comprovado, portanto, a existência de entendimento em sentido contrário ao


que restou decidido no acórdão objeto do presente Incidente, corroborando a
pretensão da ora Requerente de ver conhecido seu Pedido de Uniformização de
Interpretação de Lei, para a pacificação do tema e prevalência do entendimento que
autoriza a conversão da obrigação in natura para pagamento de indenização
substitutiva.

12
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 220

— DA CONSOLIDAÇÃO DA TESE —

Como se observa, há grande insegurança jurídica no âmbito dos Colégios Recursais


do Estado de São Paulo, uma vez que nítida a divergência de entendimentos sobre a

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
possibilidade de conversão da obrigação de oferecer moradia aos residentes
médicos para obrigação em pecúnia.

Já restou demonstrado que o c. STJ pacificou sua jurisprudência no sentido de ser


cabível a conversão da obrigação, uma vez que “existindo dispositivo legal
peremptório acerca da obrigatoriedade no fornecimento de alojamento e alimentação,
não pode tal vantagem submeter-se exclusivamente à discricionariedade
administrativa, permitindo a intervenção do Poder Judiciário a partir do momento em
que a Administração opta pela inércia não autorizada legalmente.”3

A questão chegou a ser objeto de publicação de Informativo de Jurisprudência no


âmbito daquele Tribunal (Informativo nº 397), e permanece inalterada até a presente
data.

Sem prejuízo, verifica-se que o referido entendimento é o que guarda melhor


interpretação da norma, vez que reconhece que a Administração Pública está ciente
de sua obrigação legal, mas insiste em desconsiderá-la, principalmente por se tratar
de uma lei publicada em 1981. A insistência ao desrespeito ultrapassa a mera
discricionariedade e alcança a própria arbitrariedade, o que em último grau
caracteriza a omissão da Administração como ilegal e, portanto, passível de
intervenção do Poder Judiciário.

Ainda de acordo com o c. STJ, “a simples inexistência de previsão legal para conversão
de auxílios que deveriam ser fornecidos in natura em pecúnia não é suficiente para
obstaculizar o pleito recursal, pois é evidente que se insere dentro do direito
constitucional individual à tutela jurisdicional (art. 5º, inc. XXXV, da Constituição da
República vigente) a necessidade de que a prestação jurisdicional seja adequada.”

Por sua vez, no âmbito da Turma Nacional de Uniformização o assunto foi


consolidado no Tema 77, segundo o qual “o direito à prestação "in natura" de
alimentação, moradia e alojamento aos médicos residentes não foi revogado pela Lei
n. 10.405/2002, sendo cabível em caso de descumprimento a indenização substitutiva
em pecúnia a ser fixada por arbitramento.”

Não é demais ponderar que a bolsa acadêmica para os médicos-residentes é


defasada em relação às responsabilidades assumidas, à carga horária de 60 (sessenta)
horas semanais — que, diga-se, é muito superior na prática —, acrescido ainda do
fato de que grande parte dos médicos residentes acabam por mudar de Estado para
a realização da Residência Médica, corroborando a importância do pagamento do
auxílio-moradia (mudança de Estado que inclusive ocorreu no caso concreto).

3
AgRg nos EREsp n. 813.408/RS, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, julgado em 14/10/2015,
DJe de 22/10/2015.

13
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 221

Desta maneira, requer que seja consolidada tese no sentido de ser cabível a
indenização substitutiva em pecúnia em caso de descumprimento da obrigação de
moradia prevista no art. 4º, §5º, III, da Lei nº 6.932/1981, a ser fixada no percentual
de 30% (trinta por cento) do valor da bolsa do residente médico, independente da

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
regulamentação municipal ou do programa de residência médica sobre o tema.

— DO PEDIDO —

Diante do exposto, requer que seja o presente incidente recebido e processado para,
ao final, dar provimento ao Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei, a fim
de pacificar a interpretação do art. 4º, §5º, III, da Lei nº 6.932/1981 no sentido de
admitir a indenização substitutiva em pecúnia em caso de descumprimento da
obrigação de fornecer moradia, a ser fixada no percentual de 30% (trinta por cento)
do valor da bolsa do residente médico, independente da regulamentação municipal
ou do programa de residência médica sobre o tema.

Subsidiariamente, caso se entenda pela impossibilidade de fixar o quantitativo em


sede de julgamento do presente recurso, que seja fixada a tese no sentido de admitir
a indenização substitutiva em pecúnia em caso de descumprimento da obrigação de
fornecer moradia, cujos valores devem ser fixados pelo juízo de origem por
arbitramento.

Requer que todas as publicações relacionadas ao presente feito sejam realizadas em


nome de JOÃO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA – OAB/DF 50.673.

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 25 de agosto de 2022.

João Roberto Machado


OAB/DF 50.673

14
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAO ROBERTO MACHADO NEVES DE OLIVEIRA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 27/09/2022 às 00:00 , sob o número WPRO22000070817.
fls. 222

RELAÇÃO DOS DOCUMENTOS QUE INSTRUEM O PEDIDO DE


UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032056-75.2021.8.26.0053 e código 36B3079.
Doc. 1
Processo principal – Recurso Inominado nº 1032056-75.2021.8.26.00534
Procuração outorgada pela requerente Fl. 125
Sentença Fl. 144
Recurso Inominado Fl. 153
Acórdão do caso concreto Fl. 204
Certidão de publicação do acórdão Fl. 206

Doc. 2
Paradigma – 1008139-81.2021.8.26.0132 – Colégio Recursal de Catanduva

Doc. 3
Paradigma - 1007890-42.2022.8.26.0053 – 4ª Turma Fazenda Pública Colégio
Recursal Central da Capital

4
Os procuradores municipais estão dispensados de juntar procuração aos autos, tendo em vista que atuam investidos
por nomeação oficial.

15

Você também pode gostar