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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2022.0000438294

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1048330-17.2021.8.26.0053 e código 1A5EC3D5.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1048330-17.2021.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MARIA
HERMINIA RODINI SCHIMIDT, são apelados INSTITUTO DE PAGAMENTOS
ESPECIAIS DE SÃO PAULO - IPESP e ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso.
V.U. Sustentou oralmente o Dr. Paulo Cartier.", de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNAO BORBA FRANCO, liberado nos autos em 07/06/2022 às 16:26 .
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
COIMBRA SCHMIDT (Presidente) E MOACIR PERES.

São Paulo, 6 de junho de 2022.

FERNÃO BORBA FRANCO


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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Voto n.º 10928

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Apelação Cível nº: 1048330-17.2021.8.26.0053
Apelante: Maria Herminia Rodini Schimidt
Apelados: Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo - Ipesp e Estado de São
Paulo
Comarca: São Paulo
Juiz: Marcio Ferraz Nunes

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNAO BORBA FRANCO, liberado nos autos em 07/06/2022 às 16:26 .
Apelação. Pensão por morte. Carteira de Previdência das
Serventias Notariais e de Registro. Pedido para manutenção
da fórmula de pagamento constante na Lei Estadual nº
10.393/70. Possibilidade. Observância da interpretação
conforme dada pelo Col. STF no julgamento da ADI nº
4.420/SP. Nova regra que não se aplica a quem, na data da
publicação da Lei n.º 16.016/2010, já estava em gozo do
benefício ou havia cumprido os requisitos necessários à sua
concessão pela Lei anterior. Sentença de improcedência
reformada. Recurso provido.

Trata-se de recurso de apelação interposto contra r. sentença


que, em ação ajuizada por Maria Herminia Rodini Schimidt em face do Instituto de
Pagamentos Especiais de São Paulo - IPESP e do Estado de São Paulo, julgou
improcedente o pedido de correção de benefício de pensão por morte pelos critérios
estabelecidos pela Lei Estadual nº 10.394/70.
Alega que o índice de reajuste adotado pelo IPESP viola a
Lei Estadual nº 10.393/70, que prevê, para tanto, a adoção do salário mínimo.
Sustenta haver direito adquirido e pretende aplicação analógica da decisão proferida
no julgamento da ADI n.º 4420, que versou sobre a Carteira de Previdência dos
Advogados de São Paulo.
Contrarrazões regularmente apresentadas.
Deixo de remeter os autos à d. Procuradoria Geral de Justiça
ante a manifestação de fls. 337, em que o Ministério Público declinou de atuação
nos autos.
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Não houve oposição ao julgamento virtual.

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É o relatório.
Em que pesem os fundamentos da sentença, de rigor o
acolhimento do apelo.
A autora, pensionista do falecido Orley Camargo Schmidt,
Oficial Maior do Cartório do 2º Ofício de Notas da Comarca de Araras, ajuizou a
presente ação pretendendo a revisão do valor do seu benefício previdenciário, bem
como do percentual do desconto incidente a título de contribuição, a fim de que
sejam observados os critérios definidos pela Lei Estadual nº 10.393/70. Pleiteou a

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autora, também, a diferença financeira decorrente dos valores da pensão paga a
menor no período, acrescido de juros e correção monetária, a ser apurado em sede de
liquidação de sentença.
Como se vê, afirma a autora que, embora completados os
requisitos necessários para a concessão do benefício ainda na sistemática da Lei nº
10.393/70 (com reajuste calculado em função do salário-mínimo), novo
enquadramento teria sido dado pela ré com base na Lei Estadual nº 14.016/10 (com
reajuste calculado pelo IPC/FIPE), com a fixação de alíquota máxima de
contribuição mensal em 5% (cinco por cento).
Dito isso, cinge-se a controvérsia a qual deve ser o regime
aplicável ao caso. E a este respeito, a Lei n.º 16.016/2010, que extinguiu a Carteira
de Previdência das Serventias não Oficializadas da Justiça do Estado, assim prevê:

Artigo 12 - Os benefícios da Carteira serão


reajustados anualmente, no mês de janeiro, de acordo
com a variação do IPC-FIPE (Índice de Preços ao
Consumidor apurado pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas), calculados sobre os doze
últimos meses, ou desde a data do último reajuste se
inferior a este período.
Parágrafo único - O reajuste de que trata o “caput”
deste artigo, assim como a concessão de novos
benefícios, somente será aplicado se ficar
previamente demonstrada a manutenção do
equilíbrio atuarial pelo estudo técnico a que se refere
o artigo 51 desta lei, além da existência de recursos
financeiros disponíveis na Carteira.
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Artigo 13 - Os benefícios da Carteira serão


calculados de acordo com a tabela anexa, cujos

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valores serão reajustados anualmente no mês de
janeiro e nos exercícios seguintes pelo mesmo índice
e periodicidade previstos no artigo 12, vedada
qualquer reclassificação.
Parágrafo único - A tabela anexa prevalecerá para
fixar-se o valor dos benefícios, independentemente
de alterações que possam surgir na organização
extrajudicial do Estado.

Mencionada legislação já foi objeto de análise pelo STF, na


ADI n.º 4.420/SP que, de fato, decidiu que a Lei Estadual nº 10.393/70 não foi

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recepcionada pela Constituição Federal de 1988, conforme a disposição de seu art.
7º, inciso IV. Entretanto, a não recepção pela Constituição Federal do salário
mínimo como indexador foi expressamente excepcionada para aqueles que já
haviam adquirido o direito quando do advento da nova lei:

Direito constitucional. Ação direta de


inconstitucionalidade. Extinção da Carteira de
Previdência das Serventias não Oficializadas da
Justiça do Estado de São Paulo. Proteção dos direitos
adquiridos. Direito à contagem recíproca do tempo
de serviço.
1. A Lei nº 14.016, de 12.04.2010, do Estado de São
Paulo, que declarou em regime de extinção a
Carteira de Previdência das Serventias não
Oficializadas da Justiça daquele Estado, não padece
de inconstitucionalidade formal, visto que o
constituinte conferiu aos Estados-membros
competência concorrente para legislarem sobre
previdência social, consoante o disposto no art. 24,
XII, da Constituição Federal.
2. A extinção da Carteira de Previdência das
Serventias não Oficializadas da Justiça daquele
Estado, embora possível por meio da referida lei,
deve, contudo, respeitar o direito adquirido dos
participantes que já faziam jus aos benefícios à
época da edição da lei, bem como o direito à
contagem recíproca do tempo de contribuição para
aposentadoria pelo Regime Geral de Previdência
Social (CF, art. 201, '§9º) dos participantes que ainda
não haviam implementado os requisitos para a
fruição dos benefícios.
3. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido
se julga parcialmente procedente para: (i) declarar a
inconstitucionalidade do art. 3º, caput, e § 1º, da Lei
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nº 14.016/2010, do Estado de São Paulo, no que


excluem a assunção de responsabilidade pelo Estado;

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(ii) conferir interpretação conforme à
Constituição ao restante do diploma impugnado,
proclamando que as regras não se aplicam a
quem, na data da publicação da lei, já estava em
gozo de benefício ou tinha cumprido, com base no
regime instituído pela Lei estadual nº 10.393/1970,
os requisitos necessários à concessão; (iii) quanto
aos que não implementaram todos os requisitos,
conferir interpretação conforme para garantir-lhes a
faculdade da contagem de tempo de contribuição
para efeito de aposentadoria pelo Regime Geral da
Previdência Social, nos termos do art. 201, § 9º, da

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Constituição Federal. (ADI 4420, Relator(a):
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 16/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-168 DIVULG 31-07-2017 PUBLIC
01-08-2017) (grifo nosso).

Desta forma, porque incontroverso nos autos que o falecido


servidor completou os requisitos para o gozo do benefício quando ainda regido pelos
parâmetros determinados pela Lei n. 10.393/70, há, de fato, direito adquirido a ser
reconhecido.
E nesse sentido, aliás, precedente deste E. Tribunal de
Justiça:

Apelação Cível Administrativo e Previdenciário


Pensionistas de Serventuário de Cartório
Extrajudicial - Ação Ordinária pretendendo o
pagamento integral do benefício com base no salário
mínimo - Sentença de procedência Remessa
necessária e recurso do IPESP Remessa necessária
parcialmente provida e recurso do IPESP
desprovido. Precedente do C. STF Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.420/SP Regras que não
se aplicam a quem, na data da publicação da Lei, já
estava em gozo do benefício ou havia cumprido os
requisitos necessários à sua concessão. Pagamento
dos atrasados até o falecimento do instituidor da
pensão nos termos da Lei nº 10.393/70 Após a
instituição da pensão, no entanto, os pagamentos
desta também deverão ser pagos nos termos do art.
34 da mesma norma Valores em atraso que
deverão observar a aplicação da Lei Federal nº
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11.960/09. R. Sentença parcialmente reformada


Remessa necessária parcialmente provida e recurso

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do IPESP desprovido. (TJSP; Apelação / Remessa
Necessária 1055288-92.2016.8.26.0053; Relator
(a): Sidney Romano dos Reis; Órgão Julgador: 6ª
Câmara de Direito Público; Foro Central -
Fazenda Pública/Acidentes - 3ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 04/12/2017; Data
de Registro: 05/12/2017).

Assim, deve ser reformada a r. sentença para julgar


procedente o pedido e determinar que a ré promova o enquadramento da autora no

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regime previdenciário dado pela Lei nº 10.393/70, especialmente no que concerne ao
reajuste de sua pensão e da alíquota correspondente à contribuição previdenciária.
De rigor condenar a ré, ainda, ao pagamento da diferença
pela aplicação da alíquota prevista na Lei nº 10.393/70, a ser apurado em liquidação
de sentença, com juros e correção monetária em conformidade com o Tema nº 905
do STJ (REsp 1.492.221/PR), que se encontra em harmonia com o quanto
determinado pelo Tema nº 810 do STF (RE n. 870.947/SE), e respeitada a prescrição
quinquenal.
Ante o exposto, é dado provimento ao recurso.
Em relação à sucumbência, condeno o Instituto de
Pagamentos Especiais de São Paulo - IPESP a suportar as custas processuais e a
verba honorária da parte contrária, que fixo em 12% (doze por cento) do valor da
condenação, nos termos do artigo 85, §3º, do Código de Processo Civil.

FERNÃO BORBA FRANCO


RELATOR

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